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TRADIÇÃO E TRANSFORMAÇÃO:

A Torah como fundamento do mundo em Fílon de Alexandria

Dax Moraes

Resumo: Fílon de Alexandria, filósofo judeu do século I, surge como o primeiro pensador a tentar
conciliar o conteúdo bíblico à tradição filosófica ocidental. Neste sentido, é mais co- nhecido por sua
doutrina do Logos, sobre a qual ainda se encontram à espera de solução inúmeras controvérsias.
Aqui investigamos as acepções desse Logos na obra de Fílon, abordando suas relações com a tradição
filo- sófica. No entanto, o pensamento filoniano ainda se mostra original e marcado por con- tribuições
alheias à cultura helênica, a saber, judaicas. No que diz respeito especificamente ao Logos filoniano,
ele é a Lei (Torah) ela- mesma, a ação de Deus no mundo, o instru- mento da Criação, modelo do
mundo e ima- gem de Deus, a Palavra reveladora e o único meio a partir do qual a alma humana
adquire o conhecimento verdadeiro, que vem do co- nhecimento de Deus. Esta faculdade, porém, não
pertence ao homem senão como dom divino, como graça.

Palavras-chave: Fílon de Alexandria; Filosofia antiga; Filosofia judaica.

Abstract: Philo of Alexandria, a first century Jewish philosopher, appears as the first thinker who
tried to conciliate biblical contents and western philosophical tradition. In this way, he is better known by
his Doctrine of the Logos, about which many controversies are still waiting to be solved. We here
examine the meanings of that Logos in Philo’s works, dealing with its connections to philosophical
tradition. Otherwise, Philo’s thinking still shows itself original and marked by contribu- tions external to
the hellenistic culture: Jewish ones. More strictly concerning philonic Logos, it is the Law (Torah) itself:
it means God’s action in the world, an instrument for Creation, pattern and example for the world and God’s
image, the revealing Word and the sole way by which human soul acquires true knowl- edge, that comes
from the knowledge of God. This power does not belong to man, but it’s a gift from God, a grace.

Keywords: Philo of Alexandria; Ancient philosophy; Jewish philosophy.

I. Fílon de Alexandria: da filoso-


fia à teologia

A
partir dos estudos realizados tivo ou não do pensamento hele-
sobre Fílon de Alexandria e nístico alexandrino, nem mesmo um
sua obra, conforme desenvol- mero “intruso” na filosofia, e isto sem
vidos em minha Dissertação de Mes- desconsiderarmos o valor histórico
trado, intitulada O Logos em Fílon de inestimável de seus escritos, não
Alexandria: principais interpretações,1 apenas para a filosofia como também
acredita-se haver sido esclarecido para a teologia cristã posterior. Em
que Fílon não pode ser devidamente face a isto, justifica-se o relativo “iso-
tomado como mero compilador cria- lamento” de sua doutrina preliminar-
mente à sua confrontação com a tra-
1
Disponível em: < http://www2.dbd.puc- dição, posto que tal aproximação não
rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses>. se mostra eficiente sem que antes

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tentemos adquirir uma idéia de con- cimento de um público sempre mu-


junto na própria obra de que nos tante, híbrido, efêmero, e cada vez
ocupamos, por mais genérica que mais exigente, na medida em que
seja esta idéia. Afinal, não estamos sua cultura se sofistica sem que-
lidando com um compilador, mas com rermos aqui estabelecer nenhum tro-
um pensador, de cujo suposto “ecle- cadilho com a palavra “sofística”, o
tismo” pretendemos, naquela Dis- que, todavia, seria bastante apropria-
sertação, investigar a natureza, ou do. Não é também dizer apenas que
mesmo a propriedade de tal qualifi- a filosofia grega já havia sido apre-
cação. Neste sentido, descobrimos sentada aos hebreus, mas, especial-
Fílon quase como uma espécie de mente, que tudo aquilo que ela traz
profeta messiânico, muito embora de verdadeiro já havia sido misericor-
nem tanto em termos dos antigos diosamente anunciado à quele antigo
pregadores bíblicos em vista do re- povo, só que sob uma forma e em
curso à retórica grega, tal como exi- uma linguagem arcaicas que se pu-
gia o meio cultural em que vivia. desse compreender. No entanto, en-
quanto divinas, essas verdades, tal
Uma vez reconhecido isto, encontra- como são realmente, não foram de
mos no método alegórico, cujo para- todo encobertas, a fim de que, no fu-
lelismo com as parábolas da escato- turo, homens com perfeita disposição
logia bíblica não deve ser despreza- de alma para a virtude pudessem no-
do, o instrumento mais relevante em- vamente desvelá-las. Nesse ínterim,
pregado por Fílon em sua empresa, o papel da filosofia não é outro que
dominante e fundamental em suas não o de haver desenvolvido ferra-
mais importantes obras. Através dele, mentas para esse desvelamento,
antes mesmo de se buscar uma raci- para o que o contato entre gentios e
onalidade para o “estranho” conteúdo judeus deve fazer parte do plano di-
bíblico, tenta-se expor aos olhos de vino.
um novo mundo, séculos após, uma
sabedoria esquecida, geocultural- O messianismo de Fílon, aliás, é
mente restrita, mas universal e atem- muito bem e claramente expresso em
poral em sua mensagem espiritual, De vita Mosis, II, §44, onde lemos
ao menos no entender dos exegetas uma verdadeira confissão de sua fé
judeus de seu tempo, dentre os quais mais íntima:
Fílon deve ser incluído.
Eu acredito que cada nação deva
Enquanto os símbolos, quando ver- abandonar suas maneiras peculiares,
dadeiramente inspirados, são eter- e, deitando ao mar seus costumes an-
nos, as palavras, escravizadas por cestrais, voltar-se para honrar somente
técnicas retóricas, não cruzam fron- nossas leis. Pois, quando o esplendor
teiras, não perduram. Elas apenas de seu brilho for acompanhado pela
buscam atender à avidez de conhe- prosperidade nacional, obscurecerá a

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luz das outras como o sol nascente seu pensamento, e não renega de
2
obscurece as estrelas. forma alguma a esperança judaica,
para cultivar, fora da perspectiva histó-
Podemos notar aqui a influência da rica, como pensava Bréhier, uma filo-
linguagem profética, bem como o tom sofia e uma moral totalmente desen-
3
de desabafo, uma vez que Fílon dá a carnadas.
entender que a importância do povo
judeu no plano divino era menospre- Assim, o que se nos apresenta em
zada em função de sua pequenez Fílon é um ecletismo no que concer-
política e condição vassala. Comen- ne tão-somente à terminologia por ele
tando esta passagem, diz Laporte, empregada, a terminologia dos misté-
em sua introdução ao tratado sobre rios como da ciência, mas sem que
José, filho de Jacó: isto afete tão profundamente o conte-
údo de sua mensagem conforme
Fílon reconhece através do jogo da pretende a maioria de seus críticos.
Fortuna o governo do mundo pela pro- Por sua vez, a grande contribuição
vidência e pelo Logos divino, e conta filônica é a tentativa de consolidação
dentre os partidários resolutos da idéia de uma antiga tendência da tradição
de progresso. A sociedade [...] evolui filosófica ocidental: a elevação da te-
rumo ao estabelecimento de um Esta- ologia, de mera seção da metafísica
do único, dotado da melhor das cons- à condição de ponto culminante, ou
tituições: a democracia. Bem entendi- mesmo transcendente à própria filo-
do, para Fílon, esse Estado é o Estado sofia como um todo, o que é dizer, a
judeu e essa constituição é o Penta- valorização de uma razão fundada na
teuco. Após o declínio de Roma, o mo- piedade em detrimento de uma razão
vimento irreversível da história levará fundada nas ciências empíricas e es-
portanto à hegemonia do povo judeu, e peculativas, restritas que são à s fa-
a Lei de Moisés brilhará então com culdades cognitivas do homem. Fílon
todo o brilho de sua beleza e de sua traz à filosofia o apelo do incompre-
verdade aos olhos de uma humanida- ensível, chama pelo sentimento
de conquistada pelo Deus único. Tal (amoroso) que conduz o homem a
parece ser o messianismo de Fílon. Deus, sugerindo por meio disto o
Como todos os judeus da Diáspora, abandono da intelectualidade que
ele guarda uma prudente reserva so- “gruda” o homem ao solo e à sensibi-
bre este ponto delicado e não mani- lidade (estética) tão logo esta forma
festa seu pensamento senão sob o inferior, mundana, de inteligência
abrigo da alegoria, somente aos inicia- cumpra seu papel ao longo do pro-
dos. Ele não é por isso menos profun- gresso pessoal, cujo fim último não é
damente judeu sob este aspecto de outro senão a assimilação à divinda-

2 3
1959b, p. 471, grifo nosso. 1964b, p. 35-36.

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de. Se a sabedoria é o fim último da Eis sua marcante contribuição, sob


filosofia, para Fílon, a sabedoria é a um ponto de vista geral, o que, no
teologia, o conhecimento de Deus. entanto, já não é pouco nem sequer
Diz ele: modesto em se tratando de alguém
que não se dizia filósofo, mas mero
E, na verdade, assim como os temas intérprete de um profeta, a quem de-
escolares contribuem para a aquisição signava como hierofante, legislador, e
de filosofia, também a filosofia contri- mesmo filósofo, quase um deus. A
bui para a obtenção de sabedoria. Pois própria forma e a metodologia expo-
a filosofia é a prática ou estudo da sa- sitiva também vêm testemunhar isto:
bedoria, e a sabedoria é o conheci- o pensamento de Fílon é fragmenta-
mento das coisas divinas e humanas e do não por desorganização, ainda
de suas causas. E assim, do mesmo que suas digressões se mostrem
modo que a cultura das escolas é a muitas vezes bastante desconfortá-
criada da filosofia, assim deve ser a fi- veis; é fragmentado pois se deixa re-
4
losofia a serva da sabedoria. ger e desenvolver não segundo uma
doutrina, seja ela de qualquer outro
Isso implica mais do que uma simples pensador, seja a dele próprio, mas
interpretação das Escrituras nos ter- sim pela sucessão dos versículos bí-
mos da filosofia: esta, por sua vez, blicos que tematiza. Os próprios tra-
também deve ser interpretada em tados não respeitam a exposição de
termos bíblicos – o que não acontece um ensinamento linear, mas a narra-
no tratamento filosófico dos gregos a tiva “histórica” de Moisés. Com isso,
seus mitos –, pois, para Fílon, a filo- Fílon também vem romper com a
sofia (grega) está subordinada à teo- idéia de sistema, a partir do momento
logia (judaica) – i.e., a razão é subor- em que ele existe, mas está em toda
dinada à fé –,5 e Fílon não emprega parte e, ao mesmo tempo, em lugar
termos filosóficos senão segundo sua algum. Talvez, até seja um desafio
conveniência. “Assim, de acordo com inócuo tentar organizar, pôr ordem
Fílon, há de existir uma harmonia en- aos seus paralelismos, muitos dos
tre a Escritura e todas as outras es- quais feitos de aparentes contradi-
pécies de conhecimento humano útil, ções. Logo, tudo o que nos resta é
qualquer que seja sua fonte; mas as
últimas são manuais da Escritura.”6 1139 b 20 et seq., p. 333/335), mas um co-
nhecimento do mundo e de si que conduz ao
4 conhecimento verdadeiro da existência de
1996b, §79, p. 496/497. Deus e Suas Leis, necessário à revelação, ou
5
Cf. WOLFSON, 1982, I, p. 143 et seq.; seja, a uma certeza que não passa pelo pro-
GUTTMANN, 1964, p. 27. cesso especulativo nem se funda na sensibili-
6
WOLFSON, op. cit., I, p. 151. Devemos ter dade, que lhe são tributários; imediata, não
em conta que esta pistis não é uma simples deixa dúvidas. Para uma discussão acerca do
“opinião” ou “convicção” racional ou subjetiva, estatuto epistêmico da fé em Fílon, v. a Intro-
como em Platão (1949a, VI, 20-21, 509 d-511 dução de Beckaert ao De præmiis et p œ n,is
e, p. 140-143) ou Aristóteles (1994, VI, 3, de exsecrationibus (1961c, p. 28 et seq.).

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tentar resolver problemas pontual- das substâncias criadas, como o era


mente e verificar, em seguida, o que no estoicismo. Ao contrário, é como
sua obra nos diz ou pode nos dizer. que uma lei ordenadora imposta de
fora por Deus, que é extramundano,
Nosso ponto de partida é a doutrina o que significa ser impróprio e até
do Logos, tema central e controverti- mesmo ímpio identificar Deus, Seu
do, além de extenso o bastante para Logos e o mundo criado. Por isso
que, a partir daí, possamos ter uma mesmo é criado previamente um in-
visão panorâmica do que se pode termediário que carregue em si os
chamar “filonismo”. Afinal, todas as fundamentos necessários à existên-
demais doutrinas de Fílon “dependem cia e progressão do mundo sensível
de sua interpretação da existência e em que vivemos. Tal intermediário,
da ação divinas”7, sendo a primeira que é o Logos, em sua totalidade,
intuída intelectualmente e, a segun- coincide com o mundo inteligível, que
da, realizada por intermédio do Lo- encerra não apenas Idéias genéricas,
gos. mas todas as imagens e todas as
oposições cuja tensão regula. O Lo-
Estudar a teoria do Logos é estudar o gos, enquanto Razão divina, tanto em
filonismo inteiro [...]; a palavra divina seu estágio de imanência quando no
ressoa de uma extremidade à outra da de mundo ideal sempiterno e imutá-
cadeia dos seres; é o princípio da es- vel, aparece na acepção de totalida-
tabilidade do mundo, e da virtude da de/lugar das medidas, proporções,
alma humana. [...] parâmetros, sendo naturalmente cin-
[...] Buscar determinar o lugar destes dido. Se ele é responsável pela liga-
diferentes conceitos na doutrina de ção das partes do mundo, o é sob os
Fílon é uma tarefa interessante e útil. desígnios de Deus.
Ela foi empreendida desde muito tem-
po e em parte trouxe benefício; no en- Tudo isto, aliás, pode ser concluído
tanto, a doutrina de Fílon continuou do texto do De opificio mundi. Para
8
bastante misteriosa. bem entendermos a natureza dessa
dualidade, ou, melhor dizendo, dessa
II. O Logos e os fundamentos da perfeita paridade, bem como sua im-
Natureza portância cosmológica, poderíamos
mesmo fazer analogia com Eros e
Em primeiro lugar, investigando a no- Anteros na mitologia grega, cuja ten-
ção de Logos enquanto racionalidade são perpétua mantém o equilíbrio do
imanente, concluímos que não se cosmos, ou ainda com os princípios
trata de uma propriedade necessária físicos de atração e repulsão, ou
mesmo a tensão decorrente da atua-
7
HILLAR, 2004, tópico Doctrine of the Logos ção da causa ativa sobre a passiva
in Philo’s writings.
8
no estoicismo. É por meio da lei dos
BREHIER, 1950, p. 83. opostos que há dualismos. Mas inte-

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ressante é notar que, se essa lei já caso, esta lei é também incorporada
aparece no livro Gênesis, ela é colo- pelo Logos imanente, que liga as
cada de maneira ainda mais explícita partes do mundo e serve como medi-
na literatura rabínica, justamente em ador para que os opostos não se
uma passagem que trata da unidade destruam. Essa harmonia, nova-
e eternidade de Deus: “Nossos mes- mente, remeteria mais ao platonismo
tres afirmam: O Santíssimo disse a do que ao estoicismo.11
Israel: Meus filhos, tudo que Eu criei
vem aos pares: o céu e a terra; o sol Uma vez que essa harmonização tem
e a lua; Adão e Eva; este mundo e o por propósito a não-dissolução das
mundo vindouro. Somente Eu sou partes do mundo, dessa lei decorre
Único e Singular no universo.”9 Por imediatamente aquela da perpetuida-
apenas Deus ser único, o Ser verda- de das espécies, pela qual o mundo
deiro, todas as criaturas são neces- criado participa da eternidade do Cri-
sariamente divididas, partidas por Ele ador. Esta lei ainda carrega alguma
ao meio, como Adão e Eva, segundo relação com o que diz Aristóteles
a tradição judaica e o próprio Fílon. acerca da geração dos seres vivos e
da perpetuação das espécies em ra-
Em decorrência dessas dicotomias, zão de um poder nutritivo, que, em
para que os opostos sempre em con- Fílon, é atribuído à s “essências es-
flito não se destruam ou se anulem permáticas”, essências estas também
reciprocamente, visto que são iguais identificadas como logoi. No entanto,
em força, ou potência, se segue à mais uma vez, diversamente do que
primeira lei a lei da harmonia, que diziam os estóicos, a causa última da
nada mais é do que o julgamento di- geração não é o Logos imanente, o
vino, o juízo pacificador que se funda qual recebe essa potencialidade de
na eqüidade, que estabelece os limi- Deus, similarmente ao que é dito por
tes de cada parte para que exerçam Aristóteles. (Em teorias como estas,
seu papel sem se confundirem, o que percebemos com maior clareza o
faria o cosmos tornar ao caos. Esta efeito distintivo da hierarquização fi-
lei também é executada por Deus, ou loniana que separa Deus do Logos, o
sob Sua autoridade, que regula os que está ausente no estoicismo.)12
benefícios e os castigos, que reme-
tem à Providência e à Lei, à potência 11
Cf. WOLFSON, op. cit., p. 337-342. V. tam-
criadora e à potência governante que bém a interessante relação assinalada pelo
constituem o Logos. Tal lei é direta- autor entre o Logos divisor/conciliador e a
figura bíblica dos Serafim, que remete ao fogo
mente voltada contra a possibilidade originário de Heráclito e dos estóicos em con-
da conflagração universal.10 Nesse cordância com o significado hebraico da de-
nominação: “aqueles que ardem” (p. 340-
342).
12
9
Midrash rabah, apud IUSIM, 1968, p. 63. Cf. id., ibid., p. 342-344; v. tb. BREHIER,
10 op. cit., p. 88-89. Sobre a questão da perpe-
V. FÍLON, 1962c, I, §§157-158, p. 89: Deus
sustenta o mundo contra a destruição. tuidade das espécies em Aristóteles e em

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Quando Fílon é levado, por emprésti- gundo dia. E Deus disse: “As águas
mos do vocabulário estóico, a falar de debaixo dos céus devem ajuntar-se em
“espermas”, não utiliza a idéia senão um lugar, e a porção seca deve ser
para descrições particulares, [como] vista”. E assim foi. E Deus chamou a
por exemplo a do desenvolvimento da porção seca de “terra”, e os ajunta-
árvore e do fruto. Ele sugere assim um mentos de águas, Ele chamou de “ma-
dinamismo evolutivo, mas não faz dele res”. E viu Deus que era bom. E Deus
nem uma teoria nem uma aplicação disse: “A terra deve produzir vegeta-
13
gerais. ção. Plantas que produzam sementes
e árvores frutíferas que produzam fru-
Por fim, vale agora tentarmos identifi- tos segundo suas espécies, cujas se-
car cada uma dessas três leis no mentes estejam nela sobre a terra”. E
próprio relato bíblico da Criação: assim foi. E a terra produziu vegeta-
ção, plantas que produzem sementes
Deus viu que a luz era boa, e Deus fez segundo suas espécies, e árvores que
separação entre a luz e as trevas. E produzem sementes segundo suas es-
Deus chamou a luz de “dia” e, as tre- pécies. E viu Deus que era bom. E foi
vas, chamou de “noite”. E foi tarde, e tarde, e foi manhã, terceiro dia. E Deus
foi manhã, um dia [literalmente, “dia disse: “Haja luminares na expansão
um”, iom echad]. E Deus disse: “Haja dos céus para separação entre o dia e
uma expansão no meio das águas, e a noite. E eles deverão servir como si-
haja separação entre águas e águas”. nais para tempos fixados [no original,
Deus [assim] fez a expansão, e sepa- ulemoadim, “para tempos...”, de moed,
raram-se [na Septuaginta: “Ele sepa- “época”, “estação”, “festival”, “celebra-
rou”] as águas abaixo da expansão ção”, “reunião”, “assembléia”], para di-
14
das águas acima da expansão. E as- as e anos.
sim foi. E Deus chamou a expansão de
“céus”. E foi tarde, e foi manhã, se- Portanto, a idéia filônica do estabele-
cimento por Deus, no ato da Criação,
Fílon, v. Wolfson, op. cit., p. 411-412: Perpé- de leis imutáveis como promessa de
tuas são as espécies, ou gêneros, ou formas, permanência para o mundo, além de
ou idéias, não os indivíduos; em Fílon, cf. p. remeter mais a Platão do que aos
ex. 1961b, §§166-168, p. 93/95.
13
ARNALDEZ, Introdução a De opificio mundi estóicos, se funda, antes disso, no
(1961a, p. 132, nota). Ou seja, os “espermas” próprio relato bíblico, que tem a pre-
não consistem em mera imanência, mas em
cedência em sua doutrina. Todavia, o
uma força intrínseca aos seres vivos que
permite a atualização de seus potenciais no querer do demiurgo platônico não
tempo. Não só a Razão é disseminada, mas a
própria racionalidade de um processo comum 14
a todas as formas de vida. Não se trata de Gênesis, 1:4-14. Na versão aqui apresen-
porções do fogo divino (almas racionais), mas tada procurou-se seguir de perto o texto origi-
– podemos sugerir – a força motriz de toda nal, e se baseia sobretudo na tradução para o
transformação física, a natureza de todos os inglês constante da Torah hebraica consulta-
fenômenos, o que faz parte do processo da, mas foram também consideradas versões
sempiterno de Criação através do Logos. em português.

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consiste em uma livre vontade divina o fundamento dessa ação a razão é


à maneira daquela do Deus bíblico, e diretriz, e não autônoma; ela, no ho-
sim em uma decorrência necessária mem, ainda assim é livre para buscar
de suas qualidades, de sua bondade. a verdade ou afastar-se dela, e não
Com isso, a tese de Fílon se distin- determinada inflexivelmente pela ne-
gue completamente da tradição, e cessidade, por um destino inexorável
mesmo se contrapõe a ela, pois ex- e preestabelecido.
clui a sujeição de Deus à necessida-
de, sem que, desse modo, Sua obra Ou seja, o mundo tal como se apre-
deixe de ser caracterizada por uma senta não é necessário, mas tende a
ordem. Como o Deus bíblico, o Deus perfeição, e isto porque nada mais é
de Fílon pode, à Sua vontade, sus- do que a sombra decaída de um
pender as leis naturais e efetuar “mi- mundo originário perfeito, criado à
lagres”, que consistem em mudanças imagem de Deus. E é segundo esse
extraordinárias nas leis da Natureza, parâmetro, esse paradigma, que é
do que a Bíblia, como bem se sabe, concedida ao homem, por Deus, a
traz diversos exemplos.15 faculdade para agir livremente e
aperfeiçoar a si e ao próprio mundo,
O Logos é, pois, um mero “instru- faculdade esta que ele pode usar (ra-
mento nas mãos do demiurgo”, e não cionalmente) para o bem ou (irracio-
ele mesmo, o que permite a Deus nalmente) para o mal. No entanto,
utilizar-Se dessa “ferramenta” con- não há aqui uma teleologia. Não é
forme Lhe apraz, não estando jamais certo que o mundo tornará à perfei-
submetido à s Suas próprias leis. Pelo ção; esta é uma busca do homem,
contrário, Deus é capaz de rompê-las uma promessa de Deus, como a da
ou suspendê-las segundo Sua Von- chegada do Messias, para o que é
tade autônoma. Desse modo, esse fundamental o progresso humano em
Logos é a ação de Deus no mundo direção a seu criador. Daí, a própria
sensível; enquanto mundo inteligível, imortalidade da alma resta também
como promessa, pois aquele que se
15
Cf. WOLFSON, op. cit., 347-349 – para o deixa dominar inteiramente pela parte
estudo de exemplos de interpretações dos irracional de sua alma, uma vez que
milagres por Fílon, v. passim, que ainda tra- esta é mortal, não deverá ascender e
zem valiosas notas de rodapé. Cf. tb. PLA-
TÃO, Timeu, 29 e, 41 a-b (1949b, p. 142, ser salvo. A promessa, em Fílon, é,
156): “querer romper a unidade do que é pois, condicional. Enfim, não há tele-
harmonicamente unido e belo, é perversão”. ologia que garanta o retorno a Deus,
O que temos aqui, a grosso modo, é a con-
traposição entre a perspectiva deísta, adotada mas apenas um modelo que o ho-
tradicionalmente pelos filósofos, segundo a mem, livremente, pode seguir ou não.
qual a intervenção divina cessa uma vez con-
cluída a Criação do mundo, e aquela teísta,
trazida por Fílon, pela qual Deus conserva A racionalidade que o homem rece-
Seu poder de ação sobre o mundo já consti- bera como um dom divino, que é in-
tuído.
corporada pelo logos, a inteligência

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MORAES, Dax. Tradição e Transformação:.... 15

pura, não pode nem deve ser con- ensino das escolas, mas pela fé; a
fundida ou assimilada, como faziam piedade surge como a mais elevada
os estóicos, à inteligência ordinária, sabedoria, a mãe das virtudes, e é
misturada a dados sensíveis, desi- dela que emana toda a possibilidade
gnada por Fílon como nous. Tal dis- de conhecimento verdadeiro acerca
tinção é de suma importância para a das coisas divinas e humanas. Por
compreensão não só da epistemolo- sua vez, essa ética, bem como a psi-
gia como também da psicologia filo- cologia, não pode ser apreendida di-
nianas. A partir daí, descobrimos no retamente da física, à maneira do
Logos filoniano que esta racionalida- estoicismo, mas do que diz a revela-
de implantada na alma humana é, na ção a respeito da cosmologia, a qual,
verdade, a própria Palavra divina, reproduzindo de maneira mais pura o
que é a Lei que instrui (torath Torah), modelo divino, carrega os primeiros
a Lei divina que rege a natureza e princípios da verdadeira teologia.
fora revelada a Moisés. Logo, o sim- Mesmo assim, tão privilegiado aces-
ples uso da inteligência apenas pode so ao conteúdo íntimo da revelação
conduzir à razão correta, a partir da (inspiração) é ainda um dom divino,
qual, e somente a partir da qual se uma recompensa em reconhecimento
pode obter o conhecimento da verda- da alma que já persegue a virtude de
de, que não vem da investigação do algum modo. Portanto, a noção filoni-
mundo plural, e sim da contemplação ana de Providência divina é também
da unidade divina, cuja transcendên- absolutamente distinta daquela dos
cia absoluta somente pode ser intuí- estóicos.
da graças ao Logos, a imagem mo-
nádica de Deus, permanecendo ain- Isto, associado à teoria filoniana do
da oculta Sua essência. milagre, que preserva o caráter de
livre agente do onipotente Deus bíbli-
Aqui, portanto, retorna o pressuposto co, vem romper profundamente com
da filosofia como sendo propedêutica o deísmo que caracterizava todas as
à sabedoria, que só pode ser encon- doutrinas criacionistas elaboradas
trada na teologia conforme ensinada pelos filosófos gregos. Fílon, ao pri-
por Moisés, com o acréscimo de que var as potências imanentes de qual-
não se trata de um conhecimento in- quer autonomia, reduzindo-as a sim-
dutivo, mas, ao contrário, de uma re- ples instrumentos e manifestações
velação concedida voluntariamente atuais de Deus, inaugura na filosofia
por Deus à quele que atingira a virtu- ocidental a perspectiva teísta que
de. Consiste isto em mais uma inova- dominará a cena teológica dali em
ção de Fílon: a epistemologia apare- diante. Deus não cria as leis e Se re-
ce fundada na ética, e não o inverso tira, como em Platão, nem tampouco
(não é o sábio a atingir o bem, mas o as determina inexoravelmente, tor-
bom a atingir a sabedoria). Não se nando-Se presente nas coisas en-
atinge a virtude pela ciência ou pelo quanto racionalidade imanente, como

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16 MORAES, Dax. Tradição e Transformação:....

no estoicismo. Pelo contrário, mesmo em grande parte, ao que nele há de


após criar o mundo que passa a se comum com o pitagorismo.
mover por si, continua a julgar, a dis-
tribuir recompensas e castigos, dire- Com efeito, o traço mais evidente do
tamente ou por intermédio dos logoi, platonismo consiste na perspectiva
e fazem parte desta atuação perene dualista, mas a controvérsia acerca
o milagre, a epifania, a graça, a pro- da medida em que Fílon a introduz
vidência pessoal, a eleição e até artificialmente no texto bíblico tende a
mesmo a suspensão ou alteração de encobrir o fato de que, em Fílon, não
leis ordinárias e a revelação de leis se trata de um dualismo real, mas
ocultas aos Seus escolhidos. Deus apenas uma explicação para as di-
jamais deixa de estar de algum modo cotomias existentes no mundo feno-
presente no mundo através de Sua mênico. Cada dualidade, quando
Bondade e de Sua Justiça, velando e tratada por Fílon no âmbito do inteli-
motivando o progresso de Suas cria- gível, é exibida como composta de
turas. Com isso, Fílon ainda nega a pares indissociáveis, inalienável e
previsibilidade do mundo, substituin- necessariamente complementares,
do-a aí, como já dissemos, pela pos- sejam relativos a Idéias como “dia” e
sibilidade do espanto sempre renová- “noite”, sejam relativos a potências
vel diante da grandeza da obra de divinas como a “bondade” que premia
arte que é o cosmos, pela certeza de e a “justiça” que pune. O dualismo
estarmos cercados e mesmo imersos que encontramos em Fílon está mais
em um mistério insondável senão próximo daquele metafísico entre coi-
pelo próprio Deus. sa em si e fenômeno do que daquele
outro moral entre bem e mal. Como
Como se pode notar, muito do que é em Platão, o mal pertence ao fenô-
refutado do estoicismo também vale, meno pois este engana a razão, mas
em diferenciadas proporções, no que a materialidade não é menosprezada,
concerne ao platonismo, sobretudo pelo que nosso autor postula também
no que diz respeito à epistemologia, uma ética prática, voltada para a co-
ao papel de Deus em Sua relação tidianidade, e não o puro ascetismo,
com o mundo, à natureza da virtude e que tende ao descuido da sensibili-
sobre como atingi-la, e ao destino da dade, que também é obra divina. O
alma humana, além do fato de as sensível não é para ser negligencia-
Idéias passarem a ser tratadas como do, mas sim, submetido à razão dire-
absolutamente dependentes do inte- triz, o que é bastante distinto. Afinal,
lecto divino para sua existência, o enquanto vivemos neste mundo, é
que é de suma importância. De qual- através dele que damos início à nos-
quer modo, ainda que pontualmente, sa ascensão, à nossa educação,
a essência do pensamento de Platão como teria feito Abraão. É através da
deixa marcas profundas na obra de vida corpórea que se parte para a
Fílon, muito embora isto se restrinja, vida espiritual; temos um corpo, e de-

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MORAES, Dax. Tradição e Transformação:.... 17

vemos atender a suas necessidades. gos filoniano, é ele também a morada


O mundo também é um intermediário das almas imortais, de uma infinidade
entre Deus e o homem, embora não de seres espirituais, o lugar onde não
enquanto divindade, mas sim en- apenas existem realmente as idéias
quanto meio de se adquirir o conhe- de Deus, mas também as virtudes e
cimento acerca da existência do Cri- as potências hipostasiadas enquanto
ador e sua unidade. anjos, ou logoi.

Como contribuição a esta doutrina, Logo de início podemos notar o


ganha maior relevância o método quanto é incongruente em relação à
alegórico, por meio do qual Fílon trata doutrina filoniana o dogma cristão do
os personagens bíblicos enquanto Logos encarnado. Embora tenha em
modelos de virtudes e vícios, não Fílon sua base conceitual e termino-
tanto para personificá-los quanto para lógica, não só vimos o quão impróprio
ensinar que ao homem é dado tornar- é considerarmos literalmente o Logos
se imortal por suas boas qualidades. filoniano como um intermediário hi-
Isto é possível mesmo à queles que postasiável ele-mesmo no mundo
vivem profanamente, que estudam sensível como também chegamos à
como Abraão, que lutam como Jacó, conclusão de que as porções ou es-
e não somente à queles que já nasce- pécies desse Logos, os logoi, no es-
ram, como Isaque, abençoados, co- tágio de imanência, estão dissemina-
bertos pela graça divina. Cada forma das por toda parte, não consistindo
de vida correta segundo a Lei divina sua “possessão” ou “residência” em
tem seu modelo ideal, o que quer di- privilégio de um ou outro vivente. O
zer que cada vida virtuosa tende à que encontramos em Fílon, sim, é
imortalidade. Cada qual já constitui o que o Logos imanente, responsável
Logos na medida em que as leis se pela própria existência do mundo,
baseiam nesses modelos de que ele sua vida e seu movimento, estando
é o todo. O Logos, portanto, é como a parcialmente presente na alma hu-
Torah, a Lei judaica/universal, fun- mana como um dom divino, como
damento sobre o qual o próprio mun- uma semelhança a Deus, permite a
do foi criado; assim, cada um dos lo- aquisição de sabedoria, a ascensão e
goi é visto como uma lei especial. a imortalidade, garantidas tão-
somente à parte racional da alma do
Na verdade, é importante repetir e bom. Nesse caso, a filiação divina, ou
destacar que o mundo inteligível de seja, a assimilação ao Logos, so-
Fílon havendo sido talvez ele mes- mente se dá por meio da virtude e
mo a cunhar a expressão é de fato após o desligamento do corpo. Mes-
um mundo constituído, habitado, e mo Moisés, propriamente dizendo,
não um “lugar das Idéias” exterior ao somente se torna Logos após deixar
mundo, tal como em Platão. Além de este mundo sensível e habitar a Pre-
tudo o que foi dito a respeito do Lo- sença divina, muito embora já fosse,

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18 MORAES, Dax. Tradição e Transformação:....

antes disso, intermediário entre Deus adotivo”, sendo os anjos os “filhos


e os homens no sentido de haver naturais” de Deus, formando uma
sido através dele que a Lei foi entre- unidade no Logos, Seu “primogênito”
gue. ou mesmo “único filho”,16 por ser a
mais antiga das criaturas17. Nesse
Tornar-se profeta, Logos, é um retor- caso, um homem não pode ser con-
no a Deus, uma metamorfose que se siderado nada mais do que mero filho
dá no espírito ao nascer pela segun- do Logos, e jamais ele mesmo! O
da vez, agora de pais espirituais homem não pode suportar e conter
(Deus e Sophia), sem um corpo, já no tão sublime paternidade, mas apenas
inteligível, e não a efetiva encarnação aquela mais inferior, pela qual guarda
daquele mesmo Logos único por em si as leis naturais que devem re-
meio do qual o mundo viera a ser. Tal gular sua conduta a fim de que obte-
afirmação é ímpia; uma blasfêmia, nha a ascensão espiritual, o progres-
pois diviniza o homem terrestre. So- so moral, o que é possível segundo a
mos viventes em um mundo decaído, Providência e a Bondade divinas.
do qual devemos nos elevar rumo à s Portanto, tal filiação em relação a
alturas. O divino Logos jamais decai- Deus é meramente espiritual, mística,
ria; decaídas são suas porções em somente podendo se realizar fora da
nós imanentes (virtudes), obrigadas a sensibilidade.18
lutar em nossas almas contra seus
opostos, que são os apelos dos sen-
tidos (vícios) ao que há em nós de 16
FÍLON, 1963a (Quod Deus..., §31), p.
passivo. O que poderíamos dizer de 77/78/79; 1961b, §51, p. 44; 1962b (De ebri-
Jesus é que ele pode ter de fato se etate, §30), p. 36; 1963c, §146, p. 122; 1962c,
I, §215 (início), p. 114.
tornado (como) o Logos, mas não já 17
Cf. id., 1996a, §6, p. 135.
18
nascido nesta condição ao menos, Cf. BREHIER, op. cit., p. 100-101, 234-235,
e 278-279: o sábio natural, que é autodidata
não coerentemente à doutrina de Fí-
na virtude e detém a “ciência do Um”, até
lon. pode ser chamado “filho de Deus”, como o é
pelo texto bíblico (cf. FÍLON, 1963c, §145, p.
123), igual ao mundo ou ao Logos, mas ape-
Em Fílon, portanto, o epíteto “filho de nas relativamente aos demais filhos do Logos,
Deus” – que seria (como) o Logos, como uma simples dignificação, uma filiação
que Lhe é o mais próximo – torna-se espiritual (v. ibid., §149, p. 125); ele não é
mais humano, e sim, pura inteligência, um
muito mais específico, referindo-se “homem celeste ou divino”, por assim dizer (v.
à quele que atingiu o limite máximo da id., 1958a, §8, p. 99/101, e 1958d, §110, p.
sabedoria, o que corresponde mesmo 69). Este autoditatismo na virtude, esta sabe-
doria natural, consiste não em um conheci-
à perda de toda a humanidade e todo mento humano, mas em um despertar na
atributo cabível a um ente sensível; alma, causado por Deus, de uma intuição
consiste na absorção da alma torna- verdadeira, pelo que a revelação se dá inti-
mamente, como veremos adiante (cf. WOL-
da inteligência pura, ou despida de FSON, op. cit., p. 36).
tudo senão de sua parte racional.
Ainda assim, este é como um “filho

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MORAES, Dax. Tradição e Transformação:.... 19

Segundo Fílon, mesmo aqueles seres Segundo o que podemos concluir da-
que se apresentam na Bíblia sob os quilo que nos diz Fílon, a revelação é
nomes Deus e Iavé não passam de possível uma vez que a palavra divi-
Potências, sendo inadequadamente na encontra na alma racional do ho-
tomadas pelo próprio Deus em pes- mem um seu semelhante ambas
soa, em cuja presença apenas o Lo- são Logos , um decodificador ade-
gos é digno o bastante para estar. quado, por assim dizer. Por isso, não
Essas Potências, Deus e Iavé, ou só é dito ser o homem dotado de um
Senhor, são, na verdade, respecti- logos feito à imagem de Deus como
vamente, aquela por meio da qual o também que este é um intérprete da
verdadeiro Deus cria e misericordio- linguagem divina. No entanto, a fala
samente provê (Elohim), e aquela de Deus é, na verdade, muda; é uma
outra por meio da qual Ele legisla e, idéia que chega à mente do homem
com justiça, governa (Iavé/Adonai). inspirado e, ali, é duplicada, adquirin-
De qualquer modo, tomar estas po- do um corpo, tornando-se sensível,
tências pelo próprio Deus já denota obscurecida, e mortal a partir do mo-
avançado estágio na escala da virtu- mento em que é representada por
de, em muito superior à queles em signos, verbais ou gráficos, sem falar
que Deus é erroneamente identifica- no efeito físico e limitado produzido
do com astros, homens, anjos, forças pelos sons. Em outro sentido, a du-
da natureza etc. O mais alto nível é o plicação se dá porque a linguagem
daquele que reconhece a unicidade humana interpreta as idéias que lhe
do Senhor Deus, a Justiça e a Bon- chegam ao logos inspirado, que já se
dade atuando conjunta e simultane- configura como um intérprete do Lo-
amente é o Logos em sua unidade, gos divino. Portanto, temos uma du-
a pura e indistinta imagem de Deus, a plicação na imitação da idéia pela
mais elevada intuição possível ao representação lingüística, e outra na
homem, posto que sua alma é inca- interpretação de segunda ordem, que
paz de apreender Deus diretamente. se dá já no domínio da linguagem
Não há mais oposições; todas são constituída. Diz Fílon:
unificadas, inclusive o masculino e o
feminino, pelo que Logos e Sophia se O que dizemos aproxima-se de um
mostram como uma única manifesta- outro texto: “O Senhor falou uma vez:
ção de Deus sob diferentes aspectos duas vezes eu ouvi Suas palavras”
agora indistintos. Nesse estágio, o [Salmos, 62(61):12]. O que tem lugar
Logos, que é a Palavra divina, se re- uma vez eqüivale à pureza – pois a pu-
vela em sua verdade. reza é unidade, e, a unidade, pureza –,
e o que tem lugar duas vezes eqüivale
III. A Palavra revelada e a verdade a uma mistura: pois uma mistura não é
das coisas simples, já que admite ser composta e
decomposta. [...] Ora, nós ouvimos em
dobro. Pois o sopro que o princípio di-

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20 MORAES, Dax. Tradição e Transformação:....

retor [i.e., a inteligência] emite através de, pura inteligência, para o que o
da traquéia é modelado na boca como ensino se mostra fundamental, donde
que por um artífice, a língua; em se- o papel atribuído por Fílon à filosofia
guida, quando é expulso, quando se tradicional.
misturou ao ar, seu parente, quando
ele o cunhou, ele ativa harmoniosa- Assim, o método alegórico busca
19
mente a mistura da dualidade. resgatar o máximo possível desse
conteúdo divino, dessa verdade
Na verdade, a própria palavra divina oculta, mas Fílon reconhece serem
é uma simples sombra ou imagem de seus resultados incertos, ainda pas-
Deus, o que nos deixa ainda mais síveis de imprecisão, pelo que supo-
clara a diferença entre Deus e Lo- mos ser a própria Lei divina algo de
gos.20 indecidível senão à compreensão da
alma perfeita. Esta alma é também
Nesse caso, a tarefa mais importante silenciosa, pois ela consiste justa-
do logos humano não se restringe à mente naquilo que há de semelhante
recepção da palavra revelada, mas a Deus. Suas palavras, como as de
também consiste em interpretá-la em Deus, são também mudas, são idéi-
seu espírito, redescobrindo nela a as, pensamentos puros; a própria
idéia correspondente, idéia esta ine- alma é uma Idéia, um Logos, una e
fável. Posto que silenciosa, não pode semelhante a si mesma.
ser ensinada em si mesma sob pena
de obscurecimento, embora deva sê- Retornando à questão da duplicação
lo, pois a Lei (Torah) é ainda instru- da idéia em representações, sugeri-
ção (torath) por isso nos foi dada a mos ser ela análoga à quela da coisa
conhecer , e é ainda a instrução o em si em fenômenos. O dito Verbo
único modo possível de se chegar divino não é uma voz, mas uma ação
aos imperfeitos e fazê-los conhece- que nada difere dos pensamentos de
rem a si mesmos e a Deus à medida Deus, e isto confere ao Logos a pro-
que progridem moralmente. Tudo isto priedade intrínseca de, uma vez pro-
torna a revelação uma experiência ferido, tornar-se manifesto. Pensar a
íntima e instransferível em sua totali- matéria é fazer matéria. Pensar o
dade, uma propriedade daquele que mundo, fazer o mundo. Pensar a lei é
atingiu a sabedoria, que é pura virtu- já legislar. Deus pensa eternamente
e, por isso, cria eternamente.
19
1963a (Quod Deus..., §§82 e 84), p. 105.
20
Cf. BREHIER, op. cit., p. 103-104; FÍLON, Ademais, ao se referir aos Dez Man-
1961a, §25, p. 157/159; 1962a, III, §96, p. damentos, que resumem a Lei como
225/227; 1958b, §128, p. 287; 1996a, §§4-5,
p. 135. V. tb. 1962a, II, §86, p. 151: “o gênero um todo – a qual, por sua vez, con-
supremo é Deus, e o que vem depois é o Lo- siste no modelo do mundo –, Fílon os
gos de Deus; as outras coisas não existem
chama de “Dez Palavras”, justamente
senão em palavras”.
como são designados em hebraico,

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MORAES, Dax. Tradição e Transformação:.... 21

ou ainda de “Oráculos”, em razão de dem. Resulta disto tudo que se o Sábio


sua origem divina.21 O termo hebraico [i.e., Deus] mandara dividir o único fa-
para “palavras” (d’varim) também lar em numerosas seções dialetais,
pode querer dizer “sentenças”, “afir- terá utilizado termos mais exatos e
mações”, e consiste em uma subs- mais apropriados, como “divisão”, ou
tantivação do verbo “falar” (ledaber), “repartição”, ou “separação”, ou algo
tal como o grego logos. Além disso, similar, mas não “confusão”, que signi-
24
porém, o termo hebraico carrega a fica justamente o que lhe é inverso.
idéia de “coisa”. Desse modo, logos é
de fato um termo eqüivalente, mas Por isso pode-se dizer: o mundo, se-
que não dá conta da acepção de seu gundo Fílon, consiste na hipóstase da
correspondente hebraico. O Deus Palavra divina ela-mesma, razão pela
judaico, ao “falar”, coisifica, não ha- qual o Logos se constitui à medida
vendo qualquer diferença essencial que o mundo inteligível é pensado
entre a Palavra e a coisa por meio por Deus, ou, em outros termos, o
dela criada, donde temos a pureza e mundo vem a ser à medida em que
a perfeição da obra anteriormente à Deus pronuncia (mentalmente), pro-
Queda acreditamos ser isto o que fere i.e. leva-adiante as palavras
Fílon pretende dizer ao afirmar que o de Seu próprio discurso incorruptí-
Logos de Deus é “Sua ação”22, que o vel.25 Desse modo, a própria Torah
que Deus diz “não são palavras, mas chega a ser considerada como uma
ações”23, como se Seus atos “disses- fórmula mágica por alguns mestres
sem e mostrassem” por si mesmos, judeus, embora não baste à inteli-
como se Suas palavras fossem “a gência inspirada ter a palavra para
coisa em si e o fenômeno”. produzir coisas:

[...] aquilo que está dividido não está R[abi] Eleazar ben Pedat acreditava
confundido, mas, muito pelo contrário, que as seções da Torah não foram da-
separado, e a diferença não está so-
mente nas palavras, mas também nas 24
FÍLON, 1963c, §§191-192, p. 151/152.
coisas. A confusão, como disse, é a Confrontar com De somniis, I, §182 (início)
destruição das propriedades simples (1962c, p. 99): as palavras de Deus se con-
fundem com Seus atos.
dos corpos em vista do nascimento de 25
Bréhier assinala em nota (op. cit., p. 103, n.
um único complexo, enquanto que a 4) a questão sobre um possível duplo logos
separação é a divisão do uno em di- divino, ou princípio racional. A afirmação disto
teria base no De vita Mosis, II, §§127-128
versas partes, como é o caso dos gê- (1959b, p. 511). O primeiro logos, interior,
neros e das espécies que dele depen- consistiria nos pensamentos de Deus que
constituem o mundo inteligível. O outro, exte-
rior, consistiria no “desenvolvimento” desses
21
Cf. WOLFSON, op. cit., p. 128. pensamentos através da Criação. Ou seja, há
22
1958a, §65, p. 143; 1959b, I, §283, p. dois níveis de Logos divino: o do Logos-
423/425. Medida/Razão/Mundo Inteligível/Palavra Pen-
23
1958e, §47 (fim), p. 31. sada, e o do Logos-Palavra/Verbo Criador.

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22 MORAES, Dax. Tradição e Transformação:....

das em sua ordem própria e que, fos- As palavras, e mesmo as letras que
sem elas dadas em sua ordem própria, as compõem, originariamente dota-
qualquer um que as lesse seria imedi- das de semântica própria e irredutível
atamente capaz de criar um mundo, (visto que correspondem inalienavel-
ressuscitar os mortos e exibir maravi- mente à coisa nomeada), são como
lhas (Shocher tov, 3, início). Tudo isto substâncias ordenadas pelo demiur-
marca o início do desenvolvimento da go em construções verbais, em dis-
26
cabalah prática. cursos (logoi), no próprio Verbo cria-
dor. Isso também explicaria a trans-
Em outros termos, temos com isso a cendência e a imanência do Logos
teoria de que o mundo sensível con- filoniano, representando, então, a
sista no fenômeno de uma sintaxe, Idéia por excelência, que se torna
um Logos hipostasiado cuja natureza matéria em razão de potências que
inteligível é constituída por uma es- lhe são intrínsecas – o próprio Logos,
trutura de discurso perpetuamente lembremos, é o “lugar” das potências,
proferida pelo Ser eterno, similar- que têm Deus por Senhor.
mente ao que nos diz a mística judai-
ca. O interesse dessa constatação se
deve ao fato de tal teoria não ser ex-
No Zohar [...] a Palavra divina (dibur) plícita em Fílon, que apenas alude a
repercute perpetuamente no mundo ela, sendo apenas elaborada em al-
(seu eco não se enfraquece progressi- guns pontos da literatura judaica
vamente como para os outros sons). É posterior. Carregando em sua essên-
assim que se explica a construção mi- cia as propriedades das coisas, a lin-
raculosa e aparentemente espontânea guagem divina encerra todas as po-
do [primeiro] Templo [de Jerusalém] (I tências necessárias para que o mun-
Reis, 6:7): a Palavra divina o edificou do idealizado por Deus adquira exis-
27
ela-mesma. tência real.

26
EFROS, 1976, p. 71-72. Em um raro momento, Fílon compara
27
KAHN, Introdução a De confusione lingua- os logoi à s vogais ao discorrer sobre
rum (1963c, p. 28). O autor, todavia, usa esta a lei da harmonia dos opostos. Como
referência para distinguir a concepção caba-
lista daquela de Fílon, onde temos, segundo vimos, por esta lei, é evitada a confu-
Kahn, um Logos de substância divina e cor-
respondente ao pensamento divino, dimen-
sões que não se encontrariam no Zohar, mas a Palavra de Deus é Sua ação; Deus age
que encontramos no Talmud. De qualquer sempre, ação esta contemplativa cujo “conte-
modo, nos dedicamos aqui justamente a sali- údo” é o próprio Logos, a Palavra. Quanto à
entar o papel do Logos, antes de tudo, como construção do Templo, que é assim abordada
Palavra. Nesse ínterim, ainda notamos que o no Midrash de Rabi Simeon bar Iochai, o que
fato de o “eco” da Palavra divina não se en- se lê no livro dos Reis é que não se fizeram
fraquecer pode ser inferido do que diz Fílon: ouvir os sons das ferramentas contra os ma-
Deus “fala” em unidades, donde a incorrupti- teriais quando da edificação, o que dá a en-
bilidade de seu discurso, pois Sua Palavra tender que não ouve trabalho humano, ou à
não é um corpo ou qualquer coisa composta; maneira humana.

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MORAES, Dax. Tradição e Transformação:.... 23

são dos elementos e, por conse- o mundo sensível, Deus, para proferir
guinte, mantida a subsistência das as Idéias, liga as consoantes entre si
propriedades das coisas, pelo que é por meio de (sons) vogais, mas sem
possível a preservação das espécies falá-las; tornando as palavras sensí-
criadas. Evocando uma característica veis em potência, o próprio Logos
comum a todas as línguas para sua “veste-se de um corpo”.29
analogia, Fílon diz que:
Assim, a palavra divina chega à alma
o Logos divino se constitui como uma como idéia, sem voz, sendo sua vo-
fronteira, voz por assim dizer em meio calização uma produção racional
a elementos sem voz, a fim de que uma duplicação, conforme visto aci-
todo o Universo faça ouvir uma har- ma , o que, se por um lado a torna
monia como que sob o comando da comunicável, por outro, a limita e
musa que compõe, pois ele [o Logos] restringe, pois a torna sensível, cor-
intercede em meio às ameaças dos pórea – as raízes hebraicas, com-
adversários pela mediação da persua- postas por três consoantes, são ver-
28
são, e restitui sua arbitragem. bos, e carregam apenas uma idéia
bastante geral e vaga, remetendo a
A partir desta passagem, po- diversos significados definidos ape-
demos diferenciar a Palavra inteligí- nas por meio da vocalização, pelo
vel, que reúne todas as Idéias, da que é “perdida” a idéia genérica que
Palavra expressa, do Verbo pelo qual está em jogo em função de um senti-
o mundo vem a ser. Remetendo-nos
ao Ietzirah, o livro cabalista que narra 29
É importante notar aqui que os idiomas
a Criação do mundo segundo combi- semíticos não possuem signos para as vo-
gais, cujos sons seriam posteriormente mar-
nações entre as letras hebraicas (20
cados por sinais diacríticos que facilitassem a
consoantes e 2 mudas) e os dez pri- escrita e, sobretudo, a leitura, o que não era
meiros numerais, deduzimos que o necessário no tempo da oralidade. Sendo
assim, uma vez que a representação do som
Logos enquanto mundo inteligível propriamente dito não provém do alfabeto
tem por logoi consoantes, à s quais a (não é signo ordenado), qualquer combinação
mística judaica atribui inúmeros signi- de consoantes é possível, e toda verbalização
é mera inserção “arbitrária”, um ato do juízo
ficados. Essas consoantes, destituí- que discrimina as diversas acepções particu-
das de sons, não podem ser distintas lares de um mesmo conjunto de letras. De
em si mesmas por meios sensíveis, e posse de tal alfabeto, Deus pode criar, virtu-
almente, qualquer coisa, pois a matéria é tri-
prescindem umas das outras como butária da linguagem, e não esta que intenta
substâncias a serem organizadas e denominar. O ato de nomear funciona como
combinadas pelo demiurgo, a partir uma busca da razão pelo logos (idéia) que
constitui a natureza, a substância da coisa
do que têm suas atribuições e valores nomeada. Em suma, há o que podemos cha-
definidos, uma ordem. No ato de criar mar de um Logos ativo, que tudo pode dizer,
e um Logos passivo, que corresponde à reali-
dade efetiva no tempo, e cujo conteúdo não
28
1963b, §10, p. 27/29. ultrapassa suas potências.

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do específico, tornando-se a etimolo- ter à Potência Governante, Legislado-


gia muito importante e mesmo fun- ra, inseparável, no entanto, da Po-
damental para a exegese bíblica. tência Criadora, Benevolente. Se-
gundo estas últimas reflexões, cabe-
Nesse caso, o Logos não é mais ria à segunda a relação com o con-
apenas a mente de Deus, nem é junto das consoantes. Daí, temos os
mais, enquanto Palavra, a simples nomes Elohim e Iavé relacionáveis,
forma da linguagem divina, mas o respectivamente, à consoante e à
instrumento pelo qual a mesma se vogal.
realiza enquanto coisa. Como a vo-
gal, o Logos imanente passa a ser O interesse de tal observação está na
também a própria possibilidade de recomendação do silêncio. Acontece
pronúncia e repetição da Palavra di- que, enquanto Elohim é uma entida-
vina criadora. O Logos se coisifica de indefinida e misteriosa nomeada
vestindo a matéria na medida em pelo homem mais tosco para o qual
que, falado, incorpora os sons vogais. resta obscura, Iavé é o nome inefá-
Em outros termos, fazendo uma vel, revelado por Deus a Moisés. Ou
analogia entre Linguagem e Nature- seja, é o nome pelo qual Deus Se
za, a consoante está para o inteligível apresentou, não uma designação
assim como a vogal está para o sen- humana. É o nome dito da “boca” de
sível. Sendo assim, quando Fílon diz Deus Ele-mesmo. Mas vimos que
para se abandonar a palavra expres- Deus não fala! Nesse caso, nossas
sa, podemos entender que ele esteja considerações nos conduzem à idéia
sugerindo também o abandono da de que o nome Iavé não é nem deve
matéria, da materialização, da própria ser vocalizado pois isto consistiria em
vocalização – ou seja, ele está reco- uma inserção humana. Logo, é o
mendando, a um só tempo, o silêncio nome inefável, o qual sequer deve
e o desligamento da matéria corpó- ser escrito como viemos fazendo. Em
rea. Atingido este ponto, nossa pala- observância a esta proibição, os ju-
vra, como a de Deus, não mais fala- deus omitem uma letra do nome ao
rá, não mais coisificará, não mais en- escrevê-lo e, ao transliterarem para
ganará, mas será, ao contrário, pura outro alfabeto, as vogais não são
idéia, pura verdade, como nós mes- acrescidas, pelo que lemos apenas o
mos em essência seremos nós tetragrama “YHWH”. Ou seja, o cui-
mesmos (como) o Logos. dado com esse nome se deveria ao
fato de que fora dito por Deus, mas
Outra consideração importante que não pronunciado; o Santo Nome não
podemos extrair da passagem supra- pode, portanto, receber vogais que
citada é a de que esse Logos/Vogal, permitam sua expressão oral. A ex-
elemento imanente que liga as partes ceção se dá em um único dia no ano,
do mundo, enquanto árbitro sobre as na única data em que o sumo-
lutas entre os opostos, parece reme- sacerdote ingressava na área mais

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sagrada do Templo – supostamente, petindo-O.31 Se a palavra contém as


por estar envolto pela Presença divi- propriedades da coisa nomeada, pro-
na em tal ocasião especialíssima –, e nunciar o nome de Deus consistiria
isto é também referido por Fílon em na pretensão de arrancá-Lo de Sua
uma de suas alegorias: transcendência, encerrando-O em um
signo e duplicando-O. A partir do que
Vês que mesmo o sumo-sacerdote, ou lemos em Quod Deus sit immutabilis,
seja, o Verbo [cf. associação entre o §§82-84, entendemos que mesmo a
sumo-sacerdote e o Logos no culto a palavra divina, que é una, é duplicada
Deus], não pode viver e demorar-se pela nossa “audição” – ora, isso seria
todo o tempo em contato com as san- já uma vocalização, o encerramento
tas verdades [i.e. na Presença divina], de uma simples idéia inefável em um
e que não recebeu a permissão de signo pronunciável, repetível –, sendo
aproximar-se delas em toda ocasião, também esta a natureza da nossa
mas, com justiça, uma vez ao ano; fala: dual – ao falarmos, a boca mo-
pois aquilo que se exprime com a aju- dela o ar que vem do interior e se
da da palavra proferida não é seguro, mistura ao ar exterior produzindo on-
30
já que é uma dualidade [...]. das sonoras.

A conclusão que tiramos desta inefa- Ademais, sendo Uno, Deus não é
bilidade do nome revelado de Deus é composto por partes que reclamem
a de que sua pronúncia consistiria em por logoi/vogais que as unam e as
uma coisificação desse Deus, em sua impeçam de se destruir ou anular re-
redução ao sensível, pressupondo ciprocamente, de se “confundirem”.
uma possibilidade de compreensão, Deus é simples e completo, e Sua
de se poder abarcá-Lo pelo pensa- única propriedade é Ser, e é exclusi-
mento e exprimi-Lo em palavras, re- vamente Sua. Vocalizar o nome de

30 31
1963a (De gigantibus, §52), p. 45-47, grifo Ver os comentários de Fílon a Êxodo, 3:14-
nosso. V. na Bíblia: Levítico, 16:2 et seq.; 15: 1964a, §§11-15, p. 37/39 (o nome revela-
Sirácida, 50:1 et seq., especialmente, versí- do a Moisés é para a memória, não para a
culo 20. Em nota, o tradutor de Fílon diz: “O verbalização); 1962c, I, §231, p. 119; 1959b,
papel do sumo-sacerdote, segundo Fílon, é o I, §§75-76, p. 315/317; e também 1959a, §51,
de traduzir o Inefável em palavra, empresa p. 29/31. Nessas passagens, é tratada a
temerária, que não é tolerada senão uma vez questão dos nomes de Deus para a eternida-
no ano” – no chamado Dia do Perdão (Iom de e para “as gerações”, abordada por Runia
Kipur) – “(sabe-se, com efeito, que nesse dia, em sua conferência “Philo of Alexandria and
o sumo-sacerdote, após haver entrado no the beginnings of Christian thought” (cf. 1995,
Santo dos Santos [nome dado ao lugar cen- p. 144-147). V. FÍLON, 1962c, I, §230, p. 119:
tral do Templo, onde ficava guardada a Arca se damos um nome a Deus, “é por abuso de
da Aliança], pronunciava o nome inefável de linguagem”, pois é próprio de Deus “não po-
Deus)”. Muitas superstições se desenvolve- der ser nomeado, mas somente ser” (cf. id.,
ram sobre as conseqüências funestas da vã 1964a, §11, p. 37). Trata-se de uma expres-
pronúncia desse nome, e tudo isso se funda são apropriada à realidade (pragmato-
sobre o dito do mandamento negativo de não loghesai) da debilidade humana (id., 1962c,
se pronunciar o Santo Nome em vão. §230, p. 118).

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Deus seria também, pois, o mesmo do, mas tão-somente põe fim a Sua
que dizer que Ele precisa de harmo- obra, ou seja, estabelece seus limi-
nização, de arbitragem. Ora, como tes. Caso contrário, o próprio mundo
vimos, o Logos/Vogal não é material; tenderia a se tornar como Ele, pois o
a arbitragem se dá por meio de uma pensamento de Deus, e, portanto,
força superior à s partes arbitradas, também Sua ação, não tem limites.
mas não há nada acima de Deus.
Pois Deus não cessa jamais de produ-
Tal perspectiva, segundo cremos, zir; mas como é próprio ao fogo quei-
dissolve ou pretende dissolver inúme- mar e à neve gelar, assim é a Deus
ros problemas não só da doutrina fi- produzir, e mesmo muito mais, visto
loniana, mas também da metafísica que Ele é para todos os seres princípio
como um todo no que concerne à de sua ação. Mas é bom dizer: “Ele
natureza do mundo em que vivemos. pôs fim”, e não: “Ele cessou”; pois Ele
põe fim àquilo que produz em aparên-
Em que sentido? No sentido de que, cia, e em realidade não age; mas Ele
em Fílon, a doutrina do Logos inter- não cessa de produzir. Também
mediário cumpre mais compromissos acrescenta além disto: “Ele põe fim
do que aqueles que aparentemente àquilo que começara”. Pois tudo o que
se propusera resolver, a partir do é fabricado por nossas artes, uma vez
momento em que não estamos mais terminado, resta em repouso e inerte:
diante de uma simples ponte artifici- mas os produtos da ciência de Deus,
almente construída entre o eterno e o uma vez terminados, se movem por si;
transitório como afiirmam alguns seus fins são, para outros seres, co-
críticos , e sim de algo que já traz meços: o fim do dia é o começo da
em si o poder de se manifestar, de noite; e é preciso tomar o mês e o ano
“saltar o abismo” por si mesmo. A que começam, evidentemente, como
Criação deixa de ser uma construção, limites daqueles que estão ao seu ter-
no rigor do termo, para se tornar uma mo; com a destruição de uma coisa se
aparição. Cai por terra o dualismo completa o nascimento de outra, com
32
rígido entre Ser e Não-Ser, restando o nascimento, a destruição [...].
apenas a Idéia eterna com potencial
para se mostrar enquanto fenômeno. Por fim, deve-se notar que a associa-
Quando Fílon diz que para cada coi- ção entre Logos e Davar se mostra
sa há uma Idéia, está também dizen- pertinente e bastante própria, sobre-
do, diferentemente de Platão, que tudo pela sinergia entre Racionalida-
cada coisa já mostra a Idéia a que de e Linguagem expressa pelo pri-
corresponde, ainda que de maneira meiro termo ao ser relacionada por
turva e confusa. Cessando o Logos Fílon à sinergia entre Palavras e Coi-
divino, o próprio mundo desaparece-
ria, e por esta razão diz Fílon que 32
FÍLON, 1962a, I, §§5-7, p. 41/43.
Deus não cessa o trabalho do mun-

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sas expressa pelo segundo. O Logos- qualquer modo, reconhecemos ser


Palavra que identificamos em nosso este o mero preâmbulo para conside-
autor assimila com bastante concisão rações muito mais profundas e con-
o Logos-Pensamento que concebe, o troversas. A obra de Fílon, em última
Logos-Razão que regula e o Logos- análise, ainda hoje, se nos mostra
Instrumento que produz, e acredita- como um terreno pleno de recantos
mos ser por meio desta abordagem inexplorados, talvez mesmo pelo ca-
que abrimos as portas para contem- ráter temerário dos caminhos que a
plarmos a originalidade, a precisão, a eles conduzem.
relevância e, acima de tudo, a tão Encerremos, pois, com um
contestada unidade da doutrina filo- grande mistério:
niana.
“E todo o povo viu as vozes e as cha-
Por meio de toda esta exposição, es- mas – eles viram o visto e ouviram o
pera-se haver sido lançada alguma ouvido. Assim diz R[abi] Ishmael. R.
luz sobre a relevância do tratamento Aquiva diz, eles viram e ouviram o
do Logos filoniano como Palavra, visto. E cada palavra [davar] saiu da
leitura que, embora não auto- boca de Deus e gravou-se sobre as
suficiente, mostra-se bastante eluci- tábuas, como se diz, a voz do Senhor
dativa sobre diversos aspectos obs- uniu-se às chamas de fogo.” E aqui
curos da doutrina de Fílon como um temos o início do conceito especulativo
33
todo. De de “voz de Deus” [...].

33
EFROS, op. cit., p. 55, citando Mechilta, II,
266 (sobre a porção semanal (parashah) “Ba-
chodesh”, 9, do Êxodo). Para Rabi Aquiva, a
voz de Deus em Sinai era um ser visível, as-
sim como Fílon faz parecer. “A Voz ou Meta-
tron é o Logos filônico, e o Judaísmo não
condenou a afirmação disto em outros planos
que não o da Criação” (id., ibid., p. 57). V. os
comentários do próprio Fílon sobre Êx.,
20:18-22, em De migratione Abrahami, §§47-
49 e 52 (1996a, p. 159 e 161), De Decalogo,
§§33, 46-47 (1958e, p. 22-23, 29-31), e De
vita Mosis, II, §§213-214 (1959b, p. 555).

* Texto da conferência apresentada em 11 de julho de 2003 por ocasião o II Seminário de Antigüi-


dade Judaica, realizado no campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se ainda
da exposição do conteúdo da Dissertação de Mestrado em Filosofia (História da Filosofia) intitulada
O Logos em Fílon de Alexandria: principais interpretações, desenvolvida sob a orientação do Prof.
Dr. Danilo Marcondes de Souza Filho, e defendida em 24 de março de 2003 na Pontifícia Universi-
dade do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Dax Moraes é Professor Auxiliar no Centro de Ciências Huma-
nas e Letras do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), Rio de Janeiro.

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Multimídia do Rio Datacentro/PUC-Rio. Inclui introduções, mapas e ilustrações, comentários em
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