1
Decorei toda a lição.
Não errei nenhuma questão.
Não aprendi nada de bom.
Mas tirei dez (boa, filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci.
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi.
Decoreba: esse é o método de ensino.
Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino.
Não aprendo as causas e conseqüências, só decoro os fatos.
Desse jeito até história fica chato.”
Ensinar e aprender são as duas tarefas constitutivas do fazer da sala de aula. Entretanto,
o lugar e a ênfase que se dá a cada uma destas tarefas caracterizam as diferentes
concepções teóricas que estão subsidiando a prática pedagógica. O trecho acima da
música “Estudo errado”, de Gabriel, O pensador, relata uma prática pedagógica
utilizada por um professor em suas aulas. Diante destes fatos e observando as
características das aulas citadas, comente sobre as práticas de memorização tradicionais
consideradas importantes para a aprendizagem e confronte-as com as propostas
defendidas pelas teorias interacionistas.
2
Para Vygotsky, toda forma superior de comportamento aparece duas vezes
durante seu desenvolvimento: primeiro como forma coletiva , como um procedimento
externo do comportamento, isto é, interpsicológica, para depois se converter em
individual, em uma forma de comportamento da própria pessoa, isto é, intrapsicológica.
Quando me levanto, rezo. Não sou muito religiosa, mas rezo. Peço forças... Então, de
manhã, já como num flash vejo tudo, olhos fechados. As crianças com as quais trabalho
não têm aquele ar de infância aquele rosto que exala satisfação, pureza, nem aquela
ingenuidade doce. É uma ingenuidade amarga, às vezes azeda, igual ao cheiro que sinto
assim que começa o dia e entro na classe, no primeiro bom-dia, já vem o cheiro forte.
Por que eles têm esse cheiro? Será mesmo por alguma falta – de água, chuveiro,
vontade? Provavelmente, não só. Eles se impõem com esse cheiro. É uma força
invisível. Eu sinto raiva. Depois o desânimo vem logo na primeira hora do dia, eu falo e
a aula começa. Alguns permanecem imóveis, são puro obstáculo – como pedras e
muros; outros são dissipação absoluta – parecem voar, estão no ar; e tem as outras que
nem parecem meninas, e aquelas com aquele silêncio que não compreendo e também
aqueles que lembram uma máquina de guerra: não param quietos, pura velocidade, não
se sabe onde estão, agressivos. Contra quem guerreiam? Nessa classe não existe
fronteiras, não se sabe onde estão as coisas nem as palavras: o infantil e o adulto, a
menina e o menino, a gangue ou a classe. Vivemos no subterrâneo, como as gangues,
eles me obrigam a descer e descer. E depois tenho dificuldade em subir. E eles ficam ali
no subterrâneo, apenas como esconderijo, sobem e descem com a agilidade própria das
crianças. E eu, quando desço...Eles nunca agradecem, parecem não ter deveres, são
somente direitos, parece que eu devo, estranha sensação. Eles operam em um tempo
diferente do meu. Um tempo diferente. Perambulam pelas ruas e pelas escolas, através
das multirrepetências. Possuem um tempo que pertence à infância, um tempo generoso
– da paciência, do acontecer e da criação. Parece que nada querem. Eu ensino tudo que
posso e sei, do meu jeito. Procuro em casa coisas e palavras novas e trago para a classe:
levam tudo ao “Limite de Planck” 1 (tudo está dado, mas é, ao mesmo tempo, o ponto
zero. Tudo vira vácuo, a classe é um buraco negro. Como já disse, alguns se dissipam
como os anjos, outros são só movimento, parecem fantasmas, estão em todos e em
nenhum lugar, outros empunham suas armas. Quando quis ser professora, porque
escolhi tal profissão, pensei que as crianças eram mais calmas e doces, nem sei como
construí tal imagem. Acho que na TV, nos livros e nas aulas das minhas professoras –
porque durante toda a minha escolaridade tive apenas uns dois professores homens –
falavam das crianças que nada têm a ver com as da minha classe. Eu falo, falo, falo, e
tenho a sensação de que as palavras nada significam. Ganho pouco e às vezes isso é
muito problemático, mas às vezes não, pois ganhando assim ninguém tem o direito de
me pedir nada, então sou autônoma, só não sei bem o que fazer. Tenho me perguntado,
quem são tais crianças? Por que repetem de ano? Como trabalhar com elas? O que
fazer? Como posso ajudá-las a sair do fracasso? – e sei que se conseguir acabo saindo
junto. Eu sei que posso fazer, mas por quais caminhos? Tenho me sentido perdida.
1
Os físicos denominam de “Limite de Planck” quando o universo estava reunido numa singularidade
microcósmica inimaginavelmente pequena. Uma espécie de tempo zero (Jean Guitton, 1992, p.19).
3
ABRAMOWICZ, Anete; MOLL, Jaqueline (orgs). Para além do fracasso
escolar. Campinas, SP: Papirus, 1997. Coleção Magistério: Formação e Trabalho
Pedagógico.
1. Leia a charge abaixo e escreva sobre a importância dos estudos das bases
neurológicas para a formação dos psicopedagogos.