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Grana, glamour e gospel

RICA E LIPOASPIRADA, A BISPA SONIA ATRAI FIÉIS COM SERMÃO QUE


MISTURA DEUS, CASAMENTO E COSMÉTICOS
Na emergente constelação evangélica do país, ela é um fenômeno. Única mulher de
destaque dessas igrejas em expansão, tem um título que ainda soa estranho aos ouvidos da maioria
(bispa) e um apelido inevitável (a perua de Deus). Sonia Hernandes, líder da igreja Renascer em
Cristo, chama sacristia de camarim, usa roupas de grife e não sai sem maquiagem nem para ir à
padaria. Aos 42 anos, conseguiu realizar por linhas tortas a fantasia infantil de ser atriz e usufrui o
kit completo de celebridade televisiva: dá autógrafos na rua, tem personal stylist, mora em casa
cercada de seguranças e orgulha-se de ter o rosto estampado em revistas de famosos. Com duas
plásticas e uma lipoaspiração no currículo, é a cara, bonita e bem-cuidada, da igreja que fundou
com o marido, Estevam Hernandes, recentemente promovido de bispo a apóstolo.
Sonia comanda o quadro De Bem com a Vida, carro-chefe da Rede Gospel, o canal a cabo
da Renascer. Com uma Bíblia verde fosforescente nas mãos, entrevista personalidades
evangélicas, exibe videoclipes de bandas gospel, faz merchandising de produtos e intercede a Deus
por seus fiéis. São noventa minutos de produção sofrível e figurino impecável. Para ungir as
dezenas de cartas com pedidos de emprego, curas e marido, exibe os dedos cobertos de anéis de
brilhantes. Suas roupas ostentam grifes de estilistas famosos, como Reinaldo Lourenço, e tanto a
maquiagem quanto o cabelo são obra de salão cinco-estrelas que ela freqüenta religiosamente todos
os dias.
Nutricionista por formação, Sonia não chegou a exercer a profissão. Há alguns anos,
conseguiu estágio no Hospital das Clínicas de São Paulo e ensaiou tirar o diploma da gaveta. O
estômago delicado, no entanto, não deu conta da missão. Enjoada com os odores do ambiente,
abandonou o front no terceiro dia de trabalho. Agora, usa o conhecimento apenas em benefício
próprio: vive de dieta, já que tem pavor de retomar a silhueta rechonchuda da infância. Para
cumprir a agenda abarrotada, passa o dia beliscando uvas passas e damascos. Tem sempre uma
cesta cheia em seu "camarim", como chama o espaço reservado para ela nos fundos da sede
principal da Renascer, no bairro paulistano do Cambuci. É lá, à frente dos cultos de domingo, que
Sonia exibe sua melhor performance.
Diante de uma platéia de até 5.000 pessoas, a bispa canta, dança, dá gargalhadas, desfaz-
se em lágrimas e leva o público ao paroxismo com seu sermão heterodoxo. Entre parábolas e
versículos da Bíblia, fala, por exemplo, da importância da lipoaspiração para a saúde de um
casamento e dá um toquezinho apimentado aos conselhos sobre a multiplicação das alegrias do
sexo marital. É tudo coisa de um pragmatismo bem básico – e reside aí o principal trunfo da
Renascer. Em lugar de se limitar a apregoar o milagre da felicidade conjugal e do sucesso material
como consequência da generosidade nas oferendas materiais, conforme rezam os preceitos da
teologia da prosperidade de suas congêneres, a Renascer "reforça" a garantia do retorno celestial
ao dar dicas para obter um casamento feliz e uma carreira bem-sucedida.
Essa parte mais séria, de carreira, fica com o marido da bispa, o cabeça do casal, como ela
docemente proclama, e do empreendimento religioso conjunto. O sermão que ele ministra às
segundas-feiras é dirigido especialmente a empresários e gerentes ansiosos por alavancar seus
contracheques. A eles, o apóstolo fala da importância do pensamento positivo na conquista da
riqueza e da necessidade de manter em ordem a mesa de trabalho. Primeiro, "porque Deus não
opera no caos" e, segundo, porque "o funcionário que demora para encontrar o papel que o chefe
pediu não é candidato a promoção". É a auto-ajuda a serviço da fé. Não por coincidência, um dos
autores de cabeceira do apóstolo é Norman Vincent Peale, um dos papas dos best-sellers de
soluções instantâneas. A si mesmo, o apóstolo Hernandes ajudou-se muito bem. Filho de um
jardineiro, trabalhou na juventude como açougueiro e vendedor. Hoje, dedicado integralmente à
igreja que fundou, ostenta estilo de vida que é o avesso do ascetismo protestante. Anda de BMW
com motorista, calça sapatos Gucci e só veste ternos sob medida da grife italiana Ermenegildo
Zegna. A bispa compartilha o gosto do marido pelo conforto. A casa de três andares em que mora,
na Chácara Klabin, Zona Sul de São Paulo, tem sete empregados, piscina, academia de ginástica
e garagem para três carros – além do BMW, um jipe Mitsubishi e um carro Palio Weekend. Agora,
só dois de seus três filhos vivem lá: Felippe, de 22 anos, e Gabriel, de 8. Fernanda, de 19, casou-
se em janeiro com o modelo Douglas Rasmussen. Além desse verdadeiro presente dos céus,
ganhou festa de princesa, com bufê para 1.000 convidados e lua-de-mel no Taiti. Fernanda
(chamada a patricinha de Deus, e o que mais poderia ser?) já segue os passos da mãe, apresentando
um programa na emissora da família. No mês que vem, promete estrear um segundo, baseado no
"Bom Encontro", uma das boas idéias da Renascer: culto especial para solteiros e solteiras em
busca de um par (e, se dali se partir para o encontro propriamente dito, a igreja também vende a
lembrancinha que o rapaz educado leva para a moça).
Ser rico é bom e Deus quer que seus filhos sejam felizes, diz a bispa, ao resumir os
princípios doutrinários que abençoam seu estilo de vida. "Deus deseja o nosso bem. Ele deseja o
nosso sucesso", proclama. E quem é ela para contrariá-Lo? Entre os prazeres dos quais Sonia
desfruta sem culpa estão as freqüentes viagens ao exterior. Sempre que visita Israel, aproveita para
"dar uma esticada pela Europa". Esticada vai, esticada vem, já conhece mais de dez países do
continente, sem contar Japão, Egito, Austrália e Coréia do Sul. Quando Sonia não está no exterior,
ela e o marido alternam os fins de semana entre a casa de praia na Riviera de São Lourenço, no
litoral norte de São Paulo, e o sítio em Mairiporã.
A vida já foi mais dura para os Hernandes. Quando se casaram, ela aos 19 anos, ele aos 23,
foram morar em um pequeno apartamento no bairro da Vila Olímpia. Hernandes estudava
administração de empresas e trabalhava em uma indústria de ferramentas. Sonia fazia faculdade e
ajudava nas despesas da casa administrando a butique de uma tia, que funcionava no interior de
um salão de beleza de clientela popular no bairro do Campo Belo. "Comprava peças dos camelôs
cariocas e revendia lá dez vezes mais caro", relembra, com a leveza de quem deixou essa fase para
trás há muito tempo.
Em meados dos anos 80, Hernandes ficou desempregado. Aos problemas financeiros do
casal, somou-se uma séria crise conjugal. Sonia conta que mergulhou em uma depressão tão
profunda que chegou a planejar o suicídio e a morte dos três filhos. Diz que foi salva por Deus.
"Nos reaproximamos da igreja e Cristo não só me tirou das trevas como prosperou o Estevam de
tal maneira que ele chegou a gerente de marketing de uma multinacional", enumera. Reconstituído,
o casal investiu na recuperação de jovens drogados com a ajuda do rock gospel, cuja introdução
no Brasil o apóstolo reclama. A Renascer surgiu a partir daí. Começou em reuniões numa pizzaria,
expandiu-se para a sede de um templo tomado emprestado e estabeleceu-se de vez com a aquisição
de um antigo cinema no bairro do Cambuci, doação de um empresário.
Hoje, são 600 templos fincados em território nacional. Incipiente até há poucos anos, a
Renascer já disputa palmo a palmo com a Internacional da Graça de Deus o segundo lugar no
ranking das novas igrejas evangélicas surgidas a partir da explosão da Universal do Reino de Deus
– que mantém o posto de primeiríssima da categoria. A rapidez da emergência deve-se, sobretudo,
ao método que o apóstolo Hernandes diz ter extraído da Bíblia, batizando-o de GCD, Grupos de
Comunhão e Desenvolvimento. Por essa espécie de sistema de franquia, cada fiel é estimulado a
constituir o próprio grupo de orações, reunindo vizinhos e amigos em casa. Enquanto se empenha
para que o núcleo cresça, presta contas a um "supervisor espiritual" da igreja, que tem por função
evitar desvios, tanto de rebanho quanto de caixa. Quando o grupo alcança proporções de uma
miniparóquia, entra em cena um pastor enviado pela sede, que assume o templo-embrião.
Em treze anos de existência, calcula o apóstolo Hernandes, a Renascer já conquistou 3
milhões de almas. O sociólogo Ricardo Mariano duvida. Para o especialista, autor do
livro Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil, a Renascer, mesmo com
seu fenomenal crescimento, ainda não congrega 100.000 seguidores. Ainda. Como na maior parte
das igrejas a proporção de fiéis é de cerca de seis mulheres para cada quatro homens, Hernandes
sabe que tem um trunfo poderoso nas mãos: sua mulher, por afinidade de gênero e pela empatia
natural, sai na frente na disputa do mercado religioso pelo rebanho feminino. Lisonjeada, Sonia
aceita a missão: "Tenho um carinho especial pelas mulheres. Sinto-me em dívida com elas porque
a mim Deus já deu muito". Pura modéstia da bispa. Quem já a viu em ação aposta que seu crédito
celestial ainda está bem longe de se esgotar.

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