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Frei Luís de Sousa — Interpretações da obra

Esquema-síntese a partir de
«Para Uma Sistematização Didática das Leituras Interpretativas
do Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett», de J. C. de Oliveira Martins1

Obra literária Interpretação/Leituras interpretativas

Leituras interpretativas da obra Frei Luís de Sousa (1844):

1. Leitura genética

Interpretação que procura as fontes históricas e literárias da obra.

Em que se inspirou Garrett?

— Garrett inspirou-se na figura histórica do dominicano Frei Luís de Sousa (historiador


e prosador do século XVII).
— Ao juntar a ficção à informação histórica, Garrett segue a teorização romântica
acerca do drama.
— Garrett enumerou as suas fontes na Memória ao Conservatório Real, referindo a
sua «verdade histórica», embora também haja a registar importantes omissões.

Observações:

A inspiração em factos históricos não retira valor à obra literária. A literatura


constrói-se através do diálogo com a tradição, que transforma e assimila.

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2. Leitura biográfico-psicológica

Esta interpretação procura relacionar o conteúdo de Frei Luís de Sousa com a vida
de Almeida Garrett.

Que motivações biográficas e psicológicas (circunstâncias pessoais de Garrett)


explicam a obra?

— No drama de D. Madalena (atormentada por ter amado D. Manuel quando ainda


era casada com D. João de Portugal), Garrett teria espelhado o seu próprio drama,
amando ele Adelaide Pastor durante o casamento com Luísa Midosi.
— Também Garrett tivera uma filha concebida numa relação pecaminosa.

Observações:

As semelhanças entre o drama de Frei Luís de Sousa e o da vida do autor não são
verdadeiramente necessárias à compreensão da obra. Toda a obra literária exige uma
análise interna. Além disso, a criação supõe a capacidade de distanciação ou
fingimento.

3. Leitura religiosa

Segundo esta interpretação, a fé católica e os princípios religiosos que dela decorrem


explicam a atuação das personagens mais importantes da obra.

Como se verifica essa preponderância da dimensão religiosa?

— A dimensão religiosa verifica-se na angustiante consciência do pecado, presente na


personagem de Madalena.

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— Revela-se também na ideia da desafiante revolta, evidente no final, quando Maria
acusa um Deus injusto e vingador. Neste final, os valores religiosos vencem os do
coração.
— O peso da religião é evidente na decisão do casal, que, ouvindo os conselhos de
Frei Jorge, escolhe a solução religiosa. Morrendo para a vida, o casal opta pela
«sepultura de um claustro».

Observações:

É a solução religiosa que repõe a ordem anteriormente corrompida. O final representa,


portanto, uma expiação.

4. Leitura genológica
Esta interpretação centra-se nas discussões sobre o género literário.

Será a obra um drama romântico ou ainda uma tragédia clássica?

— Garrett descreveu a sua própria obra falando de uma espécie de hibridismo quanto
ao género: um drama romântico na forma e trágico na sua «índole».
— Características da tragédia clássica que a obra não observa: assunto antigo (o
assunto é português e do século XVI), uso do verso (a obra de Garrett é escrita em
prosa) e divisão em cinco atos (Frei Luís de Sousa apresenta três atos).
— Características da tragédia clássica de que Frei Luís de Sousa se aproxima: a
determinação da história por leis superiores, a observação (com ligeiros desvios) à
lei das três unidades (espaço, tempo e ação concentrados) e o facto de os papéis
de Telmo Pais e Frei Jorge se assemelharem ao do coro da tragédia grega.
— Procedimentos técnico-compositivos da obra de Garrett:
 Desenvolvimento da ação em três atos: exposição do conflito (Ato I),
desenvolvimento e clímax (Ato II) e desenlace trágico (Ato III);

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 Concentração dramática: ação — tudo concorre para o desenlace final; tempo
— tudo remete para o dia 4 de agosto de 1599, 21 anos depois da Batalha de
Alcácer-Quibir; espaço — fecha-se até à celebração religiosa;

 Estilo e características do diálogo: sobriedade lexical e expressividade;


representação linguística perfeita dos estados emocionais das personagens.

Observação:

Formalmente, a obra é um drama romântico. O seu fundo, porém, é de índole trágica.


Com Frei Luís de Sousa, Garrett compôs uma tragédia de assunto nacional.

5. Leitura político-sociológica

Segundo esta interpretação, a peça constitui uma crítica à situação política da época.

Que aspetos critica Garrett?

Que evidências há sobre a crítica feita?

— Tal como nas Viagens na Minha Terra, Garrett daria expressão, em Frei Luís de
Sousa, à sua visão pessimista sobre o contexto político da sua época, marcado pelo
autoritarismo de Costa Cabral.
— O governo de Costa Cabral chegou a censurar alguns aspetos da peça,
nomeadamente o gesto revolucionário de Manuel de Sousa Coutinho.
— Existem semelhanças entre o governo autoritário de Costa Cabral e o período da
ocupação castelhana.
— Alguns críticos (Teófilo Braga) viram na presença do sebastianismo um sinal de
esperança. Para outros (Jacinto do Prado Coelho), o sebastianismo não seria tão
importante como o valor do patriotismo, ostensivamente representado na figura
de Manuel de Sousa Coutinho.

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Observações:

Enquanto obra literária, Frei Luís de Sousa não pode ser lido como mero documento
político-social. No entanto, o patriotismo de Manuel de Sousa representa, certamente,
a vontade política do próprio Almeida Garrett.

6. Leitura psicocrítica e imagética


Segundo esta interpretação, os conflitos vivenciados por algumas personagens não
apenas são determinantes para a compreensão da obra como também espelham
traços da personalidade de Garrett.

Quem é a personagem central da obra?

Que conflitos exprime Garrett?

A personagem central da obra, pelos conflitos que vive, é Telmo Pais (leitura de
António José Saraiva). Telmo simboliza a alma fragmentada do autor (vive a crença no
regresso do amo e nutre um grande afeto por Maria). Telmo mata o passado por
solicitação do próprio amo.

Alguns autores destacam a oposição entre o «eu» social, construído na suas múltiplas
máscaras, e o «eu» profundo, real — uma oposição que estaria representada nas
personagens de Madalena e Telmo. O sacrifício de Manuel de Sousa Coutinho
constituiria uma síntese deste conflito, significando, ao mesmo tempo, a reabilitação
de Garrett perante a sua filha e a sociedade.

Observações:

Esta é uma leitura que associa elementos da obra à psicologia do autor.

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7. Leitura mítico-cultural

Segundo esta interpretação, a obra tem um significado cultural, representando uma


reflexão sobre Portugal.

O que nos diz a obra sobre o sebastianismo e o seu significado cultural?

— Garrett acreditava que Portugal conseguiria vislumbrar um futuro apenas se se


libertasse do peso da crença sebástica. A conceção negativa do sebastianismo
deriva do facto de, na obra do autor, existir a ideia de que o tempo é devir (sendo a
crença sebástica um sinónimo de passadismo).
— A obra baseia-se no mito coletivo do sebastianismo, ao qual várias personagens se
referem: Telmo Pais, fiel à memória do seu amo e crente no seu regresso; Maria de
Noronha, influenciada por Telmo na sua crença; Madalena, que exprime, pelo
contrário, a perspetiva negativa e horrorizada do sebastianismo.
— Garrett apresentou, na obra As Profecias de Bandarra, uma interpretação cómica e
crítica do mito, responsável pela criação de quimeras.
— As personagens, simbólicas, representam o destino coletivo português e o
sebastianismo enquanto representação da fraqueza e da desesperança. Frei Luís de
Sousa representa a própria tragédia portuguesa do sebastianismo. O regresso de D.
João e a morte que comporta simbolizam a morte dessa crença: o mito torna-se
«ninguém».
— O incêndio do palácio de Manuel de Sousa e o regresso trágico à velha ordem
(palácio de D. João) mostram a impossibilidade do regresso ao passado.
— A obra pode ser lida como um drama político (Eduardo Lourenço), constituindo-se
como a tragédia de um destino coletivo, o drama de um país anacrónico. A solução
que oferece é, portanto, a da morte de um passado mítico. D. João representa o
presente morto, alimentando-se do sebastianismo. A morte de Maria será o
sacrifício necessário para aniquilar os fantasmas do passado.

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Observações:

Em Frei Luís de Sousa, vários críticos encontraram a perspetivação do sebastianismo


como mal nacional, sinónimo de tempo parado e irreal. Com Garrett, a literatura
começa a pensar Portugal. A interrogação triste do Romeiro é a de um país.

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