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A epistemologia a serviço da ética:

A crítica de Hume ao livre-arbítrio

Silvio Seno Chibeni


Departamento de Filosofia, Unicamp
www.unicamp.br/~chibeni
Livre-arbítrio: noção popular

Chibeni - Hume free will - 2017 2


O termo ‘livre-arbítrio’
Livre-arbítrio (Libre albedrío – Libre arbitre – Libero arbitrio)

arbítrio: 1. Decisão que depende só da vontade;
2. Julgamento

Free will (Willensfreiheit)
will: a faculty by which a person decides on or
initiates action

•  vontade =? desejo à paixão (dimensão passiva)


•  julgamento =? avaliação intelectual (cognição)
•  will à volição, querer (dimensão ativa)

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O que se afirma ser livre?
1.  O agente é livre
–  i.e. pode agir conforme queira Liberdade A
(ausência de impedimentos à sua ação)
“liberdade de espontaneidade”
2.  A vontade do agente é livre
–  i.e. nada impede ou determina o seu querer, sua
vontade (free will = livre querer) Liberdade w
“liberdade de indiferença”

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Duas noções frequentemente
confundidas
Exemplo: Descartes
•  Meditação IV: “a vontade ou liberdade do livre
(franc) arbítrio … consiste unicamente em que
podemos fazer uma ... coisa ou não fazê-la...
de tal modo que não sentimos nenhuma força
externa que a isso nos constrinja”.
•  Paixões da Alma, XLI: “a vontade é, por sua
própria natureza, de tal modo livre que não pode
jamais ser constrangida. Ela está, de forma
absoluta, sob o poder da alma.”

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Relações com a ética
Relação clássica:

imputabilidade moral à liberdade…


ou
~ liberdade… à ~ imputabilidade moral

A liberdade… deve ser assegurada para que seja
possível a imputabilidade moral …
… o mérito, a autonomia, o auto-controle, a dignidade,
a criatividade humanas.

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Ameaças à liberdade
(e portanto à imputabilidade moral)

•  Ameaças à liberdadeA :
forças externas, coerção, desabilidades, etc.
•  Ameaças à liberdadeW :
O que pode tolher nossa vontade (querer)?
–  A vontade parece inexpugnável.
–  Temos percepção íncma e ineludível de
sua liberdade.

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Determinismo: ameaça à liberdadeW ?
Uma visão “externa”, objecva, teórica do ser
humano e do mundo pode levar ao determinismo:
O mundo / o homem está completa e
inexoravelmente determinado por algum fator:
1.  dsico
2.  biológico
3.  psicológico
4.  comportamental
5.  social
6.  histórico
7.  lógico
8.  teológico
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“O problema do livre-arbítrio”
1.  Há determinismo? (de que cpo?)

2.  O determinismo é compaKvel com o livre-


arbítrio (liberdadeW) e/ou com a moral?
(“compacbilismo” x “incompacbilismo”)
3.  O indeterminismo é compaKvel com o livre-
arbítrio e/ou com a moral?

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O debate sobre o livre-arbítrio
•  Interessou a quase todo grande filósofo
•  Múlcplas noções de liberdade
•  Múlcplas noções de determinismo
•  Múlcplos sistemas éccos …
Consequência: O debate sobre o determinismo e livre-arbítrio
tornou-se imensamente abrangente, complexo e, muitas vezes,
confuso! E.g. …
Hume: proposta simples e clara, que procura evitar
presuposições indecidíveis ou de fundamento incerto
(metadsicas, teológicas, ciennficas, etc.).
Estudo empírico da “natureza humana” – “Ciência do Homem”

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David Hume (1711-76)
•  Tratado da Natureza Humana
(1739-40)
–  Livro 1. Do entendimento
–  Livro 2. Das paixões
•  Parte III, seções 1 e 2: “Da liberdade e
necessidade”
–  Livro 3. Da moral
•  Inves2gação sobre o Entendimento
Humano (1748)
–  Seção 8: “Da liberdade e necessidade”
•  Inves2gação sobre os Princípios da
Moral (1751)
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Teses humeanas
1.  O mundo Tsico é totalmente determinado
2.  A vontade (will) é totalmente determinada
Isto é: Não existe free will (liberdade W)
3.  Pode haver liberdade de ação (liberdade A)
4.  A liberdadeA é suficiente para garanYr a
imputabilidade moral genuína
5.  Imputabilidade moral à ~ liberdade W
(ou: Liberdade W à ~imputabilidade moral)

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Tese 1: Existe derterminismo físico

Chibeni, S.S. “Hume e as bases ciennficas da


tese humeana de que não há acaso no
mundo. Principia 16(2): 229, 2012.

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Noção humeana de causalidade
1.  ConYguidade no espaço e
no tempo Relações observadas em objetos
individuais
2.  Prioridade temporal das
causas

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Noção humeana de causalidade
1.  ConYguidade no espaço e
no tempo Relações observadas em objetos
individuais
2.  Prioridade temporal das
causas

3.  “Conexão necessária” Não observável nos objetos

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Noção humeana de causalidade
1.  ConYguidade no espaço e
no tempo Relações observadas em objetos
individuais
2.  Prioridade temporal das
causas

3.  “Conexão necessária” Não observável nos objetos

Observada em uma mulYplicidade


4.  Conjunção constante de objetos semelhantes

“Face empírica” da relação causal: a conjunção


constante, ou regular, dos objetos ou eventos
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“Máxima” da causalidade:
“whatever begins to exist must have a cause of its existence”

Versão humeana (empírica, não metafísica):
=E Há uma regularidade universal na Natureza

Tudo que acontece é “necessário” (i.e. está encaixado numa
cadeia causal). “Não há acaso no mundo” (i.e. eventos sem
causa)
“necessidade” X “acaso” (chance)

Argumento de Hume:
•  As irregularidades observadas na natureza são devidas à “operação
secreta de causas opostas”.
•  A filosofia natural tem Ydo sucesso em reduzir irregularidades a
regularidades, mediante a descoberta de causas “ocultas” nos objetos
•  Generalização desse sucesso
citações 1

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Determinismo - Causalidade
Determinismo: Tudo o que ocorre na natureza
está “determinado”
Determinado por que? Resposta: ...

Determinismo = “Face empírica” da máxima da
causalidade

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Algumas teses [Chibeni 2012]:

Tese A: No tempo de Hume, a melhor evidência para o


determinismo dsico era o sucesso da mecânica
newtoniana, não o seu argumento “inducvo”.

Tese B: (Aguarde as cenas do úlcmo capítulo...)

Tese C: (idem...)

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Tese 2: Existe derterminismo no
mundo “moral”
•  Ações involuntárias: causas dsicas
•  Ações voluntárias: determinadas pela vontade
(“will”)
•  A seu turno, a vontade está determinada por:
–  caráter
–  moYvos
–  circunstâncias
à Não existe livre-arbítrio
(“free will”, liberdadeW).
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Crítica de Locke ao conceito de vontade livre
•  Na medida em que um homem tenha o poder de pensar
ou não pensar, mover-se ou não se mover segundo a
preferência ou direção de sua própria mente, este homem
é livre. (E II.xxi.8)
•  A liberdade não é uma ideia pertencente à volição, ou ao
preferir, mas à pessoa que tem o poder de fazer, ou
deixar de fazer, segundo o que a mente escolha ou dirija.
(E II.xxi.10)
•  A liberdade …é um poder que um homem tem de fazer
ou deixar de fazer uma ação (E II.xxi.15)
•  Poderes pertencem apenas a agentes, e são atributos de
substâncias [não de outros poderes] (E II.xxi.16)
•  [A questão do free will] é completemente imprópria.
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Argumento de Hume para a
determinação da vontade
•  Argumento análogo ao usado para a defesa do
determinismo dsico:
–  Se conhecêssemos perfeitamente o caráter, os
moYvos e as circunstâncias de um sujeito S,
poderíamos prever com certeza o que S quer
(“wills”).
–  As decisões da vontade só nos parecem
irregulares porque não temos tal conhecimento
completo
citações 2
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Tese 3: Pode haver
liberdade de ação (liberdade A)

•  LiberdadeA = Ausência de restrições externas


(força, coerção, etc.)
•  “Por liberdade, então, só podemos significar
um poder de agir ou não agir conforme as
determinações da vontade”. (EHU 8.23)
•  “Reconhece-se universalmente que tal liberadade
hipotética pertence a qualquer um que não seja
um prisioneiro ou esteja em cadeias.” (EHU 8.23)
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Tese 4: Pode haver imputabilidade moral
•  Na ausência de coerção (isto é, havendo liberdadeA ) o que S
faça conscientemente é de sua responsabilidade. É livre para
fazê-lo ou não.
•  “… a liberdade, na definição mencionada acima,... é essencial
para a moral. ... Pois as ações só são objetos de nossos
sentimentos morais se forem indicações do caráter, das paixões
e afecções internas, sendo impossível que dêm lugar a
aprovação ou desaprovação se não vierem desses princípios,
mas inteiramente de violência externa. (EHU 8.31)
•  S faz uma ação moralmente “boa”
–  S é louvável por havê-la feito
•  S faz uma ação moralmente “má”
–  S é reprovável por havê-la feito

[Cf. Teoria moral de Hume: THN 3, EPM]
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Tese 5: Se houvesse livre-arbítrio (liberdadeW)
não haveria imputabilidade moral

Liberdade W à ~imputabilidade moral


ou
Imputabilidade moral à ~ liberdade W

•  Argumento: Se a vontade de S ao fazer A não fosse
determinada por seu caráter, seus mocvos e pelas
circunstância em que está, a decisão se daria por
“acaso”, de modo que a qualidade moral de A não
poderia incidir sobre S.

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•  S: Caráter & mocvos & circunstâncias

•  Vontade (decisão casual)

•  Ação

•  Avaliação moral da ação


citações 3

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Algumas teses [Chibeni 2012] – cont.

A.  No tempo de Hume, a melhor evidência para o


determinismo dsico era o sucesso da mecânica
newtoniana, não o seu argumento “inducvo”.
B.  A mecânica quâncca é uma teoria indeterminista
da matéria. Não prevê, nem nas condições de
conhecimento perfeito sobre um objeto, a
ocorrência de todos os fenômenos que o envolvam.
C.  Além disso, há resultados teóricos e experimentais
na microdsica que indicam que a perspeccva da
subsctuição dessa teoria por uma teoria
determinista é sombria.
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Questão: como fica então a teoria humeana?

•  Ted Honderich: micro-indeterminismo & macro-


determinismo.
•  Popper & Eccles: dualismo.
•  Outras áreas parecem apoiar o determinismo
humano (genécca, neurociências, psiquiatria,
estudos comportamentais, etc)! E.g. B. Libet
2002.
•  Suegestão: A teoria poderá ser preservada, desde
que o comportamento humano exiba ao menos
boa parte da regularidade observada por Hume.
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Sugestões de leitura
1.  Russell, P. Hume on free will. Stanford Encyclopedia of Philosophy
(SEP), 2016.
2.  O’Connor, T. Free will. SEP, 2016.
3.  Kane, R. Introduction to The Oxford Handbook of Free Will, OUP,
2015.
4.  Millikan, P. Hume’s determinism. Can. J. Phil.40(4), 2010.
5.  Strawson, P. F. Freedom and resentment. Proc. British Academy, vol.
48, OUP, 1962.
6.  Berlin, I. Two concepts of liberty. In: Four Essays on Liberty. OUP,
1969.
7.  McKenna, M. & Coates, R. Compatibilism. SEP, 2016.
8.  Clarke, R. & Capes, J. Incompatibilist theories of free will. SEP,
2017.
9.  Vihvelin, K. Arguments for incompatibilism. SEP, 2017.

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