370.111
MARIab
14 cm x 21cm, 292 p.
ISBN: 978-85-65212-40-3
1. Brasil - Política científica 2. Ciência, tecnologia e sociedade I. MARINHO,
Maria Gabriela S. M. C. II. SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. III. MONTEIRO,
Marko. IV. DIAS, Rafael de Brito ; V. CAMPOS, Cristina de.
Prefácio 7
Capítulo 1
É possível cumprir a proposta da “Ciência e Tecnologia
para o desenvolvimento”? 17
Renato Dagnino
Capítulo 2
Sociologia da Ciência e da Tecnologia: instrumentos para a análise
do processo de formação de agendas de pesquisa 43
Renan Gonçalves Leonel da Silva
Maria Conceição da Costa
Capítulo 3
Como combater o HLB (Greening)?
Tradução e controvérsias na produção de laranja 67
Gabriela da Rocha Barbosa
Leda Gitahy
Capítulo 4
Reconsiderando a etnografia da ciência e da tecnologia.
Tecnociência na prática 99
Marko Synésio Alves Monteiro
Capítulo 5
Participação pública e avaliação social da ciência e tecnologia:
uma revisão 121
Camila Carneiro Dias Rigolin
Capítulo 6
A política científica e tecnológica brasileira nos anos 2000
e a “agenda da empresa”: um novo rumo? 141
Rafael Dias
Milena Serafim
Capítulo 8
Labordireitórios 189
Ivan da Costa Marques
Capítulo 9
A dinâmica da ciência: subsídios para a compreensão
da ciência acadêmica e pós-acadêmica 215
Vera Aparecida Lui Guimarães
Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi
Capítulo 10
Coletivos Tecnológicos e a produção colaborativa entre pares 251
Sergio Amadeu da Silveira
Capítulo 11
Internacionalização da ciência no Brasil e mobilidade internacional:
políticas, práticas e impacto 263
Lea Velho
Milena Yumi Ramos
Hebe Vessuri
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Morelia, Michoacán,
26 de septiembre de 2013
Referências bibliográficas
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Renato Dagnino
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2 É de do trabalho de José Luis Fiori – “O poder global e a nova geopolítica das na-
ções” (1997) – que tomei de empréstimo esta proposição.
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5 Do que hoje se gasta em pesquisa no mundo, 70% são gastos empresariais (e destes,
70% são de transnacionais, isto é, 50% do total). Os 30% restantes, que correspondem
ao gasto público, como é evidente, também se orientam direta ou indiretamente
para a mesma finalidade.
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DETERMINISMO INSTRUMENTALISMO
otimismo da esquerda marxista otimismo liberal/positivista/mo-
tradicional: força que molda derno no progresso: produzida em
e empurra inexoravelmente a busca da verdade e submetida ao
sociedade mediante exigências de controle externo e a posteriori
eficiência e progresso que ela pró- da Ética, pode ser usada para
pria estabelece; hoje oprime mas satisfazer infinitas necessidades
amanhã, quando "apropriada", da "sociedade"
liberará e conduzirá ao socialismo
CONTROLÁVEL
AUTÔNOMA PELO HOMEM
SUBSTANTIVISMO ADEQUAÇÃO SÓCIO-TÉCNICA
crítica marxista/pessimista da postura engajada e otimista:
Escola de Frankfurt: valores e in- construção social a ser projetada
teresses capitalistas incorporados mediante a internalização de
na sua produção condicionam sua valores e interesses alternativos
dinâmica e impredem seu uso em às instituições onde é produzida:
projetos políticos alternativos pluralidade, controle democrático
interno e a priori
CONDICIONADA
POR VALORES
Fonte: Elaborado pelo autor a partir das proposições de Andrew Feenberg (2010)
7 Um dos eventos que mais marcou as discussões a esse respeito foi o desenvolvi-
mento da tecnologia nuclear e da pesquisa científica que tornou possível o lança-
mento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Neste caso, os cientistas
que colaboraram no projeto Manhattan e que, inclusive, convenceram os líderes
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Considerações finais
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Referências bibliográficas
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Introdução
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5 Para uma discussão mais aprofundada sobre poder e assimetrias no campo cientí-
fico ver Law (1991) e Latour (2005).
6 Para detalhes sobre a Teoria Ator-Rede ver Law (1992), Callon e Law (1982). Para
aplicações das ferramentas do campo de pesquisa, ver Latour (1988), sobre o papel
de Pasteur em promover estratégias, arranjos e mobilização de diferentes entidades
para a construção de redes que assegurassem o desenvolvimento da pesquisa em
microbiologia na França do século XIX.
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8 Para detalhes sobre os tipos de Capital ver Bourdieu (1998; 2001) e Hess (2011).
9 Para uma análise dos temas sobre o papel da democratização das sociedades oci-
dentais e relações de poder dentro da pesquisa social sobre a ciência e Tecnologia ver
Frickel e Moore (2006).
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Considerações finais
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Referências bibliográficas
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Introdução
1 A doença foi relatada pela primeira vez na China em meados do século XX, rece-
bendo o nome de Huanglongbing (doença do ramo amarelo), já que nas folhas o
sintoma mais característico da doença é a presença de manchas com coloração ama-
rela. Pouco tempo depois, uma doença similar foi descrita na África com o nome
de greening, fazendo alusão à coloração esverdeada dos frutos (Teixeira et al., 2010).
67
2 Para Callon, “o repertório da tradução permite explicar como poucos obtêm o di-
reito de expressar e representar muitos atores silenciosos do mundo natural e social
que eles mobilizaram” (1986:82).
3 Interesse é entendido como “aquilo que está entre os atores e seus objetivos, crian-
do assim uma tensão que fará os atores selecionarem apenas aquilo que, em sua
opinião, os ajude a alcançar esses objetivos entre as muitas possibilidades existentes”
(Latour, 2000:179).
4 Ponto de passagem obrigatória é jargão militar que designa aqueles que possuem
uma capacidade de se fazerem indispensáveis, de ocuparem posições privilegiadas,
já que o objetivo é inalcançável sem eles (Latour, 2001:220). Dessa forma, o ator (tra-
dutor) tenta se tornar indispensável para os demais criando uma geografia de pontos
de passagem obrigatória por onde as entidades que desejam continuar a existir e se
desenvolver são forçados ou convencidos/as a passar (Callon, Law & Rip, 1986).
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19 Essas serão calculadas com base no número de pés cítricos de propriedade de cada
associado e não mais por caixas (Neves, 2007).
20 A forma de contribuição das indústrias sempre foi motivo de desconfiança por
parte dos representantes dos produtores. Como o repasse realizado pela indústria
é baseado em uma estimativa de caixas que serão processadas ao longo do ano e
a informação real do número de caixas processadas e dos fornecedores é sigilosa,
os produtores acreditam que as indústrias estipulariam um valor inferior ao real
número de caixas, arrecadando mais e em contrapartida contribuindo menos ao
fundo, ou seja, para os produtores, a indústria diz que processa menos laranja e com
isso arrecada mais.
21 As pesquisas apontavam que havia uma alta variabilidade temporal de incubação
e de latência da doença que seria bastante afetada pela idade das árvores, o que mos-
traria que uma planta assintomática poderia ter sido fonte de infecção para outras
numerosas árvores (Bové, 2006; Gottwald, 2007).
22 Publicada no Diário Oficial da União no dia 17/10/2008, também determina: a am-
pliação de uma vistoria semestral obrigatória para uma trimestral nos pomares, rea-
lizada pelos citricultores, e a proibição de produção, comércio e trânsito de material
propagativo (como mudas infectadas) e de plantas de murta (Murrayapaniculata)
nos municípios de ocorrência da doença.
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Tem cara que ficou três anos com o greening tirando 50 mil caixas do
pomar; você acha que o cara vai querer arrancar? Se você tiver com um
contrato bom e ainda com baixo custo, pois se o greening está pegando eu
não vou adubar mais, deixa ele levar o pé. Porque o greening não ataca a
fruta diretamente, ela começa a danificar, mas dá para fazer suco ainda, ela
mata mesmo o pé. (Antônio, presidente do Sindicato Rural de Campinas,
entrevista de pesquisa em 2009)
25 De acordo com Moura, “Os produtos comumente utilizados nas adubações folia-
res podem ser adubos simples ou misturas de diversas fontes e podem fornecer tanto
macro como micronutrientes. Os mais comuns são Uréia, os Sais de Sulfatos, de
Nitratos, de Cloretos, Quelatos e os Fosfitos” (2010:10).
26 De acordo com Mattos Jr, Quaggio e Boaretto (2010), os promotores são subs-
tâncias inorgânicas, de ocorrência natural ou sintética, ou sinais que estimulam a
resposta hipersensitiva da planta, a qual pode ser comparada a um tipo de “resposta
imune” quando, por exemplo, infectada por algum patógeno.
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Eles (os produtores) estão fazendo umas pulverizações pra tentar camuflar
e eles não estão arrancando não, já que se for pra arrancar, arranca tudo,
vai controlar com o quê? [...] Eu também tô fazendo, apliquei em vinte
e poucos mil pés, porque é laranja nova né, estou fazendo com isso aí
pra ver. (Francisco, produtor de laranja, entrevista de pesquisa em 2010)
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A Cutrale, fiquei sabendo, que o Fundecitrus não entra lá dentro, eles estão
controlando e cortando do jeito deles; agora, nós temos de deixar entrar
[...] lá em Brotas tentaram entrar duas vezes, tentaram multar a gente e
entramos com um recurso, deram quinze dias para arrancarmos, só que
estávamos colhendo a laranja, tivemos que cortar para não pagar a multa
de sete mil reais. (José, produtor de laranja, entrevista de pesquisa em 2009)
86
Enquanto eles ficam discutindo isso, a bactéria está lá. Se tomar uma
proporção muito grande, a gente vai precisar de um período para sanear,
além de ficar sem a laranja. É isso que eles (os produtores) têm de entender,
mas eu sei que é difícil. (Patrícia Bortolato, do Fundecitrus, entrevista de
pesquisa em 2009)
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29 Essa medida também foi estendida para o cancro cítrico, outra importante do-
ença do citrus. Para o cancro cítrico serão pagos R$ 19,00 por planta contaminada,
valor limitado a 25% das plantas da propriedade. A indenização é diferente, pois, no
caso do cancro cítrico, além da planta contaminada, o citricultor deverá erradicar
outras que estejam no raio de 30 metros da planta infectada. Ademais, o citricultor
não poderá repor as plantas no local pelo prazo de dois anos, no mínimo. Além
disso, de acordo com o secretário da agricultura, “Essa tolerância maior no cancro
deve-se ao baixo índice de infestação no estado, diferentemente do que ocorre com
o greening” (Secretaria da agricultura, 2010).
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Referências bibliográficas
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1 Este texto foi previamente publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais, volu-
me 27, número 79, junho de 2002, pp.139-151. Ele é republicado aqui com autorização
da revista.
2 O movimento teórico conhecido como Teoria Ator-Rede (Actor-Network Theory)
não será abordado neste capítulo por razões de espaço e coerência do argumento,
apesar da proximidade desse campo teórico com diversas correntes da antropologia
contemporânea.
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Antropologia e tecnociência
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Feminismo e tecnologia
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Conclusão
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Referências bibliográficas
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Introdução
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1 Segundo Van Den Ende e colaboradores (1998), as origens das primeiras tentativas
de avaliação tecnológica remontam aos estudos de technology forecasting, ainda
na década de 1950. Estes estudos, que procuravam prever, ou extrapolar, tendências
tecnológicas, eram orientados, basicamente, para o assessoramento de grandes cor-
porações e agências governamentais, no que diz respeito às suas decisões de inves-
timento tecnológico. Grandes think tanks, como Rand e Hudson, realizaram, nesta
época, diversos estudos de technology forecast.
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Considerações finais
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(...) diversas críticas têm sido levantadas em relação aos limites desta abor-
dagem participativa especialmente apontando suas dificuldades em aceitar
as relações de poder entre os próprios agricultores e entre eles e agentes
de desenvolvimento, assim como em capturar as complexas dimensões
envolvidas nas transformações dos conhecimentos. (Guivant, 1997:412)
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Referências bibliográficas
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Rafael Dias
Milena Serafim
Introdução
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Lei da Inovação
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Lei do Bem
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Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (2003; 2008).
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Referências bibliográficas
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Introdução
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Ao ler a literatura dos antropólogos e ao falar com eles, percebi seu cienti-
ficismo. Eles estudavam outras culturas e outras práticas com um respeito
meticuloso, mas com um fundo de ciência. Perguntei-me então o que
dizer do discurso científico se ele fosse estudado com o cuidado que os
etnógrafos têm quando estudam as culturas, as sociedades e os discursos
pré, para ou extracientíficos. A “dimensão cognitiva” não estaria, aí tam-
bém, amplamente exagerada? (Latour & Woolgar, 1997: 12-13; itálico no
original)
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Isso fica mais claro à medida que refletimos sobre os fatos científicos
como constructos sociais. Por mais que algo como um átomo possua
uma parte independente da cultura, que se comporta independentemente
da nossa vontade, é somente por meio da nossa percepção (que inclui a
cultura, as teorias científicas de uma época, os equipamentos de mensu-
ração, etc.) que podemos ver, compreender e significar qualquer coisa
na natureza. Tudo carrega um arcabouço simbólico, que varia ao longo
do tempo e entre diferentes culturas, ao mesmo tempo em que é natural.
Segundo Latour, existem dois processos que contribuem para a
construção dos fatos científicos e tecnologias. O primeiro, que ele chama
de “mediação” (ou translação), se refere à construção de um fato científico
ou tecnologia. Para Latour (1994; 2000), a ciência se faz através de redes,
que conectam pessoas, instituições, e elementos não-humanos. Para um
fato ser aceito ou uma máquina funcionar, eles precisam estar amarrados
a vários elementos (ou atores) humanos e não-humanos. Quanto mais
complexo for um fato ou máquina, mais complexa geralmente necessita
ser essa rede, já que são necessários muito apoio, financiamento, labo-
ratórios, pesquisadores, etc.
Após um fato científico ou uma tecnologia ser construída e esta-
bilizada, entra em cena um segundo processo, que Latour chama de
“purificação”, no qual os cientistas, ainda que sem admitir a si próprios,
mas eficientemente, eliminam a trajetória (muitas vezes controvertida)
da construção desses fatos; o que nos dá a impressão de que os povos
modernos “descobrem” as coisas, sem a influência da sociedade.
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Tome uma caixa-preta qualquer e congele a cena: você pode então con-
siderar o sistema de alianças que ele une de duas formas diferentes. Em
primeiro lugar, observando quem ela tem por finalidade alistar. Em se-
gundo, considerando a que ela está ligada, a fim de tornar o alistamento
inelutável. Por um lado, podemos traçar seu sóciograma; por outro, o seu
tecnograma. (Latour, 2000:229)
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Referências bibliográficas
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Introdução
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1 “Quantas moléculas entraram na fase I, II ou III? Há quanto tempo estão aí? (...) As
moléculas e os medicamentos são, portanto, vigiadas em sua entrada e saída pelos
investidores, aqueles com os quais os industriais devem se aliar para poderem con-
tinuar trabalhando. Mas eles os vigiam de maneira comparativa: o anúncio da sus-
pensão dos estudos sobre uma molécula num laboratório provocará, a milhares de
quilômetros, a alta das ações de um laboratório concorrente ocupado em pesquisas
que parecem mais proveitosas no mesmo domínio” (Pignarre, 1999:64-65); “Mas o
mais importante é que a proteção que a patente oferece é limitada no tempo. A pa-
tente irá introduzir a questão do tempo como um elemento chave nos processos
de elaboração dos medicamentos. Ela os obriga a ritmarem-se” (Pignarre, 1999:69,
ênfase no original).
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1
Parto da proposição de realidade como fluxo material permanente
de elementos heterogêneos e relacionais. Não há forma, coerência e muito
menos qualquer essência que já esteja previamente dada ou existente
no fluxo, mas em qualquer tempo e lugar o fluxo poderá estar povoado
de entidades, que costumamos chamar de coisas, objetos e sujeitos. Se
assim é, é porque agenciamentos constroem / inventam / descobrem /
colocam / configuram entidades relacionais nesta realidade em fluxo.
Comecemos com um exemplo. A cena do filme de Ron Howard,
Uma mente brilhante, ficcionalmente baseado na vida de John Nash,
premiado com o Nobel de Economia em 1994. No filme, uma noite, John
vai a um jardim com Alicia, aluna com quem depois veio a se casar, e
pede-lhe que enuncie uma forma:
Alicia – Uma forma?
John – Sim, uma forma qualquer. Um objeto, um animal.
Alicia – ... Um guarda-chuva.
Na sequência, John segura e levanta a mão de Alicia, apontando
para o céu, e começa a percorrer as imagens das estrelas, detendo o
movimento ao escolher uma região onde os dois podem localizar a
forma “guarda-chuva”.
Esta cena ilustra a questão de onde e como no fluxo se localiza e se
constitui uma forma, isto que os dois concordam que veem e entram em
acordo chamando de “guarda-chuva”. Esta contemplação aparentemente
simples pode ser uma porta de entrada para pensar a realidade em fluxo.
O “guarda-chuva” que viram estaria na imaginação do casal e restrito
à interação face a face dos dois naquele momento? Certamente não,
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2
O catecismo epistemológico das ciências modernas reza que não
se deve misturar as construções de conhecimentos sobre dois tipos
de mundo: o mundo das “coisas-em-si” (a Natureza) e o mundo dos
“homens-entre-si” (a Sociedade).2 Supostamente, no mundo das “coi-
sas-em-si” estariam aquelas entidades (coisas, seres ou entes) que es-
tão dadas independentemente do que os humanos possam fazer, e lá
estariam as partículas elementares, os átomos, as moléculas, as rochas,
os astros, as galáxias e também os vírus, os micróbios, as bactérias,
os organismos... as formas estudadas pela física, pela química e pela
biologia e pelas ciências mais especializadas delas derivadas, sem falar
nos teoremas matemáticos, exemplos de construções realizadas pelos
“homens-entre-si” muitas vezes tomadas como evidências exemplares
da existência de um mundo de “coisas-em-si” absolutamente universal
e neutro que transcende os seres humanos.3 A procura de “coisas-em-
si” deu-se também no próprio mundo dos “homens-entre-si”, embora
neste caso lhe seja usualmente atribuído um grau menor de sucesso
histórico.4 Agenciou-se, tentou-se e ainda tenta-se descobrir causas ou
formas dadas a priori nos comportamentos dos “homens-entre-si” (dos
indivíduos e dos grupos), buscas que principalmente a partir do século
XIX configuraram as ciências humanas e sociais. Este agenciamento levou,
por exemplo, aos enunciados das ferrenhas leis da ciência econômica,
leis das quais não faria sentido discordar e contra as quais seria inútil
lutar pois seriam descobertas das próprias essências do comportamento
dos indivíduos e dos agrupamentos humanos, leis que fariam parte da
Natureza da Sociedade e do Indivíduo, e portanto tão independentes
da política quanto as condições atmosféricas.5
2 Para uma explicação ao mesmo tempo sucinta e detalhada de como opera a se-
paração entre estes dois tipos de mundo (uma proposição de Kant que configura a
modernidade), ver o prefácio da edição espanhola de Ciência em Ação (Latour, 1992)
3 A literatura matemática e sobre a matemática encontra-se cheia de sugestões deste
salto da matemática para um mundo que transcende os humanos. Ver, por exemplo,
Wells (2005) e Marques (2008b).
4 Mesmo Thomas Kuhn, escrevendo na década de 1960, considerava que as ciências
sociais não tinham “ainda” a maturidade das ciências naturais.
5 Sobre isto ver a magistral descrição que faz Karl Polanyi ([1944] 2000) do papel
desempenhado pelos argumentos científicos da época na criação do mercado de tra-
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10 Vale observar o que dizem estudiosos das relações entre o Japão e o Ocidente
sobre a capacidade japonesa de fazer escolhas, desde as aproximações entre aquele
país e a modernidade no século XIX. “É precisamente porque os japoneses não acei-
taram sempre o capricho ocidental de uma relação privilegiada unilinear certifican-
do um desenvolvimento em seqüência e gradual que o discurso sobre o moderno
[no Japão] foi capaz de prover um espaço de conhecimentos tanto para resistir às
exigências da razão ‘universal’ que mascara um etos ocidental imperial quanto para
se render a ela.” (Miyoshi & Harootunian, 1989: xvii; ênfase no original).
11 Ver a citação de Michel Callon na introdução.
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12 Para uma referência precisa sobre “conhecimentos situados” ver Haraway (1988).
13 Márcia Jurkiewics Bossy iniciou uma pesquisa sobre o Juá e a ela agradeço parte
do material que uso aqui, bem como ter trazido o caso para minha atenção.
14 http://www.indiosonline.org.br/blogs/index.php?blog=6&disp=comments, aces-
so em 06/04/2010;
http://www.plantamed.com.br/plantaservas/especies/Ziziphus_joazeiro.htm, aces-
so em 06/04/2010;
http://www.cnip.org.br/bdpn/ficha.php?cookieBD=cnip7&taxon=5211, acesso em
06/04/2010
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Leopoldo Zea
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23 E portanto podem voltar à caverna para dizer aos que lá ficaram como “devem”
viver, legitimando a colonização e a catequese, a ideia de que o outro é alienado e
não percebe sua condição de explorado, e logo precisa ser conscientizado e libertado.
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Referências bibliográficas
24 Por que “o original vale mais do que a cópia”? (ver Schwarz, 1987)
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Atualmente, é tal a aceleração que os cientistas não lêm, mas telefonam uns
aos outros, encontram-se em reuniões e conferências, preferivelmente em
hotéis de luxo, nas refinadas cidades de qualquer parte do mundo. Reúnem-
se nos chamados “colégios invisíveis”, constituídos de reduzido numero de
integrantes. Trata-se de pequenas sociedades onde se reúnem todos que
são alguém em cada particular especialidade. Esses grupos se revelam de
grande eficiência quanto aos propósitos que perseguem. (Price, 1976a:118)
216
Por sua vez, pode-se observar que são nesses agrupamentos dos
“colégios invisíveis” que os pesquisadores são reconhecidos e adquirem a
sua identidade científica, bem como definem sua posição e “autoridade”
dentro do grupo. Como bem comprovam as palavras de Ziman,
217
218
[...] as comunidades científicas, por sua vez, podem ser entendidas como o
agrupamento de pares que compartilham um tópico de estudo, desenvolvem
pesquisas e dominam um campo de conhecimento específico, em nível
internacional [...] Tais comunidades, de caráter disciplinar, influenciam
fortemente os processos de comunicação científica em uma universidade.
Como as atividades de ensino e pesquisa realizadas por pesquisadores-
-docentes de uma universidade são comumente organizadas em áreas do
conhecimento, tem-se que, por conseqüência, comunidades científicas de
diferentes áreas do conhecimento estão representadas em uma universidade.
Assim, os processos de comunicação científica e a própria produção do
conhecimento científico, bem como a cultura de uma universidade, são
diretamente influenciados por diferentes comunidades científicas. (Leite
& Costa, 2007:95, itálicos nossos)
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[...] qual é a natureza das pressões externas, a forma sob a qual elas se
exercem, créditos, ordens, instruções, contratos, e sob quais formas se
manifestam as resistências que caracterizam a autonomia, isto é, quais
são os mecanismos que o microcosmo aciona para se libertar dessas im-
posições externas e ter condições de reconhecer apenas suas próprias
determinações internas. (Bourdieu, 2004:21)
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Assim como outros autores, Targino (2000:17) considera que ainda que
existam casos em que os cientistas não observem esses imperativos, isso
não invalida as normas éticas, pois elas devem ser aceitas como parâmetros
ou fundamentos para o comportamento dos cientistas.
Merton teve uma vida acadêmica bem longa e inúmeras pesquisas
e teorias foram desenvolvidas por ele e seu grupo de colaboradores na
Universidade de Columbia, entre as décadas de 50 e 70 do século pas-
sado. Analisando o sistema de recompensa da ciência e a forma como
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Referências bibliográficas
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Minha formulação original foi que todo problema “será transparente para
alguém”. Linus objetou que a pessoa que entende e conserta o problema
não é necessariamente ou mesmo frequentemente a pessoa que primeiro
o caracterizou. “Alguém acha o problema”, ele diz, “e uma outra pessoa o
entende. E eu deixo registrado que achar isto é o grande desafio”. Mas o
ponto é que ambas as coisas tendem a acontecer rapidamente.
Na visão bazar, por outro lado, você assume que erros são geralmente um
fenômeno trivial – ou, pelo menos, eles se tornam triviais muito rapidamen-
te quando expostos para centenas de ávidos co-desenvolvedores triturando
cada nova liberação. Consequentemente você libera com frequência para
ter mais correções, e como um benéfico efeito colateral você tem menos a
perder se um erro ocasional aparece. (Raymond, 1998, online)
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6 http://www.arduino.cc/; http://www.youtube.com/watch?v=qd9sCPa4jQE
7 http://hackerspaces.org/wiki/
8 http://blog.foursquare.com/2011/09/20/the-hackathon-heard-round-the-world/;
http://govfresh.com/2011/08/open-government-hackathons-matter/; http://musi-
chackday.org/; http://educationhackday.org/
9 http://blog.p2pfoundation.net/diy-bio-faq/2010/03/23; http://hackteria.org/
10 http://www.mocambos.org/; http://ocadigital.art.br/
11 http://rea.net.br/site/
260
Referências bibliográficas
12 http://www.openstreetmap.org/
13 Ibercivis: http://www.ibercivis.pt/index.php?module=public§ion=cha-
nels&action=view&id_channel=2; BOINC: http://boinc.berkeley.edu/trac/wiki/
VolunteerComputing
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Lea Velho
Milena Yumi Ramos
Introdução
(...) science is inherently international and will only become more so.
(The Royal Society, 2011:14)
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livros, publicadas em 2000, a apresentação faz referência ao fato de que muitas das
questões apontadas na primeira edição – por exemplo, a necessidade de entender a
dinâmica da produção de conhecimento em diferentes áreas – ainda eram válidas.
10 A bibliografia internacional e nacional sobre o uso diferenciado dos canais de pu-
blicação científica, assim como das práticas de citação, cooperação internacional e
co-autoria das várias áreas de conhecimento é imensa. Alguns mais frequentemente
citados são: Van Raan (2003), Velho (1998), Abt (1992), Castro (1985), Velho (2001),
Mugnaini (2004), Mueller (2005), Thijs e Glänzel (2009), Nederhof (2006).
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Fonte: National Science Foundation. Division of Science Resources Statistics. Info Brief
NSF 07-328, Sept. 2007.
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painel-de-controle.
2011-13
% da meta 9,3% 4,1% 6,9% - - -
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Referências bibliográficas
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