Francisco Pinto
Universidade do Algarve – Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo. Professor
convidado
fjsimoespinto@sapo.pt
2016. Começa por identificar as iniciativas mais importantes que terão contribuído para a
evolução e desenvolvimento do BSC. Faz depois uma interpretação das tendências atuais, com
base nessas iniciativas. A partir das tendências traçam-se, em seguida, dois cenários sobre as
organizações portuguesas poderão retirar benefícios futuros dos mesmos. Por último,
investigações, no contexto do BSC, que poderão trazer novas abordagens para a prática da
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1. Contexto
O Balanced Scorecard (BSC) foi criado em 1992 por Robert Kaplan e David Norton. O
conceito tornou-se conhecido, pela primeira vez, através do artigo The Balanced Scorecard
fevereiro de 1992. Desde então, e ao longo dos últimos vinte e cinco anos, (1992-2017) a
metodologia evoluiu e transformou-se num sistema com capacidade para apoiar todas as
que representa a estratégia organizacional num conjunto de objetivos distribuídos por quatro
Scorecard – relações de causa efeito. O BSC é um modelo de fácil captação. Todavia, uma
organizações.
Nos últimos dez anos (2008 – 2017) ocorreram grandes mudanças nas organizações a nível
manteve estável: qualquer organização continua nos dias de hoje a necessitar de executar a
sua estratégia e perceber, em cada momento, se está a evoluir na direção das metas que
fixou na visão e missão. O BSC tem sido reconhecido como uma das metodologias com
estratégia organizacional.
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O desenvolvimento do BSC tem sido conseguido através de iniciativas realizadas por uma
iniciativas executadas ao longo dos últimos vinte e cinco anos em dois grupos:
períodos distintos. O primeiro, entre 1992 e 1999. O segundo, entre 2000 e 2008. O terceiro,
entre 2009 e 2017. Na presente comunicação analisam-se estes três horizontes temporais,
com base nos quais, e considerando algumas tendências recentes, serão desenhados cenários
acerca do que poderá vir a ser a prática do BSC nos próximos anos, quer a nível
responder à questão de partida, que dá título à comunicação – “Vinte e cinco anos depois:
- Contexto
- Épocas de desenvolvimento
- Tendências e cenários
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O BSC teve uma aceitação bastante rápida logo após a publicação do primeiro artigo em
medir a sua performance, tentando incorporar um aspeto inovador na altura – a medição dos
ativos intangíveis. Nos anos seguintes a rede de adeptos BSC continuou a crescer. Em 1996,
quando Kaplan & Norton publicaram o primeiro livro – The Balanced Scorecard:
O ano 2000, que coincide com o ano de lançamento do segundo livro de Kaplan & Norton
para esse desenvolvimento. No início do século XXI, o BSC já tinha sido transposto e
adaptado aos setores público e sem fins lucrativos, onde passou a ter grande aceitação.
Iremos sistematizar o desenvolvimento do BSC com base nesses dois grupos de iniciativas
antes referidos.
As várias iniciativas desenvolvidas por Kaplan & Norton, direta ou indiretamente, têm
tido desde 1992 um papel crucial na expansão do BSC. A título individual e em parceria
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os autores publicaram diversos artigos e livros. Outras iniciativas foram desenvolvidas
através da empresa Palladium Group, que Kaplan & Norton lideram há vários anos.
As publicações assinadas por Kaplan & Norton têm vindo a ser realizadas através da
editora Harvard Business School Press (HBSP) e são de três tipos: artigos, livros e uma
emprega cerca de 2.500 pessoas e envolve uma rede de mais de 35.000 especialistas.
primeiro livro publicado por Kaplan & Norton em 1996 - The Balanced
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Nos anos seguintes, Kaplan & Norton continuaram a publicar artigos onde
sucessos obtidos, boas práticas e problemas típicos que poderiam contribuir para
& Norton.
Kaplan & Norton publicaram cinco livros sobre o BSC, através da editora HBSP:
- Ano 2004, Strategy Maps: converting intangible assets into tangible outcomes.
Synergies.
Competitive Advantage.
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BSC, relato de experiências e aconselhamento aos profissionais, com base em
Report, ao longo dos doze anos, revelou-se uma iniciativa importante para o
desenvolvimento do BSC.
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implementar o BSC segundo os princípios propostos por Kaplan &
mil participantes.
O prémio Balanced Scorecard Hall of Fame for Executing Strategy foi criado
integrou o grupo dos dez premiados. A criação do Hall of Fame constituiu outra
iniciativa de relevo, que tem contribuído para manter vivo o BSC, dando-lhe
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Philippine Navy Filipinas Marinha
Para além das iniciativas de Kaplan & Norton, que acabámos de referir, o
desenvolvimento do BSC tem vindo a ser realizado através de uma rede mundial de
Consultores
Desenvolvimento de software
2.2.1. Implementadores
do mundo, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, foram o verdadeiro motor
performance organizacional.
Não existem estatísticas ou outras fontes de dados que indiquem com rigor o
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implementado em milhares de organizações, destacando-se as de grande
2.2.2. Consultoria
Nos primeiros anos do BSC não existia software específico. O recurso a folhas
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fornecedores, recursos humanos e outros. Quando o software BSC não tinha essa
A evolução digital mudou completamente este cenário. Hoje, a maior parte dos
softwares BSC desceram bastante e não faz qualquer sentido, mesmo numa
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Autores:
2002 25 2010 80
2003 48 2011 60
2004 36 2012 80
2007 55 2015 81
2008 75 2016 82
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Totais 340 710
Médias ano 43 89
Investigadores e formadores:
mundo, que constituem outro grupo de adeptos BSC absolutamente crucial para
o sucesso da metodologia.
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outras pós-graduações. A formação BSC, não associada diretamente a projetos
desenvolvimento da metodologia.
3. Épocas de desenvolvimento
A análise dentro de cada período baseia-se nos dois tipos de iniciativas antes abordadas: 1)
Nestes primeiros oito anos, as iniciativas mais importantes de Kaplan & Norton foram:
no seguinte:
No início foram apenas empresas do setor privado. Alguns anos depois surgiram as
primeiras tentativas de aplicação aos setores público e privado sem fins lucrativos.
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- A consultoria e a formação BSC desenvolveram-se como um novo segmento no setor
softwares BSC.
o tema, que começou a ser alvo de debate frequente em diferentes eventos, quer de
fundamentais, com particular destaque para o livro Strategy Maps (2004). Os mapas da
Houve uma forte adesão dos serviços públicos e do setor sem fins lucrativos.
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- Registou-se também um aumento assinalável da investigação, publicação e formação
Neste segundo período (2000-2008) a teoria BSC ficou mais completa e consistente,
- Neste terceiro período, os autores publicaram menos artigos que nos anos anteriores.
Depois de 2008 não publicaram qualquer livro. Coincidindo com o início da crise
suportam a metodologia.
- O reconhecimento anual Hall of Fame aparenta, nos últimos anos, uma tendência de
redirecionou a sua missão, a partir de 2015, para um novo conceito de gestão estratégica
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b) Iniciativas de outros adeptos BSC
- Não se notou neste terceiro período de desenvolvimento do BSC, ou pelo menos não
veio a público, que tenha havido grande crescimento nas implementações. O facto de
a newsletter BSC Report ter cessado a publicação em 2012, pode ter contribuído para
- Por outro lado, acreditamos que a crise financeira e a contenção de custos possam ter
contribuído para algum abrandamento nas implementações, com impacto também nas
- Quanto a novos livros BSC publicados, de acordo com o Quadro 2 antes apresentado,
é credível que tenha havido um elevado crescimento, talvez na ordem dos 100%.
Destacam-se três livros. Primeiro, The Balanced Scorecard Institute Way – Simplify
Strategic Planning & Management with the Balanced Scorecard (2013), um manual
for Learning Organizations – Building Agility into Your Balanced Scorecard (2011),
to Strategy Execution (2014) de Paul Niven, um autor com vários manuais publicados,
(ver bibliografia) faz um ponto da situação interessante sobre a evolução do BSC, com
- No que respeita a outras publicações BSC, a avaliar pelos dados constantes no Quadro
poderá ter registado alguma quebra como consequência da crise financeira. Já a nível
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abordagem BSC, com forte incidência no ensino baseado em trabalhos práticos de
4. Tendências e Cenários
A evolução das iniciativas BSC, desenvolvidas nos últimos anos e abordadas no ponto 3,
evolução do Balanced Scorecard nos próximos anos. Neste ponto apresentamos duas
Kaplan & Norton assumiram desde a criação do BSC o papel de mentores ou, se
BSC, comparativamente com prática que haviam seguido nos anos anteriores (2001-
2008). Assim:
artigos, mas principalmente nos livros, cuja última publicação ocorreu em 2008.
relativamente aos anos anteriores. Entre 2012 e 2015 a média anual de prémios
atribuídos tinha sido 14. Em 2016 foram premiadas apenas 5 organizações (Quadro 1).
As razões dessa descida podem ser várias: menor interesse das organizações em se
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a implementaram o BSC, seguindo rigorosamente os princípios propostos por Kaplan
- A Palladium Group, que tem sido a estrutura de apoio às iniciativas de Kaplan &
Anteriormente o principal enfoque da empresa era muito claro: estava direcionado para
visto com um sistema de gestão para ligar a estratégia às operações. A partir de 2015 a
OUR PURPOSE
Palladium is a global leader in the design, development and delivery of Positive Impact
– the intentional creation of enduring social and economic value. We work with
corporations, governments, foundations, investors, communities and civil society to
formulate strategies and implement solutions that generate lasting social,
environmental and financial benefits.
Fonte: http://thepalladiumgroup.com/who/our-purpose
metodologia BSC, como se referiu. Quer se trate de organizações que utilizam o BSC
há algum tempo, quer as que estejam a iniciar a implementação, ou mesmo outras que
implementações, faltam-nos dados fiáveis, como também se referiu. Para colmatar esta
onde vai o Balanced Scorecard?”, optámos por uma análise macro das organizações,
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recente da consultora Deloitte: Global Human Capital Trends - Rewriting the Rules for
the Digital Age (Deloitte, 2017), que reforça a perceção de que todas as organizações,
muito rapidamente. Este avanço cria inovação, transforma os estilos de vida das
ritmo de mudança, nesta verdadeira revolução digital, as organizações têm que repensar
grande parte dos sistemas e processos que utilizam: modelos de negócio, estratégias,
necessário desenhar uma nova organização”. Hoje ouve-se: “temos que construir,
Este cenário de mudança global irá alterar a forma como as organizações gerem a
execução das suas estratégias. Significa que o papel do Balanced Scorecard, tal como
o vimos durante o último quarto de século, poderá ter que mudar também. As mudanças
de posicionamento, já demonstradas por Kaplan & Norton nos últimos anos, revelam
como que um compasso de espera em relação a algo que está para acontecer, e talvez
possam querer antecipar uma viragem na forma como as organizações irão interpretar
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Com base na análise das tendências descritas nas alíneas anteriores, construímos dois
cenários globais sobre a evolução do BSC no próximo ciclo de oito anos (2018-2025):
suas estratégias (performance management) em ciclos cada vez mais curtos, recorrendo
o BSC desde que foi inventado em 1992: equilíbrio entre os quatro pilares – missão,
- Significa, neste cenário, que a essência do BSC – o equilíbrio – terá sido incorporada
mencionado. Os líderes das organizações do futuro não dirão: “usamos o BSC para
transformar-se-á num pano de fundo quase transparente. Não se fala nele, mas está lá.
digital. Muitos desses líderes poderão até nem dominar os conceitos originais do BSC
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e a sua história. Como tal, é possível que não associem a lógica do equilíbrio (balanced)
usada diariamente nas suas organizações para gerir a performance, a uma metodologia
poderão ter antecipado este tipo de cenário. O próximo livro que publicarem talvez
BSC original, mas com importantes adaptações. Algumas das características serão:
- Para que o BSC possa assumir esse papel, haverá que realizar adaptações. Uma das
clientes.
adaptações.
- Essas e outras adaptações do BSC poderão ser iniciadas nas atuais ou futuras
organizações implementadoras. No passado foi assim que aconteceu. Kaplan & Norton
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encarregavam-se de observar, sistematizar e depois de divulgar as novas práticas
através dos artigos e livros publicados. Neste cenário 2, o papel dos autores do BSC
voltará a ser decisivo, quer através das publicações quer através de iniciativas
direcionadas para o novo modelo global das organizações. A publicação de novo livro
da autoria de Kaplan & Norton, contendo essa nova abordagem, iria ser bem-recebido
empresas. Existem estudos sobre essa prática. O artigo de Saraiva e Alves (2016) inclui
um quadro síntese contendo dados obtidos a partir de estudos realizados em 2000, 2004
apesar de algum atraso na chegada do BSC a Portugal, terá havido depois uma
Os cenários 1 e 2, antes apresentados numa perspetiva global, são válidos também para
considera-se que uma abordagem próxima do cenário 2, isto é, utilizar o BSC original
com adaptações, como metodologia central para ajudar a executar a estratégia nessas
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Nesta comunicação descreveu-se a história e o desenvolvimento do Balanced Scorecard ao
longo de vinte e cinco anos. Considerou-se que os pilares onde assentou esse
desenvolvimento foram dois tipos de iniciativas: 1) Iniciativas dinamizadas por Kaplan &
base nas quais foram construídos dois cenários sobre as hipóteses de evolução do BSC no
para o cenário 1, mas outras, talvez a maioria, possa retirar vantagens baseadas no cenário
2. Irá implicar sempre algum investimento em formação, mas acreditamos que a relação
A maior limitação que enfrentámos neste trabalho foi a impossibilidade de conhecer, ainda
que aproximadamente, quantas organizações utilizam o BSC a nível mundial. Mesmo para
a realidade portuguesa essa informação não está disponível, existem apenas indícios.
Nesta perspetiva, assumimos este trabalho como sendo de natureza exploratória, muito
acerca da implementação do BSC nas organizações. A recolha por questionário tem vários
riscos associados.
aumento dessa prática, em especial nos mestrados nas diversas vertentes da gestão.
6. Referências bibliográficas
Planning & Management with the Balanced Scorecard, The Institute Press.
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DELOITTE CONSULTING, (2017) Rewriting the Rules for the Digital Age – Global Human
KAPLAN, R.; NORTON, D. (1992): The Balanced Scorecard – Measures that Drive
KAPLAN, R.; NORTON, D. (1993): Putting the Balanced Scorecard to Work, Harvard
KAPLAN, R.; NORTON, D. (1996): The Balanced Scorecard, Harvard Business School Press,
Boston.
KAPLAN, R.; NORTON, D. (2000): Having Trouble with Your Strategy? Then Map It,
KAPLAN, R.; NORTON, D. (2004): Strategy Maps: converting intangible assets into tangible
KAPLAN, R.; NORTON, D. (2005): The Office of Strategy Management, Harvard Business
KAPLAN, R.; NORTON, D. (2006): Alignment: Using the Balanced Scorecard to Create
KAPLAN, R.; NORTON, D. (2008): The Execution Premium: Linking Strategy to Operations
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JONES, P. (2011): Strategy Mapping for Learning Organizations – Building Agility into Your
NIVEN, P. (2009): Roadmaps and Revelations: Finding the Road to Business Success on Route
SARAIVA, H.; ALVES, M. (2015): The use of the Balanced Scorecard in Portugal: Evolution
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Websites consultados:
http://thepalladiumgroup.com/who/our-purpose
http://www.balancedscorecard.org/
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