África: desafios de um
continente globalizado
Mama África
Área: 30 milhões de km2
África,
situados nos hemisférios norte e sul
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Dinar almorávida. Os almorávi-
A cidade de Alexandria, com seu Rotas de comércio do Norte da África representadas no Atlas Catalão, o mais Vista geral das ruínas do Grande Zimbábue. das foram guerreiros adeptos Comércio de tecidos no reino do Con- Influência do cristianismo na iconografia da antiga Etiópia: à esquerda, represen-
mítico farol, foi um ícone do do- importante mapa produzido do período medieval, pela Escola Maiorca de do Islã que unificaram grandes go. Ilustração do livro Missione Evan- tação dos arcanjos Gabriel, Miguel e Rafael; à direita, os 12 apóstolos de Cristo.
mínio grego no Egito. Na imagem, Cartografia em 1375. extensões do Magrebe, territó- gelica, do Padre Antonio Cavazzi de
o farol de Alexandria é represen- rios ao sul do Saara e ao centro Montecuccolo, do século XVII.
tado em um mosaico de 400 d.C. e sul da atual Península Ibérica.
1100 a 500 a.C. 814 a.C. 760 a.C. 500 a.C. 332 a.C. 40 a.C. Séculos I a VI Século IV 400 639 1076 1300
1415 1445 1456 1475 1575 1630 1652 1795 1870-1885 1945 1950-1970
Caixa com 60cm de comprimento representan- Cidade de Loango, capital do Reino do Congo.
do a entrada do palácio de Obá, no Reino do Ruínas de Gondar, capital do reino Ilustração do livro Description de l’Afrique, de Olfert Placa do governo durante o apartheid Wole Soyinka (1934), considerado o
Benin, século XVII. da Etiópia, fundada em 1580. Dapper, Amsterdã, 1686. Painel do Movimento de Libertação indicava os locais permitidos apenas mais notável dramaturgo africano,
O jovem Nelson Mandela, em 1937. de Angola, em Luanda. para pessoas brancas. Nobel de Literatura em 1986.
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Tanto os estudos d0 DNA quanto os achados pa- às margens do mar Mediterrâneo, desde o Egito
leoantropológicos evidenciam que o Homo sapiens até o Marrocos, as vias de comunicação abertas
teve origem na África. O mesmo se deu com os pelos mercadores árabe-muçulmanos com os ber-
hominídeos, os primeiros seres da vasta família beres e tuaregues produziram a criação da civili-
dos primatas a se destacarem na linha evolutiva da zação magrebina. O deserto do Saara foi cortado
humanidade, ao adotar uma postura ereta. Escava- por diversas rotas comerciais de ligação com os
ções na Etiópia apresentaram os fósseis de Lucy e povos da Bacia do Níger e da floresta tropical des-
da menina Selam (“paz”, em diversas línguas etío- de o século VIII, pelo menos.
pes), ambos Australopithecus afarensis.
Por essas vias circulavam mercadorias, ideias,
A história da África se confunde com a história da técnicas, mas também escravos, alimentando o
humanidade, embora muitas vezes se tenha pen- processo de escravização de populações africanas
O berço da
sado que a África não tinha história, porque suas incluídas no maior fenômeno de migração forçada #Australopithecus
sociedades não utilizavam a escrita. Hoje se sabe da humanidade: o tráfico transatlântico de escra- afarensis
É um hominídeo
que diversas de suas sociedades antigas conhece- vos, que existiu entre a metade do século XV até extinto que viveu entre
ram formas particulares de escrita, como o geêz, ou a metade do século XIX, sendo responsável pelo 3,9 e 2,9 milhões de
humanidade
anos. O nome científico
guez, na Etiópia, e o tifinagh, entre os tuaregues. A deslocamento de mais de 10 milhões de pessoas provém da região onde
oralidade é fundamental nas sociedades africanas, para a Europa e, principalmente, a América. foi encontrado o seu
primeiro fóssil, em
através delas se manteve parte importante da me- 1974: a Depressão de
mória dos seus povos. No Brasil, em torno de 4 milhões de africanos Afar, na Etiópia.
desembarcaram em sua grande maioria na Bahia,
A África nunca foi isolada. Em seu vasto litoral Pernambuco e Rio de Janeiro. O país foi o principal
oriental, do mar Vermelho até o oceano Índico, dife- receptor de escravos na América, sendo seguido
rentes níveis de contatos foram estabelecidos com pelas colônias da Inglaterra nas ilhas do Caribe,
árabes e iemenitas, persas, indianos e, inclusive, atuais Cuba e Jamaica, e pela colônia francesa de
chineses, desde antes do século XVI. Pelo norte, São Domingos, atualmente o Haiti.
Mia Couto
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A classificação racial que atribuía aos coloni- domínio “do mais forte sobre o mais fraco, do mais #Jean Louis
zadores o poder de separar a população entre adaptado sobre o menos adaptado”. Rodolphe Agassiz
“superior” e “inferior” não ficou restrita à Améri- (1807-1873)
Zoólogo e geólogo suíço,
ca, expandindo-se para outros espaços culturais Outra escola do pensamento racista surge com Jo- notório pela Expedição
afetados pelo colonialismo e o imperialismo seph de Gobineau, que afirmava ser a raça o fator Thayer, realizada entre
1865 e 1866, que executou
europeus. Criou novas identidades sociais (índios, determinante da história humana. Sua teoria apre- registros fotográficos das
negros e mestiços), redefiniu outras e, também, sentava a “raça suprema ariana”, como “produtora etnias brasileiras no Rio
suscitou teorias que, na verdade, são conceitos exclusiva de civilização” assim como associava “a de Janeiro e na Amazônia.
com status de ciência. mestiçagem à decadência”. #Charles Robert
Darwin
(1809-1882)
É o caso do cientista suíço Louis Agassiz, para No Brasil, o antropólogo Nina Rodrigues foi um fer- Naturalista britânico,
quem as diferentes espécies (ou raças) estariam renho defensor de doutrinas racistas. Ele não via a desenvolveu a Teoria da
relacionadas às diferenças climáticas. Assim, a mistura das raças como algo positivo para o país. Ele Evolução por meio da
seleção natural, a qual
raça branca seria superior, tanto em qualidades se opunha à tese de que o Brasil se tornaria branco, afirmava que característi-
mentais quanto sociais, demonstrando, inclusive, através do processo de miscigenação, crença então cas favoráveis hereditárias
tornam-se mais comuns
sua capacidade de “criar civilizações”. defendida pelo cientista João Batista de Lacerda. em gerações sucessivas
através da reprodução.
O chamado darwinismo social desenvolveu-se a Por causa de teorias como essas, muitos estudio-
#Herbert Spencer
partir da Teoria da Evolução de Charles Darwin, sos preferiram deixar de lado o conceito de raça e (1820-1903)
aplicada mecanicamente por Herbert Spencer adotar o de etnia. Ao falar em raça, mesmo que de Filósofo, biólogo e
sociólogo britânico,
como explicação da evolução das sociedades. Em forma ressignificada, acabamos presos ao deter- considerado pai do
viagens ao redor do mundo, Darwin colheu dados minismo biológico, que, na verdade, já foi abolido darwinismo social.
sobre a adaptação das diferentes espécies ani- pela biologia e a genética atuais. O conceito de et-
O termo “raça” vem do latim ratio, que significa categoria, sorte ou espécie. #Joseph Arthur
mais e vegetais ao seu meio ambiente. A teoria nia diz respeito a um grupo que possui algum grau de Gobineau
O racismo designa qualquer conjunto de crenças que classifique a humanidade em acabou sendo usada para justificar a dominação de coerência e solidariedade, definido pela cultura (1816-1882)
Diplomata, escritor e
europeia sobre o resto do mundo, a guerra e o e pelas formas de organização social.
coletividades distintas, definidas em função de atributos naturais e/ou culturais, e filósofo francês, um dos
mais destacados teóricos
que organize esses atributos em uma hierarquia de superioridade e inferioridade. do racismo no século XIX.
#Raimundo Nina
Rodrigues
(1862-1906)
O artigo 5o da Constituição Brasileira diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer Médico legista e psiquiatra
e antropólogo brasileiro.
natureza. Mas, apesar de vigorar há mais de 20 anos, a Lei no 7.716/1989, conhecida como Lei Caó, que Em 1894, publicou ensaio
classifica o racismo como crime inafiançável, punível com prisão de até cinco anos e multa, é pouco apli- no qual defendeu a tese
As formas de expressão do racismo podem ser individuais ou coletivas; podem variar de manifesta- cada no país. A maior parte dos casos de discriminação racial, quando punida, é classificada no artigo de que deveriam existir
códigos penais diferentes
ções de desprezo e de preconceito (através de palavras, gestos, imagens que reproduzem estereótipos 140 do Código Penal como injúria, que prevê punição mais branda, de um a seis meses de prisão e multa. para raças distintas.
ou que inferiorizem pessoas) até a discriminação (tratamento desigual em ambientes privados ou pú- #João Batista de
O preconceito é um problema social grave e deve ser superado através da educação. Nesse sentido, foi Lacerda
blicos; desigualdade de oportunidade de acesso aos benefícios sociais) e a segregação (impedimento
criada a Lei no 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasi- (1846-1915)
à participação em determinadas instâncias da sociedade, separação total dos demais grupos sociais). leiras e africanas nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio no país. Neste início Médico e cientista
brasileiro, fez estudos
O racismo pode encontrar legitimidade nas práticas sociais de determinados indivíduos ou grupos, do século XXI, quando o Brasil revela avanços na implementação da democracia e na superação das pioneiros com os vene-
ou estar amparado em leis e em instituições discriminatórias. Em todos os casos, apresenta-se desigualdades sociais e raciais, torna-se um dever democrático das instituições públicas e privadas de nos de ofídios e anfíbios.
Dedicou-se também à mi-
ensino a execução de ações, projetos, práticas, desenhos curriculares e novas posturas pedagógicas que crobiologia e a pesquisas
como um problema de caráter social, com graves consequências políticas e econômicas. atendam ao preceito legal da educação como um direito social e incluam, nesse, o direito à diferença. sobre a febre amarela.
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As múltiplas Áfricas ÁFRICA
SETENTRIONAL
ÁFRICA
OCIDENTAL
ÁFRICA
CENTRAL
Também chamada de África do A pobreza e a falta de oportuni- A República Democrática do Congo
#salafistas
Com cerca de um bilhão de habitantes distribuídos em 54 países, o continente africano pos- norte ou “África branca”, com- dades econômicas são as cau- vive uma guerra que se estende
Movimento reformista
sui uma das maiores diversidades culturais do planeta. Ela se reflete nas mais de mil línguas preende os países localizados ao sas mais citadas para explicar a há mais de dez anos na qual estão islâmico que surgiu no
existentes, sem contar os inúmeros dialetos. Devido ao período de colonização europeia, até norte: Marrocos, Tunísia, Argélia, contínua instabilidade na África comprometidos interesses econô- Egito ao final do século
Líbia, Sudão, Saara Ocidental e ocidental, região em que habitam micos de diversos países. Não é o XIX, com o objetivo de
hoje as línguas das antigas metrópoles continuam a ser usadas correntemente, reformar a doutrina
Tunísia como o francês no Senegal, o inglês em Gana e o português em Moçambique. Ao Egito. A taxa de crescimento da 340 milhões de pessoas e estão caso da Angola, que tenta consoli- islâmica e adaptá-la aos
região caiu para 0,61% em 2011 10 dos 25 países mais pobres do dar sua democracia. Em agosto de novos tempos.
Marrocos mesmo tempo, em outros locais vigoram línguas híbri-
contra 4,4% em 2010. A má si- mundo. Entretanto, a Nigéria está 2012, os angolanos foram às urnas
das, euroafricanas, como o crioulo na Guiné-Bissau e #monarquia
tuação econômica abriu caminho numa fase de rápido crescimen- pela terceira vez na história do
Argélia o africânder na África do Sul. para os radicais islamitas, que to, foi o país mais cotado para in- país e escolheram, numa eleição
constitucional ou
Saara ocidental líbia parlamentarista
Egito
preocupam pelo uso da violên- tegrar o Brics e se tornar a maior transparente, o presidente José Sistema político que
A África está em algum lugar entre o passado e o cia, a exemplo dos salafistas. liderança da África, atraindo cada Eduardo dos Santos, no poder há reconhece um monarca
presente, entre a modernidade e a tradição, entre A região vem sofrendo grandes vez mais investimentos. Dos paí- quase 33 anos. Algumas das mu- eleito ou hereditário
como chefe de Estado,
mauritânia o capitalismo e o socialismo e entre a africani- mudanças motivadas pela Pri- ses dessa região, apenas Cabo danças pelas quais o país está pa- mas estabelece uma
Mali Níger dade e a humanidade globalizadas. Enquanto mavera Árabe. Verde, Gana e Senegal não sofre- sando são extremamente visíveis, constituição que limita
países mais ricos investem em tecnologias ram golpes de Estado nas últimas como os avanços na saúde pública seus poderes.
Senegal chade eritrEia
Alguns Países
Gâmbia
burkina
sudão de ponta, o continente ainda Marrocos: monarquia constitu-
décadas. e na reconstrução de estradas. #Estado unitário
faso é pouco urbanizado e suas Sistema em que qual-
Guiné-Bissau
camarões
Mohamed Ould Abdelaziz semipresidencialista, presidente pelo governo central.
Somália de matérias-primas. cialista, presidente Abdelaziz
Guiné equatorial uganda quênia Bouteflika Cabo Verde: república parlamen- Joseph Kabila
São tomé #república
e príncipe gabão República tarista, presidente Jorge Carlos Angola: república presidencialis-
áfrica setentrional
áfrica ocidental do República Dos 30 países mais pobres do mundo Líbia: governo provisório, presi- semipresidencialista
ruanda Fonseca ta, presidente José Eduardo dos A linha divisória entre os
áfrica central
congo democrática
burundi (com problemas de subnutrição, analfa- dente do Congresso Geral Nacio-
do congo República do Gana: república Santos poderes do chefe de Esta-
áfrica oriental
betismo e baixa expectativa de vida), pelo nal Mohamed Yousef el-Magariaf do e do chefe de governo
áfrica austral
tanzânia
Egito: República Semipresidencia- presidencialista, presidente John República do Congo (chamada
menos 21 são africanos. Mesmo existindo Dramani Mahama Congo-Brazavile para se distin-
varia em cada país.
países com boa qualidade de vida como Lí- lista, presidente Mohamed Morsi
#dialeto República Federal da Nigéria: re- guir da vizinha República Demo- #Guiné-Bissau
Trata-se de uma varieda- Angola bia e República do Maurício e outros com pública presidencialista, presiden- crática do Congo): república pre- Apesar do quadro demo-
de ou variante linguís- malawi
índices de desenvolvimento ra- crático e constitucional,
tica. Falantes de uma Zâmbia te Goodluck Jonathan sidencialista, presidente Denis os militares ainda exer-
mesma língua apresen- zoáveis, como a África do Sul Guiné-Bissau: república parla- Sassou-Nguesso cem poder e interferem
moçambique
tam diferenças nos seus
Zimbábue madagascar (a maior economia africana), mentarista, presidente de transi- Camarões: república parlamenta- na lideranças civis. Nos
modos de falar, de acor- últimos 16 anos, o país
do com o lugar em que namíbia Marrocos, Argélia, Tunísia, Cabo ção Manuel Serifo Nhamadjo rista, presidente Paul Biya
sofreu dois golpes de
estão, com a situação de botsuana Verde e São Tomé e Príncipe, não São Tomé e Príncipe: república Estado, uma guerra civil,
fala e registro ou, ainda, existe nenhum país africano real- semipresidencialista, presidente uma tentativa de golpe
de acordo com o seu Manuel Pinto da Costa e um assassinato presi-
nível socioeconômico. suazilândia mente desenvolvido. dencial pelos militares.
lesoto
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África do sul
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ÁFRICA ORIENTAL ÁFRICA AUSTRAL PRIMAVERA ÁRABE
Formada por Comores, Djibuti, Eritreia, Etiópia, Quênia, Também chamada de África meridional, é a par- Em 17 de dezembro de 2010, Mohamed Bouazizi, Na Argélia, milhares protestaram contra o alto custo
República do Maurício, Seicheles, Somália, Tanzânia, te sul do continente, formada pela África do Sul, um jovem tunisiano de 26 anos, ateou fogo ao de vida e para exigir maior liberdade política. Mesmo
Burundi, Ruanda, Uganda, ilha Reunião (área francesa Botswana, Lesoto, Namíbia e Suazilândia. A entrada próprio corpo. A autoimolação, motivada pelo des- que Marrocos e Mauritânia tenham conseguido lidar
no oceano Índico) e Mayotte (área francesa no Arqui- da África do Sul na cúpula dos Brics, em 2010, foi contentamento com a situação geral das condições com as manifestações e reivindicações, o contexto
pélago das Comores). E, ainda, Moçambique, Mada- relevante para o continente, já que indiretamente de vida no país, tornou-se símbolo de uma revo- dos demais países é agravado pela crise financeira da
gascar, Zimbábue, Zâmbia e Malawi, que são frequen- inclui no bloco a agenda africana. A África do Sul se lução que, posteriormente, se espalhou por outros Europa, que diminui o crescimento e a oferta de em-
temente consideradas parte da África meridional. É posiciona como uma potência regional, contribuindo 16 países do mundo árabe, numa série de eventos prego aos imigrantes africanos e do mundo muçulma-
difícil encontrar unidade entre tantos países, mas mui- para a possibilidade de ascensão de outros países intitulados como Primavera Árabe, com objetivo no. A esse quadro devem-se juntar as péssimas con- #mundo árabe
tos compartilham de políticas ou histórias similares, da região. Mesmo com todos os desafios socioeco- de questionar os regimes autoritários e centrali- dições de vida e o predomínio de governos ditatoriais. (ou arabofonia)
zadores desses países. Já ocorreram revoluções na Conjunto de países que
que integram as culturas do Índico. Falta de desenvol- nômicos, os investidores internacionais estão vol- falam o árabe e se distri-
vimento político e democracia, além de inúmeros con- tando seus olhares para países como a Nigéria, que Tunísia e no Egito, uma guerra civil na Líbia; gran- Na Nigéria, milhares protestaram contra o custo de buem, geograficamente,
flitos, são algumas das experiências compartilhadas. já mostra taxas de crescimento expressivas. des protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, vida, as condições sociais e o desrespeito pelos di- do norte da África à Ásia
Jordânia, Síria, Omã e Iêmen e conflitos menores no reitos civis, resultando em centenas de mortos. Após ocidental. É constituído
Os constantes pedidos de ajuda internacional para por 22 países e territó-
saldar débitos e organizar suas legislações comerciais, Alguns países Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Sau- alguns anos de relativa estabilidade, Guiné-Bissau
rios com uma popula-
propiciam uma maior influência externa nesses países. África do Sul: república presidencialista, presidente dita, Sudão e Saara Ocidental. O movimento coloca assistiu durante dois meses a manifestações exigin- ção aproximada de 360
Jacob Zuma em evidência as profundas ligações da África com do a dissolução do governo, com mais de 10 mil pes- milhões de pessoas.
Alguns países Namíbia: república parlamentarista, presidente Hifi- a comunidade muçulmana. soas na rua. Burkina Faso foi abalado por violência e
Zimbábue: república semipresidencialista, presidente kepunye Pohamba #Organização do
protestos exigindo reformas no governo do presiden- Tratado do Atlântico
Robert Mugabe A raiz dos protestos é o agravamento da situação te Blaise Compaoré, que já está no poder há 25 anos. Norte – OTAN
Etiópia: república parlamentarista, presidente Girma desses países, provocada pela crise econômica e Aliança militar intergover-
Wolde-Giorgis pela reivindicação de modelos democráticos de Essa Primavera se espalha também por países afri- namental criada em 1949
sob forte influência dos
Ruanda: república, presidente Paul Kagame participação política. A população sofre com as ele- canos não islamizados. O Gabão, por exemplo, as- Estados Unidos, com sede
Uganda: república, presidente Yoweri Museveni vadas taxas de desemprego e com o alto custo dos sistiu a várias manifestações de oposição em 2011 em Bruxelas, na Bélgica.
Moçambique: república presidencialista, presidente alimentos e pede melhores condições de vida. A denunciando a corrupção nas eleições presidenciais É um sistema de defesa
Armando Guebuza coletiva na qual seus esta-
onda de revoltas já provocou a queda de três go- anteriores e exigindo o adiamento das novas elei-
dos-membros concordam
vernantes na África setentrional. Enquan- ções. Em Uganda, milhares saíram às ruas depois do com a defesa mútua em
to os ditadores da Tunísia e do Egito presidente Yoweri Museveni permanecer no poder resposta a um ataque por
deixaram o poder sem oferecer para um quarto mandato. No Quênia, houve aumen- uma entidade externa.
grande resistência, Muammar to de preços dos alimentos e combustíveis e risco
Kadafi, da Líbia, foi morto em de greve dos funcionários públicos. No Botsuana,
uma rebelião interna com ação quase 90 mil pessoas participaram de uma marcha
militar decisiva da OTAN. para exigir aumentos salariais no setor público.
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Assim como acontece com o petróleo na Nigéria e os diamantes em Angola e na África do Sul, no Congo há
empresas internacionais que, aliadas às classes dominantes e aos exércitos locais, exploram as riquezas
naturais. O Congo possui mais de R$ 48 trilhões em riquezas minerais, mas está entre os 22 países mais
pobres do mundo.
Empresas de tecnologias da informação estão muito interessadas no Coltan. Embora extraído no Brasil,
na Tailândia e, principalmente, na Austrália, é a República Democrática do Congo que concentra mais de
80% das jazidas. No país, surgiu uma série de empresas associadas entre grandes capitais transnacionais,
governos locais e forças militares que disputam o controle da região para extrair este e outros minerais.
#Coltan
Usado nos microchips das baterias dos telefones celulares para aumentar a duração da carga, o Coltan permitiu Mistura dos
a eclosão do negócio desses aparelhos, que já ultrapassaram, só no Brasil, 200 milhões de unidades. minerais colum-
bita e tântalita,
que, na natureza,
Junta-se a essas propriedades o fato da extração do metal não exigir grandes despesas – é obtido cavando apresentam-se
na lama – e de ser facilmente comercializado. Um trabalhador consegue extrair até 1kg do mineral por dia ligados. É um metal
raro, duro e denso,
de trabalho e ganha, ao final da semana, de R$ 20,00 a R$ 100,00, sendo a média salarial mensal do con- muito resistente à
golês em torno de apenas R$ 20,00. Os trabalhadores das minas são na maioria camponeses, prisioneiros corrosão e a altas
temperaturas, exce-
de guerra e crianças que deixam as escolas – sempre vigiados por militares. Estima-se que o exército de lente condutor de
Ruanda, por exemplo, já acumulou R$ 500 milhões com a venda do Coltan do Congo. eletricidade e calor.
A riqueza
A luta de um humanista
e a guerra no Congo Em meio a essa situação dramática, surge o trabalho do
médico Denis Mukwege (1955), conferencista no Fronteiras do
Pensamento no ano de 2011, fundador e diretor do Hospital
Com mais de 60 milhões de habitantes, a República de Panzi, onde se especializou no atendimento a mulheres
Democrática do Congo está situada no coração do vítimas de violência sexual. É o maior especialista mundial em
reparação interna de genitais femininos e coordena programas
continente. Sua história é marcada pela violência, de HIV/AIDS. Mukwege recebeu, em 2008, o Prêmio Direitos
Humanos das Nações Unidas pelo seu trabalho de proteção
tanto por parte dos colonizadores belgas como por aos direitos e à dignidade de milhares de mulheres congole-
seus próprios governantes, assim como por parte dos sas. Em 2009, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, vencido
pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
exploradores das suas riquezas minerais. Com mais
Em outubro de 2012, Mukwege também foi vítima de violên-
de 5 milhões de mortos e 500 mil mulheres vítimas cia na cidade de Bukavu. Quatro homens armados invadiram
sua residência para tentar matá-lo, mas erraram o alvo e
de violência sexual, o Congo está à margem da acabaram fugindo. Um dos seus guarda-costas foi morto na
preocupação da comunidade internacional. emboscada. O motivo do ataque foi vingança: “Eles se revol-
tam quando denunciamos seus crimes”, lamentou Mukwege.
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a criação artística africana Arte como experiência
Os povos africanos faziam seus objetos de arte utilizando elemen-
No rico e variado campo da criação artística africana, é possível distinguir pelo tos da natureza: esculturas de marfim, máscaras entalhadas em
madeira e ornamentos em ouro e bronze. Esculpiam e pintavam
menos duas formas principais através das quais ela se manifesta. A primeira, temas mitológicos, animais da floresta, cenas das tradições, per-
sonagens do cotidiano. Por retratarem um universo complexo de
conhecida como arte tradicional, representa uma soma de elementos simbólicos e elementos, as “Artes da África” não eram meramente visuais, mas,
sim, experiências. Um exemplo são as famosas máscaras, protago-
místicos com finalidade religiosa ou prática. De notável senso estético, seus motivos nistas desta arte. A crença de que possuíam determinadas virtudes
são variados, tratam do cotidiano, das crenças e de cenas de caça e guerra. A mágicas transformou-as em foco de pesquisas. Para os africanos,
as máscaras representavam um disfarce místico com o qual pode-
segunda, arte contemporânea africana, é desenvolvida por artistas nascidos no riam absorver a energia vital dos espíritos. Serviam também para
identificar os membros de certas sociedades secretas, como os fer-
continente mas que atuam fora dele, sobretudo na Europa e na América do Norte, reiros do antigo Mali, conhecidos pelo nome “Komo”. A arte africana
é plural e multidimensional, seus objetos são verdadeiras experiên-
no contexto das trocas culturais promovidas pela diáspora negra no Novo Mundo. cias físicas e espirituais.
Registros da arte pré-histórica africana, nas rochas e cavernas no deserto do A representação simbólica
Saara, datam de aproximadamente 6 mil anos, fazendo delas um dos maiores O desenho de joias e as texturas entalhadas na superfície de certos
e mais belos museus pré-históricos do mundo. Nas inscrições rupestres objetos da arte africana também constituem uma linguagem gráfica #Pablo Picasso
das cavernas de Tassili n'Ajjer, ao sul da Argélia, nas de Tadrart Acacus, particular. São padrões e modelos sinalizando origem e identidade (1881-1973)
Pintor, escultor, poeta e
ao sul da Líbia, e nas do norte do Chade, todas em ambiente desértico, que aparecem também na arquitetu- desenhista espanhol, um
percebem-se elefantes, hipopótamos e crocodilos, cenas de caça e pesca, ra, na tecelagem ou na arte corporal. dos mestres da arte do
século XX. É conhecido
habitações, distrações e a ilustração de crenças religiosas. Do tamanho dos crânios ao pentea- como um dos pais do
do das estátuas, passando pela es- Cubismo, movimento
Desde o III milênio a.C., o Egito produziu uma arte monumental para o colha das matérias-primas, tudo é simbólico: status, poder, crenças religio- artístico que surgiu nas
artes plásticas e que
enaltecimento dos faraós e para a glória de seus deuses. Na África oci- sas etc. Conflitos filosóficos também são representados – como a relação do tratava as formas da
dental, as esculturas mais antigas conhecidas pertencem à cultura Nok, homem com o tempo, com a existência e com o cosmo, ou seja, tudo o que natureza por meio de
figuras geométricas,
da Nigéria. São obras feitas em terracota com a representação de corpos envolve a humanidade – o homem em sua interioridade sensorial e na sua representando todas as
humanos dotados de grande realismo, confeccionadas aproximadamen- relação com o mundo. partes de um objeto no
te em 500 d.C. Depois, métodos complexos de criação artística seriam mesmo plano.
desenvolvidos. As obras que melhor expressam o grau de desenvolvi- Dois grandes nomes da arte moderna, Pablo Picasso e Henri Matisse, de-
#Henri Matisse
mento das antigas civilizações africanas foram criadas na antiga cidade monstram forte influência da arte africana tradicional em seus trabalhos. (1869-1954)
do Benin, no decorrer dos séculos XV a XVII, em madeira, marfim e, Picasso dizia que o “vírus” da arte africana o tinha contagiado. O uso de tons Artista francês, conhecido
pelo uso da cor e seu
principalmente, retratos em alto-relevo feitos em bronze ou latão de terrosos ou cores vivas, o traço geométrico e os espaços delimitados por li- desenho fluido e original.
cenas estilizadas da corte dos poderosos governantes, os obás. nhas pretas são elementos comuns em ambos os trabalhos. Desenhista, gravurista
e escultor, reconhecido,
Essas obras encontram-se hoje espalhadas pelos grandes museus Matisse dialogava com as variadas formas africanas de expressar e representar principalmente, como
da Europa e são consideradas obras-primas da arte universal o mundo essencialmente pelas cores fortes e puras. Sua escultura é especial-
pintor. É considerado um
dos principais artistas do
pela qualidade técnica e a perfeição das formas. mente inspirada na estatuária africana e nas máscaras ritualísticas. século XX.
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ÁFRICA CONTEMPORÂNEA Nos últimos anos, a proliferação de bienais em Dakar, Cidade do Cabo, Luanda e Cairo contribuíram
para o estabelecimento de novas linhas de comunicação e infraestrutura entre artistas, curadores
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narradores de suas proprias historias olhares
Um dos fenômenos culturais característicos da Áfri-
ca contemporânea é a capacidade de se autonarrar.
mes populares, como a mutilação clitoriana das meninas,
no derradeiro Moolade, de 2004.
contemporaneos
Cineastas e fotógrafos do continente criam suas pró-
A África contemporânea desperta novos olhares,
prias imagens, narram seus próprios sonhos e mos- Nas criações de seus cineastas mais importantes, como
principalmente com a emergência de fotógrafos do
tram ao mundo seus pontos de vista através de uma Souleymane Cissé (Mali, 1940), Djibril Diop Mambéty
continente, que vão construindo uma visão alter-
indústria cinematográfica a cada dia mais forte e de (Senegal, 1945-1998) e Flora Gomes (Guiné-Bissau, 1949),
nativa ao clichê da paisagem africana dos tempos
uma produção fotográfica cada vez mais criativa. a África recupera a personalidade que o colonialismo
coloniais. Também difere das imagens utópicas que
lhe retirou. Sobressaindo o constante diálogo entre a
alimentaram as abordagens pós-independências. Tra-
© Arwa Abouon
Após a independência tardia da grande maioria dos tradição e a modernidade que, em vez de aparecerem
ta-se de uma imagem definitivamente urbana, evi- Série: Generation,
países, o cinema transformou-se em um potencial de como fenômenos antagônicos, são apresentados como
dentemente desequilibrada e com novos e distintos Sans titre (Mother
linguagem e comunicação para os africanos, que pas- complementares.
problemas que se misturam aos tradicionais. Daughter), 2004
saram a exercer o seu “direito de narrar”. Fora dos cir-
cuitos internacionais europeus e norte-americanos, a A Nigéria constituiu uma verdadeira indústria cinemato-
Com criadores de imagens que vão do norte até à
produção cinematográfica do continente precisou con- gráfica, que chamou de Nollywood. Os nigerianos pro-
África do Sul, a fotografia mergulha profundamente
tar com o apoio de órgãos oficiais, abrindo espaços de duzem mais de 1.000 filmes por ano – o dobro da pro-
nos mais diversos problemas, criando um retrato
exibição como as Jornadas Cinematográficas de Carta- dução de Hollywood –, arrecadando em torno de US$
múltiplo de um continente em estado de ebulição.
go (1965), o Simpósio do Filme Pan-Africano de Moga- 250 milhões, a terceira maior arrecadação mundial, atrás
díscio (1981) e, sobretudo, o Festival Pan-Africano de somente dos americanos e dos indianos (Bollywood). A
Questões como o caos urbano, a miséria nas cida-
Ouagadougou – FESPACO (1972). indústria cinematográfica nigeriana é a segunda maior do
des, drogas ou desinserção, assim como a questão
país, perde apenas para a petrolífera.
da mobilidade, seja nos campos de refugiados ou
© Jodi Bieber
Considerado o criador do cinema africano, Ousmane
nas imagens de malianos em Paris, são capturadas
Sembène (1923-2007) descreveu as contradições e de- Baseada em produções de baixo custo, em torno de US$ Série: Going
por esses novos olhares. A guerra cíclica e sistêmica Home, 2001
sigualdades dessas sociedades. Atacou tanto o cará- 20 mil, Nollywood é financiada por produtores locais que
que atravessa a África, mas também o problema da
ter reacionário da religião islâmica em Ceddo, de 1976, vendem, em média, 100 mil vídeos a US$ 3 a cópia. Esse
educação, do uso dos recursos e da corrupção, são
quanto a natureza opressora da colonização francesa esquema de produção e distribuição é o diferencial, e,
matéria de contestação aberta ao poder político.
em Emitai, de 1973, a corrupção da elite republicana em apesar de não receber subsídios do governo, o cinema ni-
Xala, de 1975, e o caráter retrógrado e nefasto de costu- geriano transcendeu os limites do seu próprio território.
Novas questões afloram, sobretudo relacionadas
com a tradição ou com a afirmação de novas iden-
tidades que descolam do ordenamento social deri-
vado dessa tradição. É o caso do lugar da mulher
criadores de imagens
nas sociedades islâmicas ou do tabu da homosse-
xualidade. As abordagens a essas realidades são
© Emeka Okereke
bastante diversas. E esta diversidade, que é uma
forte característica da arte fotográfica atual, ajuda
a fazer dela um interessante e múltiplo retrato de
um continente em transição. Sans titre, 2008
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A África lusófona “Eis a nossa sina: esquecer para ter passado,
mentir para ter destino.”
O outro pé da sereia, M ia Couto
O escritor moçambicano Mia Couto é um dos gran-
Lusofonia é o conjunto de identidades culturais existentes em países, regiões, estados ou cidades falantes des nomes da literatura em língua portuguesa con- Mas é como escritor que Mia tornou-se mun-
da língua portuguesa. O português é a língua oficial de oito países espalhados pelos quatro continentes: temporânea. Nascido na cidade de Beira, em 1955, dialmente conhecido. Ele é o autor moçambi-
Angola (12,7 milhões), Brasil (198,7 milhões), Cabo Verde (429 mil), Guiné-Bissau (1,5 milhão), Moçambique Antônio Emílio Leite Couto chegou a cursar Medicina cano mais traduzido e divulgado no mundo e
(21,2 milhões), Portugal (10,7 milhões), São Tomé e Príncipe (212 mil) e Timor-Leste (1,1 milhão). É a sexta em Maputo, capital de Moçambique, onde havia um dos autores estrangeiros mais vendidos em
língua mais falada do mundo (por mais de 250 milhões de pessoas). Na internet, o português é o sexto um ambiente racista muito forte e o regime exer- Portugal (com mais de 400 mil exemplares). Entre
idioma mais usado. Trata-se de um vasto universo de falantes que abrange todos os continentes, com cia grande pressão sobre os estudantes univer- suas obras mais significativas estão a coletânea de
uma enorme diversidade e riqueza cultural. A lusofonia é motivo da criação de incontáveis grupos, ONGs, sitários. Assim, Mia começou a colaborar com a contos Vozes anoitecidas e os romances Terra sonâmbu-
associações e movimentos pelo mundo. Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO, la e O último voo do flamingo, ambos adaptados recente-
partido marcado pela luta da independência de mente para o cinema. Seus livros A Varanda do Frangipani
Moçambique de Portugal.
Comunidade dos P aíses de Língua P ortuguesa – CPLP e contos extraídos de Cada homem é uma raça foram adap-
tados para o teatro. Recentemente, publicou a coletânea de
Após a independência de seu país, em 1975, ensaios E se Obama fosse africano? e, em 2012, seu mais
Organização assinada entre países lusófonos que instiga a aliança e a amizade entre os signatários.
ingressou na atividade jornalística, na qual recente romance, A confissão da leoa.
A sede fica em Lisboa, e seu atual secretário executivo é Domingos Simões Pereira, de Guiné-Bissau.
permaneceu por 10 anos, abandonando a
Criada em 1996, tem autonomia financeira e como objetivos: a organização política entre seus es-
profissão para terminar o curso de Biolo- A literatura de Mia Couto é exaltada não só pela forma como
tados-membros para o reforço da sua presença no cenário internacional; a cooperação em todos os
gia em 1989, especializando-se na área ele descreve e trata a vida cotidiana da Moçambique contem-
domínios; e a materialização de projetos de promoção e difusão da língua portuguesa.
de Ecologia. A partir daí, manteve co- porânea, mas, principalmente, pela inventiva poética, numa
laboração dispersa com jornais, ca- permanente descoberta de novas palavras através de um pro-
P aíses Africanos de Língua Oficial P ortuguesa – palop deias de rádio e televisão, dentro
e fora de Moçambique. Hoje, atua
cesso de mestiçagem entre o português “culto” e as várias
formas e variantes dialetais introduzidas pelas populações
Grupo dos cinco países que foram colônias de Portugal e que obtiveram a independência entre 1973 como biólogo na área de estu- moçambicanas. O autor cria, se apropria, recria e renova a
e 1975, constando entre os dez países mais jovens do continente: Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, dos de impacto ambiental. língua portuguesa em diferentes direções.
Moçambique e São Tomé e Príncipe. Além da língua, compartilham um forte sentido de identidade
devido à sua história, trabalhando conjuntamente para o desenvolvimento da educação e preserva-
ção da língua portuguesa e suas tradições. “Tristeza não é chorar. Tristeza é não ter para quem chorar.”
A confissão da leoa, M ia Couto
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eram a principal importação da África: uma trans-
formação radical na cultura do continente. A partir
de 1850, a construção de estradas e a facilitação
do transporte dos produtos desestimulou o investi-
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O corpo:
instrumento de comunicação
O corpo é o mais sagrado e completo instrumento de comunicação nas culturas africanas e afro-brasileiras. A linguagem
corporal é compreendida tão claramente que a roupa não deve inibir nem privar seus movimentos, pois, assim como o
A manifestação da fé
corpo, a roupa mantém uma relação muito íntima com o sagrado. Na África contemporânea convivem, ao mesmo tempo, o cristianismo, o islamismo, o judaísmo e
as religiões tradicionais. Essa mistura peculiar da fé também acontece no Brasil, onde são encon-
O negro não se veste, simplesmente: ele se produz. Por trás de cada gesto há um ritual que o mantém ligado à ances- tradas diversas manifestações de religiosidade: dos nativos, o catolicismo, os cultos africanos, o
tralidade. Na percepção das comunidades afro, o corpo – e tudo aquilo que se pode fazer com ele ou por meio dele – se protestantismo, entre outras.
une aos múltiplos planos em que transita. Inicialmente desenvolvida para ser uma defesa, a capoeira era praticada pelos #sincretismo
No Brasil, as religiões de matrizes africanas transcenderam a fé. Transformaram-se em elementos Fusão de doutrinas de
negros cativos. Os movimentos de luta foram adaptados às cantorias africanas e ficaram mais parecidos com uma dança, diversas origens, seja
permitindo, assim, que treinassem sem levantar suspeitas dos capatazes. de reagrupamento e um importante fator na luta contra a escravidão. Foram criados sincretismos na esfera das crenças
entre os deuses dos cativos e os santos católicos. Duas grandes religiões afro-brasileiras são o religiosas, seja das
Candomblé e a Umbanda. filosóficas.
#Batuque
No Rio Grande do Sul, desponta o Batuque, fruto de religiões dos povos da Costa da Guiné e da Palavra originária da
Nigéria. É interessante notar a adaptação do Batuque ao contexto regional. Oxum, a deusa das expressão batukajé,
águas doces, tem como oferenda a polenta, influência da colônia italiana. O Bará, divindade das numa referência ao bater
Herança afro encruzilhadas e dos caminhos, recebe batatas-inglesas assadas, popularizadas pela colônia alemã
no estado. A veste ritual masculina é a bombacha, e o churrasco é o alimento preferido de Ogum,
dos tambores típico das
cerimônias de religião.
e costumes. século XVII, chamada Nzinga Mbandi, ou simplesmente Rainha A África nunca esteve distante do culto à be- indicar posição social, identidade étnica, ori- #Black Power
Slogan político e nome
Jinga. De nome de rainha a personagem da congada, a ginga ad- leza, não apenas do corpo, mas também da gem, religião, idade. Principalmente a partir que agrega várias
Outras contribuições importantes estão na música e na dança: quiriu muitos outros significados, hoje atribuídos principalmente beleza expressa nas diversas formas de arte. dos cabelos é possível resgatar memórias an- ideologias destinadas a
o carimbó, o jongo, o samba e o cacuriá; nos instrumentos mu- aos brasileiros. Na cultura africana, a concepção do belo está cestrais. promover o movimento
sicais: o atabaque, o agogô, o berimbau, o afoxé e a ganzá; nas ligada ao bem e ao verdadeiro. Ao longo da negro. Foi destaque nos
anos 1960 e 1970 nos
lutas: a capoeira; na religião: o candomblé e a umbanda; na culi- A África não tem uma unidade cultural, mas apresenta enorme varieda- história, os cabelos receberam atenção espe- “O negro é lindo!” era uma das premissas do Estados Unidos, ressal-
nária: o vatapá, o caruru, a moqueca, o acarajé e a feijoada. Os de de formas culturais e costumes. Suas crenças vão muito além do cul- cial nas culturas de matriz africana no Brasil. movimento Black Power. Ele se espalhou pelo tando o orgulho racial e
africanos também trouxeram para o Brasil técnicas de produção to dos orixás ou voduns, que são típicos dos povos do Golfo da Guiné. Em especial, nas culturas de origem banto. mundo e chegou ao Brasil. Para além da procu- lutando pela criação de
instituições políticas e
de objetos, como modelar e cozer o barro utilizado para confec- Os cativos africanos que desembarcaram na Bahia, por exemplo, são de Em conjunto com o rosto, os cabelos definiam ra pela beleza, assumir o gosto e o respeito pe-
culturais para cultivar e
ção de recipientes, bem como padrões estéticos presentes nas origem e cultura diferentes dos que desembarcaram no Rio de Janeiro a pessoa e o grupo a que pertencia. É um las diferentes formas da estética negra sinaliza promover interesses e
formas, nas decorações e no colorido. ou em Pernambuco. Isso engrandeceu a herança cultural do país. complexo sistema de linguagem que pode um pertencimento e um orgulho dessa herança. valores negros.
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Anotações Fronteiras Educação
Planejamento Cultural
........................................................................................ Telos Empreendimentos Culturais
Apresentação
........................................................................................ Fabrício Carpinejar
Pesquisa e Relacionamento
........................................................................................ Amalia Meneghetti
Ana Luisa Spanhol
........................................................................................ Ana Paula Treher
Denise Donicht
Francisco de Azeredo
........................................................................................ Michele Marten
Suzana Guimarães
........................................................................................
Projeto Gráfico e Editoração
Editoras Associadas (Camila Kieling e Marta Castilhos)
........................................................................................
Capa, Ilustrações e Editoração
Canhotorium – Arte Aplicada (www.canhotorium.com.br)
Revisão Ortográfica
Produção Gráfica
Denise Freitas
lusófono – arte – África – racismo – religião – Coltan – literatura – etnias – dança – Brasil – cultura – moda
sincretismo – cinema – preconceito – leis – educação – diferenças – samba – corporeidade – escravidão Agradecemos pela parceria institucional da Universidade Federal do Agradecimentos
Colégio de Aplicação da UFRGS
Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Secretaria Municipal de Educação de
independência – geografia – colônias – fotografia – tecelagem – fé – afro-brasileiro – língua portuguesa Porto Alegre (SMED) na realização do Fronteiras Educação.
Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre
Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre
A “Geração Z” é sujeito e protagonista do mundo em que vivemos no século XXI. Com
amplo acesso a todos os caminhos da informação abertos na esfera digital, ela pode
chegar a uma qualidade de conhecimento extraordinária, revolucionária. Além disso,
redimensionamos os corpos e hoje incluímos próteses digitais variadas, que nos conectam
a uma imensa rede internacional. A amizade, o amor e o conhecimento ganharam um
novo cenário. Isso nos dá potência para aprender sobre o patrimônio e os desafios da
humanidade e, com o conhecimento, agir para melhorar o mundo, em atitudes que vão
do indivíduo à nação, do bairro ao globo conectado. Precisamos aprender mais deste
mundo globalizado, começando pela África. Continente fundamental, de onde proveio a
humanidade, fonte de riquezas naturais e culturais, mas também vítima da voracidade
dos exploradores. A África de problemas graves como a guerra e a fome, doenças,
violência política e crises de direitos humanos. Mas também a África lusófona, literária
e artística, rica em cultura. Enfim, um mundo a ser explorado.
Patrocínio
realização
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