S. G. Petkovic1, P. R. F. Santos1
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Inmetro, Duque de Caxias, Brasil
Resumo: Duas das principais fontes de erro na calibração de maioria é composta por ligas, surgem então não-
termopares são: a estabilidade da força eletromotriz (fem) homogeneidades nesses materiais. Essas não-
ao longo do tempo e a não-homogeneidade dos fios. homogeneidades comportam-se como se fossem micro
A primeira, embora se possa determinar, fica sujeita a um termopares, que quando expostos a gradientes térmicos
limite de temperatura, às condições do meio térmico no produzem fems. Tais tensões elétricas somam-se à fem
qual o termopar está exposto e a um intervalo de tempo em resultante, alterando seu valor final, para mais ou para
que o artefato é avaliado. Esse período de tempo pode ser menos, dependendo das polaridades destas micro junções
curto, por exemplo, se a estabilidade for avaliada entre duas em relação à junção de medição.
calibrações consecutivas. Ele pode ser longo se for
Como normalmente a junção de referência é mantida a 0°C,
estabelecido um intervalo tal como 1000 horas de uso.
o efeito de fems expúrias formadas a partir das não-
A segunda fonte de erro, entretanto, já é bem mais difícil de
homogeneidades é observado na haste sensora da junção de
se quantificar. A não-homogeneidade dos fios de termopares
medição. Portanto, é nesta parte dos termopares que serão
de metais nobres e de metais básicos gera forças
investigadas a presença de não-homogeneidades e sua
eletromotrizes em regiões onde ocorrem gradientes de
contribuição na fem resultante. O comprimento, ou região
temperatura, modificando o valor da fem resultante para
da haste sensora do termopar a ser considerada, o tipo de
mais ou para menos, dependendo em qual termoelemento a
liga ou fio e a faixa de temperatura empregada são os
não-homogeneidade está localizada.
principais fatores de influência neste estudo.
Alguns trabalhos de avaliação dão conta apenas de
determinar a presença da não-homogeneidade [1]; outros
procuram quantificá-la a fim de estabelecer pré-requisitos 2. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO
para a calibração de um termopar [2, 3]. No segundo caso A primeira etapa no processo de avaliação da não-
geralmente isso é aplicável para termopares de metais homogeneidade de um termopar é a determinação da faixa
nobres, uma vez que, para os termopares de metais básicos de temperatura na qual ele será submetido. Este intervalo de
as mudanças de fem provocadas por levantamentos em temperatura depende do tipo de termopar e de seus limites
meios térmicos homogêneos em alta temperatura geram de utilização, em função da bitola e da montagem [4-6].
elevadas mudanças nos valores de fem, algumas
irreversíveis. A segunda etapa é a escolha dos meios térmicos, que podem
Este trabalho procurou estudar esses fenômenos, avaliando a ser banhos termostáticos, fornos de alta homogeneidade
não-homogeneidade de termopares de metais básicos do tipo térmica ou células de ponto fixo. Esta escolha também está
N e K, de metais nobres, do tipos R e S e de metais nobres relacionada com o tipo de calibração a ser realizada, isto é,
puros como o termopar de ouro/platina (Au/Pt). Os se a calibração será feita por comparação ou pelo método de
resultados de levantamentos em meios térmicos pontos fixos.
homogêneos, tais como banhos termostáticos e células de A terceira etapa é determinar a região da haste sensora que
pontos fixos, bem como os padrões, equipamentos e a será estudada. Em geral, estipula-se uma profundidade de
metodologia empregada são apresentados neste artigo imersão mínima e uma máxima. E determina-se como será
Palavras chave: termopar, não-homogeneidade, avaliação. feito o levantamento e/ou imersão do termopar no meio
térmico, de acordo com o sistema de medição disponível.
Caso o levantamento seja realizado manualmente, estima-se
1. INTRODUÇÃO
um passo de dois em dois centímetros ou de um em um,
A teoria de funcionamento de termopares enuncia que para conforme o tempo disponível. Caso o levantamento seja
surgir uma força eletromotriz no circuito termoelétrico é feito automaticamente, com o voltímetro e um motor de
necessário que as junções dos fios estejam submetidas a passo comandados simultaneamente por um computador, há
temperaturas diferentes. Entretanto, as forças eletromotrizes necessidade de se calcular uma taxa de movimento em
se formam nas regiões onde existem gradientes térmicos, ou centímetros por hora, para efetuar um levantamento lento e
seja, nas regiões de transição da temperatura na qual a contínuo. Em um trabalho realizado nos anos 80 [7], há um
junção está inserida para o meio ambiente. E como os fios exemplo de levantamento automático.
dos termopares não são totalmente puros, sendo que a
De fato, o método automático é mais prático e evita choque garra se prendia à haste através de uma mufla, conforme se
térmico no termopar, um efeito que pode causar alterações observa na figura 1.
na estrutura cristalina dos fios, principalmente se o termopar
for de metal básico. Quando isto ocorre, muitas das 4. AVALIAÇÃO DA NÃO-HOMOGENEIDADE DE
mudanças de fem podem não refletir unicamente uma não- TERMOPARES
homogeneidade já existente, mas uma alteração provocada
também pelo choque térmico bruscamente aplicado. Esse 4.1. Termopar de ouro-platina (Au/Pt)
comportamento foi observado especialmente em termopares A avaliação da não-homogeneidade foi realizada com um
tipo K, como revelam os gráficos de levantamentos na termopar de ouro/platina (Au/Pt) durante a solidificação do
célula do ponto fixo da prata [8]. Para o atual trabalho, no ponto da prata. O termopar foi construído com fios de
entanto, não foi possível utilizar o método automático e 0,5mm de diâmetro e 1500mm de comprimento. Nesta
todos os levantamentos foram feitos manualmente. avaliação, o termopar foi levantado cerca de 18cm, posição
esta que coincide com o limite do lingote do material da
Finalmente, a última etapa é a montagem do sistema de
célula. Esta posição foi denominada de posição 0cm
medição/avaliação, a qual envolve os equipamentos listados
a seguir. (termopar fora da célula) e a posição 18cm corresponde ao
termopar no fundo do poço termométrico da célula.
3. INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO, PADRÕES E
EQUIPAMENTOS
Na avaliação da não-homogeneidade de termopares em
pontos fixo foi utilizado o ponto da prata. Esse ponto fixo
da Escala Internacional de Temperatura de 1990 (EIT-90) é
definido como o equilíbrio termodinâmico de uma
substância quimicamente pura [9, 10], a qual é envasada em
uma célula, denominada de célula de ponto fixo.
O forno para realização desse ponto fixo foi um forno de
zona única de aquecimento com tubo de calor de sódio.
Os instrumentos empregados para medir a fem do termopar
foram: um multímetro Hewlett Packard modelo 3457A (de 7 Figura 2: Levantamento da não-homogeneidade de um termopar
½ dígitos), e um nanovoltímetro Keithley, modelo 182. As tipo Au/Pt no ponto da prata.
medições foram realizadas automaticamente, em um
computador PC, através de um programa de aquisição de No gráfico da figura 2, inicialmente o termopar registrava o
dados, desenvolvido na linguagem Visual Basic. patamar de solidificação da prata (imersão 18 cm). Depois
ele foi levantado para fora do lingote da célula (imersão
A junta de referência do termopar foi mantida a 0°C em 0 cm) e então começou a ser inserido de 2 em 2cm. Na
banho de gelo fundente, produzido a partir de água imersão 0 cm, a fem correspondia à temperatura do forno,
destilada, acondicionado em vaso DEWAR. cerca de 0,9°C abaixo da temperatura do patamar de
solidificação. Na imersão correspondente à 12 cm, faltando
6 cm para o fundo do poço termométrico, a fem
praticamente permaneceu constante. Isto demonstra que as
não-homogeneidades existentes nos fios de ouro com
99,999% de pureza e de platina com 99,998% de pureza são
mínimas.
5. CONCLUSÕES
O trabalho mostra que a não-homogeneidade dos fios de um
termopar deve ser estudada e métodos para incorporar a
contribuição desta componente na incerteza de calibração
devem ser desenvolvidos.
Conquanto a não-homogeneidade de termopares de metais
nobres puros possa ser pequena em valores absolutos, como
estes sensores são pretendidos para trabalharem com
incertezas muito pequenas, relativamente ela pode ser
significativa.
Apesar da evidência obtida com o termopar tipo N, a não-
homogeneidade é um parâmetro dependente da temperatura.
Particularmente para o termopar tipo K, este trabalho mostra
que a velocidade do teste pode ser um fator importante para
Figura 6: Gráfico de levantamento de um termopar tipo N em um a reprodutibilidade dos testes. Esta seria uma forma de se
banho termostático a 300°C. prevenir a alteração da resposta do termopar em função de
A figura 7 mostra o gráfico de três testes de homogeneidade têmperas nos fios.
de um termopar tipo K realizados em dias diferentes no Um usuário de termopar deve estar ciente que o uso de um
patamar de solidificação da prata. Os gráficos mostram que termopar calibrado com uma imersão diferente daquela
a fem medida no patamar derivou em aproximadamente 1°C usada na calibração, pode produzir resultados diferentes da
do dia 15/01 para o dia 16/01, não variando no dia 24/01, calibração. Por outro lado, termopares que apresentam boa
como se a fem do termopar tivesse estabilizado após o estabilidade termoelétrica, ou baixa deriva, quando usados
primeiro teste. Testes adicionais poderiam revelar que o sempre na mesma profundidade de imersão, podem
tratamento térmico a que os fios foram submetidos no apresentar boa reprodutibilidade, sem que a não-
primeiro teste seria suficiente para estabilizar a fem do homogeneidade introduza erros significativos.
termopar. Pode-se notar que nos 6 cm iniciais, isto é, entre
as imersões de 12 cm e 18 cm, as curvas do gráfico têm uma
Finalmente, mesmo aumentando o custo, sugerimos aos 12. S. G. Petkovic, F. A. L. Goulart and M. S. Monteiro, FIXED
usuários de termopares que ao solicitar uma calibração, POINT CALIBRATION OF THERMOCOUPLES IN
especifiquem com qual imersão o termopar deve ser BRAZIL, National Conference for Standard Laboratories
calibrado, e/ou que o laboratório de calibração faça um International (NCSLI 2001) Washington D. C., EUA, 2001.
estudo da não-homogeneidade em torno dessa profundidade Autores:
de imersão.
Slavolhub Garcia Petkovic, Inmetro, Laboratório de Termometria,
Av. Nossa Senhora das Graças, 50 Xerém Cep: 25250-020 Duque
AGRADECIMENTOS de Caxias, RJ, Brasil, Tel: 55.21.2679-9058 Fax: 55.21.2679-9027
e-mail: sgpetkovic@inmetro.gov.br
Os autores gostariam de agradecer ao CNPq (Conselho
Nacional de Pesquisa) que viabilizou a realização deste Paulo Roberto da Fonseca Santos, Inmetro, Divisão de Metrologia
trabalho de pesquisa através do programa PADCT Térmica, Av. Nossa Senhora das Graças, 50 Xerém Cep: 25250-
(Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e 020 Duque de Caxias, RJ, Brasil, Tel: 55.21.2679-9019 Fax:
55.21.2679-9027 e-mail: prsantos@inmetro.gov.br
Tecnológico ).
REFERÊNCIAS
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2. G. W. Burns and M. G. Scroger, The Calibration of
Thermocouples and Thermocouple Materials, NIST SP 250-
35, 1989
3. D. Zvizdic, D. Serfezi, L. Grgec Bermanec, G. Bonnier, E.
Reanot, Estimation of Uncertainties in Comparison
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and Control in Science and Industry, Vol. 7, editado por D. C.
Ripple et al., AIP Conference Proceedings, Melville, New
York, 2003 “em publicação”.Norma ASTM E 230,
Temperature-Electromotive Force (EMF) Tables for
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6. C. A. Mossman, J. L. Horton, and R. L. Anderson, Testing of
thermocouples for inhomogeneities: A review of theory, with
examples, in Temperature: Its Measurement and Control in
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D. Campos, Marcelo S. Monteiro, Paulo R. F. Santos,
Rodoval Raimundo Filho, Ricardo M. Ferreira and Elói T.
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1000°C, Metrosul III, Curitiba, PR, Brasil, 2002.
8. Preston-Thomas, H., Bloembergen, B., and Quinn, T. J.,
Supplementary Information for the International Temperature
Scale of 1990, Monograph CCT/WG1, BIPM, Sèvres, France,
1990, pp. 29-78.
9. Preston-Thomas, H., Metrologia 27, 3-10 (1990).
10. Slavolhub G. Petkovic , Fernando A. L. Goulart, Fábio D.
Campos, Hamilton D. Vieira, Klaus N. Quelhas, Marcelo S.
Monteiro, Paulo R. F. Santos, FIXED POINT
CALIBRATION FOR TYPE N THERMOCOUPLES IN
THE 0°C TO 1000°C RANGE, XVII IMEKO World
Congress, Dubrovnik, Croatia , 2003.
11. S. G. Petkovic, F. A. L. Goulart e M. S. Monteiro,
CALIBRAÇÃO DE TERMOPARES POR PONTOS FIXOS
NO INMETRO - A RASTREABILIDADE DESSES
PADRÕES NA RBC, Metrologia 2000, São Paulo, S.P.,
Brasil, volume ENLAB 2000, pp 227-238.