Coelho
Nesse artigo discutimos a relação da quiralidade com o efeito farmacológico dos fármacos. Apresentamos
também a forma de interação desses fármacos em um organismo animal (biofase) e as respostas biológicas
associadas a essa interação. Para facilitar a compreensão do assunto, definiremos alguns conceitos básicos de
estereoquímica e em seguida os aplicaremos às moléculas de alguns fármacos. Para finalizar, mostramos alguns
métodos de preparação de fármacos com centros assimétricos em sua estrutura vendidos em farmácias brasileiras.
U
m dos assuntos mais fasci-
nantes para um estudante ou brasileira e mundial, na área farmacêu- gundo momento esses conceitos se-
alguém interessado na área de tica, têm estabelecido limites à venda rão utilizados para explicar a interação
medicamentos é saber como uma de fármacos cujas estruturas apresen- de fármacos quirais com o nosso cor-
substância química, utilizada como tem quiralidade. Nesses casos, primei- po (biofase). Finalmente, discutiremos
fármaco, exerce a sua atividade dentro ro é necessário saber qual orientação as metodologias para a preparação de
do nosso corpo. A resposta a essa tridimensional do centro quiral é res- fármacos que têm centros quirais, que
questão nem sempre é muito simples ponsável pela atividade farmacológica. é a síntese assimétrica.
e envolve estudos de elevada comple- Esse conhecimento determinará como
o fármaco deverá ser consumido pelo Assimetria molecular
xidade e custo.
público. Alguns seres humanos têm a capa-
Entre os fármacos à venda nas far-
mácias do nosso país, existem alguns Nesse aspecto, métodos químicos cidade de observar fatos corriqueiros
que apresentam uma particularidade em que permitam o con- e extrair deles conclu-
trole da orientação tri- Fármacos quirais têm em sões que representam
sua estrutura, que é de fundamental
dimensional do cen- sua estrutura um ou mais saltos gigantescos no
importância para a atividade biológica.
tro quiral, no mo- átomos com orientação conhecimento científico
Alguns desses fármacos são qui-
mento em que o fár- tridimensional muito bem da humanidade. Uma
rais ou têm quiralidade, ou seja, têm
maco esteja sendo definida. A modificação dessas pessoas foi o
em sua estrutura um ou mais átomos
produzido, são de ex- dessa orientação pode cientista francês Louis
(na maioria das vezes carbono) que
trema importância. É levar à diminuição do Pasteur, que deu contri-
têm a sua orientação tridimensional
efeito biológico, à sua total buições significativas
muito bem definida. A modificação aí que a síntese assi-
supressão ou ao
dessa orientação pode levar à diminui- métrica, que é a reu- em vários campos do
aparecimento de um efeito
ção do efeito biológico, à sua total nião de estratégias e conhecimento huma-
biológico adverso
supressão ou ao aparecimento de um métodos químicos no, tais como biologia,
efeito biológico adverso. que permitem efetuar microbiologia e quími-
Convém deixar claro que a quirali- o controle tridimensional de um deter- ca.
dade não é condição para que uma minado centro quiral, mostra sua im- Uma das observações feitas por
substância apresente efeito farmaco- portância. Pasteur estava relacionada à forma e
lógico, entretanto se a estrutura tiver Como o tema a ser tratado é de ra- às propriedades ópticas de duas subs-
um centro quiral é importante saber zoável complexidade, começaremos tâncias isoladas do tártaro que se
qual a orientação espacial responsável por definir alguns conceitos de estereo- depositava nos barris, no processo de
Conclusão
A presença de centros assimétricos
Referências bibliográficas
ALLINGER, N.D. Química orgânica, 3
ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Dois, capítulo 6, 1983.
ALPER, H e HAMEL, N. J. Am. Chem.
Soc., v. 109, p. 7122-7127, 1990.
BASILE, A.C. e ZANINI, A.C. Dicionário
de medicamentos genéricos Zanini-Oga,
2 ed. São Paulo: Ipex Comercial Editora,
1999.
EASSON, L.H. e STEDMAN, E.
Biochem. J., v. 27, p. 1257-1266, 1933.
KALSI, P.S. Stereochemistry – Confor-
mation and mechanism. Nova Deli: John
Wiley & Sons: capítulo 1, 1990.
LE BEL, J.A. Bull. Soc. Chim. Fr., v. 22,
p. 337-347, 1874.
LEDNICER, D. Strategies for organic
drug synthesis and design. Nova Iorque:
John Wiley & Sons, p. 53-57, 1998.
SHELDON, R.A. Chirotechnology – In-
dustrial synthesis of optically active com-
pounds. Nova Iorque: Marcel Dekker
Inc., p. 1-71, 1993.
SHIMAKAZI, M.; HASEGAWA, J.; KAN,
K.; NOMURA, K.; NOSE, Y.; KONDO, H.;
OHASHI, T. e WATANABE, K. Chem.
Pharm. Bull., v. 30, p. 3139-3146, 1982.
VAN’T Hoff, J.H. Arch. Neerl. Sci. Ex-
acts Nat., v. 9, p. 445-454, 1874.
Esquema 5.