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17/08/2016 Mídia Sem Máscara ­ Quem irá escrever o futuro da França?

Quem irá escrever o futuro da
França?
ESC R I T O  POR   D AN I EL  PI PES  |  23  J U N H O  2016 
AR T I GOS  ­  GLOBALI SM O

Os livros sugerem que o clima de pânico já passou, sendo substituído por uma
época de graciosa capitulação.

Dois romances franceses de grande repercussão, diferentes quanto ao tom e ao
timing, retratam duas influentes visões da França no futuro. Não se trata apenas
de boa leitura (ambos já foram traduzidos para o inglês), juntos eles estimulam o
pensamento sobre a crise da imigração no país e as mudanças culturais.

Jean Raspail (1925­) imagina a invasão racial vinda pelo mar, por meio de
jangadas e botes partindo do subcontinente indiano navegando vagarosamente,
inexoravelmente rumo ao sul da França. Em Le Camp des Saints (O Campo dos
Santos, 1973), ele primordialmente documenta a impotente reação francesa,
tomada pelo pânico, à medida que a horda (palavra usada 34 vezes) "continua
engrossando ainda mais suas fileiras".

É uma perfeita fantasia antiutópica sobre a raça branca e a vida européia que
corresponde aos receios articulados por ninguém menos que Charles de Gaulle, o principal político da França pós­
guerra, que dava cordial acolhimento a cidadãos franceses não brancos, "desde que permanecessem uma pequena
minoria. Senão, a França deixará de ser a França. Afinal de contas, somos todos, acima de tudo, um povo europeu de
raça branca".

Camp também antecipa a noção da "Grande Substituição" (Le Grand Remplacement) conceitualizada pelo intelectual
francês Renaud Camus, que antecipa a rápida substituição "do histórico povo do nosso país por povos de origem
imigratória que são em grande medida não europeus". É o mesmo receio, a grosso modo – dos imigrantes passarem o
povo francês autóctone para segundo plano e se apoderarem do país – que inspira o partido Frente Nacional, que já
atinge índices de 30% dos votos nas pesquisas de opinião e continua crescendo.

Michel Houellebecq (1956­) conta a história, não de um país (França), mas de
um indivíduo (François) em estado de Soumission (Submissão, 2015). François é
um professor já cansado, decadente, do movimento decadente da literatura
francesa. Ele não tem família, amigos nem ambição; embora tenha somente
quarenta e poucos anos, sua vontade de viver se deteriorou e chegou ao tédio a
ponto de se alimentar de pratos prontos e uma sucessão de troca de parceiros
sexuais.

Quando um político muçulmano, ostensivamente moderado, inesperadamente se
tornar presidente da França em 2022, uma série de mudanças radicais na vida
francesa tomarão forma rapidamente. Em uma guinada, o que começa de forma
sinistra (um corpo em um posto de gasolina) mais do que depressa se torna em
algo bom (deliciosa comida do Oriente Médio). Atraído por uma boa e
recompensadora oferta de trabalho com a vantagem poder conhecer e casar
com várias estudantes, todas cobertas com véus, François imediatamente
abandona seus antigos costumes e se converte ao Islã, que lhe promete
recompensas de uma vida suntuosa, exótica e patriarcal.

Se por um lado o romance de 1973 nunca menciona a palavra Islã ou muçulmano, em contrapartida o romance de 2015
se atem às duas – começando pelo título: Islã que em árabe significa "submissão". Da mesma forma, o primeiro livro tem

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17/08/2016 Mídia Sem Máscara ­ Quem irá escrever o futuro da França?

como foco a raça enquanto o segundo praticamente não toma conhecimento dela (a prostituta favorita de François é do
Norte da África). A tomada de poder da primeira obra termina de forma diabólica, a outra de forma agradável. O primeiro
livro é um tratado político apocalíptico disfarçado de entretenimento, o segundo apresenta uma visão literária e
sardônica no tocante à perda da força de vontade sem também expressar qualquer ânimo em relação ao Islã ou aos
muçulmanos. O primeiro documenta uma agressão o segundo um consolo.

Os romances capturam duas importantes e praticamente contraditórias correntes do pós guerra: a atração exercida pela
Europa livre e rica nos povos remotos e empobrecidos, principalmente muçulmanos; e a atração de um Islã vigoroso em
vez de uma Europa pós cristã enfraquecida. Em ambos os casos, a Europa – apenas 7% do território mundial, contudo a
região dominante por cinco séculos, de 1450 a 1950 – está prestes a perder seus costumes, cultura e convenções
sociais, se tornando uma mera extensão ou até dependente do Norte da África.

Os romances sugerem que a alarmante preocupação expressada décadas atrás (multidões de pessoas furiosas e
violentas de pele escura) se torna lugar comum e até benigna (as universidades do Oriente Médio pagam salários mais
altos). Sugerem que o clima de pânico já passou, sendo substituído por uma época de graciosa capitulação.

Camp causou furor na Direita quando do lançamento do livro, os dois
livros, no entanto, abordam temores muito mais disseminados nos dias de
hoje; a republicação de Campem 2011 saltou para o topo da lista de best
sellers na França e Submissão simultaneamente se tornou o best seller nº
1 quatro anos depois na França, Itália e Alemanha.

Um hiato de quarenta anos separa os dois livros; se saltarmos mais 42
anos, que tipo de história poderá contar um romance futurista publicado em
2057? Intelectuais como Oriana Fallaci, Bat Ye'or e Mark Steynassumiriam
a vitória do Islã e a caça aos poucos remanescentes franceses da fé cristã.
Minha previsão, no entanto, é praticamente contrária a essa: um relato que
assume o fracasso da grande substituição de Camus, imaginando a
violenta repressão aos muçulmanos (nas palavras de Claire Berlinski) Uma visão do futuro que já passou.
"liberando os franceses da ofuscação da história européia" acompanhada
pela reafirmação nativista francesa.

Publicado no The Washington Times.

O Sr. Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum. por Daniel Pipes © 2016. Todos os
direitos reservados.

Tradução: Joseph Skilnik

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