BREVES COMENTÁRIOS
4. Não trata a lei apenas dos danos ocasionados no imóvel pelo locatário, individualmente;
o dever de reparação persiste, igualmente, se o uso irregular for provocado por seus
dependentes, familiares, visitantes ou prepostos (art. 23, V, parte final).
5. Se o locatário não proceder aos reparos devidos no imóvel locado, provenientes do uso
anormal da coisa, restam ao locador duas possibilidades:
1ª) pedir a rescisão do contrato de locação, ajuizando ação de despejo fundada na violação
de dever legal - art. 9°, inciso II, da Lei 8.245/91; e
2ª) ajuizar ação visando o ressarcimento pelos danos causados em seu imóvel, apurados
mediante a realização de perícia, buscando a exata dimensão dos prejuízos, a fim de fixar-
se um "quantum" indenizatório;
6. A ação de cunho indenizatório, em que se pretenda aferir o nexo entre a causa e o dano
depende da realização de prova, normalmente, a pericial; aliás, este meio de prova poderá
ser concretizado antes mesmo do ajuizamento da demanda, mediante a propositura de
medida cautelar de vistoria. Muito embora a cautelar de vistoria não se revele medida
preparatória obrigatória à ação de reparação de danos, não se pode deixar de reconhecer
que em determinados casos, trata-se de providência acautelatória que propicia o resguardo
de informações a serem objeto de perícia, levando aos autos da ação de indenização a ser
proposta, elementos de convicção que, se não realizada a prova antecipadamente,
poderiam se perder ou mesmo ensejar dúvida, pelo decurso do tempo. Difícil pode se
mostrar ao locador a comprovação da situação de conservação do imóvel e eventuais
danos nele ocasionados, se realizada a perícia anos após a desocupação do prédio.
8. Assim, se a lei não exige a vistoria como requisito indispensável da indenização, é porque
a extensão dos danos pode restar evidenciada por outros meios probatórios, desde que
firmes e concludentes, inclusive no curso da ação, como prova testemunhal, prova
documental (orçamentos, fotografias), etc. Em outras palavras: a vistoria prévia melhor se
presta para fundar o pedido indenizatório, contudo, jamais pode ser considerada
como único meio de prova.
11. Não podem ser considerados danos no imóvel, as modificações necessárias para
viabilizar o funcionamento de atividade comercial no imóvel, pelo locatário, desde que
autorizadas pelo locador. Tampouco podem ser imputadas as despesas com obras
necessárias para que o imóvel retorne à sua destinação anterior, quando o imóvel foi locado
para fins não residenciais.
12. Ressalte-se que devem ser indenizados tão-somente os danos derivados do uso
irregular do imóvel. NÃO configuram essa hipótese: limpeza, remoção de entulho, lavagem
de carpete, avarias na pintura, tratamento de ferrugem, etc. Por outro lado, devem ser
ressarcidos aqueles danos que extrapolam à ação do tempo, como por ex., vidros e
fechaduras quebradas, portas danificadas, tacos e rodapés soltos, azulejos perfurados, etc.
15. Há entendimento no sentido de que, estando o imóvel sob vigilância do inquilino, dele é
o "onus probandi" de que determinado fato não se deu por sua culpa ou dolo, mas sim, por
caso fortuito ou força maior; nesses casos, inadmissível perquirir acerca de perdas e
danos.