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QUEM PRECISA DESSA DEFESA?

Marcos Bagno

Falar em defesa de línguas só se justifica quando se trata de idiomas que correm perigo
de extinção. Das quase 7.000 línguas catalogadas hoje no mundo, cerca de 2.500 se
encontram em risco. É o caso, por exemplo, de praticamente todas as línguas indígenas
faladas no Brasil: das 180 conhecidas, apenas 25 têm mais de mil falantes. Tudo justifica
a elaboração de políticas de proteção, defesa, ensino e divulgação dessas línguas.
Mas falar de “defesa” do português é um discurso que se insere numa esfera político-
ideológica completamente diferente. Uma esfera reacionária e elitista. Afinal, para que
defender uma língua que, só no Brasil, tem 200 milhões de falantes — o que faz do
português brasileiro a terceira língua mais falada do Ocidente, depois do espanhol e do
inglês?
No entanto, foi precisamente de “defesa” que tratou um encontro promovido em 23 de
maio último por duas entidades cuja existência até hoje me espanta: a Academia Brasileira
de Letras e uma de suas excrescências, a Academia Paulista de Letras. Essas entidades,
como bem sabemos, não têm serventia alguma em nossa vida social e cultural. No site
desse encontro (chamado, incorretamente, de “seminário”), era possível ler a seguinte
pérola da estilística balofa: “Está cada vez mais difícil para os professores de Português,
dos três graus de ensino (fundamental, médio e superior) desempenhar o magistério no
campo da língua portuguesa, tendo em vista as controvertidas opiniões de especialistas,
que entendem dever-se debater o uso dos diversos linguajares de ocasião diante da
hegemonia do vernáculo, a chamada língua culta nacional (língua padrão).”
Esse pequeno parágrafo seria suficiente para uma aula inteira de análise do discurso ou
de sociologia da linguagem. Fala-se de “controvertidas opiniões de especialistas” que
suspostamente estariam dificultando o trabalho dos professores de português. Mas quem
é que rotula de “controvertidas” essas opiniões? Se elas provêm de “especialistas”, por
que os poucos membros das Academias se acham capazes de considerá-las
“controvertidas”? O que têm a dizer sobre ensino de língua figuras como Ivo Pitanguy
(médico), Nelson Pereira dos Santos (cineasta), Antônio Ermírio de Moraes (empresário),
Eros Grau (jurista), Gabriel Chalita (sabe-deus-o-quê), Merval Pereira (inclassificável)
ou Marco Maciel (réptil)?
E o que dizer dessa construção: “dever-se debater o uso dos diversos linguajares de
ocasião diante da hegemonia do vernáculo, a chamada língua culta nacional (língua
padrão)”? Como perguntariam os ultrapolidos ingleses: “What the fuck?”. Que josta vêm
a ser “linguajares de ocasião”? Por que essa gente não vai estudar um pouco, abrir um
manual básico de linguística ou sociolinguística para entender o que são variedades
linguísticas, regras variáveis, heterogeneidade regulada, e até mesmo vernáculo, que na
linguística moderna é coisa muito diferente do conceito jurássico de “língua correta” que
os acadêmicos ainda perseguem?
Diz o mesmo site que a conferência “Magma” (isso mesmo, magma) foi proferida por
Evanildo Bechara. E que, entre os debatedores estiveram Arnaldo Niskier (que sabe tanto
de linguística quanto o boxeador Anderson Silva) e a onipresente Dad Squarisi, uma das
figuras mais patéticas que tive o desprazer de conhecer pessoalmente. Essa defesa deve
ter sido um festival de horrores!!!

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