MESTRADO EM HISTÓRIA
TERESINA-PI
2007
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TERESINA-PI
2007
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BANCA EXAMINADORA
TERESINA
2007
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Princesa do Sertão
AGRADECIMENTOS
À minha amiga e pesquisadora Rosana, sem a qual este trabalho não passaria de um
sonho.
Aos amigos Francisca e Isaías, que me acolheram em sua residência em São Luís.
Ao Prof. Dr. José Luiz Lopes Araújo, meu orientador, pela paciência, ensinamentos e
cuidados para comigo.
7
Ao Prof. Dr. Edwar Castelo Branco, pela valiosa contribuição prestada no processo
de qualificação.
À Profa. Doutoranda Elisângela (UFPI), pelas valiosas dicas, quando este trabalho
ainda era um simples projeto.
A todos os meus colegas de mestrado, pela ótima ambiência de sala de aula e pelos
maravilhosos momentos de descontração.
RESUMO
Trata dos discursos e práticas que constituíram Caxias como uma cidade fabril no
final do século XIX. Analisa os vários dizeres que partiram da elite caxiense e da
imprensa, através de uma elite letrada, que conectou a cidade aos símbolos
modernos, como a ferrovia, objetivando-a como progressista e civilizada. Detecta o
novo sentido de urbanidade empreendido pelo poder público, através dos códigos de
posturas, visando reordenar o espaço urbano a partir de modelos importados.
Analisa os padrões culturais que emergem na cidade no final do século XIX, que às
vezes se contrapunham, às vezes se legitimavam nas tradições arraigadas em
valores aristocráticos e escravistas. Conclui que os discursos e práticas que
conectaram a cidade aos tempos modernos, constituíram imagens e representações
mais grandiosas do que as transformações vivenciadas pelos citadinos.
RESUMEN
Trata de los discursos y las prácticas que señalaran Caxias como uma ciudad fabril
en lo final del siglo XIX. Analiza los múltiples dichos que partiyeran de la elite
caxiense y de la prensa, por medio de uma elite letrada, que enchufou la ciudad a
los símbolos modernos, como la ferrocarril, visando a ella como progresista y
adelantada. Detecta lo nuevo sentido de urbanidad empreendiendo por el poder
publico, por medio de los códigos de posturas, visando ordenar nuovamente lo
espacio urbano desde ejemplo importados. Analiza los moldes culturales que
emergen en la ciudad en lo final de lo siglo XIX, que se a veces se contrariyean, a
veces se validan en las tradiciones fijadas en valores aristocraticos y esclavista.
Ultima que los discursos y prácticas que enchufaran la ciudad a los tiempos
modernos, señalaran imagénes y representaciones más gradiosas do que las
transformaciones vividas por las personas de la ciudad.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 12
INTRODUÇÃO
percebi que, sozinha, não poderia conhecê-la, pois era labiríntica demais. Procurei,
para que pudessem cartografar aquela cidade para mim. Falaram-me que isso só
seria possível através de uma visita aos labirintos que davam significado às suas
iríamos conhecer uma cidade marcada por vários tempos longínquos e gloriosos,
Maranhão, distante da capital São Luís mais de 450 quilômetros, cercada por morros
uma sensação estranha, pois parecia que eu havia penetrado num túnel do tempo
através de uma cidade que trazia em si várias outras, como tempos empilhados.
que a cidade foi adquirindo só podem ser explicadas pela própria História.
1
Cf. CALVINO, Í. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
13
Assim fui decifrando Caxias, como uma cidade em que história e memória
cindido entre passado e presente, visitei os espaços onde ocorreram as lutas contra
espaço foi palco de várias lutas. Visões de mundo e projetos políticos antagônicos
filhos ilustres – Coelho Neto, Gonçalves Dias e tantos outros. Percebi que aquela
Em Caxias, poesia rima com poetar. Poetar a cidade, sua história e seus
Caxiense de Letras.
2
DIAS, G. Poemas de Gonçalves Dias. Sel. Péricles Eugênio da Silva Ramos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 19.
14
cidade havia passado por um período de riqueza material que lhe proporcionara um
No final da tarde, quando parecia que já tínhamos visto tudo, o meu amigo
dessa edificação parei extasiada, visto ser uma construção luxuosa, seguindo os
padrões arquitetônicos do final do século XIX. Através dela pude vislumbrar o quanto
das minhas pesquisas. Nesse sentido, procurei mapear e penetrar nos vários
3
BERMAN, M. Tudo que é Sólido se Desmancha no Ar. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
15
Neles fui percebendo uma cidade delineada por várias representações que, a partir
da segunda metade do século XVIII e ao longo de todo o século XIX, foram dando
dirimir essa questão aflitiva quando nos ensina que o olhar ao passado deve nos
impelir ao futuro e que devemos cultivar a história em função dos fins da vida.
Por isso, passei a pesquisar o passado histórico de Caxias não como uma
histórica, justamente para evitar, prevenir o novo que assusta”6 – mas consciente de
problemática e incompleta do que não existe mais”7. Nesse sentido, parti para as
pesquisas no sentido de “ler” uma cidade em suas reminiscências. Para isso, utilizei-
século XIX, quando a cidade, por meio da imprensa, foi euforicamente denominada
4
MACEDO, E. T. de. O Maranhão e suas riquezas. São Paulo: Siciliano, 2001.
5
NIETZSCHE, F. Da utilidade e desvantagem da história para a vida (1874). In: Obras Incompletas. Col. Os pensadores. São
Paulo: Nova Cultural, 2000.
6
BENJAMIN apud MATTOS, A. Memória e história em Walter Benjamin. In: O direito a memória. São Paulo: DPH, 1992, p.
151.
7
NORA, P. Entre a memória e a história: a problemática dos lugares. São Paulo: Projeto História, 1993, p. 06.
8
Cf. GINZBURG, Carlo. Raízes de um paradigma indiciário. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
16
que Caxias, ao longo da segunda metade do século XVIII, ganhara visibilidade como
– passa por uma forte crise econômica na qual o seu principal produto, o algodão,
neste período, foi objetivada pelo estigma da decadência tão propalada pela
imprensa local, que exigia providência por parte do governo provincial do Maranhão,
século XIX, não podíamos perder de vista toda uma memória discursiva que a
9
No presente trabalho, definimos como elite caxiense o grupo social formado por latifundiários e comerciantes cujo poder
aquisitivo baseava-se na posse da terra e em riquezas conquistadas através das práticas agrícolas e das relações
comerciais desenvolvidas na região.
10
Elite letrada estará designando, neste trabalho, um grupo de pessoas que, através de uma escritura erudita, imprimirá na
imprensa caxiense um conhecimento vasto e universal, que transitará por vários campos do conhecimento, transmitindo
uma visão de mundo. Durval Muniz afirma que o erudito como uma figura de sujeito do conhecimento permeará o mundo
ocidental até o final do século XIX. Cf. ALBUQUERQUE JUNIOR, D. M. De amadores a desapaixonados: eruditos e
intelectuais como distintas figuras de sujeito do conhecimento no ocidente contemporâneo. Trajetos, revista de história.
Fortaleza: UFC, 2005. p. 43-66.
17
Neste sentido, partimos para a catalogação das fontes que pudessem nos
uma trajetória dos acontecimentos que foram constituindo uma Caxias fabril. Quanto
à razão para a escolha daqueles quatro periódicos, e não de outros, deu-se pelo fato
teremos por base que os seus lugares de sujeito partem dos interesses políticos
travados na cidade.
regulamentos, tanto em nível estadual como municipal. Tivemos também acesso aos
cidade construída pelo poder público e, em especial, a noção de espaço urbano que
final do século XIX, além de vivenciar toda uma euforia fabrilista e um imaginário
progressista atrelado aos símbolos modernos, como a ferrovia, passou por tentativas
nem sempre fáceis de serem colocados em prática numa cidade ainda presa a
esteira do fabrilismo têxtil. Também nos deparamos com uma cidade revestida por
trabalho escravo para o livre. Obras como História do Maranhão (2001), de Mário
refere “às práticas que se tornam modo de pensamento, com sua lógica, estratégia,
nascendo diante de seus próprios olhos”11. Isto nos ajudou a compreender como os
discursos proferidos pela elite caxiense instituíram uma Caxias fabril mais grandiosa
período.
fazem as pessoas, suas ações na vida cotidiana; as coisas só existem para uma
11
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2001, p. 10.
20
idéia de subjetivação. Para ele, o homem não é realidade natural, originária, nem
sempre foi a mesma coisa que é hoje; ou seja, o pensamento foucaultiano propõe o
rompimento com a idéia de homem universal, idéia segundo a qual, para além das
aparências, existiria uma essência humana que estaria presente e que seria sempre
a mesma.
fazer cotidiano. Porém, essa construção não se dá de forma passiva, pois ele, o
contínuo, ininterrupto. Isto nos ajudou a entender como a elite caxiense pretendeu,
outra forma em uma cidade que emergia não mais atrelada às práticas agrícolas
tradicionais, mas conectada aos tempos modernos, através das indústrias têxteis.
Objetivaram, assim, uma outra cidade, onde um novo ordenamento social fazia-se
Outro interlocutor que nos ajudou a clarear o nosso objeto de estudo foi
como ele é”12. Através deste conceito pudemos compreender como a constituição
histórica de Caxias foi delineada por várias representações que foram dando
12
CHARTIER, R. A História Cultural Entre Práticas e Representações. Rio de Janeiro: DIFEL, 1990, pág. 20.
21
Manchester Maranhense.
Outra abordagem teórica que subsidia todo este trabalho diz respeito à
temática Cidade, que vem ocupando um lugar de destaque como objeto de estudo
História Cultural, que, segundo Lynn Hunt13, veio a dar uma nova forma de a História
trabalhar a cultura, que passou a ser pensada, acima de tudo, como um conjunto de
este tema, foram de fundamental importância obras como Cidades Invisíveis (1990),
Cidade Febril (1996), de Sidney Chalhoub, dentre outras. Estas obras nos ajudaram
13
HUNT, L. A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
14
PESAVENTO, S. J. História e História Cultural. 2ª ed. Belo Horizonte – MG: Autêntica, 2004, pág. 08.
22
metade do século XVIII e o século XIX. Em seguida, analiso como a euforia fabrilista
espaço urbano, sendo que muitas delas tornaram-se realidade e outras só ficaram
no âmbito do desejo.
urbano por meio dos códigos de posturas, organizados pelo poder público através
padrões culturais marcados pelo requinte europeu. Neste capítulo, o que subsidia
da elite caxiense, que almejava edificar uma cidade fabril e moderna, com as
IMAGINÁRIO PROGRESSISTA
cenário urbano
constituída de várias imagens e de que “não se deve confundir uma cidade com os
discursos que a descrevem”2, pois eles trazem, antes de tudo, a constituição de uma
1
PESAVENTO, S. J. O Imaginário da Cidade: visões literárias do urbano. Porto Alegre: EDUFRGS, 2002, p. 262.
2
CALVINO, I. Op. cit.,1990, p. 59.
3
Id. ibid., p. 34.
25
associaram ao fabrilismo têxtil no final do século XIX, aspecto este que contribuiu
Maranhense”4.
urbano entre um presente que acena com novas possibilidades e uma memória
4
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 09 set. 1893, p. 01.
5
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 01 jan. 1888, p. 01-02.
26
comerciais haviam perdido espaço para outras regiões do Maranhão e para a vizinha
subjetivarem?
uma articulação dialética entre singularidade e repetição, em que “de um lado, ele é
um gesto; de outro, liga-se a uma memória, tem uma materialidade; é único mas
em que a cidade constituía o Arraial das Aldeias Altas e onde as práticas agrícolas,
6
GREGOLIN, M. do R. Foucault e Pêcheux na Análise do Discurso – diálogos e duelos. São Carlos – SP: Claraluz, 2004, p.
88.
7
Nessa fala de Viveiros, é importante destacar que a construção discursiva por ele elaborada é recorrente na produção
historiográfica maranhense, conhecida como Idade de Ouro ou período de grande prosperidade da história maranhense,
referindo-se à temporalidade compreendida entre a criação da Companhia de Comércio e o término do século XVIII. Cf.
VIVEIROS, J. de. História do Comércio do Maranhão (1612 – 1895). Vol. 02. São Luís: Associação Comercial do Maranhão,
1992.
8
As exportações algodoeiras do Maranhão cresceram de 551 arrobas em 1760 para 4.055 em 1771, graças ao incremento da
Companhia de Comércio. Cf. PAXECO, F. Geografia do Maranhão. São Luís – MA: Tipografia Teixeira, 1922, p. 34.
27
afirmar que:
inferior à capital São Luís. Os naturalistas Spix e Martius10, que percorreram o Brasil
Caxias (vila desde 1812), anteriormente Arraial das Aldeias Altas, é uma
das mais florescentes vilas do interior do Brasil. Monta 30.000 o número
de habitantes do seu termo. Deve a sua prosperidade à cultura do
algodão, explorada desde uns vinte anos, com afinco, em seu interior, e
fomentada em toda a Província pela Companhia de Comércio do Grão-
Pará e Maranhão, assim como a atividade comercial de seus habitantes,
entre os quais se encontram muitos europeus.
comércio que se dinamiza cada vez mais, gerando novos olhares sobre a região e,
9
Apud ALMEIDA, A. W. B. de. A Ideologia da Decadência. São Luís: FIPES,1982, p. 41.
10
Apud COUTINHO, M. Caxias das Aldeias Altas. 2 ed. Caxias: Prefeitura de Caxias, 2005, p. 60
28
começa a fazer parte do concerto do mundo, a afinar-se com ele”11. Sua economia,
constante preocupação por parte dos vizinhos e parceiros comerciais, como o Piauí.
ao situar melhor a sede do governo piauiense num local mais estratégico e mais
razões que o levaram a escolher a Vila Nova do Poti, atual Teresina, para ser a sede
do governo: “[...] é ela bem situada e a mais salubre que é possível [...]; fica na
posição de tirar a Caxias todo o seu comércio com o Piauí, conseguindo-se, assim, a
11
CORREIA, M. da G. G. Nos Fios da Trama. Niterói -RJ : Universidade Federal Fluminense,1998, p. 08.
12
QUEIROZ, T. Os Literatos e a República. Teresina - PI: UFPI; João Pessoa – PB: UFPB, 1998, p. 22.
13
CHAVES, M. Obra Completa. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1998, p. 25, grifo nosso.
29
paisagem”.
cidade se alimenta daquilo que o campo a seu redor produz”17. E passa, com o seu
14
A citação é fruto de vasta documentação compilada por Gonçalves Dias nos arquivos europeus no século XIX, tratando-se
de uma extraordinária descrição do Arraial das Aldeias Altas no século XVIII. Cf. COUTINHO, Op. cit., 2005, p. 31.
15
Cf. CHARTIER, R. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.
16
HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 110.
17
WILLIANS, R. O Campo e a Cidade na História e na Literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 75.
30
Caxias, que já era considerada o grande empório do sertão, passava a ter o status
patrícia, prefere substituir essa classificação por uma descrição marcada pelos
como um grande centro produtor que refletia a “imagem de um ímã, que tudo atrai,
século XIX.
XIX, objetivaram uma “outra” Caxias, marcada por dizeres impregnados de imagens
18
Id., ibid., p 75
19
MARQUES, C. A. Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro: Cia Editora Fon-Fon e Seleta,
1970, p. 187
20
ROLNIK, R. O Que é Cidade. São Paulo: Brasiliense: 1995, p. 08.
31
“bárbaros” e “facínoras” que “não podiam deixar de lançar suas vistas perigosas
sobre esta cidade, já pela sua posição central e já pelas suas riquezas e munições”
e por ser então Caxias “a cidade do crime, o refúgio dos facinorosos, o domínio dos
mão-de-obra [...]”23.
se arrastaram por longos anos. Isso é o que nos transmite um cronista do jornal
Commercio de Caxias24:
21
MARQUES, C. A. Id., ibid.
22
KOWARICK, L. São Paulo Passado e Presente: as lutas sociais e a cidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994, p. 46.
23
ALMEIDA, A. W. B. de. Op. Cit., 1982, p. 76.
24
Jornal Commercio de Caxias, 1891, p. 01, grifo nosso.
32
“deteriorava” como um organismo vivo em estado doentio, ou seja, uma cidade que
período:
25
Cf. CHARTIER, R. Op. cit. 1990, p. 17.
26
ROLNIK, R. Op. Cit., 1995, p. 21.
27
COUTINHO, M. Op. Cit., 2005, p. 219.
33
ainda mais contundente e constante nos anos 70 do século XIX, onde as imagens
também nos jornais provinciais, eram freqüentes matérias que apresentavam Caxias
como um “corpo doente” que precisava ser tratado diante da sua importância e das
tradições que representava, pois assim sucumbia “uma localidade ainda a pouco
(sic), tão florescente, quando bastaria um sopro para elevá-la”28. Caxias encontrava-
emblemas, que uma vez vistos não podem ser esquecidos ou confundidos”31. Isto
era necessário para reforçar a idéia de que Caxias se encontrava abandonada pelo
deveria socorrê-la, pois não era justo que o outrora grande “empório do sertão” fosse
28
Jornal Diário do Maranhão, 08 abr.,1875, p. 02.
29
Id., ibid.
30
A produção algodoeira maranhense sofria uma forte concorrência norte-americana, que mantinha uma posição privilegiada
no mercado internacional, só sendo afetada temporariamente pela guerra civil americana (1861-65). Cf. ALMEIDA, A. W. B.
de. Op. cit,1982, p. 139.
31
CALVINO, I. Op. cit., 1990, p. 26.
34
terra”34. Observa-se, no entanto, que para isso deveriam romper com as tradições
escravo, pois já não podiam ignorar o fato de que muitos senhores estavam
dívidas. Era urgente resolver a questão da mão-de-obra. Para isso, afirmavam que
“tantos braços robustos, que por ali andam ociosos” e que “o povo se chama livre e
interpreta a liberdade como o direito de nada fazer”, enquanto “os cofres públicos se
esgotam” 36.
32
Jornal Publicador Maranhense, 27 fev., 1871, p. 02.
33
Para Elias, o processo civilizador constitui uma mudança na condução e sentimentos humanos rumo a uma direção muito
específica. Cf. ELIAS, N. O Processo Civilizador: formação do Estado e Civilização. vol. 02, Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1993, p. 193.
34
Jornal Publicador Maranhense. Id., ibid.
35
Jornal Diário do Maranhão, 14 fev.,1876, p. 02.
36
Jornal Diário do Maranhão ,id., ibid.
35
um todo, devido à posição que conquistou ao longo dos anos. Nesse sentido, a
necessárias novas soluções, como a construção de uma via férrea ligando Caxias a
Piauí”39. A idéia de estar em dia com o progresso emergia com grande força nos
37
HOBSBAWM, E.; RANGER, T. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 21.
38
Jornal Diário do Maranhão, 14 mai., 1875, p. 01.
39
Jornal Publicador Maranhense, 27 fev.,1871, p. 02.
36
“abandono” e “isolamento” pelo qual passava a cidade eram respaldadas pelo fato
de que a cidade havia crescido bastante nas últimas décadas, com uma população
por conseguinte, que Caxias, a segunda maior cidade do Maranhão, fosse ignorada,
vivendo até mesmo às escuras, pois a iluminação das suas ruas, há mais de quinze
anos reivindicada, não passava do estágio das promessas tão propaladas pelas
necessidades da cidade. Isso para não citar a tão reivindicada ponte que ligaria a
40
Cf. CALDEIRA, J. de R. C. As Origens da Indústria no Sistema Agro-exportador Maranhense – 1875 a 1895. São Paulo: USP
– Departamento de Sociologia,1988, p. 73.
41
Cf. Jornal Diário do Maranhão, 14 mai., 1875, p. 01.
42
Jornal Diário do Maranhão , id., ibid.
43
Cf. MARQUES, C. A. Op. cit., 1970, p. 189.
44
Jornal Diário do Maranhão, id., ibid.
37
“mesmo colocados a grande distância já traziam luz a uma terra tão esquecida dos
poderes públicos46.
enunciados imbricados à idéia de que a letargia por que passava a cidade só seria
rompida com novas práticas que trouxessem o progresso àquela região, pois este
era “semelhante às águas salgadas, que mais aumentam a sede de quem as bebe
têxteis em seu solo. É sobre tais construções discursivas que nos debruçamos a
seguir.
45
Coleção das Leis e Regulamentos Provinciais do Maranhão de 1876. São Luís: Typ. do País, 1876.
46
Jornal Diário do Maranhão, 13 ago., 1878, p. 02.
47
Idem, 24 abr., 1875, p. 01.
38
século XIX pelo maranhense Francisco Dias Carneiro, advogado, poeta, latifundiário,
Império, que adotara Caxias como sua cidade. Nessa fala, estão implícitas as
necessidade de “levantar-se contra aquela cega potência dos fatos, contra a tirania
do efetivo”49.
de opulência, mas que agora conseguia arregimentar tanto o coro dos favoráveis e
arraigados na tradição como o coro dos destoantes, que viam na escravidão “o fulcro
progresso”, oscilava entre duas posições, isto é, “uma resistência passiva em termos
mesmos”51.
48
CARNEIRO apud JACOBINA, A. P. Dias Carneiro: o Conservador. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938, p. 71.
49
NIETZSCHE, F. Op. cit., 2000, p. 285.
50
ABRANCHES apud ALMEIDA, A. W. B. de. Op. cit., 1982, p. 183.
51
HOBSBAWM, E. A Era do Capital: 1848 – 1875.Rio de Janeiro: Paz e Terra,1988, p. 24.
39
Brasil nos anos 70 do século XIX, onde as idéias circulantes lastreavam seus
difundidos no Brasil a partir dos grandes centros, como o Rio de Janeiro. Sevcenko52
afirma que
uma reflexão sobre os desafios do seu tempo, afirmara que a vivência social daquele
momento concentrava-se “na elaboração difícil de uma reforma nos princípios, nos
52
SEVCENKO, N. Literatura como Missão. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 96-97.
53
CALDEIRA, J. de R. C. Op. cit., 1988, p. 62.
40
construída pelo labor dos antepassados, mas que, naquele momento, eram
empreender estas “reformas” era uma missão nobre “e, qual um apostolado das
alternativas de solução para a forte crise financeira pelo qual passava o Maranhão.
Estas fábricas também teriam um nobre papel de “abrir à classe proletária as portas
Caxias nos “sombrios” anos 70, como também foram o fermento das práticas fabris
século XIX, pois, para setores da elite letrada caxiense, era notório os exemplos que
Caxias se dará a formação de várias empresas, cujo capital será subscrito através
54
CARNEIRO apud JACOBINA, A. P. Op. cit.,1938, p. 81.
55
CARNEIRO apud JACOBINA, A. P., idem, ibid.
56
CORREIA, M. da G. G. Op. cit.,1998, p. 131-132.
57
A autorização legal para a formação de sociedades anônimas foi uma das medidas liberais ocorridas no final do Império
brasileiro. Cf. CARVALHO, J. M. de. Os Bestializados. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 43.
41
intelectual e agricultor Dias Carneiro, cujo objetivo inicial seria a construção de uma
Itapecuru, fronteira ao Porto Grande da cidade de Caxias, cuja travessia era feita,
até aquele momento, por meio de balsas e canoas, sistemas por demais
atrasados58.
Foto 1: Ponte ligando Caxias ao distrito da Trezidela e Porto da Cidade. Fonte: Gaudêncio Cunha.
58
JACOBINA, A. P. Op. cit.,1938, p. 86.
59
Coleção das Leis e Regulamentos Provinciais do Maranhão de 1884. São Luís: Typ. do País, 1884.
60
Jornal Pacotilha. São Luís – MA, 28 ago., 1884, p. 03.
42
passando a ser não visto somente em sua dimensão física, mas como um “cenário
múltiplo da cidade que toma conta dos seus habitantes na construção do seu
progressista que embaçava a visão dos sujeitos históricos daquele período, que não
práticas fabris do que das práticas reais vivenciadas no cotidiano. Seus lugares de
61
REZENDE, A. P. (Des) Encantos Modernos. Recife: FUNDARPE, 1997, p. 14.
62
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 10 ago., 1889, p. 01.
43
no Maranhão, na passagem do século XIX para o século XX, é vista como uma
ilusório e perdido a noção de que toda a riqueza que o Maranhão havia conquistado,
em seu progresso”65.
63
SEVCENKO, N. Op. cit., 2003, p. 93.
64
MEIRELES, M. M. História do Maranhão. São Paulo: Sciliano, 2001, p. 307-308, grifo nosso.
65
MEIRELES, M. M. Op. cit., 2001, p. 305.
44
com as práticas dos sujeitos sociais que vivenciaram um determinado período, nem
novos tempos.
progresso.
impregnados das novas sensibilidades pelas quais passava a cidade com o advento
vivenciado:
66
Cf. CERTEAU, M. A economia escriturística. In: A Invenção do Cotidiano. Petrópolis - RJ: Vozes, 1994.
67
Cf. BRESCIANNI, M. S. História e Historiografia das Cidades: um percurso. In: FREITAS, M. C. de. (org.) Historiografia
Brasileira em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 1988, p. 237.
45
modernizadora que tomara conta mormente das grandes cidades do mundo, com o
que não?! — a interiorana Caxias, extasiada pelo maquinário industrial. Enfim, como
contingência.
proporcionava, Weber afirma que, no início do Século XX, tornou-se moda chamar
68
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 15 ago., 1891, p. 03.
69
BAUMAN, Z. Modernidade e Ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, p. 09-10.
70
Para Daou, a “bela época” é expressão da euforia e do triunfo da sociedade burguesa no momento em que se notabilizaram
as conquistas materiais e tecnológicas, ampliaram-se as redes de comercialização e foram incorporadas à dinâmica da
economia internacional vastas áreas do globo antes isoladas. Cf. DAOU, A. M. A Belle Époque Amazônica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2000, p. 07.
46
cultural e centro das decisões políticas do Brasil, na passagem do século XIX para o
coletivo fundamental.
vida não foi acessível a todos, pois “a maioria dos que contemplaram essas
maravilhas ou liam a seu respeito não desfrutava seu uso, ou só veio a fazê-lo bem
mais tarde”. Mas isto é o que constituiu o turbilhão da modernidade que, ao não se
71
WEBER, E. França Fin-de-Siècle. São Paulo: Companhia das Letras: 1988, p. 10 – 13.
72
O “modelo francês” de modernidade sempre esteve presente no Brasil ao longo do século XIX até as vésperas da 2ª Guerra
Mundial. Cf. RIBEIRO, L. Q. Transferências, Empréstimos e Traduções na Formação do Urbanismo no Brasil. In: RIBEIRO,
L. Q. ; PECHMAN, R. (orgs.). Cidade, Povo e Nação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
73
WEBER, E. Op. cit.,1988, p.13.
47
imagéticas exacerbavam uma cidade pioneira, que ultrapassava até mesmo a capital
74
BERMAN, M. Op. cit.,1986, p. 224.
75
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 29 jun., 1891, p. 01.
76
REZENDE, A. P. Op. cit., 1997, p. 18.
77
CALDEIRA, J. de R. C. Op. cit., 1988, p. 01-03.
48
centralizadas pelo poder europeu e norte-americano, com o mundo a seus pés. Isto
anônima79 que dará sustentáculo jurídico à primeira indústria têxtil da cidade, que se
província, São Luís, não se dispôs a participar do empreendimento. Este aspecto foi
relatado pelos cronistas da época de modo que a ênfase noticiada foi a do desdém
78
Cf. HOBSBAWM, E. Op. cit.,1988.
79
A Companhia Industrial Caxiense foi fundada em 1º de agosto de 1883 e era composta, em sua diretoria, pelos caxienses
Francisco Dias Carneiro, Segisnando Aurélio de Moura, Antônio Bernardo Pinto Sobrinho, todos estes fazendeiros; José
Ferreira Guimarães, Manoel das Chagas Pedreira de Brito, Custódio Alves dos Santos, estes, por sua vez, comerciantes. Cf.
CALDEIRA, J. de R. C. Op. cit., 1988, p. 74.
49
conhecimento do maquinário dos dois países, cuja preferência recaiu sobre a firma
Foto 2: Industrial Caxiense (primeira indústria têxtil de Caxias). Fonte: Gaudêncio Cunha.
80
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 1º jan. 1888, p. 01-02.
81
CALDEIRA, J. de R. C. Op. cit., 1988, p. 79.
82
Id., Ibid., p. 81.
50
expressaram:
transformação por que passou o universo da pequena cidade, entre o final do século
XIX e início do século XX, não foi dramático como o das grandes cidades do Brasil e
83
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 14 jan. 1888, p. 01.
84
Cf. Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 09 set., 1893, p. 01.
85
O espaço urbano refere-se a um conjunto fragmentado e articulado da cidade onde podemos perceber os diferentes reflexos
e codicionantes sociais. Cf. CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 1999.
86
Cf. QUEIROZ, T. Op. cit., Teresina:1998.
51
possuía feições de uma cidade colonial, contando com uma média de “746 casas
cobertas de telha e grande número de palha nos seus arredores, bem como 41 ruas,
largo”87.
elite política e intelectual destas cidades, naquele período. Nascimento90 afirma que
87
Documentação do Estado do Maranhão. In: Jornal O Estado do Maranhão. São Luís – MA, 1896, p. 113 – 120.
88
NASCIMENTO, F. A. do. A Cidade sob o Fogo: modernização e violência policial em Teresina (1937 – 1945). Teresina:
Fundação Monsenhor Chaves, 2002, p. 120.
89
BARROS, V. Imagens do Moderno em São Luís. São Luís – MA:[s.n.], 2001, p. 29 – 30.
90
NASCIMENTO, F. A. Op. cit., 2002, p. 122.
52
Caxiense.
Foto 3: União Caxiense (Segunda indústria têxtil de Caxias). Fonte: Gaudêncio Cunha.
91
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 25 fev., 1893, p. 01.
53
de Janeiro:
República.
serviços:
93
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 15 jul., 1893, p. 01.
94
Cf. BRESCIANNI, M. S. Metropólis: as faces do monstro urbano (as cidades no século XIX). In: Revista Brasileira de História.
São Paulo, Vol. 05, nº 8/9, set. 1984, p. 36.
95
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 04 abr., 1891, p. 02.
54
dias melhores; outras ficaram somente no âmbito do desejo. Neste sentido, o tão
Não iniciar obras que poderiam ser de pura perda, e levar o fato ao
conhecimento dos vereadores, a fim de deliberardes se será mais
conveniente e útil empreender a construção de um novo edifício
apropriado ao fim a que se destina, embora seja para isso necessário
contrair um empréstimo 96.
de um novo mercado, mas não presta conta do destino da verba orçamentária para
reforma do mercado velho. Esta postura contribuía para acirrar as disputas políticas
96
Relatório da Intendência Municipal de Caxias. In: Jornal Gazeta Caxiense. Caxias – MA, 20 fev., 1894, p. 02 – 03.
97
Jornal Pacotilha. São Luís – MA, 26 jun., 1896, p. 02.
55
Intendência: “Vamos mandar verificar ao certo, já que o sr. Intendente com isso não
se importa, qual o número dos combustores que atualmente não funcionam, que nos
parece não ser mais de dois terços dos 135 do contrato, e brevemente o faremos
concessão.
[ ... ]
século XIX não passava de um sonho, foi a linha de bonde que ligaria a cidade,
98
Id., ibid.
99
Jornal Cidade de Caxias. Caxia – MA, 14 jan., 1899, p. 02 – 03.
56
“em 1892 já era necessário o dobro de mil réis para comprar uma libra esterlina; em
materializaram. Desta feita, a cidade que já contava há muitos anos com um sistema
de correio, que só perdia em movimentação para a capital São Luís, passou a partir
dos anos 80 a contar com uma estação telegráfica. Em fevereiro de 1884, o jornal
Pacotilha noticiava que já havia sido concluída a estrada da linha telegráfica com
de lei que estendia a linha telegráfica pelo interior maranhense103. Neste mesmo
100
Relatório da Diretoria da Companhia Prosperidade Caxiense. In: Jornal Gazeta Caxiense. Caxias – MA, 11 fev., 1896, p. 02.
101
Cf. CARVALHO, J. M. de. Op. cit., 1987, p. 20.
102
Jornal Pacotilha. São Luís – MA, 27 fev., 1884, p. 03.
103
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 08 dez., 1894, p. 01.
57
provar novas maquinarias nem sempre era recebido com o mesmo entusiasmo que
este melhoramento tão importante para a cidade, como era o telefone. Para
para uma das fábricas do povoado ‘Ponte’, distante três quilômetros, teve
104
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias – MA, 25 mai., 1894, p. 02.
105
Jornal Comércio de Caxias. Caxias - MA. 10 fev. 1894, p. 03.
58
“aparelhos por menos de 25% que os particulares [...]”, porém “nem um só aparelho
cidade que sobrevivia basicamente das riquezas que circulavam na região; e de uma
José Castelo Branco da Cruz, Dr. Cristino Cruz, Manoel Bayma do Lago e Frederico
José Viana, foi instalada, a 24 de maio de 1891, a Companhia das Águas de Caxias
Remédios, com capacidade para 226 mil litros de água. Os trabalhos de canalização
106
Id., ibid.
107
Id., ibid.
108
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 08 set. 1893, p. 02.
59
pela imprensa:
contava com água canalizada em 308 casas, inclusive com 42 torneiras destinadas a
do empreendimento.
109
Balanço da Companhia das Águas. In: Jornal Gazeta Caxiense. Caxias – MA. 27 jul. 1894, nº 146. p. 02-03
110
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 16 jun. 1893, p. 02.
111
Balanço da Companhia das Águas. In: Jornal Gazeta Caxiense. Caxias – MA. 27 jul. 1894, p. 02-03.
60
discursos proferidos pela elite letrada que geralmente se pautava em queixas da não
diminuídas”113.
112
Atos Oficiais da Câmara de Caxias. In: Jornal Gazeta Caxiense. Caxias – MA. 22 jun. 1894, p. 02.
113
Jornal Comércio de Caxias. Caxias – MA. 16 set. 1893, p. 01
61
Chartier114 afirma que estas lutas têm tanta importância quanto as lutas econômicas,
pois trazem compreensão dos “mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta
impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e o seu
domínio”.
progresso caxiense foi sem dúvida a construção de uma estrada de ferro ligando
Caxias a São José das Cajazeiras, na divisa com o Piauí. Neste propósito, há várias
vultosa obra que tanto dignificaria o grande “Empório do Sertão”. Estes afirmavam
alto sertão pela facilidade de transporte que esta via oferecia na economia de tempo
114
CHARTIER, R. Op. cit., 1990. p. 17.
115
Jornal Comércio de Caxias. Caxias – MA. 29 Jun. 1889, p. 01.
62
coroando uma cidade que ganhara visibilidade às custas de muito trabalho. Foi
116
Jornal Comércio de Caxias. Caxias – MA. 28 jun. 1891, p. 01.
63
de excitação trazia uma sensação de igualdade, ainda que no dia seguinte tudo
do jornal Democrata.
117
Id., ibid.
118
Id., ibid.
64
um novo tempo, cujo ritmo se acelerava mais e mais e onde o tempo presente era
uma futura extensão da via férrea ligando Caxias a São Luís; e outra rede ferroviária
eufórica elite caxiense, sepultaria toda uma herança cultural de dependência dos
trechos.
119
Marshall Berman afirma que a modernidade ou é vista com um entusiasmo cego e acrítico ou é condenada
segundo uma atitude de distanciamento e indiferença neo-olímpica. Cf. BERMAN, M. Op. cit.,1986, p. 24.
120
A via férrea a São Miguel do Araguaia resultou para os caxienses em um dos “melhoramentos desejantes”; já a estrada de
ferro para São Luís começou a se materializar por volta de 1906, quando o Senado Federal autorizou uma abertura de
crédito, atendendo a uma proposta da bancada maranhense. In: Diário Oficial do Maranhão, São Luís – MA, 02 jan., 1906,
p. 01.
65
Desta feita, Caxias era embebida por novas práticas e desejos que
[...], mas já indicativas do mais ousado experimento social que jamais houve”.122
Sevcenko afirma que essa invasão do imaginário social pelas novas tecnologias
121
PAXECO, F. Geografia do Maranhão. São Luís: Tipogravura Teixeira, 1922, p. 35.
122
SEVCENKO, 1992. p. 18
123
Id., ibid.
66
que:
Foto 5: Estações ferroviárias – Caxias a Flores; Flores a Caxias. Fonte: Gaudêncio Cunha.
124
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias – MA. 10 jul. 1895, p. 02. A vila de Flores era a antiga São José das Cajazeiras, na divisa
com o Piauí. Atualmente é a cidade de Timon.
67
era o referencial dos discursos de uma elite letrada que traduzia uma visão de
cidade comporta, em sua essência, uma série de outras cidades e que os discursos
que a representam nem sempre condizem com a sua existência, mas, muitas vezes,
CACHIAS1
uma cidade cuja cartografia foi construída entre a simbiose de uma paisagem
“flor que desponta livre”, não obstante estar imerso em uma “gleba inculta”. No
entanto, a breve vivência do poeta, ceifado com pouco mais de 40 anos, não
1
No século XIX, é comum encontrarmos na escrita de poemas ou de documentação oficial Caxias sendo grafada
com ch. Portanto, uma grafia comum na linguagem da época.
2
Gonçalves Dias é um dos filhos ilustres de Caxias. Viveu entre 1823 e 1864. Poeta, foi representante singular da 1ª geração
do Romantismo brasileiro, conhecida como Nacionalista ou Indianista.
3
BRESCIANNI, M. S. História e historiografia das cidades: um percurso. In: FREITAS, M. C. de (org.). Op. cit., 1998, p. 237.
69
novo”4; a tradição e o êxtase dos tempos modernos. E é através deste fio condutor
ocorreram os embates entre este “novo” modelo de cidade e o viver cotidiano dos
citadinos? Como a cidade era consumida6 por seus habitantes e como estes
D.Pedro II”8.
sanitário, transformando-se em uma força política entre 1830 e 1860 por sua
4
O par antigo/moderno está ligado à história do Ocidente. Antigo pode ser substituído por tradicional e moderno por recente ou
novo. Cf. LE GOFF, J. História e Memória. Campinas – SP: UNICAMP, 1996, p. 167.
5
A cidade-conceito funciona comum um lugar de transformações e de apropriações, objeto de intervenções. Ela
é, ao mesmo tempo, a maquinaria e o herói da modernidade. Cf. CERTEAU, Michel de. Op. cit., 2002, p. 174.
6
Para Certeau, enquanto o uso é racionalista e expansionista, o consumo é totalmente diverso, caracterizado
por astúcias, sendo, portanto, subversivo. Cf. CERTEAU, M. Op. cit., idem, p. 94.
7
CHALHOUB, S. Op. cit., 1996, p.08.
8
Id., ibid.
9
MELO FILHO, A. Teresina: a condição da saúde pública na Primeira República (1889 – 1930). Dissertação de
Mestrado. Recife : UFPE, 2000, p. 26
70
à transmissibilidade das doenças por meio de contágio humano, mas com um viés
passaram a ser tidos como “classes perigosas”12, por oferecem o perigo de contágio.
Também resultante dessa ótica, há a percepção, oriunda no seio das elites, de que
própria13.
10
Id., Ibid., p. 33.
11
FONTENELLE apud MELO FILHO, A. Op. cit., 2000, p. 33.
12
Cf. CHALHOUB, S. Op. cit., 1996, p.29.
13
FOUCAULT, M. O nascimento da medicina social. In: Microfísica do Poder. Rio de Janeiro : Graal, 2002.
71
enfrentamento de uma problemática que não poderia ser mais ignorada: a saúde
pública.
endêmicas ou epidêmicas, como a bexiga, que era controlada por vacinação. Para
isto, eram obrigados todos os chefes de famílias a “mandar seus filhos ou escravos
para se vacinarem quando fossem para isso avisados pelo agente da repartição ou
pelos juízes de paz do distrito da cidade [...]15. Caxias era uma das cidades
suficiente para uma localidade que reclamava por maior número de ruas calçadas e
século XIX.
14
MELO FILHO, A. Op. cit., 2000, p. 33.
15
Maranhão. Edital à Câmara Municipal, referente às posturas aprovadas pelo Conselho Geral da Província. São Luís – MA:
Typ. da Temperança, 1848, p. 14.
72
que a ação devastadora que a varíola produzia nos membros menos afortunados da
sociedade poderia atingir a todos. Melo Filho19 afirma que essas endemias geraram
16
Jornal Publicador Maranhense. São Luís – MA, 28 fev., 1875, p. 01.
17
Jornal Diário do Maranhão. São Luís - MA, 21 ago., 1875, p.02
18
Id., ibid.
19
MELO FILHO, A. Op. cit., 2000, p. 38.
20
BRESCIANNI, M. S. (org.) Imagens da Cidade: século XIX e XX. São Paulo: Marco Zero, 1996, p. 46.
73
travado pelo poder local sobre estes resquícios é reforçado pela Postura de 1878,
21
Coleção das Leis e Regulamentos Provinciais do Maranhão de 1876. São Luís -MA: Typ. do País, 1876.
74
“civilidade” aos citadinos não condizentes com uma cidade que oferecia muito pouco
aos seus moradores, pois a maioria das suas ruas não dispunha de calçamento, ou
arejados”26. Mas o poder público só não explicava o fato de que o edifício da Feira
respeito à ordem:
26
Id., ibid.
27
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, 16 jun., 1888, p. 03.
28
VEYNE, P. Como se Escreve a História. Brasília: EDUNB, 1982, p. 260.
76
explicava que:
29
Coleção das Leis e Regulamentos Provinciais do Maranhão de 1886. São Luís -MA: Typ. do País, 1886.
30
CHALHOUB, S. Op. cit., 1996, p.09.
77
31
QUEIROZ, T. Op. cit.,, 1998, p. 30.
32
Id., ibid.
33
PONTE, S. R. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle social (1860 – 1930). Fortaleza: Fundação Demócrito
Rocha / Multigraf Editora Ltda, 1993, p. 81.
34
Para Certeau, o homem ordinário é aquele que inventa e reinventa seus códigos, suas táticas, suas práticas, cf.: CERTEAU,
M. Op. cit., 2002, p. 162-217.
78
França e a Inglaterra, com seus exemplos a seguir. Tais indivíduos queriam por fim
colonial da cidade velha, que era o símbolo de uma cultura que a elite europeizada
queria esquecer35.
cada nova publicação, traziam sempre novos ordenamentos sociais. É isto que
município”36.
dificuldades de navegabilidade pelo rio era um dos temas que mais preocupavam os
necessidades da lavoura”37.
35
Cf. NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
36
Coleção das Leis Províncias do Maranhão – 1887 / 1889. MA: Typ do país, 1889
37
Id., ibid.
79
motivo de críticas por parte daqueles que penetraram na cultura moderna, ao estilo
aqui pelos nossos sertões a destruição das matas tem sido em tão
grande progressão para a plantação de algodão que já não há mais
mata virgem e nem caatinga alta em parte alguma [...]
É preciso que nossos agricultores se convençam de seu erro, e
acabem com este péssimo e prejudicial método de lavoura.
Convém que se acostumem a introduzir os melhoramentos da cultura
européia, e de certo, com o favor do arado e de outros instrumentos
rústicos, a agricultura ganhará muito mais [...]38.
Câmara dos Vereadores com a criação das Intendências, que davam certa
seu mais amplo Código de Posturas, reforçando, assim, uma visão tecnocrática e
38
Jornal Comércio de Caxias. Caxias - MA. 16 jan. 1886, p. 01.
80
das ruas e das praças; dos distritos e das estradas municipais, da higiene e saúde
Neste novo código não há dúvida de que grande parte das medidas eram
e maior higiene. Mas muitas delas eram inteiramente irrealistas para a época, como,
por exemplo: a exigência de pintura das paredes das casas que dessem para a rua
das medidas não passavam de civilidades das aparências, pois nem o poder público
adotar as novas medidas. Assim, o novo código constituía uma iniciativa da elite a
fim de tornar a cidade aprazível ao seu usufruto, impondo aos demais a sua visão de
municipais constitui infração com multa que não excederá a quantia de 50.000 réis,
39
Código de Posturas do Município de Caxias de 1893 In: Jornal Comércio de Caxias. Caxias - MA, 30 dez. 1893, p. 01-04.
40
Código de Posturas do Município de Caxias de 1893. In: Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA: 30 dez. 1893. p. 01
81
vivenciados pela elite. Assim, no capítulo III, em seu artigo 13º, o código afirmava
perímetro urbano, observando como regras o formato retilíneo das ruas com
trazia reforçava, assim, a visão de vivência citadina marcada pelo bom gosto e pelo
requinte que a elite possuía. Isto era explicitado pelo capítulo IV ,em seu artigo 30º,
palha, esta Postura era irrealizável e até mesmo utópica para o período. Contudo,
moradias elitizadas.
1893, o cronista pede providências ao Intendente Libânio Lobo sobre o que está
41
Artigos 30º e 26º do Código de Posturas de Caxias de 1893.
83
de telha era um luxo acessível a poucos. O não alinhamento das ruas, somado à
42
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 09 maio, 1893, p. 02.
43
LEMOS, C. A. C. A República Ensina a Morar (Melhor). São Paulo: Editora Hucitec, 1999.
84
que se lance nas ruas e praças águas, lixo ou qualquer coisa que prejudique o
asseio das mesmas sob pena de multa de 5:000 réis. Para este serviço, a câmara
disponibilizava a cada ano certa quantia no orçamento municipal que não atendia às
É uma vergonha para uma cidade como Caxias ver as suas ruas
transformadas em outros tantos monturos. As autoridades ou
empregados municipais a quem compete fazer manter o asseio das
ruas e praças, nenhuma importância ligam a esse dever. Lugares há
como em parte das ruas das Oliveiras e dos Arcos, beco das
Guabirabas e outros muitos em que os montes de lixo, se não
impedem o trânsito, tornam-no pelo menos muito incômodo. Mas
chamar a atenção do Intendente para estas coisas é pregar no
deserto46.
editorial do jornal Gazeta Caxiense não economizava tinta nem adjetivos contra a
e de obscurantismo.
44
Artigo 37 do Código de Postura de Caxias de 1893.
45
Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889
46
Jornal. Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 21 nov. 1893, p. 03.
85
seu capítulo VIII, os animais destinados ao consumo público só poderiam ser abatido
em que a mesma fosse exposta à venda deveriam ser limpos e arejados e que seria
pública, pois em termos de alimento de origem animal o boi ocupava o primeiro lugar
Postura estava longe da prática social. Aponta também o fato de que a Intendência
47
Código de Postura de Caxias de 1893, arts. 89º, 92º.
48
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 12 mai. 1893, p. 02/03.
86
Álvaro de Moura, que assistisse, todos os dias, à matança de bois. Como o mesmo
Esta prática feria o artigo 109 do Código de Posturas, o qual afirmava que
“todos os pesos e medidas deverão ser aferidos pelos padrões da Câmara Municipal
imposto sobre a cabeça de gado abatido para o consumo de 3$500 para 3$000
réis52, uma benesse da Câmara Municipal aos açougueiros e marchantes que não
carne que havia sido elevado a $500 réis53. Quanto a isto, um cronista do jornal
que os marchantes ainda não haviam reduzido o preço da carne, como fora
49
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 05 set. 1893, p. 01.
50
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 27 abr. 1894, p. 01.
51
Código de Posturas de Caxias de 1893, p. 03
52
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 16 mar. 1894, p. 02.
53
Id., ibid.
54
Id., ibid.
87
sujeito do cronista, que se utiliza das dificuldades cotidianas como suporte para o
administrativas na cidade.
privado, através da temática higiene e saúde pública, contida no capítulo VII. Neste
urbano, bem como de cunho ambientalista. A novidade era que agora adentrava na
retórica, apesar de Caxias ter uma fartura de mananciais e belezas naturais que não
55
Código de Posturas de Caxias de 1893, p. 02
56
Id., ibid.
89
partir da análise que passam a proceder sobre a vida urbana, e por intermédio de
fora dos cemitérios e de 10:000 réis para quem conduzisse cadáveres fora de
caixões59. Esta Postura normativa e punitiva tinha claras pretensões de romper com
residências dos parentes do morto. Neste caso, o que contava era a condição
57
PONTE, S. R. Op. cit., 1993, p. 78 – 79.
58
Id., ibid., p. 81.
59
Código de Posturas de Caxias de 1893. Artigos 78 e 79.
60
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 21 ago. 1894, p. 02.
90
com a problemática, empreendem ações que deveriam ser realizadas pelo Poder
Público:
61
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 23 out. 1894, p. 02.
62
FOUCAULT, Michel. Espaços – outros: Utopias e Heterotopias. In: Outra. Revista de Criação. Londrina, nº. 1, julho, 1984, p.
17.
91
por todos os caxienses como uma prática que fluía espontaneamente. Em muitas
articulista de jornal escandalizava-se por “tal fato ter se dado em terra de gente
foi adjetivado pela imprensa como um ser de “espírito diabólico”64. No entanto, como
explicita o mesmo cronista, é necessário que se faça uma distinção entre tal homem,
um homicídio, sendo que o delito não fora praticado contra uma simples pessoa,
63
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 26 out. 1894, p. 02.
64
Id., ibid.
65
Id., ibid.
92
cidade consumo, desvelando que o “novo” é, muitas vezes, forjado por lutas
demarcadoras de poder.
com autorização do Intendente, pois quem assim não procedesse estaria sujeito à
66
Id., ibid.
67
Código de Posturas de Caxias de 1893, p. 04.
93
orçamento uma certa quantia, que girava em torno de 400$000 réis69, para compra
relações entre público e privado no município. Para coibir os excessos é que o novo
Código punia com uma multa de 2:000 réis quem simulasse enfermidades ou
68
Jornal Commercio de Caxias. Caxias – MA, p. 03.
69
Coleção das Leis Provinciais do Maranhão de 1887 – 1889. São Luís – MA: Typ do país, 1889.
70
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 20 fev. 1894, p. 02-03.
71
Código de Posturas de Caxias de 1893. Art. 153.
94
onde habitem três ou mais mulheres para exercerem a prostituição. A prostituta que
logradouros públicos, por parte dos citadinos, com moderação e gestos educados.
Estas normas tinham como preceitos valores morais arraigados nas tradições
famílias já não podiam se servirem dos banheiros à margem do rio, “porque homens
que se tem em conta de bem educados, vão espioná-las, não guardando decoro que
deviam merecer-lhes”72.
margens do rio Itapecuru mas também em outros lugares de lazer social, disponíveis
72
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 05 set. 1891, p. 01.
95
final do século XIX, pudemos mapear uma cidade onde o Poder Público
constituído por uma gestão autoritária, defendida por uma elite esclarecida e
europeizada.
73
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 01 abr. 1893, p. 01.
74
Id., ibid.
75
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu Extático na Metrópole. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 14.
96
final do século XIX. É este aspecto que veremos a seguir, através do que
elite caxiense dos demais habitantes citadinos – não podemos deixar de atentar
1
Cf. MARQUES, Op. cit., 1970, p. 185. COUTINHO, Op. cit., 2005, p. 23-26.
2
DOCUMENTAÇÃO DO ESTADO DO MARANHÃO. Jornal O Estado do Maranhão. São Luís - MA, 1896. p. 113-120.
98
aspecto a destacar em relação a Caxias é que a sua fundação não pode ser
aglomerados de
mas que a sua visibilidade dá-se a partir das práticas que o objetivam. Portanto, é
pelos portugueses, em 1755, a região ganha uma visibilidade ainda maior como
atividade agrícola é que irá definir a posição de cada indivíduo na tessitura social.
3
COUTINHO, Op. cit., 2005, p. 24-25.
99
Província” e pelos “jovens [que] foram quase todos mandados a bons colégios da
França e Inglaterra”4.
e com o encantador mundo europeu. Macedo5 afirma que esta elite, além de mandar
os filhos para estudar nos melhores colégios da Europa, não se embaraça “com os
gastos para um bom estágio em cada ano e um justo gozo da cultura e dos prazeres
que perdurará até o final do século XIX, mais precisamente até 1888, “os limites e
expressa por relações de dominação e com uma definição dos lugares que cada
4
D’ORBIGNY apud BARROS, Op. cit., 2001. p. 23.
5
MACEDO, E. T. Op. cit., 2001. p. 69.
6
ROLNIK, R. São Paulo, início da industrialização: o espaço e a política. In: KOWARICK, Lúcio (org.) Op. cit., 1994. p. 96.
100
O cronista revela, através de sua fala, a forte crise por que passava
região fugir ao fluxo das circunstâncias. Isto teve como conseqüência direta o
desfalque dos plantéis de escravos, com a venda dos mesmos para a região Centro-
1887.
de uma elite “sem aptidão para o trabalho” e tendo que conservar “para maior
grande batalha seria pela manutenção da posição social arraigada em uma fina
principalmente braçal, era visto de forma pejorativa, pois até então o chamado
7
Jornal Diário do Maranhão. São Luis - MA. 9 mai. 1876, p. 01.
8
RIBEIRO, J. A. J. A desagregação do sistema escravista no Maranhão: 1850. São Luis: SIOGE, 1990, p. 63-64.
9
Jornal Diário do Maranhão. São Luis - MA. 9 mai. 1876, p. 01.
10
GOMES, J. T. P. Formação Econômica do Maranhão: uma proposta de desenvolvimento. São Luis: FIPES, 1981, p. 15.
101
das vezes fugidos da seca em suas localidades de origem. Foi assim que o
Caxias em 1877:
uma nova cena urbana, delineando assim a percepção de que a cidade passava por
escravocrata:
11
Cf. o primeiro capítulo.
12
Jornal Diário do Maranhão. São Luis - MA. 9 ago. 1877, p. 02.
13
Cf. ROLNIK, Op. cit., 1994, p. 96.
102
numa atitude de preservação, nem que fossem a valores mais baixos, de seus
patrimônios.
15
civil” . Neste sentido, a linguagem utilizada pelo cronista não correspondia aos
fatos, pois era incoerente se falar em independência política e civil, num país
palavras utilizadas pelo cronista partem mais de uma euforia momentânea do que da
pronunciados em tons suavizados desde os anos 50 e 60, uma vez que políticos e
suavizar o tratamento dado aos cativos”16, pois o Maranhão sem o tráfico negreiro
14
Jornal Publicador Maranhense. São Luis - MA. 9 ago. 1877, p. 02.
15
Id., ibid.
16
RIBEIRO. Op. cit., 1990, p. 96.
103
que:
Nesse entendimento, era necessário que se visse o escravo sob uma nova
ótica, pois prolongaria a sua vida útil e, conseqüentemente, traria maior lucratividade
à classe senhorial. Mas Ribeiro18 afirma que esta proposta jamais se tornara
fábricas têxteis no solo caxiense a partir dos anos 80 do século XIX, quando, por
17
Apud RIBEIRO, J. A. J. Op. cit. 1990, p. 95.
18
Id., ibid.
19
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 14 jan. 1988, p. 03.
104
elitista, principalmente porque parte da mão-de-obra utilizada pela indústria têxtil era
20
Cf. Capítulo I deste trabalho.
21
Jornal Cidade de Caxias. Caxias - MA. 25 fev. 1899, p. 04.
22
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 05 ago. 1893, p. 02.
23
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 01 jan. 1888, p. 01.
105
universo do ócio. Também são generosas quanto às mulheres que, até aquele
que, muitas vezes, faltavam ao trabalho para cuidar de suas roças. Na visão da elite,
era inconcebível esta prática, principalmente o fato de que esta nova categoria não
a vivência civilizada.
24
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 28 jan 1888, p. 02-03 .
25
Jornal Commercio de Caxias. Caxias-MA. 01 jan. 1888, p. 01.
26
CORREIA, R. L. Op. cit., 1998, p.145.
106
trabalho dos homens e das mulheres, preservando-se a idéia de que o salário das
lançando mão da utopia do mundo das máquinas e das chaminés. Neste sentido,
Rolnik28 adverte que este poder fabril tem como princípio a domesticação dos
torno desse novo ideal. Isto é o que percebemos no poema abaixo, direcionado aos
Hino ao Trabalho.
27
SCOTT, J. A mulher trabalhadora. In: FRAISSE, Geneviève e PERROT, Michelle (org.). História das Mulheres no Ocidente.
Vol. 04. Porto: Afrontamento, 1991, p. 458.
28
ROLNIK, R. Op. cit, 1994. p. 51.
107
[...]
espesso e a terra era inculta”, hoje “fábricas mil se levantam”. Os versos refletem um
Maranhense”.
O poeta também convoca todos ao trabalho com alegria, pois ele dá vida e
nos liga ao bom Deus, sendo um belo presente dos céus. Assim sendo,
bênçãos que Ele nos agracia. É notável nestes últimos versos que, apesar do poeta
flanar nas asas do progresso, através do trabalho, o seu desfecho apelativo reveste-
29
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 01 jan. 1888. p. 01-02.
30
O que distingue o flâneur para Baudeleire é que o desejo de ver festeja o seu triunfo. Assim, ele pode concentrar-se na
observação ou estagnar-se na estupefação. In: BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo.
Obras escolhidas. vol. 03. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 69.
108
entrada dos operários depois de um segundo apito da máquina a vapor, assim como
a entrega de teares na mesma quinzena às tecelãs que por qualquer motivo tenham
apesar de ser editado em São Luís, dirigia-se à toda classe operária maranhense.
Suas matérias eram muita das vezes constituídas de denúncias. Alertavam para o
operário a trabalhar em média dez horas por dia32. Diziam, também, que o tempo de
vida curta e saúde debilitada que afligia o operariado era decorrente das péssimas
teriam dias melhores através do trabalho fabril, como também que morariam mais
maranhense.
Em Caxias, nos relatórios das fábricas aos seus acionistas, quase sempre
que distribuíam dividendos de 5.400 réis aos seus acionistas por ação integralizada
31
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 29 set. 1893. p. 03.
32
Jornal O Operário. São Luís - MA. 04 dez. 1892. p. 01.
33
Id., ibid.
109
e de 1.500 por ação não integralizada, resultado este superior aos das outras
“preocupam-se mais com os meios de não perder uma festa, do que com os de
ajuntar os recursos para comprar uma casinha ou reunir algumas dezenas de mil
Mais uma vez a elite letrada apresentava como referencial a Europa, sem
estipularam dois tipos: o por tempo de serviço e o por peça produzida, sendo ambos
efetuados quinzenalmente. Melo37 afirma que o tipo de salário que chamava mais a
34
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 07 out. 1893, p. 01.
35
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 19 fev. 1895, p. 01.
36
Id., ibid.
37
MELO, M. C. P. de. O bater dos panos: um estudo das relações de trabalho na indústria têxtil do maranhão (1940-1960). São
Luis: SIOGE, 1990. p. 66.
110
atenção dos operários era o por peças, pois “despertava no trabalhador atração em
forma predileta de pagamento de salário dos dirigentes das fábricas, pois contribuía
mais dignas38. Só que estes dizeres não alcançavam nem mobilizavam a todos,
sentido de organizar-se para reivindicar seus direitos. Este aspecto não era distintivo
Mas o novo trabalhador que a elite caxiense precisava moldar aos seus
novos interesses não se restringia somente ao âmbito das indústrias têxteis; dizia
38
Jornal O Operário. São Luís - MA. 23 jul. 1893, p. 01.
111
Todo criado deveria possuir uma caderneta de registro com inscrição nos
indeterminado.
velhos hábitos que distinguia o seu status social, só que agora normatizados e
ao afirmar que o criado que abandonasse suas funções deveria, dentro do prazo de
três dias, apresentar-se à polícia com sua caderneta42. O criado que ajustasse seus
serviços por tempo indeterminado, ao se retirar, deveria comunicar seu patrão com
39
Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889.
40
Id., ibid.
41
Artigos 2º, 3º e 4º. Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889.
42
Artigo 6º. Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889.
112
poderiam ser abandonados por justa causa. As Posturas compreendiam como justa
causa:
seja, o fato de a câmara não contar com um aparato fiscalizador que respaldasse a
elite caxiense. Por trás do verniz de uma lei moderna, o que se percebe é que o
criado, através da caderneta, continuava preso; não mais ao seu senhor, mas a seu
43
Artigo 9º. Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889.
113
também subjetivos. Nas causas objetivas, o criado estava preso a uma prestação de
serviço exemplar, não tendo hora para iniciar suas atividades nem tampouco para
tendo que ser polido em seus gestos e fala. Neste mesmo artigo, havia um inciso
que afirmava que criada solteira que apresente “sintomas de gravidez poderá ser
caxiense, tanto no que diz respeito às relações de trabalho, quanto ao bom zelo da
moralidade familiar.
cumprir com o que diz respeito aos criados de modo geral, deveria comparecer à
polícia a fim de ser examinada por um médico, que deveria colocar na caderneta as
suas condições de saúde. Era vedado à ama de leite amamentar mais de uma
criança, podendo ser demitida por justa causa se fosse detectado vícios na mesma
44
Artigo 10º. Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889.
45
Id., ibid.
46
Artigos 11º, 13º e 15º. Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ do País, 1889.
114
Pinho e Castro precisa de uma ama de leite, sem filho e em boas condições de
afirmando que “os contratos para serviços de menores só poderão ser efetuados
com os pais ou tutores que ficarão responsáveis pelo cumprimento do contrato e fiel
execução desta postura”48. Assim como a elite via como uma benesse a aceitação
trabalho doméstico realizado por menores, pois era uma forma, nesta visão, de
cuidado para com o criado acometido por moléstia passageira sem perda do seu
salário. Contudo, se “a moléstia prolongar-se por mais de oito dias ou for grave, de
caráter contagiosa fará recolhê-lo a algum hospital ou lazareto, caso não tenha ele
Neste inciso, apesar de ser revestido por uma moral religiosa, há toda uma
judiciais. Era necessário que as normas não deixassem brechas que pudessem ferir
47
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 05 ago. 1893, p. 04.
48
Artigo 20º. Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889.
49
Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889.
115
“assistir aos ofícios divinos nos domingos e dias santos”50. Desta feita, as
doméstico.
o trabalho doméstico ocorria como uma exigência dos novos tempos, em que a
solo caxiense a partir daquele período. Estas normas partiam também de uma
Inglaterra e da França, era comum nas rodas sociais caxienses, como também nas
50
Artigo 17º, inciso 4º. Coleção das Leis Provinciais do Maranhão – 1887-1889. São Luís: Typ. do País, 1889.
116
Caxias, assim como todo Maranhão, possuía uma tradição cultural muito
segunda metade do século XVIII que os navios a vapor traziam notícias e produtos
do velho mundo. Também havia uma tradição educacional muito forte entre os
elite maranhense eram enviados quase que na sua totalidade para cursarem o nível
segunda metade do mesmo século, quando, por exemplo, Francisco Dias Carneiro
extasiamento com a Europa, nem era privilégio de uma cidade interiorana. Isto fazia
parte de um universo mental que envolvia toda a elite brasileira, a quem os ingleses
de modernidade51.”
envolvia era manifesto nos mais diversos eventos sociais, desde solenidade cívicas,
51
PONTE, S. R. Op. cit.,1993. p. 145.
52
NEEDELL, J. D. Belle Époque Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 193.
117
respeito às festividades religiosas. Tendo uma história marcada pela forte presença
São Benedito, Santo Antônio, festejado no bairro Ponte; Sagrado Coração de Maria,
Santa e Natal.
“seus espíritos das ilusões mundanas” 54. Nestas festas também havia a presença de
53
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 22 ago. 1891, p. 01.
54
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 17 ago. 1894, p. 02.
118
igrejas ficavam lotadas com seus arredores pomposamente decorados e com muitos
se socialmente.
místico que esteja, não dissipa os contrastes nem esconde a posição de cada um no
aloja em seu domínios os restos mortais dos mais nobres cidadãos caxienses, não
se constituindo, neste caso, como simples cemitério, mas como um canal que leva
55
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 17 ago. 1894, p. 02.
119
caráter social, como a Sociedade Protetora dos Artistas56, fundada na década de 70,
foi muito fecunda, tendo os mais diversos objetivos como, por exemplo, a
espetáculos teatrais62.
freqüência, entretenimento aos caxienses, exibindo peças teatrais dos mais variados
56
Lembramos que a palavra artista naquele período dizia respeito a toda atividade laboriosa exercida pelas pessoas.
57
Estatutos da Sociedade Protetora dos Artistas Caxienses. In: Jornal Publicador Maranhense. São Luís - MA. 23 jan. 1877. p.
01.
58
Artigo 4º. Estatutos da Sociedade Protetora dos Artistas Caxienses. In: Jornal Publicador Maranhense. São Luis-MA. 23 jan.
1877. p. 01.
59
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 08 ago. 1891, p. 01.
60
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 19 set. 1891, p. 01.
61
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 23 mar. 1894, p. 02.
62
Id., ibid.
120
comédias: Posso Falar à Senhora Queiroz?, Os Irmão das Almas, Um Tolo Como
fortes pancadas nos bancos, vozerias que não deixam ouvir os atores e ditos
O cronista não cita nomes, mas condena veementemente tais atos que
Nesta visão, o teatro deveria ser entendido, principalmente pelos incultos, como um
culturais deveriam ser incorporados. Neste sentido, Queiroz69 explica que o teatro,
63
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 20 mar. 1894, p. 02.
64
Id., ibid.
65
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 13 jan. 1894. p. 01.
66
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 30 mar. 1895. p. 02.
67
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 13 jan. 1894. p. 01.
68
Id., ibid.
69
QUEIROZ, T. Op. cit., 1998, p. 37.
121
imprensa caxiense. Isto foi demonstrado por um cronista do jornal Gazeta Caxiense ,
aparelho ainda não reproduzir sons de qualidade, deve ser apreciado pelos
fina culinária. Nos anos 90, o hotel Café Pic-Nic, de propriedade do Sr. Antônio
70
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 13 fev. 1894. p. 02.
71
Id., ibid.
122
provincianismo da cidade73. Para isto, era necessário estar em dia com os costumes
e a moda parisiense. Benjamin74 afirma que Paris foi a capital do século XIX, ditando
72
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 03 out. 1893, p. 02.
73
Cf. PONTE, S. R. Op. cit., 1993. p. 150.
74
BENJAMIN, Walter. Paris, capital do século XIX. In: BENJAMIN, Walter. Grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática, 1985.
123
carnaval, que se constituía no maior evento de encontro das diversas classes, como
Esta festa popular que teve lugar entre nós nos dias 12 e 14 deste
mês, correu com mais animação do que nos anos anteriores, tanto
pelo número de mascarados, como pelo gosto com que a maior parte
deles se prepararam.
Saíram dois grupos: do comércio e dos artistas.
O primeiro, acompanhado de duas bandas de músicas, continha
mais de 50 sócios, tornando-se notáveis a companhia de ursos, em
que se via 3 destes animais perfeitamente caracterizados,
acompanhados por 2 homens e 1 mulher, que faziam-nos dançar
com naturalidade [...].
O segundo, acompanhado de outra banda de música era tão
numeroso e interessante como o outro, mas por andarem dispersos
os seus sócios, não podemos diferenciá-los, se não no baile com que
concluíram a diversão na noite de 14.
Além desses grupos saiu o terceiro tocando tambor, a semelhança
dos pretos. Compunha-se apenas de quatro mascarados75.
Apesar de Caxias ser uma cidade interiorana, dividir espaço com os mais
humildes, para a elite, era uma experiência nada satisfatória. Por isso, no período de
75
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 18 fev. 1893, p. 01.
76
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 09 fev. 1894, p. 03.
124
gestual exibida pelos blocos por ela organizados. A crônica prossegue relatando o
episódio e destacando que dos “mascarados que percorreram as ruas da cidade [...]
quanto ao carnaval daquele ano, o que ficaria registrado seria os magníficos “bailes
que
77
Id., ibid.
78
Id., ibid.
79
Jornal Commercio de Caxias. Caxias-MA. 15 ago. 1891. p. 01.
80
QUEIROZ, T. Op. cit., 1998, p. 51-52.
125
quando isto acontecia quase sempre eram tratadas de forma pejorativa, pois a
perfumes manipulados, etc. Enfim, produtos finos que atendiam ao requinte dos
Estes produtos eram muitas vezes importados de países da Europa e dos Estados
Unidos e chegavam à cidade através dos vapores que navegam pelo rio Itapecuru.
de caráter supérfluo.
a revista Elegante, editada em São Luís. Nesta revista, a França era o destaque e
Paris era classificada como o centro luminoso do progresso83. Tinha como objetivo
81
Jornal Commercio de Caxias. Caxias - MA. 10 out. 1891, p. 04.
82
Jornal Gazeta Caxiense. Caxias - MA. 12 mai. 1893, p. 02-03.
83
Revista Elegante. São Luís - MA. 30 set., nº. 07.1892.
127
Recorria a crônicas, como também a versos, para transmitir aos seus leitores toda a
Triolet
status social.
imaginário no qual Paris estava logo ali, bem ao alcance. O “centro luminoso do
84
Revista Elegante. São Luís - MA. 11 jul. nº. 04,1892.
128
participar da “grande roda”. Neste sentido, quem não se conectasse estaria abrindo
Triolet
85
Id., ibid.
86
Revista Elegante. São Luis - MA. 31 jan. 1893. nº. 11.
129
CONSIDERAÇÕES FINAIS
através dos discursos e práticas da elite caxiense, foi sendo forjada uma cidade
moderna vivenciada pelos caxienses, no final do século XIX, não pode ser
significada como um período histórico, mas como uma condição histórica, isto é, o
a uma estética, a uma economia, a uma política. Isto decorre da percepção de que
A Caxias fabril e moderna foi mais visível através dos sonhos e da euforia
da elite do que das próprias ações de caráter modernizador que a cidade vivenciou.
isto se deu dentro do contexto histórico do Brasil daquele período, isto é, com
muitas vezes o maquinário ficava ocioso devido à falta de operários que, não
complementar a renda familiar, já que os salários pagos pelas fábricas eram baixos.
de oscilação do câmbio. O faturamento, na maioria das vezes, não dava para cobrir
Mas este elenco de dificuldades não foi empecilho à elite caxiense, que ao longo de
para a cidade.
atrelada aos símbolos modernos. Mas estes empreendimentos não eram acessíveis
de poucas pessoas.
Europa, aos passeios turísticos ao velho continente, como também através de fatos
narrados por seus filhos, quando estes retornavam dos estudos naquele continente.
maior do que sua própria materialidade. A imprensa foi o palco destes discursos
do jornalista caxiense no fim de século. Uma linguagem a serviço dos novos tempos,
dos munícipes. Andar a cavalo pelas ruas, carregar água em lombo de animais, criar
porcos em perímetro urbano, vender carne bovina de qualidade duvidosa, isto eram
coloniais.
132
no seio elitista. Percebemos que o fato de a Europa está longe geograficamente não
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CDD – 981.21
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