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O trânsito e o brasileiro

Especialistas falam dos problemas acarretados pelos congestionamentos e acidentes

13/10/2014 12:07  | Autor: Carro Online Contribuidor: Roberto Amado

Não há como contestar: hoje, o trânsito é um dos maiores problemas de quem vive em centros urbanos.
Provoca estresse, mata, consome horas que poderiam ser produtivas, cria conflitos e não oferece a solução que
se espera de uma grande conquista tecnológica que é o automóvel.

Tantas consequências já não são mais exclusividade das metrópoles. Na verdade, qualquer município médio
sofre com o excesso de veículos nas vias públicas e com as dificuldades de fluxo, além dos acidentes muitas
vezes fatais. Desde 2007, a população mundial que vive em centros urbanos ultrapassou 50%, e tamanha
densidade leva a questões relativas ao trânsito. O assunto é tão sério que a Organização das Nações Unidas
(ONU) iniciou a campanha “Década de ações para a segurança no trânsito”, cujo objetivo é promover, de 2011 a
2020, uma redução de 50% das fatalidades registradas nas ruas e estradas do mundo todo — cerca de 1,3
milhão de mortes por ano.
No Brasil, o assunto assume dimensões ainda maiores. Os temas que envolvem o trânsito no país são tão
complexos e intrincados que não é possível pensar em solução sem levar em conta a sociedade como um todo,
ou seja, a cultura do povo, a governança e a educação.

A começar por números alarmantes: em 2013, 54.000 pessoas morreram no trânsito no Brasil e 444.000 ficaram
com sequelas permanentes devido aos acidentes. Somadas as vítimas, elas poderiam lotar seis dos 12 estádios
construídos para a Copa do Mundo. Mas esses dados estão subestimados, pois refletem os pedidos de
indenização feitos ao DPVAT (o seguro obrigatório), e há muitos casos em que essa solicitação nem sequer é
feita.
Segundo a ONG Observatório Nacional de Segurança Viária, 90% dos acidentes de trânsito ocorrem por falha
humana, e não por defeitos na via pública ou falta de manutenção do automóvel. Esse número evidencia a
necessidade de promover melhor formação dos motoristas. “A carga horária dos cursos é pequena, e o
aprendizado é feito com o objetivo de não levar multa. Não adianta explicar o que significa uma placa de curva
fechada se não há uma instrução sobre o que fazer nessa situação”, diz José Aurélio Ramalho, presidente do
ONG. A instituição foi criada há quatro anos com o intuito de reunir estatísticas e promover campanhas que
abordam as principais discussões sobre trânsito, incluindo uma recente carta pública cobrando atitudes dos
candidatos à presidência.
Convivência social no trânsito
Ramalho defende a utilização dos simuladores nas autoescolas, equipamento que passaria a ser obrigatório
neste ano por meio de uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que acabou sendo cancelada.
Mas isso não basta: “É importante passar informações que muitos motoristas não sabem. Como, por exemplo,
quando usar a cadeirinha para crianças e qual o tipo que deve ser usada ou como transportar animais
domésticos no carro. Além disso, é preciso formar o cidadão, transmitir noções de segurança que o brasileiro
não tem. É uma questão cultural”, diz.
“As pessoas passam boa parte do tempo no carro e transferem a convivência social para o trânsito”, diz Ângela
Maria de Souza, presidente do Instituto Paz no Trânsito, de Curitiba, PR. “Tudo é feito no automóvel. Os
ocupantes discutem a relação, preparam lista de supermercado, educam os filhos, fazem maquiagem e ligações
telefônicas. É preciso mudar essa cultura. O carro é apenas um meio de transporte.” Estudo conduzido pelo
centro de tecnologia da Allianz, uma das maiores seguradoras do mundo (inclusive de automóveis), mostrou que
cerca de 30% de todos os acidentes de carro acontecem por distração dos motoristas, que estão fazendo
alguma coisa além de dirigir.
Compra de carteira de habilitação
Também não se deve desprezar a corrupção que assombra a emissão da Carteira Nacional de Habilitação
(CNH). Em todo o Brasil, há um intenso mercado de venda de carteiras de motoristas, muitas vezes por valores
inferiores ao que se gasta para fazer o curso e o teste. Mas esse problema, segundo Ramalho, está no fato de
que ainda dependemos de documentos em papéis, o que facilita a corrupção. “Criamos dificuldades para vender
facilidades”, critica. Ele sugere o uso abrangente da tecnologia para combater esse desvio. “Os fiscais e guardas
de trânsito devem portar equipamento para acessar o banco de dados dos motoristas. Já não é mais preciso ter
documentos em papéis. Essa prática acabaria com a corrupção”, garante.
Existem outras práticas que prejudicam a formação. “Os cursos de primeira habilitação deveriam ensinar
atitudes que influenciam a condução, como a convivência com muitas pessoas e a habilidade de nos
autoavaliarmos, a fim de controlarmos nossas emoções e impulsos”, diz Fábio de Cristo, doutor em psicologia
do trânsito e autor do livro “Psicologia e trânsito: reflexões para pais, educadores e (futuros) condutores”.

“A maior dificuldade que o motorista encontra não é dirigir, e sim relacionar­se com os demais condutores. As
emoções no trânsito ficam afloradas, especialmente quando ele se considera ‘vítima’ de outro motorista, julgado
como imprudente por colocar a sua vida, a dos passageiros ou o seu bem material em risco. A violência e a
competitividade fazem parte  do trânsito”, completa Cristo.
Não se pode, porém, culpar unicamente o comportamento e a cultura do brasileiro. A questão se estende à
governança do trânsito no país. As leis são complexas, e a gestão está a cargo de mais de uma dezena de
órgãos públicos, das esferas federal, estadual e municipal, que praticamente impedem o cidadão de entender
como funcionam as relações de poder. É um emaranhado que inclui Contran, Denatran, Cetrans, Detrans, CET,
Ciretrans, Jaris e vários outros.

Para José Aurélio Ramalho, todos são eficientes e tecnicamente preparados para cumprir a função delegada a
eles. O problema é a falta de um órgão centralizador com poder semelhante ao de uma secretaria ou, talvez,
uma agência reguladora, como é o caso da Anatel, que controla a atuação de operadoras telefônicas. “Todos os
países que obtiveram sucesso na redução de acidentes têm órgãos reguladores com ligação direta com a Casa
Civil”, explica. Por esse motivo, o Observatório do Trânsito protocolou uma proposta de criação da Agência
Nacional de Segurança Viária, que assumiria a gestão do trânsito brasileiro independentemente de partidos
políticos.

Criação de uma agência reguladora
Aliás, a “partidarização” é um dos problemas mais graves da gestão do trânsito. “Os principais cargos são
distribuídos por critérios políticos, de acordo com o interesse de quem está no governo”, conta Ramalho. O
resultado é inócuo: não há continuidade nas soluções, que ficam sujeitas à adequação e ao interesse político de
gestores que não têm preparo técnico e são movidos por objetivos pessoais de curto prazo.
Ramalho acredita que a criação de uma Agência Nacional reduziria significativamente a politização da
governança do trânsito. E verba não falta para isso: 5% da arrecadação do DPVAT, que vai para o Denatran, são
(ou deveriam ser) destinados à educação do trânsito — o que, na prática, não acontece. O presidente do
Observatório do Trânsito sugere que essa verba seja destinada à criação e à manutenção da agência. Detalhe: o
DPVAT fatura mais de R$ 8 bilhões por ano.

A verdade é que algo precisa ser feito, pois o trânsito nos centros urbanos já chegou ao seu limite. E se trata de
uma questão mundial. Não é mais possível estimular o uso individual dos automóveis. Em outras palavras, é
preciso questionar a utilização dos carros em nossas vidas, reservando­o para o lazer ou certas atividades
especiais. O transporte público, quando possível, deve atender cada vez mais nossas necessidades diárias.
Além disso, a tendência em todo mundo é valorizar a locomoção com a bicicleta.

Mas o assunto é polêmico. Em São Paulo, já há um forte movimento entre técnicos de trânsito para tornar mais
amigável o uso da bicicleta — aumentando o número de ciclovias e reduzindo a velocidade média dos carros
para 40 km/h (hoje é de 
60 km/h). O brasileiro ama os carros, mas, segundo os especialistas, a bicicleta e o transporte público não
ameaçam essa paixão. Ao contrário: eliminam as tensões causadas pelo trânsito, diminuem os acidentes e
reservam ao automóvel o espaço nobre que todos desejam. O prazer de dirigir.

Na próxima semana, a última parte do especial falará sobre as possíveis soluções para melhorar o trânsito
brasileiro.
Simuladores caem no esquecimento
Estava tudo certo para que os simuladores passassem a ser obrigatórios a partir de janeiro deste ano nos cursos
das autoescolas. Até que o Contran cancelou a sua própria resolução. O simulador é parecido com um
videogame e reproduz situações de trânsito, para que o aluno adquira mais prática antes de fazer o exame final.
Isso melhoraria, em tese, a qualidade do aprendizado, principalmente em situações como direção noturna e
trânsito intenso. “O simulador pode até aprovar ou não o aluno antes de fazer a prova prática”, diz Ramalho, do
Observatório do Trânsito. “É um divisor de águas na formação do motorista.” Mas o fato é que nenhum dos
quatro simuladores homologados passou na avaliação feita pelo Observatório. “Eles ainda precisam melhorar
muito”, revela Ramalho.
O custo do trânsito
Os acidentes de carros representam um grande prejuízo para a economia brasileira. Um estudo do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que o trânsito custa ao país 1,2% do PIB – ou R$ 22 bilhões, valor
decorrente das batidas e da perda de produção devido à morte de pessoas ou a interrupção de suas atividades.
Além disso, os custos hospitalares são significativos. Segundo Ângela Maria de Souza, do Instituto Paz no
Trânsito, 70% dos leitos são ocupados por vítimas de acidentes nas ruas e estradas. A maior vilã são as
motocicletas: 74% das indenizações pagas pelo DPVAT destinam­se aos motociclistas.

Números da ONU
Em 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas divulgou que, no ano anterior, houve cerca de 1,3 milhão de
mortes por acidente no mundo e mais de 50 milhões de vítimas que sobreviveram com sequelas. Nos 178
países pesquisados, ocorreram em média 3.000 mortes por dia nas estradas e ruas, representando um custo de
US$ 518 bilhões por ano — uma soma que daria para erradicar a fome no planeta. A projeção da ONU é de que
em 2020 quase 2 milhões de pessoas morrerão no trânsito.

O Brasil está em quinto lugar no ranking de mortes no trânsito, perdendo apenas de Índia, China, Estados
Unidos e Rússia. Entre os dez campeões às avessas também estão Irã, México, Indonésia, África do Sul e
Egito. A soma desses dez países representa 62% de mortes no trânsito em todo o mundo.

Talvez o dado mais chocante, porém, diz respeito aos países em desenvolvimento. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), 90% das mortes acontecem dentro deles, embora possuam apenas 48% dos veículos
em circulação.

Autor das imagens: Divulgação

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