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Robert Stcrm / EIIcr Shohert

Estcreotipo, R calismo
e
R cprcscn taç ã,o R acial
[Jma analise das mecliações
cultatrais e cinematografic as que,
exercidas sobre os grupos étnicos
nao brancos, funcionam como
forma de controle social
ltrbalhos irulrortantes já fotanr rt'aìizrtrlos solrre a cia lrolitica ao localizar a hislriria nttrn lrassatlo tlistettrtt'.
lr'prt,st'ntação étrrica/rercial rle t'omttnirlatlt's oprinrirl as tlesligarto tlas lutas contt'nrporâneas tlos ínrlios. [Jnra análise
no cinerna hollyu'oorliano. (lríticos t'otno \titre l)r'loria. l)erÌetriÌlìte rlt've vel o Íïlnrr'('oÌÌìo c()rìtriìrlitririo. afirmtttrrlo
Ra\rh e Natasha Friar. Warrl Churt,hill. Annettt' .f aiures ao rÌresrÌr{) teÌÌrÌ}o rlne (ì ) r'onstittri unr l)rÌss() r't'lutivanrente
e nruitos ()utr()s tlisrrutiram a tlivisão lrirráriir rlrrr' lrroglcssisttr para HoÌlywoorl. zttt utlotar rtrrtu lrt'l's1rt't'tir it
transfonnou os attrerit'anos trativos enr .llestits setlentas pró-inrlígena" e (2) respeitantlo a itrtr:grirlatle lingtiística
de sanque ou nolrres st'lvagens. Crítico-. "ínrlios" (ncÍtì1'r' inrlígenal Ìl() erìtaÌÌto. ( iJ ) esse l)asso l)r()grrìssistn lrennanet'r'
antericrtns) rlennnciaram a crinvençãrl rlos tttot'es ttntet'icattos lrarcialrnente inrletenninarlo ao adotar a divisão tratÌicio-
não-ínrlios. lrrancos (Rock Hurìson). latinos ( Ri<,a1111; 11'1,,,t- nal entte rnarrs l)awnees/botrs Siorrr; rlue (,4) se r.ê air-rrla
talbán) ou japoneses (Sessue Havakawa) - interpretanrlo o r:ornlrrometirlo peÌa ênfase elegíaca nurn lrassatlí) l'enÌ()t().
papel rle nativos. Também Íìp()ntarâÌìì os iníurteros erros tlos (5) lrelo 1rr:ot:rgonista errro:rmerit'arto ettt 1u'itneiro lrlatro e
Íïlmes rle llollywoorì. (Jlre nr()stram ínrlios enl gr(rtes('os rituais ('()lÌl serì (ír)irlílio ('oÌrì luÌÌa âìnante não-írrtìia; lrorém (7)essa
rlevor:rrrtÌtr cães (T/re Buttle ut Elderbush Oulch. l9l:l). focaìiztrção euroamericaua, rlarlas as propt:nsões à iclentifi-
cortanrlo os pulsos (Broken Arron,^ Ì950), e atrihtrem conto ctrcão tlo granrle púlllico. tambérn garrantiu o grarrrle irnpar'-
típicas ccrtas cerirnônias às trilros t'rratlas (a rltrnça rlo sol to tlo Íìlrne; e (8)que t'sse irnPacto inrliretanrente ajrttLru a
Sioux apresentada <'omo a ceritnônia okipa rlos Mantlaus). alrrir as l)oÌ'tâs lrara <'ineastas "ínrlios". sem (9)it-rtrorluzir
Churchill rt'ssalta (llre lnesrÌro fillnes '"solirlários"' cotno fi nt maiort's rnurÌarrças institutrionais no âtnbito tla indírstria.
hotnent chtntuclo cuualo (A Mun Colled IIorse. f 970). rÌrâS taÌnÌ)érÌì ( Ì 0 ) altel'anrlo o morlo c()nìo esses lihnes lttor,tt-
aclamaclo corÌìo uÌÌl retrzÌto autêntico e positivo. rlt'scrt've urn vdlnrente seri:rrn realizarlos no futrtro. {Ìn(luanto (ll) ainda
povo 'utle língua Lakota" urna valizrção rlo cortt' tìe calrelr fazt'r-rclo parte. em írltima anírlise" rle rrm plo.jeto capitalista/
Assiniboi" passanrlo por Nez Pt-rce até Coman<'he. <'u.ja insígnia morlernista rlue fornentou a rlestnrição rle povrts ttzrtivos.'t
é o corvo. e a cerirnônia tla dançtr clo sol [...] tipicarnente finr texto anaÌítico sutil e contextualizarlo. lrortanto. rleve
Manclan".Ì O Íìlme rnostra urn prisi,meiro itttglr-atttericano It'var ern conta totlrs esses l)oÌÌt()s allareÌÌterÌìeÌìte contrarli-
t'rrsinando aos índios as tér'ni<'as reÍinatlas tlo arr,o. arrÌra l)or tririos ao lìresìÌìo tenll)o. senr ctrir no rlanitpreísnrn rlo es(lue-
eÌes rrtilizarla lior incontírveis gerações" dernonstlantlo assirn nra lrinrírio Íìlme lrom/{ìlme rrirn. o erluivalente "politica-
'"a suposta supelioridatle inerente do pensarnento euror'ên- rì1eÌìte c()Ì'reto" rla t'ríti<'a do '"mau olrjeto". l

r
trico". Ern ?orns, Ooons, Mu.kütoes, I'Iutnmies arr.r/ BrrcÀ's, Bosle
Como tratarl' os filmes cle Hollvwood rlue rnostranì ('eÌ:ta cstucla representações de negros no cinenra de Hollywootl. res-
sensibilitÌatle 1-relas rluestõt's tla aruto-rt'presentação? Urn saltanrkr especiahnente a luta tlesigual entre atores ÌlegÌos e os
filnre populaÌ ('oÌìro Duttç'n cont lobos (Dcrrces rt,itlr trf.olrre.s) papóis estt'reotipatlos a eles oÍbrecitlos por Holl-vrvoorÌ. O pr<í-
demonstra a ner:essidade de uma análise polivalente e ÌrìÌárÌ1- lrrio título de Bogle anunrria os cinco estereírlipos princilrais:
çada. O filme de fato inovou ao contratar arnericanos rrati- l. o servil'oTorn" (t1te remete ao Tio Torn enr Urrcle
vos Ìrara representarert.t :t si tnesrtrt)s, nliÌs teve menos autlá- Tont's Oabitt): ,

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2. <t"coort"3(Step'n F-ett:hit é o eremplo arqttetípir:o), urn Sul r.onsitlertrtla compulsória para atores ncgros. IIoIty-
tilro strlrtlivitlitkr em "pickun:':ltny" (a figura inofensiva tlo rcood Shtffie (1987);tle Ro5e1t Townsentl. iatiriza tais
Palhaço de olhos esbugalhados) e o Tio Rernus (o Íìlósofo corrvençòes rerciais apreserìtaÌr(lo tliretores lrrancos tltre
l)oÌ'rÌatureza, inocente e folclórico); obr.igarn at()res rÌegÌus a se adetluar.enì a seus estereótii-ros
_ ll. o "rnuktto tr(tgit'o^', geralrnente urna tnulher, vítima sobre a negritutle. Esses diret11ies {ão aulas a respeito rle
tle nrrra herança racial tlírplice- que teÌìta se u'passar por street jit,e. gestos e maneir.ismos, colsitlelatlos tletestáveis
lrrant:a"'em filrnes r:omo O que e carne herda (PinÀ'-r') e Ì)clo protagãnista negro {e orieltação shakespeariana. O
Inútução tlu uirlu (Intítutiott ú'Lrí")t ou o rnulato demoníaco. r;.rr.hi, tlo protagoni.ta" apreselta4o elr 1r1a seqiiê'cia

de unto nução (Birth oJ'a Nation); SuperììrâÌr e Ramlio u,, 1rr.1iéi, tràgicos'corno o Rei Lear. O
4. a""ntïte pretti', a criatla gortla. ralrugenta mas aÍïnal tlesejo;ror papéis th'arnátit,ns. tliglos e 1e prestígio srcial
iìIn1látit:a. tlue fornece o elo tlue rnantém uuitftrs os nìora- reflete o tlesejo tle ser leva{1 a séri6,,1" nã,, sel seÌÌìÌ)re o
tlores tla casa (a Tia Jeluima ".tle lenço na t,alreça" é tuna alvotlatriarla.ileteracessoaoprestíp5iege1érir.ohistolir:angrtg
r ariarrte), assiln t'orno Hattie McDaniel ern E o t,ento k'ulttt assor:iatlr à tragétlia e ao épicg. rÌlesnÌo se o fihle tle Towlseprl
(Cone u:íth the W ind); e lectrloca o desejo. pararÌorahnente" elÌr Íbrrna de part'rtlia.
5. ""bu'ck"', o negro brutal, hipersexualizaclo. urna Íìgura Além d6s estltlss s6lrre íltlios e afro-ai1e.it:a'.s.
ameaçadora herda(la
aÌÌreaçatlora herdatla (lOS pâlcos, crurÌ
dos Ìtâl(.os, encarntrção lÍlnrìr,a
cujtr eÌÌcarlìàr:ão fílnrica trabalhos iÌÌìl)ortarÌtes
trabalh0s inrportantes foram realizatlos a resueit,
resPt,ito
,rrairÍ'-atn,rsatalvezsejaGu-sern,\ascintentodnrrìrrrrrtttçtìtt. tlos esteleritipos de outros grupos étni16s. E1r ï/re
e tlrte George Bush ressuscitou para pro;rósitt's elt'itorais
4ff\t
f .I fi Lrttirt Intttge o.f' Antericutt Fi/",, All"1 Voll chana a
na figurtr tle Villie Llortott. atenção pu.o',, sul)strato tle r.iolê1r'ia nasclli.a
S.
O livro rlt' Bogle vai além tlos estereótipos pala .,orn.,m aris esteretitipos do [er1er1 latin. - 6 lraltlir6"
l'rrt'alizar as rttaneiras pelas tluais atores afÌ'o-
,HHËf
6{t,' u= <> 5qreusers. t, rivollci6nári6, s tolreiro. A rn*-
ernrericanos sul)verterarrÌ os papéis a eles conÍ'e- f i,& iher: latina, ao rÌresrÌro teÌnÌ)o" traz à urernória o
rirkrs. f)ara Bogle. a história tla replesen- ffr;nj.f;ffi&rl, t.alor e a salsa apaixonante evor:atlos pelos

E i.terossa'te co'ìl)arar r GS*t A.thur G. pettit. e'r 1111-


teoria eÌrr gtande parte implír'ita de Bogle solrle trtB&. I e geso.l'the Mexícan Antericurt in Fiction. un4 Filnr
Ì'el)Ì'eseÌltâçãtr eIn filme cottr a antroPologia tla (lmngens tlo atnericr.rto ntexi.cturo emficção e Jil-
I fi
:: :ìlï:T.ïi;'iï ;::ï:1ïi:'; Í:',':'tï: Í;,Ì:*l:
Iratla tle cima para baixo. arguÌÌreÌlta Scott, "per-
rlettros a i'terve.ção tlo ator qtre atlapta â ÌepÌ'e-
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Hffiil
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x : ; r,*u ru;ï{li;*:Í:":llltllr
Buntline íZan. Gruy. N"rro, fi.ções, pettit ar.g'-
r'erican, é deÍïnirlo
a seus próPrios Íïns".6ConsetliienteI.trente,
E.ffiffi: 'renta.. 'egativame'te.
p()Ì
't'trtitção R;,tl,ffii* al)reseÌÌtar- "tlualirlades rliametrahnerlte ol)()stas
a rt'l)Ì'esentÍìção subalttrtna t'otlifit:a o tltte Sr:ott ao protótipo anglo". Os autores da t',nr1.ista
.hanra rle "transctiçires escontlitlas" rle uÌÌl gml)o
@tr Erl
&,$ffi Ii lr.ar,"a trarisferiram ao nestiço mexica'o ()s l)re-
'trlrortlinatlo. Um tipo tle "euÍemismo" ocor'Ìe #;,ii'ff I t.onceitos previamente tlirigidos aos índios e a9s
,lttantlo transcrições est:ondidas são erpressas ern negl'()s. Cr.ìticalam severanÌente a rniscigenação e
ffi,,: f
'itrrações irnbuítlas tle porler por âtores rlue prefe- ffiÌt, I rliv"rsas vezes lançanì o terna rlo cleclí1i6 ilevitá-
retn t'r'itar as sanções (Iue unta rÌeclaração direta r el tlos rnexicanos ern virtutle da rnistura tle rtrças:
$!ffi'.. I
Ìr()ssâ trazer. No seu rnelhor, as represeÌrtaçõres G#t f '"Os hispânicos e seus tlescentlentes 'pgllírlos' coile-
ÌìesÌ'as subvertern os estereótipos intlivitlualizantkr teranÌ urn autogenocítÌio racial e nat:ional a6 se
,' tilto ou rlissimuladanente rnantentlo-se acima
lGffi I
reffi I rnisturarern voúntariamcnte coln raças de pele
,lele. ,{. "autoridade exulterante" tla "mãe preta" escrÌra inferiores."" Ern rornance. .olr.. a conquis-
,le \IcDaniel em E o ueïLto Ieuou. seu rnotlo tle X
reF I
IS" ta , os nexicanos não são charnados de rnexicairos.
,rllrat'ltara Scarlett no.s olhos, nessa perspectiva,
W ST mas sim tlegreasers" yallers, nton65rels e niggers.t,;,t
tratluziria uma hostilidatle agressiva Parâ (.onì Flrllywood herdou e"ses ester.eótipos - barrdi-
o,sisterna racista. Bogle enfatiza a itnaginação (, cantor branco Al "
do. o pegajoso, a prostituta rnestiç;r - jlntanen-
,'Ìástica (Ìos atores Ììegros obrigados a atrÌal' 'Jolson encarna um te<:1;;maelitetlecaráterpositivo"figlraslomo
í ()Ììtl-a o roteiro e as intenções do estírtlio, sua persongem negro no a tlo cavaÌheiro castelhano e a mulher castelha-
, aPat'idatle cle transformar papéis insigniÍìcan- _ primeiro Íilme

"""";:;lf:::Ï: o" ;;"''


na de alta classe. A moralidade, nesse tipo tle

:,ï:iï:ïïlï:,ï':íï,:ïï::"*::**";;:ï Xllll*,:í:*n:Íl;;r" quan'Ìo


revelar tJualidacles
''orlsegttia írnicas cle voz ou personali- Urn série de rÌoculnentários {itláticos abgrcla a questâo
tlirtle às tluais o pírblico imecliatamente reagin. Quern poderia rlos estereótipos. Tlre Metlio. Shou: l,lorth Anterícan lntli.atts
es(lttecer o trharrne cle Bojangle? Ou a voz de Lretoneila tle (1991) tlisseca criticamente o retrâto dos índit-rs 1os fillnes
Rtrt'lrester? Ou a jovialiclade tle Louise Beavers? Ou a arro-
rle Hollywood ( incluintl o Dançtr com lobos). Inuges of
:Iârrt'ia tle Hattie McDaniel?"; A própria lepresentação Inrliuts (1979),
de Phil Lucas e Robert Hagopians, exanina
alrria possibiliclatles liberatórias. os filmes de I{ollywootl corno proveclores de estereótipos de
Historicamente, Hollywoocl tentou ensinar âos atores índios. Black Hístory: Lost, Stolen on,d Strayed fiVel1,
negros coÌno se aclequar aos seus próprios estereótipos. A narrado por Bill Cosby, critica as represeÌttações histó-
voztleBeavernãoapresentavaÌlenhtÌrntraçodedialetoou ricas equivocadas e os s, ressalta a tlor causatìa pelos
lratoá sulista; ele teve que se escolar na fala atrastada do estereótipos enr:arnattlos nos desenhos anirnados. briritlue-

7I
dos e fihnes, alternando c,itações de rnateriais racistas e hostilitÌade: o rnotorista branco que tranca a porta do carro
entrevistas com artistas e estudantes afro-anericanos. Fronr ao ver um hornem negroì a ÌÌÌatrona branca que agaÌ-ra sua
Here, fronr This Sicle (1988), de Cloria Ribe, utiliza filrnes lrolsa ao ver luìÌ rÌe1lro se aproxirnar,
tle Hollywood e material de art.luivo para trarÌsÌÌritir a visão
da clominação cultural tle uma perspectiva rnexicana. ÁlJ
Oríentals Look the Sanre (1986), de Valerie Soe, rebate a
ooÌÌlarca
do plural" orientalista mostranrlo faces asiáticas
muito diversas clissolvendo-se ÌÌrÌ1as nas ()utras. Sktyíng th.e
O OnusDs
Dragon (1987), de Deborah Gee, por Íïrn. usa partes de fihnes
(por exernplo o tle O mundo de Suzie Wong (The World of Suzíe
RepresentoÍóo
Wongo 1960) e entrevisttrs para nÌostrar corÌlo as mulheres
asiáticas foram estereotipaclas corno tlóceis e exóticas. A sensibilitlade à flor da pele parâ corn os estereótipos
Color Adjustm.ent (1991), de Riggs, conta â história da raciais tleriva em parte clo que foi rotulado como "O ônus
representação do Negro na TV, passando pela época cari- da representação". No campo de batalha simbólico dos
catnral de Amos and Andy, as siÍcorns negras cotno Good meios de cornunicação de rnassa, a luta pela representação
Tirnes, Raízes até a família negra americana tlefinitiva: os no universo sirnulado homologa aquele da esfera política,
Htrxtables do The Cosby Shou. No geral, Color Adju,stment no qual questões sobre imitação e representação escorre-
fala menos sobre representação'uautêntica" do que sollre garn facihnente para questões de delegação e voz. (O ardo-
o paracligrna f,undamental esconditlo por detrás da maioria roso rlebate ao redor clas fotografias cle celebridacles, seja
dos programas - a família mítica norte-americana. Em urn cle ítalo-americanos ou tle afro-americanos, que adornam
rlos programas citaclos, AII ín the Fanrily, Edith Bunker a parerle rla Pizzeria do Sal ern Fo,ça a coisct, certa (Do the
glorifica o progresso negro: "Toclos costrÌmâvârn ser cria- Right Tltíng, l9B9) de Spike Lee, exernplifica de forma vi-
dos, empregados, garçons, e âgora são advogatlos e douto- brante este tipo de luta dentro da representação.)
res. Eles progrecliran muito na televisão!" Mas, como Desde rlÌre o rlue Memmi chamou de oomarca do plural"
sugere Color Adjusttnent, este simuÌacro tle rnelhoria é projeta os povos colonizatlos como se fossem "todos a mes-
profundamente inadecluado. Mesrno se a TV fosse póvoacÌa rna coisa", qualquer conÌportamento negativo por qualquer
cle doutores e advogados afro-americaÌros, suâ situação membro tla cornuniclade é instantaneamente generalizado
concreta não seria cont isso sultstancialmente melhoracla. como típico, apontando J)ârà um perpétuo retorno na dire-
Fade to Black (1989), por fim, orquestra agressivarnente ção tle urna essência presumidamente negativa. Logo, as
diversos rnateriais: uma histírria compacta dns negros ern representaçõres se tornam alegóricas; dentro cle um discurso
filmes, intervenções teóricas influenciadas por Althusser, hegemônico todo o artista/papel subâlterno é visto coÌno uma
cenas de filmes de destaque Urn corpo qu.e cai (Ver- sinétloque de uma comunidade arnpla mas putativamente
tigo ), 1958 ; Taxi Driuer, (L97 6), homogênea. Representações de grupos dominantes, por
rap musíc e comentários. A outro lado, são vistas não como alegóricas mas como natu-
Yoz oaer de clois homens ralmente diversas, exernplos cle uma varieclade não genera-
negros coloca eÌn contras- lizatla da própria vicla.rÌ Grupos socialmente poderosos
te a negação verbal não precisarn estar indevidarnente preocupaclos com oodis-
de racismo por bran- torções e estereótipos", posto que até as imagens ocasional-
cos e as manifesta- rnente negativas fazem parte de um amplo espectro de repre-
ções tliári- sentações. Urn político branco corrupto não é visto cono
as outor- algo "embaraçoso para a raça"q escânclalos financeiros não
gadas cle são vistos como um reflexo negativo do poder branco.
medo e Porém cada imagem negativa de um grupo de pouca repre-
sentatividade se torna" dentro das hermenêuticas da
dominação, dolorosamente sobrecarregada de sig-
nificaclo alegórico como parte do que Michael
Rogin chama da oomais-valia simbólica" dos
povos oprimidos; a maneira pela qual
negros, por exemplo, tem que re-
presentar algo
que está fora
deles. Ìr

fndios representando índios em Dança com Lobos.

72
A sensibilidade opera em uln contínuo corn outras repre- to, o sisterna de Hollywood não é apenas classista mas
sentações e com a vida diária, na qual o ooônus" pode ser também eurocentrista; para participar deste jogo, a pessoa
ainda mais insuportável, E esse contínuo que é ignorado deve ter poder econômico. Diretores do Terceiro Mundo são
quando analistas posicionam os estereótipos dos charnados requisitados, na prática, a idolatrar tm standard inatin-
arnericanos étnicos (itaÌianos, por exemplo), no rnesmo nível gível cle oocivilidade" cinematográfica. Além disso, muitos
que aqueles dos índios ou afro-arnericanos. Ao mesmr-r países do Terceiro Mundo reforçam a hegemonia discrimi-
tempo que toclos os estereótipos negâtivos são dolorosos, nando sua própria produção cultural. (A televisão brasilei-
nem todos exercem o mesmo poder no mundo. Sua evocação râ, por exemplo, sistematicamente favorece filmes ameri-
fácil e ampla elide uma distinção crucial: os estereótipos canos.) Nos campos da notícia e das informações, cle moclo
de algumas comunidades são meramente desconfortáveis similar, são instituições do Primeiro Mundo (CNN, AP, e o
para o grupo alvo, mas a comunidacle tem poder social para resto) que fornecern o filtro às notícias do mundo. Yantagens
óornbatê-los e resisti-los; estereótipos de cìrÌtras comuni- de distribuição também tendem a fiiar com os países do
dades participam tle um movimento contínuo de política Primeiro Mundo. Os filmes de Hollywood geralmente che-
social prejudicial e violência real contra pessoas sem podet, gam ao Terceiro Mundo bem noticiados, dada a cobertura
colocando em risco o próprio corpo do acusado. Estereó- clas grandes produções pela mídia, atingindo o Terceiro
tipos de poloneses e ítalo-americúos, apesar de lamentá- Mundo por meio tle artigos nos jornais e TV mesmo antes
veis, não foram formados dentro da fundação imperial e desses filmes estrearem localmente. A música popular ame-
racial dos Estados Unidos, e não são usados para justificar ricana também reforça a disseminação de filmes de Holly-
a violência do dia-a-dia ou a opressão estrutural contra wood, tais como Os ernbalos de sábado à noite (Saturday
essas comunidatles. Do mesmo modo, a apresentação "ale- Night Feuer) (1977), Purple Rain (1984), Na cama com
sórir:a" da figura do "Black buclto' Willie Horton na campa- Madonna (Truth or Da.re) (1991), e O guarda-costas (The
nha de Bush em 1988, para atiçar as fobias sexuais e raciais Bodyguard) (1992), todos previamente anunciados por
tlos eleitores brancos, intensificou dramaticamente o peso redes, dado que suas músicas foram tocadas em ráclios e TV
tla representação carregado por milhões de homens negros, cle tlomínio multinacional. Mesmo as cerimônias do Oscar
e indiretamente por mulheres negras; constituem uma forma poderosa cle propaganda; a audiên-
:A hipersensibilidacle em torno dos estereótipos e distorções cia é global, mas o produto promovido é quase sempre
cresce enormemente, então, com a falta de poder clos grupos americano, o ooresto do muntlo" geralmente encurralado na
historicamente marginalizados para controlâr sua própria restrita categoria de "filme estrangeiro".
representação. Um entendimento completo da representação O ooTerceiro Mundo", então, é cluplamente enfraquecido
pela mídia, portanto, requer uma ampla análise das instituições pelo neocolonialismo. Os filmes tle Hollywood, corn fácil
que geram e distribuem textos mediados pela massa como acesso aos circuitos de distribuição no Terceiro Mundo,
tarnbém da audiência que os recebe. De quem são as histórias expõem tentadoramente valores opulentos cle produção
contadas? Por quem? Como são fabricadas, disseminadas, virtualmente impossíveis de serem rivalizados pelo Terceiro
recebidas? Quais são os mecanismos estruturais do cinema e Mundo e geralmente não apropriados aos seus interesses.
tla mídia? Quem controla a produção, tlistribuição, exibição? O orçamento astronômico tle um blockbuster no Primeiro
\os Estados Unidos, em1942, a NAACP fez um pacote com os Mundo pode ser equivalente a décadas de produção em um
estírdios de Hollywootl para integrar negros nos postos de país de Terceiro Mundo. Cnmo tais filmes atingem o público
técnicos de estúdio, mas muito poucos se tornaram cliretores, com seu som dolby de máximo impacto e um estilo o'um
roteiristas ou cinegrafistas. Diretores provenientes tle mino- choque por minuto", criam o que se potle chamar "efeito
rias de todos os grupos raciais constituem menos de 37o das Spielberg" de sedução e intimidação dos diretores e espec-
filiações dos quase quatro mil sócios d.o Directors' Guild of tadores clo Terceiro Mundo. Ao mesmo tempo, o neocolonia-
.lmerica.t:t Um acordo entre os diversos sindicatos de cinema lismo econômico e a dependência tecnológica aumentam os
e o Departamento de Justiça tlos Estados fJniclos em 1970 custos da realização de um filme no próprio Terceiro
requisitou que as minorias Íbssem integradas nos polos gerais Mundo, onde filme, câmeras e acessórios importados geral-
tle trabalho na inclústria, mas as boas intenções do acordo eram mente custam duas ou três vezes mais do que no "Primeiro
tninadas pelo desemprego crescente em toda a indústria e por Mundo". Mesmo os diretores do Terceiro Mundo bem esta-
urn sistema de senilidade que favorecia membros mais velhos beleciclos provavelmente sentirão seu trabalho bloqueaclo
(logo homens brancos). O relatório mais recente a respeito dos pelos canais de distribuição dominados pelo Primeiro
processos de contratação em Hollywood divulgados pelo Mundo, e, quando distribuidores norte-americanos com-
NAACP revela que os negros são sub-representados em'otodo pram seus filmes os preços são geralmente irrisórios. Os
e qualquer aspecto" da indústria do entretenimento. O estudo maiores diretores árabes - o egípcio Youssef Chahine, por
de Ì991, entitulado t'Out of Focus - Out of Synch", alega que exemplo - raramente desfrutaram lançamentos comerciais
não se permite a negros tomar decisões definitivas no processo no Estados Unidos. Mesmo diretores alternativos se mantêm
de realização de um filme. Apesar do sucesso de pessoas como dependentes de companhias multinacionais para o seu equi-
Oprah'Winfrey, Bill Cosby e Arsenio Hall, apenas umâ peque- pamento e estoque de filme. E os próprios estoques parecem
na quantidade de afro-americanos ocupa posições executivâs discriminar as pessoas de pele escura: são sensíveis a certos
dentro tlos estúdios de cinema e canais de televisão. Embora tons de pele e devem ser stopped doutn ott especialmente
comprem uma quantidade desproporcionalmente grande de iluminados para outros. Elrl.A Diary of aYoung SouI Rebel,
ingressos de cinema, nepotismo, protecionismo e discrimi- Issac Julien atribui a dificuldade em se iluminar pele escura
nação racial se combinam para barrar os negros e seus negó- e clara no mesmo quadro ao fato de que a tecnologia dos
cios da indústria.ra Spike Lee fala de um "teto de vidro" restrin- filmes favorece tons mais claros de pele.rr'O prófrio celu-
gindo a quantidade cle dinheiro a ser gasta em filmes feitos por lóide é gravado racialmente,
negros, baseado na presunção de que não se lhes pode confiar O processo de produção de filmes específicos, seus modos
grandes somas de dinheiro.ts e relações de produção, suscitam questões em relação ao
Além disso, ao favorecer blockbusters cle alto orçâmen- aparato da filmagem e a participação das minorias clentro

ÍJ
tlesse aparato. Parece relevante, por exetnplo. (lueì nas reÌlÌ'eserÌtaram a si rnesrÌÌos eln unÌa reconstrução in loco
societlatles multiétnicas mas clominadas por branct.rs t'onto tla guerra de independência da Argélia. Os argelinos esta-
,ru Áf.i"u clo Sul, Brasil e Estaclos Unidos, rÌegros tiveram varn intirnarnente envolvidos ern toclos os aspectos tla protlu-
a tenclência de participar tlo processo tle realização tle ção" e os atores rnuitas vezes interpretavam seus próprios
filmes principalmente como artistas e não corno produtores, papéis históricos nos mesmos lugares onde os eveÌrtos tle fato
diretores ,ot"i.i.to.. Nu ÁÍïi"u clo Sul, brancos financiam, aconteceralÌì. Eles colaboraram de perto corn o roteirista
roteirizam," dirigern e produzem fihnes t:om elenco totlo de Franco Solanas, que reescreveu o roteiro inírrneras vezes
ÌÌegros. Nos Estados Uniclos eÌn resposta às críticas e ob-
rra tlécarla de l9:10. erluipes servações. C on seqtienternen-
conpostas apenas cle técni- õ te, os argelinos existem como
cos brancos fihnavam musi- pessoas sociahnente cornple-
cals totalmente negros coÌÌro xas e como agentes da luta
Heurts h Dixie (1929) e Halle- nacional. Por outro laclo. o
Iujah (1929). Os negros apa- fihne de muitos rnilhões de
reciam nesses fihnes como "al- dólares cle Pontecorvo, Quei-
Ìnas negras, artefatos de ho- ntada, não envolveu esse tipo
rnens brancos" (Fanon). E, de colaboração, Numa co-
posto que filmes cornerciais produção ítalo-Írancesa, o fil-
são projetados para obterlu- me traz Marlon Branclo no pa-
cros. devemos também nos pel do agente colonial britâ-
perguntar para queÌn vai es- nico contra Evaristo Mar-
se lucro. J. Uys, o diretor cle rlues? Ìlrn âtor não profissional
Os deuses deaern estar loucos de origern camponesa. Ao opor
\The Gods Mu.st Be Crazy)" rrrn dos rnais carisrnálicos ato-
pagou a seu ator NIXau so- res do Primeiro Mundo a urn
rnente dois mil rands por Deu- outro cr-rnrlrleta mente i nexpe-
ses 1 e cinco rnil rarrds por riente e não-proÍïssional tlo
Deuses 11. r; De rnaneira se- Terceiro Munclo, escolhitlo
rnelhante. não forarn os ne- apenas por sua fisionomia,
gros que lucraram corn cls Íïl- Pontecorvo snbverte o star
rnes arnericanos de blaxploi- sysfem e ao mesmo tenrpo atr'ai
tation (exploração negra) clo início da tlécacla de 1970; esses desastrosarnente a.fascinação dos espectadores para o coloni-
filmes erarn financiados, produziclos e ernbalados pelos zador, num filme cuja intenção diclática, ironicamente, era dar
ÌnesÌnos brancos que recebiarn a parte leonina dos lucros, apoio à luta anticolonial. A falta de participação caribenha
Os rnilhares cle negros brasileiros rlue brincararn nnm car- na proclução do filme leva a urn retrato uniclimensional clos
naval uofora cle horao', virtualmente senÌ pagamento, para colonizaclos, vistos como figuras sombrias desprovitlas de
o beneÍício clas câmeras francesas de Marcel Camus. nuÌr(ìa definição cultural.
viram nem urn dos milhões de dólares tyre OrJeu do co,rnat,al
(f 959) rendeu pelo mundo.Ì8
Até certo ponto, um filme inevitavelmente espelha seu
processo de produção assim como rnaiores processos soci-
ais. As vezes, cineastas oriunclos cle minorias, ao dirigir
As PolÍricos Rociois
fihnes sobre perseguição policial, foram perseguidos pela
polícia. Dtrrante a realização de Bush Muma (1975), tle
Ds -Eseolhq Dos Atorcs
Haile Gerima, um filme em parte sobre a repressão policial,
os próprios rnembros da ecluipe se tornaraÌn o alvo. Negros A escolha dos atores em filmes e teatro, como uma forma
com câmeras" assim como negros corn armas, podem não irnediata cle representação, constitui um tipo cle delegação
estar bem intencionados, conforme assumiu a polícia.te Ern tÌe voz corn sobretons políticos. Aqui também europeus e
outros casos, encontranÌos urna contradição entre a política euroamericanos exerceram o papel dorninante, relegando
aberta de um filme e sua política de produção. O presurni- não europeus a papéis coadjuvantes e ao sto.trrs de extras.
clamente anticolonial Gandhí (f 982), cleclicaclo ao santo Dentro do cinema de Hollywood, euroamericanos historica-
padroeiro tla luta sem violência, clistribuiu uma es(ìala de rnente apr-oveitaram a prerrogativa unilateral de atuar de
pagamento diferente que favoreceu os técnicos e atores "pele-negra". "pele-vermelha", "pele-marrom" e o'pele-
enropeus. Em O apocalipse de um diretor (Heart of Darkness" amarela," enquanto o contrário raramente foi o caso. Do
l9B9), o documentário sobre a proclução cle Apocalypse l'ío:'lo palco uaudeuille do século XIX por meio de figuras colno as
(1979), Francis Ford Coppola fala tlo ìraixo custo clo trabalhador cle Al Jolson em Hi Lo Broadway (1933), Frecl Astaire em
filipino. Nesse sentido, ele herda os rnesmos privilégios coln Ritmo louco (Suing Tüne, 193ó), Mickey Rooney e Judy
consentimento do gerente corporativo que se clesloca para o Garland etn Bu,bes in Arms (f 939) e Bing Crosby ern Dixie
Terceiro Mundo para usufruir da barata mão-cle-obra local. (1943), a tradição do recital blackface forneceu uma das
A importância da participação de povos colonizados ou origi- formas mais populares da culturapop americana, Mesmo os
naÌmente'colonüaclos no processo de produção se torna evidente atores negros (Ìomo Bert Villiarns, conforme o filme Ethnic
qnanclo nós comparamos A batalha de Argel (La Battaglia di l{otíons (1987) aponta, eram obrigados a carregar a marca
Algeria,1966) ao seuQu.eimada (Burn, f970). No pi{meiro filme, da caricatura nos seus próprios corpos; a rolha queimada
uma co-produção ítalo-argeliana tle orçarnento relativamente traduzia literalmente, tal como era, a figuração da negritutle.
baixo (800 mil dólares), atores argelinos não-profissionais Consitlerações políticas na escolha racial clos atores

74
erarn eviclentes na época do cinema mudo. Em Nuscünento de terem estatlo historicamente adstritas aos papéis tlesignatÌos
uma naçíto os subservientes negroes foram interpretados por racialmente, en(Iuanto os brancos eram ideologicamente
negros reais, enquanto negros agressivos e ameaçaclores foram vistos como "além cla etniciclacle", teve conseqüências tlesas-
interpretados na maioria por brancos em blackface. Mas após trosas Ì)arâ os artistas das rninorias. Em Hollywood, a
os protestos tlo NÀACP, Hollywootl (Ìolneçou a cautelosarnente situação s<i está se rnocliÍïcando agora, corn estrelas tais
delegar papéis pequenos a atores negros. Toclavia, mesÌÌÌo no como Larry Fishburne, Wesley Snipes e Denzel Washington
período do cinema Íãlado, atrizes brancas eratn chatnaclas para ganhando papéis originahnente destinados a atores brancos.
interpretar as'ornulatas trágicas" de filmes como O qLLe a carne Tampouco a auto-representação crornaticamente literal
herda (Pinlty) (1949), Imitação da uída (Imitation of Life) (.1959) garante a representação não-eurocêntrica . O sistema potle
e até mesmo clo filme undergrou.nd cle Cassavetes Shudows simplesrnente u'nsar" o altista pala leplesentar os códigos
(f 959). Nesse meio ternpo, as verdadeiras mulatas eram tlominantes; até rnesrno, às vezes, desconsitlerando suas
recluisitatlas para interpretar personagerìs negrâs - corÌÌo, por objeções. O status de estrela de Josephine Barker não a
exemploo Lena Horne emThe Cabin of the S/ry (1943) - apes,ar pernritirr alterar o final de Princess Tcun Ta,m (1935) para
de poderern facilmente passar pelo papel de brancas. Ern outiâs que sÌra persoÌrageÌn norte-africana (Berber) se câsâsse cour
palavras, não era a cor literal do ator que importava na um aristocrata fi'ancês ao invés do criado norte-africano,
escolha. Dacla a definição do sangue 'unegro" contra 'ubranco" ou que se casasse com o trabalhaclor francês interpretaclo
no tliscurso racista euroarnericaÌ1o, ulna gota de sangue negro por Jean Gabin etn Zou Zou (1934). Ao contrário , Zou Zou
era suficiente para desclualificar uma atriz como Horne para termina sozinha. Apesar cle seus protestos, os papéis de
representar uma mulher branca. Barker erarn cir-cunscritos nos códigos que proibiam o
Afro-americanos não foram as írnicas o'pessoas tle cor" acesso a homens brancos corno legítirnos parceiros tle casa-
a serem interpretadas por euroarnericanos; a mesma lei tle ÌÌlento nas telas. O estilo de representação excessivo peltui-
privilégio unilateral funcionava em relação a outros grupos. tiu que atrizes como Josephine Barker ou Carmen Mirantla
Rock Hudson, Joey Bishop, Boris l(arloÍï, Torn Mix, EÌvis superasseÌn e parocliasseln papéis estereotipaclos-. rÍras não
Presley, Anne Bancroft, Cyd Charisse, Loretta Young, Mary lhes atribuiu rnuito poder. Mesmo a atuação expressiva de
Pickforcl, Darne Judith Anderson e Douglas Fairbanks Jr. Paul Robeson foi listacla" apesar dos protestos do ator, no
estão entre os muitos atores euroamericanos que repre- elogio ao colonialismo europeu na Africa qte é Sanders of
sentaram o papel tÌe índios. LtéWhtdualker (1973), os papéis the Riuer (f 935). Em anos recentes, Hollywoocl tern feito
rle ínclios.rnais importantes não eram reÌrresentados por gestos na direção de uma esr:olha correta; atores afro-
nativos. O cinema clominante gosta de transformar pessoas americanos, índios e latinos puderarn represerÌtar suas
"escnras" ou do Terceiro Munclo ern peças suhstituíveis. comunirÌatles. Mas essa escolha realista é raramente sufici-
unitlacles intercambiáveis tlue podem tomar o Ìugar umas das ente se a estrutura narrativa e as estratégias cinernato-
outras. Logo, a mexicana Dolores tlel Río interpretou urna gráficas continuam eurocêntricas.
samoâna dos mares do Sul ern Aue do paraíso (Bird of Urna série tle tliretores de Íìlmes e de teatro [)rocurâram
Poradise, 1932). enquanto o indiano Sabu interpretou urÌra abordagens alternativas para urn elenco literalmente auto-
grande série de personagens árabes-orientais. Lupe Yélez, repÌ'esentativo. Orson Welles clirigiu versões negras tlas
originalmente mexicana. peças de ShaÌ<espeare, no-
letratou chineses. "esqui- o tavelmerrte sel Macbeth
mós" (Inuit), japnneses, ma- Voodoo no Harlem em 1936.
lásios e índias americanas, Peter Brook, similarrnen-
enquanto que Omar Sharif, te, contratou um arco-íris
um egípcio, interpretou de artistas multiculturais
Che Guevara. Esta assime- na sua adaptação para as
tria no poder de represen- telas tlo épico hindu O Ma-
tação gera urn intenso res- habaratha (1990). Glauber
sentimento nâs comunida- Rocha rÌeliberatlamente con-
rÍ!_!Yrg!Jl
cles minoritárias, para as wltrt to ttt fundiu lingüística e auto-
tJuais o recrutamento de um representação teatral em
não-membro clo grupo mi-
üONE seu Der Leone Haue Sept
TVITH. THE
noritário é um insulto tri- Cabezas (f970). cujo pró-
plo, implicando (a) você T,flIìIDI prio títrrlo subverte o posi-
não é digno cle auto-repre- cionamento lingiiístico do
sentação; (b) ninguém da espectador ao misturar cin-
sua comunidade é capaz cle co das línguas tlos coloni-
te representar; e (c) nós, os zadores da Africa. A fábu-
produtores do filme. não la brechtiana cle Rocha ani-
nos importamos muito com
O Íilme E o vento levou... em cartaz na ÁÍÍica.
ma í'iguras emhlenráticas
sua sensibiliclade ofendida, representanclo as tliversas
porque temos o poder e não há natla que você possa fazer a nações colonizadoras, sugerindo entre elas homologias
esse respeito. irnperiais ao teÌ' uma pessoa com sotaque italiano no papel
Tais práticas têm implicações até mesnro no nível mate- do americano, urn francês interpretanclo um alernão e assin
rial bruto dâ auto-representação literal, qual seja, a neces- por diante.
sidade clo trabalho. A idéia racista de que um filme, para Tais estratégias antiliterais provocam urna questão
que seja economicâmente viável, deva contar com uma irreverente: o que está errado com um elenco epidermi-
estrela "universal", quer dizer, branca, revela a imbrica- carnente inadequado? A atuação não envolve sempre um
ção entre a economia e o racismo. O fato clas pessoas cle cor jogo lírclico cle identidatle? Devernos aplauclir negros inter-

75
pretando Hamlet e não Laurence Olivier interpretantlo seja pela interiorização desses estereótipos ou por meio
Otelo? E atores euroamericanos e europeus que rnuitas vezes t{os efeitos negativos de sua disseminação; e
se s'bstit'íram etnicamente (por """-ploiGreta Garbo e 3. assinalando a funcionalidade social dos estereótipos,
CydCharissecomorussos emt\inotchka, 1t39. eMeios cle setla demonstrando clue eles não são.um erro cle percepção mas
lSillc Stockings, lgSZ)? A escolha dos atores. pocleríamos sirn uma forma de controle social, pretendend-o ser o que
argumentar,".l"rr" ser vista em termos contiigentes, em Alice Valker chama de o'prisões de imagem"'20o apelo a
.eúção ao papel, à in- 'imagens positivas", do mesmo modo. corres-
tençãopolíti"ueeSté-'gpondeaumaIógicaprofundaqrreapenasaqueles
ticaeaomomentohis-ããc<lstrrmadoSaterseunarcisism<linsufladopo-
tórico.Nãopodemosigtra_|*3a"-cleixardeentencler.D'aclo,ymï''"*:d"*-'.
larumagijantescaãha-Eil:tf;'ffi#E|"nanteqrre'comerci1.:oÏh".ó1..:h:i:'_li.^"-l:
."du,'."qïultoclotrm-,ffi#..'*='rudcomrrnidadesminoritáriasreqrrisitarn:.ï111.1:
paísestrang"i.oé."]Zliffiã"d.il]suajustaparte'no..boÌoreprese1tacjonal,.111-o
presentadoporâtores-#'wË.tr1IÌlumsimplesproblemad"Ï"o-.'"^.::*:l:o".lÏ::':^
qo",'ãosãoãrigináriosE}ryil[,t.EÉlAomesmotlTp"',aabor|.1pem.u:.::.^:.:"]y
a.carre.ta uma série,de armadilhas tefJical lo.h
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ginado falando *ma lín- lW ^,
't . -rufnr-H ticas.rEm primeiro.lugu"
l
"!':o::I_1ïu"_1","1ï:"
!,,.q,."nãoasua(uma
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Hollywoocl),
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- g!ffi* :ïïJïïtr1,ï;'.rul',,ï-l""3:,ï:,ïr:,'","d:ï
I do críticos.menos sutis reduzem
"it,."u.ïi"ltq:
",r* "uru,
em que um.elenco não- S.ffi-l$:.rlf T+Erl complexa d.""..",,'u,o:1
"T.""1j*" t'l"ia: 1:
rite'arrazpartecre'lrma
estética alternativa. lEs
!ÍÍf, ilï! IÍü:ttmixffi.Ïl*";xínn:Xmï::
rias preestabelecid.as. Por trás de toda cfane;
;;ih;;";sr;. pu'uli,'- ' ,.'"$illni!|, . f ill
terpretarHamlet,por}...'..TffiI*+.T.ilIartisianegraocríticoenxerga"\pi"!"",::!_i,^
I exemplo,militacontr'L$"'ffi.Ï...k.,..illpor.trásdetodo,atornegrosexual-""l"1..u"'"j:
umbuc/r;portrásdetorla':F:":'f,rl"ï::."j:
umatradiçãocliscrimi- I * S' mff'f \'r&#irl
i
natória que thes nega- lt .$ H.ffi, -- It ; ïi1"'i1,lu umaoomãe preta'o'
ï*-...'"..-o--climinuidoraScorremoriscodereproduziropró-
Taissiill]ll"*::'
va qualquer papel, lite iriâÉ prio essencialismo raciaÌ que foram projetados
: ^ -r
ral e metaforicamente Os negros _^_-^rr_r^_ ---..-+ãí-É rLilian
revoltados assustaram Lilia.n
Gish em o nascimento de uma nação, de para combater.
tânto nas artes cênica' D'W' GriÍÍith' í 9í 5'
quanto rr" pulíti"a, Esse essencialismo gera no seu despertar uma
"rr:
quanto a escolha de Laurence Olivier para o papel tle OteÌo certa a-historiciclade. As análises tendem a ser estáticas,
prolorgu uma venerável história .1" ã"r"or.ideração cleli- não permitindo mutações, metamorfoses, mudanças de va-
berativa do talento negro.,Vemos as possibilitlades de uma lência, alteração de funções; ignoram a instabilidade histó-
escolhadeatoresepiclermicamenteincorretaemseeíngDoubl,e rica do estereótipo e até mesmo da linguagem'rParte da
o'brinìa" corn terminologia básica invocada por Bogle nem. sempre foi
(f989), uma trupe^de Mímica de São Francisco
o conflito Israel/Palestina, no qual um elenco etnicamente tliscriminatória contra os negros. A palavra 'ocoott", por
diverso se alterna.ro, prpli, de modo a estabelecer ligações exemplo, originalmente se referia aos brancos que viviam
l,nalógicas entre as comurri.lades. Um ator afro-americano no câmpo_,^adqlirindo umâ conotação
racial somente por
rnterpreta tanto um palestino quânto um judeu-americano, volta de f848. A época da revolução americana, o termo
oojovem vistoso e viril"; e foi associado
1ru, "*"^plo, insinuÀdo conseqüentemente uma história tle "buck" evocava um
ãxclusão comum entre nesros,;,,deu, e árabes. ï;;ilin;ïï,ffJ#ï13*ï.*;l:t'f"Ëf;::;:ï::::
os ,[inrire s Do greaser ilegal"
ï:t1Ë'"'#;ï;ifliïplï:ii.Tiiïfi#:pï:."fi'ï:;
o"estrangeiro
com o da mídia contempo-

Estercótipo ;.Ë:Ï"ïJii Ë:;".ï,1','iÏl:l'":-n#ì Ë:T#ij;,l'


enquanto sua função continua a mesma e vice-versa' Ethníc
Nós gostaríamos tle em primeiro lugar defender a impor- N oiíons, de Riggs,explica que o papel do Tio Tom não
tância cl-.'o estudo da estereotipia na cultura popular e tam- representava os negros, mas servia para reassegurar aos
bém Ìevantar algumas q,r".tõ". metoclológicas sobre as brancosumaimagemconfortantedadocilidadenegra,assim
premissas adj acãntes ao tratamento centÃdo no perso- como o papel de "Blac,k buck" , desde a Reconstrução, serviu
,rrg"* ou no"estereótipo. (Não estamos sugerindo que o para amedrontar os brancos e desse modo suborcliná-los à
trabalho clos escritores'meocio.rados é reduzÌvel à "análise manipulação da elite. As imagens "positivas"' clas siücorns
aï".*r"aìipoJ;:)Fu., começar, uma abordagem centrada na teievisão com elenco negror tais como Dffirent strokes
oohar-
no estereóti;o, a análise de repetidas e ext.emimente perni- e The Jeffer,sor.s, ârg*menta Herman Gray, iclealizam
monia racial, afluência e mobilidade individual" e portanto
ciosas conielações de traços de personag"rrs, d"J, ,.*u
contribuição ináispensável: 'odesviam a atenção do racismo, desigualdade e da diferença
l. revelando formas opressivas de preconceito que num de poder ainda existe1J"t".t'' O sucesso dos Huxtables'
p.i-"i.. .fft.r pod"- tãr parecido.r- f".rô-"rro "us,-,ul " explicam Jhally e Lewis, "implica na falência cla
"onÌot-e
maioria das pessoas negras".2{ Os estereótipos contem-
inócuo.
2. destacando a devastação psíquica infligida por retrâtos porâneos, adãmais, são inseparáveis da longa história do
sistematicamente negativos desses grupos po. atacados, ãi...,rr,, colonialista. o tipo "sa'mbo" é em certo nível uma
"lã,
76
-
instância caracterológica meramente circunscrita cla Íigura as qualidades mudaram de posição,(os asiáticos não são mais
infantilizante do colonizado. O "mulato trágico',, clo mesmo passivos e sim trabalhadores; judeus europeus, antes objeto
rnodo, é uma figura acauteladora fundada na irnagem da de uma hostilidacle anti-semita, foram promoviclos), más o
pureza, a aversão à miscigenação de um certo discurso racista. rnecanismo básico de hierarquização permanece intacto. A
Um recente Tom Brokaus Report (abril Ì993) sobre o superioritlade branca não é tão declarada como algo assumido
tema da imigração ilustra a necessidade de se atribuir um
caráter histórico à cliscussão sobre estereótipo e racismo
- os brancos são as pessoas objetivas, u. "ap""i"lirtas, as
concili.adoras, aquelas que não causam problemas, aquelas
na mídia. No relatório, nós acompanhamos os esforços da clue julgam, aquelas ooem casa" no mundo, cuja prer.rogativa
polícia da fronteira para capturar os ooestrangeiros ilàgais,, é. criar leis perante o estrangeiro desordeiro.
vindos do México. Sob a luz averdejada das câmerás de O enfoque em personagens oobons" e 'omaus,, na análise
vigilância, vemos os estrangeiros forçando sua entrada por das irnagens enfrenta o cliscurso racista no câmpo preclileto
cima de gracles, cruzando estradas, pelas frestas. O retrato clesse próprio cliscurso. Ele geralmente escorrega para o
sugere um tipo de verme invulnerável que plorifera como moralismo, e conseqtientemente para infrutíferos debates
ratos e é igualmente difícil de barrar. IJm "deles,, âparece sobre as virtudes relativas dos personagens fictícios (vistos
brevemente, não para explicar sua perspectiva mas up".r". não como criações mas como se fossem pessoas de carne e
para advertir que nada o impedirá, que a prisão e expulsão osso) e o corretisrno de suas ações fictícias. Esse tipo de
não são obstáculos importantes. Não há uma abordagem moralismo antropocêntrico, profundamente enraizaclo em
histórica, nada a respeito da brutalitlade da polícia-da esquemas maniqueístas de bem e mal, conduz ao trataÌuento
fronteira, e nenhuma explicação que aquela área foi urn tlia cle complexas questões políticas como se elas fossem proble-
parte do México, que mexicanos "ilegais" estavam lá antes mas de éticas individuais, de certo modo reminiscentes de
dos anglo-saxônicos oolegais". Aí vamos a Nova York, onde peças moralistas encenadas pela direita, nas quais virtuosos
un médico negro dominicano relata os altos índices de heróis arnericanos batalham contra os endemìniatlos vilões
crime no bairro onde trabalha; ele clama por uma imigração clo Terceiro Munclo. ]Portanto, os retratos dos inimigos clo
mais seletiva. Após ouvirmos sobre as "más" etnias (previsi- regime Bush/Reagàn acarretaram "alegorias maniqueÌstas,,
vehnente negros e latinos), nós encontraremos u, ..hou. (nas palavras cle Abdul Jan Mohamed) do colonialis-o: os
etnias": dessa vez judeus rrssos que trabalham duro, não sandinistas eram retratados como os banclidos "da atualicla-
teclamam, e que apreciam imensamente as oferendas tla de", o rnestizo Noriega foi construítlo para encarnar as
\rnérica. Os mesmos sinais mudam de valência de acorclo fobias ânglicas do homem latino (violento, traficante cle
coÌÌÌ uma hierarquia étnica. Tanto os dominicanos quanto drogas, feiticeiro) e Saddam Hussein excitou a rnemória
os rrssos são mostraclos dançando, por exemplo, mas so- intertextual de muçulmanos fanáticos e árabes assassinos.
rÌÌelìte com os russos a voz oDer caracterizara a A análise dos estere-
dança como um sinal de joie de uiure. Aí nos ótipos é do mesmo modo
tleparamos com outra "minoria modelo"" um ;
g dissimuladamente base-
hornem de negócios coreano que "ensina disci-
plina" a jovens negros, que louvam o coreano por f ada no individualismo
ter rnelhorado seu bairro. Os coreanos, nos é dito, $ na medida em que o per-
trabalham longas horas, respeitam os mais ve- ! sonagem individual, em
lhos e progridem, mas seu sucesso causa ressen-
i lugar de categorias soci-
tirnento. (Dadas as rebeliões em Los Angeles, nós 9 ais mais amplas (raça,
{ classe, gênero, nação,
suspeitamos que os "ressentidos" sejam negros e
orientação sexual). conti-
latirros.) Três experts brancos se dirigem a nós: nua sendo o ponto de re-
um" liberal, defende a tolerância; os outros dois
ferência. A moralidade
argÌrmentam em favor de maiores restrições. As individual recebe mais
lroucas vozes negras no programa não falam por atenção do que estrutu-
sua comunidade mas preferivelmente por outras ras maiores de poder. O
comunidades (os coreanos) ou por uma política enfoque no caráter indi-
nrais rígida cle imigração; ninguém fala em nome
vidual também se esque-
tlos negros, Nenhuma palavra sobre racismo, so-
ce das maneiras pãlas
bre histórias amplamente tlivergentes e relações quais instituições soci-
com o colonialismo, a escravidão ou o capitalismo.
ais e práticas culturais"
Um momento de reflexão revela porque esse quando opostas aos indi-
cenário parece tão familiar. Nós estamos escutan-
víduos, podem ser mal
tlo os ecos das teorias raciais hierárquicas clo representadas sem que
século XIX desenvolvidas lor pensadores tais nenhum personagem se-
como Hegel, Gobineau e Renan, agora embebidas ja estereotipado.
na ideologia da "cultura da pobreza". Para Gobi- iA mi-
mese falha de muiios fil-
neau, negros estão no último patamar, incapazes encaÍnar chinesas, esquimós, japonesas,
mes de Hollywood que
cle se desenvolver, enquanto a raça ooamarela" é malásias e índias americanas no cinema. lidam com o Terceiro
superior à negra, mas ainda passível e suscetível Munclo, com seus inu-
ao despotismo. A raça branca, caracterizada pela inteli- meráveis erros etnográficos, lingüísticos e até mesmo topo-
eência, pela ordem e pelo gosto da liberdade, ocupa a gráficos, tern menos a ver com os estereótiposper se do que
posição superior. Para Renan igualmente, negros (junta- com a ignorância tendenciosa do discurso colonialista.lAs
mente com os povos indígenas) estão na parte mais baixa, instituições sociais e as práticas sociais de um povo pod"*
os asiáticos representam uma raça intermediária e os bran- ser denegridas sem que estereótipos individuais entrem em
cos europeus se posicionam no topo. No esquema de Brokaw, questão. A mídia constantemente reproduz visões eurocên-

77
turistas.
j; A mírlia eletrônica tamllém participa clesses re-
tricas das religiões africanas, por: eremltlo" ao eucar'á-las
como cultos supersticiosos no lugar de sistenas tle crenças tratos rlifarrratórios. Pelo menos o progÌ'aÌÌra loc.alEyewiütess
legítimos" preconceitos srtsteutatlos pelo vocabrrlário pater- ,\ercs, tle Nova Yorh. apresenta a Santeria coÌno um proble-
nalista ("animismo" "íclolos ancestrais". "magia") usado ma policial. orl coÌÌro urna tluestão tle "cmelclade corn os
para se rliscutir as religiões.r5 Dentro tlo pensamento ettÌo- animais". Conreclores habituais de galinhas, esquecidos das
centrista, as hierarquias ocitlentais ilÌUrostas trabalhaln em condições esr:antlalosas tla protlução comercial de aves,
detrinento das religiões aflicanas: ficarn hon'orizatlos lleralÌte a ÌÌratança ritual cle tuÌt Ì]eque-
1. orais ao invés cle escritas, elas são vistas corno tlespro- no nírmero de galinhas. eÌrquanto a oficialidatìe clama
virlas tlo ünltrintutur cultural tlas religiões "do livto" (quan- abertaurente pelo "firn tla santeria". algo impensável no caso
tlo tle fato o texto sirnplestnente adtluire uma fomra oral- das religiões'"resl)eitáveis".rs Em surna, llrocedimentos
serniótica distinta. coÌÌro nas canções cle louvor ioruba); eurocêntricos potlern tratar urn fenôrneno cultural complextr
2.'são encaratlas c,ono politeístas ao invés de monoteístas de rnaneira pervertitla seÌÌl se servir tle estereótipos dos
(urna hierarquia tlehatível e ern qualtluer caso ttttta Iuá Ì)ers oÌÌ ageìÌs .

rel)reseÌìtação da maioria das leligiões africanas )t Uura aìrortlagern uroralista e inrlividualista tarnbém
3. são vistas conlo sÌrpersticiosas ao invés cle científitras (unr:a ignora a Ììatureza contraditória dos estereótipos. Figuras
herança tla visão positivista rla religião, evoluindo do rnito Ì1egrâs. nas palavras tÌe Toni Morrison, acabam significando
para a teologia e para a ciôncia). tluando tle fato todas as pírlos opostos: 'uPor um latlo, elas signiÍïcarn benevolência.
religiões envolvem um ato tle fé; proteção serlil e inofensiva e alÌlor seur fint", e por outro,
4. são consideradas como incornodarnente tÌotporais e Ìír- "insanitlatle, sexualitÌade ilícita, ciìos"." Urna altordagem
tlicas (dançatlas) ao invés de abstratarnente e austerarrlente moralista tambént nãto leva eur consideração o problema cla
teológicas; Ìlatrlreza relativa da "uroralitlade"', elitlindo a questão:
5. são consideraclas insuÍìcienternente subÌirnatlas (por exemplo, Positivo para rluem? Ela ignora o fato tle tlue pessoas opri-
envolvendo sacrifício anirnal real no lugar cle sacrifít:ios rrritlas não soÌnerìte têrn uma visTao diferente cle moralidade,
simbólic,os ou historicamente conleÌÌlorativos); e rnas até rnesÌÌìo urna visão oposta a ttnr moralisrÌro hipócÌ'ita
6. são vistas como selvagemente gregárias, anulanclo a que alérn cle acobertar a injustiça institucional é oltressivo
personalidatle nas fusões coletivas transpessoais tlo trause, por si só. Até urestno o tlecálogo se torna ìÌlenos sacrossanto
ao invés rle respeitar a consciência inclivitlual unitária. O em situações aÌÌìargas tle opressão social. Dentro tla escra-
oobont"
irleal cristão do uisío üttellectualis, que a teologia cristã vitlão. por exemplo, não seria atlmirável e Portanto
herclou dos neoplatonistas, foge corn horror dos transes rnentir para rnanipular e até lllesmo rÌratar tun trafittante tle
plurais e tlas visões das religiões da Africae tle muitos povos esr:ravos? A abortlagern da "imagern positiva" assnrne utÌla
intlígenas. rt'
Em uma perspectiva menos eurocêntrit:a, totlas rnoralitlatle l-rurguesa intinramente ligatla ào stltLLs qLLo
essas "cleficiências" se tornaÌn vantagens: a falta cle urn textn político. O tpre é visto como "positivo" pelo grupo donrinante.
escrito impede urn dogrnatismo funtlamentalista; a rnultipli- por exemplo os âtos dos índios que espiarn parâ os brancos
ciclade clos espíritos permite uma mudança histórica; a nos faroestes, porle ser visto como ulìlâ traição pelo gruprr
possessão do r:orpo inclica uma falta cle as<:etismo puritano; dominado. 0 tabu em Hollywootl não é tanto enÌ relação às
a tlança e â mírsica são urn recurso estético. "imagens positivas"' rnas sim às irnagens tle revolta e tornatla
Religiões tla diáspora e sincréticas tle origem afrit:ana sãr tle poder.
quase invariavelmente caricaturaclas na mítÌia dominante' O Ao se 1-rrivilegiar o personagem L'm detrimento da estrutura
enquadramento de filmes cle uoodoo (feiti- narrativa e soeial, atri-
çaria), tais como Voodoo Man(1944),Voocloo Irui-se aos povos opri-
Woman (1957) e Vootloo Island (1957) no mitlos o eÌlcargo de se-
gênero "terror"n já mostra a atitude vis- rem u'llons", ao invés
ceralmente ametlrontada para com as reli- de se pressionar os pri-
giões africanas. Mas, em Íïhnes re('entes, vilegiaclos para remo-
oomágicas", verem a faca das cos-
fobias positivistas sobre práticas
ao lado da possessão demoníaca rnonoteísta tas. A contraparte do
oobom
de rituais ooateus" , ainda vêm à tona. Tlue negro" do outro
Belíeuers (1986) apresenta a religião afro- lado da clivisão racial
caribenha Santeria corno urn culto domi- é o racista patologica-
nado por rituais de assassinato de crianças, rnente vicioso: Richartl
de certo rnodo rerniniscente tlos "ritos im- Vitlrrrark en O ótlío é
pronunciáveis" evocados pela literatura co- cego (No Wuy Ou.t,
lonialista. Qualquer série cle filmes erotiza 1.950) ou Bobby Darin
as religiões africanas de tal maneira que trai e nt To r m.e nt o s tl" alnt a

a atração amllivalente e a repulsão . Coru- ( Presntre P oint 1962).


"
ção Satânico (Angel Heart, l9B7) traz Lisa Bill Gosby encarna o cheÍe de Íamília negra
"#- Tais filmes trazem os
turacistas cotntttts" etn
Bonet corno Epiphany Proutlfoot, a sacer- norte.americana típica' os l{uxtables' no Bill
dotisa uoodoo. em uma cena tle âlnor san- Cosby Show. uma situação senì pro-
guinária corn Mickey Rourke. Outro veículo blemas, intrapazes de se
de Mickey Rourke, Orquídea seluugem (f989). explora a at- reconhecer clentre os maníacos tlelirantes na tela. E para se
--
mosfera religiosa do r:andornblé, religião afro$rasileira, corno igualarem, os oprimidos rÌevem se aprimorar, daí os estóicos
o que Tomás López-Pumarejo charna de "afro-tlisíaco". E a "santos de ébano" (palavras tle Bogle) cle HollywoocÌ, desde
comérlia de Michael Caine Feitíço do Rio (Blarne it on Rio, Imítcrção da uida \lmítation of Life -versão de 1934), tle Louise
l9[ì4) encena a umbancla colno uma frenética orgia na tpral a Beavers, passando por Sidney Poitier em Acorrentados (The
rnãe de santo rÌistribui conselhos amorosos ern inglês aos Defiant Ones, 196l) até Vhoopi Goltlberg em Claro's Hea'rt,
t0
I(l
(l9BB). Além clisso, o santo negro forlÌra rlrÌr par lnarÌiqueísta morlo a exploral tensões inter-raciais dentro da comunidade
com o dernônio negro. eÌn ulÌl es(peÌÌìa rnoralista reminiscente africana/arnericana. School Da:e cornicanrente eÌlcena as
tla estrntrrra àe Cabin in the Sky. Os sautos herdaranr a tensões icleológicas e de classe entre os africauos/arneri-
tradição cristã do sacrifício e tendern â ser âssexuadus. tles- canos identificados coìÌl os branr,os ou corn os negros. Ao
providos dos atributos normais humanos. seguindo as linhas invés rÌe fazer uso do habitual sÍnÍus delegarlo à cornunirlatle
do 'oeunuco negro". mostratÌo eÌÌì poses decorativas ou sub- cle africanos/americanos. o fihne libera esl)aço narrati\'o
servientes.:r" O privi- l)iìra expressar as contraclições tle ullÌa comuÌl-
Ìégio concecliclo às irna- rÌade heterogênea. tlemonstranclo a coufiança
gens positivas tambérn <le urn diretor que está prorÌto a tlar espaço a
elitle as tliferenças, a uma polifonia de vozes conflitantes. De fato,
heterogl,ossíc. social t
moral (o termo de Balih-
$w ,J,r".tõ", tle tratamento são tão crtrciais í3rânto
iluestões de representação. Quern está falando :-.
tin signiíìcantlr'upoli- por meio de um fihne? Quem se supõe estar
Iingtisrno"), caracterís- escutanclo? Quern está reahnente escutando?
o
tica de qualquer grupo Qnem está olhantlo? E quais tlesejos sociais são
social. iUrn cinema de mobilizarlos pelo filme?
imagens positivas in- A abordagenl eÌÌr torno da "imageln posi-
ventadas denuncia um:r tiva" tarnbénr exclui rluestões sobre o ltouto de
falta de confiança no vista e o tpre Gerard Genette charna de "foca-
gÌupo retratado, tpre lização". A refonnulação promovida por Genette
geralmente por si só da tluestão literária t:Ìássica do "ponto de
não tern ilusões (luaÌr- vista" vai além cla perspectiva clo personagem
to à sua prripria per- pâr:a estruturar a inforrnação no interior tlo
Íeição.] fJm cinema no lnunrlo ficcional por meio cla grade cognitivo-
qnal t-crïos os peÌ'sona-
geÌrs ÌregÌos se pareci-
am com Sitlney Poitier Em sua pizzaria no tenso do Brooklyn,
Sal {Danny Aiellof troca idéias com seu
br perspecti'va tle seus habitantes.'Ìì O conceito é
esr:larecedor tpranclo aplicatlo a filmes liberais
rlue atribuern ao 'ooutro" umâ ìrt og",tt o'posi-
lrocle ser tanto uln Ìno- tiva", discursos alrelativos e Ì)ontos cle vista
empregado wookie {Spike Lexf, em Faça a
tivo cle alanne (IuaÌlto coisa certa.
esporírrlicos. Ìnas Dos tluais os pelsorìagr'Ì1s
uÌìl no tlual todos se eurol)eus e euroamericanos continuam sendo
pareciarn cnm Step'n Fett:hit. Além disso" assuute-se fi'e- ratliantes 'ocentros de r:onsciência" e "filtros" para infor-
tliienternente rlÌre o coÌltrole soìrre Ír representâção concluz nração, os veí<rulos para os tliscursos racial e etnicarnente
autornatit'amente à lrroduqão tlt "irnagens positivas". Mas tlominantes. Muitos fihnes liberais rle Hollvwoorl solrre o
Íìlnres feitos por africanos corÌÌ() Latffi (I99I) e Finzurt ( f 990) Telceiru Munrlo ou sobre r:ulturas rninoritárias clo Primeiro
não oferecenr irnagens positivas tla socierìade afrit,ana; ao Muntìo rìÌostÌ:arÌì urÌr Ìrersonagem europelr ou eÌtt'oantericano
t'ontrírrio, ofere(,ern llerspectivas urítir:as sol)r'e essa so- (ÌoÌÌìo uÌrla uol)onte" rnetliatlora l)ara outrâs ctrlturas retra-
<'ierìarle. A requisição llarâ tlue r:ineastas tlo Tert'eiro tatlas tle form:r mais ou lÌleÌÌos solitìária. Os jornalistas rlo
Munclo ou minoritáricts protluzarn apenas 'oimapJens posi- Prirrreiro Mnndo em Sob.fogo cruzctclo (Under Fire - l9B',ì),
tivas", nesse sentido, pode ser um sinal ele ansiedade. Holly- Sulucrrlor - O ntu.rtírío de um pouo (1986). Missing - O
rvood, de fato, nunca se preocupou em manrlar fihnes para o clesupttreciclo (f 9{Ì2), O ano ern qu.e ui,uentos em perigo (The
mundo totÌo tlue retratassem os Estaclos Unidos ('oÌÌ1o tlÌnâ Year of Liuinp;Dangerously"l9S3) eCircles of Deceit (1982)
terra violenta. Ao invés de lidar corÌr as contraclições de uma herrlaram o papel "inteirnediário" traclicionahnente atri-
cornunitlatÌe, o cinema da "imagern positiva" prefele urna buítlo ao viajante colonialista e mais tartle ao antropo-
máscara de perfeição. logista: o papel datluele tlue "relata". O personagem lnedia-
dor inicia o espectarlor nas comunitlatles alterizadas; está
irnlrlít:ito rlue oTerceiro Munclo e os povos minoritários são
Percpeclivo, int'apazes cle falar por si próprios. Não clignos do estrelato
tanto Ì1os filrnes tluarrto na vitla política, eles precisatn de
um intelrnediário na luta pela ernancipação.
Dfueção,Focolizoçúo O lrersonagem cle lronto tle vista predotninante não pre-
cisa ser o uolrtrrtatlor" tlâs "normas clo texto". João Negrüth.o
Uma abordagerÌr enl torno da ooirnagern positiva" taln- (1954). tle Oswalclo Censoni, por exemplo, é inteiramente
hérn ignora a tluestão rla perspectiva e do posicionarnento estmturarlo erÌì torno da perspectiva de seu personagern
social tanto dos cineastas (luanto clo pírblico. Não poclemos foco, um velho ex-est:ravo. Mas, en(luanto o filme l)ârece
igualar os estereírtipos vintlos 'ude cima" aos vindos "de apresentar todos os seus eventos sob o ponto de vista tle
baixo", eÌn que são usatlos (:olno se fossern "entre aspas". João, apareìrtemeÌrte para estabelecer lllna totaÌ solitlarie-
reconher:iclos colno estereótipos e usatlos para novos fins. darle conr ele. o rlue de fato acaba atrainclo essa solidarie-
O grupo de teatro Culture Clash" por eremyrlo, ev{)ca este- dade é a visão patel:Ìlalística dos o'bons" negr:os tlue tleixarn
reótipos dech.icttrtos, ma,s $eìnpre tlentro tle urna pet'slrectiva sens clestinos nas mãos clos abolicionistas brancos bern-
sinrpática Aos mcsnl()s.!,t i.teiu tlas inrugens positivars não intenr:ionados. Ent:ontra-se uÌÌra ambigiiidade similar etn
permite esse ti1-ro de "Àátira interna,"' a afetuosa "auto- fihnes liÌrerais que privilegiarn rnetliaclores europens elÌl
gozação" por rneio cla rlual um gmp() étnico se tliverte rì cletrimento tle seu ohjeto de solitlarieclatle clo Terceiro Mun-
1rrírlrria r:usta. Sc/rool Daze (f 9BB), rÌe Spike Lee. tambérn rlo- os lralestinos.en Honna K. (l983). os intlianos em
aplica estereótipos para seus próprios propósitos. subver- Passogent pere e Inclia (Passage to Incliu.,1984), os afro-
tenclo as r:onotações segregacionistas tlo musical nesro de arnericarros em Mi.ssrissipl; i em clurntas (Mississiplti Br.l,l,'níng).

79
.t Ììicâragiienses em Sob fogo cruzado (Un.der Fire), os meclievais pré-perspectivas, por exemplo, o tamanho era
irrdiarros em Cidade da espera.nça (City of Joy, 1990). Os correlacionado ao sÍc.Íu.s: os nobres eram grandes, os caln-
l)eÌ'soÌlagens dn Terceiro Mundo têm uma função subsidiária poneses pequenos. O cinema traduz essas correlações de
ÌÌesses filmes, apesar de sua angustiante situação ser o foco poder social em registros de primeiro plano e plano de
tenrático. O liberalismo da míclia, em resumo, nâo permite funclo, discurso e silêncio. Para falar da "imagem" de um
,1rte t'omunidades subalternas tenham um papel proeminente grupo social, nós devemos fazer perguntas precisas sobre
e autodetenninador, uma recusa homóloga ao clesgosto imagens. Quanto espaço os representantes desses grupos
liìreral pela auto-afirmação não-mecliada no campo da ocuparn na tela? São vistos em close ou somente em tomadâs
1,,rlítica. Em Cidade da esperança, o que é retratado corno a tlistância? Com que fretliiência aparecem e por quânto
a terrível miséria em Calcutá - u'um objeto inesgotável tla tempo? São personagens ativos, atraentes ou suportes cleco-
taridade cristã" nas palavras de Chidananda das Gupta - rativos? A técnica cinernatográfica nos faz nos identificar
trli'Ìla-se a cena do sacrifício pessoal de Patrick Swayze.'ri mais com um olhar do que com outro? Quais olhares são
L) "outro" se torna um trampolim para a redenção. recíprocos ou ignoratlos? Como o posicionamento dos perso-
-{lguns filmes liberais praticam um desvio ligeiramente nagens transmite distância social ou diferenças tle stant.s?
rnais crítico ern relação a esta técnica do Bildungsroìnan'. Quern é frente e centro? Como a linguagem corporal, a
Corução de trouão (Thunderheu.rt,I99l), uma versão fictícia postura e a expressão facial rromunicam hierarquias sociais,
rla luta dos Oglala-Sioux contra a repressão tlo FBI na década arrogância, servilidacle, ressentimento, orgulho? Qual co-
tle Ì970, é focalizado por meio de urn personagem híbrido, cujo mtrnidade é sentimentalizada? Há uma segregação estética
senso de identidade se transforma radicalmente durante o por meio da qual um grupo é canonizado e o outro vila-
fihne. O agente do FBI (Val nizado? As sutis hierarquias
Kihner), na reserva indígena g são transportadas pela tem-
para investigar um assâs- : poraliclade e subjetivação?
sinato, nega de início o lado i Quais homologias informam
índio cle sua identidade - ele a representação artística e
teÌÌr unl avô Siorrx - e depois se étnic a/polític a?
torÌra urn guerreiro em nome Uma análise crítica deve
dos índios. Paralelamente à também estar atenta às con-
descoberta tla itlentidade clos tradições entre os diferentes
assassinos ocorre a descoberta registros. Para Ed Guerrero,
de sua própria identidade su- Febre da selua (Jungle Feuer,
primida. O espectador acos- 199 Ì) retoricamente condena
uues-
tunado a convenções de pon- o aÌnor inter-racial, rnas
to de vista liberal fica surpreso palha a febre" por torn/r-lo
ao descobrir que'oas normas cinematograficamente atra-
ilo texto" evoluem drama- ente em termos de iluminação
ticamente durante o filme. O e míse-en- s cène. :ra Perspecti-
agente do FBI em Coroção vas éticas/étnicas são trans-
tle trouã.o sofre de forma pre- mititlas não apenas através
sumível uma mudança fun- do personagem e do enredo
damental de orientação. Afe- mas também por meio do som
tado pelo que aprende na re-
Atores argelinos não-proÍissionais representam a si e da música. Como um meio
mesmos e in loco em A batalha de Argel, de Gillo
serva" iluminado por suas vi- Pontecorvo, 1966. audiovisual multifacetado, o
sões, ele transforma sua fide- cinema manipula não somen-
lidade cultural/politica, trazendo o espectador consigo.ss te o ponto tle vista como também o que Michel Chion chama
d.e point-d'écoute .3s Em filmes de aventuras coloniais. escu-
tamos o ambiente e os "nativos" como se por meio dos
MedisÍóes Cuhurois ouvidos dos colonizadores. Quando nós como espectadores
acompanhamos os olhares dos colonizadores sobre a paisa-
gem tle onde emergem os sons dos tambores nativos, esses
e GnemotogrúÍicqs sons são geralmente apresentados como libidinosos ou
ameaçadores. Em muitos filmes de Hollywood, a multiplici-
Privilegiar o retrato sociaÌ, o enredo e o personagem dade de ritmos africanos se tornam significantes auráticos da
geralmente conduz à desconsideração das dimensões espe- selvageria reinante, uma abreviação acústica cla paranóia
cialmente cinematográficas dos filmes; freqüentemente as racial expressa na frase "os nativos estão inquietos". O que é
análises poderiam ter sido de romances ou peças. flma visto dentro clas culturas nativo-americanas. africanas e árabes
análise abrangente deve prestar atenção às "mediações": como expressões espirituais e musicais se tornâ no faroeste ou
estrutura narrativa, convenções do gênero, estilo cinema- em um filme de aventura um índice estenográfico de perigo,
tográfico. Um discurso eurocêntrico em um filme pode vir motivo tle medo e aversão. EmAo rufar dos ta,mbores (Drums
não somente por meio de personagens e enredo, mas pela along the Mohauk., 1939), os tambores dos índios "maus" são
oobons"
iluminação, enquadrame nro, míse -en-scèn e o música. Algu- contrastaclos pelos tambores marciais dos euroameri-
mas questões básicas da mediação tem a ver com os rapports canos que evocam a lei benfeitora e a ordem patriarcal dos
de forceso o balanço do poder por assim dizer, entre o cristãos brancos. Filmes colonialistas associam o colonizado a
primeiro plano e o plano de fundo. Nas artes visuais, o gritos histéricos, urros não-articulados, o ganido das criaturas
espaço foi disposto tradicionalmente para expressar o animalescas; os próprios sons posicionam as bestas e os nativos
dinamismo da autoridade e do prestígio. Nas pinturas no mesmo nível, não apenas vizinhos mas espécies-irnãs.

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I'egula as nossas simpatias,
ex*ai _lTïïËïij;;;; i;-"..ïJ"ï;:**l*l"t ;:l;:;,
""..,.ìag.i;;;;;;;;: ;i;,""
tâ nossasglândulas'r"lt"ut'o"o';;Ì.;."I'ib""u;";.;.
rnedos' em conjunção^c,om
i-"!"-"" a"."tu..";-.up;;;"-
rrrarores propósitos do filme' " a serviço dos ,"-.1,?, difíeeis,i"ì"oìo-i", como vítimas anônimas rÌos
A favãr de guem esse pro- sem nenhumaïspe"i'i.ação
'.u"iuÌ pu.r;;;;;;;.rã.- A seqüêr"ã'-"i.,marcanre,
:Ïiï':iiiti'..9ïffi ;Jïil;:"":ïïïjïijli,1;":ïï
a música d, novo_rerrataáo? Em
esra.
'lïïu nà"'",,"s"- ï;;;;ição do',.-,,,,i"uiìoio Ì,egro,,,
rta Africa' tais como-8"'" ioi' rirmes p"..,aol ;',ï:;,;;:.r::ï;J;:l:;;ïx;ï;r:i.ï,ï.;*Í;;;
cn'Ì985) Ashanti (tg.g),.
e ";';';;'pri "yÃiril iri"l"., para assisrir a um_de.senho,rri-"âo.
trtt'a ettropéia nos cliz ".".rrr""i"ii -,i.t"" ,ií14_ i.Jaiça.,a" Aqui, na
nr"ruro f nru"ürL, t929), a
Que seu "eo.uçáo"
",oo"ionul-"ii; ,.oï,rr,,rara" 'i_ï."",oinà
íìiia Nls., iï"ìì"-,"a"
:ïf:i"r::"ü ?';;!:::""" "aã' i"'s; "i'" gr,"
clzanteconStantement€empres-_sentação"o',,".'"ii,,"l,;;;;;;-
ãip."..i,,u ."rigï,.iã"i". u,. oeomo a
"',u,.ur,," cena cle
r'me comprica a repre_

',W
ta dignidad" ao lado uuurdrrco
do bànco
rnerc.enário.
ÌÌrÂr.-^-i--:, - .rì
AI triÌha musicaÌ
Ë "r, po_. desagregar o gênero;
t.";#ï,:;'"1-ïi:;;.*;l;:::
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-r."irl e heróica ;7 , s"i,lo
"u"iâ;.;;;;;';;:?:::
devemo.s nos iclen- , -{ ."õ,,*" t:,aracterizad..;"1";;;;::;t;
:iï":illt^^T.
lïii*'ï;i*iïii:'i"4:#j -
l,ï1ïïïïr*'".ì#:ïïï
lb
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' iarla no filme ao n
ìnterpretado por Richard Har_

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ri.. "abençoa,, musicalmente sua -\B\
ÌÌÌírÌ'te com um trágico louvor.

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"s qf Vontan (1985),
Ì9írfte Opagadordt
ftrrtffij/r
1962)- utilizam_se dr
r,ÌìÌ talnbores de um mr

L/-+l
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nra os valor.es culturai
t) filnre francês preto e

':ores (!{oir et blanc e


i9ï6)empregaamúsica.";;];;:ffr.....,Ftresentaçãoétnica/racialeco-
ì9lÁ i -*.-,.^-^ - uDre a re_
rÌtente ao ÌÌlostrar os africanos
1..,,:-^ -r
co- ---ry loniaÌ
""'^iJir-ì"ïlroo
..

i'ti;;=1;::""-,ïi.:'ff i:ì:::: r=,r"rto€ncarna o asente co,onia, ;íi*;l].:,**:.11"#J*Ïï


:tl:il;:"il:i;:xltr;ï:m; i::?:t""i,:ï
eÌÌtoâÌrÌ: "Meu mestre
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tÌret tem pés malcheirosãsl...l,,Filmes
.aììos e da cliásporas"-b"t"' õil;;Ë;y", ",'i de ..estereótipos e or.rr"Jiãl;,,ïrlïul"ï t*íïJJj[::
de_dire-tores afri_
"o-o ti-u,
não somente
"or"" piu,,Jrrìiii"a" sociaÌ e-exatidão mimérica,
rtsarrr rnúsica africana
como tarnbém
a celebram. ot*n
't'Í-Dust (1990)'deJuÌieo"trt'"tiii""ïl,u*lo"rir"","'
"rr, ;;ï." i-ug"rr'.;;;;;t"";-" positivas, são freqüentemente
tl.".rar,;,r;;;ìtd;ïàro"estritaà"stéiiËadaveros_
ili;ï'ï#;ïi'::'ïïï"'ffiï:iÏi::ïxiïÏïïrï#
1r,rr.a clo povo Gullah. ìï'.'H"ïrJ.*l*ï:ï.,,::ï#;::.p:::*J:J;,Tij::
,,''ïïï: ïj:.ã;i::::,2:,"ï::1":iï;;!ï,:iï:F::;:f;,
àiïã*:Ë5fïi:.iË*ï.'*,ii:lm:x":ïJ
l,ï1il',,;":n','"ï::ï:-,ï#ïx;ï"ï.ï:"fr1."",ï:ffff;
rïi":"ïLïïa:{ïrïj.:+:iq.",ï"'ïï."-::ïfl.ïÍ,,
il:;ï'".ïï;:,ïï'""ïËï::ï;ì"ï:i'"'rT:.+!ïi1""'.ï
iffïjï":o, críticos ;:,ll;:i":;.:"l"lrt*:;;X-
;"'-::'Ïïi:ru::,)npïrnílïiï*Íili:,'"ffi
Ì'alhâço; seu rosto está .e fo"-u .eaì"r pirir"a. l**:ï:iff;ïï:.1ï"J".,ï;""ï::;;:"."ó,ip.s
".i tridimensioirui. ..."dorrao.,,
"o,.'
;;; ;;;;*"".
aJ,r,"rt:: hï
BI
-t.;ti, a reali.ta-tlralnátit'a. Datla a trarliqão histórica Ambos os países oferecem a figura cltl escravo nollre e
i',, in*rnrr rle retratação ttnitlirnensional, a procura l)or tlevotacl<r: iros Estaclos Unidos o'ufJncle Tont" , no Brasil
Ì-È l' Ì'c-r'Ììt iìí,.õe. ntais
tr "Pai João". Arnltos
tambéÌn oferecern a
','ìÌìÌrÌÍ'\a: t' reaìistas
.,,'rrtl'lrtalrleÌÌte ('olÌÌ- contraparte ferninina :
nos Estados Unidos a
Ì'Ì'r'r'Ìl-í\ el. tnas nã<r
tn crtttttty'", no Brasil
È o"
,l.r,.r-ia inrperlir al-
i,-Ì'Ìrdtir.tt. trtais er- a "mãe ltreta", am-
lras prodtttos da es-
I,Pt'iìììrÌÌtais e anti- cravidão nas grandes
ìltr-iorri:tas. Retratos
r','ali-t a s "Iositivos" plantações, erÌì (ltle
niì,, -iì. o únit'o rneio as criançâs do se-
nhor/tnestre eranl a-
'l- ìtttirl'r'íìÌltl'A () l'â- maìnentadas llo peito
,.i-tÌtrr 0Ìt tlr. ettcot'a-
jel urna Ì)ersl)ectiva tla escrava negra. Corn
orrtr.os estereótiPos.
ìiì'eratriria. Dentro
,lI lìÌÌìiÌ estí'li(.a lrrech- entretant0, as analo-
gias interculturais se
tianir. prtr erernplo.
lornaln mais comlrli-
'..tPreril ipos ttão-ra- ('adas. -{lguns I)erso-
riili: lr{r(leltt sel'vir lìa-
rìagens ent filmes lrl'a-
r':r s"ttcraìiza r' ,r sig-
Itii i,'ittlo e rlesttrisli- sileiros (Tônio em
Buhia de totlos os sart-
Ii, ar o l,,rrlct'estalre-
l,'r'irlo. it() rÌtestÌlí) tetn- tos,Ì960; Jorge em
Contposso de esperu.
llr (llle rìs llel's(,llag(-Iìs l97lì) num primeiro
ÌìuÌìca são purarnente
g,,'.ilir ()s {)rr tì('gati-
,rlhat lernhram a fi-
\ o\ lÌÌil\ sitrt tlS lrOtl-
grrla do "rnrrlalo trá-
gico" comttrÌt rÌtl cine-
tos rIe ('ontra(lição.
ma e literattrra lìtl1'te-
Palrirlia rlo lipo leo-
tizatla ptrr BakhtiÌl , americanos" mas no
.i rnilalnretrte " í'avo- cí)lìtexto é radit'al-
Ìnente diferente.lEm
rr.r'e intagetrs rIecirli-
prrmerro lllgar. o es-
rlarnente negativas e
até gr()tes(:as l)ara l)cclto lacial brasi-
tlansntitit' ttttta lrro-
n! leiro não é binário
(preto ou branco) mas
frrtrrlit lr'ítita às es-
tÌ'ullu'as sociais' Oca-
sofre nuanças entre
sionalmenle" os cr'í- uma alrt;,la varierIa-
de de termos raciais
ticos aplicararn de for'-
rrra t'rrôtrea tttn t'ri-
descritivos. Apesar
reirh.jFrçw de a cor variar am-
tério apropriatlo a tttn O esiílò de representação excessivo peÍmitiu que etrizes como plamente nos tlois Paí-
gênero ou estética a Carmem Miranda supeÍassem papéis esteÍeotipadost mas nao lhes ses. a construção so-
outro. A procura ltor deu muito podeÍ.
irnagens positivâs ern
cial cle raça e coi é
distinta, âì)esar de o fato da corrente "latinização" cla
1r.ug.utto, como lrt I'iuín.g Color. por erenrplo. seria cnltura alneticana acetlar para unì tipo de convergência'
inal conduzicla. pois tal prograrna l)erteì1ce ao gênero
c'arnavalesco favorecenclo uur rÌralu gosto anárrluico e um Em seguntlo lugar. o Brasil, en(luânto de rnuitos moclos
exaget:o t,alcularìo. assim como na paródia de ffest SirJe u1r.".riro,, âos rtegt:os, llurÌca foi uma sociedacle rigi-
SÍor,y. na tlual a mulher ÌregrÍÌ caÌlta pat:a seu aÌneìnte tlìrnentt' segregacionista; portanto nenhuma figura
jntlen ortodoxo: "Metrahern. Menahem, I just met Q ttl.att t:orresllonde exataÌÌrente ao "mulato trágico" norte-
,rrrrretl Menoh,ent' - eu, acubo cl'e encontrur unt hontern arrrericãn,r. dividielo de forma estluizofrênica entre dois
chttntado Menahern." (O programa obviamente é aberto mundos sot,iais radicalnlente separarÌos. A idéia de
a orÌtras forrnas tle crítica. ) Filmes satíricos e parridias 'opassar por lrranco" tão crucial para os filmes ame-
ti.tnn. t,.rnt,, O que u cúrne herdo e lmitação da l)ída Ïeve
llodem ser ilìel1os preocupatlos eÌn coÌÌstruir imagens pouca ressonânt'ia no Brasil. ontle se tliz fretliientemente
lrositivas tlo tlue ern desafiar as exl)eclativas estereo- tlue todos os brasileiros têm "nm pé na cozinha"; em
iípi"n. (lìre nrÌì pírblico possa lhe tÌ'azer' A tluestão'
rr"ra", casos. nãO retlai sollre o valor tla irnagern tilas sittt ,iutras pal:rvlas. totlos têm urn ancestral negro ern algurn
solrle inrpttlso rla sátira. l,,gu. ,to família. Esse ponto é comicamente clemonstrado
A abortlagem centt'atÌa na análise tle esteretitipos' ern ,ro filrtt" Ten.clu dos núIngres (19?7), quando Pedro Ar-
srra ansietla,l" aplicar uma gracle u príori, geral-
"-
canjo revela.".. u,lu"..ár'io racista Nilo Argilo, o
ÌÌìente ignora
"rr',
(Íuestões tle especificitlacle cultural' Os c.ítico fanático tla "miscigenação"" Por ser ele prírprio
ester:eótipos aÌ.rr rt"gaar. norte-arnericaÌÌos, por exeInp|o' parte negro.'. A figura tlo rnulato pocle ser vistâ corno
eÌn tllll
são apenas erÌr PaÌ-te congruerìtes <torn atltreles tle outras ire.igosa apenas nttrn sistetna de apartheíd e não
so.,ieãa.les rnulìirrac'iais tlo Novo Mundo (ÌoÌÌro o Br:asil' .irt"rrto dóminado Por urÌra icleologia integracionista
B2
oficial. embora hipírt.rita. conìo Ìro Br.asil. No Brasil, a verÌìos os ricos tlevorando os pobres, e os pobres devo-
figura do rnulato fieou rodeatla por um conjunto dife- rando-se lÌns aos outros. A esquerda, ao mesÌno tempo,
rente (le r:onotações prejutliciais, tais como a de tlue o ao ser clevorada pela direita, se purifica ao se auto-
rnulato é pernóstico ou pr.etencioso. Por outro latlo. esta colner, utna prática tlue o tÌiretor chama de "canibalisrno
<'onstelação de associações não é inteirameÌìte ausente tlos fracos". '';
rros Estarlos Unidos; Nascimento tle utno nação" de Darla a estética rabelaisian a de Macunoírna, não
(]r'iffith. 1.ror exemplo. repetitlantente aponta mulatos seria atlerluado ;rrocurar-se o'irnagens positivas", ou até
como ambiciosos e perii;osos l)ara o sisterna. rnesrrÌo um realismo convencional. Virtualmente. todos
O filrne lrrasileiro Macunaíntu (1969). tle Joaquim os Ì)ersoÌtagens do filme são bitlimensionais e grotescos
Perlro rle Anclr]arle, ilustra algurnas das armadilhas tanto ao invés tle personagens tridimensionais redondos. e o
rle uma bust a rnaldirecionada pnr "imagens positivas" grostcs('o é democraticamellte distribuíclo entre todas as
(luanto de urtra leitura t:uÌturalmente rnal inforrnatÌa. raças. enrluarÌto os l)ersonagens mâis maliciosarnente
t rna atÌ.aptação e atualizaqão tla novela rnotlernista cle gÌotescos são o canibal industrial e sua asquerosa es-
IÌìesÌÌro n<rnre tle Mário de Antlratle (1928). Macunáíntcr lrrrsa, ítalo-brasileiros. O caso tle Macu,naírna fornece
trarrsform;r o estereótipo negativo extrenìo - o'ijani- urn objeto rle estudo na rliferenciação cultural da ex-
lralismo - enl urÌÌ recrlrso artístit:o positivo. Mest.lanrlo lleriência social rlo cinerna. No Brasil, uma série cle
o rlis<'urso rlo movirnento antroltofágico tlo r:ornpanheiro fatores militam corÌtra a leitura de um fihne como ra-
trtorlt'rnista Oswaltl tle Andrade conr o terna tlo cani- t:ista. Ern l)rimeiÌ'o Iugnr" brasileiros de todas as raças
ìralismo (lue l)er(,orre todo c) rolÌìaÌrce, o tliretor o tendt'rn a ver Macunaíma como r.epresentantlo uma paró-
tlansforma eÌlt rÌrn veículo para a crítica tanto da dia tÌa sua "peLsonalitlacle nacional" ao invés de uÌn
olrressão rnilitar (luarÌto rÌo modelo capitalista qrre- oooutro" racial.
ven(lo taÌrto o Macunaíma negro e bran-
rlatririo rl<l curto "milagre econôrnico" brasileiro. O (ìo colno um nacional no Ìugar rle um arrluétipo racial.
tr'ura r.lo t,anillalismo é tratado em todas as suas vari- Ern segunt{o lugar, os brasileiros tenderian a ser coÌrs-
ações: l)essoa!ì tão farnintas (lue se autodevorarÌr; llln t:ientes clo sÍaÍls do romance tle clássico nacionaÌ (nunca
()gÌ'o (lue oferer,e a Macunaíma um pedaço {le sua acttsarlo de ser racista poÌì urn brasileiro mestiço). Em
Ì)erna;
a guelrilha urbana que o clevora sexualmente; o gigante- terceiro lugar. brasileiros são rnenos proJ)eÌ1sos a
,'anibal-t:aPitalista Pietro Pietra cotn sua sopa an- alegorizar seus prí)prios filmes racialmente. Posto que
troIofágica; a mulher do capitalista (Íue rleseja coltÌê- tocla a (Juestão rla retratação racial é de certo modo
lo vil'o: e finalmente a sereia cornedora rle homens tlue nÌeÌÌos "'tensa" no Brasil - urn fato ambíguo em si pró-
() atrai prio - os filmes não são feitos para suportar o forte
t, para a 'oônus da representação". Em <luarto lugar, os espec-
slla n10r- tatlores ììorte-aÌnericanos são rnenos pr-opensos a esta-
te. Nós rem cientes das associações tlue cercaÌn a figura tle
Grande Otelo para os

Hi ' .F.
brasileiros. qlle pro-
vavelmente verão
seu papel nesse fil-
ríL nìe como apenas
mais urn papel
em urna car-
reira super-
versátil , não
emblerná-
tico da
negritu-
tle. (Ao
TÌìESÌÌ1O
tempo, a
tenclên-
cia nas dé-
catlas de
t940 e 1950
de elencar
Gran-

I
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h-.ì? ._ ala,-r. *ry

Nos anos 4O e 5O a tendêncaa de chamar Grande Otelo para papéis comicamente assexuados reflete uma Íuga
dos retratos de personagens negÍos maduros
o0
ÕJ
de Otelo em papéis conticamente assexuatlos refletia u- rneslÌlo telÌrpo, a metáf ora tla "f amília"' multirracial
ma fuga rle retratos tle pelsonagens rÌegr()s matÌuros.) lrrasileira, ('olllnrìÌ ao rorÌlance e ao fihne, não deve ser
Enr quinto lugar, tl mal-entenclido tambérÌl veÌÌl de uma vista cottto inteiramente inot'ente; primeiro PorqtÌe a
tliferença entre a represeutação cinematográfica fílmi<ta ideologia uacioual da uristura racial atenuou as hie-
e literária, erìtre sugestivitlatle verbal e especificidatìe rarquias raciais, e enr segundo Ìugar porque a lììetáfora
clos ícones, No rornance, Macunaíma é transformaclo ern relegou historicarnente os negros brasileiros âo sÍatrrs
um "litrdo príncipe"; não há nenhurna especificidade tle "primos pobres" ou "crianças adotarìas". Entretanto
racial. O fihne. em contraste. tleve escolher atores para essa crítica só tleve ser feita após se enteuder o filme
interpretar papéis, e atores têm características raciais. dentro rÌas rtormas culturais brasileiras, e não conto it
Logo a evot:ação fabular do "príncipe lincìo" ahre cami- aplicação de um es(Juerna a príorí.
nho para â presellça física tlo ator eurobrasileirtl Paul<r
José, escolhiclo mais Por seus talentos interpretativos
do rlue por sua branttura. mas r:oltcluzindo etl-t outroÈ
r,oniextos à urna leitura rat:ial equivocada. O rliretoi'
rleve ser acnsatlo, portanto. não tanto (le r-a('isÌìÌt' rnas Tradução de Cecília Antakly de Mello
de insensibilidade; em primeiro lugar, poÌ aìiarente- Robert Stam é professor de estudos cinematográficos na NewYork
rneÌrte estalteÌet:er ttma ligação entre nep;ritutle/feiura University e autor de O espetóculo interrompìdo - literotura e cìnemo
desmistificoção.
(uma ligação coÌÌl ressonâncias históricas/intertextuais
nuito tlolorosas), e ettr segundo lugar, por não imaginar Ella Shohat ê professora de estudos da mulher e estudos culturais na

as leituras tle seu fihnt: ern (:ontextos não-brasileiros. A<r City University of NewYork - Graduate Center.

NOTAS
Ll/er lVard Churthill, F antasies oí the Mastt'r Rat:e: Literature. 22. Ver.Duuid R. Roediger, The Wages of Whitent'ss: Race and the
Cirrtnra arttl tlrt'(ìolonization of Ant'rit'an Irrrlians (Monroe, Muitte: Making of tlre Àmerican Working Class' Lonrlon, Verso, 1991,
Contnton Cournge I'ress, 1992, p. 273. pp.
'23. BB-9.
2. Ibid., p. 238. Herntt rt Grol', "l'elerision rutd tfte Ner Bluck Mun: Bluck Male
lJ- Puru rinu trnúIise (omPlctu rle Dança t'om lobos do pottto de t'isÍc I nttt ge s in P rinle-7'inte Sit urLt iort Contedv"' Metlia' Cttlturt' antl
rttttit,o" t,er ensai.o de Edu,urd Custillo ern F'ilnl Quartt'rlv' tol' -tr|. Societv. n" B, 1986, p. 239.
rt" -l- Suntnrer l99l. 2.1. Ver Sut JIutIIy uicl Justitt Lert'is, EnlightenetI Rat'ism: The Cosby
'1. Ver Christirtn Metz, "'l'he lnutgittttry Signi.fier", em 'fhe Imagilart' Show. Autlien"ei utrtl the Mvth of the ,{.rri..rit'an l)rearrl ' Boulder,
Sigrrifirr: Psvcho-antrlvsis anrl the (linetna. Iìl oomingt ort : I ndianu Colo." West.tier Press, 1992, p. 1:)7,
Urrit,ersiÍJ' Press. 1982. 25. Pttru untu crítictt du linguu6;ent eu.rocêntrictt enr relução às
5. Gíriu de curáter pejorutit,o PQrQ negros. (N.7'.) religiões ufricuntrs, uer John S. Mbiti, African Religious antl
6. .ltunes C. Scort. l)onrination ant[ the Arts of Rtsistant't': llitltlem Plrilosolrhy. Oxford, ITeinemurtn, 1969.
'franscrilrts, NeIt'Hrtlt'rt, Conn., \'ale L/niuersitv I'ress, 1()90, p' iì1' 26. Verìtrntbém'tt brilhunte onáIise tle AlJi'etlo Bosi soóre o confronto
7. Donuld Rogle" ?otns. Coons, Mulattttes. Mammies antl Iìttcks, Nett' ?ntre o cotolit'isrrro e u relip;ião tupi-guurani nc o-ua I)ialétit'a rltr
York. Continunnt. 1989, p. 36. trrlrrrrizaqlto, São Puulo, Contpunhiu tlus I'etrus' 1992.
B. Círia (le caráter peiorutito ltara mexirtrrtos' que signi.[ìca 27. lrara retretos positiros dtts religíões ufrituners, det'enros Pro(urur
pegajoso. (N.T'.) .filntes afrit'trrros (À rleusa tegra, 1979), órnsi/eiros (Â força ('oDro
tle Xangô.
'fhe
9.-l'ir Árthu.r G. Pettít., ftnages of the Mexit'arr Àmerican itr Fiction 1977) ; cttbonos (Pataliin, 1980), e documentários Íüis
irrrrl l'ilrrr, College SrrrÍion. T'exus A and M UnìuersiÍ.y Pres.s" 198(/' t)rixa Trarlitir>t. de Angelu F-ontunez, Honoling the Àncestors" r/e
P.21. LiI I-enn,'fhe Divine IIãrseru:rn, de llTavu l)eren e Oggun de Gloria
I0. "pegajoso.s", "ntesÍiços", "pretos". ( N.T. ) Rolundo ( 1991 ).
11. Jlttütti Willittntsort explora unt pottto sentelhante enr sett ertscitr 28. .1 decisão do Suprento.Tribunul tle 199)ì, permititttlo sacrifícios
rrn Sereerr, rol. 29, n" 1, l9BB. pp. 106-112. de unìntuis iados rì SnnÍerio. .foi nesse senÍir1o utìt tìtQt'co ttQ
n.s.sot
12. Ver Michuel Rogitr, "Blackface, White Noise:'l'he Je'rcish Ju=z u.firnutçã o tlos dire.itos religiosos.
Singer finrls his Voice". Critical Iurluirv. t'ol.18, n" 3- 1992' 29. Tolni Morrisort (ed./, Race-ing Jnsticr, FJn-gentlering Power:
pp..I17-1J. l-sstrys on Ânita Hill. Claronce Thomas. antl the (ìonstrnction of
'|i. Srrcial Realit,v, Àen YorÀ'; Puntheon, 1992' p. xt'.
Michael [)enrpsey ond IJrluyott Guptu, "Hollyu'ootl"s (]olor
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IÌloontirtgtort : lntlianu U nit,ersity P ress, l()91' P ress - 1980.
17. Relitutlo ern Vrye WeekLlod ,17 rle nouemhro tle 1989' citudo il2. Ver C,hidnnnndu dus Ouptu, "The Politics of Portrurol",
em Keyan Tontttsel|i, "Myths, Rncism and Opporturtisnt: Filnt antl Cinernaya, n"" 17-II" AutrnnnlW'inter I992-I993.
'fV Ripresentations of the San", em Peter 1nu (,:au'J'ord e Dat'id^ 33. Antonio Prieto-stunbaugh uponto unt típo de hontologiu e4tre
Turtoi (erls.), l'ilm irs Ethnographv. McncÀester, Unit'ersitl' o.f o protegottista que se solidurízu corÌt os Siorrl mds que no Jinyl
Munchester Press, 1992, p. 213. ,leixu u r"""rr'rr, e o cineustu Michael Aptetl e o roteiristu Johrt
lB. Os nrrisicos órasileiros brancos tlue trobolhurorn ern Orfeu rìtr Fusco, tlue se soliiorizurunt cottt o.s Siotrx e ' ,to coso de Fusco "
carnaval tumbéntforunt explorudos. O protlutor francês Sachu uté ntorttrtun nu reseruo, ,nus que por.fint retornurunt à fonta e t\
Gordine recr,.sorÍ canções já escritas Pur'o Q trilhu sonoro cont o J'orttttttr rlo muntlo brunt'o (trabalho estuclantil não publicudo ptrtt
ittttLito tle registror setrs direiÍos utttorais em fruttcês, cot't LLtìt LLtt ( u r so drr Ne rr' lb rÀ' U rri ue rs i r.r') .
contruto tlue Ihe duut 507o tle lucros ern rntísicas extretttn'ìteltte ' 31. Ver Ed (]uerrero. "Ferer in the Rociul Jungle", en'f Jitn Collins'
populures-, enquottto que o cottpositor e o letristu (Tom Jobint e Ililurl' Rutlner e .4ta Preucher Collins, íerls. ), I'ilm heory Goes
'Viiítius oPen(s I0Ío. Ver Rui Ca.srro, Chega t<r tlte Movies . Lonclon, Routleclge, 199J.
rle Moìuis) glaihurant
rlt saurlacle; São Puulo, Contpanhia dus Letras, 1992- .-.35. Michel Chion, Le sttn att t:irtéIna, Pari.s; Cuhiers - l9B5 '
19.Ver Clyde Taylor, "Decolonizirtg the lntuge"' etn Peter Sleuen, 136. St.u" Neule uponltt que os estereótipos são julg,udos sitnul-
íed.), Jnmp Cut: llollywood. Politics anrl Colnter Ciflenra. Toronto: I trrrr"rrrrr"rrt" ent relaçíto tt um "real" empírico (precisão) e um
Betuteen the Lines, 1985, p. 168. l " ;rt""l" ideológíc o ( intogent -posit iu-u ). Ver N e-uIe he Sante Okl
'. Story; StereoÍ,r'pes und Difference", Screen Etlucatiou, "'T rI"'32-iJ3'
20. fuIenciotutdo em Prisoners of Irnage: Ethnic antl Gentlt'r' Stereo-
t ut urnnl W in t e r I 97 9 -80.
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il^- Criorrçrt pcquene, especialntente unr bebê negro. (N.'l'.1 37. Ver Johnsort e Stanl, Brazilian Cinema. pp. 82-3'

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