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SER NEGRO NO BRASIL HOJE “Como 6 duro ser negro! Ser negro? An! como 6 duro!” fue, pota negro ‘Ser negro no Brasil hoje traz nesta nnova-edicdo algumas mudangas em ‘elagdo. ao seu langamento, em prescritivel fea eae sng mpi RUT ala Itando 9 acesso dos ne- ga Ana Lécia E. F. Va- ida novamente o leitor a s fatos que se es- paréncia de “demo- @ propde uma Jo complexa mas impres- | para a busca dos meios ‘de combate ao racismo. enonpensgho corona. rcpanngAo 00 1x10 ‘ep aber Taree Dro oe Te ‘Serpe sous onennArick coannenacka oe ResAO coonDENAAa oe rr Fenda Oto eson Para o Rodolfo, que hi quince anos segura minhas “barras”, «¢ para os meus filkos S$ U M A Rid oO IntrodUgd0 wenn : ee império, 29; A Entre os séculos XIX e XX, 33; Uma q o negro?, 35 3 racismo & bras — 37 Nos Estados Unidos da América, 39; Na Africa do Sul, 40; 0 jogo das aparéncias, 42; Sob fogo cruzado ou brincando de ioid, 43; Ser (u nfo ser, 45; Uma questio de identidade, 46 Guia cléssico e com 10 € CrIME! rere 10 € um crime a ser apenas coibido?, 79; Ao sabor dos ven- Glossétio.. Sugestdes de leitura 75 wn 85 87 1N1R OD UC AO ‘$6 pra mostrar 00s outros quase pretos {e 880 quase todos pretos) «2 a8 quase brancos pobres como pretos coma & que pretos, pobres © mulatos @ quase brancos quase pretos de tio pobres séo tratados. Coetano Veloso © Vocé jf pensou sobre o que é ser negro no Brasil? Qual a situagio do negro no pais? Por que a sociedade discrimina o negro? Em todo lugar e a todo momento, atitudes de preconceito e de diseri- minago acontecem, Mas as pessoas fingem niio ver ¢ preferem niio discu- tir esse fato. As conversas sobre o assunto so evitadas. No Brasil é co- se: “Aqui ndo temos esse tipo de problema! Brancos, indios e jos ¢ brancos € falsa, e busca mascarar © genocidio que se processa, 20 longo de séculos, Contra os negros e os {ndios. Brancos sfio, em esmagadora maioria, os pou- os que detém o poder ‘custa da explorago © do sofrimento daqueles que Ihes sio “diferentes”, nio poupando, em sua dominagao, os brancos que nao t8m acesso & riqueza materiale si © racismo é um problema mundial, mas geralmente no Brasil €trata- do como se existisse apenas fora do pais. Na verdade esse faz-de-conta parece bastante modo. O duro é admitir que o racismo também esta pre- sente entre nés, brasileiros, ¢ que o negro & uma de suas {as, E nfo sio poucos aqueles que, neste pafs, negam a existéncia do r ‘mo. Negativa que, ao servir de camuflagem, reproduz uma situacio de fato, ze Do mesmo modo como ¢ insistentemente negado, o racismo mani- festa-se nas ocasides mais corriqueiras. Uma prova disso slo as piadinhas que inferiorizam o negro, indispensaveis nas conversas informais. Elas veiculam imagens estereotipadas*, denunciando o preconceito que, em al- gum momento, pode vir acompanhado de atitudes contundentemente dis- inat6rias. Depois de essas piadas serem contadas e provocarem con- ‘vulsbes de risos, hé quem bata nas costas de colega negro e diga: “Nao 6 nada disso! Apesar de negro, voc8 & meu amigo”. Porém hé outros modos de o problema nfo ser enfrentado deci mente, Um subterfiigio, espécie de artimanha de isengio de responsal dade social, aribui ao proprio negro a culpa pela sua situagio, pelo seu “destino”, Assim, ao invés de vitima, passa a ser visto como o algoz de si mesmo, ¢ de agredido ele passa a ser 0 agressor. Essa burla dos fatos podé ser exemplificada em frases como: “E o negro que nal”; “O negro € que é racista!”; “O negro ¢ pobre porque que Quais 05 motivos do comportamento social diseriminatério em rela- 0 aos negros? Conhecer 0 que se esconde por tris das atitudes racistas ou seja, 0 que elas traduzem — é ponto de partida necessério para 0 problema ser repensado e enfrentado, para orientar as pessoas, mostrar a elas que a situago do negro no Brasil nio é brincadeira. Muita gente pode ainda dizer que isso € bvio e lugar-comum. Ou- ‘tos considerariam também dbvio dizer, por exemplo, que o negro precisa ser respeitado como ser humano que €; que as pessoas devem ser educadas para respeitar as outras, independentemente de sua cor; que a educagio é uma das saidas para 0 enfrentamento do problema racial no Brasil, pois nfo adianta ter gente sensfvel ao problema enquanto houver quem ponha 1a cabega dos préprios filhos 0 bé-4-bé do racismo, criando-se um cftculo vicioso; que as pessoas devem comecar a admitir a existéncia de proble- ‘mas raciais no pafs, porque 86 assim & possivel propor solugdes eficientes. No entanto, por serem Sbvias, algumas questes nos parecem muito simples. E freqilentemente acabamos relegando a segundo plano os pro- blemas inerentes a essas questoes © Se tudo fosse to manifesto e evidente, jé ndo deveria ter melhorado 4 situaglo do negro no Brasil? Se as pessoas aceitassem as diferengas sem. tomié-las como sinénimo de inferioridade ou admitissem seu préprio racis- mo ¢ refletissem objetivamente sobre ele, ja nfo teriam sido dados alguns ppassos na direcZo de uma solugo? Mais uma vez tudo pode parecer evidente. Mas.um primeiro paso para a superagio do racismo contra os negros.no Brasil —e mesmo contra outros grupos — é que se admita a existéncia desse problema ¢ que 0 as- sunto seja discutido. A situagio provocada pelo racismo é téo absurda e © As palavas assinaladas com asterisco esto explicadas no Glosséro, ao final do lies. 8 Uo irracional que, muitas vezes, ao tratarmos da questi, sentimos um profunda sensagdo de impoténcia. Nao valeria a pena discutir sobre 0 ra- cismo com as pessoas se ele ndo fosse uma caracteristica cada vez mais “marcante da sociedade, Por isso acreditamos que, quanto mais falarmos @ tespeito, mais pessoas comecardo a pensar sobre 0 enfrentamento do pro- bblema. Pensar e partir para alguma agao. No entanto também € verdade que, quanto mais uma questio é dis- cutida, mais ela pode ter seu contetido esvaziado. Pode-se considerar, por exemplo, que algumas novelas de reconstituigdo hist6rica, como Escrava Isaura e Sinkdé Moga, ou filmes, como Xica da Silva e Macunatma, no plano nacional, ott mesmo Quetmada, Separados mas iguais, Malcolm X, Faga a coisa certa e outros, no plano internacional, trataram das relagdes entre negros e brancos no passado e no presente. Em muitos desses exem- plos, o assunto acabou empobrecido ou causou enfado, tédio, pela forma romfntica como foi abordado, Nao apenas na televisio ou no cinema, mas também em outros meios dde comunicagao os negros aparecem geralmente como pessoas “desqi ficedas" social e moralmente, sejam personagens ficticios ou reais — sem dtivida,reforgando imagens negativas, preconcebidas e preconceituo sas sobre os negros, Na sociedade atual, cada vez. mais controlada pelos mecanismos de multimidia, o perigo de cristalizaglo dessas imagens é cada vvez mais intenso, Contudo deve-se também questionar se os atores negros xaramente desempenham papéis de médicos, psicblogos, advogados e ou- tras profissdes com algum prestigio socal ou finaneeiro porque hé poucos negros ocupando essas posigies na “vida real”. Insistimos que é preciso tratar a temética de maneira racional, mes- Imo que se considere essa atitude “fria” ou “morna", jé que o recurso a0 sentimentalismo pode fazer-nos cair em outra armaditha, que pode refor- gar o preconceito. Nao dizem que os negros so “exagerados”, “escanda- Josos", “emocionais”, “agressivos” demais? No basta utilizar uma lin- Buagem menos complacente e mais contundente na expresso escrita, esmo quando tratamos de uma questo tdo dramética, O apelo & racio- ‘alidade parece ser o melhor caminho para fazer avancar a luta de ne- {fos ¢ brancos contra o racismo, O paradoxo é que, mesmo o racismo Sendo itracional, ele néo deixa de desempenhar fungSes importantes para 4 manutengdo de certa légica social, calcada na razio. Por outro lado, 0 Compromisso politico e a “paciéncia histérica” so imprescindiveis para _S© aguardar @ elaboragio de propostas efetivas e eficazes de enfrenta- _ mento desse problema, Com o intuito de contribuir para a eliminagio do racismo no Brasil, flgumas ages vem sendo desenvolvidas nos planos educativo, cultural ¢ IeBal. Acdes educativas e culturais so propostas por grupos negros orga- 2ados, por estudiosos e pessoas comprometidas com a luta anti-racista. 9 & partir da promulgago do novo texto constitueional, em 10 é um crime inafiancdvel e imprescrittvel. ®Coibir e punir as praticas racistas sera 0 suficiente para acabar com clas? Nao nos parece que o racismo constitua um crime a ser, apens, 4 bido. Temos a impressdo de que vocé, leitor, chegaré ao mesmo raciocinio depois de acompanhar, através de leitura atenta, o processo que relatamos ras préximas paginas. Pretendemos colocar em discussao alguns aspectos das relagdes en- tre negros e brancos no Brasil. Das razdes histGricas aos mecanismos atuais, procuramos centrar nossa atenco nas caracteristicas dessas rela- ‘gOes no Brasil, com poucas referencias & situago dos negros nos Estados, Unidos e na Africa do Sul. Também tentamos demonstrar as dificuldades de solugio desses problemas, Nao temos a pretensio de responder a todas a8 perguntas e indagagdes que pontuamos ao longo do texto, Afinal, s6 em condigées ideais € possivel prever o desdobramento de um processo, 0 que representa ser negro no Brasil, hoje, no final do século XX? eQuais as relagdes existentes entre a situagdo atual dos negros brasileiros ¢ aquela de quando eram escravos? @ Quando falamos do racismo, estamos tratando de um problema especifico, restrito, ou hd razdes mais amplas e gerais para expli- eélo? Temos muitas perguntas a fazer — e nem todas as respostas Para dar. Sabemos que ndo exis- (om verdades ¢ certezas absolutas; “sempre € possivel, a cada dia, -Aprendermos mais, descobrirmos “fovas maneiras de encarar os fa- tos. Por isso toda tentativa de ex- _Plicacio € relativa aos varios as- “Pectos que caracterizam nossa ‘Méneira de ser, de estar e de pen- sobre a realidade que nos cer- ' Relativa a nossa idade, & nos- escolaridade, ao grupo social ] CONTEXTUALIZANDO A Questio que integramos, a0 nivel de co- nhecimento que temos sobre de- etminado assunto, entre outros aspectos. Para que uma temética Zo polémica como o racismo seja compreendida em suas dimensdes menos evidentes e mais comple- xas, é preciso fazer um esforgo ini- cial para superarmos falsas idéias € questionar alguns princfpios ti- dos como imutaveis ou eternos. Isso porque, para formular a criti- ca a algumas nogées simplistas, constenidas com base nas aparén- cias (que enganam!), € necessério ler-se uma direcdo. Sem isso niio se pode sair do lugar. Por essa ra- zo, tentaremos tragar 0 contexto a partir do qual pretendemos discu- tir e redimensionar a questi do racismo no Brasil, Este capitulo explicita os pressupostos de nossa andlise, sem os quais a compreen- so dos demais capitulos poder ser dificultada, 17 ‘Si NeGkO No Brasti Hout!) De Mercaporia a Cipapio DE Secunpa Classe Ser negro no Brasil hoje nao € fil. Alids, nunca foi. Quando escravo, © negro foi tratado como “coisa”. Depois passou a ser discri- minado como se fosse “cidadio de segunda categoria”. uranic a escravidao no Brasil, ‘onegro era uma mer iderado “ndo-humano”, € nfo tinha ‘com quem competir nessa situacio. Depois que os negros se tornaram li- res e passaram a disputar posigdes ccomos imigrantes e com outros bran- cos, numa situago de igualdade “de o preconeeito* e a discrs nagdo* raciais passaram a ser utiliza- dos como armas da competigao, esta- belecendo a desigualdade “de f Muita coisa mudou desde 0 tempo da escravidao. Porém hé uma matriz para o problema enfren- tado pelos negros no pais. Essa ma- jerada com as formagées base sobre a qual o capitalismo pode se desenvolver, funcionar e expandir em sua fase mereanti, caract pela produgio de mercado: Coldnias ¢ sua comercializacao entre 1trSpoles européias. Eo mercan- mo, por sua vez, criow algumas condigdes basicas passa fases seguintes do capit industrial ¢ a monopélica. ‘Tanto na fase mercantil como na industrial ou na monopé modo de produgiio capit assumindo caracteristicas particula- res, sem no entanto perder a sua tendéncia fundamental A Tenpéwcia Great po Caprrausiio madas “revolugdes burgue- a Revolugio Industrial (de 1760 a 1830) a Revoluesio Fran- cesa (1789). Sua tendéncia caracte- ristica & a concentracio dos meios de producao (ferrames nas, ete.) nas mios de as cl sas 0 nivel # leenolagico Chamamos de “capital” 0 di- iro reinvestido na produgio de mais riqueza, na compra de mais ferramentas e maquinas, além da compra da forga de trabalho de ou- tras pessoas. E para essas pessoas que vendem sua forga de trabalho que © capitalismo nio traz boas conseqtléncias — mesmo que, sob essa organizagio, seja possivel 0 aumento da produc0 de mercado- rias, a redugdo de seus custos e, -om isso, a ampliaco das possibi- idades de acesso a essas mercado- ias, ou melhor, o ingresso de am- plas parcelas populacionais no mer- ado consumidor. Sob 0 modo de produgio ca- pitalista, as relagdes entre os ho- mens s40 marcadas pela dominagtio € desigualdade, que separam, fun- damentalmente, duas classes so- ciais*: uma composta por agueles que tm a propriedade dos meios de produgdo; outra, ndo a tém. Estes 5 trabalho humano, ou melhor lizendlo, a forga de trabalho, a0 ser também se torna uma mer- brid — mas um tipo particular de tadoria, que acrescenta valor a a8 outras mercadoria, dada a tidade de transformagao de que Iho humano é dotado, Geral- agam-se salévios para 0 tra- ‘xecutado, Porém os salérios Hide maioria daqueles que ven- i forca de trabalho nao é te 20 valor do trabalho que © valor dos salérios & me- Bnifica dizer que, sob a apa réncia de um contrato justo entre compradores ¢ vendedores, se es- conde uma relacao de exploragio. O Conrurro ve Cuassts £0 Conruito Racat produzem e reproduzem a relagio de cexploragio sob o capitalismo, Esse nao € 0 tema central deste livro. E prosseguir apontando as caracterfs- teas que © modo de produgao capi- ‘a foi assumindo ao longo do Tempo, em que pese a manutengio de sua tendéncia geral, seria por de- mais extenso, Para nés basta acen- tuar que a diferenca de insergio no trabalho, entre os proprietirios e no- jos dos meios de produ- ima de interpretar e refletir 0 mundo, Como sdo diferentes os interesses dessas classes, elas esto em perma- nente conflito, em luta. Essa Tuta ca- acteriza-se por avangos e recuos, conquistas, cooptacdes e derrotas de ambos 0s Lados. Quando falamos em conflito, ‘do entendemos que ele seja exter no a essa relagdo entre classes. Também no queremos dizer que esse conflito deva necessariamente ser belicoso, nem estamos suger do que seja considerado como ele- ‘mento solucionador de qualquer problema que possamos enfrentar. Fazemos, apenas, uma constatago: © conflito é inerente & realidade. Quando se trata de discutir uma ‘questio to polémica quanto as rela- 13 St Neon No BASIC HO {gdes entre brancos e negros no Bra pode-se dizer que 0 cont cial faz parte do conflito de ‘ou que se confunde com ele. T remos discutir as razbes dé glo. Apesar de sua especi

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