João M. de S. Alves*
Celso L. Weydmann**
4.1.1 Localização
*
Professor Substituto do Curso de Graduação em Ciências Econômicas e Mestre em Agronegócios na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
**
Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação – Mestrado – em Economia da Universidade Federal de
Santa Catarina.
394
Tabela 4.1.1 - Evolução da distribuição dos plantéis de aves por mesorregiões geográficas no
estado de Santa Catarina, 1998 – 2003
REGIÕES 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Oeste 69.001.049 78.795.286 83.204.454 82.752.567 93.633.684 97.011.008
Norte 5.570.560 6.029.193 7.184.570 7.040.259 8.130.742 8.257.422
Serra 1.399.993 2.348.426 2.073.866 1.793.107 2.046.515 1.849.339
Vale 6.121.706 6.476.540 6.766.961 6.767.924 10.493.090 11.095.050
Florianópolis 2.895.658 3.184.162 3.310.510 2.632.676 3.477.183 3.630.967
Sul 6.659.275 7.358.201 9.081.499 10.075.012 10.654.962 11.182.149
TOTAL SC 91.648.271 104.191.808 111.561.860 111.061.485 128.438.176 133.025.935
Brasil 589.370.346 624.381.496 659.245.549 692.654.775 703.718.166 737.523.096
% SC/BR 15.55% 16.68% 16.92% 16.03% 18.25% 18.03%
Fonte: IBGE.
396
Jaragua do Sul
Dionisio Cerqueira
Quilombo
Videira
Maravilha
Xaxim Itajai
Ipumirim
Guatambu Seara
Itapiranga Chapeco Sao Jose
Concordia
Capinzal
Lages
Nova Veneza
Forquilhinha
300.000
200.000
100.000
0 J a pão
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Ará bia
23%
S a udit a Alemanha
11% 19%
US $ Milhõe s Volume
PAÍS RESTRIÇÃO
África do Sul Estabelecimento de tarifas sobre importação da carne de frango
Em decorrência do acordo agrícola da Rodada do Uruguai (GATT), estabeleceu quotas
tarifárias. As importações até o limite da quota estariam isentas ou sujeitas a tarifas inferiores
as incidentes sobre importações extraquota. A quota estabelecida foi de 39.843,7 toneladas
Canadá
para frangos e galinhas vivos, carne de frango e galinha e suas preparações. O problema
está na distribuição da quota, baseada em diferentes critérios, entre os quais o histórico
importador.
Licenças de Importação. Para cada possibilidade de comércio deve ser requerida uma licença
Colômbia
de importação. A execução da licença depende da avaliação do governo.
Coréia do Sul e
Estabelecimento de quotas de importação.
Rússia
Restringem a entrada de produtos brasileiros e adotam subsídios para garantir suas
exportações. Proibição de importação de carne in natura e derivados não cozidos (doença de
EUA
newcastle). Há fortes restrições as empresas que não adotam um sistema de inspeção
baseado no HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle).
Japão Restrições às importações (resíduos de nicarbazina).
México Prioriza barreiras tarifárias (quotas de importação).
Adota uma política protecionista de forma explícita. Para a carne de frango as taxas de
Nigéria
importação chegam a 161%.
União Européia Barreiras tarifárias e não-tarifárias; Estabelecimento de quotas de importação e subsídios.
Fonte: JANK, M. S. & NASSAR, A. M. Competitividade e Globalização. In: Economia e Gestão dos Negócios
Agroalimentares. Décio Zylbersztajn & Marcos Fava Neves organizadores. São Paulo: Pioneira, 2000. Pp. 137-
163. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior. Barreiras Externas às
Exportações Brasileiras. Brasília; 1999. P. 23.
Quadro 4.1.2 - Exemplos de restrições às exportações avícolas brasileiras
1
O Brasil recebeu, em 2005, parecer favorável nesta questão às suas reinvidicações junto à Organização
Mundial de Comércio (OMC).
401
4.1.2.3 Rastreabilidade
A questão ambiental2 também tem recebido maior atenção nos dias atuais. Problemas
de contaminação do ambiente podem ocorrer em função da criação de aves e seu
processamento, tanto pela deposição indevida de resíduos das granjas, que comprometem o
2
Novas tecnologias de processamento, do uso da energia e da água são demandadas devido à influência dos
efeitos da avicultura no meio ambiente.
403
premix diretamente para criadores independentes, para as granjas de seleção genética, granjas
de bisavós, avós, matrizes e agroindústria processadora. O premix recebido pela agroindústria
processadora é transformado em ração completa, com a adição de cereais, farelo de cereais e
outros produtos que a empresa julgar necessário e distribuídos aos produtores integrados
(ROHENKOHL, 2003).
Existem diferentes tipos de rações, especiais para cada tipo de criação, ou seja, a
formulação para os elos de genética mais apurada como Bisavozeiros e Avozeiros difere das
demais pelas necessidades fisiológicas básicas e totais da ave (tempo de vida útil).
Atualmente, cerca de 30 ingredientes podem ser utilizados para a confecção das diferentes
rações, são eles: o milho, o farelo de soja, o farelo de trigo, o sorgo, o trigulho, fósforo
bicálcico, a farinha de osso, a farinha de pena, as vitaminas A, D3, B1, B6, B12, C, E, K3,
riboflavina, tiamina, colina, treonina, lisina, metionina, biotina, ferro, zinco, manganês, cobre,
iodo, selênio, cobalto (SINDIRAÇÕES, 2003). Os ingredientes são justamente os que
agregam valor à ração. Grandes grupos multinacionais atuam na compra, produção e
distribuição de ingredientes para ração animal, principalmente os de maior complexidade
tecnológica.
A sanidade avícola empreendeu esforços relacionados basicamente à produção de
medicamentos diretamente ministrados ou misturados aos alimentos, objetivando diagnosticar
e tratar as enfermidades das aves. Os ganhos produtivos propiciados pelas inovações nestes
elos resultaram em um crescimento não tão ordenado da atividade e o aparecimento de
zoonoses. A indústria veterinária desenvolveu pesquisa e desenvolvimento em vacinas e
medicamentos que constituíram o grande instrumento no controle de doenças, e seu uso tem
sido responsável por reduções marcantes em mortalidade e ganhos consideráveis em
performance. A avicultura de corte é uma das explorações animais em que mais se utilizam
vacinas, desde 1 (um) dia de idade até o abate (40 dias) (BACK, 2003), sendo todas
importadas.
O segmento fornecedor de máquinas e equipamentos para a avicultura industrial
também é dominado por poucas empresas. Somente seis empresas no mundo fornecem
sistemas completos para o abate e a industrialização de aves: as empresas holandesas Stork,
Meyn e Systemate, a alemã Baader, a islândesa Marel HF e a americana Johnson Food
Equipment Company. Estas empresas também atuam em outros segmentos, fornecendo tipos
variados de equipamentos. Um grupo maior de empresas atua no fornecimento de tecnologias
para as granjas. De menor complexidade, as tecnologias são fornecidas por empresas que
407
atuam em mercados segmentados, ou seja, por exemplo, algumas produzem somente sistemas
de climatização, outras, equipamentos diversos para alimentação.
Diante do exposto, observa-se que são os diferentes elos os agentes inovadores desta
cadeia e que parte significativa dos ganhos produtivos da agroindústria avícola depende do
desenvolvimento tecnológico gerado por estes. Os principais pólos geradores de inovação
para a avicultura estão representados na Figura 4.1.3.
Os números da produção avícola catarinense fazem menção à importância do mercado
local aos fornecedores de insumos. Muitas empresas possuem unidades industriais localizadas
no Estado, como as multinacionais Rooster (USA) e Petersime NV (Holanda) na área de
incubação; a americana Embrex e a israelense Plasson (fases diversas da criação) e a ítalo-
brasileira Avioeste (criação). Outras empresas possuem somente representações. Há também
fornecedores de outras unidades da federação, como Rio Grande do Sul, São Paulo (maior
concentração) e Paraná. Assim, o Estado se beneficia de uma ampla rede de fornecedores de
alta tecnologia difundida em um curto período de tempo desde seu desenvolvimento à sua
aplicação.
Máquinas e
Equipamentos
Vacinas e
Medicamentos
Granjas de
Seleção Rações
diferenciadas
Vacinas e Agroindústria
medicamentos Abate Integração Agroindústria
Premix
Máquinas e Equipamentos
EMPRESA
LINHAGEM EMPRESA FORNECEDORA
PROCESSADORA
Sadia Ross/Cobb/Arbor Acres Ross Breeders/Cobb Vantress/ Arbor Acres
Perdigão Ross/Cobb/Hubbard Ross Breeders/Cobb Vantress/ISA
Seara Ross/Cobb/Arbor Acres Ross Breeders/Cobb Vantress/ Arbor Acres
Chapecó (2002) Ross/Cobb Ross Breeders/Cobb Vantress
Aurora Ross/Cobb Ross Breeders/Cobb Vantress
Fonte: Avisite, vários acessos, 2004
Quadro 4.1.3 - Material genético utilizado pelas agroindústrias catarinenses e fornecedores de
material genético (2004)
As inovações tecnológicas exigem, por parte das empresas, certos padrões em termos
de capacitação de mão-de-obra, maquinários e equipamentos disponíveis e novas formas de
gestão. As maiores agroindústrias do Estado (Perdigão, Seara, Sadia, Aurora), com sistemas
organizacionais já implantados, e uma estrutura tecnológica bastante desenvolvida, têm
garantido ações efetivas para a melhoria do ambiente de trabalho e a capacitação de seus
funcionários. Uma destas ações, a mais difundida entre as empresas, contempla a educação
básica de seus funcionários. A Perdigão implantou recentemente, no município de Videira, o
chamado projeto Semear. Uma escola de agronegócios com o objetivo de preparar os filhos
dos produtores integrados para a atividade, dando continuidade ao sistema. A Sadia possui a
Universidade Sadia, esforço direcionado para qualificações em funções específicas, como a
oferta de cursos de pós-graduação para o quadro administrativo da empresa (Avicultura
Industrial, 2005). Este é um tipo de ação realizado por meio de parcerias com instituições de
ensino superior, como a Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Aliás, são as parcerias as principais fontes de capacitação vinculadas às empresas. A
necessidade de suprir gargalos tecnológicos sem custos operacionais adicionais tem orientado
as agroindústrias neste sentido. A exemplo disto, Sadia e Perdigão mantêm parcerias com a
Bayer na aplicação de programas de biossegurança. As unidades seguem padrões de
biossegurança indicados pela Bayer há cinco anos, recebendo produtos, treinamentos teóricos
e práticos para supervisores e demais funcionários. Há aproximadamente seis anos a Sadia e a
empresa Vencomatic vêm realizando estudos e avaliações com sistemas de ninhos com
coletas automáticas de ovos. O resultado deste esforço é uma melhoria no processo produtivo
na etapa anterior ao abate e um contrato para fornecimento desta tecnologia para mais de três
milhões de matrizes e avós (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2005).
No campo da comercialização, parcerias como a da Perdigão e Salton, empresa
americana de eletroportáteis para demonstração dos aparelhos com linhas de produtos da
empresa, e da Aurora com a empresa belga Midsummer para a entrada no mercado europeu
são estratégicas. Já os acordos comerciais para o fornecimento de embalagens são em geral
firmados com empresas fora do Estado, como a Hartmann, empresa de embalagens de São
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Paulo, e a Itap do Paraná. A Klabin começa a atuar no segmento como uma das empresas
fornecedoras de caixas e papel de embalagem.
Para o desenvolvimento de novos produtos, o que geralmente acontece é um
estreitamento das relações com os fornecedores de condimentos, em mudanças de sabor, e
com os clientes estrangeiros quando novos cortes de aves são demandados. A empresa
catarinense Duas Rodas é tida como uma das maiores fornecedoras dentro da atividade.
Cabe ressaltar que os casos citados não indicam que o estabelecimento de parcerias é
uma prática comumente utilizada na indústria estabelecida no Estado. Pelo contrário, são as
grandes empresas que se utilizam desse mecanismo, existindo uma forte necessidade de
extensão do mesmo para as demais empresas (médias e pequenas). A ausência de vínculo com
universidades e instituições de pesquisa também é fato presente.
4.1.5.1 Vantagens
O Estado vem sofrendo com a escassez de grãos (milho) em sua produção, o que tem
perturbado o equilíbrio da cadeia, pressionando os preços e inchando os custos, ainda mais
quando o percentual da importação do grão é elevado. Na atividade avícola industrial, o cereal
é responsável por aproximadamente 60% do custo da ração. Em 2004, o déficit catarinense no
mercado deste insumo (grãos) atingiu em torno de 2.900 mil toneladas, fato que, aliado aos
incentivos fiscais e custos da mão-de-obra, tem justificado, em parte, o deslocamento da
atividade de grandes agroindústrias do Oeste catarinense especialmente para o Centro-Oeste,
pólo produtor de grãos (ICEPA, 2004). Em virtude deste componente, a produção de grãos, os
Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás reduzem seus custos de produção da
ave em até 30%.
Os portos e seus acessos apresentam carências e limitações. Neste campo (logístico),
as dificuldades que a avicultura encontra são mais graves do que nos demais segmentos
industriais pela perecibilidade do produto. Tais dificuldades constituem um entrave ao
crescimento da produção e à industrialização. Conforme posição da União Brasileira de
Avicultura (UBA, 2004), a maior barreira para a expansão da atividade não se encontra no
mercado, capacidade de produção ou mesmo problemas de qualidade ou sanidade, encontra-se
na logística. As más condições rodoviárias aumentam em até 40% o tempo de transporte dos
caminhões, as linhas férreas são lentas e os portos estão em seu limite. Dados da
Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2004) revelam que em torno de 65% das
estradas catarinenses estão em más condições, apenas 35% dos 6,5 mil quilômetros de
estradas federais, estaduais e municipais no Estado apresentam boas condições de tráfego e
segurança. A despeito do principal trecho utilizado pela agroindústria avícola exportadora
(BR 282 – BR 470), a situação é considerada deficiente tanto para sinalização, engenharia e
pavimentação. Ademais, os projetos anunciados para a revitalização da malha rodoviária no
Estado garantem somente em parte o atendimento das necessidades reais reinvidicadas pelo
segmento. Em média, da geração da carga até os destinos finais, aos portos catarinenses são
percorridos cerca de 500 km. Não obstante, ainda há a necessidade de modernização dos
portos catarinenses, em vista de defasagens operacionais. Isto envolve a aquisição de
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