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9/1/2017 O gênio de Raphael | Blog do IMS

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O gênio de Raphael
ARTES

Heloisa Espada
08.04.13

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Raphael Domingues na década de 1940 | Obra sem título

Almir Mavignier teve um papel decisivo no processo de trabalho de Raphael Domingues, desenhista genial
cujos trabalhos podem ser vistos na exposição Raphael e Emygdio: dois modernos no Engenho de Dentro, em cartaz
no Instituto Moreira Salles de São Paulo, entre os dias 10 de abril e 7 de julho. Mavignier, mais conhecido por
seu trabalho como pintor e artista grá co ligado ao concretismo, foi o primeiro monitor do ateliê de artes cri-
ado pela Dra. Nise da Silveira, em 1946, no Centro Psiquiátrico Nacional, no bairro carioca do Engenho de
Dentro.

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Raphael, diagnosticado como um caso grave de esquizofrenia, frequentou o ateliê da década de 1940 até seu
falecimento, em 1979, mas foi nos anos em que Mavignier o assistiu, entre 1946 e 1951, que ele realizou o
melhor de sua produção. O monitor, então com 21 anos, soube como ninguém incentivar Raphael a olhar para
as coisas e a estabelecer um contato intenso, ainda que efêmero, com o mundo através do desenho. Ele arru-
mava naturezas-mortas para Raphael desenhar e pedia-lhe para retratar as pessoas à sua volta: Abraham
Palatnik, Ivan Serpa, Mário Pedrosa e Murilo Mendes, que costumavam visitar o ateliê, foram alguns de seus
modelos. Muitas vezes convidados por Mavignier, críticos e artistas das mais diversas áreas formavam uma
espécie de plateia de especialistas interessada em discutir a qualidade artística do que era produzido ali. É bem
provável que essas presenças ajudassem a criar um ambiente de interesse pelo mundo da arte e, consequente-
mente, de estímulo à produção dos internos.

Nos dias 16 e 17 de abril de 2012, em meio à pesquisa para a organização de Raphael e Emygdio: dois modernos no Engenho de Dentro (exibida

no ano passado no IMS-RJ), Almir Mavignier, que vive em Hamburgo desde 1965, respondeu por email a algumas de minhas dúvidas sobre sua

relação com Raphael. Como bom discípulo da Bauhaus (ele estudou na Escola Superior da Forma, em Ulm, entre 1953 e 1958), o artista faz ques-

tão de escrever apenas com minúsculas.

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Sem título [retrato de Murilo Mendes], 1950

Dizem que a doença de Raphael era gravíssima e que ele era praticamente inacessível. Ele tinha momentos de
lucidez? Você acha que seus desenhos gurativos eram fruto de seus raros momentos de contato com a reali-
dade?

raphael era fortemente “dissociado”, não concatenava palavras em frases coerentes. as palavras porém eram
“belíssimas” e vinham de seu mundo para mim maravilhoso e trágico. ele era capaz de criticar mário pedrosa
sentado erradamente:

— olha o pezinho na cadeira!

mario se aprumou e cou vermelho…

o gênio de raphael se manifestava quando ele dominava a dissociação para associar: observando desenhando e
interpretando a natureza.

nos “treinos” de desenho, não lhe dizia faça isso ou aquilo. uma vez apenas segurei uma folha da planta e dis-
se “olha que bonita!”

na mesma obra desenhou a minha mão — arrumando as folhas da planta.

ele desenhava rapidamente.

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no mesmo desenho porém há uma construção estranha à natureza morta sobre a mesa:

ele desenhou a caixa elétrica que estava na parede!

nise da silveira dizia:

“esquizofrenia é a falta de amor”.

O que era a experiência do desenho para Raphael?

não sei.

acho porém que ele percebia a nossa reação ao vê-lo desenhar: f a s c i n a ç ã o, espanto e medo de vê-lo des-
truir.

artista necessita aplauso.

Durante a década de 1920, Raphael estudou desenho e chegou a trabalhar como ilustrador em agências de pro-
paganda. Li num prontuário que, segundo sua mãe, antes de a doença se manifestar, Raphael tinha o desejo de
estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Você acha que ele tinha alguma espécie de ambição artística? Ele
sabia do interesse que seus desenhos despertavam?

raphael me parecia “desligado” de tudo. ambição e vaidade não perteciam ao seu mundo.

Você se lembra se Raphael começou a desenhar guras com o pincel grosso ou com a caneta nanquim? Ele
escolhia qual instrumento utilizaria para desenhar? Ele usava o pincel e a caneta concomitantemente?

ele não escolhia. eu dava para ele.


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ele descobriu uma técnica:

molhava o pincel uma vez só e ia gastando a tinta até o  m.

em alguns desenhos com pincel você pode veri car hoje onde ele começou e acabou.

Você utilizava os conhecimentos técnicos e estéticos adquiridos no ateliê de Arpad Szenes e de Axl Leskoschek
em seu trabalho com o grupo do Engenho de Dentro?

não, impossivel. o ateliê não era uma escola de arte. fornecia água para a aquarela, terebentina para óleo e
sabão para lavar os pinceis, diariamente.

era o mínimo.

não dava revistas sobre arte.

De que maneira você utilizava seu conhecimento sobre arte no contato com Raphael?

de maneira nenhuma.

raphael não acabava. ele continuava… mesmo encobrindo e destruindo.

pedia-lhe acabar quando ele quisesse. mesmo sem perguntar se ele me compreendia, ele “aprendeu” a jogar o
papel no ar para mostrar que tinha terminado.

Alguns estudiosos acreditam que o contato de Ivan Serpa e Abraham Palatinik com os artistas do Engenho de
Dentro teria in uenciado os rumos da arte abstrata e concreta que surgia no Rio de Janeiro no m dos anos
1940. Sempre tenho dúvidas sobre essa a rmação. Nos depoimentos desses artistas, assim como de Geraldo de
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Barros, que também frequentava o ateliê, percebo uma grande admiração pelos internos do Engenho de Dentro
e uma espécie de espanto e comoção por presenciarem a realização daquelas obras feitas por indivíduos com
tantas di culdades e limitações. No entanto, não vejo uma relação direta entre as obras dos artistas concretos
e a produção do Engenho de Dentro. Por outro lado, tenho a impressão de que Raphael tinha um grande domí-
nio sobre o espaço e, consequentemente, muita clareza e segurança na distribuição das formas no plano bidi-
mensional. Você acha que isso foi importante de alguma maneira para a depuração da forma no seu trabalho e
de seus colegas como Palatnik, Ivan Serpa e Geraldo de Barros?

houve o acaso da admiração dos concretos pelas obras.

a referida a rmação é falsa.

os rumos da arte abstrata e concreta que surgiu no rio de janeiro nos ns dos anos de 1940 teve início no
apartamento de mário pedrosa.

mário escrevia sua tese sobre “a in uência da forma afetiva sobre a obra de arte” e fazia a leitura de trechos
do seu trabalho para abraham palatnik, ivan serpa e almir mavignier.

para mim, pessoalmente, impressionou uma experiência com uma máscara africana que os cientistas da ges-
talt zeram com animais. sempre que eles mostravam a máscara, havia uma reação de terror dos animais.

os cientistas chegaram à conclusão de que era o caráter formal da máscara que aterrorizava e não a sua asso-
ciação com experiência anterior, porque havia animais nascidos alí e não em orestas selvagens.

foi para nós a prova da força do caráter da forma era maior do que o seu poder associativo.

terminei de pintar naturalismo.


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mavignier, serpa e palatnik passaram a denominar suas obras de “formas”.

Na época do ateliê, você conhecia bem os desenhos de Matisse e Klee? Identi cava semelhanças entre os dese-
nhos de Raphael e desses artistas?

conhecia mal.

klee melhor do que matisse.

Como era a presença de Nise da Silveira no ateliê de artes durante esses primeiros anos?

nise da silveira era chefe do serviço de assistência social e muito ocupada com vários deveres.

aparecia regularmente, não diariamente.

dava liberdade.

Em abril de 2013, procurado para autorizar a publicação dessa entrevista, Almir Mavignier pediu acrescentar
um tópico, desta vez usando também maiúsculas.

uma outra resposta para uma pergunta que não foi feita:

o MISTÉRIO da qualidade genial de raphael estava naqueles que o admiravam ou admiram: NELES MESMOS, isto
é: ELES viram o que conheciam.

e amavam: MATISSE, PICASSO etc… raphael NÃO. ele nunca viu e certamente não GOSTARIA daqueles de que nós
gostamos.
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o trágico em raphael é que ELE COMO PERSONALIDADE CONSCIENTE não existiu. seus desenhos, SIM.

[Obras e fotogra as aqui reproduzidas pertencem ao acervo do Museu de Imagens do Inconsciente].

* Heloisa Espada é coordenadora de Artes do IMS.

almir magivnier, desenho, pintura, Raphael e Emygdio

Heloisa Espada é coordenadora de artes visuais do IMS e curadora da exposição Geraldo de


Barros e a fotogra a.

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Araújo Porto-Alegre: Oswaldo Goeldi, Chuva


singular & plural

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2 COMENTÁRIOS • há 3 meses• 1 COMENTÁRIO • há 24 dias•
José Geraldo Couto — Obrigado pela atenção e pela dica, Elson.
Imagem Alberto Tornaghi — Que de-lí-cia!
Imagem
Vou procurar. Abraço, volte sempre.

A doença da imaginação Quando as palavras mudam


4 COMENTÁRIOS • há 5 meses• 1 COMENTÁRIO • há 4 meses•
José Geraldo Couto — Eu que agradeço por sua leitura generosa
Imagem Marcelo Reis de Mello — Obrigado pelo bonito texto, Carla. É
Imagem
e pela contribuição à conversa, Vera. Abraço, apareça sempre. muito bom saber que a exposição se desdobrou de forma tão
produtiva. Deixo aqui, mudando, o meu abraço.

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