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Espírito Conservador – II
Conservadores do Brasil
Brasil, janeiro de 2017
Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o
fogo do Vosso Amor.
Enviai, Senhor, o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da
terra.
Ó Deus, que instruístes os corações dos Vossos fiéis com a luz do Espírito
Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo este mesmo
Espírito e gozemos sempre de Sua consolação.
Por Cristo, Senhor nosso
Amém
EDITORIAL

A busca pelo resgate do conservadorismo no Brasil prossegue neste


segundo volume da Coleção Espírito Conservador.
A proposta editorial de promover quatro ensaios político-filosóficos a
cada volume fortalece-se para avançar pelas próximas edições a serem
lançadas regularmente pelos autores.
Espera-se que a coleção continue a oferecer sua modesta parcela de
contribuição à restauração necessária, urgente e inadiável do pensamento
conservador em terras brasileiras.
ÍNDICE

1. Família e conservadorismo. A família fértil é a célula social capaz


de sozinha reiniciar a humanidade. Cada família é como um país soberano,
que se defende contra todas as formas de totalitarismo. A família é o centro
do exercício dos valores, no qual o respeito e o amor são ensinados e vividos
espontaneamente. Conservar a família é conservar a própria civilização. Por
Reno Martins.

2. O ambientalismo conservador. A causa ambiental encontra-se


sequestrada pelos movimentos revolucionários, autoritários e anticapitalistas,
a despeito de ser conservadora por excelência, desde que pautada por
soluções locais, tradicionalistas e de senso comum. Por Marcelo Hipólito.

3. Somos todos corruptos. Todos nós! Somente uma sólida formação


moral pode subjugar esse desvio humano. Há, pelo menos, 2.000 anos, moral,
no Ocidente, é sinônimo de cristianismo. Por Reno Martins.

4. Por que não há um partido conservador no Brasil? O Partido


Conservador do Império do Brasil foi uma das mais importantes agremiações
políticas do Hemisfério Sul, indissociável da própria construção da nossa
unidade nacional. Como então é possível um país com um histórico tão
admirável não dispor de um partido conservador na atualidade? Por Marcelo
Hipólito.

5. Autores. Breves biografias: Marcelo Hipólito e Reno Martins.


I
Família e conservadorismo
Reno Martins

Aqueles que acompanham debates conservadores costumam se deparar


com o argumento da necessidade de preservação da família, constantemente
ameaçada pelos movimentos progressistas, que, nesse sentido, usam de todas
as armas possíveis, desde reengenharia cultural até a formação de lobbies
para a aprovação de leis direcionadas.
A impregnação cultural da ideologia de esquerda saturou a tal ponto a
sociedade brasileira que, por toda parte, difunde-se o termo família
tradicional, como se outro tipo de família fosse possível. O assunto é
extremamente grave e necessita de esclarecimento urgente. Compreender
“família” como um “conjunto de pessoas que convive e guarda entre si laços
afetivos” é superficial demais para abarcar a gravidade do que acontece.
O conceito de família envolve pelo menos outros dois aspectos
essenciais, propositalmente suprimidos do debate público pelos esquerdistas:
o social-civilizacional e o político.
O aspecto social-civilizacional se expressa no aforisma “a família é a
célula da sociedade”. Como “célula”, entende-se a unidade mínima, a menor
parcela possível. Em outras palavras, caso ocorresse um cataclismo – como
uma hecatombe nuclear, uma praga devastadora ou um novo Dilúvio – a
sobrevivência de uma única família, como a de Adão ou Noé, seria suficiente
para o restabelecimento de toda a sociedade. A família, assim, é a semente, a
célula da qual pode ser restaurada a civilização. Numa situação normal, seria
desnecessário ressaltar o imperativo dessa célula como unidade fértil
fundamental. Mas não vivemos em tempos normais. O aspecto da fertilidade
é algo tão imprescindível que para a Igreja – à qual o matrimônio é um
sacramento indissolúvel, firmado diante de Deus – casamentos podem ser
declarados nulos caso a união seja incapaz de gerar filhos. A relevância disso
é tão universal que Josef Stalin voltou atrás em ditames da revolução sexual
impingida pela Revolução Comunista Russa, proibindo o uso de
anticoncepcionais e a realização de abortos a partir de 1936. Essas práticas
voltaram a ser legalmente permitidas no país somente dois anos depois de sua
morte.
Família, entendida como unidade mínima da sociedade, precisa ser
fértil, ou unidade mínima da sociedade ela não é. O concubinato
homossexual, evidentemente, não é capaz de cumprir esse papel. Alegações
mirabolantes, como o desenvolvimento tecnológico, a possibilidade de
inseminações ou clonagens, são infundadas; já que, uma vez separados do
resto da sociedade, casais estéreis não podem se reproduzir e, do ponto de
vista social-civilizacional, não há e jamais poderá haver equivalência entre as
uniões naturalmente férteis e as estéreis. Evidentemente, a impossibilidade
dessa equivalência não impede que casais estéreis cuidem de crianças. Na
verdade, até pessoas solteiras ou instituições, como orfanatos, podem fazer
isso, desde que orientados pelo amor fraterno às crianças – uma graça de
Deus.
O aspecto político da família se expressa no fato de ela ter uma
estrutura hierárquica definida, independente de agentes externos. Os filhos
submetem-se aos pais, e os pais relacionam-se entre si, conforme um arranjo
particular de preponderância, dado o assunto e o momento.
A família, em seu próprio círculo, é plenamente soberana: legisla,
executa, julga, defende-se. Cada família, assim, é naturalmente um “pequeno
estado”, um contraponto físico e psicológico contra a tirania externa, um
núcleo natural de resistência ao totalitarismo. Considerada pelos radicais um
bastião da ordem burguesa, a destruição desse núcleo é, portanto, essencial ao
processo de revolução socialista, cuja visão deturpada sobre a vida humana
em sociedade acha-se nos trabalhos de apologistas como Max Horkheimer,
da Escola de Frankfurt:
A família destacou-se sempre com maior importância na educação da
submissão à autoridade. A força que o pai exerce sobre o filho é
apresentada como relação moral, e quando a criança aprende a amar
o seu pai de todo o coração, está na realidade recebendo sua primeira
iniciação na relação burguesa de autoridade. Obviamente estas
relações não são conhecidas em suas verdadeiras causas sociais, mas
encobertas por ideologias religiosas e metafísicas que as tornam
incompreensíveis e fazendo parecer a família como algo ideal até
mesmo em uma modernidade em que, comparada com as
possibilidades pedagógicas da sociedade, a família somente oferece
condições miseráveis para a educação humana.[1]
Destarte, para extirpar a “relação burguesa”, a família precisa ser
destruída, com todas as armas, inclusive implantando medidas para
desautorizar os pais no seio do lar, retirar os filhos da sua tutoria, banalizar o
adultério para promover a confusão e a separação dos cônjuges, desestabilizar
os filhos num ambiente de degradação açoitado pela ociosidade forçada,
drogas liberadas, erotização desajustada e precoce. No Brasil, depois de
décadas de dominação esquerdista, encabeçadas pelo PT e PSDB, esse
processo já se verifica em estágio avançado.
Contudo, se permanecerem integrais seus fundamentos, a família
perseverará; fortaleza sólida e intransponível aos perniciosos reformadores do
gênero humano.
Apenas se desmembrada dos seus valores harmônicos – hierarquia,
confiança, compreensão, amor, fidelidade – seus membros expõem-se à ação
radical daqueles que proclamam abertamente a sua destruição; “reforma” é a
palavra da moda.
Os laços de sangue, com a graça de Deus, permitem ao amor superar
todos os caprichos do temperamento humano. Sob os laços sagrados do
matrimônio, pela espontânea devoção paternal e filial, a família se aceita e
convive com todas as virtudes e defeitos de cada um de seus integrantes.
Decepção, frustação, desaprovação, tudo isso pode existir e efetivamente
existe, porém, o total abandono de um membro pela família, por mais
problemático que ele seja, é algo tão chocante e desvinculado da natureza
humana que é matéria de constante exploração por parte da nossa apelativa
indústria de entretenimento.
A família é algo muito mais poderoso do que um mero ajuntamento de
amigos. Ela não é passível de “escolha” como os reformadores querem nos
convencer. Em sua santa soberania, uma família pode abraçar novos
membros – por matrimônio ou adoção –, mas se desvincular dela não é uma
opção disponível. Os laços familiares legítimos são perenes e indestrutíveis.
Se, para socialistas e comunistas, o foco é na construção de uma
sociedade totalitária, amorfa e impessoal, capaz de neutralizar a
individualidade dos seus membros; os liberais, por sua vez, aferram-se ao
hedonismo do indivíduo solitário, o qual, por definição, não representa
sociedade alguma.
Diferentemente, o conservador tem na família em Deus o centro do seu
cuidado e atenção. A família é o núcleo do exercício dos valores, no qual o
respeito e o amor são ensinados e vividos espontaneamente. Ela é a escola
natural a agregar de modo justo as gerações, em que os mais novos não estão
condenados a repetir os erros já provados pelos mais velhos.
Para o conservador, cada família em crise é um país que soçobra; cada
família destruída, uma nação que tomba. Basta se esquecer das suas
obrigações em relação ao próximo para que se permita o individualismo
doentio prosperar.
Pelo abençoado amor, cuide da sua família. Por amor fraternal e santa
gratidão, ajude os outros a cuidar da família deles. Assim, conservando a
família, você estará ajudando a preservar nossa civilização.
II
O ambientalismo conservador
Marcelo Hipólito
“Deus baniu Adão e Eva e no lado leste do jardim do Éden estabeleceu seus
querubins e uma espada flamejante que se movia em todas as direções,
evitando assim que alguém tivesse acesso à árvore da vida”.
— Gênesis 3:24

Conforme as Escrituras, desde a queda da humanidade, lutamos para


prevalecer sobre a natureza. Ao abandonarmos a vida nômade para virar
pastores e agricultores, nossa espécie se firmou em espaços territoriais
restritos. Relegamos a liberdade ampla do caçador pelas limitações do
sedentarismo. Estas nos permitiram acumular grãos e desfrutar de uma dieta
regular de proteína animal domesticada. Avançamos do mero estado de
sobrevivência às fundações primordiais da civilização. Assim, multiplicaram-
se nossas taxas de reprodução e, por conseguinte, cresceram nossas
necessidades de consumo dos recursos naturais disponíveis.
Depois de milhares de anos, essa lógica ainda persevera a despeito de
alterada em escala aos níveis globais da atualidade. Destarte, o
conservacionismo baseado na sabedoria popular, na experiência
compartilhada pela comunidade, desde seus estágios mais primitivos,
continua servindo de contrapeso ao consumismo imprevidente, renegado,
desde sempre, até mesmo por antigos contos infantis (como na versão
original da bela fábula moral da Cigarra e da Formiga).
Nossos antepassados compreendiam essa obviedade: o uso desenfreado
dos recursos locais tende a legar fome e ruína à sociedade. Em outras
palavras, prezava-se a natureza não pela bondade d´alma, mas sim, segundo
os interesses de sobrevivência e prosperidade da própria comunidade no
longo prazo.
De fato, enquanto os prejuízos ambientais ocorriam em escala local,
uma comunidade podia atuar para dirimi-los ou controlá-los, valendo-se dos
seus costumes e das soluções formuladas e testadas pelas gerações anteriores.
Todavia, a expansão das comunidades humanas levou à progressiva
redução do poder local e à transferência de parte da sua autonomia a uma
burocracia cada vez mais fria e centralizada de um Estado insensível,
resguardado por seus palácios e fortalezas; muitas vezes alheio ao impacto
ambiental remoto das suas decisões generalistas e padronizadas.
O conservadorismo é a principal linha de defesa daquilo que é mais caro
à sociedade, que a população toma como indispensável à sua sobrevivência e
prosperidade. Daí a proteção do meio ambiente se assumir também como
uma ação conservadora por excelência, já que atua, no presente, na
preservação, às gerações futuras, dos meios e recursos que lhes permitam
perseverar e progredir.
Compete aos conservadores salvaguardar os recursos naturais herdados
dos nossos ancestrais a serem disponibilizados à nossa descendência. Essa
linha de interdependência geracional explica a atitude conservadora voltada
ao benefício humano como uma obrigação inalienável, e não um mero direito
adquirido, por definição uma pretensão humana insensata, irracional e
insubstancial.
O conservadorismo não se confunde com o ambientalismo militante,
fanático, delirante, revolucionário e anticapitalista, que nega o engenho
humano como motor da geração de riqueza, bem como a prerrogativa da
nossa espécie de usufruir da natureza.
A militância verde radicalizada distorce as tradições e os fundamentos
morais da sociedade, segundo os ditames da sua agenda ideológica. Nestes
tempos de hegemonia cultural esquerdista, despontam leis mais severas a
maus-tratos aos animais do que ao abuso de seres humanos. Regiões inteiras
são designadas inacessíveis à ação humana, em vez de estarem a serviço da
sociedade. Ecoterroristas atacam laboratórios de pesquisa, destruindo
descobertas relevantes à melhoria da expectativa e qualidade de vida de
adultos e crianças.
Esse extremismo afronta o primado do valor supremo da vida humana,
inclusive sua precedência sobre a vida animal, por mais “fofinhas” que
determinadas espécies possam aparentar.
Aqui não se faz a defesa da crueldade em relação aos animais, longe
disso, mas sim, da prática responsável de sua exploração pela ciência, da
superioridade inquestionável da humanidade sobre a natureza.
O conservador deve atentar também aos riscos do liberalismo, uma
ideologia limitada à via econômica da existência humana e, portanto,
individualista por concepção, desprovida da crença conservadora no poder
moral e afetivo que só podem florescer no âmbito do convívio familiar,
religioso e comunitário.
Os ultraliberais se opõem a quaisquer limitações significativas à busca
do lucro, submetendo o futuro à lógica do ganho irresponsável e do
consumismo insensato no presente. Seu imediatismo arrisca os esforços de
preservação dos recursos naturais disponíveis, indispensáveis à prosperidade
dos que ainda nascerão, e que, logicamente, encontram-se, no presente,
impedidos de defender seus próprios interesses.
Nossa responsabilidade em prover um futuro viável aos nossos
sucessores exige nada menos do que a atitude prudente e equilibrada dos
conservadores. Da mesma forma que combatemos a pregação revolucionária
da prevalência da natureza sobre o homem, devemos também rejeitar a
voracidade do consumismo liberal predatório e amoral.
Nesse contexto, o ambientalismo conservador desponta como a força de
promoção das prerrogativas locais como meio de enfrentamento dos
problemas ambientais.
Soluções locais devem ser discutidas e acordadas em conjunto pela
comunidade, segundo suas tradições e costumes, livres da interferência de um
poder central, indistinto e remoto.
É na comunidade onde vivem os cidadãos familiarizados com as
particularidades do seu lar, conhecimento repassado de pai para filho.
Arranjos locais representam o melhor antídoto às pretensões
burocráticas (ou totalitárias) de governos centralistas, senhores das soluções
engessadas, impessoais, tecnicistas. Não existe maior ferramenta política do
que a democracia dos locais, em tudo superior à democracia do homem-
massa caracterizada por uma visão rasa de curto prazo, sintoma de eleições
generalistas, amplas, desfocadas, fundamentalmente condenadas à
irrealização total ou parcial das propostas ventiladas por uma classe política
indiferente.
Deriva daí a animosidade do ambientalismo conservador perante
soluções de caráter internacionalista (ou globalizante) e sua aversão a
proposições de cunho meramente econômico, fadadas a arruinarem o futuro
dos que ainda virão a nascer pela ganância dos que, por força do acaso,
encontram-se vivos no presente.
Para o conservador, é inegociável sua responsabilidade em preservar a
herança dos nossos ancestrais, garantindo sua transmissão segura e efetiva às
gerações seguintes.
A defesa conservadora do meio ambiente deriva dos mesmos princípios
indissociáveis do espírito humano: a valorização das tradições e dos costumes
locais, do amor a Deus e ao próximo, do apego cristão à família, vizinhança,
comunidade e nação.
Diante das imensas riquezas naturais do Brasil, o movimento
conservador nacional tem a obrigação de assumir para si a causa do
ambientalismo, alienando os discursos irresponsáveis do socialismo verde e
do liberalismo militante.
O conservadorismo brasileiro pode se destacar, nacional e
internacionalmente, em uma arena política e cultural na qual outros
movimentos conservadores pelo mundo revelaram-se hesitantes ou
equivocados.
Para tanto, a solução ambientalista conservadora no Brasil deve recorrer
à valorização dos costumes e instituições locais, defendendo as escolhas
gestadas no seio da própria comunidade.
A construção de um país melhor passa por um projeto conservador
disposto a lutar pela redução do poder central de Brasília, em prol de uma
verdadeira autonomia das comunidades, para que a população local possa
finalmente decidir por si mesma o presente e o futuro mais apropriados à
prosperidade e segurança das suas famílias.
III
Somos todos corruptos
Reno Martins

Somos todos, meu caro leitor. Você e eu. Cada um de nós. Ninguém em
nossos dias nasce sem essa mácula, nem nascerá nos dias vindouros. Há,
entre nós, uma geração de olhos altivos, que calunia seus pais e julga-se pura,
porém, não está limpa da sua mancha, a qual lhes contamina os pensamentos
e atos.
Apenas uma sólida formação moral pode controlar os efeitos maléficos
desses espinheiros que crescem fundo em nossos corações. Há, pelo menos,
2.000 anos que moral no Ocidente é sinônimo de cristianismo.
Para os filhos da Cristandade, aceitem ou neguem a venturosa herança,
o cristianismo é o fundamento da sua formação moral, a régua que separa um
procedimento ético de um não ético. Quanto mais ético mais cristão. Quanto
menos ético menos cristão.
Alguns imprevidentes esperam fugir dessa regra, assumindo referências
morais de outras filosofias, contudo, enganam-se. Em nossa civilização, tais
filosofias só são éticas se convergirem ao cristianismo. Elas próprias são
mero realinhamento dos mesmíssimos valores cristãos, havendo divergência
em pontos particulares, geralmente algum assunto da moda, do qual o adepto
adota uma leitura alternativa, na maioria das vezes por incapacidade de
analisar a consistência dos seus princípios como um todo.
Já outros acreditam num padrão ético completamente independente, o
qual, na prática, dispõe de tanta chance de sucesso quanto, no início do
século XXI, de se construir um trem-bala entre as cidades de São Paulo e do
Rio de Janeiro. A história das reengenharias sociais testadas pelo mundo
reitera esse trágico fracasso com a sua óbvia e profícua produção de
cadáveres.
Qualquer filosofia que se baseie no princípio da boa natureza humana
está condenada ao fracasso. Qualquer filosofia que se assente em punir
mortalmente seus opositores de boa fé está condenada à barbárie. Desconfie
de qualquer moral que produza pessoas com as quais você não queira
conviver como amigas ou inimigas.
Na política brasileira, o relativismo ético disseminado advém de
décadas de enganação, em que, para se elegerem, políticos fingem abraçar os
mesmos princípios éticos do restante da população, apenas para depois eles
mesmos os deturparem, alegando que estes jamais haviam sido possíveis,
necessários ou sequer desejáveis. Proclamam “boa intenção” ou “ignorância”
e, por meio delas, alienam os mesmos princípios pelos quais foram eleitos.
Enaltecem os fins em detrimento dos meios, ignorando serem os meios
determinantes dos fins. Ventilam a falibilidade geral e indiscriminada e, com
isso, buscam se isentar dos seus desvios e crimes. Como crianças, almejam
usufruir das vantagens da matriz moral, mas sem arcarem com o fardo de se
submeter a ela.
No cristianismo, a falibilidade é motivo de constante alerta, não de
justificação. O perdão ocorre somente nos casos de ignorância do agente ou
de arrependimento sincero pelos erros cometidos. Em nenhum caso, contudo,
cabe isenção das compensações possíveis, das penitências devidas e das
orações indispensáveis à Santa e Infinita Misericórdia de Deus. A exigência é
que se seja perfeito, como o Pai Celeste é perfeito[2]. Cada erro tem seu preço,
cada falha está registrada, toda falta é motivo potencial para condenação. Foi
dito, em verdade, que dessa prisão não se sairá antes que seja pago até o
último centavo[3].
A moral cristã, alicerce da nossa civilização, não é frouxa ou
displicente, como advogam os oportunistas. Apesar de calorosa e
compreensiva, ela sabe ser dura e inflexível quando necessário. Somos todos
corruptos, mas uma sólida formação moral pode servir como escudo contra as
tentações e desvios inatos.
Ao escolhermos representantes que não proclamam os valores cristãos –
requisito indispensável, ainda que insuficiente para elegê-los –, não devemos
nos surpreender quando sua conduta ética diverge daquilo que consideramos
justo e belo. ...É bom nos lembrarmos disso nas próximas eleições.
IV
Por que não há um partido conservador no Brasil?
Marcelo Hipólito

A pergunta que intitula este ensaio reflete um paradoxo da política


brasileira: o Brasil permanece a única grande democracia a não dispor de um
partido político conservador (ou de direita) relevante, a despeito das
preferências inatas da maioria da sua população.
São ainda poucos os políticos no país que pessoalmente se assumem de
direita. O jovem Partido Novo, por exemplo, oficializado pela Justiça
Eleitoral em 2015, habitualmente tratado pela imprensa como “de direita” por
sua agenda liberal, vivencia essa nebulosidade de princípios. Seu presidente e
fundador, João Dionísio Amoêdo, mostra-se “incomodado quando dizem que
o Novo é “de direita”, as principais bandeiras do partido – como a redução da
presença do Estado na economia, a privatização, inclusive da Petrobras, o
corte de impostos e maior eficiência na gestão do Estado – são as mesmas
defendidas pelos grandes partidos de direita em todo o mundo. (Nas questões
comportamentais, como o aborto e a liberação da maconha, o Novo prefere
não se posicionar por ora, para evitar divisões internas – os conservadores
defendem a abertura econômica, mas são mais rígidos nos costumes,
enquanto os liberais mais puros apoiam maior liberdade nos dois campos.)”
[4]

Por sua fé na democracia, os conservadores reconhecem a necessidade


da existência de um partido liberal no Brasil (eu mesmo somei minha
assinatura às centenas de milhares que possibilitaram a formalização do
Partido Novo na Justiça Eleitoral). Contudo, o conservadorismo nacional não
deve esperar que um partido liberal, criado e dirigido por liberais, represente
suas causas.
Conservadores são, acima de tudo, realistas, e, portanto, cientes de que
ainda precisam trabalhar muito para reconquistar seu devido espaço na
política brasileira.
O Brasil experimentou avanços históricos invejáveis sob a bandeira do
conservadorismo, quando o Império do Brasil e seus sólidos fundamentos
morais e institucionais elevavam sobremaneira a autoestima do povo
brasileiro. Um tempo de esperança, fé e prosperidade, em que a política
gozava de respeitabilidade popular e o país se afirmava perante o amplo
concerto das nações. Nas palavras do Conde de Affonso Celso, um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras: “(...) o Império foi a fase áurea
do nosso evolver. No decurso dele, inúmeros degraus galgamos na escala da
civilização. Éramos um povo respeitado e forte. As velhas nações poderosas
nos designavam como juiz em suas contendas, curvando-se à nossa decisão.
Nosso crédito emparelhava com o dos mais prósperos governos.
Dispúnhamos de confiança universal. No interior, tínhamos paz, ordem,
garantias, moralidade. Funcionava a administração com a regularidade
desejável. Invioláveis os direitos do cidadão. Dominante a opinião pública.
Vivíamos prósperos e felizes. Auspicioso se nos antolhava o mais remoto
porvir. Iluminavam-nos principalmente a máxima liberdade, a tolerância
absoluta. Constituíamos a consoladora exceção da América Meridional, nada
invejando, sob múltiplos aspectos, a grandiosa confederação do norte”. [5]
No período imperial, alternavam-se, democraticamente, duas grandes
agremiações de direita, mestres da cena política brasileira durante nossa
saudosa, estável e altiva monarquia parlamentar: o Partido Conservador e o
Partido Liberal.
O golpe de Estado desfechado, em 15 de novembro de 1889, pelas
forças revoltosas do Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente (e
ditador) da República do Brasil, lançou o país numa sequência interminável
de instabilidade política e agitação sediciosa, escancarando as porteiras do
Inferno ao avanço extremista na vida nacional, um desastre gestado no seio
das próprias forças armadas (décadas depois, o termo “Revolução” seria
utilizado pelos militares para designar seus esforços de contenção
anticomunista no golpe de 1964). A loucura revolucionária inaugurada pelo
exército, em 1889, culminaria na degeneração moral da Nova República e
nos governos de extrema-esquerda do início do século XXI no Brasil.
A proclamação liberticida da República desviou a nação brasileira dos
seus pilares constitutivos (catolicismo, monarquia e poder moderador),
alçando ao poder uma elite contaminada por ideais estrangeiros (positivismo,
marxismo, fascismo, entre outros), que descambariam nas ditaduras
sangrentas de Floriano Peixoto e Getúlio Vargas, no fanatismo de Prestes,
Marighella e Lamarca, na mentalidade distorcida do Tenentismo e do
Coronelismo, na heresia da Teologia da Libertação.
Essas forças extremistas solaparam o pensamento conservador
brasileiro e sua capacidade de resistir à agenda de destruição das tradições e
costumes do nosso povo.
O conservadorismo no Brasil não ostenta um caráter restaurador apenas
pelo seu passado monárquico – de fato, restaurar autoridade imperial
permanece uma tarefa indispensável à recuperação de instituições
representativas das melhores tradições e crenças da nossa população –, mas
também, devido à necessidade de refundação do próprio movimento
conservador contra o qual se enfileiram os radicais da Nova República.
O ressurgimento do conservadorismo representa um urgente anseio
popular por uma força capaz de se contrapor aos movimentos revolucionários
e seus sicários espalhados pela sociedade.
Em geral, partidos conservadores erguem-se justamente nesses
momentos de grave perigo, quando o cidadão comum percebe a ameaça
extremista contra suas tradições, costumes, família, liberdade, propriedade,
segurança.
O povo brasileiro é menos interessado em política do que na criação dos
seus filhos num ambiente de paz e esperança. Ainda assim, a proteção de
tudo aquilo que essa população mais ama – Deus, família, pátria, comunidade
–, repousa na resiliência do conservadorismo nacional: a última linha de
defesa contra a barbárie dos radicais.
Esse é a grande e sagrada missão do movimento conservador brasileiro;
não devemos falhar ao chamado maior do Brasil, da nossa causa e do nosso
povo.
V
Autores

Marcelo Hipólito é um escritor brasileiro,


nascido em São Paulo. Residente em Brasília, casado, pai de dois filhos,
autor de três romances e coautor de diversos contos publicados em língua
inglesa, nos EUA, Reino Unido e Espanha, dentre os quais se destaca a
indicação a melhor conto nos EUA, em 2003, pelo Preditors & Editors
Readers Poll. Hipólito ministra palestras em importantes eventos, como: o
Festival Literário de Poços de Caldas – Flipoços 2015, a Feira do Livro de
Joinville de 2015 e o 1º Congresso Nacional de Escrita Criativa, de 2016.
Hipólito é filiado ao Movimento Viva Brasil e ao Instituto Conservador de
Brasília. É, ainda, diretor de três filmes de curta-metragem de ficção,
roteirista de cinema e produtor de teatro.
Reno Martins, nascido no Rio Grande do
Norte, é católico, mestre em economia e professor. Casado, pai de dois filhos
e chefe escoteiro, Reno desenvolve estudos nas áreas de filosofia política e
religião, com especial dedicação à guerra cultural e à tradição cristã no Brasil.
Adicionalmente, é apaixonado por prosa poética, bem como assuntos pouco
usuais, como: ufologia e alquimia.
[1]. Max Horkheimer: Autoridade e Família, 1936, republicado posteriormente em Teoria Critíca, 1968. Citado em
http://reaconaria.org/blog/reacablog/temer-promete-combater-ideologia-de-genero-saiba-o-que-isso-significa/. Acesso
em 29/07/2016. O artigo cita outras fontes primárias sobre o assunto.
[2]
Mateus 5:48.
[3]
Mateus 5:26.
[4]
FUCS, J. (3 de 11 de 2015). Partido Novo, o intruso liberal na política brasileira. Fonte: Revista Época:
http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/11/partido-novo-o-intruso-liberal-na-politica-brasileira.html
[5]
Celso, C. d. (2013). O Imperador no Exílio. São Paulo: Linotipo Digital.

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