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O Ensino de História e o Cinema:a problematização do uso da produção

cinematográfica sobre o passado na sala de aula

Jackeline de Oliveira Silva1


Lilian Marta Grisolio Mendes2

Os historiadores já recolocaram em seu legítimo lugar as fontes de origem popular,


primeiro as escritas, depois as não escritas: o folclore, as artes e as tradições
populares. Resta agora estudar o filme, associá-lo com o mundo que o produz. Qual
é a hipótese? Que o filme, imagem ou não da realidade, documento ou ficção,
intriga autêntica ou pura invenção, é História. E qual o postulado? Que aquilo que
não aconteceu (e por que não aquilo que aconteceu?), as crenças, as intenções, o
imaginário do homem, são tão História quanto a História. (Marc Ferro)

Introdução

No final do século XIX surge uma nova forma de arte no mundo que não apenas
inaugurou uma nova era, como tambémse tornou umas das mias importantes expressões
visuais da humanidade. As cenas e imagens movimentadas adentraram a vida e o imaginário
das pessoas e o mundo nunca mais foi o mesmo. Esta forma de arte, o cinema, vem sendo
tema de recorrentes discussões não só no meio acadêmico como nas mais variadas esferas
sociais.

Muito se discute sobre a origem/nascimento do cinema, mas uma parcela significativa


de estudiosos chegou à conclusão de que o ano de 1895pode ser considerado o ano da
“invenção” do cinema tendo como pioneiros os irmãos Louis Lumière e Auguste Lumière.
Foi no dia 28 de dezembro que fizeram uma demonstração de seu cinematógrafo, exibida para
um pequeno público pagante. A partir de então os filmes obtiveram uma rápida aceitação por
parte da população e em pouco tempo passou a ser a diversão de centenas de pessoas por todo
o mundo. A forma como se propagou e a rapidez são elementos que nos chama bastante
atenção. Num curto espaço de tempo diversos lugares do mundo já conheciam e abriam
espaço para a novidade. A aceitação era evidente e o espaço para o cinema crescia a cada dia,
causando certo frisson na sociedade e um misto de frenesi e curiosidade nas pessoas acerca

1
Aluna de Graduação em História da Universidade Federal de Goiás e bolsista do PIBID – UFG/CAC
2
Professora Doutora do Departamento de História e Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás –
UFG/CAC.
1
desse novo meio de propagação de imagens com movimento e nova forma de narrar
histórias.Vale pontuar que apesar da existência do debate sobre a autoria da invenção e sua
data exata, o seu nascimento ocorreu na Europa, esta ressalva é fundamental em virtude de
que nos dias atuais o cinema mais conhecido na atualidade é o hollywoodiano, e por isso cria-
se a imagem no senso comum de que é lá o berço do cinema, lá estão as maiores e melhores
produções e que só Hollywoodé capaz de fazer bons filmes. Esta fama do cinema
estadunidense não é exatamente uma verdade e só será alcançada no meio do século XX.

Em pouco tempo a demanda por produções cinematográficas cresceu absurdamente e


foram surgindo novas técnicas e formas de produção, ao mesmo compasso de tempovão
surgindo os gêneros cinematográficos conhecidos hoje como o drama, terror, ficção, comédia
entre outros. Porém, mesmo com tamanha aceitação por parte do público ao cinema este não
deixou de ser alvo de críticas sendo muitas vezes classificado como arte menor. No entanto, o
seu maior inimigo se encontrava dentro do seu próprio setor cinematográfico. O mercado
passou a visualizar o cinema como um grande potencial para gerar lucros o que fez surgir uma
grande concorrência para dominar as técnicas e o setor.

Visando expandir esse possível mercado lucrativo, lançou-se uma busca pela expansão
e melhores condições para a realização das produções cinematográficas. Isso marcou arápidae
constante transformação da indústria cinematográfica que investiu grande capital para
produzir mais filmes e com melhores técnicas. Se antes as imagens eram rústicas e sem muita
elaboração, logo a indústria passou a se preocupar com a produção dos filmes, melhor foco,
visual, roteiros e uma série de modificações no sentido de melhorar e ampliar as produções e
público.

O mercado percebendo o real potencial do cinema e seu crescimento “criou e


alimentou, ao mesmo tempo, um apetite pelo espetáculo, oferecendo a oportunidade de se
recriar o passado, reimaginar o presente e visualizar o futuro” (KEMP, 2011, p. 16). Neste
trecho podemos perceber que o cinema percorre um duplo caminho. Primeiro de apropriação
e cooptação, para ampliação do cinema como mercadoria rentável, ou seja, utilizando seu
aparato tecnológico e inovador para expansão e lucro. E segundo, e aqui mais importante,
revolucionando a forma de narrar histórias, uma nova possibilidade de recriar o passado e o
contar nas telas com cenas e movimentos.

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Um dos primeiros e mais emblemáticos filmes históricos produzidos é de direção de
D. W. Griffith, “O nascimento de uma nação” (1915). É importante pontuar o mérito das
técnicas para a produção deste filme, porém nãopodemos deixar de nos reportar às
problemáticas questões históricas e sociais que o filme aborda. A produção retrata a Guerra
Civil Americana com ênfase em glorificar a raça branca e frisandoa inferioridade dos negros,
utilizando um conhecido discurso racista da época. Tratando de um tema do século anterior, a
Guerra Civil e narrando um momento histórico a partir de uma dada leitura do mundo. Eis o
que é um filme histórico, uma representação de um passado, uma releitura de um determinado
contexto.

Assim, desde muito cedo os filmes históricos tem sido fonte inesgotável para produção
de filmes com aceitação em escala mundial e atingindo bilheterias milionárias.Mas vale
ressaltar que ao mesmo passo que o cinema foi se apropriando da história,a história também
vem se apropriando do cinema, utilizando-o como forma de inovação no campo didático. A
utilização do cinema como recurso e documento remonta do final do século XX, e não apenas
a História enquanto disciplina, mas o ensino de forme mais ampla se apropriou e passou a
utilizar esse novo instrumento em sala de aula. Neste artigo, nos interessa especificamente a
problematização sobre o uso do cinema nas aulas de história e as questões inerentes nessa
relação.

No campo educacional existem inúmeras discussões que abarcam a utilização do


cinema, enquanto recurso didático. Todos os debates são meios que nos propiciam refletir, e
compreender os benefícios e problemas dessa utilização. O oficio do historiador está na
compreensão da realidade de nossa sociedade, na produção humana, dos vestígios que foram
sendo deixados ao longo do tempo. “Os historiadores são o banco da memória da experiência.
Teoricamente, o passado – todo o passado, todas e qualquer coisa que aconteceu até hoje –
constitui a história”. (HOBSBAWM, 1998: 37)

Marc Bloch (2001) nos permite um grande respaldo teórico quando diz que a História
é a ciência dos homens no tempo, suas práticas, nas suas relações, quaisquer que
sejamtambém são fontes para o historiador. “O cronista que narra os acontecimentos, sem
distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia
aconteceu pode ser considerado perdido para a História”. (BENJAMIN, 1994: 223)

3
Tudo que é produto humano e das suas relações é objeto da história, e o cinema tem se
apropriado disso, representando tanto o passado mais distante como o mais recente como
forma de interpretar, reelaborar, explicar, investigar, apresentar e debater questões do nosso
passado. Trata-se, portanto de um recurso didático as produções cinematográficas podem ser
pensadas como uma representação do social, da história.

Uma referência clássica no assunto é do historiador Marc Ferro, que entendia o


cinema não na sua dimensão artística: “O filme, aqui, não está sendo considerado do ponto de
vista semiológico. Também não se trata de estética (...) Ele está sendo observado não como
uma obra de arte, mas sim como um produto, uma imagem-objeto” (FERRO, 1992, p. 87).
Dessa forma, ele defendia o cinema como uma construção de significados, porém o autor
entendia que existe o que ele denominava em sua obra de uma zona de realidade não-visível,
ou seja, para além do conteúdo explícito e aparente existe um conteúdo dissimulado que pode
revelar questões de certa realidade. Muitos são os interlocutores dessa temática queauxiliaram
no avanço dos pressupostos teóricos, métodos de análise e formas de uso do cinema pela
história. No entanto, não é o objetivo central desse artigo desenvolver tal debate
historiográfico, pontuamos aqui apenas que este trabalho parte do pressuposto que o cinema
não é um espelho que reflete a sociedade tal como ela ou contenha uma verdade absoluta.

Se usarmos o filme propagando do nazismo de LeniRiefenstahl, “O Triunfo da


Vontade” (1935) ou ainda, o já citado “O nascimento de uma nação”, podemos exemplificar
de maneira clara essa questão de como um filme representa uma dada ideologia e posições.
Portanto, aqui entendemos a produção cinematográficacomo uma interpretação da realidade.
Seus vários gêneros, enfoques e métodos estão condicionados a visão de mundo, interesses
pessoais, políticos, econômicos de seus autores.

Este artigo se, portanto, na perspectiva da necessária investigação aprofundamento


sobre o arcabouço teórico da relação cinema e história e sua função como recurso didático.
Buscamos compreender como as produções fílmicas classificadas como gênero histórico, que
se inspiram no passado para seus temas e roteiros podem auxiliar o trabalho docente.

História e Cinema

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Não é de hoje o debate que destaca a necessidade das escolas e dos educadores se
adequarem às novas demandas da sociedade contemporânea. O cinema é a primeira arte que
se auto representa como imagem e representação da realidade, podendo contribuir de forma
decisiva na interpretação e reelaboração do real. No entanto, não se trata apenas do uso do
cinema como ilustração de conteúdos históricos ou de análises críticas, e sim aprender a
pensá-lo como recurso didático com critérios e metodologia na direção do conhecimento e de
uma práxis reflexiva. Para tal, é fundamental compreender a relação que se estabelece não só
do cinema na sala de aula e todas as implicações que isso carrega, como também apreender
como o cinema utiliza a história como matéria prima nas produções do chamado gênero
histórico. Assim, partimos da compreensão de que além de recurso, o cinema é também fonte,
objeto e problemática.

Percebemos a dimensão educacional do cinema na medida em que esta arte se transformou


num dos mais importantes recursos didáticos no ensino de História, principalmente após as
décadas de 1960 e 1970, com as mudanças tecnológicas, passando, na atualidade a ser
utilizado como instrumento de trabalho fundamental ao educador. O cinema é um elemento
que suscita indagações, novas leituras, promove integrações, analisa e interpreta a realidade, e
ainda, como objeto de arte sensibiliza para novas experiências não vividas.

A complexidade dos fenômenos humanos e a multiplicidade de abordagens na relação


entre cinema e história gera um universo infinito de possibilidades de estudos e investigações
que estão longe da estagnação. Precisamos acompanhar a nova sociedade imagética e pautada
na velocidade das informações e inovações, instrumentalizando nossos educadores para que
se apropriem com segurança dos recursos disponíveis.

Colocar em evidencia os avanços e transformações assinaladas nesta relação entre cinema e


história contribui para o diálogo teórico sobre as representações fílmicas, aprofundamento e
atualização sobre as análises críticas das produções históricas e com os docentes que utilizam
essas produções como um instrumento na relação ensino-aprendizagem.

Compreendemos que o ensino de história proporciona a capacitação docente baseada


na inter-relação entre conhecimento histórico e conhecimento pedagógico em que a própria
prática em sala de aula seja um espaço destinado à pesquisa. Por sua vez, a pesquisa
proporciona uma reflexão sobre a prática do ensino da história em torno de memórias da
5
educação, concepções de ensino e aprendizagem na área. O ensino objetiva, portanto, a
construção da autonomia do profissional da história para entendê-la como devir do homem e
como produto de sua prática concreta.

Quando abordamos o ensino de história dentro da realidade brasileira, porém sabemos


que estamos tratando de um assunto bem complexo. Durante muitos anos o ensino de história
foi usado como elemento de convencimento de determinados grupos, interesses e ideologias.
Por muito os programas de história tinham o objetivo de educar o aluno a ser um cidadão,
patriótico e devoto. A formação de uma identidade nacional era o objetivo final da disciplina:

Um dos grandes trunfos para a legitimação da escola tem sido sua contribuição na
formação de identidades, sejam estas individuais, sociais e/ou culturais. [...] No
caso da história, e de seu ensino, a análise da trajetória da construção do campo
disciplinar permite perceber o quanto ele está estreita e explicitamente imbricado
com questões axiológicas, relativas à construção da(s) identidades(s)
coletiva(s).(GABRIEL, 2005, p. 44)

O cinema também, assim como a educação escolar e o ensino de história serviu a


interesses específicos de grupos,“Estamos convencidos de que o cinema constitui um dos
meios mais modernos e científicos de influenciar as massas. Um governo não pode, portanto,
menosprezá-lo” (FURHAMMAR; ISAKSSON, 1976, p. 39). O autor desta passagem é
Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda do Partido Nacional Socialista durante o III Reich.
Conforme, Alcir Lenharo (2006, p. 53), durante os 12 anos de regime nazista mais de 1350
filmes foram produzidos o que comprova que sua sentença era de fato parte fundamental da
estratégia nazista e foi um importante instrumento para a propagação de ideologia.

O cinema evidentemente ainda é usado como suporte e propagação de ideais e valores,


mas a ampliação dos estudos redefinem novas formas de apropriação dessa arte, identificando
as formas de intervenção do filme no momento de sua produção e no tempo que representa.
Assim as análises sobre as produções fílmicas rompem com os preconceitos e se reinventa de
acordo com as novas leituras. Em sua obra “A história nos filmes, os filmes na história”,
Robert Rosenstone, faz uma importante reflexão sobre o entendimento da relação entre a
história na tela de cinema e nos escritos que tratam os mesmos fatos históricos. Trata-se de
um novo olhar para o mesmo fato, que segundo o autor, auxilia na construção de novos
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significados. Ele discute como as narrativas históricas estão articuladas com as correntes de
pensamentos predominantes num determinado momento epolemiza ao propor que cineastas
possam ser novos historiadores que criam, através da arte cinematográfica, um mundo de
imagens sobre um tempo histórico.

Atualmente, também se rediscute e elaboram-se parâmetros onde a história assume


outros papéis onde os alunos e professores são sujeitos históricos, capazes de construir e
participar historicamente de seu tempo. Assim, assumimos os desafios de pensar a educação
histórica e sua nova função na sociedade do século XXI.

Partindo dessa premissa, os educandos devem ser levados a desenvolver sua


capacidade crítica de inferências e interpretações acerca da sociedade do presente e do
passado. Acreditamos que a arte seja um elemento fundamental no desenvolvimento do olhar
do educando sobre si e sobre seu entorno. Como nos aponta Barbosa,

Por meio da arte, é possível desenvolver a percepção e a imaginação para


apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica,
permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira
a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 2009, p. 21).

Os documentos oficiais trazem há muito, orientações didáticas que definem o uso de


novas linguagens como imprescindíveis no ensino de história. Fotografia, literatura, música,
gravuras, pintura, jornais, museus se transformam em grande fonte de possibilidade de análise
e investigação histórica e recurso didático. É o caso do importante papel do cinema visto
como recurso didático nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, que defini:

No caso de trabalho didático com filmes que abordam temas históricos é comum a
preocupação do professor em verificar se a reconstituição das vestimentas é ou não
precisa, se os cenários são ou não fiéis, se os diálogos são ou não autênticos. Um
filme abordando temas históricos ou de ficção pode ser trabalhado como
documento, se o professor tiver a consciência de que as informações extraídas estão
mais diretamente ligadas à época em que a película foi produzida do que à época
que retrata. É preciso antes de tudo ter em mente que a fita está impregnada de
valores, compreensões, visões de mundo, tentativas de explicação, de
reconstituição, de recriação, de criação livre e artística, de inserção de cenários
históricos construídos intencionalmente ou não por seus autores, diretores,
produtores, pesquisadores, cenógrafos etc. Para evidenciar o quanto os filmes estão
impregnados de valores da época com base na qual foram produzidos tornam-se
valiosas as situações em que o professor escolhe dois ou três filmes que retratem
um mesmo período histórico e com os alunos estabeleça relações e distinções, se
possuem divergências ou concordâncias no tratamento do tema, no modo como
reconstitui os cenários, na escolha de abordagem, no destaque às classes oprimidas
ou vencedoras, na glorificação ou não dos heróis nacionais, na defesa de idéias
pacifistas ou fascistas, na inovação ou repetição para explicar o contexto histórico
7
etc. Todo esforço do professor pode ser no sentido de mostrar que, à maneira do
conhecimento histórico, o filme também é produzido, irradiando sentidos e verdades
plurais. São valiosas as situações em que os alunos podem estudar a história do
cinema, a invenção e a história da técnica, como acontecia e acontece a aceitação
do filme, as campanhas de divulgação, o filme como mercadoria, os diferentes
estilos criados na história do cinema, a construção e recriação das estéticas
cinematográficas etc. O mesmo tipo de trabalho pode ser feito no caso de estudos
com gravuras, fotografias e pinturas. (BRASIL, 1998, p.88-89)

Vale lembrar, como já assinalado anteriormente, a relação cinema e história não é uma
inovação, como assinalado na epígrafe de Marc Ferro que já postulava “resta agora estudar o
filme, associá-lo com o mundo que o produz.” (FERRO, 2010, p.32)

Cinema, História e Educação

Já há algum tempo os educadores utilizam o cinema como recurso didático. No


entanto, assim como a utilização do livro didático suscitou muitas indagações e estudos, o
cinema como recurso também requer reelaborações e reformulações no seu uso e aplicação.
Investigar e debater questões que permeiam a atuação do professor e os métodos aplicados na
utilização de tal recurso pode auxiliar na resolução de problemas e evitar usos equivocados,
além disso, pode contribuir com inovações e propostas.

Dessa maneira, entendemos que a reflexão sobre o uso do cinema como instrumento
do trabalho didático colabora e fornece material para a construção de novas práticas tão
essenciais para a renovação de nossas escolas. Assim, também é uma necessária contribuição
ao campo historiográfico nacompreensão de como o cinema se apropria dos temas históricos
na atualidade, as suas transformações e permanências, e como isso requer leituras sempre
atualizadas por parte dos profissionais da história. Não é mais possível encarar o cinema
apenas como recurso auxiliar que demonstra ou ilustra o que foi trabalhado. O cinema é um
elemento de trabalhopara suscitar indagaçõese auxiliar no processo investigativo próprio do
ensino de história.

A história do cinema completou mais de 100 anos com um admirável arsenal de


temáticas históricas retratadas. São incontáveis períodos, povos, situações, construções de
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feitos heroicos que se tornaram temas de filmes. Até mesmo os filmes com outras intenções e
gêneros como os romances, ficções ou aventuras acabam por retratar algum período
históricoou fato relevante de nossa sociedade. Ao longo do século XX e início do século XXI
ocorreram grandes avanços tecnológicos nos filmes revolucionando a forma de produzi-los e
assisti-los3. Isso propicia um leque de possibilidades ao professor que possui um recurso que
se renova dia a dia criando condições de novas atividades na sala de aula.

O cinema vem sendo frequentemente utilizado em sala de aula, mesmo fora dos
grandes centros urbanos. As condições de acesso, superação de alguns obstáculos crônicos na
educação brasileira e a diversificação e atualização na formação contínua dos professores,
(apesar de algumas tristes permanências nas escolas brasileiras) têm contribuído para esse
aumento desejável no uso dos filmes nas salas de aula. Entendemos isso como algo positivo
que auxilia os professores propiciando aos alunos uma melhor compreensão do tema
abordado. No caso da história, especificamente, aproxima o aluno do conteúdo trabalhado,
sugere novas indagações, promove o debate através da relação passado/presente.

Porém, é frequente detectarmos problemas quanto à utilização do cinema enquanto


recurso didático. Problemas como a falta de preparo do professor que recorrentemente
ocasiona outro problema, a falta de percepção dos alunosque não veem a exibição do filme
como parte do conteúdo estudado. É muito comum o filme ser utilizado em sala de aula como
um “tapa buracos”, reforçando a ideia do aluno de que aquela exibição não tem sentido
educacional, pois se trata apenas de uma forma de “passar o tempo”, ou para ilustrar o que
está no livro, ou pior ainda,não tem sentido algum e está desvinculado dos estudos realizados.

Sem orientação, preparo e direcionamento os alunos não estabelecem relações, não


constroem hipóteses e de desinteressam causando dispersão, o que normalmente é gerador de
indisciplina. Assim, o desinteresse e o não cumprimento do objetivo é decorrência da falta de
uma discussão ampliada sobre a utilização do cinema enquanto um instrumento didático de
ensino, sendo a preparação algo imperativo para os alunos compreenderem o porquê da
utilização do filme e seus benefícios.

Aqui, vale ainda mencionar que quando nos referimos à preparação necessária do
professor, falamos não apenas de seu conhecimento eatualização sobre as discussões que
3
Aqui nos referimos ao cinema 3D que dá a sensação ao espectador de imersão no filme.
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permeiam a utilização e problematização do uso do cinema nas aulas de história, mas também
sua capacidade técnica e preparo para utilização de todos os aparelhos audiovisuais.
Computador, data show, internet, blu-ray, download, multimídias não são apenas novas
palavras no vocabulário, são ferramentas fundamentais que os professores devem dominar
para seu trabalho pedagógico. Desconhecer, evitar ou ignorar esses elementos causa
oafastamento entre o universo do aluno e a sala de aula e colabora com a desvalorização e
falta de credibilidade das escolas atuais.

Sobre essa questão, ainda, vale ponderar que uma parte da culpa desse despreparo do
professor é da Universidade brasileira. Muitos cursos de licenciatura ignoram tais questões e
não preparam os futuros profissionais para essa atuação, deixando o aprendizado a cargo da
vida prática na escola. Entendemos que a Universidade, instituição responsável pela formação
dos profissionais da educação, e com a função educativa de prepara-los para ação docente não
pode se esquivar ou ignorar de sua função social. É preciso oferecer esse debate e preparo em
seu conteúdo curricular ou disciplina especifica que auxiliem o futuro professor a utilizar
todos os recursos disponíveis. É preciso reavaliar como os cursos de formação de professores
estão se atualizando de acordo com as novas demandas das escolas e da sociedade
contemporânea afim de que essas lacunas sejam corrigidas.

Apesar dos problemas apontados acima, o uso do cinema é crescente e o aumento do


debate auxilia na resolução desse e outros obstáculos.Muitos profissionais na busca pela
formação contínua e atualizada se preparam e desenvolvem novas metodologias de ensino.

Algumas considerações sobre a prática

Existem inúmeras formas de utilizar o cinema como recurso, as mais comuns são
como elemento incentivador ou motivacional para acabar com o desinteresse do aluno,
demonstrativo ou ilustrativo para atestar a autenticidade do conteúdo dado, ou para uma
atividade pseudo-crítica onde se pede para o aluno “retirar o que entendeu”.

Estes exemplos mostram alguns problemas que permeiam as metodologias aplicadas


no uso do cinema em sala de aula. Destacamos assim, alguns pontos importantes:

a)O filmenão é substituto dos textos;


b)Não é substituto do livro didático;
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c)Não deve ser instrumento ilustração ou tapa-buraco
d)Não é sópara agradar os alunos.

Os filmes colaboram na leitura da realidade e pode ser visto como fonte geradora de
problematizações e debates, sendo importante recurso para ensino desde que ligado ao
planode ensino e os objetivos propostos. O papel do professor é de ser o mediador entre a
obra, o objetivo e o aluno, é ele o responsável por dar sentido e logicidade ao trabalho. Assim,
o professor deve observar dois elementos essenciais: aarticulação do filme com o conteúdo
discutido e a adequação à faixa etária e etapa em que se encontra a turma. É válido que o
professor faça algumas questões para orientar e adequar o trabalho, exemplo:

- Qual o objetivo central da atividade?


- O filme é adequado à temática?
- O filme é adequado ao estágio de discussão da classe?
- É necessário exibir o filme na íntegra ou algumas cenas selecionadas?

Dessa forma, fica claraa necessidade de preparar previamente os alunos para o uso do
cinema. É interessante que o professor selecione um filme que faça sentido e colabore com o
conteúdo exposto, elabore um roteiro com informações e orientações, se organize, caso seja
necessário exibir apenas alguns trechos e não a sequencia inteira.

Assim como é importante à preparação anterior ao filme,também é indispensável à


organização e planejamento após a exibição, poisé depois do filme assistido, que as questões
serão levantadas e os alunos poderão estabelecer relações entre filme e conteúdo. Os filmes
são grandes fontes de conhecimento, podemos ler os filmes como fazemos com os livros. É a
mesmacapacidade intelectual pararealizar uma leitura crítica do mundo como diria o autor
Paulo Freire.

Os filmes suscitam inúmeras sensações através decenas, imagens e diálogos diferentes


épocas, situações, simulações, possibilidades. A diferença é que nos filmes temos a ajuda de
personagens interpretados por atores, trilha sonora, sons, cenários, ambientação que ajudam a
nossa imaginação. Mesmo no gênero documentário existe uma preocupação com o uso da
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imagem, paisagens e entrevistas para aproximar o espectador ao tema apresentado. É preciso
orientar os alunos para que percebam: o contexto histórico da produção do filme (tempo
realizado etempo representado), técnicas utilizadas, recursos visuais
(intencionalidades),discurso explícito (falas, legendas, sons), discurso implícito (expressões,
metáforas) e o filme como narrativa, (composta de sons e imagens).

Assim, esse momento de troca de ideias do aluno com o professor é um momento


essencial. Desse diálogo podem surgir observações, indagações e relações necessárias para os
alunos chegarem a conclusões sobre o tema. Nesse sentido, uma última etapa desejável é a
elaboração de uma atividade, uma proposta já apresentada anteriormente no roteiro para
orientar o trabalho do aluno. A produção dos alunos (individual ou coletiva) é um importante
momento de síntese onde o aluno pode estabelecer os nexos e inserir aquela temática num
quadro mais amplo.

Conclusão

Fizemos aqui um percurso que nos permitiu perceber a importância do cinema em


nossa sociedade desde os seus primórdios, a relação dele com a história e mais
especificamente com o ensino de história. Vivemos um momento de profunda necessidade de
alteração das tradicionais formas de funcionamento escolar, e principalmente das aulas de
história. Aulas com viés de repetição e memorização de conteúdos históricos, datas ou nomes
relevantes não fazem mais sentido já há muito tempo.

Os livros didáticos hoje, em sua maioria, trazem ao final dos capítulos, trechos de
documentos históricos e listas de filmes relacionados aos conteúdos trabalhados. Além disso,
a internet e a facilidade de acesso às produções na atualidade devem ser aproveitadas pelos
professores para fugir das aulas esquematizantes e fechadas, em nome de uma aula de história
mais aberta, interativa, atrativa e por que não, prazerosa. O esquema texto, questionário e
prova perdeu espaço na sala de aula. Não se ensina mais história como antigamente, ainda
bem. Dessa forma, usar filmes na produção de conhecimento é um excelente recurso, desde
que usado com cuidado e planejamento.

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Existe na atualidade um número infinito de filmes que retratam acontecimentos
históricos do mundo, épocas e situações, sua utilização é um elemento cada vez mais comum
como fonte para superproduçõescinematográficas. É interessante percebermos a contradição
existente, pois ao mesmo tempo em que muitos rechaçam a história ensinada, dizendo que
estudar o passado é perda de tempo, lotam as salas de cinema para assistirem filmes que
trazem em seu roteiro elementos históricos, situações ambientadas em outros tempos ou
histórias reais retratadas na tela.

Portanto, ensinar história a partir do cinema pode suscitar um novo olhar dos alunos
para a história, pode estimular novas formas de análise e debate sobre a realidade passada e
vivida, pode despertar a criticidade, elemento essencial do processo de ensino-aprendizagem.
Para tal, não basta passar o filme, ele deve ser trabalhado de fato pelo professor. Muitos
filmes contem sérios erros históricos, distorções, misturam fantasia com a realidade, são
tendenciosos, elaborados para servir a um determinado interesse. Por isso filmes que são
realizados como ferramenta política de manipulação, controle e propaganda ideológica devem
ser tratados com atenção redobrada e trabalho pedagógico adequado.

No entanto, toda produção fílmica é conveniente para que o aluno possa perceber que
todo filme é uma possibilidade de representação, um recorte de uma realidadesocial, portanto,
não está livre da ideologia e do contexto em que está inserido. Aí reside à riqueza da
linguagem cinematográfica como recurso, um instrumento inesgotável de debate, formação e
construção da criticidade.

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