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O PONTO DE VISTA: a designar um tipo de produção biológica peculiar a “Mulher”, uma secreção

UNIVERSAL OU PARTICULAR?1
natural a “Mulher”.
1980
Logo, “escrita feminina” equivale a dizer que mulheres não pertencem
Monique Wittig a história, e aquela escrita não é uma produção material. A (nova)
feminilidade, escrita feminina, e o barulho da diferença são o contra-ataque de
Eu juntei aqui um número de reflexões em escrita e linguagem, que escrevi
enquanto traduzindo Spillway de Djuna Barnes, e que estão relacionadas ao uma tendência política2 muito preocupada mesmo com o questionamento das
trabalho de Djuna Barnes e ao meu.
categorias do sexo, aqueles dois grandes eixos de categorização para filosofia
e ciência social. Como sempre acontece, quando algo novo aparece, é
I
imediatamente interpretado e tornado em seu oposto. Escrita feminina é como
Que existe nenhuma “escrita feminina” deve ser dito no início, e alguém
as artes e culinária domésticas.
comete um erro em usar e dar difusão a essa expressão. O que é esse
“feminino” em “escrita feminina”? Se refere a Mulher, portanto fundindo uma
II
prática com um mito, o mito de Mulher. “Mulher” não pode ser associada com
Gênero é o índice linguístico da oposição política entre os sexos. Gênero é
escrita porque “Mulher” é uma formação imaginária e não uma realidade
usado aqui no singular porque de fato não há dois gêneros. Há somente um: o
concreta; é aquela velha etiqueta do inimigo agora floreada como uma
feminino, o “masculino” não sendo um gênero. Pois o masculino não é o
bandeira rasgada retomada e conquistada em batalha. “Escrita feminina” é a
masculino mas o generalizado.3 O resultado é que há o generalizado e o
metáfora naturalizante do brutal fato político da dominação das mulheres, e
feminino, ou ainda, o generalizado e a marca do feminino. Isso é o que faz
como tal isso enlarga o aparato sob o qual “feminilidade” se apresenta: quer
Nathalie Sarraute dizer que ela não pode usar o gênero feminino quando ela
dizer, Diferença, Especificidade, Corpo/Natureza Fêmea. Apesar de sua
quer generalizar (e não particularizar) o que ela está escrevendo sobre. E
posição adjacente, “escrita” é capturada pela metáfora em “escrita feminina”
desde que o que é crucial para Sarraute é precisamente abstração do próprio
e como um resultado falha em aparecer como trabalho e um processo de
produção, já que as palavras “escrita” e “feminina” são combinadas em ordem 2
O começo do movimento de liberação das mulheres na França e em todos outros
lugares era em si mesmo um questionamento das categorias de sexo. Mas mais tarde
só feministas radicais e lesbianas continuaram a desafiar em bases políticas e teóricas
o uso dos sexos como categorias e classes. Para o aspecto teórico dessa questão, veja
1
tradução de tatiana nascimento dos santos. fevereiro/março de 2011. do inglês The Questions féministes entre 1977 e 1980 e Feminist issues desde seu primeiro número.
3
Point of View: Universal or Particular?, artigo publicado em WITTIG, Monique. Veja Colette Guillaumin, “The Masculine: Denotations/Conotations,” Feminist
2002. The straight mind and other essays. Boston: Beacon Press. 110 p. issues 5, n. 1 (primavera 1985).
material concreto, o uso do feminino é impossível quando sua presença confrontam umas às outras. Pois desde Proust nós sabemos que a
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distorce o sentido do projeto dela, devido a analogia a priori entre experimentação literária é uma forma favorável de trazer um sujeito7 à luz.
gênero/sexo/natureza feminina. Só o masculino como generalizado é o Essa experimentação é a prática subjetiva derradeira, uma prática do sujeito
abstrato. O feminino é o concreto (sexo em linguagem). Djuna Barnes faz o cognitivo. Desde Proust, o sujeito nunca tem sido o mesmo, porque por
experimento (e triunfa) por universalizar o feminino. (Como Proust, ela não Remembrance of Things Past8 ele fez “homossexual” o eixo de categorização
faz diferença entre a forma com que ela descreve personagens masculinas e do qual universalizar. O sujeito minoritário não é auto-centrado como o
femininas.) Fazendo isso ela tem triunfa em remover do gênero feminino seu sujeito hetero. Sua extensão dentro do espaço poderia ser descrita como sendo
“smell of hatching,”5 para usar uma expressão de Baudelaire sobre a poeta tal o círculo de Pascal, cujo centro é em todo lugar e cuja circunferência é
Marceline Desbordes-Valmore. Djuna Barnes cancela os gêneros fazendo-os lugar nenhum. Isso é o que explica o ângulo de abordagem de Djuna Barne ao
obsoletos. Eu acho necessário suprimi-los. Esse é o ponto de vista de uma texto dela – uma constante mudança que, quando o texto é lido, produz um
lésbica. efeito comparável ao que chamo de uma percepção fora-do-canto-do-olho; o
texto funciona por fraturamento. Palavra por palavra, o texto carrega a marca
III daquele “estranhamento” que Barnes descreve com cada de suas personagens.
Os significados do discurso do século dezenove encharcaram a realidade
textual de nosso tempo até o ponto de saturação. Então, “’o gênio da suspeita IV
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apareceu na cena.’” Então, “nós entramos agora numa era de suspeita.” Todas escritoras minoritárias (que têm consciência de serem) entram
“Homem” perdeu tanto terreno que ele quase não é reconhecido como o obliquamente em literatura, se posso dizer assim. Os problemas importantes
sujeito do discurso. Hoje eles estão perguntando: qual é o sujeito? No desastre em literatura que preocupam suas contemporâneas são enquadrados pela
em geral que seguiu o chamado do sentido à questão, há espaço para assim- perspectiva delas. Elas são tão apaixonados sobre problemas de forma quanto
chamadas escritoras minoritárias para que entrem no privilegiado campo (de são escritoras hetero, mas também não podem evitar ser senão movidas corpo
batalha) da literatura, em que tentativas para constituição do sujeito se e alma por seu assunto – “aquele que clama por um nome secreto”, “aquele

4 7
n.t. “undertaking” n.t. não achei uma saída polissêmica, em pb, ao uso do polissêmico “subject” em
5
n.t. não achei o texto de referência para entender o sentido que a expressão poderia inglês, que tanto pode ser sujeito (substantivo) quanto sujeitar (verbo) quanto assunto
tomar, e como a opção “cheiro de chocadeira” parecia muito esdrúxula, deixei a (substantivo também), e me parece que essa dupla acepção de sujeito/assunto é tema
expressão em aberto para pesquisa posterior. do trecho.
6 8
Nathalie Sarraute, The Age of Suspicion (Nova Iorque: George Braziller, 1963), p. n.t. traduzido no brasil como Em busca do tempo perdido, com várias edições,
57. editoras e traduções.

2
que não ousa dizer seu nome”, aquele que elas acham em todo lugar apesar de não deveria reduzir e limitá-la à minoria lésbica. Isso não só não seria favor
nunca ser escrito. Escrever um texto que tem homossexualidade entre seus nenhum para ela, mas também favor nenhum para nós. Pois é dentro da
temas é uma aposta. É aceitar o risco de que a cada volta o elemento formal literatura que o trabalho de Barnes pode melhor agir tanto para ela e para nós.
que é o tema vai sobredeterminar o sentido, monopolizar todo o sentido,
contra a intenção da autora que quer acima de tudo criar um trabalho literário. V
Assim o texto que adota um tal tema vê uma de suas partes tomada pelo todo, Há textos que são da maior importância estratégica tanto em seu modo de
um dos elementos constituintes do texto tomado pelo texto todo, e o livro se aparição e em seu modo de inscrição dentro da realidade literária. Isso é
torna um símbolo, um manifesto. Quando isso acontece, o texto cessa de verdade da oeuvre9 toda de Barnes, que desse ponto de vista funciona como
operar no nível literário; é sujeitado à desconsideração, no sentido de cessar um texto único, singular, pois Ryder, Ladies Almanack, Spillway, e Nightwood
de ser considerado em relação a textos equivalentes. Se torna um texto são enlaçados por correspondências e permutações. O texto de Barne é
comprometido com um tema social e atrai atenção a um problema social. também único no senso de que é o primeiro de seu tipo, e ele detona como
Quando isso acontece a um texto, ele é desviado de seu primeiro alvo, que é uma bomba onde não havia nada antes dele. Tanto é assim que, palavra por
mudar a realidade textual na qual se inscreve. De fato, por razão de seu tema palavra, ele tem que criar seu próprio contexto, trabalhando, laborando com
ele é destituído daquela realidade textual, não mais tem acesso a ela, é banido nada contra tudo. Um texto de uma escritora de minoria é efetivo só se triunfa
(muitas vezes simplesmente pelo tratamento silente ou por falta de em fazer universal o ponto de vista da minoria, só se ele é um importante texto
reimpressão), ele não pode mais operar como um texto em relacionamento literário. Remembrance of Things Past é um monumento da literatura
com outros textos passados ou contemporâneos. Ele é interessante unicamente Francesa, mesmo que homossexualidade seja o tema do livro. A oeuvre de
para homossexuais. Tomado como símbolo ou adotado por um grupo político, Barne é uma importante oeuvre literária mesmo que seu tema maior seja
o texto perde sua polissemia, ele se torna unívoco. Essa perda de sentido e lesbianismo. De um ponto de vista o trabalho dessas duas escritoras
falta de prumo na realidade textual impede o texto de dar continuidade à única transformou, como deveria todo trabalho importante, a realidade textual de
ação política que poderia: introduzir-se dentro do tecido textual dos tempos nosso tempo. Mas como o trabalho de membros de uma minoria, seus textos
por meio da literatura que corporifica. Sem dúvida é por isso que Djuna mudaram o ângulo de categorização tão longe quanto a realidade sociológica
Barnes se mortificou que as lésbicas fizessem dela sua escritora, e que por de seus grupos alcança, ao menos em afirmar sua existência. Antes de Barnes
fazê-lo elas reduzissem seu trabalho a uma dimensão. De qualquer forma, e
mesmo que Djuna Barnes seja lida antes e amplamente por lésbicas, alguém 9
N.T. obra, trabalho. as expressões em francês usadas pela autora foram mantidas
nessa língua.

3
e Proust quantas vezes personagens homossexuais e lesbianas foram criar seu próprio contexto num mundo que, tão logo ela aparece, empenha
escolhidas como o tema da literatura em geral? O que existiu em literatura todo esforço para fazê-la desaparecer. A batalha é dura porque ela tem que
entre Safo e Ladies Almanack e Nightwood de Barnes? Nada. travá-la em dois fronts: no nível formal com os problemas que estão sendo
debatidos no momento em história literária, e no nível conceitual contra o
VI isso-vai-sem-falar da mente hetero11.
O único contexto de Djuna Barnes, se alguém escolhe olhar para ele de um
ângulo de minoria, era o trabalho de Proust, a quem ela se refere em Ladies VII
Almanack. É Djuna Barnes que é nossa Proust (e não Gertrude Stein). Um Deixe-nos usar a palavra letra para o que é geralmente chamado o significante
diferente tipo de tratamento, apesar disso, foi concedido ao trabalho de Proust e a palavra sentido para o que é chamado o significado (o signo sendo a
e ao trabalho de Barnes: o de Proust mais e mais triunfante até se tornar um combinação da letra e do sentido). Usando as palavras letra e sentido em lugar
clássico, o de Barnes aparecendo como um clarão de luz e então de significado e significante permite-nos evitar a interferência do referente
desaparecendo. O trabalho de Barnes é pouco conhecido, irreconhecível na prematuramente no vocabulário do signo. (Pois significado e significante
França, mas também nos Estados Unidos. Alguém poderia dizer que descrevem o signo em termos da realidade a que se refere, enquanto letra e
estrategicamente Barnes é, apesar disso, mais importante que Proust. E como sentido descrevem o signo somente em relação a linguagem.) Na língua, só o
tal constantemente ameaçado com desaparição. Safo também desapareceu. sentido é abstrato. Em um trabalho de experimentação literária pode haver um
Mas não Platão. Alguém pode ver bem claramente o que está em pauta e equilíbrio entre letra e sentido. Tanto pode haver uma eliminação do sentido
“ousa não dizer seu nome,” o nome que Djuna Barnes ela mesma abominou. em favor da letra (experimentação literária “pura”), ou pode haver a produção
Sodoma é poderosa e eterna, disse Colette, e Gomorra não existe. A Gomorra do sentido primeira e principalmente. Mesmo no caso de experimentação
de Ladies Almanack, de Nightwood, de “Cassation” e “The Grande Malade”
11
n.t. usualmente, outras traduções para PB de textos do mesmo livro trazem a
em Spillway é uma impressionante refutação da negação de Colette, pois o expressão “straight mind” como “o pensamento hetero”. eu escolhi “mente” e não
que está escrito é. “Raise high the roof beam, carpenter, / for here comes the “pensamento” ou “mentalidade” porque nessa tradução o principal caminho
tradutório, mesmo eu o consiga trilhar poucas vezes, é aquele que enfatiza a letra –
lesbian poet, / rising above the foreing contestants.”10 Essa poeta geralmente nem a forma isoladamente, nem o sentido como entidade, mas uma comunhão
semântica, sintática, estilística. no tópico seguinte, VII, quando Wittig fala mais
tem uma dura batalha a travar, pois, passo a passo, palavra a palavra, ela deve
especificamente sobre linguagem, o par “letter” e “meaning” surgiu. traduzir letter por
palavra foi mais fácil que traduzir meaning por sentido, pois pensei em traduzi-la por
menção de forma a contemplar mais a integridade da letra (prosódia, fonética e
10
“Eleve alto a viga do teto, carpinteiro, / pois aqui vem a poeta lesbiana, / se estilística subindo ao patamar semântico) mas ainda assim estou bastante atada ao
elevando sobre os oponentes de fora.” sentido tradicional (e hegemônico) de sentido em tradução.

4
literária “pura”, pode acontecer, como apontou Roland Barthes, que certos às vezes confundido com o referente quando alguém fala do “conteúdo.”) De
sentidos podem ser sobredeterminados em tal medida que a letra é feita o fato, sentido é língua, mas sendo sua abstração ele não pode ser visto. A
sentido e o significante se torna o significado, o que quer que a escritora faça. despeito disso, no uso corrente da língua alguém vê e ouve só sentido. Isso é
Escritoras de minoria estão ameaçadas pelo sentido mesmo enquanto elas porque o uso da língua é uma operação muito abstrata, na qual a cada turno na
estão engajadas em experimentação formal: o que para elas é só um tema em produção do sentindo sua forma desaparece. Pois quando a língua toma forma,
seu trabalho, um elemento formal, impõe a si mesmo como unicamente ela é perdida no sentido literal. Ela pode só reaparecer abstratamente como
sentido, para leitoras hetero. Mas também isso é porque a oposição entre letra língua ao redobrar-se a si mesma, ao formar um sentido figurativo, uma forma
e sentido, entre significante e significado tem nenhuma raison d’être12 exceto de dizer. Isso, então, é trabalho de escritora – ocupar a si mesmas com a letra,
em uma anatômica descrição da língua. Na prática da língua, letra e sentido o concreto, a visibilidade da linguagem, isto é, sua forma material. Desde o
não agem separadamente. E, para mim, a prática de uma escritora consiste em tempo que a língua tem sido percebida como material, ela tem sido trabalhada
constantemente reativar letra e sentido, pois, como a letra, sentido desaparece. palavra por palavra por escritoras. Esse trabalho no nível das palavras e da
Interminavelmente. letra reativa palavras em seu arranjo, e em troca confere ao sentido seu sentido
total: na prática esse trabalho desvela no mais dos casos – mais que um
VIII sentido – polissemia.
Língua para uma escritora é um material especial (comparado àquele de Mas o que quer que alguém escolha fazer no nível prático como
pintoras ou musicistas), desde que é usada primeiro de tudo para quase nada escritora, quando se trata do nível conceitual, não há outro caminho a seguir –
mais que produzir arte e descobrir formas. Ela é usada por todo mundo todo o alguém deve assumir ao mesmo tempo um ponto de vista particular e
tempo, ela é usada para conversação e comunicação. Ela é um material universal, ao menos para fazer parte da literatura. Isto é, alguém deve
especial porque é o lugar, o meio, o intermédio para trazer o sentido à luz. trabalhar para alcançar o geral, mesmo se começando de um ponto de vista
Mas o sentido some de vista a língua. Pois a língua, como a carta roubada do individual ou específico. Isso é certo para escritoras hetero. Mas é certo
conto de Poe, está constantemente ali, apesar de totalmente invisível. Pois também para escritoras de minoria.
alguém vê, alguém ouve só o sentido. Então o sentido não é a língua? Sim, ele
é língua, mas em sua forma visível e material, a língua é forma, a língua é
letra. O sentido não é visível, e como tal parece estar de fora da língua. (Ele é

12
n.t. razão de ser, lógica.

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