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A educação como cultura1

Rodrigo Ferronato Beatrici*

A obra A educação como cultura de de referências bibliográficas posteriores


Carlos Rodrigues Brandão é um referen- à primeira edição, instigam o leitor a
cial de comprometimento político, peda- compreender os debates sobre cultura e
gógico e, sobretudo, ético com o povo,2 a atualização dessa temática e das refle-
na construção de uma sociedade onde xões feitas pelo autor. Pela amplitude e
não mais exista a contradição social da profundidade do livro foram destacados
exploração do homem pelo homem. dos textos quatro temas prioritários para
Em breves palavras, para elucidar esta resenha:4 cultura, cultura popular,
o atributo já valorado a este livro e te- pesquisa participante e olhar o mundo e
cer outros, são apresentadas algumas ver a criança. Objetivamente, procurar-
reflexões feitas por Brandão. A obra é se-á apresentar cada um deles.
organizada em sete capítulos,3 além da
apresentação e da bibliografia. A aber-
tura de cada capítulo e a apresentação Cultura
são feitas com uma foto que “ilustra” a
Para Brandão, o ser humano, di-
realidade camponesa e remete o leitor
ferentemente das demais espécies ani-
ao conteúdo dos artigos. A linguagem é
mais, é um ser obrigado a aprender
clara, agradável e coesa. Os textos, em-
(p. 16), que precisa criar e recriar o mun-
bora guardem uma inter-relação entre
do, transformando o ambiente natural
si, foram escritos em momentos distin-
e a ele próprio (p. 20). Acaba, assim,
tos e com finalidades diferentes; por
se tornando uma forma da natureza
isso, podem ser lidos separadamente.
A categoria cultura é escolhida por *
Educador Popular e acadêmico do mestrado
Brandão para vincular e problematizar em Educação da Universidade de Passo Fundo.
as temáticas para as quais os textos E-mail: roferronato@gmail.com
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foram elaborados. Nesta edição, publi- Resenha baseada em BRANDÃO, Carlos Ro-
drigues. A educação como cultura. Ed. rev. e
cada dezessete anos após o primeiro amp. Campinas, São Paulo: Mercado das Le-
lançamento, dois textos foram incluídos tras, 2002.
e um foi retirado da obra original. Os
artigos, bem como a revisão e a inclusão Recebido: 03/09/2009 – Aprovado: 07/10/2009

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que se transforma ao aprender a viver tos de cultura popular no início da déca-
(p. 21), que passa da consciência re- da 1960, mais precisamente entre 1960
flexa à consciência reflexiva (p. 19). A e 1964. Os grupos pertencentes ao movi-
diferença entre o “mundo da natureza” mento de cultura popular tinham como
e o “mundo da cultura” é que o primei- objetivo transformar a cultura do povo,
ro antecede o ser humano e o segundo por meio da prática da cultura popular,
necessita dele para ser criado. Na sin- em uma cultura popular (p. 32), ou seja,
gularidade humana e na relação dialé- “uma cultura de classe: consciente, críti-
tica entre ser criador da cultura e ser ca, politicamente mobilizadora, capaz de
(re)criado por ela destacam-se quatro transformar tanto os símbolos com que
elementos: a cultura (criação humana), se representa e ao seu mundo, quanto a
a educação (especificidade humana que sua própria dura realidade material”. (p.
se realiza na cultura), o aprender e a 32 - grifos do autor).
“pluralidade” da cultura, resultante da As experiências de trabalho po-
práxis humana, que faz com que existam pular empreendidas nesse período no
culturas ao invés de uma única cultura. seu fazer e pensar a cultura popular
Desses quatro elementos não pode trouxeram várias contribuições, entre
faltar uma menção a um aspecto da as quais se pode destacar a transforma-
abordagem conceitual da cultura. Bran- ção da neutralidade da palavra cultura
dão não trata a cultura do ponto de vista em uma categoria ideológica e política
de determinismo econômico no conjunto (p. 33). Isso rompeu com uma visão ro-
das relações sociais. A respeito, assim mântica que concebe a cultura popular
se pronuncia: “Ela não é a economia e como sinônimo de folclore. Por sua vez,
nem o poder em si mesmos, mas o ce- passou a identificar o trabalho político
nário multifacetado e polissêmico em de conscientização e organização dos
que uma coisa e a outra são possíveis.” trabalhadores. Nessa mesma perspecti-
(p. 24). va, a interpretação dialética da cultura
realizada por estes grupos deu vida à
Cultura popular cultura, isto é, colocou-a em movimen-
to. No bojo desse movimento a categoria
Um primeiro aspecto a ser conside- contradições ganha um importante es-
rado quando se fala de cultura popular paço enquanto revelador das relações e
é que existem culturas. Assim, “quando conflitos de classes. Os documentos dos
falamos de cultura erudita e de cultura anos 1960 pesquisados pelo autor reve-
popular, de culturas indígenas, de cul- laram que “a cultura é histórica, no sen-
tura metropolitana [...] estamos dando tido que a atividade humana que cria
nomes diferentes a evidentes diferenças a história é aquela que faz a cultura”.
de e entre pessoas através de suas cultu- (p. 39 - grifos do autor).
ras”. (p. 25). A cultura popular, conforme Neste campo popular a ação e a
Brandão, tem a sua origem nas práticas teoria buscavam ser libertadoras e era
pedagógicas desenvolvidas por movimen- necessária uma educação que ajudasse
a construir o projeto alternativo que não

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fosse opressor e, mesmo sendo com e dos desvincular as classificações dos tipos
oprimidos, deveria levá-los a romper de cultura da análise dos processos de
com essa contradição. Como mediar o produção de cada uma delas e das ra-
trabalho de base feito pelos integrantes zões de sua posição no sistema que a
de grupos e pelos movimentos de cultu- teoria constrói (p. 114). Por si só e em
ra popular com o povo? Como trabalhar seus opostos elas não explicam como a
com o povo? Brandão (p. 35), ao propor “desigualdade no trabalho entre os ho-
uma reflexão antropológica sobre os pro- mens se reproduz – de modo direto e
cessos e estruturas populares de repro- nem mecânico – desigualdades e dife-
dução do saber, diz que no cruzamento renças de saber e pensar”. Também, aju-
“entre uma cultura do povo, e uma cul- da a “rever o simplismo que consiste em
tura popular, é possível ocorrer a pas- imaginar que ações culturais diretas ou
sagem de uma correspondente educação agenciadas – como as de uma educação
do povo para uma educação de classe”. popular conscientizadora – eliminam
(grifos do autor). da cultura do povo as idéias, valores,
Embora já merecesse ser dito, símbolos e memórias impostos por uma
mesmo que subjacente, os opostos iden- cultura dominante, de elite, e realizam
tificados nos parágrafos anteriores são a alquimia através da qual, livre do que
resultantes de uma leitura de realidade não é seu e lhe foi imposto, da cultura
que compreende a sociedade dividida em do povo emerge a pura cultura popular”.
classes sociais. Assim, existem no Brasil (p. 113-114).
uma cultura dominante e uma cultura Para concluir a discussão do papel
dominada. Entretanto, ambas são refle- da cultura popular na transformação
xas, porque ocultam as contradições so- da estrutura e a incidência da transfor-
ciais, mesmo considerando o seu tempo mação da estrutura na cultura popular
e seu modo (p. 48). No entanto, a cultura pode-se destacar uma citação feita por
na perspectiva aqui assumida também Brandão que tem por referência o Cen-
pode ser “pensada e realizada para criar
tro de Cultura Popular de Belo Hori-
e fortalecer a libertação das estruturas”.
zonte: “Dialeticamente estão ligadas as
(p. 49). Sobre esta abordagem, por vezes
duas reflexões: o papel da cultura popu-
reduzida, é preciso ter cuidado. Nas pa-
lar como instrumento de transformação
lavras de Brandão: a cultura era ideo-
de estrutura, e a transformação de es-
logizada, ou seja, “correspondia não a
trutura como instrumento que propicia
maneira como antropologicamente ela
condições à elaboração de uma cultura
existe e se reproduz na vida real, mas
autêntica e livre.” (p. 61).
à tipologia de opostos que uma análise
preestabelecida a serviço de um tipo de
projeto constituía segundo a direção de Pesquisa participante
seus interesses” (p. 111).
Essa crítica não invalida trabalhar Brandão não aborda a pesquisa
com tais tipologias de cultura. Contu- participante através de uma discussão
do, o autor chama a atenção para não epistemológica, mas sobre o lugar e o

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sentido da cultura e do saber no trabalho ção de um instrumento de poder popu-
dos educadores e cientistas sociais. Esta lar que a pesquisa participante deve ser
leitura, de algum modo, aproxima os vinculada à cultura popular e ao movi-
fundamentos da pesquisa participante mento de cultura popular.
das pessoas que a realizam e do próprio
campo de sua realização. Algumas refle-
xões feitas pelo autor dão conta dessas Olhar o mundo e ver a
questões: “O educador popular defronta- criança
se com diferentes modalidades de poder
que existem tanto sobre quanto nas Inicia-se este quarto item da rese-
suas práticas de ação [...]. Recriar junto nha com a observação/crítica feita por
com e com os grupos populares um novo Brandão sobre a antropologia como uma
saber, onde o lugar da pesquisa ajude a ciência que historicamente privilegiou o
criar a possibilidade de uma nova ciên- mundo dos adultos. Uma condição para
cia.” (p. 103). Isso desafia a repensar a que isso não aconteça é que a antropolo-
“produção, do controle e da circulação e gia se “volte aos processos culturais da
do destino dos usos do seu próprio saber, socialização. Que deveria estudar a fun-
isto é, o do cientista militante a quem do tudo o que acontece nas diferentes
toca subverter, entre outros, o sentido situações sociais de endo e de exotrans-
da ciência.” (p. 104). missão, durante a circulação de sentidos
O autor faz uma crítica à preten- e de significados de teor propriamente
sa neutralidade da ciência. A respeito, pedagógico”. (p. 143). Ressalva-se que
diz que “a ciência não é absolutamente isso aconteça na multiplicidade de olha-
neutra, assim como a pesquisa não é um res e na inter-relação entre as áreas do
ato honrado dirigido à pura invenção conhecimento.
da verdade, ma um fino instrumento de A escola, como um dos espaços de
descoberta e acumulação de saber com- realização da educação, passa também
petente e correspondente.” (p. 105). a ser um dos “objetos” de pesquisa da
Compreendendo a pesquisa par- antropologia. Sobre isso, parece que a
ticipante como um “tipo de trabalho crítica acima ganha mais sentido: “Du-
científico e pedagógico com e sobre o sa- rante largos anos a antropologia deixou
ber, que deseja participar da dinâmica na penumbra quase tudo o que tem
de transformação da cultura” (p. 106), a ver com as estruturas e relações de
Brandão defende que se “torna legítima reprodução do saber através da sociali-
a alternativa de transformação das ci- zação escolar das crianças e de jovens.
ências que, no curso desta, fazem parte Isto é, a educação.” (p. 146). Por sua vez,
daquela. Tornam legítima a denúncia noutra direção, “o educador descobriu
de seus serviços à causa da dominação as abordagens de estilo antropológico.
e, por conseqüência, anunciam a legiti- Descobriu as abordagens fundadoras ou
midade necessária de seu compromisso derivadas do interacionalismo simbólico
com uma causa popular.” (p. 129 - grifo na sociologia do cotidiano”. (p. 147). Esta
do autor). É na perspectiva da constru- descoberta resulta, entre outras coisas,

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num número grande e crescente de pes- Últimas palavras
quisas. Ainda de acordo com Brandão,
“aos poucos o mundo da educação se Brandão, ao abordar as experiên-
revela na sua inteireza humana, isto é, cias de trabalho popular na década de
cultural.” (p. 149 - grifos do autor). Ex- 1960, o faz sob um viés bastante crítico.
plicita ainda que está propondo “uma Ele problematiza vários temas vincula-
espécie de passagem do cotidiano da dos à cultura e formula importantes
escola para a educação do cotidiano”. questionamentos. É nesse sentido que
(p. 156 - grifos do autor). Isso implica não este livro, como foi expresso nas suas
apenas conhecer o “mundo da criança, páginas iniciais, busca mais refletir do
que apresentar respostas. Esta opção
mas a vida da criança e do adolescente
metodológica, embora não só de método,
em seu mundo de cultura”. (p. 185).
pode contribuir fundamentalmente para
A seguir são apresentadas algumas
uma leitura crítica das experiências de
frases extraídas da obra de Brandão que trabalho popular realizadas pelos mo-
dizem respeito às relações entre adultos vimentos sociais populares (MSP), bem
e crianças: “A criança é um ser de rela- como introduzir essas experiências no
ção, um sujeito interativo” (p. 195-196); âmbito da educação formal. Nessa pers-
“Temos um conhecimento ainda tão pe- pectiva, é relevante a contribuição dos
queno do que são as crianças e de como movimentos sociais populares em rela-
vivem propriamente nas suas culturas ção à metodologia de educação popular.
que inventam e criam dentro daquela Esta obra é uma preciosa contribui-
que é nossa e oferecemos e impomos a ção aos educadores, antropólogos e ou-
elas (p. 196); “As crianças estão sempre tros profissionais. No entanto, é estudo
em busca de estreitar os laços com suas obrigatório para as pessoas que direta
consórcias mais próximas: as outras ou indiretamente contribuem e realizam
crianças” (p. 198); “As relações produ- experiências de educação popular. Após
tivas de aprendizagem não ocorrem so- 24 anos do lançamento, a obra ainda
mente na escola” (p. 199); “É difícil aos mantém uma grande atualidade.
adultos compreenderem que na ordem
das coisas, das palavras e dos gestos, ba- Notas
gunça e algazarra são apenas maneiras
infantis e adolescentes criativas de dar 2
Aqui compreendido genericamente como clas-
ao mundo uma outra ordem” (p. 201). se trabalhadora.
3
Os capítulos 7 capítulos são assim denomi-
É preciso não descontextualizar essas nados: 1) Cultura: o mundo que criamos para
frases, mas buscar o sentido atribuído aprender a viver; 2) A descoberta da cultura na
educação: cultura popular no Brasil dos anos
pelo autor à maneira de ver a criança. 1960; 3) O sentido do saber; 4) Sobre teias e
Brandão lembra que olhar a criança não tramas de aprender e ensinar; 5) A criança que
cria: conhecer o seu mundo; 6) Olhar o mundo,
é um ato espontaneísta, mesmo sendo ver a criança; 7) Diálogos com o outro.
necessária a espontaneidade. O que está 4
Foram priorizadas algumas reflexões em de-
propondo diz respeito à inter-relação en- trimento de outras.
tre áreas do conhecimento.

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