2) Em determinado processo, o magistrado fixou astreinte diárias para compelir o devedor a cumprir
obrigação de entrega de coisa, o que não ocorreu no prazo estabelecido. Levando em consideração
que o valor acumulado das astreinte está próximo de R$ 100.000,00 (cem mil reais) e que o
conteúdo econômico discutido no processo é de no máximo R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a parte
ré peticiona requerendo a redução do valor retroativamente. Ocorre que a exequente, por seu turno,
sustenta que este montante de R$ 100.000,00 (cem mil reais) já integra o seu patrimônio. Vindo os
autos conclusos para a decisão, o magistrado percebe, na ambiência de seu gabinete, que o NCPC
fornece um tratamento inconclusivo quanto ao tema “astreintes”. Em determinada norma, por
exemplo, autoriza que o magistrado possa alterar ou mesmo excluir o valor das multas, mas
apenas para aquelas vincendas (art. 537, § 1°), o que contraria entendimento jurisprudencial. Por
outro lado, em outro momento, deixa o tema um tanto vago (art. 806, § 1°), nada dispondo se a
revisão do valor pode ser realizada em caráter retroativo. Indaga-se: Como decidir? O valor das
astreinte poderia ser reduzido ex tunc? E, para os casos de fixação desta multa não seria melhor
simplesmente o magistrado fixar multa de incidência única, em valor mais substancial, para que a
mesma realmente possa funcionar como fator coercitivo?
Considerando a finalidade da multa, no sentido de pressionar o devedor ao cumprimento da
prestação, a sua eficácia imediata é manifestamente adequada. Seguindo entendimento já
consolidado em nosso sistema processual o valor fixado na multa ou a sua periodicidade poderão
ser alterados de ofício pelo juiz ou a requerimento da parte credora quando esta se mostrar
insuficiente ou excessiva, ou ainda nos casos em que ocorrer o cumprimento parcial e proveitoso
da obrigação ou justa causa para o seu descumprimento. O julgador poderá também vislumbrar a
presença de outros motivos suficientes para justificar a modificação dos parâmetros fixados na
multa, sempre levando em consideração a orientação jurisprudencial do STJ no sentido de evitar a
proliferação da chamada indústria das astreintes. A quantia resultante da aplicação da multa
cominada ao devedor reverterá em favor da outra parte.
3) Em sendo um título executivo judicial proferido de forma líquida, antes de seguir para a fase de
cumprimento temos uma fase intermediária que seria a fase de liquidação. Assim, em face de tal
fato pergunta-se: é possível haver a fase de liquidação para um título executivo extrajudicial?
Explique.
A liquidação foi criada para liquidar sentença, ou seja, um título executivo judicial. Assim, a
liquidação que possui natureza jurídica de etapa processual, é incompatível com o processo de
execução que possui natureza jurídica de ação, ou seja, não tem como iniciar um processo com a
etapa processual de execução, desse modo, o credor deve ajuizar uma ação de conhecimento para
que depois de conhecido o direito, possa liquidar o título.
Ressalta-se que o título executivo possui como requisitos obrigatórios: certeza, liquidez e
exigibilidade. Portanto, não é possível haver a fase de liquidação para um título executivo
extrajudicial.
5) Os bens penhorados podem ser levados à leilão, na pendência da apelação interposta contra
sentença que julgou improcedentes embargos de devedor?
Por se tratar de uma execução definitiva, o que poderá impedir de levar o bem a leilão, são: o
parcelamento, a apelação com efeito suspensivo e quando houver suspensão da execução. Sendo
assim, quando não ocorrer os impedimentos descritos, os bens penhorados podem ser levados a
leilão.
6) Como se procede ao cálculo da coisa julgada líquida, para a obtenção da quantia certa destinada
à execução? Quais as modalidades de liquidação procedimental de coisa julgada líquida prevista na
Lei nº 13.105/15 (CPC)?
Como regra geral as sentenças devem ser líquidas. Entretanto, nas hipóteses em que houver
condenação ao pagamento de quantia ilíquida, caberá ao credor, antes de dar início ao
cumprimento de sentença proceder à liquidação, que inclusive, neste caso, passa a ser condição
indispensável para a execução. Embora geralmente a liquidação interesse ao credor e, portanto,
venha a ser provada por este, o devedor também dispõe de legitimidade para impulsionar a fase de
liquidação da sentença, para que este alcance condições de ser cumprida voluntariamente.
A sentença não é considerada ilíquida quando a apuração do valor depender apenas de cálculo
aritmético, caso em que o credor poderá promover de imediato o cumprimento da condenação ou o
devedor realizar o pagamento voluntário. Para tanto deverá ser apresentado ao juízo o
demonstrativo discriminado e atualizado do valor, contendo os elementos indicados no art. 524.
A liquidação de sentença poderá ser feita pelas modalidades de arbitramento ou pela observância
do procedimento comum. A liquidação por arbitramento decorrerá da natureza da sentença, quando
houver convenção das partes optando por esta técnica de definição do valor da condenação ou a
natureza do objeto da liquidação a exigir. O juiz irá intimar as partes para a apresentação de
pareceres ou documentos elucidativos, capazes de auxiliar no seu convencimento, fixando o prazo
que entender adequado. Caberá, portanto, as partes se encarregarem de trazerem ao juízo as
informações adequadas para a determinação do valor da condenação.
A liquidação pelo procedimento comum equivale à antiga liquidação por artigos, de forma que o juiz
intimará o requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade a que estiver vinculado, para a
apresentação de contestação, no prazo de quinze dias. Na sequência será observado o roteiro de
atos do procedimento comum visando à obtenção do quantum debeatur.
A decisão que resolve a fase de liquidação de sentença, quer por arbitramento ou pelo
procedimento comum, embora venha a implicar em análise de mérito, é passível de ser impugnada
por recurso de agravo de instrumento. A liquidação da sentença poderá ser realizada mesmo na
pendência de recurso, caso em que irá se processar em autos apartados no juízo de origem. O
pedido, então, será instruído com as cópias das peças processuais pertinentes. Neste caso duas
situações poderão ser verificadas. A primeira, quando a liquidação provisória disser respeito tão
somente à parte da sentença que não foi objeto de impugnação do recurso, quando então ganha
caráter de definitiva, pelo menos em relação a este capítulo da decisão final. Num segundo caso a
liquidação poderá ter por objeto a própria matéria que ainda é debatida em sede recursal e,
portanto, será provisória e sendo a decisão liquidanda revertida, a atividade promovida no curso da
liquidação terá sido inócua.