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01/03/2018 A geração Y e o tabu da morte — CartaCapital

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Cultura
Envelhecimento

A geração Y e o tabu da morte


por Felipe Arrojo Poroger* — publicado 28/02/2018 16h55, última modificação 28/02/2018 16h57

Como a juventude irá lidar com a percepção incontornável de que um dia,


enfim, seremos velhos?
Divulgação

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01/03/2018 A geração Y e o tabu da morte — CartaCapital

Como uma juventude obcecada pela novidade vai encarar o seu prazo de validade?

Quando o funcionário do cemitério nos informou que não havia quem carregasse o caixão de meu
avô e eu, em silêncio, me vi segurando uma de suas quatro alças, percebi que não tinha mais
volta: com exatos vinte anos, cruzei a linha da juventude e, à força, me tornei adulto.

A fila seguiu: não demorou para que a vida começasse a ser, de fato, uma sucessiva despedida
daqueles que tanto amava. Assisti ao fim de minha avó materna, seu rosto calmo, frio - que bonita
era ela! - e, mais recentemente, coube a mim reconhecer o corpo de meu outro avô, que, além de
pai de meu pai, era também meu melhor amigo.
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Leia também:
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E foi, assim, agora com vinte e sete anos, sensibilizado e confrontado por questões que só morte
de alguém querido pode trazer à mente, que me veio a curiosidade um tanto aflitiva: como a
minha geração - a tal da Geração Y - irá lidar com o próprio envelhecimento e com a percepção
incontornável, assombrosa, de que um dia, enfim, seremos velhos? Como uma juventude
obcecada pela novidade vai encarar o seu próprio fim, seu prazo de validade?

Vamos aos poucos: faço parte um grupo de pessoas - e de uma bolha social - que veio ao mundo
com a curiosa singularidade de ter vivido, na primeira infância, a transição concreta do analógico
para o digital, mudança esta que as décadas anteriores vivenciaram somente como ensaio.

Para além dos discursos saudosistas de nossos pais - que, se são verdadeiros, são também
fantasias de passado -, a prática nos colocou, dentre tantos outros, ao menos dois desafios
ambivalentes.

Em primeiro lugar, com o advento da internet, vimos a completa reformulação dos conceitos de
esfera pública e privada. Sem manual de instruções, nascemos como pessoas públicas,
construindo nossas imagens na virtualidade de salas de bate-papo, ICQ, MSN e redes sociais.
Se, por um lado, isso significou confinamento e individualização de experiências, não é menos
verdade que reforçou também a louvável preocupação com questões de identidade.

Afinal, à medida que passamos a nos expor e a nos reconhecer dentre milhões de desconhecidos
virtuais, questões que anteriormente eram tabus puderam ocupar a arena pública: dentro de uma
bolha específica, ao menos, crescemos dispostos a afirmar ideais libertários, desafiar padrões de
gênero e encontramos ambiente possível (mas nem por isso fácil) para defendê-los.

A segunda consequência desta virada geracional evidenciou o outro polo: nosso apreço cego à
novidade e o consequente descarte de tudo o que é tido como velho e obsoleto. Em um nível raso
de reflexão, esta configuração nos leva a trocar, compulsivamente, de objetos, roupas,
companhias, empregos, de acordo com as flutuações da indústria do consumo.

Leia também: Neymar e a vitória do jogo conservador

Soterrado em uma camada mais profunda, no entanto, um eterno fantasma ganhou novos
significados: como, insisto, lidaremos com o envelhecimento e com a morte, tendo sido criados em
um contexto complemente hostil à ideia da finitude? Nós, cobaias de um novo tipo de
sociabilidade, nos tornamos uma juventude ansiosa pelo rápido consumo de prazeres e produtos,
que, embora acostumada a colocar todas as cartas íntimas na mesa, insiste em esconder a
solidão.

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01/03/2018 A geração Y e o tabu da morte — CartaCapital

Encenamos a alegria, nos expomos em selfies e stories, desafiamos o conservadorismo e as


formas típicas de sexualidade, mas evitamos a comunhão pública das experiências do vazio -
justos estas que são a nossa única certeza e destino comum. O medo da disfuncionalidade, de
tornar-se obsoleto feito o (pen)último produto da prateleira, permanece como um dos últimos itens
trancafiados na intimidade.

O quão absurdo seria imaginar um cenário em que as redes sociais fossem tomadas por registros
de tristeza e desânimo, da mesma maneira em que vemos imagens de homens e mulheres
desafiando padrões de comportamento? Sob quais argumentos isso se explica se não pela
aversão a todo estado emocional que pareça contradizer nossa mocidade e sua promessa de
felicidade incondicional? Por que a exposição da própria sexualidade, por exemplo, goza de um
espaço privilegiado ao qual melancolia não tem direito?

Quando, por fim, contei aos meus amigos que, ao final de 2018, meus avós fariam setenta anos
de casado, foi comum escutar que nossa geração jamais chegará a esta data. Alguns acham que
morremos antes, outros estão certos de que os laços afetivos modernos jamais alcançarão esta
barreira; a maioria, no entanto, diz preferir evitar o tema.

E foi por isso, acredito, que me dispus a reconhecer o corpo de meu avô: olhar para a frieza da
morte é como olhar em um espelho que nos devolve, refletida, a imagem de um futuro terrível,
impossível de ser postado, mas, que quando verbalizado ou encarado frente-a-frente, deixa de ser
somente assombro para tornar-se também processo.

Desestigmatizar a morte e o envelhecimento, encarando de olhos e braços abertos naqueles que


mais amamos, me parece, hoje, uma das mais fortes transgressões possíveis.

*Felipe Poroger é diretor do filme "Aqueles Anos em Dezembro" e responsável pelo Festival de
Finos Filmes, mostra paulistana de curtas

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