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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

O objetivo desse curso é promover uma visão geral e ampla sobre a


teologia, a história, a estrutura e os temas do Novo Testamento. Para isso,
dividimos o estudo em quatro seções que serão discutidas em seis encontros.

1ª Seção Panorama Teológico Que discute o significado e a


necessidade da existência de um
Novo Testamento.
2ª Seção Panorama Histórico Ambiente e antecedentes históricos do
Novo Testamento
3ª Seção Panorama dos Livros Qual é a estrutura literária do Novo
Testamento?
4ª Seção Panorama Temático Quais os temas e assuntos abordados
no Novo Testamento?

Esperamos que você compreenda a força e a importância desse


conjunto de Escritos sagrados, aplicando-os em sua vida e nas vidas das
pessoas que lhe cercam.
A nossa oração é que este estudo, feito com uma leitura integrada das
Escrituras, possa aprofundar os seus conhecimentos sobre a “boa, agradável e
perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2b), capacitando-lhe para as boas obras
que “Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2:10b).

2  
Sumário  

CAPÍTULO I - PANORAMA TEOLÓGICO  ........................................................  4  


1.1 Por que um Novo Testamento?  ...........................................  4  
1.2 Características da Antiga Aliança  .....................................  5  
1.3 Voltando à questão  ...............................................................  6  
CAPÍTULO II - PANORAMA HISTÓRICO  ..........................................................  9  
2.1 Antecedentes Históricos do Novo Testamento  ..............  9  
2.2 Influências do Império Persa (555 a 331 a.C.)  ...............  10  
2.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura (331 a 167
a.C.)   .....................................................................................................................  12  
2.4 Influências Religiosas dos Judeus  ......................................  12  
2.5 Influências do Império Romano (63 a.C. ao tempo de Cristo)
 ...............................................................................................................................  14  
CAPÍTULO III – PANORAMA DOS LIVROS  .....................................................  15  
3.1 Características e estrutura  ..................................................  16  
3.2 Um pouco dos Evangelhos  .................................................  17  
3.2.1 Os evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos  ..........  18  
3.2.2 O Evangelho de João  ......................................................  20  
3.3 As cartas e epístolas  .............................................................  21  
3.3.1 Epístolas Paulinas  ................................................................  22  
3.3.2 Cartas Paulinas  ...................................................................  25  
3.3.3 Epístolas Não-Paulinas  ......................................................  27  
3.3.4 Demais escritos joaninos  ..................................................  30  
CAPÍTULO IV – PANORAMA TEMÁTICO  .......................................................  32  
4.1 Humanidade e divindade de Cristo  ................................  33  
4.1.1 Cristo Homem: o sacrifício perfeito  ...............................  34  
4.1.2 Cristo Deus: o soberano sofredor  ...................................  36  
4.1.3 Cristo Homem-Deus: o salvador acessível  ..................  37  
4.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos
 ...............................................................................................................................  37  
4.2.1 Revelando o sonho do Reino  .........................................  38  
4.2.2 Pescando “pecadores”  ...................................................  39  
4.2.3 Um homem maltrapilho  ....................................................  40  
4.2.4 A paralisia dos que não são perdoados  .....................  41  
4.2.5 Por que estes pecadores estão celebrando?  ...........  42  
4.3 A Comunhão com o corpo de Cristo  .............................  43  
4.3.1 Unidade na diversidade  ..................................................  44  
4.3.2 A vida em comum  .............................................................  45  
4.3.3 Os mandamentos recíprocos  .........................................  46  
4.4 A Grande Comissão  .............................................................  51  
4.4.1 A grande ordem do homem-Deus  ...............................  52  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  ......................................................................  55  
3  
CAPÍTULO I - PANORAMA TEOLÓGICO

Um breve panorama teológico do Novo Testamento nos ajudará a


entender o que significa a palavra Testamento, por que esse testamento é
considerado Novo, qual a sua relação com o Antigo Testamento e o que
mudou de um testamento para outro.

1.1 Por que um Novo Testamento?

A palavra ‘testamento’1 é uma das traduções possíveis para o termo


grego ‘diathekes’ e para termo hebraico ‘berith’. Outras possibilidades de
tradução para esses mesmos termos seriam as palavras ‘aliança’ ou ‘pacto’.
Creio, inclusive, que essas duas últimas traduções possam demonstrar com
maior clareza que o termo ‘Novo Testamento’ não se refere apenas a um
conjunto de livros, mas sim a uma nova Aliança, ou um novo Pacto, realizado
entre Deus e os homens.
Você já deve ter percebido, contudo, que é mais comum encontrarmos
a expressão ‘Novo Testamento’ do que ‘Nova Aliança’ ou ‘Novo Pacto’. Por
que essa preferência? Por que associamos ao significado de diathekes e berith
o termo grego kleronomias que segundo Luz (2003, p. 785) se refere à ‘ação de
lei de partilha’, mas é mais comumente traduzida como herança. Assim, como
veremos adiante, a palavra ‘aliança’ se associa à ‘herança’ e nos faz optar
pelo uso da palavra testamento2 que, em nossa língua e cultura, representa um
ato jurídico por meio do qual uma pessoa dispõe de seus bens (herança) em
favor de outrem (herdeiro) para depois de sua morte (ver Hb 9:16-17).
Esse esclarecimento sobre o significado da palavra ‘testamento’,
entretanto, suscita uma nova dúvida: por que Deus precisaria fazer uma nova
aliança com a humanidade? Por que um Novo Testamento seria necessário?
1
 Utilizarei  no  decorrer  desse  material  as  aspas  simples  (‘...’)  para  enfatizar  determinadas  palavras  e  as  aspas  
duplas  (“...”)  quando  estiver  fazendo  uma  citação  direta  de  outros  autores.  
2
  No   nosso   material,   usarei   indistintamente   as   palavras   testamento,   aliança   ou   pacto,   considerando   apenas   aquela  
que   me   der   melhor   fluidez   no   texto   e   que   se   encaixe   melhor   com   o   que   precisamos   compreender.   Mas,  
especificamente,  quando  me  referir  ao  conjunto  de  livros  utilizarei  sempre  a  palavra  Testamento.  
4  
Algo teria falhado no projeto divino? Vamos buscar a resposta para essas
perguntas no lugar mais propício para um esclarecimento legítimo, a saber: nas
Escrituras.

1.2 Características da Antiga Aliança

Uma aliança, mesmo quando feita sob a forma de testamento, é um


tratado entre duas partes, onde cada um dos envolvidos tem que cumprir suas
obrigações sob pena de torná-la sem efeito (ver Tg 2:10). A aliança que
chamamos de antiga está registrada no livro de Êxodo. Particularmente na
passagem Êx 20:3-17, estão registrados os chamados 10 Mandamentos, os
quais funcionam como um resumo da Lei. Em Êxodo 24, Moisés leu a Lei para o
povo de Israel e eles responderam: “Faremos tudo que o Senhor ordenou” (v.3),
firmando, assim, um pacto, um contrato, com o Deus. Essa aliança tinha as
seguintes características:

1) A aliança que Deus fez com o seu povo consistia de duas partes: Deus e
os israelitas firmaram um compromisso solene com base no conteúdo do
Livro da Aliança (Êx 24:7).
2) A aliança foi selada pela morte de animais que foram oferecidos a
Deus. O sangue desses animais foi aspergido sobre o altar e sobre o povo
(Êx 24:8).
3) A aliança foi ratificada pelo povo que prometeu obediência a Deus (Êx
24:3 e 7).
Adaptado de KISTEMAKER, 2003, p. 357.

Essa aliança foi, portanto, firmada com o cumprimento de todos os


pressupostos de um acordo válido: foi registrada (Dt 31:24; Js 8:32); foi ditada
por Deus (Êx 20:1) e foi solenemente aceita pelo povo israelita (Êx 24:3,7). Não
haveria como descaracterizar a sua validade sob qualquer alegação.
No entanto, essa Lei não era capaz de libertar a consciência do pecador
(ver Hebreus, capítulos 8 e 9), não era capaz de fazê-lo perceber a presença
de Deus em todos os seus passos e o deixava sem o amparo do Espírito Santo.
Em outras palavras, a Lei não é capaz de aliviar as lutas internas, que

5  
 
 
 
acontecem nas profundezas de nossa alma e consciência (ver Rm 7), assim,
precisamos da graça que veio por meio de Cristo na nova aliança.

1.3 Voltando à questão

Jesus, na última ceia com os seus discípulos “tomou o cálice, deu graças
e o ofereceu aos discípulos, dizendo: ‘Bebam dele todos vocês. Isto é o meu
sangue da [nova] aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão
de pecados’” (Mt 26:27,28; Lc 22:20), estabelecendo, portanto, uma nova
aliança, firmada no seu próprio sangue e sustentada pela sua mediação (Hb
12:24).
A questão que nos persegue é: por que foi necessário realizar essa nova
aliança? O autor da Carta aos Hebreus, fazendo uma longa citação de
Jeremias 31, nos oferece uma explicação nos capítulos 8 e 9. Ali, ele nos ensina
que “as regras para adoração e o tabernáculo terreno” (Hb 9:1) são “uma
ilustração para os nossos dias, indicando que as ofertas e os sacrifícios
oferecidos não podiam dar ao adorador uma consciência perfeitamente
limpa” (Hb 9:9).
Entendendo que antes mesmo da Lei, a vinda de Jesus e a nova aliança
firmada através do seu sangue já estava nos projetos de Deus (conforme Gn
3:15), podemos compreender em que sentido a palavra ‘ilustração’ é utilizada
nesse contexto. O autor quer nos mostrar que a Lei, com todas as suas regras
de adoração e de conduta pessoal e social, serviu, e serve até hoje, para
mostrar a incapacidade do ser humano de ser santo pelos seus próprios
esforços. Assim, ela ‘ilustra’, simultaneamente, a santidade de Deus e a
incapacidade humana de restaurar, por si mesmo, a imagem e semelhança
com a Trindade.
Assim, era necessário que um sacrifício único e definitivo fosse feito para
que o Plano de Salvação dos Filhos de Deus fosse cumprido em sua totalidade.
Em Hb 9:22, aprendemos que “quase todas as coisas são purificadas com
sangue, e, sem derramamento de sangue, não há perdão”.

6  
 
 
 
 
13Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma novilha
espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os
santificam de forma que se tornam exteriormente puros, 14quanto
mais, então, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se
ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa
consciência de atos que levam à morte, de modo que sirvamos
ao Deus vivo!
15Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para

que os que são chamados recebam a promessa da herança


eterna, visto que ele morreu como resgate pelas transgressões
cometidas sob a primeira aliança. (Hb 9:13-15, grifo nosso).

Na primeira aliança, o sacrifício era de bodes e touros, e tinha efeito


exterior, sem atingir as mentes e corações humanos; na nova aliança, o
sacrifício é feito com o sangue do próprio Filho de Deus e tem, por meio do
Espírito Santo, efeito eterno na purificação da nossa consciência, tornando-nos
servos de Deus.
Os grifos do versículo 15 foram feitos para chamar a nossa atenção para
algumas questões importantes:

1) Há uma distinção clara entre aquilo que o autor chama de ‘nova


aliança’ e ‘primeira aliança’. Logo, podemos entender que as duas
porções das Escrituras estão separadas de maneira coerente com a
própria Palavra de Deus;
2) A ‘nova aliança’ é realizada através um ‘Mediador’ por meio de quem
ela ganha eficácia. Assim, sendo Cristo o Mediador, é impossível se falar de
uma aliança com Deus sem a presença d’Ele;
3) A ‘nova aliança’ tem um objetivo claro, “que os que são chamados
recebam a promessa da herança eterna”. Entendemos, então, que a
nova aliança está relacionada com a primeira aliança naquilo que se
remete ao seu objetivo final: a salvação dos filhos de Deus.

Sobre a nova aliança firmada em Cristo, Kistemaker (2003, p. 358)


escreveu:

Qual é o significado da palavra “nova” na expressão nova


aliança? Primeiro, a nova vem da antiga, isto é, a nova aliança
tem a mesma base e características da antiga aliança. E, em
ambas as alianças, sacrifícios foram apresentados a Deus; mas
enquanto os sacrifícios oferecidos para expiar as transgressões do
povo na época da primeira aliança não podia libertar o
pecador, o supremo sacrifício da morte de Cristo redimiu o povo

7  
 
 
 
 
de Deus e pagou por seus pecados. Além do mais, na estrutura
da primeira aliança, o mediador (isto é, o sumo sacerdote) era
imperfeito. Na nova aliança Cristo é o mediador que garante a
promessa da salvação. Deus põe suas leis na mente e as escreve
no coração de seu povo redimido, para que como resultado eles
conheçam a Deus, experimentem remissão de pecados e gozem
uma comunhão pactual com ele.

Por esta razão, não podemos dizer que a antiga aliança está invalidada,
mas que ela está sendo perfeitamente cumprida em Cristo Jesus que se torna o
perfeito mediador e, ao mesmo tempo, o perfeito sacrifício. “Não pensem que
vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mt 5:17).
Em que medida a antiga aliança continua válida? Na concepção moral
do povo de Deus, no exemplo prático de vida dos seus personagens, na
doutrina profética, na comprovação histórica dos feitos divinos e ilustração
para sempre lembrarmos que não seremos capazes de alcançar a Deus sem a
graça.

8  
 
 
 
 
CAPÍTULO II - PANORAMA HISTÓRICO

Quando “Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes” (Mt
2:1), ele encontrou um ambiente social, político cultural estabelecido através
de fortes influências dos povos que dominaram Israel nos últimos quatrocentos
anos. Esse ambiente foi determinante para a propagação do evangelho e
para a expansão da igreja cristã no mundo antigo. Assim, vamos começar esse
capítulo estudando os antecedentes históricos do Novo Testamento.

2.1 Antecedentes Históricos do Novo Testamento


 

Durante os três anos do seu ministério, Jesus ficou conhecido em todo o


território de Israel. E menos de trinta anos depois da sua morte já havia igrejas
cristãs em um vasto território (Grécia, Ásia e Europa). Você já se perguntou
como a mensagem de Cristo pode ter se expandido tão ampla e rapidamente
em uma época em que não havia rádio, televisão, jornais ou Internet? Ou
como Paulo e seus amigos viajavam distâncias tão grandes para pregar o
evangelho e fundar novas igrejas?
Deus criou um ambiente propício para que o seu Reino se expandisse de
acordo com os seus planos. Uma grande sucessão de importantes eventos
históricos preparou o caminho do Messias.

Alguns fatores que Favoreceram o Ministério de Jesus


Retorno do povo judeu, que estava cativo na Babilônia, a Israel;
Desenvolvimento logístico do sistema de correios;
Globalização da língua grega;
Propagação da cultura e filosofia gregas;
Construção de um grande número de estradas;
Dispersão dos judeus e estabelecimento de várias sinagogas no mundo
antigo;
Anseio de liberdade dos judeus.

9  
 
 
 
 
A conjuntura que possibilitou tudo isso foi criada no chamado período
Interbíblico, também conhecido como Intertestamentário ou período do
Silêncio de Deus. Esse último nome se deve ao fato de que os acontecimentos
aos quais nos referimos ocorreram entre o final do ministério do profeta
Malaquias (último profeta do Antigo Testamento) e o início do ministério de
João Batista (profeta que precede à chegada de Cristo).

Cronologia Panorâmica das Escrituras


Antigo Testamento Período Interbíblico Novo Testamento
1700 a.C. – 430 a.C. 430 a.C. – 30 d.C. 30 d.C. – 100 d.C.

Embora muitos historiadores e teólogos chamem os quatrocentos e


sessenta anos que separam o livro de Malaquias do início do ministério de João
Batista de Período de Silêncio, o que podemos perceber é que Deus preparou
tudo para que o Messias viesse; e para que a Sua presença fosse rapidamente
anunciada. Nessa época, Israel passou por quatro períodos políticos
importantíssimos, incluindo três dominações por outros povos e um tempo de
independência promovido pelos Macabeus. Veja o quadro abaixo:

Situação Política Datas


Domínio Persa 3555-331 a.C.
Domínio Grego 331-167 a.C.
Independência (Período dos Macabeus) 167-63 a.C.
Domínio Romano 63 a.C. ao tempo de Cristo.

Cada uma das situações políticas vividas pelo povo de Israel teve
importantes influências para a preparação do ambiente em que o nosso
Salvador nasceria, vamos a elas:

2.2 Influências do Império Persa (555 a 331 a.C.)


 
                                                                                                                       
3
  O Império Persa, ou Medo-persa, teve início antes do início do período intertestamentário.
Esse, como se verá mais adiante, é um importante fato para a história do povo de Deus e para
a formação do ambiente do Novo Testamento.
10  
 
 
 
 
O Império Persa teve seu início muito antes do Período Interbíblico, por
volta do ano 555 a.C., quando começaram as grandes conquistas do rei Ciro.
No entanto, Deus já tinha planos muito especiais para eles
Em 588/7 a.C., por causa da sua grande idolatria, o povo de Deus foi
dominado pelos babilônios e levado cativo, cumprindo a profecia anunciada
por Jeremias (Jr 25 12-13; 29 10-11).
Mas, era necessário que o povo voltasse
para a terra de Israel, pois o Messias deveria Cronologia do
Império Persa em
nascer em Belém, segundo vaticinaria mais
relação ao Povo de
tarde o profeta Miqueias (Mq 5:2). Deus
Então, Deus usou o Império Persa da
• 930  a.C.  –  Morre  o  Rei  
seguinte forma: Salomão  e  o  seu  reino  é  
dividido  em  dois:  Israel  
e  Judá;  
1) Libertando os judeus do cativeiro na • 911  a.C.  –  Início  do  
Império  Assírio;  
Babilônia, que durou 70 anos, conforme • 722  a.C.  –  Samaria  
havia sido prenunciado pelo profeta (capital  do  Reino  do  
Jeremias (Jr 25 12-13; 29 10-11); Norte)  foi  invadida  
pelos  Assírios  e  o  Reino  
2) Permitindo que o povo judeu
de  Israel  destruído.  O  
reconstruísse o Templo de Jerusalém na Reino  do  Sul  se  mantém  
época de Esdras; vivo,  porém  paga  
3) Autorizaram o povo judeu a restaurar pesados  tributos  aos  
assírios;  
a Lei e o Sinédrio (Ed 6-10);
• 620  a.C.  –  Ascenção  do  
4) Permitindo que os muros da Cidade Império  Babilônico;  
Santa fossem reconstruídos por Neemias; • 588/7  a.C.  –  A  Babilônia  
5) Desenvolvendo um avançado sistema conquista  Israel  e  lhe  
de correios. impõe  70  anos  de  
terrível  cativeiro;  
• 555  a.C.  –  Ascenção  do  
Todas essas ações do Império Persa Império  Persa,  
primeiras  conquistas  de  
tiveram reflexos importantes no cumprimento Ciro;  
• 539  a.C.  –  Os  Persas  
dos planos de Deus para a formação do
invadem  a  Babilônia;  
ambiente em que o Messias viria a nascer e • 517  a.C.  –  O  povo  de  
Deus  volta  para  
para a rápida propagação da sua Santa Jerusalém,  é  o  fim  do  
Igreja. cativeiro.    

11  
 
 
 
 
2.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura (331 a 167 a.C.)

O Império Grego teve início com as conquistas de Alexandre, o Grande


(também conhecido como Alexandre Magno). E se caracterizou por uma
administração diferente de todos os grandes impérios que o antecederam.
Se os persas foram usados por Deus para permitir que o povo voltasse a
Jerusalém e restaurasse a sua religião, criando a atmosfera religiosa4 e
geográfica adequada para o nascimento de Jesus, os gregos deram as
seguintes colaborações:

1) A Língua Grega – A rápida propagação do Evangelho carecia de uma


língua universal que permitisse a circulação da Palavra sem necessidade de
transmitir para outras línguas;
2) A Filosofia Grega –os filósofos gregos desmascararam as falsas ideias religiosas
daquela época, levando as pessoas a procurarem uma religião que não fosse
baseada em mitos. Eles ensinaram, também, que:
2.1) A realidade não era temporal, nem material; mas, eterna e espiritual
(ver o Timeu de Platão);
2.2) Há uma forte distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado; isto
é, já discutiam sobre ética e moral;
2.3) o futuro eterno do homem é uma reflexão importante para o ser
humano (ver Apologia a Sócrates e Críton de Platão).
3) Enfraquecimento do politeísmo e do misticismo através da racionalidade
materialista, criando um ambiente perfeito para a mensagem de Cristo, oferece
uma perspectiva espiritual que não abandona a razão.

Enfim, os gregos cooperaram para a criação de um ambiente intelectual


propício à fé cristã. A valorização do conhecimento lógico e do caráter crítico
de avaliação do mundo colaborou com o desenvolvimento de uma
mensagem que supre, de fato, as necessidades espirituais e racionais do povo
antigo e de todas as épocas.
2.4 Influências Religiosas dos Judeus

Embora seja um período de grande importância histórica, a influência


religiosa dos judeus não está restrita ao período de independência política (167

                                                                                                                       
4Depois de serem libertos do cativeiro na Babilônia, os Israelitas nunca mais cometeram o
pecado da idolatria. Veremos a importância disso mais adiante.
12  
 
 
 
 
a 63 a.C.). Nessa época, o povo já estava restabelecido no território de Israel,
Jerusalém estava murada e protegida, o Templo estava reconstruído e em
pleno funcionamento.
Então, as colaborações dos judeus foram as seguintes:

1) Monoteísmo – O judaísmo estava solidamente vinculado ao Deus


único, que lhes falou por meio da Lei (Moisés) e dos profetas;
2) O Antigo Testamento – O alicerce fundamental do cristianismo está no
AT, com seus ensinos morais e suas profecias acerca da vinda de Cristo;
3) Sistema Ético – Diferentemente da ética prevalecente na Grécia, os
judeus não consideravam que o pecado fosse apenas um fracasso moral
externo, mas a violação da vontade de Deus;
4) As Sinagogas – Para os judeus o lugar certo para adorar era o Templo
(Único), mas, no tempo do cativeiro babilônico, as sinagogas se tornaram
lugar de adoração, dando início à doutrina que ensina que Deus pode
ser adorado em todo lugar;
5) A Esperança Messiânica – O judaísmo, embora não tenha
reconhecido a Cristo, acreditava vigorosamente na vinda do Messias
que estabeleceria justiça sobre a terra;
6) a Filosofia da História – Para o judeu a história tem significado. Para
eles, o Soberano Deus triunfará na história a despeito da falha humana,
trazendo a era duradoura e o triunfo eterno.

Se os gregos e os persas trouxeram uma estrutura ambiental e cultural


para o Novo Testamento, os judeus nos deram as raízes da teologia
neotestamentária. O AT, contando a história da relação de Deus com o Povo;
a Lei, formando o mais perfeito sistema ético de todos os tempos; a profecia,
antecipando o ensino e a história do Messias, e a Esperança na vinda de Cristo
e no Triunfo eterno de Deus dão sustentação à doutrina que aprendemos no
Novo Testamento.

13  
 
 
 
 
2.5 Influências do Império Romano (63 a.C. ao tempo de Cristo)

O Império Romano foi o sistema político prevalecente durante todo o


período do Novo Testamento. Manteve um sistema escravocrata. Teve
característica essencialmente comercial, deixando a agricultura em segundo
plano, fato que gerou desemprego rural, trazendo as famílias para as cidades.
Organizou-se politicamente em um modelo de república, parecido com o
nosso, dividindo o império em províncias que tinham seus próprios
governadores.
As principais colaborações desse império para o ambiente do NT e para
a propagação da mensagem de Jesus foram:

1) A Cidadania Romana – Os romanos desenvolveram um sentido de unidade e


pertencimento que serviu de luz para a agregação do povo de Deus. Além
disso, a cidadania romana possibilitava a circulação do povo de Deus em todo
o Império, facilitando a pregação da Palavra;
2) A Paz Romana – Além da cidadania que dava o direito legal da livre
circulação, o exército romano garantia a paz e a segurança nas estradas da
Ásia, África e Europa, tornando as viagens mais seguras para todos;
3) O Sistema de Estradas – As estradas romanas eram feitas de estruturas que
duraram séculos (ainda se pode trafegar pela Via Appia nos dias atuais) e
facilitaram as viagens dos comerciantes, das tropas militares e, também, dos
missionários na sua época;
4) O Exército Romano – Roma recebia como soldados os homens das áreas
conquistadas, fazendo deles soldados romanos. Isso ajudou a propagar a
mensagem do cristianismo dentro do próprio exército5;
5) A Tolerância Religiosa dos Romanos – Os romanos permitiam que os povos
conquistados mantivessem os seus cultos. Muitos desses povos não conseguiram
sustentar as suas crenças diante da filosofia greco-romana e acabaram
entrando em ‘vácuo’ espiritual que foi, mais tarde, em larga medida,
preenchido pelo cristianismo.

O Império Romano abrangeu todo o período da vida de Cristo e dos


autores do Novo Testamento e, também, de grande parte dos chamados Pais
da Igreja. As estruturas, a cultura e o sistema político-religioso desenvolvido por

                                                                                                                       
5A ‘infiltração’ de cristãos no exército romano foi tão forte e significativa para a propagação
do Reino de Deus que alguns políticos da época atribuíram ao comportamento cristão
(misericórdia e respeito à vida alheia) a responsabilidade pela queda do império romano. Fato
que Santo Agostinho contesta no seu livro A Cidade de Deus, no século IV d.C.
14  
 
 
 
 
Roma foi crucial para que o Novo Testamento alcançasse tamanha amplitude
em tão pouco tempo.

CAPÍTULO III – PANORAMA DOS LIVROS

15  
 
 
 
 

A Bíblia é uma biblioteca! Ela é composta por 39 livros do Antigo


Testamento e por 27 livros do Novo Testamento, totalizando 66 livros. Com
temáticas especialmente desenvolvidas por Deus para servirem de orientação
para a Igreja e para cada indivíduo em todos os tempos.

3.1 Características e estrutura

A Tabela 1 nos ajuda a compreender as principais características das


duas coleções que compõem a biblioteca completa:

Tabela 1 – Características dos Testamentos


Antigo Testamento Novo Testamento
Livros 39 livros 27 livros
Língua Hebraico e aramaico Grego
Aliança Lei Graça
Local da Aliança Sinai Calvário
Selo Sangue de animais Sangue de Cristo
Ministério Deus Pai O Filho e o Espírito Santo

Os livros do Novo Testamento são centralizados na pessoa de Cristo, mas


mantém profunda relação com o Antigo Testamento. Eles são uma
continuação da história do Povo de Deus e do ensino perfeito de Deus para
toda a humanidade.
Os focos na Lei e na Graça são a grande distinção entre os dois
testamentos, mas isso não implica que não haja graça no AT. Apenas que o AT
mostra o quanto a graça é necessária para pecadores que não podem
alcançar as exigências da Lei.
Quando afirmamos que no AT encontramos o Ministério de Deus Pai e no
NT o de Jesus e do Espírito Santo, estamos fazendo menção ao fato de que
cada pessoa da Trindade se mostra mais presente em determinados momentos
da história e do ensino. Evidentemente, os três, como indissolúveis, estão juntos
em todos os tempos e lugares, gozando dos mesmos atributos, do mesmo
poder e da mesma glória.

16  
 
 
 
 
No que tange à forma e a ideia principal, os 27 livros do Novo
Testamento estão dispostos em seis seções, conforme mostra a Tabela 2.

Tabela 2 – Seções de distribuição dos livros do Novo Testamento


Livros Autores Ideia Principal6
Mateus Mateus Jesus, o Messias Prometido
Marcos Marcos Jesus, o Servo de Deus
Evangelhos
Lucas Lucas, o médico Jesus, o Filho do Homem
João João7 Jesus, o Filho de Deus
Histórico Atos dos
Lucas, o médico A Igreja
Apóstolos
Romanos A vida pela fé
I Coríntios As desordens na Igreja
II Coríntios A autoridade apostólica
Gálatas A graça
Gerais

Efésios Unidade da Igreja


Filipenses Alegria em Cristo
Paulinas

Colossenses Caráter de Jesus


Paulo
I Tessalonicenses A segunda vinda de Cristo
II Tessalonicenses A segunda vinda de Cristo
EPÍSTOLAS

I Timóteo Orientações para liderança


Pastorais

II Timóteo Cuidado com o falso ensino


Tito Orientação para liderança
Filemon Conversão de um fugitivo
Hebreus Desconhecido Cristo, mediador de uma nova
aliança.
Tiago Tiago, irmão de Jesus8 A verdadeira religião
Não-paulinas

I Pedro Pedro Carta a uma igreja perseguida


II Pedro Pedro Alerta contra o perigo dentro da
igreja
I João João, o evangelista Vida de comunhão com Deus
II João João, o evangelista Precação com os falsos mestres
III João João, o evangelista Orientações de liderança
Judas Judas9 Alerta contra a apostasia
Profecia Apocalipse João, o evangelista Triunfo final de Cristo
3.2 Um pouco dos Evangelhos

                                                                                                                       
6 Essa visão sobre a ideia geral de um livro pode variar de autor para autor.
7 Embora haja divergências entre teólogos e historiadores, o Evangelho, as três cartas e
Apocalipse são atribuídos ao mesmo autor;
8 É quase unânime a teoria de que se trata, realmente, do irmão de Jesus.
9 Ver detalhes sobre a autoria dessa epístola nos comentários finais da seção 3.3.3.

17  
 
 
 
 
A palavra evangelho (euaggeloj) significa o ‘anúncio de boas novas’.
Então, quando, por exemplo, falamos no Evangelho de Lucas, estamos falando
das boas novas contadas por Lucas. Assim, entendemos que os quatro
evangelistas contaram, cada um da sua própria forma, as boas novas que
receberam de Deus para deixar para todos nós. O evangelho de João segue
uma estrutura diferente, por isso costuma ser estudado à parte. João, talvez por
ter sido o apóstolo mais próximo de Cristo, é o evangelho que apresenta o
maior conteúdo exclusivo, isto é, no evangelho de João encontramos o maior
volume de ensinos e histórias que não estão presentes nos outros três
evangelhos.

3.2.1 Os evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos

Chamamos de Sinóticos os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, pois


eles narram a boa nova de Cristo dentro de uma mesma estrutura que,
acredita-se, tenha sido desenvolvida por Marcos. Assim, ao ler esses três
evangelhos, podemos encontrar as mesmas histórias e os mesmo ensinamentos
de Jesus sendo contados sob pontos de vista diferentes, mas divinamente
inspirados. Mas, é importante lembrar que cada um desses evangelhos,
também, possui conteúdos exclusivos.
Atos dos Apóstolos é incluso nesse grupo, por que se trata de uma
continuação do Evangelho de Lucas (veja Lc 1:1-4 e At 1:1-3). Em Atos, Lucas
busca apresentar a forma como os ‘doze’, juntamente com os demais
discípulos de Cristo, deram continuidade à propagação do Reino de Deus. É a
história magna do início da Igreja. Onde o treinamento que Jesus lhes deu
durante os três anos de ministério é aplicado na vida da nova comunidade
que se inicia.
Vejamos algumas análises sobre cada um dos livros que compõem esse
grupo.

a) Evangelho segundo Mateus

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Conteúdo: a história de Jesus, incluindo seções extensas de ensino, indo do
anúncio do seu nascimento até o comissionamento dos discípulos para fazer
discípulos entre os gentios10.
Autor: anônimo11; Papias (125 d.C.) atribui o “primeiro Evangelho” ao apóstolo
Mateus. Alguns estudiosos discordam.
Data: desconhecida (visto que ele usou Marcos, muito provavelmente foi na
década de 70 ou 80 d.C.).
Receptores: desconhecidos; mas quase certamente cristãos judeus
comprometidos com a missão aos gentios, sendo a opinião mais comum que
tenham vivido em Antioquia da Síria e arredores.
Ênfase: Jesus é o Filho de Deus, Rei (messiânico) dos judeus; Jesus é Deus presente
conosco (Emanuel) em poder milagroso; Jesus é o Senhor da igreja; o ensino de
Jesus tem importância contínua para o povo de Deus; o evangelho do reino é
para todos os povos – judeus e gentios igualmente.
Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 318).

b) Evangelho segundo Marcos

Conteúdo: história de Jesus, do batismo até a ressurreição. Dois terços da


narrativa relatam seu ministério na Galileia, enquanto o último terço relata a
sua última semana em Jerusalém.
Autor: anônimo, atribuído (por Papias, 125 d.C.) a João Marcos, um antigo
companheiro de Paulo (Cl 4:10), e depois de Pedro (I Pe 5:13).
Data: cerca de 65 d.C. ( de acordo com Papias, logo depois da morte de
Paulo e de Pedro em Roma).
Receptores: a igreja em Roma (de acordo com Papias), o que explica sua
preservação junto com os Evangelhos de Mateus e de Lucas, mais extensos.
Ênfase: o tempo do governo de Deus (o reino de Deus) chegou, com Jesus;
Jesus realizou o novo êxodo prometido em Isaías; o Messias real veio em
fraqueza, sua identidade sendo um segredo exceto para aqueles a quem ela
é revelada; o caminho do novo êxodo leva à morte de Jesus em Jerusalém; o
caminho do discipulado consistem em carregar a cruz e segui-lo.
Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 328).

c) Evangelho segundo Lucas

Conteúdo: a história de Jesus como a primeira parte de Lucas-Atos, que é a


                                                                                                                       
10 Gentio é o termo usado pelos judeus para se referir a todos aqueles que não têm origem
israelita. Algumas vezes, funciona como sinônimo de incrédulos.
11 Afirmar que o autor é anônimo, implica dizer que ele não assinou a carta. Mas, as análises

históricas e a tradição da igreja nos dão sustentação suficiente para confiar na autoria
atribuída.
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história da salvação de “Israel”, que Cristo e o Espírito realizaram; essa parte
começa com o anúncio do nascimento de Jesus e continua até a sua
ascensão.
Autor: de acordo com uma tradição muito antiga, Lucas, o médico e antigo
companheiro do apóstolo Paulo (Cl 4:14), o único autor gentio da Bíblia.
Data: incerta; os estudiosos se dividem entre uma data anterior à morte de
Paulo (64 d.C., ver At 28:30-31) e outra depois da queda de Jerusalém (70
d.C., pelo uso que o autor faz do Evangelho de Marcos).
Receptor(es): Teófilo é de outro modo desconhecido; seguindo o costume
dos prefácios desse gênero na literatura greco-romana, ele provavelmente foi
o patrocinador do livro de Lucas-Atos, subscrevendo portanto a sua
publicação; os leitores implícitos são cristãos gentios, cujo lugar na história de
Deus é assegurado por meio da obra de Jesus Cristo e do Espírito Santo.
Ênfase: O Messias de Deus veio até seu povo, Israel, com a prometida inclusão
dos gentios; Jesus veio para salvar os perdidos, incluindo todos os tipos de
pessoas marginalizadas que para a religião tradicional estariam fora dos
limites; o ministério de Jesus é executado sob o poder do Espírito Santo; a
necessidade de morte e ressurreição de Jesus (que cumpriram promessas do
AT) para o perdão dos pecados.
Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 338).

d) Atos dos Apóstolos

Conteúdo: a parte 2 do relato de Lucas sobre as boas-novas de Jesus; de que


maneira, pelo poder do Espírito, as boas-novas se espalharam de Jesus até
Roma.
Autor: ver o Evangelho segundo Lucas (Lc 1:1-4 e At 1:1-3).
Data: ver informações sobre o Evangelho de Lucas.
Receptores: ver Lucas.
Ênfase: as boas-novas da salvação de Deus por meio de Jesus são para
os judeus e os gentios igualmente, cumprindo assim as expectativas do
AT; o Espírito Santo guia a igreja para disseminar as boas-novas; a igreja
tem o bom senso de se ajuntar a Deus com respeito à salvação que ele
realiza e à inclusão dos gentios; a salvação para fora dos muros
judaicos é atividade de Deus e nada pode impedi-la; alguns aceitam
as boas-novas com alegria e outro as as rejeitam com ira.
Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 349).

3.2.2 O Evangelho de João

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O evangelho segundo João narra a história de Jesus em uma perspectiva
posterior à ressurreição e à dádiva do Espírito Santo. “Depois que ressuscitou
dos mortos, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito. Então creram na
Escritura e na palavra que Jesus dissera” (Jo 2:22; ver também: 12:6; 14:26;
16:13-14). João escreveu atestando a veracidade da encarnação de Deus.
Assim, João apresenta, logo no primeiro capítulo, Jesus como a Palavra,
o autor da criação (vs. 1:1-4, 10) e como aquele que veio ao mundo em missão
de amor ao mundo criado (3:16). Outra figura forte que João apresenta, ainda
no primeiro capítulo, é a de “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”
(1:29), indicando o caminho sacrificial do Deus encarnado.

Conteúdo: a história de Jesus, Messias e Filho de Deus, contada a partir de


uma perspectiva pós-ressurreição; na sua encarnação, Jesus revelou a Deus e
tornou sua vida disponível a todos por meio da cruz.
Autor: as evidências internas apontam para João, o discípulo amado, aquele
“que escreveu essas coisas” (21:24; cf 13:23; 19:25-27; 20:2; 21:7).
Data: provavelmente entre 90-95 d.C.
Receptores: parece-nos ter sido enviada a uma comunidade cristã bastante
conhecida do apóstolo, provavelmente a mesma a quem se dirige em I João.
Ênfase: Jesus é o Messias, o filho de Deus; em sua encarnação ele tanto
revelou o amor de Deus como redimiu a humanidade; discipulado significa
“permanecer na videira” (que é Jesus) e dar fruto (amar como ele amou); o
Espírito Santo será concedido ao seu povo para continuar sua obra.

3.3 As cartas e epístolas

É comum, mas não pacífico, entre os estudiosos aceitar que cartas são
aquelas correspondências que são enviadas a uma pessoa específica sem a
intensão de que deva ser mostrada à comunidade. Enquanto epístolas seriam
justamente o contrário, aquelas correspondências que se destinam a uma
comunidade, sem direcionamento pessoal.
As cartas e epístolas são um subconjunto precioso no NT, são nove
epístolas e quatro cartas atribuídas a Paulo; mais Hebreus, Tiago, I e II Pedro e I

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e II João que são epístolas e III João que é uma carta endereçada a Gaio.
Vamos dividi-las da seguinte maneira:

3.3.1 Epístolas Paulinas

As epístolas Paulinas são, sem dúvida, a maior fonte de ensino do Novo


Testamento, toda a doutrina cristã emerge desse conjunto de livros.
Obviamente, elas são um complemento aos evangelhos e somam-se com as
outras obras da Bíblia. Enfatizo, portanto, a grande importância desse pequeno
grupo de livros para o amadurecimento da fé cristã nos corações dos dias
atuais.

Conteúdo: instrução e exortação apresentando a


compreensão que Paulo tem do evangelho – de que judeus e
gentios, juntos, formam o povo de Deus, com base na justiça
recebida pela fé em Jesus Cristo e na dádiva do Espírito.
Receptores: a igreja em Roma, que não foi fundada por Paulo
nem estava sob sua jurisdição – embora ele saúde ao menos
vinte e seis pessoas conhecidas suas (16:3-16).
Ocasião: uma combinação de três fatores: 1) a visita que
Febe tinha intenção de fazer a Roma (16:1-2); 2)a visita de
Paulo a Roma e o desejo de ir até a Espanha com a ajuda dos
Romanos
irmãos romanos (15:17-29); e, 3) informações sobre tensões
entre os cristãos judeus e gentios ali.
Ênfase: judeus e gentios como povo único de Deus; o papel
dos judeus na salvação de Deus por meio de Cristo; a
salvação somente por meio da graça, recebida pela fé me
Jesus Cristo e efetuada pelo Espírito; o fracasso da Lei e o êxito
do Espírito em produzir justiça verdadeira; a necessidade de
ser transformado pelo Espírito para viver em unidade como o
povo de Deus no presente.

Conteúdo: uma carta de correção, uma exortação ao


comportamento dos membros daquela igreja que
afrontava o evangelho de Cristo e a vida no Espírito.
I Coríntios Receptores: a igreja em Corinto, composta principalmente
por gentios (12:2; 8:7).
Ocasião: Paulo responde a uma carta da igreja (7:1) e para
relatar que a recebeu (1:11; 5:1).

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Ênfase: o Messias crucificado como a mensagem central do
evangelho; a cruz como a sabedoria e o poder de Deus; o
comportamento cristão que se conforma ao evangelho; a
verdadeira natureza da vida no Espírito; a futura
ressurreição corporal dos cristãos mortos.

Conteúdo: é possível que se trate de duas cartas (1-9 e 10-


13) combinadas em uma, tratando principalmente do
relacionamento tênue de Paulo com a igreja coríntia, e de
várias outras questões: o ministério de Paulo, a coleta para
os pobres de Jerusalém e a questão referente a alguns
cristãos judeus itinerantes que invadiram a igreja.
Receptores: os mesmos de I Coríntios
Ocasião: o retorno de Tito de uma visita recente (7:5-7) e a
esperada terceira visita de Paulo à igreja (13:1) à luz da
II Coríntios
necessidade de a igreja estar com a coleta pronta antes
de Paulo chegar e da prontidão deles em acolher “falsos
apóstolos [...] disfarçando-se de apóstolos de Cristo” (11:13).
Ênfase: o ministério cristão como serviço, refletindo o de
Cristo; a glória maior da nova aliança em contraste com a
antiga; a glória do evangelho exibida na franqueza dos
seus ministros; o evangelho como reconciliação; dar aos
pobres como uma expressão de generosidade, não de
obrigação.
Conteúdo: uma argumentação contra alguns ‘missionários’
cristãos judeus que insistem em que os gálatas (por serem
originalmente gentios) deviam se circuncidar para ser parte
do povo de Deus.
Receptores: cristãos gentios da Galácia.
Ocasião: as igrejas da Galácia foram invadidas por alguns
agitadores (5:12) que questionaram o evangelho de Paulo
e seu apostolado; alguns gálatas, aparentemente, estão
prestes a se render ao ensino deles, o que desencadeia
Gálatas
uma vigorosa defesa por parte de Paulo de seu evangelho
e chamado.
Ênfase: o apostolado e o evangelho de Paulo vêm
diretamente de Deus e de Cristo, não por mediação
humana; a morte de Jesus deu fim às observâncias étnicas;
o Espírito produz a justiça que a Lei não podia produzir; o
Espírito capacita os cristãos a não ceder aos desejos
pecaminosos; recebe-se o Espírito por meio da fé em Cristo
Jesus.
Conteúdo: encorajamento e exortação, situada contra o
pano de fundo dos ‘poderes’ (6:12 NVI, outras versões trazem
poderios ou potestades), que retrata Cristo unindo judeus e
Efésios gentios como o único povo de Deus e como seu triunfo e
glória máximos.
Receptores: talvez uma epístola circular para muitas igrejas na
província da Ásia, de que Éfeso é a capital.

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Ocasião: Tíquico, que está levando a carta (6:21-22), também
está levando duas outras cartas a Colossos (Colossenses e
Filemon, ver Cl 4:7-9); talvez depois de refletir mais sobre a
situação dessa cidade e a glória de Cristo, e conhecendo o
temor asiático dos ‘príncipes deste mundo de trevas’, Paulo
tenha escrito essa carta como uma epístola geral para os
pastores das igrejas dessa área.
Ênfase: o alcance cósmico da obra de Cristo; a reconciliação
efetuada por Cristo entre judeus e gentios por meio da cruz; a
supremacia de Cristo sobre ‘as potestades’ em prol da igreja;
o comportamento cristão que reflete a unidade do Espírito.
Conteúdo: ação de graças, encorajamento e exortação da
parte de Paulo à comunidade de cristãos em Filipos, que
passa por aflição e experimenta alguns conflitos internos.
Receptores: a igreja em Filipos, fundada por Paulo, Silas e
Timóteo.
Ocasião: Epafrodito, que havia trazido informações sobre a
igreja a Paulo na prisão, e entregue ao apóstolo a oferta dela
Filipenses
(2:30; 4:18), está prestes a retornar a Filipos, tendo acabado de
se recuperar de uma enfermidade quase fatal (2:26-27).
Ênfase: a parceria de Paulo e dos filipenses no evangelho;
Cristo absolutamente fundamental para toda a vida, do início
ao fim; conhecer a Cristo, tornando-se como ele em sua
morte; alegrar-se em Cristo até mesmo no sofrimento; unidade
por meio da humildade e do amor; a certeza e a busca do
prêmio final.
Conteúdo: encorajamento aos cristãos relativamente novos a
continuar na verdade de Cristo que recebera, e os advertindo
contra influências religiosas externas.
Receptores: os cristãos (principalmente gentios) em Colossos e
Laodiceia (Cl 4:16).
Ocasião: Epafras, colaborador de Paulo que fundou as igrejas
no vale do Lico, recentemente veio a Paulo trazendo notícias
Colossenses da igreja, em geral boas, mas algumas nem tanto.
Ênfase: A absoluta supremacia e total suficiência de Cristo, o
Filho de Deus; o fato de que Cristo tanto perdoa o pecado
como liberta a pessoa do terror dos poderes (ou potestades);
regras e regulamentos religiosos não contam para nada, mas
a vida ética que reflete a imagem do próprio Deus conta para
tudo; a vida à semelhança de Cristo afeta todo tipo de
relacionamentos.
Conteúdo: ações de graças, encorajamento, exortação e
informação para cristãos gentios recém-convertidos.
Receptores: recém-convertidos a Cristo tem Tessalônica, a
maioria deles gentios (I Ts1:9-10).
I Tessalonicenses Ocasião: o retorno de Timóteo a Paulo e Silas em Corinto,
Timóteo tinha sido enviado a Tessalônica para ver como
estavam os novos cristãos (I Ts 3:5-7).
Ênfase: a preocupação amorosa de Paulo pelos seus amigos
em Tessalônica; o sofrimento como parte da vida cristã; a
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necessidade de se realizar o próprio trabalho, não vivendo da
generosidade alheia; a ressurreição dos cristãos que
morreram; a prontidão para a vinda de Cristo.
Conteúdo: Paulo continua a encorajar a congregação em
face do sofrimento; é também uma advertência contra ser
confundido com respeito à vinda do Senhor, e de exortação a
certos indivíduos a trabalhar com as próprias mãos em vez de
abusar da generosidade alheia.
Receptores: veja I Tessalonicenses
Ocasião: Paulo recebeu informações de que certos indivíduos
(provavelmente por meio de palavra profética) falaram em
II Tessalonicenses nome do apóstolo no sentido de que o dia do Senhor (a vinda
de Cristo) já teria ocorrido; além disso, que os ociosos
problemáticos a quem ele já havia se dirigido em I
Tessalonicenses ainda não haviam corrigido seus hábitos.
Ênfase: a salvação certa dos cristãos tessalonicenses e o
julgamento certo de seus perseguidores; o dia do Senhor
ainda está por vir e será precedido pela ‘apostasia’; aqueles
que são preguiçosos e causam transtorno devem trabalhar
por seu próprio sustento.
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 374-440)

Nas epístolas Paulo se dirigiu com ênfase à Igreja de Cristo em sua


coletividade, ele nos ensinou a ser Igreja. Sua mensagem permeou temas
importantes como, por exemplo, os dons do Espírito (I Co 12-14 e Ef 4) como
forma permanente da ação da Trindade na evangelização dos povos (cf. At
1:8); a necessidade da pregação aos gentios (Gl 1:16; 2:7-9) de um evangelho
exclusivamente vindo de Deus (Gl 1:6-9; 2:2; Cl 1:5-6). Seu ensino sempre teve
como fundamento e alvo o Cristo crucificado e ressuscitado (I Co 2:2; 15:3-4; Gl
3:1) e a expectativa da Segunda vinda (I Ts 4:13-511; II Ts 2).
3.3.2 Cartas Paulinas

As cartas formam um conjunto de correspondências íntimas, em que


Paulo, sob a divina inspiração (ver I Tm 1:1-2; II Tm 1:1-2; Tt 1:1-4; Fl 1-2), se
reporta diretamente aos amigos/discípulos, trazendo orientações sobre caráter,
vida prática, serviço cristão, ânimo para enfrentar as dificuldades, exercício de
liderança e muito mais.
Essas cartas são atualmente lidas por todas as igrejas cristãs e,
obviamente, não se trata de invasão de privacidade, nem de curiosidade

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sobre a vida dos outros, mas de profundos ensinos sobre temas de extrema
relevância para a nossa ‘cidadania celestial’.
Basicamente, posso dizer, nessas cartas, Paulo nos ensina a ser cristãos na
nossa intimidade, já que nas suas epístolas ele havia nos ensinado a ser cristão
na igreja e na sociedade.
Vamos a elas:

Conteúdo: uma acusação contra alguns falsos mestres – reprovando o seu


caráter e ensino -, com instruções quanto a várias questões comunitárias
que esses mestres colocaram em crise, intercaladas com palavras de
encorajamento.
Receptores: Timóteo, jovem companheiro de longa data do apóstolo.
Ocasião: Paulo havia deixado Timóteo encarregado de uma situação muito
difícil na igreja em Éfeso, onde falsos mestres (possivelmente presbíteros
locais) estão desencaminhando algumas igrejas nas casas; Paulo escreve a
I Timóteo
Timóteo, visando capacitá-lo para por um fim à obra desses presbíteros
desviados e de algumas viúvas que os seguiam.
Ênfase: a verdade do evangelho como a misericórdia de Deus
demonstrada a todas as pessoas; o caráter que precisam ter os líderes da
igreja; os ensinos especulativos, o ascetismo e o amor à polêmica e o amor
ao dinheiro desqualificam a pessoa para a liderança da igreja; Timóteo,
firmando-se no evangelho, deve dar exemplo de liderança e caráter
cristãos genuínos.
Conteúdo: um apelo a Timóteo para que se mantenha fiel a Cristo, ao
evangelho e a Paulo, incluindo uma última investida contra os falsos mestres
de quem ele falou na primeira carta.
Receptores: ver I Timóteo.
Ocasião: Paulo foi novamente preso e levado a Roma (o mais provável é
que ele tenha escrito de Trôade, e sob instigação de Alexandre, 4:13-15
[talvez, o mesmo homem que foi excomungado em I Tm 1:19-20]); a carta
II Timóteo pede que Timóteo venha em auxílio Paulo, mas principalmente lhe oferece
uma espécie de testamento.
Ênfase: a obra salvadora de Cristo, que “tornou inoperante a morte e trouxe
luz à vida e a imortalidade por meio do evangelho” (1:10); lealdade a Cristo
pela perseverança no sofrimento e na privação; lealdade a Paulo pela
lembrança de seu relacionamento de longa data; lealdade ao evangelho
pela fidelidade em proclamar/ensinar ‘a palavra’ (mensagem do
evangelho); a difusão legal, mas o fim certo, do falso ensino; a salvação
daqueles que são de Cristo.
Conteúdo: instruções a Tito para colocar em ordem as igrejas em
Creta, incluindo a designação de presbíteros qualificados e
instruções a vários grupos sociais, situadas em contraste com os falsos
mestres.
Tito
Receptores: Tito, um gentio e antigo companheiro de viagem de
Paulo (v. Gl 2:1-3; II Co 7:6-16).
Ocasião: Paulo havia deixado Tito em Creta para terminar de
ordenar e estruturar as igrejas, enquanto ele e Timóteo
26  
 
 
 
 
(aparentemente) foram a Éfeso, onde se depararam com uma
situação bastante complicada (v. I Tm). Paulo, contudo, teve de
prosseguir até a Macedônia (I tm 1:3; cf. Fp 2:19-24); talvez o Espírito
Santo o tenha lembrado, enquanto ele escrevia I Timóteo, de que
problemas semelhantes haviam surgido em Creta, de modo que ele
se dirige às igrejas por meio de Tito.
Ênfase: o povo de Deus precisa ser bom e fazer o bem – e isso se
aplicada especialmente aos líderes da igreja; o evangelho da graça
se contrapõe aos falsos ensinos baseados na lei judaica.
Conteúdo: o propósito exclusivo dessa carta é garantir o perdão a
um escravo (provavelmente fugitivo) chamado Onésimo. Uma
grande lição de restauração de relacionamentos.
Receptores: Filemon é um cristão gentio em Colossos (Cl 4:9), em
cuja casa a igreja se reúne.
Ocasião: Onésimo se converteu recentemente e tem servido a
Filemon
Paulo, que está na prisão; ele agora está sendo enviado de volta a
Filemon, acompanhado por Tíquico; este também leva consigo
cartas às igrejas em Colossos (Colossenses) e na Ásia (Efésios).
Ênfase: O evangelho reconcilia as pessoas umas com as outras, não
apenas judeus (Paulo) e gentios (Filemon), mas, também, escravos e
seus senhores, tornando todos irmãos.
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 441-461)

Os relacionamentos de Paulo com Timóteo, Tito e Filemon têm,


obviamente, graus de intimidade distintos, porém as cartas exalam amor e
cuidado com cada um deles na mesma intensidade. Aos jovens Timóteo e Tito,
que estão na liderança de igrejas locais, Paulo dá conselhos sobre vida,
caráter e doutrina que devem ser absorvidos por todos os líderes das igrejas
cristãs.
Mas, no bilhetinho que Paulo escreve a Filemon, hospedeiro e,
provavelmente líder, da igreja na cidade de Colossos, contém um pedido que
só pode ser feito a quem possui Cristo no coração e na consciência. Paulo
pede que Filemon receba de volta um escravo que fugiu da sua casa, que o
trate com a mesma dignidade que trataria o próprio Paulo (v. 17) e que lhe
perdoe os prejuízos causados (v. 18, provavelmente roubo). É o bilhete do
perdão radical. Uma linda lição de cristianismo.
3.3.3 Epístolas Não-Paulinas

Vou chamar de epístolas não-paulinas aquelas escritas por Pedro, Tiago e


Judas, bem como a epístola aos Hebreus. Excluo, também, as epístolas de
27  
 
 
 
 
João, pois serão tratadas separadamente. Não é uma nomenclatura a que se
deva nenhuma explicação, mas apenas uma forma de separar os livros do
Novo Testamento.
Esse conjunto de epístolas é especialmente diverso, dificilmente caberia
dentro de qualquer outra classificação que tentassem lhe atribuir. O que
podemos encontrar em comum entre elas? Muito pouco, mas, nessas epístolas,
de maneira geral, o Senhor nos comunica a profunda mudança da relação
entre Deus e a sua criação, ocorrida por ocasião do sacrifício de Cristo. Os
temas centrais dessas epístolas estão ligados ao abandono da visão imperfeita
da religião judaica e à aproximação com a plenitude de Deus em Cristo.
Vamos conhecê-las melhor?
Conteúdo: uma “palavra de exortação” (Hb 13:22) enviada na forma
de epístola, encorajando à perseverança fiel à luz da suprema
palavra final que Deus falou por meio de Cristo.
Receptores: um grupo desconhecido, mas específico de cristãos de
origem judaica, por isso, chamados hebreus; não se sabe se esses
cristãos estavam em Roma (13:24), mas, aparentemente, estavam
cortando relações com a comunidade cristã mais ampla (10:25;
13:7,17) e, por esta razão, são exortados.
Ocasião: a comunidade está desencorajada por causa do
sofrimento (10:35-39), e talvez devido a dúvida quanto a se Jesus
Hebreus
realmente resolveu o problema do pecado; o autor escreve para
convencê-los: “não abram mão da confiança que vocês têm, ela
será ricamente recompensada” (10:35, cf. 2:1 e 4:14).
Ênfase: Deus pronunciou a sua palavra final absoluta por meio de seu
Filho; abandonar a Cristo é abandonar a Deus completamente;
Cristo é superior a tudo o que veio antes – a antiga revelação, seus
mediadores angélicos, o primeiro xodó (Moisés e Josué) e todo o
sistema sacerdotal; o povo de Deus pode ter plena confiança no
Filho de Deus, o perfeito sumo sacerdote, que oferece a todas as
pessoas o acesso imediato a Deus.
Conteúdo: um tratado consistindo em uma série de pequenos ensaios
morais, enfatizando a perseverança no sofrimento e a vida cristã
responsável, com uma preocupação especial no sentido de que os
cristãos pratiquem o que pregam e vivam em harmonia.
Tiago Receptores: os fiéis em Cristo entre os judeus da Diáspora.
Ocasião: desconhecida, mas o tratado mostra uma preocupação
quanto à situação real nas igrejas, incluindo diversas provações,
discórdias causadas por palavras duras e de julgamento e abuso dos
pobres pelos ricos.
Ênfase: a fé prática por parte dos cristãos; alegria e paciência em meio

28  
 
 
 
 
às provocações; a natureza da verdadeira sabedoria (cristã); as
atitudes dos ricos em relação aos pobres; o bom e o mau uso da língua.
Conteúdo: encorajamento aos cristãos passando por sofrimento,
instruindo-os sobre como responder de maneira cristã aos perseguidores
e exortando-os a viver uma vida digna do seu chamado.
Receptores: aos cristãos da dispersão, nas cinco províncias da Ásia
Menor (a Turquia moderna).
Ocasião: provavelmente uma preocupação quanto ao surto de
perseguição local que alguns cristãos recentes estavam
I Pedro experimentando como resultado direto de sua fé em Cristo.

Ênfase: o sofrimento por causa da justiça não deve nos surpreender; os


cristãos devem se submeter ao sofrimento injusto da mesma forma que
Cristo se submeteu; Cristo sofreu em nosso favor para nos libertar do
pecado; o povo de Deus deve viver de modo justo em todas as épocas,
mas principalmente em face da hostilidade; a nossa esperança para o
futuro se baseia na certeza da ressurreição de Cristo.
Conteúdo: um discurso de despedida enviado em forma epistolar,
exortando ao crescimento e à perseverança dos cristãos no contexto
de alguns falsos mestres que quanto negam a segunda vinda de Cristo
como vivem descaradamente no pecado.
Receptores: um grupo de cristãos desconhecido, mas específico.
Ocasião: o desejo de firmar os leitores na fé e na vida santa e piedosa, e
II Pedro
ao mesmo tempo de adverti-los quanto aos falsos mestres e seu modo
de vida.
Ênfase: interesse em que o povo de Deus cresça em santidade e a
demonstre em sua vida; o julgamento inevitável dos falsos mestres
devido à conduta pecaminosa deles; a certeza da vinda do Senhor,
apesar da zombaria dos falsos mestres.
Conteúdo: uma carta pastoral de exortação, advertindo severamente
acerca de alguns falsos mestres que “se infiltraram” entre eles.
Receptores: desconhecidos, provavelmente uma congregação
constituída predominantemente de cristãos judeus, em algum lugar na
Palestina, bastante familiarizado com o Antigo Testamento e com a
literatura apocalíptica judaica.
Judas Ocasião: uma ameaça apresentada por alguns ministros itinerantes que
transformaram a graça em libertinagem e se introduziram entre eles
com dissimulação.
Ênfase: o julgamento inevitável daqueles que vivem de forma
negligente e ensinam outros a fazer o mesmo; a importância da vida
santa e piedosa; o amor de Deus pelos seus fieis e sua preservação
deles.
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 462-487)

A autoria de três dessas epístolas precisa de cuidados especiais, vamos


entender melhor:
a) a autoria da epístola de Tiago: a tradição nos informa de que o autor
dessa epístola é mesmo o irmão de Jesus Cristo. Durante o ministério terrenos de
Jesus, Tiago e seus irmãos não criam nele (Jo 7:5). Tiago provavelmente passou
a crer depois que Jesus ressurreto apareceu a ele (I Co 15:7). Depois a

29  
 
 
 
 
ascensão de Jesus, Tiago estava no cenáculo junto com os seus irmãos e os
apóstolos (At 1:13-14). Ele assumiu a liderança da igreja em Jerusalém (At 12:17;
15:13) e foi reconhecido como líder da igreja (Gl 1:19; 2:9, 12) e até encontrou-
se com Paulo para ouvir os seus relatos missionários (At 21:18).
b) a autoria da carta aos Hebreus: embora haja uma insistência por
parte de alguns leigos em afirmar que esta carta foi escrita por Paulo, é senso
comum, entre os eruditos, que não foi. Já no ano 225 d.C. Orígenes, um dos
pais da igreja, dizia que só Deus sabe quem escreveu esse texto. Obviamente,
a única coisa que precisamos saber é que se trata de um material divinamente
inspirado;
c) a autoria da carta de Judas: para que não haja confusão, não é de
Judas Iscariotes, o traidor. Esse Judas se apresenta humildemente como irmão
de Tiago, portanto, estamos nos referindo a mais um irmão do próprio Jesus.

3.3.4 Demais escritos joaninos

Além do evangelho, já comentado, João, também, escreveu três


epístolas, ou cartas, e o livro de Apocalipse. Uma de suas principais
características é o uso da experiência particular com Jesus e a ênfase no fato
de que Ele é a Palavra encarnada (veja Jo 1:1-14; I Jo 1:4), que Ele é a
Verdade (Jo 14:6; II Jo 1,2; III Jo 1) e que Ele voltará (Ap 1:1-3).
As palavras emotivas, a abordagem mais sobrenatural e a ênfase nos
relacionamento, também, são características joaninas. O Apocalipse é um
escrito particularmente diferente de todos os outros da própria Bíblia. Ali, João
registra uma mensagem recebida de Deus por meio oral e visual. Figuras
estranhas, aterrorizantes mesmo, aparecem no livro que revela “aos seus servos
o que em breve há de acontecer” (Ap 1:1).
Amor descrito de forma quase poética e a mais espantosa profecia
sobre a segunda vinda de Jesus são componentes marcantes dos escritos
joaninos.
Conteúdo: um tratado que oferece segurança a alguns cristãos específicos,
I João
encorajando-os a serem leais à fé e prática cristãs – em resposta a alguns

30  
 
 
 
 
falsos profetas que deixaram a comunidade.
Receptores: uma comunidade cristã, bem conhecida do autor, a quem ele
se reporta como ‘filhinhos’. A tradição aponta para Éfeso.
Ocasião: a apostasia dos falsos profetas e seus seguidores, que colocaram
em questão a ortodoxia – tanto na fé quanto na prática – daqueles que
permaneceram leais àquilo que remonta ao ‘princípio’.
Ênfase: Jesus, que veio em carne, é o Filho de Deus; Jesus mostrou o amor
de Deus por nós por meio de sua encarnação e crucificação; os
verdadeiros cristãos amam uns aos outros assim como Deus os amou em
Cristo; os filhos de Deus não pecam habitualmente, mas quando pecam,
recebem o perdão; os cristãos podem ter plena confiança no Deus que os
ama; porque cremos em Cristo, agora temos a vida eterna.
Conteúdo: advertência contra os falsos mestres que negam a encarnação
de Cristo.
Receptores: veja I João
II João Ocasião: a ‘senhora eleita’ é ou uma igreja local específica ou uma mulher
que hospeda uma igreja na sua casa; ‘seus filhos’ são os membros da
comunidade cristã.
Ênfase: a mesma de I João.
Conteúdo: a alegria de João em razão da fidelidade de Gaio, seu filho na
fé.
Receptores: Gaio, filho na fé de João, que vive em outra cidade.
Ocasião: uma carta anterior à mesma igreja havia sido ridicularizada por
III João Diótrefes, que, também, recusou hospitalidade aos amigos de João, além
de excluir da igreja quem lhes desse guarita. Consequentemente, João
escreve a Gaio, pedindo-lhe que receba Demétrio.
Ênfase: as obrigações de hospitalidade cristã, especialmente para com os
ministros itinerantes aprovados.
Conteúdo: uma profecia cristã, apresentada na forma de epístola, tratando
dos dias vindouros e trazendo os temas da grande tribulação (sofrimento) e
do juízo que se abaterá sobre toda a terra.
Receptores: igrejas da província romana da Ásia (atual Turquia).
Ocasião: João escreve em meio a um clima politicamente tenso entre os
cristãos e o Império Romano, advertindo que as coisas ainda iriam piorar
Apocalipse muito antes de melhorar. Exortando e animando o povo para manter-se fiel
a Jesus Cristo a pesar de todas as dificuldades.
Ênfase: o controle absoluto de Deus sobre a história; o contraste entre o
sofrimento terreno e a salvação garantida para todos os cristãos que
perseveram; o julgamento de Deus virá sobre os responsáveis pelo
sofrimento da Igreja; a restauração por parte do Senhor (Ap 21-22) de tudo
aquilo que foi perdido ou distorcido no princípio (Gn 1-3).
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 488-518)

A abordagem joanina, em todos os seus escritos, é fundamentalmente


voltada para salvação e vida eterna. É nos escritos joaninos que encontramos
a centralidade da missão de Jesus. João é o único que registra o diálogo do
Messias com Nicodemos, em que Jesus declara que “Deus amou o mundo de
tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3:16).

31  
 
 
 
 
É João que reiteradas vezes registra as declarações mais veementes do
Cristo sobre quem Ele é e o que veio fazer aqui: “eu vim para que tenham vida,
e que a tenham plenamente” (Jo 10:10). As suas epístolas, definitivamente, têm
teor confirmatório da mensagem do seu evangelho. E sua base está na certeza
da vida eterna.

João 20:31 I João 5:13


Mas estes foram escritos para que Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que
vocês creiam que Jesus é o Cristo, o crêem no nome do Filho de Deus,
Filho de Deus e, crendo, tenham vida para que vocês saibam que têm a
em seu nome. vida eterna.

Nesses dois trechos, vemos que o propósito de João, tanto no evangelho


quanto nas cartas é o mesmo: comunicar que todo aquele que crê já tem a
vida eterna. Esse propósito não é distinto em Apocalipse, pois nele João
anuncia aquilo que “em breve há de acontecer” (Ap 1:1). E que razão haveria
para uma profecia sobre o fim dos tempos, se não para nos proteger do mal e
nos guiar para a eternidade?

CAPÍTULO IV – PANORAMA TEMÁTICO

O tema dominante do Novo Testamento é a pessoa de Cristo


apresentada como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6) e como a “luz
do mundo” (Jo 8:12), vinda para guiar os nossos passos fora das trevas. Mas, na
pessoa de Jesus, outros temas se tornam vivos no Novo Testamento, a salvação

32  
 
 
 
 
pela fé, a perseverança como evidência da salvação e a expectativa do Dia
Triunfal do Senhor.
Esses temas estão permeando todo o Novo Testamento, não se
encontram sistematizados nas Escrituras, pois eles emergem juntamente com
vivência de Cristo e dos seus discípulos. Isso nos faz perceber os temas do Novo
Testamento como ensinos totalmente entranhados no sentido e significado de
nossas próprias vidas. Afinal, todas as profecias ali contidas estão diretamente
vinculadas ao desenvolvimento do nosso caráter por meio da santificação (Fl
2:12).

4.1 Humanidade e divindade de Cristo

O cristão deposita toda a sua esperança em Cristo, a salvação, a


eternidade da alma, a vida comunitária baseada em justiça e amor, o fim do
sofrimento terreno, o triunfo da vida sobre a morte; enfim, o cristão deposita
muitas expectativas na pessoa de Jesus Cristo.
Essas expectativas, evidentemente, só podem ser alcançadas se
estivermos falando de Deus e não de um simples homem. Por outro lado, ao
mesmo tempo, não podemos negar que Jesus Cristo foi plenamente humano,
ele andou pela terra, viveu um tempo cronológico como qualquer um de nós,
comeu, bebeu, sorriu, chorou e conviveu com pessoas.
O fato, contudo, é que Jesus realizou uma obra que seria impossível a um
homem que não fosse Deus e inacessível a um Deus que não fosse homem.
Brunner (1950, p. 339), citado por Boice (2011, p. 231) diz:

Somente quando eles [os discípulos] o entenderam como Senhor


absoluto, a quem pertence a plena soberania divina, a Páscoa, como
vitória, e a Paixão, como um fato da salvação, tornaram-se inteligíveis.
Somente quando conheceram Jesus como o Senhor celestial do
presente, entenderam-se como aqueles que teriam o seu quinhão no
Reino messiânico como homens do novo, da Era messiânica.

33  
 
 
 
 
A Páscoa como vitória, a que Brunner (1939) se refere, é a entrega do
sacrifício único e perfeito que selaria toda a história cosmológica da obra
divina sobre a terra. Era necessário que a mais perfeita auto revelação de Deus
viesse em amor, pois essa é a sua essência (I Jo 4:8), para “dar a sua vida em
resgate de muitos” (Mc 10:45b), a saber, de todos os que creem (Jo 3:16).
Assim, Cristo se revela como o que veio para “buscar e salvar os que
estavam perdidos” (Lc 19:10). Fazendo da sua encarnação (Jo 1:14) o meio
para que Ele pudesse ser, simultaneamente, o redentor e o sacrifício perfeito e
inequívoco que tiraria o pecado do mundo (Jo 1:29). Vamos entender como
Ele pode ser, ao mesmo tempo, homem e Deus.

4.1.1 Cristo Homem: o sacrifício perfeito

Os evangelhos escritos por Mateus e Lucas iniciam a narrativa das boas


novas de Cristo a partir do seu nascimento virginal, dando certa ênfase à
genealogia de Cristo. A narrativa apresentada por Marcos ignora a infância do
Senhor Jesus e já começa com o ensinamento moral do seu evangelho,
convocando a todos, na voz de João Batista, para o arrependimento dos
pecados. O quarto evangelho, narrado por João, surpreende por uma
narrativa inteiramente voltada para o reconhecimento da natureza divina de
Jesus e da espiritualidade da Sua obra, mas, considera fundamental a
informação de que Cristo foi homem. Vejamos, então, quais os aspectos da
humanidade de Cristo.

a) Sua vida plenamente humana

Jesus Cristo, como já mencionado, está nas listas das genealogias


humanas (Mt 1:1-16; Lc 3:23-38). Excetuando-se a concepção divina, seu
nascimento foi totalmente humano (Mt 1:25; Lc 2:7; Gl 4:4). Ele cresceu e se
desenvolveu como qualquer pessoa (Lc 2:40-52; Hb 5:8). Ele apresentou as
mesmas limitações que qualquer um de nós: cansaço (Jo 4:6); fome (Mt 21:18),
sede (Mt 11:19). O sofrimento o afligiu como a qualquer outro ser humano (Mc
34  
 
 
 
 
14:33-36; Lc 22:63; 23:33). Emocionou-se como qualquer um, demonstrando:
tristeza (Mt 26:37); supresa (Lc 7:9); alegria (Lc 10:21), compaixão (Mt 9:36) e até
ira (Mc 3:5). E a última prova de sua vida plenamente humana é o fato de ele
ter padecido em virtude de armas e de torturas humanas (Lc 22:44; Jo 19:33).

b) Sua vida de devoção ao Pai

Outra evidência da plena humanidade de Cristo é que Ele estudou,


meditou e explicou as Escrituras (Mt 4:4; 19:4; Lc 2:46; 24:47). Ele orava
publicamente (Lc 3:21) e participava das cerimônias públicas de adoração (Lc
4:16). Apresentava-se ao Pai na sua devoção íntima e pessoal (Lc 6:12).

c) Seu conhecimento limitado

Apesar de sua superioridade em relação à sabedoria de qualquer ser


humano (Jo 1:47; 4:29; Lc 6:8; 9:47) e de ser um exímio conhecedor das
Escrituras (Mt 22:29; 26:54,56; Lc 4:21ss; 24:27, 44ss), Jesus Cristo tinha limitações
de conhecimento (Mc 5:30ss; 6:38; 9:21; Lc 2:46; Mc 13:22).

d) Suas tentações

Apesar de jamais haver pecado, Cristo foi tentado em todas as coisas,


assim como qualquer um de nós (Hb 4:15).

Mas, em tudo, é preciso ressaltar, Jesus jamais pecou, apesar de ser


plenamente humano. Ele foi o substituto perfeito de Adão, o primeiro homem,
que introduziu o pecado no mundo (Rm 5). Ele nunca sucumbiu à depravação
moral oriunda da Queda (Hb 4:15; 7:26; II Co 5:21).
Por isso, Ele foi o sacrifício perfeito, o único que poderia tirar o pecado do
mundo (Jo 1:29), levar sobre si as nossas culpas (Is 53), trazendo-nos a paz que
era impossível por meio da nossa fragilidade humana (Ef 2).

35  
 
 
 
 
4.1.2 Cristo Deus: o soberano sofredor

As Escrituras também nos revelam a divindade de Cristo. Mostrando que


além de sacrifício perfeito, Ele foi um soberano que teve a ousadia de sofrer
como um servo por seu povo. As Escrituras apresentam a sua divindade da
seguinte forma:

a) Os milagres de Cristo

Os milagres de Cristo, considerando apenas os que foram narrados no


Novo Testamento - pois muitos não foram escritos (Jo 21:25)- tomariam muito
espaço aqui. Mas, a sua concepção divina (Mt 1:20; Lc 1:34, 35) e a sua
ressurreição testemunhada por muitos (Atos 1:3; veja Lucas 24:36-43) são provas
inquestionáveis da divindade e de Cristo.

b) As palavras de Cristo sobre a sua própria divindade

Severa (2010, p. 231) ensina: o próprio Cristo tinha consciência da sua


divindade. Ele mesmo se iguala ao Pai na vida (Jo 5:26), na honra (Jo 5:23), na
glória (Jo 17:5), na eternidade (Jo 8:58), no nome (Jo 8:24), na fórmula batismal
(Mt 28:19). Ele declara sua união com o Pai (Jo 5:18; 10:33, 38). Portanto, não
foram só os discípulos que creram ser Jesus o Filho de Deus. O próprio Cristo
sabia da sua natureza divina.

c) Jesus tinha os atributos divinos

Severa (2010, p. 231-232), também, nos lembra que: Jesus Cristo exerce
atribuições que só cabem à divindade. Ele tem autoridade para perdoar
pecados (Mc 2:10), tem autoridade sobre o sábado (Mc 2:28); sobre a vida dos
homens (Mt 16:24-26), e tem poder para salvar os homens dos seus pecados
(Mt 1:21; Jo 8:34-36).

36  
 
 
 
 
Estas são algumas das demonstrações de que, segundo a Bíblia, Jesus
realmente é Deus. Mesmo dotado de tamanho poder, Ele “embora sendo
Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se;
mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos
homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi
obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fl 2:6-8).

4.1.3 Cristo Homem-Deus: o salvador acessível

A dupla natureza de Cristo é fruto da encarnação. Quando “aquele que


é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós” (Jo 1:14a), o mundo mudou
eternamente e a própria concepção de história foi alterada, pois a eternidade
ganhou, definitivamente, espaço na vida cotidiana. Assim, “vimos a sua glória,
glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo
1:14b). Desta forma, a encarnação e a imagem de Deus se revelam de
maneira única na pessoa de Cristo, que tornou a nossa salvação possível por
meio da sua entrega e nos deu pleno acesso ao Pai, quando nos ensinou a
orar em seu nome. Ele nos deu o sacerdócio santo (I Pe 2:9).

4.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos12

A expressão grega basileia tou~ Qeou~ (basileia tou Theo) diz respeito
ao governo, ou domínio, absoluto de Deus sobre todas as coisas. Um reino que
estende por todo o céu e por toda a terra. Quando ouvimos falar de algo
assim, pensamos sobre a forma como o Senhor vai comandar tudo isso e que
grande exército Ele vai convocar. Mas, estranhamente, o Senhor tem
convocado um exército bastante diferente do que se imaginava.

De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de


casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando. Simão e seus
                                                                                                                       
12Adaptado do livro: GIRARD, R. C. & RICHARDS, L. Guia fácil para entender a vida de Jesus.
Ed. Thomas Nelson Brasil: Rio de Janeiro, 2013.
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companheiros foram procurá-lo e, ao encontrá-lo, disseram: "Todos
estão te procurando!" Jesus respondeu: "Vamos para outro lugar, para
os povoados vizinhos, para que também lá eu pregue. Foi para isso que
eu vim". (Mc 1:35-38).

O jovem Messias viu-se diante de decisões importantes. Em meio à


vertigem da celebridade, ele tem de conversar com seu Mentor13. Ele
precisava orar. Como muitas vezes faria ao longo dos três anos seguintes, ele se
levantou antes do nascer do sol, caminhou até um lugar tranquilo e, antes que
o resto do mundo abrisse os olhos, teve uma conversa com seu Pai celestial.
Afastou distrações da sua mente, pediu direções e entendeu de forma
renovada a visão daquilo que havia sido envido para fazer. Quando Simão e
os outros o encontraram, ele soube qual deveria ser seu passo seguinte. Sua
decisão dissipou a cortina de fumaça do sucesso.

4.2.1 Revelando o sonho do Reino

Até aqui na narrativa da história de Jesus no Novo Testamento, o Reino


de Deus não foi definido. Os ensinos de Jesus e o exemplo de sua vida com
seus discípulos acrescentaram detalhes ao conceito do Reino. Jesus desafia as
expectativas extremamente nacionalistas dos judeus. Mostra aos seus
seguidores como entrar no reino e conhecê-lo. No processo, fica claro que o
Reino de Deus não é simplesmente algo que acontece no coração de cada
indivíduo que se acerta com Deus. Jesus está claramente decidido a ser líder
da criação de uma nova sociedade, uma nova nação, uma contracultura
distinta que existe, prospera e jura lealdade a Cristo como Rei, bem no meio
dos reinos, sociedades, nações e culturas deste mundo rebelde.
Cristo quebra todas as regras que normalmente regem onde e como um
reino obtém seu poder. A história mostrou que ele foi o monarca mais poderoso
que já reinou, mas todas as estratégias de Jesus refletem “Deus se humilhando
ao se tornar um servo”. A grandeza é medida em termos de disposição para
servir e sacrifício.

                                                                                                                       
13 Obviamente, o próprio Deus Pai.
38  
 
 
 
 
De acordo com a história contada por Mateus (4:23-24), Jesus pregava
“as boas novas do Reino” onde quer que as pessoas ouvissem. Logo se
espalharam notícias de que ele tinha poder para curar. De todas as partes da
Galileia vinham pessoas. Logo as multidões de Jesus adquiriram um perfume
distinto: os doentes, fustigados pela dor, perturbados mental e
emocionalmente, epilépticos, tetraplégicos e paraplégicos – os destruídos,
fracos, atormentados, os que sofriam, vulneráveis, confusos, compulsivos e
viciados. Naquele dia, os mais necessitados foram levados por amigos ou se
arrastaram para sair da cama e dos lugares de confinamento e solidão. Eles
acharam o caminho até Jesus porque ouviram de alguém que ele poderia
ajudar. Que jeito de edificar um reino! Heim?

4.2.2 Pescando “pecadores”

Certa manhã, Jesus novamente andava perto do lago. As multidões


sempre presentes o cercavam. Era a mesma parte da praia onde, antes, ele
havia chamado quatro pescadores para deixarem o trabalho que faziam e se
juntarem a ele. Mais uma vez, os barcos estavam emparelhados na praia e os
homens estavam levando as redes. Precisando de uma posição melhor da qual
pudesse falar à multidão, Jesus entrou no barco que era de seu amigo Simão
(Pedro) e pediu-lhe para ancorá-lo um pouco afastado da praia. Jesus sentou-
se no barco para ensinar. Sua voz reverberou na água, o que parecia um
megafone, por isso a multidão na praia pôde ouvi-lo.
Quando terminou de falar: Jesus virou-se para seu amigo e disse: “vamos
pescar uns peixes” (veja Lucas 5:4). Simão, a língua mais rápida do oeste,
pensou que Jesus precisava estar mais bem informado sobre os detalhes da
pesca na Galileia. Ele e seus parceiros estavam exaustos. Pescaram naquelas
águas durante a noite toda e não fisgaram nem um lambari!
“Mas, por que és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes”, diz
Simão com resignação (Lc 5:5). De repente, os peixes começaram a aparecer
nas redes, mais do que Pedro e André podiam aguentar! Eles pediram a Tiago

39  
 
 
 
 
e João que enfileirassem o barco ao lado do deles e ajudassem. Os dois barcos
logo estavam cheio de peixes.
Enquanto os barcos sobrecarregados seguiam para a praia, Pedro caiu
de joelhos diante de Jesus, tomado pela consciência de que não era digno de
estar na presença de tal autoridade, confessando seu um homem pecador14.
Todo o grupo de pescadores sentiu o mesmo temor.
“Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”,
disse Jesus (Lc 5:10). Essa foi a terceira vez que ele abordou esses quatro
homens para falar sobre serem seus discípulos. Dessa vez, eles tomaram uma
atitude definitiva, “deixaram tudo e o seguiram” (5:11).

4.2.3 Um homem maltrapilho

Um reino formado por pessoas absolutamente improváveis e para


pessoas absolutamente improváveis. Não é que Jesus tenha apenas chamado
pessoas fracas para participar do seu Reino, é que Ele contou com elas para
que o Reino expandisse.

Estando Jesus numa das cidades, passou um homem coberto de lepra.


Quando viu a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra e rogou-lhe: "Se
quiseres, podes purificar-me". (Lc 5:12).

A única defesa da sociedade contra a lepra era a quarentena. Pela lei, o


leproso deveria viver sozinho ou com outros leprosos fora do acampamento. Ele
não poderia ter nenhum contato humano normal. Intocável, o leproso não
podia ser empregado e era obrigado a se submeter à mendicância, embora
pudesse esperar sofrer nove anos antes de morrer. Josefo15 relata que os
leprosos eram tratados como se fossem homens mortos.
Os efeitos psicológicos eram os piores aspectos do sofrimento do leproso.
Uma sensação de culpa e de rejeição por Deus muitas vezes acompanhava a
doença, mesmo que o leproso não fosse, pessoalmente, responsável por
                                                                                                                       
14 Uma expressão idiomática judaica do século 1 para alguém que abandona a sinagoga.
15 Historiador judeu, contemporâneo de Jesus.
40  
 
 
 
 
contraí-la. Ninguém precisava ser tocado mais do que o leproso excluído. Jesus
sabia disso.
Ao se prostrar diante de Cristo, esse leproso sentiu algo que talvez não
sentisse havia muito tempo. A mão de Jesus abaixou-se para tocar sua carne
doente. “Quero. Seja purificado! ”, disse Jesus (Lc 5:13). Os horrores daquela
terrível doença se foram com uma palavra e um toque. Depois disso, Jesus deu
duas ordens ao leproso curado:

Razões das ordens de Jesus


“Não conte isso a ninguém” (5:14a) “vá mostrar-se ao sacerdote”
(5:14b)
•  Para evitar um movimento popular •  Obedecer à Lei de Deus;
prematuro com o intuito de coroá-lo •  Remover oficialmente as marcas da
como rei antes que ele tivesse a chance lepra;
de demonstrar o tipo de Reino que ele •  Dar um testemunho aos sacerdotes do
estava edificando; messiado de Jesus.
•  Para evitar que o leproso purificado se
desviasse, recontando sua história, em vez
de seguir o procedimento que Moisés
prescreveu para validação da cura;
•  Para manter as multidões em um tamanho
controlável de modo que não impedisse
sua liberdade de ir a qualquer lugar que
precisasse ir no ministério.

Não sabemos se o homem foi até ao sacerdote, mas o fato é que ele
desobedeceu à primeira ordem e, por isso, o número de pessoas para ver Jesus
aumentou consideravelmente. O Reino de Jesus foi se constituindo assim, da
maneira mais improvável. Ele mostrava o seu poder, com os seguidores menos
influentes da sociedade. Ele fez com que a sua mensagem se espalhasse.

4.2.4 A paralisia dos que não são perdoados

Se Jesus tivesse seguido a lógica humana tradicional, não teria


conseguido expandir o seu Reino. Mas, em sua grande sabedoria e poder, Ele
novamente escolhe os fracos. Ele fez paralíticos andarem, e, também, fez
homens ‘sãos’ ficarem paralisados.

41  
 
 
 
 
Alguns homens trouxeram-lhe um paralítico, deitado numa cama.
Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: "Tenha bom
ânimo, filho; os seus pecados estão perdoados".
(Mt 9:12).

No retorno de Jesus a Cafarnaum, representantes do Judaísmo oficial


apareceram em sua casa. Ele estava cercado de fariseus e intérpretes da lei
quando quatro homens apareceram carregando um paralítico em uma maca.
Não podendo passar pela porta, eles subiram no telhado, retiraram algumas
telhas e baixaram o homem até a sala, colocando em frente a Jesus.
Para surpresa dos estudiosos da Bíblia reunidos ali, Jesus disse ao
paralítico: “Os seus pecados estão perdoados”. Houve um silêncio
ensurdecedor na sala. Incrédulos, os boatos ficaram olhando para Jesus.
Ninguém falou, mas todos pensaram um milhão de coisas! “Blasfêmia! Somente
Deus pode perdoar pecados!”
“Que é mais fácil dizer: ‘os seus pecados estão perdoados’, ou:’ levante-
se e ande’?”, perguntou Jesus (Mt 9:5). O silêncio ensurdecedor persistiu. “Mas,
para que vocês saibam que o Filho do homem tem na terra autoridade para
perdoar pecados – disse ao paralítico – levante-se, pegue a sua maca e vá
para casa” (Mt 9:6).
O homem levantou-se, pegou sua maca e saiu pela porta gritando
“Aleluia” (ou alguma expressão de gratidão a Deus). Enquanto isso, aqueles
que se achavam mais dignos do Reino, ficaram paralisados, preferindo não
crer.

4.2.5 Por que estes pecadores estão celebrando?

A busca continuava, nos lugares mais inusitados, Jesus ia à procura de


pessoas para o seu Reino. Ele não se preocupava com sua própria reputação,
apenas considerava a necessidade de escolher pessoas que precisassem do
seu amor. Esse é, definitivamente, um reino diferente, onde o rei é servo dos
súditos.

Passando por ali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na


coletoria, e disse-lhe: "Siga-me". Mateus levantou-se e o seguiu. Estando
Jesus em casa, foram comer com ele e seus discípulos muitos
42  
 
 
 
 
publicanos e "pecadores". Vendo isso, os fariseus perguntaram aos
discípulos dele: "Por que o mestre de vocês come com publicanos e
‘pecadores’?" Ouvindo isso, Jesus disse: “Não são os que têm saúde que
precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt 9:9-12).

“São estes que vim curar”, respondeu Jesus. Ele não defendeu o estilo de
vida deles. Ele os chamou à mudança (Lc 5:32). Jesus estava interessado nos
excluídos sociais de sua época. Ele passou tempo com eles. Amou-os. Eles
ouviram, e muitos se tornaram discípulos.
Em contrapartida, os fariseus acreditavam que seu dever religioso era
permanecer o mais distante possível dos infiéis a ponto de nem ensinarem a lei.
Comer com essas pessoas era pior do que conversar com elas, assim
pensavam os fariseus, porque repartir um prato de comida significava
reconhecer e acolher os pecadores.
Para Jesus, ser política ou religiosamente correto era inútil. Era para
apresentar pessoas errantes à graça de Deus que ele vivia.

4.3 A Comunhão com o corpo de Cristo

Outro tema de grande importância do Novo Testamento é a ideia de


Corpo. Era muito comum na Grécia Antiga utilizar a analogia com o corpo
para enfatizar a necessidade de comprometimento de cada pessoa com o
seu grupo social (ver, por exemplo, o Organon de Aristóteles). Na Bíblia essa
analogia é utilizada com um sentido mais amplo, refletindo sobre a unidade
em meio à diversidade.
O Novo Testamento, especialmente nas epístolas paulinas, nos faz
entender que a Igreja do Senhor é formada por muitas pessoas e,
consequentemente, há uma grande diferença entre cada indivíduo. No
entanto, essas diferenças individuais, chamadas de diversidade, não podem
atrapalhar a unidade da Igreja. Por isso, a metáfora do corpo é utilizada para
dizer: somos todos diferentes e por isso temos diferentes funções no corpo,
somos todos importantes e por isso precisamos uns dos outros, temos todos o
mesmo valor para Cristo e por isso Ele nos quer unidos.

43  
 
 
 
 
Essa importante temática sobre o sentido de Corpo está largamente
presente na doutrina do Novo Testamento. Além da evangelização, que
veremos no tópico a seguir, a comunhão dos Santos é o principal eixo de
manutenção da Igreja de Cristo.

4.3.1 Unidade na diversidade

Desde o princípio, a Igreja de Cristo foi formada por pessoas de


nacionalidades diferentes, culturas diferentes e posições sociais diferentes (veja
At 13:1). Mas, os membros da nova Igreja estavam conscientes de que eles
faziam parte de um novo Reino e que suas nacionalidades, culturas e posições
terrenas nada significavam, pois algo maior os unia. Por isso, o sentido de corpo
é mais do que uma metáfora organizacional, ou política, é o sentimento de
pertencimento à família de Cristo.

Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o


muro de inimizade, anulando em seu corpo a lei dos mandamentos
expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos
dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar com Deus os dois
em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade (Ef
2:14-16).

Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas


concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo
como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para
tornar-se um santuário santo no Senhor (Ef 2: 19-21).

Esses dois trechos das Escrituras nos remetem ao tipo e à profundidade


do vínculo que o Senhor criou conosco através da Cruz do Calvário. Ele trouxe
unidade, inicialmente para dentro de nós. No primeiro trecho, Paulo nos fala
sobre a cura de nossa alma. Éramos pessoas divididas, havia, em um mesmo
corpo, dois homens que guerreavam dentro de nós. A primeira solução de
Cristo foi trazer paz para o nosso coração, acabando com a nossa
esquizofrenia espiritual e nos fazendo um só diante dele.

44  
 
 
 
 
Ao transformar a nossa mente, Cristo nos colocou em unidade com todos
os irmãos que têm a mesma fé. Não somos mais estrangeiros, somos
concidadãos, participantes do mesmo Reino, membros da mesma família. Mas,
o que isso significa na prática?

4.3.2 A vida em comum

A vida em comunidade continua sendo um grande desafio para a Igreja


de Cristo. Apesar de tudo que manteve unida a Igreja primitiva, mesmo no
meio de suas imperfeições, a história da Igreja nos mostra verdadeiras tragédias
de convívio entre os irmãos, entre as lideranças e, consequentemente, entre o
homem e Deus. O convívio cristão é baseado naquilo que temos em comum,
viabilizando que estejamos juntos.
Mas, na igreja moderna, talvez tenhamos dificuldade de entender o que
temos em comum além do fato de nos reunirmos no mesmo templo. A palavra
grega para comunhão é koinonia, essa palavra era utilizada para sociedades
comerciais, para se referir à relação de Jesus com os discípulos e para
apresentar tudo o que a Igreja tinha em plena comunhão (At 2:42-47).
O que falta nos dias de hoje? Ray Stedman afirma o seguinte:

O que está terrivelmente faltando é a experiência da vida no Corpo;


aquela comunhão calorosa de cristão com cristão que o Novo
Testamento chama de koinonia, e que era uma parte essencial do
cristianismo primitivo. (STEDMAN, 1972, p. 107).

Infelizmente, a história da Igreja vem, de fato, nos mostrando que essa


visão de Stedman não é apenas um arrogo negativista, mas uma realidade
triste se consumando sob a forma de individualismo extremado dentro da casa
de Deus. O fato é que precisamos retomar o caminho através das Escrituras.
O apóstolo João nos ensina que a koinonia é, necessariamente, realizada
em duas vias, ou duas dimensões: precisamos estar ligados a Deus para que
possamos estar ligados aos irmãos.

45  
 
 
 
 
Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também
tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu
Filho Jesus Cristo. (I Jo 1:3).

Na mesma carta, ele insiste na necessidade de reconhecermos que


nosso relacionamento com os irmãos é um reflexo daquilo que vivemos com
Deus.

Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas,
mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na luz,
como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue
de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (I Jo 1:6-7).

O pecado nos afasta de Deus e da própria comunidade divina, que é


sobrenatural. Estar perto da igreja física não implica estar próximo da Igreja de
Deus. Principalmente quando o pecado é a discórdia dentro ministério terreno.
Assim, é necessário confessar os pecados, purificar os nossos corações, corrigir
os nossos delitos e restaurar a nossa relação com o Pai para que possamos
restabelecer a vida íntegra na igreja de Cristo.

4.3.3 Os mandamentos recíprocos

Conviver em pequenos grupos pode ser uma boa solução para a


unidade da Igreja, considerando, principalmente, a união com Cristo. Mas,
esses pequenos grupos devem ser sempre regidos pelos ensinos bíblicos. Aqui,
separamos os chamados mandamentos recíprocos, aqueles que nos são
dados com a expressão “uns aos outros”. Esse enunciado nos remete à ideia de
que existem mandamentos bíblicos que mostram a preocupação de Cristo
com a unidade do Seu Corpo.
a) Amar uns aos outros – esse mandamento engloba todos os outros, é,
sem dúvida, o principal mandamento de Cristo para a relação entre os irmãos.

Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os


amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que
vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros. (Jo
13:34-35).
46  
 
 
 
 

Esse mandamento é repetido de outras formas, veja a tabela abaixo:

O meu mandamento é este: amem-se uns aos Jesus Jo 15:12


outros como eu os amei.
Este é o meu mandamento: amem-se uns aos Jesus Jo 15:17
outros.
Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de Paulo Rm 13:8
uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo
tem cumprido a lei.
Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor Paulo I Ts 3:12
que vocês têm uns para com os outros e para com
todos, a exemplo do nosso amor por vocês.

O amor é um mandamento para ser exercido reciprocamente dentro e


fora da Igreja, mas, principalmente dentro dela. O Corpo de Cristo se
movimenta por meio do amor. Trata-se de um amor intencional, refletido em
cada gesto e em cada palavra. Trata-se de se importar com a pessoa que está
junto a você na mesma comunidade. De ser amoroso e tolerante com ela.

b) Servir uns aos outros – esse é um mandamento que Cristo nos ensinou
como ninguém, tanto em palavras, como em atitudes. Lavando os pés dos seus
discípulos (Jo 13), assumindo o papel de servo, mesmo sendo o grande Rei (Mc
10:45 e Fl 2), morrendo em nosso lugar. Dessa forma, a Bíblia nos ensina:

Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a


liberdade para dar ocasião à vontade da carne; pelo contrário, sirvam
uns aos outros mediante o amor. (Gl 5:13).

A ideia de servir uns aos outros parece ser um grande problema para os
cristãos modernos. Mas, esse é um mandamento que continua vivo nas
sagradas Escrituras. John Stott (1969, p. 87) já ensinava o seguinte: “certamente
sem algum serviço ou mobilização de ordem prática, a comunhão de qualquer
grupo cristão está mutilada”.

47  
 
 
 
 
O Dr. Stott está certo! Não podemos falar em comunhão no corpo, em
unidade no corpo, se não tivermos a capacidade de servir uns aos outros de
forma totalmente voluntária e despretensiosa.

c) Levar o fardo uns dos outros – a vida, desde a queda no Éden, é


repleta de desequilíbrios, algumas pessoas com muito, outras com pouco. As
diferenças de oportunidades são latentes. Assim, o Senhor nos faz perceber a
partir de sua palavra que é necessário ajudar uns aos outros a superar as
dificuldades e as intempéries.
Na sua carta aos Gálatas, Paulo ensina: “Levem os fardos pesados uns
dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo” (Gl 6:2). Essa é, e sempre será,
uma das marcas registradas da verdadeira Igreja de Cristo, a disponibilidade
para ajudar o próximo, sem nenhuma intenção de retorno.

d) Perdoar uns aos outros – o perdão é parte fundamental do


comportamento de um Cristão. Isso verdadeiramente é uma característica da
conversão e da salvação da alma. Um cristão que não perdoa, não pode ser
perdoado por Deus (Mt 6:15). Por isso, esse mandamento está tão presente no
Novo Testamento, inclusive na oração que o próprio Cristo nos ensinou, quando
Ele diz: “perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos
devedores” (Mt 6:13).
Veja, no quadro a seguir, algumas das principais passagens do Novo
Testamento que nos ordenam o perdão genuíno em favor de todos aqueles
que nos ofenderam:

Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de


maneira digna da vocação que receberam. Sejam
completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes,
Paulo Ef 4:1-3
suportando uns aos outros com amor. Façam todo o
esforço para conservar a unidade do Espírito pelo
vínculo da paz.
Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e
calúnia, bem como de toda maldade.
Paulo Ef 4:31-32
Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros,
perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou
48  
 
 
 
 
vocês em Cristo.
Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e
amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade,
humildade, mansidão e paciência. Cl 3:12-
Paulo
Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que 13
tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor
lhes perdoou.

Esses versículos nos ensinam que, mesmo que a Igreja tenha um alto grau
de comunhão verdadeira, sempre haverá irmãos e irmãs imperfeitos, como
nós, para serem perdoados. E que nós mesmos sempre cometeremos erros que
precisarão do perdão de outras pessoas. Assim, é necessário que no Corpo de
Cristo haja, também, reciprocidade na disposição para perdoar.

e) Confessar nossos pecados uns aos outros – a confissão de pecados é


terapêutica e pode funcionar para duas coisas: 1) para nos policiar, isso
mesmo, ao confessar nossos pecados a alguém em quem confiamos, teremos,
supostamente, mais dificuldade de voltar a cometer o mesmo pecado, pois
agora temos a quem prestar contas de nossa vida; 2) para que recebamos
apoio em oração e que os efeitos espirituais dos nossos erros sejam suplantados
pela força da fé e da súplica diante de Deus.
Tiago, o irmão de Jesus, nos ensina assim: “confessem os seus pecados
uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um
justo é poderosa e eficaz” (Tg 5:16).
Observação: não há como relacionar esse mandamento à doutrina da
confissão da Igreja Católica, pois, em primeiro lugar, trata-se de um
mandamento recíproco, onde as pessoas devem ter mutualidade na sua
confissão e não confessar a uma autoridade. Em segundo lugar, a confissão
aqui não tem caráter punitivo, nem penitencial, é uma confissão terapêutica.

f) Edificar uns aos outros – o conhecimento da Palavra de Deus deve se


aperfeiçoar nos nossos diálogos e nas nossas atitudes. Devemos compartilhar o
nosso conhecimento acerca das Escrituras e, também, usar o sábio
conhecimento para admoestar os irmãos quando eles cometerem pecados.
49  
 
 
 
 
Da mesma forma, devemos ter corações e mentes ensináveis a fim de que
possamos receber ensinamentos e admoestações dos nossos irmãos.
Na carta aos Romanos, Paulo demonstra sua confiança nos crentes da
cidade de Éfeso, pois sabe que os que ali participam da igreja do Senhor são,
de fato, convertidos e conhecedores da Palavra, por isso ele escreve: “Meus
irmãos, eu mesmo estou convencido de que vocês estão cheios de bondade e
plenamente instruídos, sendo capazes de aconselhar-se uns aos outros” (Rm
15:14).
Na igreja de Tessalônica, esse comportamento já era praticado pelos
cristãos que ali congregavam, mesmo assim, Paulo insiste na instrução, dizendo:
“exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo”
(I Ts 5:11). O motivo da sua insistência está nos versículos anteriores: a salvação
em Cristo (v.9) e a união eterna com Deus (v.10).
Assim, podemos concluir que a edificação das nossas mentes, por meio
da Palavra de Deus, é o ato de provocar crescimento espiritual e
desenvolvimento da nossa relação com o Pai. Em um diálogo com os fariseus,
Jesus, questionado sobre especulações de casamento no céu, responde que
os fariseus cometem engano por que não conhecem as Escrituras, nem o
poder de Deus (Mt 22:29). O contexto nos mostra que sem o pleno
conhecimento das Escrituras e do poder de Deus, não seremos capazes de
compreender, realmente as coisas espirituais.

g) Consolar uns aos outros – a compaixão e o amor ao próximo marcam


o coração cristão. Na cidade de Tessalônica, aparentemente, houve alguns
óbitos de irmãos da congregação cristã. Paulo se comove com o sofrimento
dos irmãos da igreja e lhes ensina sobre a doutrina da ressurreição, consolando-
os com a viva esperança de que Cristo trará de volta todos os que nele
dormem. Então, faz uma recomendação a todos: “consolem-se uns aos outros
com essas palavras” (I Ts 4:18).
Aqui, encontramos o conhecimento da sã doutrina sendo utilizado para
confortar os corações aflitos que choravam a morte dos seus entes queridos. Os

50  
 
 
 
 
dois últimos mandamentos recíprocos estão em ação, mostrando a sua
utilidade no Reino de Deus.

4.4 A Grande Comissão16

A Grande Comissão é um dos temas fundamentais do Novo Testamento.


Essa é a ordem suprema de Jesus Cristo para a sua Igreja. A obediência
irrestrita ao “ide” do Senhor é a nossa maior responsabilidade no que diz
respeito à manutenção e vida da Igreja.
É impossível discutir a responsabilidade dos cristãos na comunhão da
igreja sem esclarecer também que parte de sua atividade deve ser
direcionada para o mundo. Gene Getz observa isso em sua referência à saúde
e vitalidade da Igreja:

Os cristãos precisam de três elementos vitais para se tornarem cristãos


maduros. Eles precisam de um bom ensino bíblico que lhe dê segurança
espiritual e teológica; eles precisam de relacionamentos profundos e
gratificantes tanto uns com os outros como com Jesus Cristo; e precisam
ver pessoas indo a Jesus como resultado do testemunho individual e
coletivo para o mundo não cristão. (GETZ, 1974, p. 80)

A Igreja não existe para a satisfação de seus membros. Estamos no


mundo para prestar testemunho da graça de Deus em Cristo. Somos a [...]
“geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para
anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (I Pe 2:9).
O equívoco mais comum que os cristãos cometem nesse ponto é admitir
a importância da Grande Comissão, porém atribuí-la apenas ao trabalho dos
que são especificamente preparados para ela: os missionários. Alguns são
chamados à obra missionária como uma vocação especial, mas testemunhar
de Cristo não cabe só a estes: é dever de todo cristão.

                                                                                                                       
16Adaptado de BOICE, J. M. Fundamentos da fé cristã. Um manual de teologia ao alcance de
todos. Rio de Janeiro: Ed. Central, 2011.
51  
 
 
 
 
A aceitação dessa responsabilidade foi um fator decisivo na expansão
impressionante da Igreja primitiva. Não foram apenas Paulo e outros líderes que
levaram o evangelho aos confins mais longínquos do mundo romano. Pelo
contrário, pessoas anônimas, como você e eu, participaram efetivamente
desse crescimento.
Mas, não era apenas a Igreja primitiva que precisava do cumprimento
dessa ordem. A Igreja, nos dias atuais, ainda, depende largamente dos
esforços de cada cristão para a propagação da Palavra de Deus e do vívido
testemunho de Cristo.

4.4.1 A grande ordem do homem-Deus

Jesus Cristo desafia diariamente cada cristão da terra a deixar o seu


conforto, arriscar a sua vida, para levar o evangelho a todas as pessoas,
inclusive aquelas que nos ridicularizam, que nos causam repulsa, ou que nos
amedrontam. Evangelizar é o grande mandamento divino. Toda a vida cristã é
uma preparação para a pregação do Evangelho a toda criatura.
Esse mandamento, conhecido como a Grande Comissão, é encontrado
cinco vezes no Novo Testamento: uma vez em cada um dos evangelhos e
outra em Atos dos Apóstolos. Não é possível minimizar a importância de um
mandamento mencionado tantas vezes e de maneiras tão claras.
Em cada inserção, a ênfase da Comissão da igreja é um pouco
diferente, o que nos convida a estudá-la e refletir sobre ela sob diferentes
ângulos. Em Marcos, a ênfase é no Juízo Final.

E disse-lhes: "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as


pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será
condenado” (Mc 16:15-16).

Em Lucas, a ênfase está no cumprimento da profecia:

Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as


Escrituras. E lhes disse: "Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e
ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado
o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações,
começando por Jerusalém” (Lc 24:45-47).
52  
 
 
 
 

No relato de João, Jesus colocou o plano de Deus no contexto de Sua


própria missão pelo Pai: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio” (Jo 20:21b).
Em Atos, o mandamento está vinculado a um projeto para a
evangelização do mundo:

Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e


serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria,
e até os confins da terra (At 1:8).

A declaração mais conhecida da diretriz pessoal de Jesus Cristo a todos


os Seus seguidores está em Mateus, onde a ênfase recai sobre a autoridade de
Cristo:

Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a


autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu
estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos" (Mt 28:18-20).

Nessas quatro passagens, independentemente da ênfase da mensagem


que cada autor lhe dá, a ordem é uma só: evangelizar o mundo. Jesus não
apenas nos manda evangelizar, Ele nos diz, também, como fazê-lo. Primeiro,
devemos fazer discípulos de todas as nações. Temos a obrigação de pregar o
evangelho a eles, de forma que pelo poder das Escrituras e do Espírito Santo
eles se convertam de seus pecados e entreguem-se a Cristo, passando a segui-
lo como seu Senhor.
O evangelismo é a primeira e óbvia tarefa nessa Comissão. Por outro
lado, sem o que vem depois dele, o evangelismo perde muito de seu sentido.
Jesus foi em frente para dizer, em segundo lugar, que aqueles que são
seus devem conduzir seus convertidos ao ponto de serem publicamente
batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E esse batismo isso
significa duas coisas: 1) o total comprometimento de coração com Jesus como
Salvador e Senhor deve tornar-se público; 2) o novo cristão está agora se
unindo à Igreja, o Corpo visível de Jesus Cristo.
53  
 
 
 
 
Por fim, Jesus instruiu os que levam à frente a Sua Comissão para que
ensinem aos outros tudo que Ele lhes tem ensinado. Uma vida inteira de
aprendizado segue à conversão e à adesão à Igreja. A obra missionária
completa é anunciar o evangelho, ganhar vidas para Cristo, trazê-los para a
comunhão da igreja e, então, cuidar para que se tornem discípulos
aprendendo as verdades das Escrituras.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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todos. Rio de Janeiro: Ed. Central, 2011.
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São Paulo: Ed. Hagnos, 2002.
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perspectiva reformada. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 1998.
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2013.
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Books, G/L Publications, 1974.
GIRARD, R. C. & RICHARDS, L. Guia fácil para entender a vida de Jesus. Rio de
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