Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Exercı́cios Resolvidos
Variedades
Mostre que M é uma variedade, indicando explicitamente parametrizações cujas imagens cubram
M. Determine a dimensão de M.
z
M
PSfrag replacements
y
ρ = 1; 0 < z < 1.
7π
g1 (θ, z) = (cos θ, sen θ, z), (θ, z) ∈ V1 = 0, × ]0, 1[
4
3π
g2 (θ, z) = (cos θ, sen θ, z), (θ, z) ∈ V2 = −π, × ]0, 1[ .
4
É claro que as colunas desta matriz são linearmente independentes. Portanto, g 1 e g2 são
parametrizações e M = g1 (V1 ) ∪ g2 (V2 ), ou seja, g1 (V1 ) e g2 (V2 ) cobrem M.
Assim, M é uma variedade de dimensão 2.
1
z z
g1 (V1 ) g2 (V2 )
y y
x g1 (V1 ) x
g2 (V2 )
PSfrag replacements M 1
1
2
y=x
0 x
y
y=x
p
Figura 3: A variedade M = {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 ; 1 < z < 2 ; 0 < y < x}
2
De facto, a função g é de classe C 1 , injectiva e a respectiva derivada
−z sen θ cos θ
Dg(θ, z) = z cos θ sen θ
0 1
z
M
PSfrag replacements
~n
y
x
F (x, y, z) = x2 + y 2 − z 2 − 1.
M = {(x, y, z) ∈ R3 : F (x, y, z) = 0}
3
Em coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, z) a variedade M é dada pela equação ρ 2 = z 2 +1. Assim,
consideremos as funções g : T → R3 e h : S → R3 definidas por
p p
g(θ, z) = (( z 2 + 1) cos θ , ( z 2 + 1) sen θ , z)
p p
h(θ, z) = (( z 2 + 1) cos θ , ( z 2 + 1) sen θ , z)
sendo
T = {(θ, z) : 0 < θ < 2π ; 0 < z < 2}
S = {(θ, z) : −π < θ < π ; 0 < z < 2}.
Estas duas funções são de classe C 1 , injectivas e as respectivas derivadas são representadas
pela mesma matriz √
−( z 2 + 1) sen θ (√zz2 +1) cos θ
√
( z 2 + 1) cos θ √ z sen θ
( z 2 +1)
0 1
que tem caracterı́stica igual a dois, ou seja, as duas colunas são linearmente independentes.
Note-se que
g(T ) = M \ {(x, y, z) : y = 0 ; x ≥ 0}
h(S) = M \ {(x, y, z) : y = 0 ; x ≤ 0}
e, portanto, M = g(T ) ∪ h(S), o que quer dizer que g e h parametrizam M.
É de salientar que para o cálculo de integrais sobre M, nomeadamente o cálculo da área,
basta considerar a função g porque o conjunto M \ g(T ) é apenas uma linha.
√ √
b) Dado que g( π2 , 1) = (0, 2, 1), o espaço tangente a M no ponto (0, 2, 1) é gerado pelas
colunas da matriz √
− 2 √0
π 2
Dg( , 1) = 0
2 2
0 1
ou seja √
√ 2
T(0,√2,1) M = {( 2 α, β, β) : α, β ∈ R}
2
e, portanto, é o plano dado pela equação
√
2
y= z.
2
√
O espaço normal a M no ponto (0, 2, 1) é gerado pela linha da matriz
√ √
DF (0, 2, 1) = 0 2 2 −2
ou seja √
T(0,√2,1) M ⊥ = {α(0, 2 2, −2) : α ∈ R}
e, portanto, é a recta dada pelo sistema de equações
x = 0
√
y = − 2 z.
√
Na √Figura 4 encontra-se representado o vector normal ~n = (0, 2 2, −2) sobre o ponto
(0, 2, 1).
4
Exercı́cio 4 Considere a variedade
y2 z2
M = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + + = 3}.
4 9
Descreva M parametricamente e determine a respectiva dimensão. Determine o espaço tangente
e o espaço normal a M no ponto (1, 2, 3).
Resolução: O conjunto M é um elipsóide e pode ser descrito como o conjunto das soluções da
equação
y2 z2
F (x, y, z) = x2 + + − 3 = 0.
4 9
F é uma função de classe C 1 e a respectiva derivada, representada pelo seu gradiante
y 2z
∇F (x, y, z) = 2x, , ,
2 9
só se anula na origem. Mas F (0, 0, 0) 6= 0 e, portanto, M é uma variedade-2.
M P
PSfrag replacements
t1
L
t2
x y
y2 z2
Figura 5: O elipsóide M = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + 4 + 9 = 3}
5
do elipsóide) e, portanto, g constitui uma parametrização do conjunto M \ L, em que L é a linha
definida por
L = {(x, y, z) ∈ R3 : y = 0 ; x ≥ 0}.
Para parametrizarmos vizinhanças dos pontos da linha L bastaria repetir o mesmo procedi-
mento, mas definindo novos intervalos para os ângulos θ e φ.
Uma base do espaço tangente a M no ponto (1, 2, 3) é dada pelas colunas da matriz Dg(θ, φ)
em que (θ, φ) é tal que g(θ, φ) = (1, 2, 3).
Sendo g(θ, φ) = (1, 2, 3), obtemos
1
cos φ = √
3
1
sin θ = √
2
√
2
sin φ = √
3
1
cos θ = √
2
e, portanto,
√1
−1 2
√
Dg(θ, φ) = 2 2 .
√
0 −3 2
√ √
Assim, os vectores t1 = (−1, 2, 0) e t2 = ( √12 , 2, −3 2) formam uma base do espaço tangente
a M no ponto (1, 2, 3).
O plano tangente a M em (1, 2, 3) será então o conjunto
1 √ √
P = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y, z) = (1, 2, 3) + a(−1, 2, 0) + b( √ , 2, −3 2) ; a, b ∈ R}.
2
O espaço normal nesse ponto é o conjunto dos vectores (x, y, z) tais que
(x, y, z) · (−1, 2, 0) = 0
1 √ √
(x, y, z) · ( √ , 2, −3 2) = 0
2
donde se conclui que
x = 2y
2
z = y
3
Portanto, uma base do espaço normal é dada pelo vector (2, 1, 23 ).
A recta normal a M no mesmo ponto será descrita pela equação
2
(x, y, z) = (1, 2, 3) + t(2, 1, ) , t ∈ R.
3
Em alternativa, poderı́amos determinar o espaço normal a partir da derivada da função F.
De facto, o vector ∇F (1, 2, 3) = (2, 1, 32 ) gera o espaço normal a M no ponto (1, 2, 3). O espaço
tangente a M no ponto (1, 2, 3) seria o conjunto dos vectores (x, y, z) tais que
2
(x, y, z) · (2, 1, ) = 0.
3
Na Figura 5 estão representados o elipsóide M, a linha L, o plano tangente P e os vectores
tangentes t1 e t2 sobre o ponto (1, 2, 3).
6
Exercı́cio 5 Considere o conjunto
M = {(x, y, z) ∈ R3 : z + y = (z − y)2 + x2 }.
z M
PSfrag replacements
y
x
7
Logo, deveremos ter
−2x = 0 x=0
⇐⇒
1 − 2(z − y) = 0 z − y = 21 .
Exercı́cio 6 Decomponha a unidade num produto de três números positivos cuja soma seja
mı́nima.
Resolução: O problema pode ser visto como a determinação do mı́nimo da restrição da função
f : R3 → R, definida por
f (x, y, z) = x + y + z,
ao conjunto
D = (x, y, z) ∈ R3 : xyz = 1, x, y, z > 0 .
Este mı́nimo deve existir porque f é positiva e f (x, y, z) → +∞ quando k(x, y, z)k → +∞.
Seja F : R3 → R a função dada por
F (x, y, z) = xyz − 1.
F (x, y, z) = 0.
Portanto, os extremos de f ao longo de D podem ser determinados pelo método dos multipli-
cadores de Lagrange:
1 = λyz
∇f = λ∇F 1 = λxz
(
⇔
F =0
1 = λxy
xyz − 1 = 0
D = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 ≤ 1}.
8
Resolução: Note-se que D = U ∪ S, em que
F (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 − 1.
Sendo f uma função contı́nua e D um subconjunto compacto (limitado e fechado) e não vazio
do seu domı́nio, f tem máximo em D.
Dado que Df (x, y, z) = (1, 1, 1), a função f não tem pontos crı́ticos em U (interior de D).
Resta-nos, assim, determinar os extremos de f sobre a variedade S (fronteira de D). Para tal,
usemos o método dos multiplicadores de Lagrange que consiste em determinar os pontos crı́ticos
da função g = f + λF, ou seja, determinar as soluções do sistema
1 + 2λx = 0
Dg(x, y, z) = 0 1 + 2λy = 0
⇐⇒
F (x, y, z) = 0 1 + 2λz = 0
2
x + y2 + z 2 = 1
1
É claro que x = y = z = − 2λ .
Dado que x + y + z = 1, obtemos x = y = z = ± √13 .
2 2 2
f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2
F (x, y, z) = (z − x2 − y 2 , x + z − 1).
Então, a intersecção do plano com o parabolóide é o conjunto em que F (x, y, z) = (0, 0).
A derivada
−2x −2y 1
DF (x, y, z) =
1 0 1
tem caracterı́stica igual a dois em todos os pontos da intersecção. Portanto, a intersecção do plano
com o parabolóide é uma variedade de dimensão um em R3 e encontra-se representada na Figura
7.
Assim, pretendemos determinar os pontos de mı́nimo de f e que pertencem à variedade dada
pela equação F (x, y, z) = (0, 0).
9
z
PSfrag replacements
M x
10
Exercı́cio 9 Uma partı́cula desloca-se em R3 sobre o parabolóide de equação z = x2 + y 2 e sob
acção do potencial V (x, y, z) = x2 − y 2 + z + sen y.
Determine os pontos do parabolóide que são pontos de equilı́brio.
Resolução: Um potencial V determina uma força f = ∇V. Como a partı́cula se move sobre o
parabolóide, os pontos de equilı́brio são aqueles em que a força f é perpendicular ao parabolóide,
de modo a que nesses pontos não haja componente da força tangente ao parabolóide. Logo o
vector ∇V é um elemento do espaço normal ao parabolóide em cada ponto de equilı́brio.
Seja F (x, y, z) = x2 + y 2 − z. Então, o parabolóide é definido pela equação F (x, y, z) = 0 e o
espaço normal em cada ponto (x, y, z) é gerado pelo vector DF (x, y, z).
Portanto, deverá existir um escalar λ tal que ∇V = λDF para cada ponto em que se verifica
a equação F (x, y, z) = 0, ou seja, para determinar os pontos de equilı́brio teremos de resolver o
sistema
2x = 2λx x=0
∇V = λ∇F
(
⇔ − 2y + cos y = 2λy ⇔ cos y = 0
F =0
1 = −λ λ = −1
M = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 = y 2 + z 2 ; 2x + z = 2}
Resolução:
1. Seja F : R3 → R2 a função definida por
11
Uma vez que o sistema 2
x = y2 + z 2
2
x = z2
2x + z = 2 z = − 32
⇐⇒
x = −2z
x = 34
y=0 y=0
não tem soluções, concluimos que DF tem caracterı́stica 2 em todos os pontos de M. Portanto
M é uma variedade cuja dimensão é dada por dim(M ) = 3−2 = 1 e encontra-se representada
na Figura 8.
y
PSfrag replacements x
M
2. As linhas da matriz DF (1, 1, 0) formam uma base para o espaço normal no ponto (1, 1, 0).
Isto é ⊥
T(1,1,0) M = {α(2, −2, 0) + β(2, 0, 1) : α, β ∈ R}.
O espaço tangente tem dimensão 1 e é gerado pelo produto externo
e, portanto, é o conjunto
O plano normal à curva M é o plano paralelo ao espaço normal que contém o ponto (1, 1, 0).
É, portanto, o plano com equação paramétrica
Equivalentemente, sendo (−2, −2, 4) um vector tangente a M no ponto (1, 1, 0), o plano
normal é dado pela equação cartesiana
(x − 1, y − 1, z) · (−2, −2, 4) = 0 ⇐⇒ x + y − 2z = 2.
12
A função f é diferenciável e, portanto, pelo método dos multiplicadores de Lagrange, os
respectivos máximos e mı́nimos são os pontos que satisfazem o seguinte sistema:
2 2 2 2 2 2
∂
∂x x + y + z + λ1 (x − y − z ) + λ2 (2x + z − 2) = 0
∂
x2 + y 2 + z 2 + λ1 (x2 − y 2 − z 2 ) + λ2 (2x + z − 2) = 0
∂y
∂
x2 + y 2 + z 2 + λ1 (x2 − y 2 − z 2 ) + λ2 (2x + z − 2) = 0
∂z
x2 = y 2 + z 2
2x + z = 2
que equivale a
2x + 2λ1 x + 2λ2 = 0
2y(1 − λ1 ) = 0
2z − 2λ1 z + λ2 = 0
x2 = y 2 + z 2
2x + z = 2
Se λ1 = 1 obtém-se o sistema
x=0
λ1 = 1
λ2 = 0
0 = y2 + z2
z=2
cujas soluções são os pontos: ( 32 , 0, 23 ) e (2, 0, −2). São estes os únicos candidatos a pontos
de máximo ou de mı́nimo.
Uma vez que M é um conjunto limitado e fechado e f é contı́nua, o Teorema de Weierstrass
garante que f tem um máximo e um mı́nimo sobre M.
Sendo f ( 23 , 0, 32 ) = 89 e f (2, 0, −2) = 8, conclui-se que (2, 0, −2) é o ponto de M mais
afastado da origem e ( 32 , 0, 23 ) é o ponto de M mais próximo da origem.
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