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O que Deus requer?

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O que Deus requer?: uma análise


crítica da teologia da ‘última geração’
Roy Adams, Ph.D
Editor-associado da Adventist Review

Resumo: O presente artigo analisa monte Sião.1 Eles “não se macularam


criticamente a teologia da “última ge- com mulheres, porque são castos” (v.
ração”, segundo a qual Cristo voltará 4).2 Os 144 mil representam as “pri-
apenas quando o povo de Deus alcançar mícias para Deus e para o Cordeiro,
a condição de perfeição sem pecado. e não se achou mentira na sua boca;
O autor argumenta que Ellen G. White não têm mácula” (v. 4, 5).
entendia “perfeição” não como a vitória Qual o significado dessa passa-
sobre atos pecaminosos específicos, gem? Porventura, Deus requer da ge-
mas como amor abnegado, serviço em ração final de crentes um padrão ou
favor de outros e maturidade cristã. As qualidade de justiça não esperada das
Escrituras, por sua vez, mostram que gerações anteriores? Quando chega-
Deus exigiu das gerações anteriores rem ao Céu, os membros da última
o mesmo elevado nível de santifica- geração da Terra serão capazes de
ção que exigirá da última geração. reivindicar, na presença dos remidos
das gerações anteriores, que sua justi-
Abstract: The present article criticaly ça era de uma qualidade mais elevada
analyzes the “last generation” theology, que a dos demais? Essas são as per-
according to which Christ will come only guntas com que nos defrontamos.
when God’s people attain a condition of
absolute perfection or sinlessness. The Perfeição absoluta
author argues that Ellen G. White un-
derstood “perfection” not as the victory Para M. L. Andreasen3 e aqueles
over specific sinful acts, but as abnegated que seguem sua compreensão, a res-
love, service in behalf of others, and posta a essas indagações é um deci-
Christian maturity. Sciptures, by its way, dido “Sim”. Uma das principais pre-
shows God required of previous genera- ocupações subjacentes de Andreasen,
tions the same high level of santification em sua abordagem à doutrina do san-
He required from the last generation. tuário, era enfatizar a necessidade de
“perfeição absoluta” por parte da ge-
Introdução ração final de cristãos. A própria vin-
dicação de Deus repousa sobre essa
Em Apocalipse 14, João retrata conquista, afirmava Andreasen. Por
os 144 mil em pé com Jesus, sobre o meio da ministração final de Cristo no
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santuário celestial, Deus demonstrará esse fundamento [lançado pelos re-


que a perfeição atingida por Cristo formadores] um grandioso edifício de
não era única, mas pode ser repetida verdade que é único e distintamente
nos santos do tempo do fim.4 adventista do sétimo dia.”8
No desenvolvimento de sua posição “Não que o Senhor tenha proibido
sobre esse tema, Andreasen chamava a gerações anteriores de atingir ‘a me-
atenção para Filipenses 3:12, 15. No dida da estatura da plenitude de Cris-
verso 12, Paulo indicou que ele ainda to’ [Ef 4:13]” observa Wieland, “mas
não havia obtido a perfeição: “Não que simplesmente nenhuma geração ante-
eu ... tenha já obtido a perfeição; mas rior de fato atingiu a condição postu-
prossigo.” No verso 15, porém, ele rei- lada por Apocalipse para a esposa de
vindicou perfeição para si mesmo e ou- Cristo – ‘cuja esposa a si mesma já se
tros: “Todos, pois, que somos perfeitos, ataviou’ (Ap 19:7).”9
tenhamos este sentimento”. Embora os defensores da perfei-
Ao explicar essa aparente contra- ção sem pecado possam se afastar
dição, Andreasen argumentou que a assustados pela expressão “perfeição
perfeição mencionada no verso 15 é absoluta”, o conceito que eles susten-
uma “perfeição relativa”. Essa es- tam a respeito da perfeição é virtual-
pécie de perfeição foi atingida por mente idêntico àquele mantido por M.
Paulo e os crentes de seus dias, mas L. Andreasen e A. F. Ballenger:
eles não atingiram a “perfeição ab-
soluta” do verso 12. Deus não pode permitir que o pecador
“Mas ninguém jamais atingirá entre no Céu se mesmo o mais leve re-
síduo de pecado manchar seu caráter,
esse estágio [de perfeição absoluta]?”,
porque a admissão de até mesmo uma
perguntava Andreasen. “Cremos que porção do tamanho de uma pequenina
sim”, respondia ele, dirigindo a aten- semente cresceria até que novamente
ção dos leitores para a descrição dos contaminasse o Universo.10
144 mil de Apocalipse 14:4, 5.5 Se-
gundo ele, a segunda vinda de Jesus É óbvio que essa declaração é cor-
não ocorrerá até que esse nível de reta se estivermos falando de pecado
perfeição tenha sido atingido pela úl- como pesha′ (rebelião, desafio, intransi-
tima geração.6 Essa justiça, afirmava gência, sacrilégio, revolta, independên-
Andreasen, é produzida em relaciona- cia de Deus, transgressão voluntária)
mento com a purificação do santuário, ou sobre pecado como remiyyah (frau-
a fase final da expiação realizada por de, engano, duplicidade). Mas quando
Cristo. Esse é um entendimento de compreendemos pecado também como
justiça “distintamente adventista”.7 chatta’ah (errar o alvo) ou como ‘awon
Robert J. Wieland, concordando (distorção moral), a declaração de Wie-
com Andreasen, afirma que em sua land torna-se imediatamente destituída
pregação dessa espécie de justiça, A. de sentido e ilusória.
T. Jones e E. J. Waggoner foram além A mensagem de 1888, segundo es-
de Lutero. “Eles construíram sobre ses adventistas, enfocava esse exclu-
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sivo conceito de justiça, uma ênfase lidou com esse assunto. Todavia, não
completamente nova, desconhecida da tentaremos aqui uma discussão integral
teologia anterior – “uma singular nutri- de sua posição, mas é nosso propósito
ção espiritual que leva à ‘obediência de descobrir se Deus exige de nós, hoje,
todos os mandamentos de Deus’”.11 A uma norma espiritual mais elevada
mensagem de 1888, segundo Robert J. que a das gerações anteriores.
Wieland e Donald Short, George R. Knight, na obra The
Pharisee’s Guide to Perfect Holiness
não foi meramente uma nova ênfase [O Guia do Fariseu para a Perfeita
nas doutrinas de Martinho Lutero e Santidade], oferece uma importante
João Wesley, nem mesmo dos adven- contribuição à Igreja, em sua cuida-
tistas pioneiros ... [Antes] foi o “iní-
dosa busca por uma resolução para as
cio” de um conceito mais maduro do
declarações aparentemente conflitan-
“evangelho eterno” [Ap 14:6] do que
havia sido claramente percebido por tes de Ellen G. White sobre perfeição
qualquer geração anterior.12 e vida sem pecado. A abordagem de
Knight não é idêntica à do presente
Enquanto lia detidamente centenas artigo, mas as duas obviamente estão
de páginas dos escritos desses irmãos, relacionadas. Trataremos, portanto,
eu continuamente indagava: “O que brevemente de alguns dos pontos que
essas pessoas tanto procuram? O que ele desenvolveu para depois apresen-
esperam que a igreja faça?” Reduzida à tar nossa própria exposição.
sua essência, a idéia deles é que, assim George R. Knight inicia admitin-
como Jesus viveu, em carne humana do ousadamente que Ellen G. White
pecaminosa, uma vida sem pecado de apoiou a idéia de perfeição de caráter.
perfeição absoluta, assim devemos nós Ela o fez, afirma ele, não meramente
– por meio de sua expiação no santuário em relação à forense justificação pela
celestial – ser absolutamente perfeitos. fé (revestidos da perfeição imputada
Somente quando a igreja atingir essa de Cristo), mas também em termos do
condição, Jesus virá. Essa, sustentam “que Deus faz em nós através do po-
eles, foi a mensagem de 1888. Podemos der dinâmico do Espírito Santo”.13 Em
deixar de pecar. Podemos ser perfeitos. apoio desse ponto é apresentada uma
Essa é a exigência de Deus para a gera- lista de declarações de Ellen G. Whi-
ção final de crentes. te, das quais as seguintes são repre-
sentativas: “O Senhor requer perfei-
A posição de Ellen G. White ção de sua família redimida. Ele exige
perfeição na formação do caráter.”14
Como sabemos, a abordagem dos “Devemos cultivar cada faculdade ao
defensores da perfeição absoluta e sem mais elevado grau de perfeição [...]
pecado baseia-se quase que exclusiva- De todos é requerido perfeição moral.
mente nos escritos de Ellen G. White. Nunca devemos abaixar a norma de
Devemos, portanto, necessariamente, justiça com o fim de acomodar à prá-
tratar brevemente a maneira como ela tica do mal, tendências herdadas ou
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cultivadas.”15 Ellen G. White chega possível para ela falar ou escrever


a ponto de afirmar que “imperfeição com a espécie de precisão matemáti-
de caráter é pecado”.16 Knight tam- ca que esperamos. Ninguém que es-
bém chama a atenção para a ênfase de creve ou fala extensamente consegue
Ellen G. White sobre nos tornarmos fazer algo assim, pois sempre haverá
semelhantes a Cristo no caráter: aparentes contradições.
A respeito desse tema, estou con-
A própria imagem de Deus tem de ser vencido de que freqüentemente Ellen
reproduzida na humanidade. A honra G. White haja sido mal compreendida
de Deus, a honra de Cristo, acha-se devido à falta de atenção suficiente
envolvida no aperfeiçoamento do ca- ao contexto histórico no qual ela es-
ráter de Seu povo.17
creveu e aos assuntos específicos que
ela estava tratando. Um exemplo ilus-
Essas declarações são enfáticas,
tra essa situação. Certa vez, Ellen G.
e há outras semelhantes, mas Knight
White escreveu:
observa que há também declarações
que servem de equilíbrio. Ninguém se engane com a crença de
que pode tornar-se santo enquanto
[Cristo] é um perfeito e santo exem- voluntariamente transgride um dos
plo, dado para que o imitemos. Não mandamentos de Deus. O cometer o
podemos igualar o modelo, mas não pecado conhecido faz silenciar a voz
seremos aprovados por Deus se não testemunhadora do Espírito e separa
o copiarmos e, segundo a capacidade a alma de Deus.21
que Deus tem dado, assemelhá-lo.18
Alguns imediatamente tirariam
Ela ainda escreveu:
essa declaração de seu contexto his-
tórico-teológico, fazendo-a servir à
Jamais podemos igualar o modelo;
mas podemos imitá-lo e nos asse- uma agenda perfeccionista e usando-a
melharmos a Ele segundo a nossa contra seus irmãos e irmãs.
capacidade.19 Mas o leitor cuidadoso lembrará
que Ellen G. White não estava escre-
“Em outra ocasião”, disse Knight, vendo em um vácuo. Ela não estava
“ela afirmou de forma explícita que usando palavras que se aplicam igual
‘ninguém é perfeito [no pleno senti- e indiscriminadamente a todos, seja
do] senão Jesus’”.20 dentro ou fora da Igreja Adventista.
Há muitos outros escritos de Ellen Uma análise mais detida do contexto
G. White que apresentam o mesmo mostrará que ela estava escrevendo
conceito. Alguns poderiam desejar no contexto histórico das décadas de
que ela houvesse tratado do assun- 1880 e 1890, quando uma espécie
to de forma mais sistemática. Mas de “santificação ... ora adquire pree-
embora essa abordagem houvesse minência no mundo religioso”. Esse
sido útil para esclarecer o que Deus era um tipo de santificação caracte-
requer de nós, em realidade seria im- rizado por um desrespeito pela lei de
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Deus. “Seus defensores ensinam que E a alegação de estarem sem peca-


santificação é obra instantânea, pela do é em si mesma evidência de que
qual, mediante a fé apenas, alcan- aquele que a alimenta está longe de
çam perfeita santidade. ‘Crede tão- ser santo. É porque não tem nenhuma
concepção verdadeira da infinita pu-
somente’, dizem.” “Nenhum outro
reza e santidade de Deus.24
esforço” é exigido. Os crentes estão
“livres da obrigação de guardar os
Depois de considerar devidamente
mandamentos.”22
o contexto dessa declaração, é possí-
Essa é a situação que suscitou as ob-
vel aplicá-la de duas maneiras. Em
servações de Ellen G. White em relação
outras palavras, se aplicaria primeiro
à santidade. Ela se referiu a essa filoso-
àqueles antinomianos do século 19 e,
fia como uma “sedutora doutrina de fé
em segundo lugar, aos perfeccionistas
sem obras”. E acrescenta: “Ninguém se
de nosso próprio tempo. O exemplo
engane ... de que pode tornar-se santo
enquanto voluntariamente transgride anterior foi mencionado devido à ten-
um dos mandamentos de Deus.”23 Dis- dência de alguns em simplesmente ig-
torcer essa declaração e usá-la contra norar declarações relevantes de Ellen
os adventistas, que crêem que os Dez G. White e tirar outras de seu devido
Mandamentos podem ser obedecidos contexto. Sempre que encontramos
pela graça de Deus, é inverter sua ad- declarações aparentemente conflitan-
moestação. Essa atitude pode ser qua- tes nos escritos do Espírito de Profecia,
lificada como inapropriada, maligna e, devemos considerá-las como um sinal
talvez, até cruel. Ao forçar a declaração para sermos especialmente vigilantes,
para um contexto artificial, a expressão e analisarmos mais cuidadosamente os
“enquanto voluntariamente transgri- textos em questão.
de um dos mandamentos de Deus” é Depois de estudar o assunto, Ge-
removida da especificidade dos Dez orge R. Knight concluiu que a pre-
Mandamentos e lhe é dada uma uni- ocupação fundamental de Ellen G.
versalidade que produziria sentimentos White a respeito da perfeição não es-
de desespero e culpa sobre aqueles que tava relacionada aos numerosos atos
procuram obedecê-los. comportamentais específicos, mas
Há, talvez, um sentido em que “com o grande princípio motivador
poderíamos dizer que a declaração do amor que molda e transforma” as
se aplica a todos nós. Mas, antes de tendências de nossa vida “por meio
fazermos qualquer aplicação pesso- da graça de Deus”.25 Essa conclusão
al, é de relevância fundamental saber encontra base nos escritos de Ellen G.
quem era o seu alvo primário e qual White, pois ela afirma que “o caráter
era a questão primária. Ao fazermos se revela, não por boas ou más ações
isso, lembrando da falsa teoria de san- ocasionais, mas pela tendência das
tificação que ela estava abordando, palavras e atos costumeiros”.26
estaremos em melhores condições de Todas as aparentes contradições
compreender a seguinte declaração, de Ellen G. White sobre esse assunto
que aparece no mesmo contexto: não serão plenamente solucionadas
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apenas pelos estudos de George R. As pessoas que mais admiro – seja


Knight ou de qualquer outra pessoa. dentro ou fora da Igreja Adventista e so-
Algumas dificuldades permanecerão. bre as quais inconscientemente penso:
Apesar disso, é necessário lembrar “Eu gostaria de ser como ele ou ela” –
que supostas contradições represen- são aquelas que não são obcecadas com
tam a maneira como Deus se comu- o assunto da perfeição ou impecabili-
nica com diferentes personalidades e dade. Ao contrário, inconscientemente
necessidades de seus diversos filhos. elas vivem o que vejo como verdadei-
Ann Burke declara: ros representantes da vida de Jesus. Sua
atenção, sua amabilidade, seu senso de
É lamentável que, por causa de nos- humor e sua bondade prática me atraem.
so temperamento, crentes demasia-
Sinto-me confortável em sua presença.
do conscienciosos freqüentemente
isolem declarações fortes provavel- Nunca sou constrangido ou humilhado
mente destinadas a cristãos descui- por elas. Essas são as pessoas que me
dados [os santificados antinomianos mostram o que significa ser um cristão.
do tempo da sra. White é um bom Creio que elas se enquadram nesta bela
exemplo]. Eles açoitam a si mesmos descrição de perfeição:
com essas declarações, enquanto que
os descuidados membros da igreja O amor é o fundamento da piedade...
encontram falsa segurança naquelas Quando o eu está imerso em Cristo, o
[declarações] que, sem dúvida, visa- amor brota espontaneamente. A per-
vam confortar aqueles que possuíam feição de caráter do cristão é alcan-
uma personalidade extremamente çada quando o impulso de auxiliar
sensível pelo senso de culpa.27 e abençoar a outros brotar constan-
temente do íntimo - quando a luz do
Esses conceitos a respeito dos requi- Céu encher o coração e for revelada
sitos divinos para o povo de Deus, con- no semblante.28
forme refletidos nos escritos de Ellen
G. White, têm implicações excessiva- Creio que seja essa a espécie de mi-
mente práticas para cada cristão adven- nistério encarnacional, a espécie de sim-
tista. Alguém pode ficar extremamente patia espontânea, que Deus procura.
angustiado e desanimado se seguir uma
leitura unilateral da Bíblia ou do Espíri- A declaração sobre o
to de Profecia. É como ler um livro mé- “caráter de Cristo”
dico e sentir-se como se tivesse todos
os sintomas descritos nele. Portanto, a Esta seção sobre os conceitos de
busca por uma abordagem equilibrada Ellen G. White não estará completa
tem o objetivo de vencer uma discussão sem uma avaliação de um texto fre-
teórica. Antes, é de grande importância qüentemente citado de Parábolas de
para nosso bem-estar espiritual e psico- Jesus que se refere ao caráter de Cris-
lógico, a fim de possuirmos uma com- to sendo perfeitamente reproduzido
preensão correta do que Deus tem feito em seu povo antes da sua vinda. Há
por nós e o que Ele espera de nós. algum tempo, depois de ouvir durante
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anos essa citação sendo utilizada em Examinando todo o capítulo,


acaloradas discussões sobre perfeição percebe-se que há um movimento de
ou citada de forma equilibrada por semeadura ao crescimento e à colhei-
aqueles que a compreendiam de certo ta – e então repete-se o mesmo ciclo.
modo, decidi estudá-la dentro do seu Esse movimento nem sempre pode ser
percebido facilmente, e deve-se pres-
próprio contexto. Publiquei um edito-
tar atenção. Em alguns momentos,
rial na Adventist Review apresentando ela fala sobre o crescimento dos pró-
minhas conclusões. Abaixo segue a prios cristãos e a produção de frutos
declaração de Ellen G. White e o edi- em suas vidas. Em outros momentos,
torial ligeiramente adaptado: fala sobre aqueles em cujos corações
é plantada a semente do evangelho, e
Cristo aguarda com fremente desejo cujas vidas devem produzir frutos.
a manifestação de si mesmo em sua No entanto, o crescimento e a pro-
igreja. Quando o caráter de Cristo dução de frutos sempre são realizados
se reproduzir perfeitamente em seu por Deus. Ellen G. White declara:
povo, então virá para reclamá-los
como seus.29 A planta cresce recebendo o que
Deus provê para sustentar-lhe a vida.
Essa declaração, um texto-chave Aprofunda as raízes no solo. Absor-
dos adventistas que defendem a abso- ve o sol, o orvalho e a chuva. Áureas
luta e impecável perfeição do povo de propriedades vitalizantes do ar. As-
sim deve crescer o cristão, cooperan-
Deus nos últimos dias antes que Jesus
do com os agentes divinos.30
possa vir, é uma das mais mal-compre-
endidas nos escritos de Ellen G. White. Essa é uma sublime declaração so-
A compreensão popular dessa declara- bre depender do Senhor. A planta não
ção cria o retrato de uma igreja voltada se preocupa nem se aflige por seu cres-
interiormente para si mesma em perpé- cimento. De forma semelhante, nós
tua e absorvente introspecção e autofla- também não deveríamos nos afligir.
gelação, lutando para atingir a perfeita Nos últimos seis parágrafos do
reprodução do caráter de Cristo para capítulo – a própria seção em que
que Jesus possa vir. Mas o que a sra. aparece a passagem crucial – a ên-
White realmente estava dizendo? fase primária volta-se para a neces-
A melhor maneira de compreen- sidade de olharmos para fora de nós
der uma declaração cujo autor não mesmos. O propósito da reprodução
do caráter de Cristo em nós, diz a
mais está vivo é examiná-la dentro do
sra. White, é “para que [Cristo] se
contexto. Felizmente, a citação acima possa reproduzir em outros. A planta
possui um amplo contexto a ser ana- não germina, não cresce, nem pro-
lisado. O capítulo em que ela ocorre duz frutos para si mesma”. Seme-
trata da parábola da semente (ver Mc lhantemente, o cristão existe “para
4:26-29), que a Sra. White aplica aos a salvação de outros. Na vida que
processos de crescimento e produção se centraliza no eu não pode haver
de frutos na vida cristã. crescimento nem frutificação. Se
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aceitastes a Cristo como Salvador em nós é equivalente ao nosso rece-


pessoal, deveis esquecer-vos e pro- bimento do “Espírito de Cristo”. E “a
curar auxiliar a outros.”31 manifestação de [Cristo] em sua igre-
Nesse chamado para o ministério ja é equivalente ao desenvolvimento
total e altruísta em favor de outros, em nós do Espírito do amor abnega-
encontra-se a chave que desvenda do e do sacrifício por outrem”. Des-
o significado do trecho que estamos sa forma, “refletiremos a semelhança
analisando. Em uma declaração virtu- de Cristo em tudo que é puro, nobre
almente paralela a essa, ela diz: e amável”. Quando isso ocorrer em
nós, e reagir em cadeia por meio de
Recebendo o Espírito de Cristo - o
nós para milhões de pessoas ao redor
espírito do amor abnegado e do sa-
crifício por outrem - crescereis e pro- do mundo, a ceifa estará madura, e
duzireis fruto. As graças do Espírito Jesus virá ceifá-la.
amadurecerão em vosso caráter. Vos- Portanto, a ênfase na declaração de
sa fé aumentará; vossas convicções Parábolas de Jesus está no ministério
aprofundar-se-ão, vosso amor será encarnacional em favor de outros – um
mais perfeito. Mais e mais refletireis ministério que é amoroso, compassi-
a semelhança de Cristo em tudo que vo e abnegado. Não há aqui nenhum
é puro, nobre e amável.32 enfoque sobre perfeição sem pecado.
“O caráter de Cristo” é o “Espírito do
E quais são esses “frutos”, essas amor abnegado e do sacrifício por ou-
“graças do Espírito” que amadurece- trem”. Não somos capazes de manipu-
rão em nosso caráter? Aqueles des- lar humanamente o tempo da ceifa.
critos por Paulo em Gálatas 5:22, 23,
mencionados por Ellen G. White: Ainda que o homem empregue seus
“amor, alegria, paz, longanimidade, esforços até ao limite extremo, pre-
benignidade, bondade, fé, mansidão, cisará, entretanto, depender daquele
temperança.” Quando esses “frutos” que ligou o semear e o colher pelos
amadurecerem plenamente, Cristo, maravilhosos elos de sua própria
Onipotência.34
o lavrador celestial, imediatamente
lança a foice, diz ela, “porque está
A única maneira de apressar a vin-
chegada a ceifa”.33
da do Senhor é por meio do ministério
Então, segue-se imediatamente a
encarnacional, de serviço amorável
principal declaração que estamos es-
em favor de outros.
tudando – a sra. White repete, em di-
Baseados na íntima conexão entre
ferentes palavras, o amadurecimento
as duas declarações mais importantes
e processo de produção de frutos que
desta seção, podemos agora reformu-
já havia descrito. Claramente o pen- lar a primeira da seguinte maneira:
samento é o mesmo, e as duas decla-
rações são partes de um todo. Cristo aguarda com fremente desejo
Portanto, pode-se concluir que a manifestação do Espírito de Cris-
a reprodução do “caráter de Cristo” to em sua igreja. Quando o Espírito
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do amor abnegado e do sacrifício por professando ser convertidos, carre-


outrem estiver plenamente amadu- gamos conosco um fardo de egoísmo
recido no caráter do seu povo, então que consideramos demasiado precioso
virá para reclamá-los como seus.35 para ser renunciado. É nosso privilé-
gio lançar esse fardo aos pés de Jesus
O editorial analisou o contexto e em seu lugar assumir o caráter e se-
imediato das declarações de Ellen G. melhança de Cristo. O Salvador está
White em Parábolas de Jesus. Esta- esperando que façamos isto.37
va além do objetivo do texto compa-
rar a citação com outros escritos da O ensino das Escrituras
sra. White. Mas agora apresentare- Antes de prosseguir o estudo, é
mos mais dois textos que claramente necessário enfatizar um aspecto me-
confirmam as conclusões já obtidas. todológico da mais elevada impor-
Reflita nelas cuidadosamente, porque tância. Precisamos compreender cla-
elas esclarecem o que Deus requer ramente que tudo que Ellen G. White
hoje de seu povo. Não pense que elas diz sobre vida sem pecado, perfeição
são de relevância secundária. Ao con- ou qualquer outro assunto, deve ser
trário, atingem o próprio âmago do compreendido – segundo ela mesma
evangelho e do que significa ser cris- – à luz das Escrituras. Isso significa
tão. Essas admoestações da sra. Whi- que cada verdade fundamental em
te requerem amabilidade, humildade, seus escritos deve ser demonstrada
amor abnegado. Essas são qualidades pelas Escrituras. “Nossa atitude e
que estão além da capacidade huma- crença têm por base a Bíblia”, disse
na. Ellen G. White afirma: ela. “E nunca queremos que alma ne-
nhuma faça prevalecer os Testemu-
Abnegação, o princípio do reino de nhos sobre a Bíblia”.38
Deus, é o princípio que Satanás odeia; Em outras palavras, se qualquer
ele nega sua própria existência [...]
ponto de nossa fé não pode ser con-
Para refutar a alegação de Satanás está
a obra de Cristo e de todos os que le-
firmado com base apenas nas Escri-
vam o seu nome. Foi para dar com sua turas, então não pode ser aceito. Em
própria vida um exemplo de abnega- The Pharisee’s Guide to Perfect Ho-
ção, que Jesus veio em forma humana. liness, George R. Knight mostra que
Todos os que aceitam este princípio de- a exigência de absoluta perfeição sem
vem ser coobreiros seus e demonstrar pecado (sustentada por Andreasen e
na vida prática esse princípio.36 outros hoje) não possui base bíblica
ou dos escritos de Ellen G. White.39
Ela acrescenta:
Diferente qualidade de justiça?
Se nos humilhássemos diante de Deus,
e fôssemos bondosos e corteses e À luz do que foi discutido até aqui,
compassivos e piedosos, haveria uma temos condições de retornar à questão
centena de conversões à verdade onde inicial – se Deus requer uma diferente
agora só existe uma. Mas, embora norma ou qualidade de justiça da últi-
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ma geração de cristãos, norma que está caracteriza o diabo e todos os que o


acima e além daquela exigida das ge- seguem. Jesus expressou esse concei-
rações anteriores. Examinemos mais to aos líderes judeus que buscavam
detidamente o texto básico usado para assassiná-lo.
sustentar a idéia da absoluta perfeição
sem pecado de um remanescente final: Vós sois do diabo, que é vosso pai
“E não se achou mentira na sua boca; [...] Ele foi homicida desde o prin-
cípio e jamais se firmou na verdade,
não têm mácula” (Ap 14:5). Os dois
porque nele não há verdade. Quando
termos-chaves do versículo, obvia- ele profere mentira, fala do que lhe é
mente, são mentira e mácula. próprio, porque é mentiroso e pai da
Não se achou mentira (em grego, mentira (Jo 8:44).
pseudos ou, segundo alguns manuscri-
tos, dolos) refere-se a uma mentira ou Não é de admirar, portanto, que o
falsidade. A oposição entre verdade e povo remanescente de Deus seja des-
mentira é um tema corrente ao longo crito como não tendo pseudos, nenhu-
das Escrituras. O salmista se referiu ma mentira em sua boca. São compro-
àqueles que “na mentira se compra- metidas com a verdade, recusando-se
zem; de boca bendizem, porém no in- a participar do engano universal que
terior maldizem” (Sl 62:4). “Ninguém ocorreria nos últimos dias, em que
que pratica engano habitará em minha “homens perversos e impostores irão
casa”, disse o Senhor por intermédio de mal a pior, enganando e sendo enga-
de Davi. “O que profere mentiras não nados” (2Tm 3:13). Em contraste com
permanecerá ante os meus olhos” (Sl tão generalizada falsidade e engano, o
101:7). Isaías, tratando do âmago da en- povo de Deus traria as características
fermidade espiritual de Israel, mencio- daquele que declarou: “Eu sou o cami-
nou mãos “contaminadas de sangue”, nho, e a verdade, e a vida” (Jo 14:6).
“dedos, [maculados] de iniqüidade” e A respeito deles é dito: “Não se achou
“lábios [que] falam mentiras” (Is 59:3). mentira na sua boca” (Ap 14:5).
Em uma declaração similar àquela de Portanto, como podemos alegar
Apocalipse 14:5, o profeta Sofonias de- que essa característica pertence apenas
clarou: “Os restantes [ou remanescente] à geração final de cristãos? Isso não fa-
de Israel não cometerão iniqüidade, nem ria qualquer sentido. Quando Jesus viu
proferirão mentira, na sua boca não se Natanael, disse: “Eis um verdadeiro
achará língua enganosa” (Sf 3:13). Es- israelita, em quem não há dolo!” (Jo
sas declarações – e inúmeras outras se- 1:47). É interessante observar que essa
melhantes – eram dirigidas ao povo de declaração foi feita no início – não no
Deus no Antigo Testamento, e, portanto, fim – da caminhada de Natanael com
representavam as expectativas de Deus Jesus. Filipe, aquele que levou Nata-
em relação a gerações passadas. nael a Jesus, poderia não ter reconhe-
Como já mencionado, a palavra cido as qualidades de seu amigo. Nem
grega pseudos (mentira, falsidade) Pedro ou os outros discípulos. Mas
é o oposto de aletheia (verdade) e Jesus o fez. E Ele é o único que pode
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ou precisa fazê-lo – o único para quem blico, mas podemos corretamente


isso realmente importa. Porque “o Se- presumir que o mesmo poderia ter
nhor não vê como vê o homem. O ho- sido dito de Abraão, Isaque, Isaías,
mem vê o exterior, porém o Senhor, o Jeremias, Daniel, Sadraque, Mesa-
coração” (1Sm 16:7). que e Abede-Nego – e de inúmeros
“Não têm mácula” (Ap 14:5). outros do Antigo Testamento.
Portanto, os 144 mil são pessoas que O mesmo quadro geral é apresen-
possuem as características de verdade, tado no Novo Testamento. Sob uma
honestidade e integridade. A palavra variedade de termos, Paulo (como
grega traduzida por “não têm mácula” João em Apocalipse 14:5) transmitiu
é amomos, que significa “imaculado”. a idéia de irrepreensibilidade em re-
Transmite a idéia “de ausência de de- lação aos cristãos do primeiro século
feitos nos animais sacrificiais”, como que estavam aguardando a vinda do
em Números 6:14.40 Em um sentido Senhor. Ele lembrou aos coríntios
moral e religioso, a palavra significa que Deus “vos confirmará até ao fim,
“imaculado”41, a expressão usada em para serdes irrepreensíveis [anegk-
diversas traduções modernas – como, letos] no Dia de nosso Senhor Jesus
por exemplo, a Nova Versão Interna- Cristo” (1Co 1:8; cf. 1Ts 3:13). Sua
cional. Assim, a idéia transmitida é que oração pelos filipenses era que eles
esses santos sobre o monte Sião são sem crescessem “em pleno conhecimento
mácula, repreensão ou mancha. Deus e toda a percepção ... para aprovardes
realizou neles uma poderosa obra. as coisas excelentes e serdes sinceros
e inculpáveis [aproskopos] para o Dia
Um requisito imutável de Cristo” (Fl 1:9, 10). Segundo ele,
A questão, portanto, não é se Deus Cristo morreu “para apresentar-vos
exige um elevado desenvolvimento perante Ele santos, inculpáveis [amo-
espiritual dos santos. Antes, é se esse mos] e irrepreensíveis” (Cl 1:22).
desenvolvimento é uma característica Não pode haver nenhuma dúvida
apenas da última geração de cristãos. acerca da elevada expectativa divi-
Vimos que Deus exigiu das gerações na para os santos do primeiro sécu-
anteriores a mesma e elevada santida- lo. O objetivo de Deus para eles era
de que exige da última. que se tornassem “irrepreensíveis e
Muito tempo atrás Deus descreveu sinceros, filhos de Deus inculpáveis
o patriarca Jó como “íntegro [LXX: [amemptos] no meio de uma geração
amemptos, irepreensível] e reto” (Jó pervertida e corrupta, na qual res-
1:8 e 2:3). E sobre Noé, as Escrituras plandeceis como luzeiros no mun-
declaram: “Noé era um homem justo do” (Fl 2:15).
e íntegro [LXX: teleios, perfeito] en- Os anciãos e diáconos deveriam ser
tre os seus contemporâneos; Noé an- “irrepreensíveis” [anepileptos; anegk-
dava com Deus” (Gn 6:9). Não seria letos] (1Tm 3:10 e 5:7; cf. 1Tm 3:2; Tt
necessário que essa descrição fosse 1:6, 7), bem como todos os membros
utilizada para cada personagem bí- da igreja. Paulo não poderia ter sido
58 / Parousia - 2º semestre de 2008

mais claro sobre esse ponto. gida das gerações anteriores.


O mesmo Deus da paz vos santifique Observemos algumas admoesta-
em tudo; e o vosso espírito, alma e ções feitas no primeiro século:
corpo sejam conservados íntegros e ir-
repreensíveis [amemptos] na vinda de Vai alta a noite, e vem chegando o dia.
nosso Senhor Jesus Cristo (1Ts 5:23). Deixemos, pois, as obras das trevas e
revistamo-nos das armas da luz. An-
E os destinatários da carta de Pedro demos dignamente, como em pleno
deveriam ser “achados por Ele em paz, dia, não em orgias e bebedices, não
em impudicícias e dissoluções, não
sem mácula e irrepreensíveis [amome-
em contendas e ciúmes; mas revesti-
tos]” na vinda do Senhor (2Pe 3:14).
vos do Senhor Jesus Cristo e nada
Alguns poderiam ser tentados a disponhais para a carne no tocante às
sugerir que essas admoestações, fei- suas concupiscências (Rm 13:12-14).
tas por Paulo e Pedro, se baseavam na
noção equivocada de que o fim estava Revesti-vos, pois, como eleitos de
iminente. Mas essa idéia é equivocada. Deus, santos e amados, de ternos afe-
Antes, as admoestações demonstram tos de misericórdia, de bondade, de
que a mensagem de que necessitamos humildade, de mansidão, de longani-
enquanto aguardamos a segunda vin- midade ... acima de tudo isto, porém,
da é a mesma dirigida aos cristãos do esteja o amor, que é o vínculo da per-
primeiro século. E a expectativa é a feição (Cl 3:12-14).
mesma – o fim é iminente.
Mas o fruto do Espírito é: amor, ale-
As mesmas normas elevadas gria, paz, longanimidade, benignida-
de, bondade, fidelidade, mansidão,
Tendo em vista o que foi discutido, domínio próprio. Contra estas coisas
é evidente que Apocalipse 14:5 não faz não há lei. E os que são de Cristo Je-
distinção espiritual entre o remanescen- sus crucificaram a carne, com as suas
te final e os santos das eras passadas. O paixões e concupiscências. Se vive-
que distingue os santos da última ge- mos no Espírito, andemos também
ração será o fato de que, como Jó, eles no Espírito (Gl 5:22-25).
manterão sua lealdade e integridade
durante a mais severa e crucial per- Cristo amou a igreja e a si mesmo se
seguição da história do mundo. Terão entregou por ela, para que a santi-
ficasse, tendo-a purificado por meio
que passar pelo mais aflitivo tempo de
da lavagem de água pela palavra,
angústia, que incluirá as terríveis sete
para a apresentar a si mesmo igre-
últimas pragas (ver Ap 16). Manter le- ja gloriosa, sem mácula, nem ruga,
aldade e integridade diante de tão avas- nem cousa semelhante, porém santa
saladora crise será de fato notável para e sem defeito (Ef 5:25-27).
o Universo. Entretanto, não há qualquer Finalmente, irmãos, nós vos roga-
justificativa para crer que Apocalipse mos e exortamos no Senhor Jesus
14:5 descreve uma qualidade de justiça que, como de nós recebestes, quan-
essencialmente diferente daquela exi- to à maneira por que deveis viver
O que Deus requer? / 59

e agradar a Deus, e efetivamente


estais fazendo, continueis progre- Mas os justos não dirão: “Ainda
dindo cada vez mais; porque estais bem que Você percebeu!” A bonda-
inteirados de quantas instruções de deles, longe de ser uma exibição,
vos demos da parte do Senhor Je- havia sido espontânea e inconscien-
sus. Pois esta é a vontade de Deus: a te, uma reflexão genuína do amor de
vossa santificação (1Ts 4:1-3). Cristo habitando no íntimo. “Senhor,
quando foi que te vimos com fome e
E Ele mesmo concedeu uns para após- te demos de comer?”, eles perguntam.
tolos, outros para profetas, outros para “Ou com sede [...] E quando te vimos
evangelistas e outros para pastores e forasteiro [...] ou nu [...] ? E quanto te
mestres, com vistas ao aperfeiçoa- vimos enfermo ou preso e te fomos?”
mento dos santos para o desempenho (v 37, 38). O Rei responderá: “Em
do seu serviço... até que todos chegue- verdade vos afirmo que, sempre que o
mos à unidade da fé e do pleno conhe- fizestes a um destes meus pequeninos
cimento do Filho de Deus, à perfeita irmãos, a mim o fizestes” (v. 40).
varonilidade, à medida da estatura da
plenitude de Cristo (Ef 4:11-13). Ellen G. White afirma:

Essa última passagem sumariza o Aqueles que Cristo louva no Juízo,


conceito bíblico de perfeição ou santi- talvez tenham conhecido pouco de
dade – maturidade em Cristo.42 teologia, mas nutriram seus princí-
pios. Mediante a influência do Divi-
Pensamentos finais no Espírito, foram uma bênção para
os que os cercavam.43
Quando Jesus vier em glória com
seus poderosos anjos para reunir todos Ela acrescenta:
os povos diante dele, a questão será
notavelmente direta e prática. Como Muitos pensam que seria grande pri-
um pastor separa seu rebanho, Jesus vilégio visitar os cenários da vida de
dividirá toda a humanidade em dois Cristo na Terra [...] Mas não neces-
grupos – as “ovelhas” à direita, os “ca- sitamos ir a Nazaré, a Cafarnaum ou
a Betânia para andar nos passos de
britos” à esquerda (ver Mt 25:31-33).
Jesus. Encontraremos suas pegadas
junto ao leito dos doentes, nas choças
Então, dirá o Rei aos que estiverem
da pobreza, nos apinhados becos das
à sua direita: Vinde, benditos de
grandes cidades, e em qualquer lugar
meu Pai! Entrai na posse do reino
onde há corações humanos necessita-
que vos está preparado desde a fun-
dos de consolação. Fazendo como Je-
dação do mundo. Porque tive fome,
sus fazia quando na Terra, andaremos
e me destes de comer; tive sede, e
em seus passos.44
me destes de beber; era forasteiro,
e me hospedastes; estava nu, e me
vestistes; enfermo, e me visitastes; Afinal, o que Deus requer de nós?
preso, e fostes ver-me” (v. 34-36). O mesmo que Ele exigia de Seu povo
60 / Parousia - 2º semestre de 2008

nas gerações anteriores. É bem pro- diçam tempo e energia lutando sem
vável, obviamente, que seremos jul- resultados positivos tangíveis. O úni-
gados mais severamente do que eles, co resultado obtido é crescente mun-
porque temos sido expostos a muito danismo, materialismo e liberalismo
mais luz do que eles. em alguns setores da igreja. Eles não
A controvérsia que tem consu- estão completamente equivocados
mido a igreja sobre este assunto é quando afirmam que alguns pastores
completamente injustificada. Temos “não estão mais pregando a men-
desperdiçado tempo valioso e desen- sagem”. É possível visitar diversas
corajado a muitos. Se o inimigo não igrejas durante longo tempo e não re-
está por trás disso, duvido de que ele conhecer, por meio dos sermões, que
esteja envolvido em qualquer outra se esteve em um culto adventista do
obra. A ironia é que o “Príncipe da sétimo dia.
Paz” (Is 9:6) tem se tornado, através Este é um tempo confuso, um
da ímpia astúcia do inimigo, a causa tempo frustrante, e, para muitos, um
de praticamente uma guerra interna tempo desencorajador. Mas apenas in-
em algumas de nossas igrejas. tensificaremos o problema ao permitir
É lamentável que, enquanto o que nossa frustração nos leve a abra-
mundanismo e a ignorância sobre a çar uma teologia espúria e errônea em
Bíblia e os escritos de Ellen G. Whi- nome de reavivamento e reforma. Não
te prevalecem entre nós, o ilusório há razão para perder a esperança. A
raciocínio da teologia perfeccionista atual situação desafia cada um de nós
é capaz de atrair a lealdade de nos- a conservar-se alerta e, acima de tudo,
sos influentes e bem-intencionados mantermos a serenidade no Senhor.
membros e líderes, trazendo a here- “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o
sia para dentro das igrejas. O tem- mesmo e o será para sempre” (Hb
po demanda que todos estudemos 13:8). Ele é muito sábio e Todo-Pode-
as Escrituras por nós mesmos; que roso. A obra está em suas poderosas
gastemos todo o tempo necessário mãos. E hoje os seus requisitos são os
para compreender por nós mesmos o mesmo que há muito tempo Ele falara
Espírito de Profecia em seu devido por meio do antigo profeta:
contexto; que sinceramente busque-
mos o Espírito Santo, rogando que Ele te declarou, ó homem, o que é
o reavivamento e a reforma iniciem bom e que é o que o Senhor pede de
por nós, pessoalmente. ti: que pratiques a justiça, e ames a
Nossos irmãos preocupados45 e misericórdia, e andes humildemente
nossos irmãos descontentes46 desper- com o teu Deus” (Mq 6:8).
O que Deus requer? / 61

Referências o contexto, é levado a crer que a ênfase de


Ellen G. White, neste texto, era abordar
1
Publicado originalmente em Roy Ad- a justiça que leva à obediência a todos os
ams, The Nature of Christ: Help for a church mandamentos. Conquanto ela se refira à
divided over perfection (Hagerstwon, MD: obediência como uma manifestação da justi-
Review and Herald, 1994), 113-131. Traduzi- ça de Cristo, o contexto deixa claro que seu
do do original em inglês por Francisco Alves propósito era enfocar novamente a atenção
de Pontes. da igreja para o próprio Cristo para que “não
2
Todas as citações bíblicas foram extra- mais o mundo dissesse que os adventistas do
ídas da tradução Almeida Revista e Atualiza- sétimo dia falam na lei, na lei, mas não en-
da, 2ª edição. sinam a Cristo nem nele crêem” (Testemu-
3
Para estudo introdutório sobre o perfec- nhos para Ministros, 92). Esse é apenas um
cionismo na história da Igreja Adventista do exemplo do desrespeito para com o contexto
Sétimo Dia, ver George R. Knight, A Men- que impregna os escritos de alguns que se-
sagem de 1888 (Tatuí, SP: Casa Publicadora guem as pegadas teológicas de Andreasen.
Brasileira, 2004), 169-181, 191-196; idem, Nesse exemplo eles levam Ellen G. White
Em Busca de Identidade: O desenvolvimento a dar uma ênfase que é exatamente o oposto
das doutrinas adventistas do sétimo dia (Tatuí, do que ela tencionava.
SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 120- 12
Wieland e Short, 1888 Re-examined,
128, 148-156, 174-176 (nota dos revisores). 55.
4
Ver Roy Adams, The Sanctuary Doc- 13
George R. Knight, The Pharisee’s Gui-
trine: Three aproaches in the Seventh-day de to Perfect Holiness: A Study of Sin and
Adventist Church,  Andrews University Se- Salvation (Boise, ID: Pacific Press, 1992),
minary Doctoral Dissertation Series, vol. 1 171.
(Berrien Springs, MI: Andrews University 14
The Seventh-day Adventist Bible Com-
Press, 1981), 179, 180. mentary (Washington, DC: Review and He-
5
M. L. Andreasen, The Book of Hebrews rald), Ellen G. White Comments, 5:1085;
(Washington, DC: Review and Herald, 1948), citado em Knight, The Pharisee’s Guide to
467. Perfect Holiness, 171.
6
Idem, Isaiah: The Gospel Prophet 15
Ellen G. White, Parábolas de Jesus,
(Washington, DC: Review and Herald, 330; citado em Knight, The Pharisee’s Guide
1928), 82; idem, The Sabbath, Which Day to Perfect Holiness, 171.
and Why? (Washington, DC: Review and 16
White, Parábolas de Jesus, 330.
Herald, 1942), 246, 255; idem, The Book 17
Ellen G. White, O Desejado de To-
of Hebrews, 468; cf. Adams, The Sanctuary das as Nações, 671; citado em Knight, The
Doctrine, 212. Pharisee’s Guide to Perfect Holiness, 173.
7
M. L. Andreasen, Letters to the Chur- 8
Ellen G. White, Testemunhos Para
ches (Baker, OR: Hudson Printing Company, a Igreja, 2:549 citado em Knight, The
1959), 11-14. Pharisee’s Guide to Perfect Holiness, 174;
8
Robert J. Wieland, The 1888 Message: grifos supridos.
An Introduction (Nashville, TN: Southern 9
Ellen G. White, Review and Herald, 5
Publishing Association, 1980), 38. de fevereiro de 1895, 81; citado em Knight,
9
Ibid., 111. The Pharisee’s Guide to Perfect Holiness,
10
Ibid., 87. 174.
11
Robert J. Wieland e Donald Short, 20
Ellen G. White, Manuscrito 24, 1892,
1888 Re-examined   (Uniontown, OH: The em The Ellen G. White 1888 Materials (Wa-
1888 Message Study Committee, 1987), shington, DC: Ellen G. White Estate, 1987),
53. Wieland e Short se referem a Testemu- 1089; citado em Knight, The Pharisee’s Gui-
nhos para Ministros, 92, como a fonte da de to Perfect Holiness, 174.
frase “obediência a todos os mandamentos 21
Ellen G. White, O Grande Conflito, 472.
de Deus.” Disto o leitor, não conhecendo 22
Ibid. 471.
62 / Parousia - 2º semestre de 2008
23
Ibid., 472. Mateus 5:48 (“Portanto, sede vós perfeitos”),
24
Ibid., 473. ver William Richardson, “The Unfavorite
25
Knight, The Pharisee’s Guide to Per- Text”, Adventist Review, 14 de outubro de
fect Holiness, 180. 1993, 8-10. Ver também Rodrigo P. Silva,
26
Ellen G. White, Caminho a Cristo, 57. “Seria Deus ‘perfeito’?: Uma análise lingü-
27
Ann Cunningham Burke, “The Adven- ística de Mateus 5:48”, nesta edição de Pa-
tist Elephant”, Adventist Review, 27 de agosto rousia.
de 1987, 9; citado em Knight, The Pharisee’s 43
White, O Desejado de Todas as Na-
Guide to Perfect Holiness, 182. ções, 638.
28
White, Parábolas de Jesus, 384; grifos 44
Ibid., 640.
acrescentados. 45
O autor utiliza a expressão “irmãos
29
White, Parábolas de Jesus, 69; grifos preocupados” (em inglês, concerned bre-
acrescentados. thren) para se referir aos adventistas que “es-
30
Ibid., 66, 67. tão em nítido desacordo com a liderança da
31
Ibidem. igreja e com a igreja em geral a respeito de
32
Ibid., 68; grifos acrescentados. determinadas questões teológicas ou admi-
33
Ibid., 69. nistrativas”, mas “geralmente não apóiam ou
34
Ibid., 63. participam de posturas ou atividades divisi-
35
Roy Adams, “What Did She Mean?”, vas” (Adams, The Nature of Christ, 11. Nota
Adventist Review, 3 de setembro de 1992, 4. dos revisores).
36
Ellen G. White, Educação, 154; grifos 46
“Irmãos descontentes” (em inglês,
acrescentados. disaffected brethren) são os “adventistas
37
Idem, Testemunhos Para a Igreja, que, em algum grau, encontram-se em gra-
9:189, 190; grifos acrescentados. ve desacordo com a liderança da igreja ou
38
Idem, Evangelismo, 256; ver também com a igreja como um todo em questões
256, 257. de doutrina, missão ou administração. Em
39
Knight, The Pharisee’s Guide to Per- aberta oposição à liderança da igreja, em
fect Holiness, capítulos 7-9. alguns casos esses irmãos formam suas pró-
40
W. F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek- prias congregações, recolhem seus próprios
English Lexicon of the New Testament and dízimos, promovem suas próprias reuniões
Other Early Christian Literature (Chicago: campais, publicam suas próprias revistas e
University of Chicago Press, 1979), 47. até realizam suas próprias ordenações ao
41
Ibid., p. 48. ministério” (Adams, The Nature of Christ,
42
Para estudo da declaração de Jesus em 11. Nota dos revisores).

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