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Conhecimento e intervenção educativa: sugestões práticas ll

Biologia e Género: outros olhares l

7.1.

Ciência, Tecnologia e Género

Nas últimas duas décadas, as relações


entre Ciência, Tecnologia e Género “ Um dos primeiros objetivos da crítica feminis-
têm alcançado crescente visibilidade ta da ciência foi a revisão crítica do conhecimento
científico, dos seus produtos, retóricas e ideologias
na agenda dos compromissos associadas e das práticas que o conformam, a partir
internacionais para o desenvolvimento. de uma perspetiva de género. O que interessava era
Da Declaração e Plataforma de Ação compreender como funciona e se constrói a ciência
introduzindo a categoria ou perspetiva de género,
de Pequim (1995)1 aos Objetivos
uma categoria analítica que permite compreender o
de Desenvolvimento do Milénio nível de genderização dos processos, valores e práti-
(2000-2015)2; da Declaração da cas implicados na atividade e cultura científicas. ”
Conferência das Nações Unidas sobre Inmaculada Perdomo Reyes, 2010:80.
Desenvolvimento Sustentável (2012)3
ao Horizonte 2020 (2014)4, os desafios
Em termos epistemológicos, os fundamentos
globais da investigação científica desta mudança associam-se à renovação
e tecnológica cruzam-se com os suscitada pela crítica de Thomas Kuhn (1962)
imperativos da igualdade de género5. à visão positivista da ciência – objetiva, neutral,
racional e universal – que contribuiu para

A
s expressões deste amplo movimento instituir um entendimento contextual, valorativo
sociopolítico são diversas e e comprometido da prática científica. Este
têm crescido à medida que se novo paradigma contribuiu para a renovação
multiplicam os indicadores de da crítica feminista (María José Barral Morán
(des)igualdade de género nas várias dimensões et al., 1999) aos pilares tradicionais do sistema
da vida social a nível local, regional e global. científico e tecnológico (ver texto em caixa).

1 Adotada na IV Conferência Mundial sobre a Mulher: Ação para Igualdade, Desenvolvimento e Paz http://www.cite.gov.pt/pt/
acite/documentosunivers001.html (acedido em 22/7/2017).
2 ONU – UNRIC: https://www.unric.org/pt/objectivos-de-desenvolvimento-do-milenio-actualidade. Ver ainda a Agenda 2030 de
Desenvolvimento Sustentável: https://unric.org/pt/component/content/article/32350-17-objetivos-de-desenvolvimento-sus-
tentavel (acedido em 22/7/2017).
3 Rio+20 O Futuro que Queremos: http://www.apambiente.pt/_zdata/Politicas/DesenvolvimentoSustentavel/2012_Declaracao_
Rio.pdf (acedido em 22/7/2017).
4 Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação – https://ec.europa.eu/programmes/horizon2020/en/h2020-sec-
tion/promoting-gender-equality-research-and-innovation (acedido em 22/7/2017).
5 Desde 1999, com a comunicação “Mulheres e Ciência: mobilizar as mulheres para enriquecer investigação europeia”, a Comis-
são Europeia também assumiu protagonismo nesse sentido. https://cordis.europa.eu/pub/improving/docs/g_wo_co_pt.doc.
Ver ainda a Resolução do Parlamento Europeu, de 21 de Maio de 2008, sobre as mulheres e a ciência: http://cite.gov.pt/
asstscite/downloads/legislacao/Resoluc40.pdf (acedido em 22/7/2017).

por: Filomena Teixeira e Fernando M. Marques 251


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GUIÃO DE EDUCAÇÃO conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário

A dinâmica das relações entre Ciência, a análise de género contribui para uma
Tecnologia e Género é percebida com nova inteligibilidade das dinâmicas que
intensidade em diversos campos disciplinares. perpassam o sistema científico-tecnológico,
Na Biologia, as teorias da diferenciação dando um outro significado aos
sexual, os desafios da reprodução assistida dispositivos de exclusão e segregação
ou as questões do desenvolvimento que aí ocorrem (ver texto em caixa).
sustentável, são disso exemplo. Ao integrarem
o currículo escolar do ensino secundário, Apesar da sua diversidade, os estudos de
estas problemáticas abrem o espaço Ciência, Tecnologia e Género partilham
pedagógico para o debate sobre o fazer da o objetivo comum de desocultar as
ciência, a sua história e as suas implicações formas de sexismo e androcentrismo que
sociais, a partir da análise de género. se refletem nas práticas científicas.

A perspetiva Ciência, Tecnologia Ao longo da história foram


e Sociedade (CTS) considera muitos os lugares e os tempos
relevantes as interações entre a onde a narrativa da inferioridade
sociedade e a atividade científico- das mulheres na ciência e
-tecnológica na determinação dos tecnologia foi plasmada nos
problemas, processos, resultados e discursos (pseudo)científicos
significados da ciência, salientando sobre a diferença sexual.
a importância desta postura Estas teorias são responsáveis
epistemológica na reforma dos pelas representações desiguais
do feminino que marcaram a
currículos de educação científica.
Nesta perspetiva, importa analisar, no campo cultura e o território da ciência6.
educativo, o processo de constituição dos
saberes científicos em saberes curriculares. A este propósito, ver os capítulos
“Género e Conhecimento” e
Partilhando os mesmos fundamentos de “Reposicionando Mulheres e Homens
rutura com a visão positivista da ciência, na História Ensinada”, deste Guião.

A consciência desta
“ Dispositivo é, em primeiro lugar, um conjunto decididamente hetero-
géneo que compreende discursos, instituições, instalações arquitetóni-
diferença – mapeada
não apenas no número
cas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados e posição das mulheres
científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas, em síntese, os cientistas, mas também no
elementos do dispositivo pertencem tanto ao dito como ao não dito. O seu estatuto epistémico
dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. ” – emergiu nos debates
Michel Foucault, 1985:128. filosóficos e sociopolíticos
contemporâneos e

6 Sobre este assunto, muitos investigadores e investigadoras têm procurado evidenciar o contributo destas ideias para a constru-
ção de barreiras à participação equitativa das mulheres no sistema científico (Elena Hernández Corrochano, 2010; Hilary Rose e
Steven Rose, 2010; Carolina Martínez Pulido, 2006a; 2006b; Steve Jones, 2004; Londa Schiebinger, 2001; Pascal Acot, 2001;
Pierre Thuiller, 1984).

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Conhecimento e intervenção educativa: sugestões práticas ll
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originou diversos movimentos • Um quarto esforço, mais passando pela produção


de renovação científica e pragmático, focou as de conteúdos, desenha-se
pedagógica, cujos resultados raízes socioculturais da um currículo cultural onde
são, hoje, impossíveis desigualdade de género e os dispositivos materiais e
de ignorar. Os esforços a reforma das instituições simbólicos da desigualdade
centraram-se em quatro educativas e científicas. de género têm uma presença
campos complementares: determinante, com evidentes
• um deles visou desocultar os A tecnologia é implicações socioeducativas8.
mecanismos usados para frequentemente O modo como se (a)firmou o
silenciar os contributos de desenvolvimento tecnológico
mulheres no desenvolvimento
percecionada como
tem correlação com a
da ciência e tecnologia; fonte de poder segmentação de género nos
• outro procurou explicar os e instrumento diferentes territórios de
dispositivos postos em de afirmação da formação e profissionalização9.
prática para criar barreiras masculinidade, em Dados recentes em Portugal
educativas e profissionais à continuam a mostrar que as
termos de valores,
participação das mulheres licenciaturas em Ciências
no sistema científico e para capacidades e Físicas, Informática, Engenharia
limitar o seu acesso a postos competências. e técnicas afins e Arquitetura
de decisão e prestígio7; Um dos campos mais recentes e construção, Agricultura,
• um terceiro foi usado para e visíveis destas representações Silvicultura e Pescas, são
questionar a natureza é o dos videojogos, cujo as que ainda mantêm um
da própria ciência, desenvolvimento tecnológico maior número de estudantes
incluindo pressupostos atinge importantes efeitos do sexo masculino (INE,
epistemológicos, conteúdos, globais. Desde a sua conceção 2012)10. No mesmo sentido,
linguagens e metáforas; às práticas de consumo, dados disponíveis no portal

7 Refira-se que, atualmente, nas sete secções da Classe de Ciências da Academia de Ciências de Lisboa existem 30 Académi-
cos efetivos e apenas 2 Académicas (1 em Ciências Biológicas e 1 em Ciências da Engenharia e Outras Ciências Aplicadas),
bem como 52 Académicos correspondentes nacionais e apenas 12 Académicas (1 em matemática; 2 em Ciências da Terra
e do Espaço; 6 em Ciências Biológicas; 2 em Ciências Médicas; 1 em Ciências da Engenharia e outras Ciências Aplicadas) –
http://www.acad-ciencias.pt (acedido em 22/7/2017).
8 Ver a propósito Enrique Díez Gutiérrez (2004) http://educar.unileon.es/Antigua/Public21.htm , bem como o Estudo realizado em
2007, no âmbito do projeto e-igualdade, elaborado pela Fundación Directa, E-Mujeres e Universidad Complutense de Madrid:
Claves no sexistas para el desarrollo de software disponível em http://www.cdd.emakumeak.org/recursos/439 (acedido em
22/7/2017). Ver ainda Diéz Gutiérrez, 2004a e 2004b.
9 Ver nota de imprensa da Organização Internacional do trabalho (OIT) de 7 de janeiro de 2013 “Gender gap – Women and
technology – the attitude gap” disponível em http://www.ilo.org/global/about-the-ilo/newsroom/features/WCMS_195857/lang-
-en/index.htm (acedido em 22/7/2017). Consultar a brochura da OIT intitulada “Competências e empreendedorismo: Reduzir
o fosso tecnológico e a desigualdade de género”, elaborada no âmbito da campanha de sensibilização “Igualdade de Género
no Coração do Trabalho Digno”, cuja tradução portuguesa teve o apoio da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no
Emprego (CITE), disponível em http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/gender_november.pdf (acedido em
22/7/2017). Ver ainda os seguintes documentos publicados pela Comissão Europeia (acedidos em 22/7/2017):
Women and men in leadership positions in the European Union 2013. A review of the situation and recent progress – http://
www.cig.gov.pt/siic/2014/10/women-and-men-in-leadership-positions-in-the-european-union-2013/ ;
Tackling the gender pay gap in the European Union – http://ec.europa.eu/justice/gender-equality/files/gender_pay_gap/140227_
gpg_brochure_web_en.pdf ;
She Figures 2012 Gender in Research and Innovation. Statistics and Indicators – http://ec.europa.eu/research/science-society/
document_library/pdf_06/she-figures-2012_en.pdf .
10 Acrescem as Licenciaturas em Serviços Pessoais, Segurança e Serviços de Transporte. Ver Instituto Nacional de Estatística –
Alunas/os matriculadas/os no ensino superior (Licenciatura – N.º) por Sexo e Área de educação e formação em 2011; Direção-
Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, 31 de outubro de 2012 – https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_
perfgenero (acedido em 22/7/2017).

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GUIÃO DE EDUCAÇÃO conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário

do Instituto de Estatísticas da
UNESCO Women in Science11
Género e tecnociência são campos
revelam que, em Portugal, as
mutuamente constitutivos.
mulheres representam apenas
Por isso, as tecnologias estão frequentemente
32% do total de cientistas
codificadas com significados de género
em Engenharia e Tecnologia.
Também o relatório da
que conformam o seu desenho e usos.
Comissão Europeia She Figures Daí a atenção que se deve prestar ao seu
2015 Gender in Research papel na configuração da vida social.
and Innovation Statistics and
Indicators mostra que a evolução
da proporção de mulheres investigadoras no com o processo de mecanização da era
ensino superior no campo da Engenharia e industrial controlado por mão-de-obra
Tecnologia diminuiu, entre 2005 e 2012, de qualificada saída das universidades, às quais
33% para 31%12. Esta distribuição desigual na as mulheres não tinham acesso. Devido a
educação superior e nos contextos da prática diversos dispositivos de segregação, elas
tecnocientífica tem fundamentos socioculturais. estiveram durante muito tempo ausentes
dos cenários de inovação, desenvolvimento
Os discursos dominantes têm procurado e implementação das tecnologias, com
explicar a relação das mulheres com o exceção do âmbito doméstico. Laura Tremosa
desenvolvimento tecnológico com base (1986) fala a este propósito da dupla divisão
numa narrativa em que, quer a constituição do trabalho que relegou as mulheres para a
biológica quer a predisposição psicológica periferia do desenvolvimento tecnológico: a
justificam a inaptidão perante a sofisticação divisão sexual do trabalho e a divisão entre
técnica. Este significado simbólico acelerou-se trabalho manual e trabalho intelectual.

11 Consultar em http://uis.unesco.org/en/topic/women-science (acedido em 22/7/2017).


12 Consultar em http://ec.europa.eu/research/swafs/pdf/pub_gender_equality/she_figures_2015-leaflet-web.pdf (acedido em
22/7/2017)

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