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A Corte Internacional de Justica e o caso Estados Unidos — Nicaragua Fredys Orlando Sorto ¢ Professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraiba Faeovs Ortanoo Sorta SUMARIO 1. Introdugdo, 2. Compeléncia da Corte. 3. Di- reito aplicdvel. 4. Apreciagdo dos fatos e aplicagdo do Direito. 5. Sentenga. 1 Introdugao Em 9 de abril de 1984, a Nicaragua impetrou uma aco contra os Estados Unidos na Corte Internacional de Justiga de Haia, relativa as ati- vidades militares e paramilitares na Nicaré- gua e contra este Estado, Este contencioso destaca-se entre os proferidos pela CU (Corte Internacional de Justica). O processo envolveu matérias de grande importincia no ambito juri- dico, inter alia, competéncia da Corte, inter- vengdo de terceiro Estado, abandono da causa Por iniciativa do reclamado, conduta das par- tes', relagdo entre as fontes de direito internaci- onal ¢ execugo da sentenca. 2. Competéncia da Corte A Corte Internacional de Justiga, principal orgio judiciario das Nagdes Unidas, compete conhecer os conflitos de cardter juridico, que a seu crivo as partes submetem. O seu Estatuto faz parte da Carta da ONU (art. 92), Logo, todos os membros das Nacdes Unidas so, ipso fac- to, partes do Estatuto da CJ, Em trés hipéteses os Estados podem submeter suas controvérsi- as a competéncia da Corte: 1) quando os Esta- dos, mediante um compromusso especial, sub- ‘0 professor Vicente Marotta Rangel ¢ autor de um importante estudo sobre a conduta das partes ¢ suas consequéncias juridicas, no caso Nicaragua-Es- tados Unidos. Cr. RANGEL, Vicente Marotta, A controvérsia Estados Unidos-Nicarigua e o tema da conduta das partes. Separata de Liber Amicorum. Universidad de Oviedo, Espafia, 1988, pp. 863-71. Brasilia a, 32 n. 127 jul/set. 1995 233 metem-Ihe um caso concreto; 2) quando os Es- tados signatarios de um tratado, em virtude de cl4usula compromisséria, recorrem ao Tribunal, em caso de controvérsias decorrentes de inter- pretaco ou de aplicagdo desse tratado; 3) quan- do o Estado declara que reconhece como obri- atria a jurisdigao da Corte, em relagao a outro Estado que também a reconheca (cldusula facul- tativa de jurisdigéo obrigatoria, att. 36, § 2%). A aaio da Nicaragua contra os Estados foi acompanhada de uma agdo inciden- teve como fundamento os artigos 41 € Sdotsane 7475 do Regulamento da CII. Nela, solicitavam-se medidas provisorias de protecdo, devido as atividades militares ¢ paramilitares, levadas a efeito pelo Estado de- A Corte, em ordem de 10 de maio de 1984, indicou as medidas ¢ rejeitou, por unani- midade, a peti¢ao dos Estados Unidos. Para os forte-americanos, a ado da Nicardgua levan- tava pontos de natureza politica e nao de natu- Severs tafe oe para ts bros polices ria se para os Orgaos politicos das Nagdes Unidas (GNU) e/ou da Organiza- ‘¢40 dos Estados Americanos (OEA). A Corte, no obstante, determinou, mediante a referida ordem, o seguinte: 1*) que os Estados Unidos cessassem as atividades que tivessem por ob- Jetivo o bloqueio dos portos nicaragiienses ¢ a colocagdo de minas; 2®) que cessassem todas as atividades militares e paramilitares proibidas pelo direito internacional; 3) que ambas as par- tes se abstivessem de praticar qualquer ago que pudesse ampliar ou agravar a controvér- sia; 4°) que se abstivessem de praticar qual- quer acdo que pudesse prejudicar os direitos da outra parte, em virtude de uma eventual sen- tenga da Corte no conflito’. A pretensdo de classificar 9s litigios quan- to A sua natureza, por parte do Estado reclama- do, como se vera, nao altera cm nada a grave violagao do Direito das Gentes. Além disso, baseado em informes confidenciais que confir- sinada pelo Sectetario de Estado, com data de 6 de abril de 1984, declarou, conforme o art. 36, § 4° do Estatuto, a exclusdo, a partir dessa data, por um periodo de dois anos, da jurisdicdo obri- 2 Enquanto a Corte indicava as medidas proviss- rias, o5 Estados Unidos declaravam embargo comer- cial & Nicarigua, Sobre o embargo, veja-se a Resolu- gio 40/188, de 17 de dezembro de 1985, da Asser- bigia Geral.’ Cf. Rivista de diritto internazionate, v. 69, n? 2-3, pp. 666-7. ‘gatdria do Tribunal, nas controvérsias com qual- quer Estado da América Central. Sobre este ponto vale lembrar que os Estados Unidos re- conheceram, por declaracao de 20 de agosto de 1946, a jurisdi¢&o da Corte’. Os fatos da controversia. A Nicaragua im- putou aos Estados Unidos os seguintes atos violatérios do direito internacional: 1) coloca- ‘go de minas nos portos, no mar territorial e nas Aguas internas de seu territorio por militares ‘norte-americanos e/ou pessoas latino-america- nas contratadas mediante paga; 2) agdo direta ou indireta dos Estados Unidos, em ataques a suas instalagdes petroliferas ¢ a varias partes do seu territério, 3) violagao do seu espagp aé- feo por aeronaves militares dos Estados Uni- dos; 4) criagdo e organizagao de um exército mercenario para derrubar o gaverno sandinista (os contras), 3) 5) estimulo a atividades contréri~ aS aos principios do direito internacional hu- manitério, 6) adogao de medidas econémicas consideradas como intervengdo indireta em ‘seus assuntos internos; 7) violagao do Tratado de Amizade, de Comércio ¢ de Navegagao, ce- Iebrado com os Estados Unidos em 1956, Em sua defesa, 0 governo norte-americano alegou: que a Nicaréguaestava dando apoio 80s gu pos armados dos paises: {eos de El Salvador, o que justficava o exerck- cio da legitima defesa coletiva (art. $1 da Carta da ONU); 2) que a Nicaragua estava fazendo incursdes militares contra os Estados vizinhos; Honduras e Costa Rica, 3) que a Junta de Re- construgao Nacional nao havia cumprido as promessas, no que se refere a eleigdes livres € Fespeito aos direitos humanos (por cuja aplica- ‘s40 0 governo de Washington se considerava também responsivel) assunto. Baseava-se tal alegagao na natureza ‘no-juridica do caso apresentado pela Nicard- gua, Nio sendo juridico o conflito, porque en- Volvia 0 uso da forca, caberia, segundo eles, a condugdo do assunto a0 Conselho de Segu- ranga da ONU e nio ao Tribunal. Alegava-se, ‘no mesmo sentido da incompeténcia, a existén- cia de um acordo regional que deveria ser esgo- tado antes de se recorrer a via judicial, isto €, 0 > PIROL RULL, Joan, Los asuntos de las activi- dades militares y paramilitares en Nicaragua y en contra de este Estado (Nicaragua contra Estados Unidos de América). Revista espaiiola de derecho internacional. Madrid, 39(1):99-119, ene.un. 1987 p. 100. Revista de Informago Legisiativa processo diplomatico do Grupo de Contadora. Entendeu a CLI que o fato de uma questo estar sendo apreciada pelo Conselho de Seguranga nao obstaria a que ela também 0 fizesse. O exa- me juridico e politico de uma mesma questo feito ou que venha a ser feito pelos dois 6rgios das Nagdes Unidas, concomitantemente, nao é irregular nem inoompativel. A Corte esclareceu que o art. 12 da Carta, o qual proibea Assem- biéia Geral de se manifestar enquanto 0 Conse- Iho estiver exercendo suas atribuigées, ndo se aplica ao érgao jurisdicional. Em suma, que nem as implicagdes politicas nem o emprego da for- ‘caarmada impedem a ago da CU. No que se refere 4 elevagao do Grupo de Contadora a condigdo de acordo regional, com (© respectivo esgotamento dos procedimentos regionais de negociagao politica, estimou a Corte que o Grupo de Contadora nao constitui- ria um acordo regional nos termos do art. 52 da Carta da ONU‘. Assim sendo, estaria submeti- do ao que a Carta estabelece cm seu art, 103, ¢, nesse caso, as negociagdes regionais no im- pediriam que o assunto fosse também aprecia- do pelo Tribunal? Outro ponto apresentado pelos Estados Unidos, como excecdo preliminar, refere-se A reserva contida na declaragao de aceitagao da Jurisdigao da CU de 1946. Essa reserva excluia aplicagao da declaragao as controvérsias deri- vadas de um tratado multilateral, salvo quan- do: 1) todas as partes afetadas pela decisdo sejam também partes na causa submetida & Corte; ou 2) os Estados Unidos da América aceitem expressamente a competénoia da Cor- te (Reserva Vanderberg). Com fundamento no art. 79, pardgrafo 7® do seu Regimento, a Corte Internacional de Justica rejeitou a objecao a sua jurisdigdo porque a exce¢ao nao tinha carater ‘exclusivamente preliminar, porquanto continha aspectos felativos ao mérito da causa. ‘No exame dos tratados multilaterais, em ra- z4o da reserva de 1946, a Corte examinou os efeitos de uma decisao especialmente em rela- 40a El Salvador. A Nicardgua acusou os Esta- respeito do Grupo de Contadora cf. SORTO, Fredys Orlando. A via diplomatica na solugdo dos Iitigios internacionais: a mediagiio de Contadora. Re- vista da Faculdade de Direito. S80 Paulo, Universi- dade de Sdo Paulo, (89):128-146, 1994, 5 TRINDADE, Antonio Augusto Cangado. Ni- cardgue versus Estados Unidos (1984-1985). Revis- 1a brasileira de estudos politicos. Belo Horizonte, EMG. (63-64) 139-70, ju. 1986;an. 1987, pp. 150-6, PINOL RULL, Joan. ob. cit. dos Unidos de empregar a forga e de violar, em conseqiiéncia, as Cartas da ONU e da OEA. O ‘governo norte-americano alegou estar exercen- do o dircito a legitima defesa coletiva (artigos 51 da Carta da ONU e21 da OBA) em prol de El Salvador, como justificativa da sua conduta, A Corte considerou que El Salvador seria mesmo afetado pela sentenca, tomando as alegagdes tanto de um lado como de outro. Entretanto, estimou que a reserva dos Estados Unidos ndo Ihe facultava apreciar o assunto por esse pris- ma. Concluiu, por isso, que a reserva limita-se aos tratados multilaterais ¢ nao as outras fon- tes do direito internacional previstas no art. 38 do seu Estatuto. Apesar disso, em 18 de agosto de 1984, EL Salvador apresentou 4 CII uma declaragao de intervengao in litem, com apoio no art, 63 do Estatuto®. Em 4 de outubro, a Corte decidiu-se, Por nove votos contra um, a niio aceitar a de- claragdo de El Salvador naquele momento pro- cessual, dado que ainda iria pronunciar-se so- bre sua competéncia no caso principal’. Finalmente, por sentenga de 26 de novem- bro de 1984, a Corte determinow a sua compe- téncia para conhecer 0 caso e, por unanimida- de, declarou admissivel a peticao da Nicardgua Afirmou sua competéncia com base no art. 36, paragrafos 2° e 5* do seu Estatutoe no art. 24, parigrafo 2° do Tratado de Amizade, de Comér- cio e de Navegag4io, celebrado entre a Nicaré- gua ¢ os Estados Unidos, em 21 de janeiro de 1956. Na deciso que determinou a competén- cia, Marotta Rangel destaca 0 papel da condu- ta das partes. A Nicaragua ndo ratificara a de- claragdo de 24 de setembro de 1929, de aceita- ‘lo obrigatéria da jurisdigo da Corte, mas mun- Ca declarou ndo estar vinculada por essa mes- ma declarago. A afirmagio oficial constante do compromisso referent 20 sistema da clausla fe cultativa “(...) ndo poderia ser interpretada sendo ‘como uma aceitacdo da jurisdicdo obrigatéria”* A decisdo da Corte nao teve boa acolhida dentre a maioria dos juristas estadunidenses. 0 Estado reclamado, por seu turno, decidiu-se a © Cf, Declaration of intervention of the Republic of El Salvador. international legal materials. 24(1)38- 58, Jan. 1985; ROGERS, William D. et alli. Aplica- tion of El Salvador to intervene in the jurisdiction and admissibility phase of Nicaragua v. United States. The American Journal of international law. 78(4):929-36, Oct. 1984 7 PINOL RULL, Joan. ob. cit, pp. 102-3. * RANGEL, Vicente Marotta, ob. cit., pp. 868-9. Brasilia a. 32 n. 127 julJeet. ilo participar da fase de apreciagio do mérito da causa. Com eftito, oem nota de “6d janeiro de 1985, os Estados Unidos ammciaram sua re- tirada do caso, porque a decisto do Tribunal Ean 22 janeiro 1985, , a Nicardgua solici- tou CII a aplicacao do.art. 53, que dispSe so- bre ahipérese de uma das pares Ocixar decom parece! OM de apresentar defesa. Neste caso, a Corte“. deve ertifcar ede que oassuntoé de conformidade de sua com Os arts. 36 ¢ 37, mas também de que tem fundada, de fata ede diet” (art. 53, paré- grafo 2*). Para por de lado de vez a questo, os Estados Unidos anunciaram, em 7 de outubro de 1985, mediante nota do Secretario de Esta- do, a revogacao do compromisso de accitagio 4ausisdicdoobrigatria da Conte. Esta atitude parte € mais nos aie “The Canis Slates tenninaton of is acceptance of compulsory jurisdiction is a step backward in the course of international law”. dos Unidos), Boletin mexicano de derecho compara- do, México, UNAM, 20 (60):839-55, set/dic. 1987, p. 845. © TRINDADE, Antinio Augusto Cangado, Ob. it, p. 168. "1 Declaracion sobre l ttico por parte de los general cia, Comision Internacional de Juristas. Ginebra, (6:42:50; 1985, p. 4. " ENDE, J. Reaccepting the compulsory jurisdiction of the International Court of Justice: proposal for a new United States declaration. Washington law review.61(3) 1145-1183, 1986, p. 1160. apretensiioé juridicas especificas 3. Direito apticdvel dos Estados Unidos, se) Per Sc oe ‘outros acordes ¢ de outras fontes do dircito tumeiro 0 que segue: 1®) no que diz respeito a Hane eee jonencanduciode git ma defeso, Gehucira-se a opinio juris cand 1 das partes em relapfo as resolugées da As- ‘especialmen- eiieaeae a Os (Declarago sobre 0s Principios de direito internacional referemtes As TelagSes amistosas ¢ A cooperaco entre os Es- tados, conforme a Carta das Nagdes Unidas), 2%) principio de ndo-intervengdo: as tmanifes- tages da opinio juris dos Estados, em relagSo sham-se estabelecidas alesse principi ria juris sen wre Cae as tale das on ¢ pas - Goo pacing io de n&o-intervengdo por parte dos Estados Unidos ¢ da Nicarégua; 3*) sobe- rania dos Estados: o principio de respeito & ‘soberania Estados, tanto no direito con- internacional foun internas ¢ ao espago aéreo dos Estados, 4°) direito internacional humanitdrio: a Corte de Genebra, 4. Apreciagdio dos fatos e aplicagao do di- reito sagen callie ona ‘0s ataques as insta- lagbes petroliferas © navais sto contrarios A pproibicao do uso da forga armada, salvo se jus- tificados por circunstancias que possam excluir sna ificitude. Como nenhum Estado vizinho a Nicarégua solicitou ajuda aos Estados Unidos, no exercicio da legitima defesa coletiva, a qual constitui excegdo ao uso da forga, também no ——— eS Revista de Informagéo Legisiativa direito costumeiro (cf. Res. n® 2.625 XV), en- Uo, a alegacdo da legitima defesa dos Estados Unidos ndo péde ser aceita. Em conseqiténcia, Julgou a Corte, os Estados Unidos violaram 0 principio que proibe os Estados de recorrer & forga ou A ameaga do uso da forga. Quanto as ‘manobras militares realizadas perto da fronteira da Nicaragua, estas n4o constituem ameaca a0 uso da forga, assim como o fornecimento de armas & oposigdo de outro Estado nao consti- ‘tui um ataque armado. As incursdes nicaragiien- ses aos Estados vizinhos nao puderam ser ava- Tiadas a contento, devido & falta de informa- ‘g@es. Contudo, estimou o Tribunal, nem o pre tenso fornecimento de armas nem essas incur sts podem justificar o direito de legitima defe- sa coletiva. Em substancia, os Estados Unidos violaram o principio que proibe 0 recurso & for- a 0u a ameaga do uso da forga Ficara provado, de acordo coma Corte, que © objetivo dos Estados Unidos, ao apoiarem os coniras, erao de derrubar 0 governo da Nicari- gu O apoio financeiro, militar, logistico, assim como o fornecimento de armamentos e de infor- magdes aos contras, violou flagrantemente o principio de nao-intervencdo. A colocagdo de minas, a assisténcia aos contras, 0 sobrevéo no autorizado do territo- Tio, 0 ataque direto aos portos e as instalagies petroliferas, tudo isso é qualificado pela CIS coms atentado a soberania territorial ¢ liberda- de de comutiicagao ede comércio da Nicaragua. A Corte julgou os Estados Unidos respon- saveis pelo estimulo aos grupos envolvidos no conflito da Nicaragua, bem como pela violacao do art. 3° da Convengao de Genebra. O citado pais foi responsabilizado, também, pela publi- cago e pela divulgagdo do manual sobre ope- rages psicoldgicas em Luta de Guerrilha", "CE Psycological operations in guerrilla warfare. Library of Congress. Washington, Oct. 1984; NATOLL, Ugo. Un manual para los “Contras”. Revisia interna- ional de derecho contemporaneo. Bruselts, (2):304, 1985, DIAZ-CALLEJAS, Apolinar. Desafio af impe- rio, Bogota, Oveja Negra, 1985, p. 289-301. Consta no preficio do referido manual, elabora- do pelo servigo de inteligéncia dos Estados Unidos (CIA), 0 seguinte: “Este livro é um manual de treina- mento de guerrlheiros em operagées psicolégicas, sua aplicagéo no caso conercto, na cruzada cristi € democritice, que se esth levando a cabo na Nicarégua com os Comandos da Liberdade. Bem vindos!” O terociro Cap. ititulado Propaganda Armada, ‘raz 0 seguinte trecho: ‘cujo conteiido é contrario ao direito humanit- tio. No que se refere 4 violacdo dos direitos humanos na Nicardgua, a Corte considerou que ‘o.uso da forga pelos Estados Unidos nio seria ‘0 método apropriado de verificacao ¢ de prote- ‘40 dos direitos humanos. Além disso, a milita- Tizagdo da Nicarégua nao servia de justificativa as atividades dos Estados Unidos, porque, afir- mou a Corte, em direito internacional ndo cxis- ‘tem regras de limitagao de armamentos de Esta- dos soberanos. A parte final da sentenga trata das obriga- goes decorrentes do Tratado de 1956. A Nica- régua alegou que os Estados Unidos, por efei- to de seus atos, impediram a correta execucdo do Tratado ¢ frustraram a sua finalidade. Ha que lembrar, entretanto, que oart. 21 desse acor- do prevé a aplicagao de medidas concernentes 4 proterao dos interesses vitais e da seguranca dos Estados Unidos. Isto nao impediu, porém, que a Corte considerasse a colocagao de mi- nas, o ataque as instalagdes petroliferas € 0 embargo comercial contra a Nicarégua como atos contrarios a ao espirito do Tratado. Consi- -violada, também, a regra do artigo 19, minicias, a Corte vada a violago do Tratado de 1956. 5, Sentenga Em 27 de junho de 1986, a Corte pronunciou “Una forga de guervitha armada pode ocupar um povosdo inteiro ou uma pequena cidade que seja neu- {ra ou relafivamente pacifica. Para conduzir a propa- ganda armada de mancira efetiva, concomitantemen- te, deve se fazer 0 seguinte: ~ Destruir as instalagSes militares ou da policia ¢ em seguida remover os sobreviventes para um focal piiblico = Cortar todas as linhas de comunicagao externa: cabos, ridios, mensageiros. ~ Fazer emboscadas em todas as vias de acesso possivel para retardar os reforgos. = Seqilestrar os oficiais ¢ agentes do governo san- dinista ¢ substituitos, em locais piiblicos, por mili- tares ou civis de confianga do nosso movimento, além disso deve fazer 0 seguinte: = Estabelecer um tribunal piblieo subordinado ‘aos guerritheiros, em seguida, percorrer 0 povoado ‘ou a cidade a fim de reunir a populagao para esse ato. ~ Envergonhar, ridicularizar ¢ bumilhar 0s sim- bolos pessoais do governo de repressio {sandinista] nna presenga do povo e estimular a participagdo po- pular por intermédio de guerilheiros dentro da mul- fidio, gritando slogans ¢ zombatias”. Brasilia a. 32 n. 127 Jul/set. 237 sentenga final Cavordvel & Nicaragua. O Tribu- ‘por onze votes contra quatro, aplicar a reserva ‘dos tratados multilaterais, contida na alinea ¢ da declaragdo de aceitacao da sua jurisdicdo, feita pelos Estados Unidos em 1946, Bypor ‘votos contra trés, rejeitar a alegacdo de legitima defesa coletiva sustentada pelos Estados Uni- dos; 3°) por doze votos contra trés, considerar que, 20 treinar, ao armar, a0 equipar ¢ ao finan- Ciat a mamntengdo dos contras, os Estados Unidos violaram o principio de direito interna- cional costumeiro de eae ‘OS as- ‘suntos internos de outro Estado; 4") por doze ‘votes contra trés, considerar os ao ter- ritério nicaragitense, em 1983-1984 (Porto San- dino, Corinto, base naval de Potosi, San Juan del Sur, San Juan del Norte) como atos violaté- tios do principio que protbe 0 uso da forga ar- mada; 5°) por doze votos contra trés, conside- rar 0 sobrevéo do territorio da Nicaragua, orde- nado pelos Estados Unidos, como violag4o da soberania territorial daquele Estado, 6*) por doze votos contra trés, considerar a colocagao de minas om tersifdrio nicaragiiense como trans- gressilo dos principios que proibem: 0 uso da forga armada, a intervengio, a violagdo da so- berania e a interrupgdo do comércio maritimo 9,7) por eatorze wot0s @ Un, Considerar Estados Unidos violaram o art. 19 do Tratado de 1956, $88) por catorze votos a um, considerar que os Estados Unidos trans; tam o direito internacional consuetudi no tornar publica a existéncia e a Tocalidade das minas por eles colocadas, 9°) por catorze votos contra um, considerar iderar ae ‘0s Estados a a intitulado Ope- égicas em Guerra de Guerrithas, coh ‘0S contras a praticarem atos con- trarios aos principios gerais de direito interna- cional humanitério; mas tais atos no so, por falta de base, imputdveis aos Estados Unidos ‘como atos praticados por esse Estado; 10*) por doze votes contra trés, considerar que os ata- ‘ques ao territorio nicaragense ¢ 0 embargo comercial, ambos praticados pelos Estados Unidos, privaram o Tratado de 1956 de sua fi- nalidade; 11%) por doze votos a trés, considerar Aue 0s Estaios Unidos tm a obrigasdo de re- Sunciarsviolagdes precedentes, 12") ‘votos contra trés, considerar os ‘on dos obrigados a reparar os ptejuizos causados a Nicaragua; 13°) por catorze votos a um, con- siderar os Estados Unidos obrigados a indeni- zat a Nicaragua pelas violagbes do Tratado de 1956, 14°) por catorze votos a um, determinara forma e a quantia da referida indenizagdo, na falta de acordo entre as partes; 15*) por anani- midade, a Corte lembrou as partes a obrigaggo de procra slugs paifica compels com ‘internacional para tesolver suas con- guranga ‘nos termos do art. 94, palma sds Canace ‘ONU. Emm tese esse seria o caminho. Em todo.o aso, o recurso sera em vao se 9 Estado do qual se busca reparo tiver direito a veto no Conse- tho, Essa ineficacia na exccugao ficou evidente, em 28 de outubro de 1986, quando os Estados Unidas vetaram um projeto de resolugio relativo Aaplicagdo da sentenga em favor da Nicarégual’ ‘Niio se pode deixar de destacar, contudo, 0 Papel corajoso da Corte na solugao desse con- flito internacional, que se pronunciou compe- tente para conhecer um caso de que, por certo, poderia evadir-se. Dever-se-ia dizer que 0 caso eM aprego rompe com a tradigdo conservadora da Corte Internacional de Justica. 14 No entanto, spesar de # Corte ter condenado 08 Estados Unidos, estes nifo respeitaram a decisto. ‘Em desabono de sus condute internacional, Sends aprovou, por 155 votos contra 47, em 13 de agostc de 1986, ‘uma ajuda de cem milhdes de délarea solici- tada pelo Presidente Reagan para os contras. Além iso, 8 medidas sancionaas peo Presidente Reagan ineluiam o envio de assessores ¢ « autorizagdo da CIA para esta partcipar das operagdes destinadas 8 derrubar o regime sandinista. O governo da Nicaré- {gus pediu uma reunido urgente no Conselho de Segu- fang. Voj-sotambem aRex n® 562doCS. de 10 de maio de 1985, Cf. Folha de Séo Paulo. StoPaulo, 20 de out, 1986. Exterior, p. 10. 3 Nejc a resolusdo 41/31 (a Assembltin Geral da ONU, de 3 de novembro de Cf. TANZI, Attia ete vse ettione delle sentenza della Corte Internazionale ¢ di Giustizia tra Nicaragua ¢ Stati Uniti. Rivista di diritto internaztonae Milano, Giuffré, 70(2):293-308. 1 “No existe na sociedad internacional, acima dos Estados, umm tribunal supremo de jurisdigio obriga- toria, uma auloridade superior, que, entre os mem- bros da comunidade internacional, possa garantir di- reitos ¢ aplicar sangdes ou Toberar ofentes”, ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de direita interna- ional piiblico. 2. ed. Rio de Janciro, Ministério das Relagies Exteriores, 1956. V. 2. p. 1. Revista de Informagae Legistativa Bibliografia ACCIOLY, Hildebrando. Tratado de diretto interna- cional piblico. 2ed, Rio de Janeiro, 1956, v. 2. BECERRA RAMIREZ, Manuel. El papel de la Cor- te Intemacional de Justicia en a solucion pacifi- ca de controversias (El caso Nicaragua vs. Esta- dos Unidos). Boletin mexicano de derecho com- parado. Mexico, 20(60):839-55, setdic. 1987. DIAZ-CALLEIAS, Apolinat, Contadora: desafio al imperio. Bogota, Oveja Negra, 1985. 301p. ENDE, Douglas J. Reaccepting the compulsory jurisdiction tothe intemational Court of Justice: 'a proposal for a new United States declaration. Washington law review. University of ‘Washington School of Law, 613)-1145-83, 1986 International Legal Materials, Declaration of the Republic of El Salvador. 24(1)'38-58, jan. 1985 NATOLI, Ugo. Un manual para fos “eontras”. Re- ‘vista internacional de derecho contempora- neo, Bruseles, (2)'30-34, 1985 PINOL RULL, Joan. Los asuntos de las actividades militares y paramilitares en Nicaragua y cn contra de este Estado (Nicaragua contra Fsta- dos Unidos de América). Revista espaiiota de derecho internacional. Madrid, 3%(1):99-119, ‘ene.jjun. 1987. RANGEL, Vicente Marotta, A controvérsia Esta- dos Unidos-Nicaragua ¢ 0 tema da conduts das partes. Sepatata de Liber Amicorum: coleccion de estudiosjuridicos en homenaje al Prof Dr José Pérex Momero. Universisad de Oviedo, Espaiia, 1988, pp.863-71 ‘TANZI, Attilia. Diritto di veto ed esecuzione della sentenza della Corte Internazionale ¢ di Gistzia tra Nicaragua ¢ Stati Uniti, Rrvisia dt diriso internazionale. Milano, 70(2)293-308, 1987 ‘TRINDADE, Antonio Augusto Cangado. Nicara- gua versus Estados Unidos (1984-1985). Re- vista brasileira de estudos politicas. Bela Ho- sizonte, (63-64)'139-170, jul, 1986;jan. 1987. Brasilia a, 320, 127 Juljeot. 1995

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