Anda di halaman 1dari 3

Resumo expandido apresentado no III Seminário Internacional de Educação do Campo e III Fórum de Educação do

Campo da Região Norte do Rio Grande do Sul: Resistência e Emancipação Social e Humana

REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS EDUCATIVAS NO CAMPO

GONÇALVES, Maria Cleonice1


VAZ PUPO, Marcelo2
1
Professora do campo e Licencianda Educação do Campo, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Dom
Pedrito, RS, mariacleonicegoncalves85@gmail.com
2
Professor Assistente na Educação do Campo - Licenciatura, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA),
Dom Pedrito, RS, marcelopupo@unipampa.edu.br

07 Trabalho e Educação e a formação dos trabalhadores e das trabalhadoras

RESUMO
Trabalho realizado em um assentamento, onde residem 20 famílias com aproximadamente 17 ha, que fez parte
do projeto Interdisciplinar V - "O trabalho como princípio educativo", realizado no 2° semestre de 2016, onde
estudamos o conceito de trabalho e apontamos alguns aspectos do mundo do trabalho de uma família como ele -
mentos com potencial formativo. Para tal objetivo foi utilizado o referencial teórico de Makarenko, pedagogo
ucraniano que enfatiza a necessidade de educar a criança pelo trabalho e de compartilhar os resultados sobre o
mundo do trabalho e suas relações com o conhecimento.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho, Educação, Conhecimento

INTRODUÇÃO

O projeto Interdisciplinar V - "O trabalho como princípio educativo", realizado no 2° semestre


de 2016 como parte da formação de professorxs do campo, levou ao conceito de trabalho e apontou as
dificuldades encontradas pelos professores e estudantes em cumprir os 200 dias letivos. Transporte, es-
tradas, chuvas, tudo contribuiu para uma realidade que conhecemos muito bem, através de 15 anos de
experiência de trabalho pedagógico no campo. Esse resumo tem o objetivo de compartilhar o resultado
de estudos feitos sobre o mundo do trabalho e suas relações com o conhecimento. Tal estudo é resulta-
do das atividades formativas do curso Educação do Campo – Licenciatura da Universidade Federal do
Pampa.
Para alcançar tal objetivo de forma embasada, utilizaremos como referencial teórico o pensa-
mento de Anton Semyonovich Makarenko (1888-1939), que foi um pedagogo ucraniano que se especi-
alizou no trabalho com menores abandonados. Makarenko teve uma infância pobre, seu pai foi operá-
rio ferroviário e sua mãe dona de casa. Quando foi matriculado em uma escola primária já havia
aprendido a ler e escrever com sua mãe. Em 1906, com um ano de conclusão do curso de magistério,
Makarenko deu sua primeira aula na Escola Primária das Oficinas Ferroviárias, onde ficou por oito
anos (MAKARENKO, 2002).
Para Makarenko, o trabalho é uma atividade social que ao nos constituir como humanos proje-
ta o potencial criativo educativo das relações sociais. Para ele, é preciso educar a criança desde cedo
para o trabalho concreto, aquele trabalho que é criado da vida, reforçando a necessidade do trabalho
produtivo como arma poderosa da educação, pois só é através do trabalho que se forma o ser humano
com caráter e com responsabilidade. A educação para o trabalho não deve ser usada como treinamento
para um trabalho assalariado, mas como resistência à dependência do trabalho (MAKARENKO,
2002). Makarenko enfatiza a necessidade de educar a criança pelo trabalho, ressaltando um método de
imposição não mecânica, isto é, ser severo de forma carinhosa, filosofia do meio termo, para que seja
despertado na criança o gosto pelo trabalho, como funciona, sentir a necessidade e utilidade usando os
modelos de caso como referência: pôr a mesa, dar comida aos animais de estimação, tirar leite, tirar o
pó, etc;
São elementos como esses da obra de Makarenko que nos ajudaram a refletir sobre a realidade
encontrada em uma família agricultora no Assentamento Vista Nova.

Anais III SIFEDOC - Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS – Erechim, 29 a 31 de março de 2017.
ISSN: 2179-3624
Resumo expandido III Seminário Internacional de Educação do Campo e III Fórum de Educação do Campo
da Região Norte do Rio Grande do Sul: Resistência e Emancipação Social e Humana

METODOLOGIA

O Assentamento Vista Nova está conjugado ao Assentamento Alto Alegre, no município de


Dom Pedrito-RS, na Campanha Gaúcha. Nos assentamentos residem 20 famílias, com aproximada-
mente 17 hectares de terra cada um. Há moradores que chegaram ao Assentamento há 26 anos, onde
começaram como todos sem-terra: morando debaixo de uma lona. Nosso estudo aconteceu com uma
dessas famílias, que tem um filho em idade escolar (escola municipal Sepé Tiaraju). A família do garo -
to é assentada e ele aprendeu a lidar observando a rotina dos pais. Os mesmo não concluíram o ensino
fundamental, mas tem um saber que os leva a produzir de maneira que eles acreditam ser o correto. A
família utiliza ferramentas simples, como a enxada e a pá, para "carpir" (tirar o pasto) e para revolver
o solo. Sempre que necessitam de alimentos para suas refeições se dirigem até a horta onde possuem
diversas variedades de legumes, raízes e frutas.
Em relação ao Assentamento — que pode ser definido como a desapropriação de determinado
latifúndio improdutivo e emissão de posse da terra pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA), órgão responsável pela formulação e execução da política fundiária nacional —,
compreendemos que é uma conquista intimamente vinculada às lutas dos movimentos sociais do cam-
po, e se a ordem social no Brasil de hoje se distingue significativamente das transformações vividas
pelos russos no pós-revolução, é em espaços como os assentamentos rurais que podemos encontrar ex-
periências sociais mais autônomas, atividades educativas que podemos correlacionar com a obra de
Makarenko.
Nesse contexto territorial, onde conversando com alguns pais anteriormente, eles acreditam
no sistema educacional, mas demonstram preocupação com o modelo urbanizado de educação utiliza-
do nas escolas do campo, onde os professores são formados dentro de uma dinâmica das cidades. O fi -
lho, de 10 anos, estuda na escola Sepé Tiaraju, chega em casa por volta das duas horas da tarde, brinca
um pouco, anda de bicicleta ou olha televisão; ele gosta de ajudar tanto a mãe quanto o pai e não se
sente obrigado a fazer isso. Segundo a mãe, faz um bolo melhor que ela, ajuda na horta onde plantam
para o consumo e obtém os seguintes alimentos: amendoim, batata inglesa e doce, feijão preto, ervilha,
cebola, couve, alface, mostarda, beterraba, cenoura, rúcula, tempero verde (salsa, manjerona, ceboli-
nha), abóbora, melão, melancia, moranguinho; criam galinhas para consumo e comercializam os ovos.
Parte da renda da família vem do programa bolsa família. O pai do menino às vezes trabalha
de bicos ou seja, o que aparece ele faz. O avô do menino paga a luz da residência e a água que utilizam
é captada pela chuva.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O trabalho realizado pela família pode e deve estar no currículo escolar, pois eles produzem e
criam tudo o que consomem. As aulas estão na horta, nos animais e até na forma como eles trazem a
água do açude, através de mangueiras. São atividades que podem ser abordadas com a matemática, as
ciências da natureza e humanas.
Perde-se muito ao não integrar o trabalho feito pelos estudantes no currículo, pois está se fa -
lando da vida do estudante e não há uma valorização do cotidiano em que eles vivem, ocorrendo um
distanciamento, não há uma articulação entre a teoria e a prática, reforçando a perspectiva equivocada
de que os conhecimentos disciplinares são neutros, de que sua construção não parte de um determina-
do contexto sociocultural e só pode ser conduzido por “cientistas”. Constituir um currículo escolar re-
quer profissionalismo e competência, pois o que será estudado, partilhado, compartilhado é a vivência
sociocultural das crianças. Para haver a mudança no currículo, primeiro o professor terá que mudar sua
postura, de que não é somente ele que detém o conhecimento e que rever o currículo é importante por-
que através dele que se busca um espaço de se achar soluções que satisfaçam a aprendizagem, a utili -
zação dos estudantes e também para frisar a importância de um trabalho coletivo, o resgate cultural da
memória, que só reforça que juntos podemos mudar a realidade de todos: famílias, estudantes, profes-
sores e sociedade.
Percebe-se que o currículo escolar não está vinculado ao trabalho realizado pelo estudante;
que nesta perspectiva a escola não está preocupa com o trabalho realizado pelos estudantes, que é es-
Anais III SIFEDOC - Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS – Erechim, 29 a 31 de março de 2017.
ISSN:
Resumo expandido apresentado no III Seminário Internacional de Educação do Campo e III Fórum de Educação do
Campo da Região Norte do Rio Grande do Sul: Resistência e Emancipação Social e Humana

sencial para a formação do ser humano. Existe um potencial criativo enorme observado na vivência
dessa criança em seu cotidiano familiar que poderia ser muito bem aproveitado em um currículo com
maior sensibilidade pedagógica e influência dos preceitos da Educação do Campo.
A escola não corresponde às necessidades e anseios dos estudantes, não há relação
com o mundo do trabalho dos estudantes ou qualquer tipo de discussão sobre o assunto. Como
professoras, acredito que o currículo deve ser adequado para os interesses dos estudantes, que
precisam e muito de um ensino que os valorize, conhecer o lugar onde vive para que possa ser
despertado no estudante a vontade de conhecer a região em que vive. Levando-se em conta o
histórico do Assentamento, diversos aspectos culturais poderiam subsidiar uma abordagem in-
terdisciplinar, como viver nesse espaço, com uma escola que percebe o envolvimento de seus
estudantes no trabalho doméstico, como por exemplo o menino que faz bolo. Deve ter uma in-
teração estudante-escola-currículo para que o mundo do trabalho contribua com a realidade
vivida, sempre buscando respostas para solucionar ou melhorar as situações problemáticas
que possam ocorrer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como acadêmicas em na área de Educação do Campo, que nos envolvemos com os estudos de
trabalho e educação, percebemos há muito tempo o problema do currículo escolar, infraestrutura, fe-
chamento de escolas; que ao estudar Políticas Públicas, nos demos conta que uma escola não pode fe-
char mesmo que tenha só um estudante. Mas a realidade não é essa. Tudo isso contribuiu para a exclu -
são social dos povos do campo, pois todos esses elementos contribuem para o distanciamento e a des-
valorização do ensino no campo.
A escola deve esforçar-se sempre para cultivar e promover a autoestima dos estudantes, ainda
mais quando estamos falando de um espaço conquistado por sem terras que ousaram transformar es -
truturas sociais injustas, como é o caso da distribuição de terra no país. A escola deve desenvolver seus
conhecimentos e autonomia para também compreenderem o trabalho como parte constitutivo do pro-
cesso educativo do ser humano. O trabalho produtivo é a arma mais poderosa da educação, quando
tem um caráter social e é realizado pelas crianças no processo de formação.

REFERÊNCIAS

MAKARENKO, Anton. Vida e obra: a pedagogia na revolução. Trad. Cecília da Silveira


Leudemann. São Paulo: Expressão Popular, 2002.432 p.

Anais III SIFEDOC - Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS – Erechim, 29 a 31 de março de 2017.
ISSN: 2179-3624

Anda mungkin juga menyukai