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Importância da Analepse:

A intriga secundária, presente na grande analepse, permite


enquadrar e explicar grande parte dos acontecimentos e
comportamentos que terão lugar na intriga principal (a
separação de dos dois irmãos, a educação dada a Carlos,
o peso da hereditariedade, o sentimentalismo exagerado das
personagens).
- Fim da grande analepse.

- Elipse.

- Tempo histórico.

-Início da intriga principal:


Carlos da Maia no meio lisboeta.
Pag. 63
O bom Vilaça, no entanto, dando estalinhos aos dedos, preparava - valorização das línguas mortas
uma observação. Não se podia decerto ter melhor prenda que
montar a cavalo com as regras... Mas ele queria dizer se o Carlinhos (uso do diminutivo: traduz a ideia de
já entrava com o seu Fedro, o seu Tito Liviozinho...
— Vilaça, Vilaça — advertiu o abade, de garfo no ar e um sorriso
pequenez, mesquinhice…)
de santa malícia — não se deve falar em latim aqui ao nosso
nobre amigo... Não admite, acha que é antigo... Ele, antigo é...
— Ora sirva-se desse fricassé, ande, abade — disse Afonso — -valorização da componente física,
que eu sei que é o seu fraco, e deixe lá o latim...
O abade obedeceu com deleite; e escolhendo no molho rico os
o corpo deve ser desenvolvido, para
bons pedaços de ave, ia murmurando: que depois se desenvolva a mente:
— Deve-se começar pelo latinzinho, deve-se começar por lá... É
a base; é a basezinha! “Mente sã em corpo são”
— Não! latim mais tarde! — exclamou o Brown, com um gesto
possante. Prrimeiro forrça! Forrça! Músculo...
E repetiu, duas vezes, agitando os formidáveis punhos:
— Prrimeiro músculo, músculo!...
Afonso apoiava-o, gravemente. O Brown estava na verdade. O -a erudição ultrapassada vs.
latim era um luxo de erudito... Nada mais absurdo que começar a
ensinar a uma criança numa língua morta quem foi Fábio, rei dos a experiência, o contacto
Sabinos, o caso dos Gracos, e outros negócios de uma nação extinta,
deixando-o ao mesmo tempo sem saber o que é a chuva que o
com a natureza (conhecimento
molha, como se faz o pão que come, e todas as outras coisas do universo empírico)
em que vive...
— Mas enfim os clássicos — arriscou timidamente o abade.
— Qual clássicos! O primeiro dever do homem é viver. E para
isso é necessário ser são, e ser forte. Toda a educação sensata consiste
nisto: criar a saúde, a força e os seus hábitos, desenvolver -a dimensão espiritual é
exclusivamente o animal, armá-lo de uma grande superioridade
física. Tal qual como se não tivesse alma. A alma vem depois... A
menosprezada
alma é outro luxo. É um luxo de gente grande...
Pag. 72
Os noivos tinham chegado de uma pitoresca e perigosa viagem,
e Carlos parecia descontente de sua mulher; comportara-se de uma
maneira atroz; quando ele ia governando a mala-posta, ela quisera
empoleirar-se ao pé dele na almofada... Ora senhoras não viajam
na almofada.
- imaginação
— E ele atirou-me ao chão, titi!
— Não é verdade! Demais a mais é mentirosa! Foi como quando
chegámos à estalagem... Ela quis-se deitar, e eu não quis... A gente,
quando se apeia de viagem, a primeira coisa que faz é tratar do - visão crítica
gado... E os cavalos vinham a escorrer...
A voz de D. Ana interrompeu, muito severa:
— Está bom, está bom, basta de tolices! Já cavalaram bastante.
Senta-te aí ao pé da senhora viscondessa, Teresa... Olha essa travessa - energia
do cabelo... Que despropósito!
Sempre destestara ver a sobrinha, uma menina delicada de dez
anos, a brincar assim com o Carlinhos. Aquele belo e impetuoso
rapaz, sem doutrina e sem propósito, aterrava-a; e pela sua imaginação
de solteirona passavam sem cessar ideias, suspeitas de - dinamismo
ultrajes que ele poderia fazer à menina. Em casa, ao agasalhá-la
antes de vir para Santa Olávia, recomendava-lhe com força que
não fosse com o Carlos para os recantos escuros, que o não deixasse
mexer-lhe nos vestidos!... A menina, que tinha os olhos muito
langorosos, - inocência (Carlos) /
dizia: «Sim, titi.» Mas, apenas na quinta, gostava de abraçar
o seu maridinho. Se eram casados, porque não haviam de fazer perversidade (D. Ana)
nené, ou ter uma loja e ganharem a sua vida aos beijinhos? Mas o
violento rapaz só queria guerras, quatro cadeiras lançadas a
galope, viagens a terras de nomes bárbaros que o Brown lhe ensinava.
Ela, despeitada, vendo o seu coração mal compreendido, chamava-
lhe arrieiro; ele ameaçava boxá-la à inglesa; — e
separavam-se sempre arrenegados.
Mas quando ela se acomodou ao lado da viscondessa, gravezinha
e com as mãos no regaço — Carlos veio logo estirar-se ao pé dela,
meio deitado para as costas do canapé, bamboleando as pernas.
— Vamos, filho, tem maneiras — rosnou-lhe muito seca D. Ana.
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De repente, porém, de um salto, precipitou-se sobre o Eusebiozinho.
Queria-o levar à África, a combater os selvagens; e puxava-o já pelo seu
belo plaid de cavaleiro da Escócia , quando a mamã acudiu aterrada:
— Não, com o Eusebiozinho não, filho! Não tem saúde para - super-proteccionismo
essas cavaladas... Carlinhos, olhe que eu chamo o avô!
Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão,
soltando gritos medonhos. Foi um alvoroço, um levantamento. A
mãe, trémula, agachada junto dele, punha-o de pé sobre as perninhas
moles, limpando-lhe as grossas lágrimas, já com o lenço, já
com beijos, quase a chorar também. O delegado, consternado, apanhara
o boné escocês, e cofiava melancolicamente a bela pena de
galo. E a viscondessa apertava às mãos ambas o enorme seio, como
se as palpitações a sufocassem.
O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da
titi; e a severa senhora, com um fulgor de cólera na face magra, - ser abúlico, passivo, inexpressivo
apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se a repelir
o Carlinhos, que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda do
canapé, ria, arreganhando para o Eusebiozinho um lábio feroz. Mas
nesse momento davam nove horas, e a desempenada figura do
Brown apareceu à porta.
Apenas o avistou, Carlos correu a refugiar-se por detrás da viscondessa,
gritando:
— Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar!
Então Afonso da Maia, que se não movera aos uivos lancinantes
do Silveirinha, disse de dentro, da mesa do voltarete, com severidade:
— Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama.
- método, rigor, hábitos saudáveis,
— Ó vovô, é festa, que está cá o Vilaça! disciplina
Afonso da Maia pousou as cartas, atravessou a sala sem uma
palavra, agarrou o rapaz pelo braço, e arrastou-o pelo corredor —
enquanto ele, de calcanhares fincados no soalho, resistia, protestando
com desespero:
— É festa, vovô... É uma maldade!... O Vilaça pode-se escandalizar...
Ó vovô, eu não tenho sono!
Uma porta fechando-se abafou-lhe o clamor.
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— Ó filho, diz tu aqui ao Sr. Vilaça aqueles lindos versos que - carácter passivo, sem energia
sabes... Não sejas atado, anda!... Vá, Eusébio, filho, sê bonito...
Mas o menino, molengão e tristonho, não se descolava das saias
da titi: teve ela de o pôr de pé, ampará-lo, para que o tenro prodígio - dependência exagerada da
não aluísse sobre as perninhas flácidas; e a mamã prometeu-lhe protecção feminina
que, se dissesse os versinhos, dormia essa noite com ela...
Isto decidiu-o: abriu a boca, e lassa veio
de lá escorrendo, num fio de voz, um recitativo lento e babujado:
- fragilidade física
É noite, o astro saudoso
Rompe a custo um plúmbeo céu,
Tolda-lhe o rosto formoso -ausência de vontade própria
Alvacento, húmido véu...
(só reage a promessas doentias,
Disse-a toda — sem se mexer, com as mãozinhas pendentes, os inadequadas)
olhos mortiços pregados na titi. A mamã fazia o compasso com a
agulha do crochet; e a viscondessa, pouco a pouco, com um sorriso
de quebranto, banhada no langor da melopeia, ia cerrando as pálpebras.
— Muito bem, muito bem! — exclamou o Vilaça, impressionado, - registo ultra-romântico
quando o Eusebiozinho findou coberto de suor. — Que memória!
Que memória!... É um prodígio!...
- valorização da memorização
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— E agora? — perguntou-lhe o Sequeira, depois de um
momento de silêncio em que Carlos estivera bebendo o seu conhaque
e soda. — Agora que tencionas tu fazer?
— Agora, general? — respondeu Carlos, sorrindo e pousando o
copo. — Descansar primeiro e depois passar a ser uma glória nacional!
IDEALISMO DE CARLOS:
Ao outro dia, com efeito, Afonso veio encontrá-lo na sala de
bilhar — onde tinham sido colocados os caixotes — a despregar, a
desempacotar, em mangas de camisa e assobiando com entusiasmo.
Pelo chão, pelos sofás, alastrava-se toda uma literatura em rumas - Grandes projectos
de volumes graves; e aqui e além, por entre a palha, através das
lonas descosidas, a luz faiscava num cristal, ou reluziam os vernizes, - Vontade
os metais polidos dos aparelhos. Afonso pasmava em silêncio
para aquele pomposo aparato do saber.
- Entusiasmo
— E onde vais tu acomodar este museu?
Carlos pensara em arranjar um vasto laboratório ali perto no
bairro, com fornos para trabalhos químicos, uma sala disposta para
estudos anatómicos e fisiológicos, a sua biblioteca, os seus aparelhos,
uma concentração metódica de todos os instrumentos de estudo...
Os olhos do avô iluminavam-se ouvindo este plano grandioso.
— E que não te prendam questões de dinheiro, Carlos! Nós fizemos
Apoio de Afonso (a educação havia
nestes últimos anos de Santa Olávia algumas economias... resultado)
— Boas e grandes palavras, avô! Repita-as ao Vilaça.
As semanas foram passando nestes planos de instalação. Carlos
trazia realmente resoluções sinceras de trabalho: a ciência como
mera ornamentação interior do espírito, mais inútil para os outros
que as próprias tapeçarias do seu quarto, parecia-lhe apenas um
luxo de solitário: desejava ser útil.
Pag. 99
Carlos mobilou-o com luxo. Numa antecâmara, guarnecida de
banquetas de marroquim, devia estacionar, à francesa, um criado
de libré. A sala de espera dos doentes alegrava com o seu papel
verde de ramagens prateadas, a plantas em vasos de Ruão, quadros
de muita cor, e ricas poltronas cercando a jardineira coberta O luxo do consultório era mais
de colecções do Charivari, de vistas estereoscópicas, de álbuns de
actrizes seminuas, para tirar inteiramente o ar triste de consultório,
propício ao ócio, às actividades
até um piano mostrava o seu teclado branco. lúdicas do que ao trabalho.
O gabinete de Carlos ao lado era mais simples, quase austero,
todo em veludo verde-negro, com estantes de pau-preto. Alguns
amigos que começavam a cercar Carlos, Taveira, seu contemporâneo
e agora vizinho do Ramalhete, o Cruges, o marquês de Souselas,
com quem percorrera a Itália — vieram ver estas maravilhas.
O Cruges correu uma escala no piano e achou-o abominável;
Taveira absorveu-se nas fotografias de actrizes; e a única aprovação
franca veio do marquês, que depois de contemplar o divã do
gabinete, verdadeiro móvel de serralho, vasto, voluptuoso, fofo,
experimentou-lhe a doçura das molas e disse, piscando o olho a
Carlos:
— A calhar.
Não pareciam acreditar nestes preparativos. E todavia eram
sinceros. Carlos até fizera anunciar o consultório nos jornais; Maior preocupação com a
quando viu, porém, o seu nome em letras grossas, entre o de uma
engomadeira à Boa Hora e um reclamo de casa de hóspedes — aparência do que com a verdadeira
encarregou Vilaça de retirar o anúncio. finalidade.
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O seu gabinete, no consultório, dormia numa paz tépida entre
os espessos veludos escuros, na penumbra que faziam os estores de
seda verde corridos. Na sala, porém, as três janelas abertas bebiam
à farta a luz; tudo ali parecia festivo; as poltronas em torno da jardineira O ócio, a indolência
estendiam os seus braços, amáveis e convidativos; o teclado
branco do piano ria e esperava, tendo abertas por cima as Canções
de Gounod; mas não aparecia jamais um doente. E Carlos — exactamente
como o criado que, na ociosidade da antecâmara, dormitava
sob o Diário de Notícias, acaçapado na banqueta — acendia
um cigarro «Laferme», tomava uma revista, e estendia-se no divã.
A prosa, porém, dos artigos estava como embebida do tédio moroso
do gabinete: bem depressa bocejava, deixava cair o volume.
Do Rossio, o ruído das carroças, os gritos errantes de pregões, o
rolar dos americanos, subiam, numa vibração mais clara, por aquele A influência do meio:
ar fino de Novembro: uma luz macia, escorregando docemente do
azul-ferrete, vinha dourar as fachadas enxovalhadas, as copas mesquinhas o meio circundante
das árvores do município, a gente vadiando pelos bancos: e
essa sussurração lenta de cidade preguiçosa, esse ar aveludado de
ocioso e estagnado, pouco
clima rico, pareciam ir penetrando pouco a pouco naquele abafado dinâmico, o clima ameno e
gabinete e resvalando pelos veludos pesados, pelo verniz dos
móveis, envolver Carlos numa indolência e numa dormência... Com agradável acabavam por
a cabeça na almofada, fumando, ali ficava, nessa quietação de sesta,
num cismar que se ia desprendendo, vago e ténue, como o ténue e
influenciar Carlos
leve fumo que se eleva de uma braseira meio apagada; até que, com
um esforço, sacudia este torpor, passeava na sala, abria aqui e além
pelas estantes um livro, tocava no piano dois compassos de valsa,
espreguiçava-se — e, com os olhos nas flores do tapete, terminava
por decidir que aquelas duas horas de consultório eram estúpidas!
— Está aí o carro? — ia perguntar ao criado.
Acendia bem depressa outro charuto, calçava as luvas, descia, Pouca persistência e dedicação
bebia um largo sorvo de luz e ar, tomava as guias e largava, murmurando
consigo:
— Dia perdido!
Pags. 289/290

Quando nessa noite, uma noite triste de água, Carlos e Craft o


acompanharam a Santa Apolónia, ele disse-lhes na carruagem IDEALISMO VS PRÁXIS
estas palavras, triste resumo de um amor romântico:
— Sinto-me como se a alma me tivesse caído a uma latrina!
Preciso um banho por dentro!
Afonso da Maia, ao saber este desastre do Ega, tinha dito a
Carlos, com tristeza:
— Má estreia, filho, péssima estreia!
A PRÁXIS:
E nessa noite, depois de voltar de Santa Apolónia, Carlos pensava
nestas palavras, dizia também consigo: «Péssima estreia!...». E
nem só a estreia do Ega era péssima; também a sua. E talvez, por - nenhum projecto concretizado
pensar nisso, as palavras do avô tinham tido aquela tristeza. Péssimas
estreias! Havia seis meses que o Ega chegara de Celorico,
- crescente desmotivação
embrulhado na sua grande peliça, preparado a deslumbrar Lisboa - existência apenas dedicada ao
com as Memórias de Um Átomo, a dominá-la com a influência de
uma revista, a ser uma luz, uma força, mil outras coisas... E agora, diletantismo
cheio de dívidas e cheio de ridículo, lá voltava para Celorico, escorraçado. - estagnado como a realidade
Péssima estreia! Ele, por seu lado, desembarcara em Lisboa,
com ideias colossais de trabalho, armado como um lutador: era o circundante
consultório, o laboratório, um livro iniciador, mil coisas fortes... E
que tinha feito? Dois artigos de jornal, uma dúzia de receitas, e esse
melancólico capítulo da Medicina entre os Gregos. Péssima estreia!

Espaço psicológico – as reflexões de Carlos


Pag. 713

Então Ega perguntou, do fundo do sofá onde se enterrara, se,


nesses últimos anos, ele não tivera a ideia, o vago desejo de voltar
para Portugal...
Carlos considerou Ega com espanto. Para quê? Para arrastar os
passos tristes desde o Grémio até à Casa Havanesa? Não! Paris era
o único lugar da Terra congénere com o tipo definitivo em que ele Carlos enquanto ser absolutamente
se fixara: «o homem rico que vive bem». Passeio a cavalo no Bois;
almoço no Bignon; uma volta pelo boulevard; uma hora no clube ocioso, parasita dos rendimentos da
com os jornais, um bocado de florete na sala de armas; à noite a
Comédie Française ou uma soirée; Trouville no Verão, alguns tiros
família, um perfeito diletante, em nada
às lebres no Inverno; e através do ano as mulheres, as corridas, útil à sociedade.
certo interesse pela ciência, o bricabraque, e uma pouca de blague.
Nada mais inofensivo, mais nulo, e mais agradável.
— E aqui tens tu uma existência de homem! Em dez anos não O anti-herói
me tem sucedido nada, a não ser quando se me quebrou o faetonte
na estrada da Saint-Cloud... Vim no Figaro.

Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado:


O desencanto de uma existência
— Falhámos a vida, menino!
perfeitamente falhada (Anagnórise — Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha.
existencial). Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou
com a imaginação. Diz-se: «Vou ser assim, porque a beleza está em
ser assim.» E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como
dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente.
Ega concordou, com um suspiro mudo, começando a calçar as
luvas.
Porque falhou Carlos?

Hereditariedade

Meio
Fracasso
existencial
Educação

Determinismo, de Taine

Característica naturalista da obra


Hereditariedade

Geneticamente, Carlos recebeu dos seus antepassados a tendência para o


diletantismo e para o sentimentalismo.
São precisamente dois dos aspectos que mais o vão desviar dos seus ideais e
projectos iniciais, acabando mesmo por os abandonar.
O diletantismo levou-o para uma dispersão de actividades de carácter lúdico
e boémio que em nada o aproximava da sua vida profissional.
O sentimentalismo sobrepôs-se sempre a todo e qualquer projecto de natureza
profissional.
Meio
O meio em que se enquadrou Carlos foi uma Lisboa da segunda metade do séc. XIX.
A capital representava todo o país e pode-se concluir que se caracterizava pela
ociosidade, ignorância, apatia e decadência generalizada.
Ora, se Carlos, inicialmente, pretendia alterar este meio pela qualidade dos seus
projectos e prática profissional, rapidamente acabou por se conformar e deixar
influenciar pelo marasmo típico e crónico que o cercava, entregando-se à inutilidade
e ociosidade que caracterizavam a vida social, económica e cultural da época.
Educação

A educação de Carlos valorizou apenas a vertente física. Consequentemente, a


vertente espiritual ou ética foi descurada, na medida em que não lhe foram trans-
mitidos os princípios e valores que lhe permitissem a estruturação de uma “cons-
ciência”.
Assim, Carlos evoluiu de idealista para parasita social sem nunca ter tomado
uma atitude impeditiva de tal percurso pessoal. E tal deve-se ao facto de Carlos
“conscientemente” não ter tido a percepção de que evoluía num sentido negativo,
capaz de o destruir ou, pelo menos, de o reduzir a uma verdadeira nulidade social.
O Espaço Físico
O Ramalhete, p. 5

- aspecto severo e sombrio

- simbolicamente associado à decadência da família e do País


(jardim = abandonado / viçoso/ abandonado)

- a simbologia do girassol

representa a atitude do amante ou da amante, que se vira continuamente


para ver o ser amado, isto é, representa a perfeição platónica na presença
contemplativa e unificante; girando sempre numa atitude de submissão e
fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de
ultrapassar a paixão e a falta de receptividade do ser amado.
Daí metaforicamente aparecer ligado à terceira e quarta geração da família.

- pag. 710
A Toca, p. 432

- Objectivamente ligada à habitação de alguns animais, a Toca representa, simboli-


camente, o “território” de Carlos e Maria Eduarda.
Realça o carácter bestial, animalesco desta relação, apenas dominada pelos
desejo e o sentimento próprio de uma paixão incontrolável.

- Decoração permite antever o desfecho da relação que, desafiando valores humanos


se rende a outras leis, através da relação incestuosa.

- O amarelo predomina e traduz o gosto por sensações fortes e moralmente proibidas.


Lisboa

- Pag., 170

(Lisboa é o espaço que espelha a


globalidade do país)

- Pag.,697

(Espaço caracterizado pela degradação moral, onde os


portugueses exibem a sua ociosidade crónica. Lisboa é o
símbolo da decadência nacional – estátua de Camões)

Espaço ao serviço da crónica de costumes


Espaço psicológico

- conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens

- funciona como factor indicial da acção (sonho, p. 184 e imaginação, p. 222, 243,
245)

- mostra a formação e modo de pensar de Carlos da Maia, principalmente (emoções


e reflexões, p. 492)
Espaço social

São de realçar alguns episódios, onde a criação de ambientes específicos revela a


preocupação do autor no sentido de evidenciar algumas das características mais
flagrantes do povo português.
Esses episódios (a par do recurso às personagens-tipo) constituem um dos vectores
estruturais da obra.

CRÓNICA DE COSTUMES
(Descrição dos hábitos e costumes de uma população, de modo a melhor caracterizá-la)
O jantar no Hotel Central, p. 156 - 176

Neste jantar Ega pretende homenagear Cohen, o marido de Raquel, por quem Ega estava
apaixonado e com quem mantinha uma relação. É neste momento que Carlos entra no meio
social lisboeta, adoptando, no entanto, uma atitude distante que o caracterizará até final da
acção. Neste episódio, interessa realçar a emissão de juízos das personagens que nos permitem
compreender o panorama cultural do país. Destacam-se os seguintes:

a) LITERATURA: Alencar defende o Ultra-Romantismo, Ega defende o Realismo e o


Naturalismo (esta discussão revela uma sociedade dominada por valores tradicionais,
a que se opõe uma nova geração, representada por Ega) – Pags.: ______________

b) POLÍTICA: Ega critica a decadência do país e afirma desejar a bancarrota e a invasão


espanhola - Pags.: ______________

c) MANEIRA DE SER PORTUGUÊS: revelada através das acções/reflexões de várias


personagens - Pags.: ______________
A corrida de cavalos, p. 312 - 341

Um dos episódios preferidos pelo próprio autor, este quadro é uma crítica à tendência dos
portugueses para imitar aquilo que se fazia nos restantes países europeus e que se considerava
como sinal de progresso, quando, afinal, muitas vezes, não nos identificávamos com aquilo que
importávamos. Assim, o ambiente que deveria ser requintado, mas que também deveria apresen-
tar a ligeireza desportiva para que remete o acontecimento, torna-se espelho da falta de gosto
e de educação dos participantes (os portugueses): realidade vs aparência.

a) Falta de coerência entre o traje e a ocasião - Pags.: ______________

b) A sensaboria, revelada pelo facto de as pessoas não revelarem qualquer


interesse pelo evento - Pags.: ______________

c) A desordem e agressões físicas, nada adequadas ao evento –


Pags.: ______________
Outros episódios importantes:

- Jantar em casa dos Gouvarinho, p. 389

- Jornal “A Tarde”, p. 571

- Sarau do Teatro da Trindade, p. 586

ACTIVIDADE: Resolução das questões nº 3, 4, 5.1, 6.1, 6.1.1, 8, 9 (pag. 217)


O Narrador
Tipo de narrador (presença): heterodiegético

(De acordo com as características do Realismo/Naturalismo, pois permite uma


análise social muito mais objectiva e eficaz, pelo distanciamento que caracteriza
este tipo de narrador.)

Marcas linguísticas:

- formas verbais na terceira pessoa;


- pronomes e determinantes na terceira pessoa;
- discurso indirecto livre (nesta obra).

- exemplo: p. 175
Ciência do Narrador

Focalização omnisciente

– acção secundária e grande analepse (caps. I – IV)

- exemplo: p. 78

Focalização interna

- a partir do cap. IV

- centra-se na personagem principal

- o distanciamento de Carlos face ao meio social, permite dar uma


visão simultaneamente crítica e pessoal sobre esse meio. A crítica social
ganha verosimilhança e acutilância, na medida em que é feita a
partir de alguém que se movimenta no próprio meio.

- exemplo: p. 324, 697


MODOS DE REPRESENTAÇÃO DA NARRATIVA
1. Narração

Exemplo: pag. 363

- a classe morfológica de palavras mais importante é o verbo;


- os verbos encontram-se no pretérito perfeito, podendo também
encontrar-se no pretérito mais-que-perfeito;
-trata-se de um momento de avanço na acção (vários acontecimentos
importantes para o desenrolar da acção são narrados).
2. Descrição

Exemplo: pag. 707

- a classe morfológica de palavras mais importante é o adjectivo;


- os verbos encontram-se no pretérito imperfeito, podendo também
encontrar-se no gerúndio;
- trata-se de um momento de pausa na acção (nenhum acontecimento
importante para o desenrolar da acção é narrado).
3. Diálogo

Exemplo: pag. _________

- existe intercomunicação entre duas ou mais personagens;


- caracteriza-se pela presença dos dois pontos e do travessão.

4. Monólogo

Exemplo: pag. 624, 625

- a personagem fala consigo própria, expondo os seus pensamentos;


- não há intercomunicação com qualquer outra personagem.
LINGUAGEM E ESTILO

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