PROCESSO: 2 0 1 6 5 550 0 7 2 3
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Para tanto, a alegação de que a empresa requerida de que o Poder
Público é responsável pelo sinistro não deve prosperar, uma vez que, a conduta daquela
fora o fator determinante para os resultados danosos sofridos pela requerente e sua filha.
Não se pode atribuir tão somente ao Poder Público, a responsabilização
pela limpeza das ruas, quando notadamente, a empresa requerida agiu em
desconformidade com a lei e os costumes, ao despejar resíduos na rua, sem se ater a
qualquer cautela, no que tange a possíveis acidentes que poderá ocasionar a terceiros.
O Poder Público é responsável pelo saneamento básico, o que inclui a
limpeza de vias, todavia, necessário se faz observar o art. 5° da Lei 11.445/07 (Lei de
Saneamento Básico), que dispõe o seguinte:
Art. 5o Não constitui serviço público a ação de
saneamento executada por meio de soluções individuais, desde que o
usuário não dependa de terceiros para operar os serviços, bem como
as ações e serviços de saneamento básico de responsabilidade
privada, incluindo o manejo de resíduos de responsabilidade do
gerador.
O que basicamente explica o dispositivo legal supracitado,
principalmente no tocante a exegese do final do artigo, que é ponto crucial para
aplicabilidade da lei no caso em tela.
Pois bem, o Poder Público é responsável pela coleta e limpeza de vias,
no tocante ao lixo produzido ordinariamente, aquele que dotado de previsibilidade, deve
ser recolhido com frequência.
Todavia, o cuidado de dejetos incomuns, principalmente àqueles
oriundos de produção econômica, tais quais matérias primas ou dejetos de fábricas,
devem ser responsabilidade das empresas a sua destinação, o que caracteriza
RESÍDUOS DE RESPONSABILIDADE DO GERADOR.
Desta maneira, a destinação dos dejetos produzidos pela empresa
requerida é de sua exclusiva responsabilidade, onde conforme o artigo alhures, não cabe
ao Poder Público, a coleta de dejetos de responsabilidade exclusiva do gerador.
Ademais Excelência, pareceria absurdo isentar a empresa requerida de
tal ato, visto que a sua atitude causou sérios transtornos, bem como poderia gerar
porventura outros danos, visto que o despejo de dejetos escorregadios ocorreu numa via
movimentada.
Neste diapasão, por força do art. 5° da Lei de Saneamento Básico, a
preliminar de Ilegitimidade Passiva deve ser afastada, visto que a responsabilidade da
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destinação dos dejetos produzidos pela empresa requerida, pertence a mesma, ante as
peculiaridades dos resíduos, que são inerentes a atividade econômica desta.
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Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO
DE INTERDIÇÃO. DESNECESSIDADE DEREALIZAÇÃO DE PROVA PERICIAL NO
CASO CONCRETO. Caso em que os documentos trazidos aos autos, corroborados
pela convicção pessoal do juiz, em audiência, na qual teve contato pessoal com o
réu, permitem, com absoluta certeza, identificar a incapacidade para prática de atos
da vida civil, sem a perícia médica. Consequentemente, o atestado médico,
corroborado pela impressão pessoal do magistrado, fornece prova segura e
suficiente da incapacidade, sem perder de vista que o juiz "não está adstrito ao
laudo pericial, podendo formar sua convicção com outros elementos ou fatos
provados nos autos" (artigo 436 do Código de Processo Civil). NEGARAM
PROVIMENTO. (Apelação Cível Nº 70066285222, Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: José Pedro de Oliveira Eckert, Julgado em 26/11/2015).
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A requerida acusa ainda a requerente de denigrir a imagem da daquela,
bem como aduz que a requerente deveria andar pela calçada, ao invés de andar na rua,
todavia, em análise clara a foto juntada com a exordial, os dejetos foram lançados na rua,
mas perto da calçada, visto que a requerente vinha da maternidade que fica ao lado da
empresa requerida, e no momento estava atravessando a rua, quando ocorrera o
acidente.
A Responsabilização civil deve ser aplicada ao caso epigrafado, uma
vez que a requerente fora vítima de uma atitude indubitavelmente irresponsável da
requerida, que, atuando na produção de produtos químicos, não pode simplesmente
eliminar seus dejetos em via pública, o que causaria acidentes em terceiros que lá
transitam.
Conforme destacado pela própria requerida, o local fica ao lado de um
posto de gasolina, portanto, há um fluxo grande de carros transitando no local, o que
atesta ainda mais a reprovabilidade da conduta da requerida, ante a exposição de perigo
que esta causa na localidade.
Os elementos da Responsabilidade Civil foram inteiramente
demonstrados, onde a conduta da requerente, fora devidamente conectada pelo nexo
causal, a fim de se atestar os transtornos sofridos pela requerente.
Nesta toada, a carga axiológica da Responsabilidade Civil, em seu
duplo caráter punitivo/compensatório são os capazes de dirimir os transtornos sofridos
pela requerente, bem como punir e conscientizar a requerida a não reiterar mais tais atos,
onde a impunidade poderá causar transtornos a outras pessoas em razão da conduta
desvairada da mesma.
VI – DA CONCLUSÃO
Nestes termos,
Pede Deferimento.