jornalismo, da convergência midiática e dos
RESENHA
KISCHINHEVSKY, Marcelo. (2016). Rádio e mídias sociais: mediações e interações radiofônicas em
plataformas digitais. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.
Reflexões sobre
o rádio
e as plataformas
digitais
O
rádio é uma mídia que está sempre
se reinventando, forçado por seus
concorrentes diretos como a TV e o
impresso ou estimulado pela internet. Aliás,
sobreviver é uma das especialidades do rá-
dio. O livro Radio e Mídias Sociais: Media-
ções e Interações Radiofônicas em Platafor-
mas Digitais de Comunicação vai abordar
esses assunto de forma bem embasada.
O livro reúne reflexões desenvolvidas ao
longo dos últimos cinco anos sobre a recon-
Autor Correspondente 1: bernadetecoelhos@gmail.com
Recebido: junho, 2017 \ Aceito: junho, 2017 \ Publicado: junho, 2017.
38 PANORAMA Goiânia, v. 7, n. 1, p. 38-39, jan./jun. 2017 . ISSN 2237-1087 . DOI 10.18224/pan.v7i1.5653
Bernadete Coelho de Souza1
figuração da indústria da radiodifusão dian-
te da convergência midiática do professor
Marcelo Kischinhevsky. O autor é professor
adjunto do Departamento de Jornalismo e
dos programas da Pós-Graduação em Comu-
nicação (Mestrado e Doutorado) e em Jorna-
lismo Cultural (especialização) da Faculda-
de de Comunicação Social da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Kischinhevsky
é doutor em Comunicação e Cultura e de-
senvolve pesquisas no campo da radiofonia,
estudos do som e música.
Para Kischinhevsky, o rádio é hoje um
meio de comunicação expandido, que vai
além das ondas de Hertz e invade as mídias
sociais, a telefonia móvel, sites e portais de
música eliminando as fronteiras. Ele traça
um mapa do ambiente midiático e coloca o
rádio como veículo ágil na associação com as
mídias sociais, diretórios e portais. O autor
explica que se por um lado isso potencializa
a circulação de seus conteúdos e explora
vantagem competitiva diante da TV, já que
a comunicação sonora permite a realização
de outras atividades simultâneas a escuta, e
por outro pulveriza a audiência.
Logo nas primeiras páginas vemos a pre-
ocupação do autor em primeiro conceituar o
que é rádio? Para Meditsch se não for feito
de som não é rádio, se tiver imagem junto
não é rádio, se não emitir em tempo real não
é radio, é fonografia, mas não é rádio. O pod-
casting e web rádios também são alvo dessas
reflexões onde o autor busca também am-
pliar a idéia de linguagem radiofônica. Pos-
teriormente, ele abre o debate sobre a pes-
quisa e o papel da comunicação social como
ciência que abrange a comunicação massiva
e que também exerce um papel central na
sociedade contemporânea. Para apresentar
esses assuntos ao leitor Kischinhevsky lança
mão de outros autores e pesquisas.
Para começo de conversa o autor apre-
senta duas chaves conceituais importantes
para entender às Comunicações: mediações
e interações. Falando sobre as mediações,
toma como base principalmente nas refle-
xões de Martim Barbero e Guilherme Orozco
Gomez e a noção de múltiplas instancias de
mediações. Sobre interações o ponto de par-
tida é Alex Primo para quem a interação so-
cial é caracterizada por mensagens trocadas
e pelo relacionamento que existe entre os
envolvidos no processo. Kischinhevsky dei-
xa claro que as duas instanciam distintas, se
articulam e sobrepõe de várias formas sem
prevalecer uma sobre a outra e que a Comu-
nicação vai além desses conceitos.
A partir daí o autor passa a tratar a co-
municação radiofônica dentro de uma pers-
pectiva ampla que envolve elementos sono-
ros e passonoros, como fotos, ilustrações de
sites das emissoras e outros. O rádio entra
na roda viva da arquitetura das interações
que compreende uma reconfiguração, mas
não perde sua especificidade.
O rádio enfrentou entre os anos de 1970 e
1990 uma crescente concorrência em várias
frentes passando a existir uma multiplicidade
de oferta com a consolidação da TV e tam-
bém da telefonia celular introduzida no Brasil
a partir de 1990 e ainda com o acesso comer-
cial à internet no mesmo período. Essa fase
de convergência se apresenta como um mo-
vimento internacional. Apesar disso não há
como comparar a expansão da TV em termos
de audiência e das verbas publicitárias que
esse veículo consegue arrecadar com os nú-
meros simplórios alcançados pelo rádio mes-
mo tendo cuidado com pesquisas e números.
Outra questão que afeta a reconfiguração
do rádio é o sistema de concessões marcado
por um mercado, que ele classifica como sen-
do de arrendamento de rádios e ainda o fato
de emissoras locais serem atraídas, cada vez
mais para grandes grupos de comunicação
com sede em capitais como São Paulo e Rio
de Janeiro. A incorporação à grandes redes
tem como principal expectativa aumento de
audiência e de receita publicitária. A des-
vantagem é a diminuição no percentual de
produção de conteúdo local. E na virada dos
anos 2000 a convergência midiática ganha
ainda a confluência de processos econômi-
cos, políticos sociais e jurídicos.
O autor avalia como o rádio se posicio-
nou diante desses eventos. A Midiamorfose
de Fidleré apenas uma das teorias sobre a
forma de pensar a reconfiguração dos meios
de comunicação. O outro conceito seria a
remedição, desenvolvido por Jay David Bol-
ter e Richard Grusin. Em uma explicação
simples a remedição seria a representação
de um meio em outro e que pode ocorrer de
forma agressiva ou respeitosa.
Kischinhevsky reconhece e insere a ra-
diofonia nessa nova configuração do com-
plexo midiático inclusive no âmbito tecno-
lógico, nas etapas de criação/ produção,
edição, distribuição e consumo sem esque-
cer os novos hábitos de escuta. Não dá para
ignorar os telefones celulares de última
geração que gravam áudio com uma qua-
lidade excelente e as unidade móveis mais
leves que dão agilidade as coberturas, além
de outros aparatos. No âmbito profissional
os trabalhadores precisam ser versáteis,
capazes de acumular diversas tarefas nas
rotinas de produção. A cobrança de produti-
vidade aumenta na mesma proporção prin-
cipalmente nas emissoras que se dedicam
exclusivamenteao jornalismo.
Para o autor esse é o cenário no qual o
rádio se articula de modo crescente com ou-
tros meios de comunicação e assim o rádio
se expande para além das ondas hertzianas,
á exemplo do que acontece com o compar-
tilhamento de áudios via podcasting. Nesse
sistema cada internauta pode escolher onde
e como vai ouvir o arquivo desejado. Esses
arquivos são chamados de episódios. Essa
modalidade cria atore sociais interessados
em novos canais de comunicação sem a me-
diação tradicional das emissoras de rádio.
Entretanto essas mudanças proporcionadas
pelo podcasting na esfera da produção dis-
tribuição e recepção privilegiam as classes
com maior poder aquisitivo. O podcasting
pode também ser usado como estratégia de
visibilidade de atores sociais embora, como
lembra o autor, o percentual de emissor é
bem menor que a quantidade de ouvintes.
Os serviços de rádios sociais são outra
modalidade radiofônica incluídas pelo autor
como remediada pelos sites de relacionamen-
to. Essas mídias sociais têm base radiofônica
e oferecem não só espaço para distribuição
e consumo de conteúdos sonoros,mas tam-
bém de interação entre os participantes. É
preciso criar um perfil e a partir daí o consu-
mo dos conteúdos sonoros também alimenta
amizades com outros usuários.
No Brasil, o portal colaborativo Radiotube
reúne amantes do rádio, ativistas de rádios
comunitárias e organizações ligadas a movi-
mentos sociais com objetivo de formar uma
rede que produz conhecimento coletivo. É
gerenciado pela ONG Criar Brasil. Na Amé-
rica Latina, outro exemplo é a Radioteca, um
portal de intercambio de produções desenvol-
vido de forma colaborativa por milhares de
emissoras e centros de produção radiofônica.
No livro o autor também abre espa-
ço para falar de outras concorrentes das
emissoras que ele chama de hertizanas,
as rádios corporativas e customizadas. São
novos atores no mercado da radiodifusão
sonora, fruto do investimento e interesse de
bancos, montadoras de veículos, operadoras
de telefonia, supermercados e etc. A lista de
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ramos de atividades é extensa. Essas em- sobre as medições e interações radiofônicas
presas têm investido no rádio como forma nas plataformas digitais, Kischinhevsky ain-
de se comunicar diretamente com seu pu- da afirma que essa nova configuração seja
blico de interesse. E esse público pode ser por meio de web rádios, podcasts ou rádio
os clientes,fornecedores ou até visitantes e social, traz o desenvolvimento de novas prá-
ainda trabalhadores dentro de sua cultura ticas interacionais e de novas modalidades
organizacional. O autor explica que esse de recepção em múltiplas temporalidades e
movimento é resultado de um processo de ambientes identificando mais continuidade
hipersegmentação do rádio e que pode ser que rupturas no processo comunicacional.
entendido como um desdobramento da re- Para quem se dedica a pesquisar o rádio o
configuração do mercado de sonorização de livro é uma obra importante porque apre-
ambientes. Essa modalidade é fruto de uma senta novas possibilidades de interação. O
ação comunicacional de organizações sem caminho ainda tem muitos obstáculos a se-
histórico de atuação na radiodifusão com o rem contornados, mas Kischinhevsky afirma
objetivo de fortalecer suas marcas e vender que “a chave para o futuro é o conteúdoe
produtos e serviços. O autor cita os exem- dessa forma cabe também a audiência bus-
plos de rádios como da rede de fast food car novas formas de relação com o meio,for-
Mc Donalds, da grife carioca Totem e como çando o rádio a ser cada vez melhor”.
exemplo de comunicação interna a experi-
ência da Radio Estrada ALL.
Nesse cenário de reconfiguração de mer-
cado segundo Kischinhevsky também sur-
gem as rádios customizadas voltadas para o
público em geral via satélite ou pelas ondas
do rádio. Um exemplo citado é o da emis-
sora que transmitia ao longo dos 402 quilô-
metros de extensão da Rodovia Presidente
Dutra. O projeto teve um investimento de 6
milhões de reais de CCR uma das maiores
operadoras de infraestrutura do país. Para
entender essa pluralidade em fase de con-
vergência, o autor propõe ainda uma cate-
gorização para o rádio expandido que en-
volve a distribuição , circulação e recepção.
O autor enfatiza que o rádio também
quer ser 2.0 e desde a briga com a televi-
são para não sumir do mapa tem procurado
uma maior mobilidade e interatividade com
a audiência. Na fase da convergência essa
busca fica ainda mais intensa incentivan-
do a participação do publico. Mesmo que
o ouvinte tenha uma participação restrita
o rádio constrói discursos que não são res-
tritas a um script e assim constrói sentidos.
Dessa forma surge o conceito desenvolvido
por Cebrián Herreros do ciberrádio onde a
audiência tem um novo papel ao incorporar
elementos da internet.
Kischinhevsky também aborda a ques-
tão das interações comunicacionais envol-
vendo comunicadores, ouvintes, emissoras
e dispositivos técnicos de reprodução sono-
ra na fase da convergência. Diferentemente
do que se viu na fase da difusão e da seg-
mentação o caminho principalmente para
as emissoras que se dedicam ao jornalismo
24 horas é o dialogo com as redes sociais
on-line e remissão do conteúdo em blogs,
sites e perfis institucionais ou dos próprios
comunicadores e comentaristas. Interação e
participação passaram a configurar valores
para o radiojornalismo que quer ser firmar
como meio de comunicação que tem uma
ligação de proximidade com o público.
As emissoras tradicionais passaram
a investir em plataformas digitais, ainda
sem muita experiência. Algumas rádios
fazem uso do Twiter como ferramenta de
comunicação bidirecional. Nesse cenário o
facebook também aparece como termôme-
tro importante com base nas curtidas e co-
mentários dos internautas. O uso de hastgs
multiplica o volume de comentários e com-
partilhamentos. O autor considera ainda a
etiquetagem e o compartilhamento práticas
centrais nesse novo ambiente midiático. E
o compartilhamento seria o ponto alto da
experiência da comunicação mediada pelo
computador por que proporciona, segundo
ele,um novo espaço para circulação de con-
teúdo e também exposição da intimidade.
Após todas essas considerações importantes