Ijuí
2015
2015, Organizadores
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Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
R948 O rural contemporâneo em debate : temas emergentes e novas
institucionalidades / organização Gisela Martins Guimarães ... [et
al.]. – Ijuí: Ed. Unijuí, 2015. – 400 p. - (Coleção ciências agrárias).
ISBN 978-85-419-0164-2
1. Desenvolvimento rural. 2. Organização rural. 3. Economia –
Finanças agrícolas. I. Guimarães, Gisela Martins (Org.). II. Título.
III. Série.
CDU : 338.431
631.16
A coleção de livros em Ciências Agrárias visa a publicação de textos
que privilegiam a abordagem multidisciplinar em sistemas técnicos de pro-
dução agropecuária e saúde animal voltados ao desenvolvimento susten-
tável. Tem por objetivo disponibilizar aos leitores um conjunto de obras
que contribua significativamente para a construção do conhecimento nas
Ciências Agrárias, qualificando a reflexão acerca da sustentabilidade.
COMITÊ EDITORIAL
Roberto Carbonera (coordenador)
Leonir Terezinha Uhde
Luciana Mori Viero
Maria Andréia Inkelmann
CONSELHO EDITORIAL
Dr. Alexandre Varella – Embrapa/RS
Dr. Adão Acosta – Embrapa, RS
Dr. Benoit Didier – Inra, França
Dr. Douglas Rodrigo Kaiser – UFFS, RS
Dra. Elena Blume – UFSM, RS
Dra. Gabrielle Freitas – UFFS, PR
Dr. Genei Antônio Dalmago, Embrapa, RS
Dr. Geraldo Ceni Coelho – UFFS/SC
Dr. Gustavo Martins da Silva, Embrapa, RS
Dr. Gustavo Trentin, Embrapa, RS
Dr. José Miguel Reichert, UFSM, RS
Dr. Júlio Viegas – UFSM, RS
Dra. Maraisa Crestani – Epagri, SC
Dra. Márcia C. T. Silveira, Embrapa, RS
Dra. Melissa Batista Maia, Embrapa, RS
Dr. Nicolas Laguarda Miró, Etsid, Espanha
Dr. Ubirajara Russi Nunes – UFSM, RS
13 APRESENTAÇÃO:
O rural no século 21 – em busca de novas abordagens
Gisele Martins Guimarães
Tatiana Aparecida Balem
Paulo Roberto Cardoso da Silveira
Silvia Aparecida Zimmermann
SEÇÃO 1
19 O QUE É O RURAL CONTEMPORÂNEO?
Marco jurídico do rural e do urbano no Brasil:
21
entre a legislação e a realidade
Silvia Aparecida Zimmermann
Mariana Trotta Dallalana Quintans
SEÇÃO 2
211 REDEFININDO OS DESAFIOS
DO DESENVOLVIMENTO RURAL
A(s) ruralidade(s) nas políticas públicas brasileiras:
213 limites e possibilidades para o rural contemporâneo
Silvia Aparecida Zimmermann
Karina Yoshie Martins Kato
Catia Grisa
1
Neste texto apresentamos alguns aspectos do estudo “Marcos jurídicos das noções
de rural e urbano”, coordenado por Leonilde Sérvolo de Medeiros, que é parte
do Projeto Repensando o conceito de ruralidade no Brasil: implicações para as políticas
públicas, fruto da parceria entre o Fórum de Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS)
do Instituto Interamericano para Cooperação na Agricultura (IICA), o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) – por meio da Secretaria de Desenvolvimento
Territorial e do Núcleo de Estudos Agrários (Nead) –, o Banco do Nordeste do Brasil
(BNB), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Projeto de Pesquisa buscou
ampliar a discussão sobre a diversidade e as múltiplas dimensões do meio rural
contemporâneo. Os relatórios da pesquisa compõem volumes da Série Desenvolvimento
Rural Sustentável do IICA.
22 S i l v i a A p a r e c i d a Z i m m e r m a n n – M a r i a n a Tr o t t a D a l l a l a n a Q u i n t a n s
gonismo que marcou sua evolução histórica nos países hoje desenvolvi-
dos, mesmo que, entre nós, a concepção de rural dominante incline-se a
considerá-lo, quando muito, como espaço de produção e não de vida social.
Tendo em vista que a delimitação entre rural e urbano é feita pelos
municípios, considerando suas realidades específicas (Medeiros; Quintans;
Zimmermann, 2013), selecionamos alguns casos que pudessem nos ajudar
a melhor pensar as formas pelas quais essa delimitação é feita localmente,
os elementos considerados para fazê-la, as tensões que atravessam esse pro-
cesso. Empreendemos então a análise dos Planos Diretores de três muni-
cípios selecionados, a legislação que os complementou e entrevistas com
pessoas-chave que participaram, de alguma forma, da elaboração dos Planos,
procurando entender que desenho de cidade estava sendo produzido. Para
desenvolver essa perspectiva, tomamos como parâmetro as novas obrigações
legais que emergiram com a Constituição da República Federativa do Brasil
(CRFB) de 1988 e sua legislação complementar.
A atual Constituição Brasileira adotou o modelo federalista e res-
tabeleceu certa autonomia municipal, exigindo uma lei orgânica própria a
cada município (artigo 29). O artigo 30 dotou genericamente os municípios
de competência para legislar sobre assuntos de interesse local, bem como
de prestar serviços como transporte público, saúde, proteção ao patrimônio
cultural-histórico e paisagístico e promoção do planejamento e controle do
uso, parcelamento e ocupação do solo urbano.
Além dessas competências, lhes foi delegada a função de executar
a política de desenvolvimento urbano, com o objetivo de permitir o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de
seus habitantes (artigo 182). Foi estabelecido que o instrumento básico da
política de desenvolvimento e de expansão urbana seria o Plano Diretor,
obrigatório para as cidades com mais de 20 mil habitantes (artigo 182, §1º
CRFB/1988). O artigo 41 do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) ampliou
o rol de municípios com a obrigação de elaborar os Planos Diretores, dentre
eles os municípios que integrassem regiões metropolitanas e aglomerações
urbanas; aqueles nos quais o poder público municipal pretenda utilizar os
instrumentos previstos no § 4º do artigo 182 da Constituição Federal (como
a desapropriação sanção, o IPTU progressivo, dentre outros); os que inte-
Marco Jurídico do Rural e do Urbano no Brasil 23
2
Considerando os critérios definidos pela legislação, segundo documento do Ministério
das Cidades (2005), estavam obrigados a fazer Plano Diretor, 2.342 municípios. Não
tinham essa obrigação 3.218, ou seja, 58% dos municípios brasileiros. Chama a atenção
o fato de que essa exigência de planejamento não tenha sido estendida para as cidades
com população menor, uma vez que, segundo a Pesquisa de Informações Básicas
Municipais, divulgada pelo IBGE (2012), e que apresenta dados mais recentes da
situação dos municípios no país, a maioria deles (75%) tem até 20 mil habitantes, o que
significa um total, nada desprezível, de 33,9 milhões de pessoas. Ao que tudo indica,
são municípios com características essencialmente rurais.
24 S i l v i a A p a r e c i d a Z i m m e r m a n n – M a r i a n a Tr o t t a D a l l a l a n a Q u i n t a n s
final do século 20, começou a ser ocupado pelo cultivo de soja. Para além
de sua história singular, Belterra se singulariza por ter elaborado um Plano
Diretor altamente participativo.
As visitas aos municípios da pesquisa foram realizadas entre o período
de fevereiro e abril de 2013, quando foram entrevistados 46 representantes
da sociedade civil e de órgãos de governo, entre Secretarias de Planeja-
mento, Urbanismo, Desenvolvimento Rural e/ou Agricultura, Habitação,
Educação, Saúde, bem como sindicatos de trabalhadores rurais, associação
de produtores, associações e movimentos urbanos, entre outras represen-
tações da sociedade civil existentes e que participaram da elaboração dos
Planos Diretores em questão. Quando foi o caso, procuramos entidades que
pouco ou mesmo não participaram do processo, mas tinham expressividade
política. Buscamos identificar a visão que os entrevistados têm do rural e
do urbano e como se reconhecem na definição destes limites nos Planos
Diretores vigentes em seus municípios.
Este texto está dividido em mais três seções além desta introdução.
Uma primeira seção apresenta como ocorreram os processos de elaboração
dos Planos Diretores nos municípios selecionados, evidenciando as deman-
das sociais que foram incorporadas (ou não) nos Planos Diretores. Uma
segunda seção aborda como tem ocorrido a delimitação do urbano e do rural
e a expansão das áreas urbanas nos municípios, contradições e conflitos.
Uma terceira seção aprofunda aspectos que caracterizam o rural evidencia-
do nos municípios estudados na pesquisa. Por fim, temos as considerações
finais e as referências bibliográficas.
3
O Plano foi elaborado quando da eleição de Geraldo Pastana (PT), expressivo militan-
te do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Santarém nos anos 80 e, segundo um de
nossos entrevistados, configurou-se como um experimento de desenho da “cidade que
queremos”.
4
Possivelmente não da mesma forma e com a mesma intensidade.
5
O Plano Diretor Municipal (PDM) foi elaborado em 2007, no governo de José Ivo
Sartori, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Esse prefeito esteve
à frente da administração municipal em dois mandatos (2005/2008 e 2009/2012).
Marco Jurídico do Rural e do Urbano no Brasil 27
6
O Plano de 1997 foi elaborado logo no início da gestão de Nelson Bornier, do PMDB,
que foi reeleito em 2010.
7
Durante o primeiro mandato do prefeito Lindberg Farias, do PT, eleito em 2004 e
reeleito em 2008, com uma coligação de vários partidos, sendo eles: PT, PDT, PSB, PV,
PC do B, PT do B, PR, PTN, PRB e DEM. Não chegou a concluir o segundo mandato,
pois foi eleito para o Senado em 2010. Assumiu a prefeitura a vice-prefeita Sheila Gama
(PDT).
28 S i l v i a A p a r e c i d a Z i m m e r m a n n – M a r i a n a Tr o t t a D a l l a l a n a Q u i n t a n s
8
O Conselho da Cidadania é composto por dez representantes do poder Executivo
municipal, indicados pelo prefeito e 17 representantes da sociedade civil escolhidos
pelas respectivas organizações e/ou movimentos, dentre eles o STTR, a Flona, a APA,
indígenas, associação e sindicato de produtores rurais, juventude, idosos, estudantes,
mulheres, segmento empresarial, dentre outros.
Marco Jurídico do Rural e do Urbano no Brasil 29
9
A Secretaria da Agricultura do município participa do Conselho desde que este foi
criado, no entanto não havia representantes de agricultores por parte da sociedade
civil. Nessa primeira versão, o Conselho, de composição paritária, era formado por
seis membros da sociedade civil (representantes da Câmara de Indústria e Comércio;
Sindicato dos Trabalhadores; União das Associações de Bairros; associação de classe de
engenheiros e arquitetos; Ordem dos Advogados do Brasil) e seis membros do poder
público (secretários de Viação e Obras Públicas; Fazenda; Agricultura; diretor do Serviço
Autônomo de Água e Esgoto; Gabinete Municipal de Administração e Planejamento
e Consultoria Jurídica). Em 1995, pela Lei 4300, de 10 de junho, a composição foi
alterada, incluindo dois membros da sociedade civil (Universidade de Caxias do Sul e
Sindicato da Indústria da Construção Civil) e mais dois do poder público (Secretário
de Desenvolvimento Urbano e de Serviços Públicos Urbanos).
10
Em 2009, a composição do Conselho foi ampliada para 12 representantes da sociedade
civil (com destaque para representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias
do Sul; Diretório Central dos Estudantes; Câmara de Dirigentes Lojistas e Conselhos
Distritais) e 12 do poder público (com destaque para Secretários de Habitação,
Urbanismo, Planejamento, Procurador Geral, Meio Ambiente, Gestão e Finanças,
Receita, Cultura, Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana, conselhos distritais).
30 S i l v i a A p a r e c i d a Z i m m e r m a n n – M a r i a n a Tr o t t a D a l l a l a n a Q u i n t a n s
mos que a receita do IPTU nos municípios estudados é menor que a receita
do ISS e, ao mesmo tempo, muito pouco expressiva na totalidade da receita
orçamentária das municipalidades. Muitas vezes, o IPTU sequer é cobrado
com a rigidez que a lei prevê. Em outros casos, a expansão urbana ocorre por
meio de loteamentos clandestinos e o IPTU tarda a chegar, pois depende
da regularização e instituição de alguns serviços básicos; em outros casos,
mesmo com a tributação do IPTU em áreas com produção agrícola, obser-
vamos que a legislação municipal cria mecanismos de isenção do pagamento
desse tributo por parte dos agricultores. Diante dessa realidade, parece-nos
que a arrecadação do IPTU não se configura em motivação suficiente para
a ampliação das áreas urbanas, pelo menos nos municípios estudados.
Em relação à cobrança de impostos, no município de Caxias do Sul,
conforme a Lei Complementar nº 12 de 28/12/1994, o agricultor que mora em
área urbana que comprovar utilizar a área para destinação agrícola, torna-se
isento do IPTU. Para adquirir este benefício, entretanto, o agricultor tem
de abrir um processo administrativo, no qual são avaliadas as notas fiscais
movimentadas pelo agricultor e um fiscal realiza a vistoria da propriedade.
Após esses procedimentos, e constatada a destinação do imóvel para fins
produtivos, é dado o benefício da isenção fiscal durante o período de quatro
anos. Após esse período, há que renovar os procedimentos administrativos
no órgão municipal responsável.
Não encontramos menção a situações semelhantes em Belterra e
Nova Iguaçu, que apresentam uma agricultura local muito distinta daquela
de Caxias do Sul, menos diversificada e com um grau de informalidade
maior (salvo a produção de soja em Belterra).
Os códigos tributários municipais, por sua vez, podem sofrer ajustes
para atender às demandas específicas dos munícipes. Este é o caso de
Nova Iguaçu, em que nos foi relatado que, quando o Plano Diretor de 1997
definiu todo o município como cidade, os agricultores que procuravam a
prefeitura alegando que já pagavam ITR, conseguiram uma redução da
tributação urbana, por meio da entrada com um processo administrativo
para revisão do valor venal da área, base de cálculo do IPTU. Segundo um
entrevistado, apenas quem já não pagava ITR passou a pagar IPTU. Lem-
38 S i l v i a A p a r e c i d a Z i m m e r m a n n – M a r i a n a Tr o t t a D a l l a l a n a Q u i n t a n s
PLANEJAMENTO DA CIDADE
– O Rural e o Urbano em Evidência
Os casos que estudamos revelam que, em geral, o enfoque do pla-
nejamento esboçado nos Planos secundariza a área rural, quando não a des-
considera. Um indicador disso é o fato de que, nos municípios visitados,
não foi mencionado que políticas de educação, saúde, transporte, cultura,
entre outras, apresentam especificidades para as áreas rurais, exceto no que
se refere a Belterra.
Conforme os entrevistados, a oferta desses serviços públicos
ocorre nas sedes municipais e distritais, sem apresentar nenhuma par-
ticularização em relação à realidade rural. Não se trata somente de ter
acesso a elas ou não, mas da presença de preocupações que considerem
especificidades de modos de vida, como programas de saúde voltados
para doenças mais incidentes em áreas rurais, currículos escolares que
valorizem as particularidades da vida rural, programas de saneamento
e oferta de água que busquem alternativas para populações que, pela
Marco Jurídico do Rural e do Urbano no Brasil 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes formas de ruralidade presentes nos municípios visita-
dos evidenciam os limites dos Planos Diretores enquanto mecanismos de
planejamento do conjunto de seu território, dado o enfoque do desenvolvi-
mento urbano a que estão sujeitos. Conforme Maluf (2004, p. 38), para ela-
borar um Plano que englobe a área rural e tenha objetivos mais amplos que
o desenvolvimento urbano, entre esses a segurança alimentar, por exemplo,
é necessário enfrentar questões preliminares, relacionadas ao enfoque a ser
adotado nessa elaboração e os instrumentos selecionados. Na opinião desse
autor, é preciso estabelecer uma compreensão sobre o mundo rural e as ati-
vidades nele desenvolvidas que superem o nítido viés urbano do enfoque
adotado no Estatuto da Cidade, que toma o rural como uma “extensão do
urbano” e propõe como diretriz a “urbanização do rural”. O autor destaca
que, no entanto, “não se trata de recolocar visões dicotômicas sobre o rural
e o urbano, negando o promissor caminho aberto pelos recentes enfoques
nos territórios que requerem considerar a interação entre o urbano e o rural”
(Maluf, 2004, p. 38).
Marco Jurídico do Rural e do Urbano no Brasil 43
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, R. L. de; VAINER, A. Análise dos impactos da legislação urba-
nística – planos diretores e leis de zoneamento – na estrutura urbana do
município de Nova Iguaçu. In: LAGO, Luciana Correia (Org.). Olhares sobre
a metrópole do Rio de Janeiro: política urbana e gestão pública. Rio de Janeiro:
Letra Capital; Observatório das Metrópoles; IPPUR; UFRJ; Fase, 2010.
BRASIL. Ministério das Cidades. Plano Diretor Participativo. Guia para a
elaboração pelos municípios e cidadãos. Brasília: Ministério da Cidades e
Confea, 2005.
Marco Jurídico do Rural e do Urbano no Brasil 45
QUARTA COLÔNIA:
Natureza e Cultura na Construção de uma Identidade Territorial
A recorrente preocupação ambiental contemporânea está a rebater
nas possibilidades e formas como o rural tem passado a ser construído social-
mente. Este rebatimento é multiforme e capaz de imprimir, para além das
chamadas novas funções não agrícolas dos territórios rurais, matizes renova-
dos a categorias derivadas da própria dinâmica social do mundo rural, como
as identidades coletivas e as sociabilidades locais. As identidades sociais de
grupos, quer catalisadas por variáveis territoriais, étnicas ou culturais, podem
ser definidas como o resultado de um duplo processo, de afirmação versus
distinção, que se vai forjando na base de relações de interdependência e dos
círculos sociais que os indivíduos vão estabelecendo entre si nas situações
cotidianas de sua vida (Froehlich, 2002; 2012). Este duplo processo constrói-se
em torno de práticas e sistemas de significações que, sendo partilhados
O Rural Múltiplo 51
1
Sociabilidade pode ser entendida aqui como o espaço de intensificação dos contatos
sociais mediados diretamente pela convivência entre os indivíduos para além dos
espaços de trabalho e familiar, mas que os inclui e os ultrapassa. Para aprofundamentos
sobre esta noção, ver Simmel (1971).
2
Os primeiros seis municípios citados configuram o que historicamente ficou conhecido
como a Quarta Colônia Imperial de Imigração Italiana do RS, constituída no decorrer
do ano de 1878, procedentes da região do Vêneto – província de Treviso – no norte
da Itália. As negociações para formar o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da
Quarta Colonia (Condesus) levaram à incorporação dos municípios de Agudo e Dona
Francisca, vinculados historicamente à Colônia Santo Ângelo (alemães), e Restinga
Seca, de ocupação afro-portuguesa, em razão da sua proximidade geográfica e agro-
ecológica com os municípios que faziam parte da Quarta Colônia de Imigração Italiana.
Para mais detalhes sobre a história e colonização da Quarta Colônia Imperial de Imi-
gração Italiana no RS, ver Sponchiado (1996) e Righi et al. (2001).
52 J o s é M a r c o s Fr o e h l i c h
3
Ao longo de mais de um século de ocupação, muitas migrações internas e trocas culturais
se estabeleceram, propiciando novas configurações familiares, locais e municipais, que
ao mesmo tempo em que conferem sentido ao território e a sua nova territorialidade,
também indiciam seu caráter de construção social e, portanto, em boa medida provisório
e em constante negociação.
4
A Mata Atlântica cobria, à época do descobrimento do país, cerca de 1.100.000 Km2 do
território nacional, estendendo-se ao longo de toda a costa litorânea e adentrando em
franjas para o interior, alcançando partes da Argentina e Paraguai. Atualmente, a Mata
Atlântica não cobre mais do que 8% de sua extensão original. A Reserva da Biosfera
da Mata Atlântica brasileira abrange uma área de aproximadamente 29 milhões de ha
em 14 estados brasileiros, desde o Ceará até o Rio Grande do Sul. Neste, além dos
resquícios na costa litorânea, há uma franja que incursiona pelos cimos da Serra Geral
indo até o centro do Estado e, deste modo, perpassando os municípios da chamada
Quarta Colônia.
O Rural Múltiplo 53
como gestor federal o Ministério do Meio Ambiente, o qual criou para este
fim o Programa Nacional da Mata Atlântica (PNMA) e, como parceiros, os
órgãos estaduais de meio ambiente.5
Aproveitando-se da oportunidade de financiamento a fundo perdido
de projetos que tivessem como foco a questão ambiental e o desenvol-
vimento sustentável e tendo a reconhecida Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica em significativas parcelas de seus territórios, os referidos muni-
cípios formaram o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta
Colônia – Condesus –, que buscou assessoria e parcerias técnicas, e elaborou
e apresentou o Prodesus aos órgãos avaliadores, obtendo o almejado finan-
ciamento para a proposta. Ressalta-se que a capacidade de concertamento
e de ação autônoma por parte dos atores territoriais – no caso, os municí-
pios e seus parceiros: UFSM, Emater, etc. – era um requisito para desatar
o processo da experiência e sua consecução, até mesmo porque se estava
a estabelecer relações de competência e competição (com outros projetos
de outros espaços) para mobilizar e atrair os recursos necessários. E, para
além das esferas institucionais, este concertamento envolveu também parte
da sociedade civil organizada, como algumas associações de agricultores,
escolas, círculos de pais e mestres, Organizações Não Governamentais.
Os programas de Educação Ambiental e Patrimonial constituíram-se
na base para a criação do programa PED-RS na região da Quarta Colônia. A
experiência nessa área e o bem-sucedido trabalho desenvolvido pelo con-
junto de escolas municipais e estaduais dos nove municípios do Condesus
foram, inclusive, reconhecidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional – Iphan – com o Prêmio Rodrigo Mello Franco de Andrade,
categoria Educação Patrimonial, na edição de 1997. O resgate do patrimônio
histórico e cultural da região tentou levar em conta a sua articulação com o
5
No RS, no caso, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que criou, então,
no âmbito da referida parceria, o Programa de Execução Descentralizada (PED-RS),
para financiar, com os recursos do Banco Mundial, do Ministério do Meio Ambiente
e do governo do Estado do RS, projetos socioambientais nas áreas da “Reserva da
Biosfera” da Mata Atlântica. No caso do RS, o financiamento dos projetos previa uma
contrapartida da esfera municipal da ordem de 10% do montante de recursos solicitados.
54 J o s é M a r c o s Fr o e h l i c h
6
Para uma abordagem sobre os sentidos do rural e da natureza na contemporaneidade,
ver Froehlich (2002) e Froehlich e Monteiro (2004).
56 J o s é M a r c o s Fr o e h l i c h
7
Compreendemos a etnicidade a partir de Barth (2000), que a destaca como o sentimento
de pertença a uma origem comum, que tem como característica as relações de poder
imersas nos espaços de fricção interétnica.
8
Um conjunto de práticas, de natureza ritual ou simbólica, que visam a inculcar certos
valores e normas de comportamento por meio da repetição e que implicariam uma
continuidade em relação ao passado (Hobsbawm; Ranger, 1997, p. 9).
58 J o s é M a r c o s Fr o e h l i c h
9
Como analisado por Zanini (2006), o período conhecido como Estado Novo marcou
de forma significativa a identidade italiana, em que o ressentimento provocado pelas
perseguições desse período, no qual falar e cantar em dialeto ou acionar símbolos
do pertencimento à cultura italiana eram proibidos. Tal se passou também com os
descendentes de alemães no mesmo período.
O Rural Múltiplo 59
No Brasil, colono refere-se aos imigrantes de origem europeia não ibéricos que ocuparam
10
significativas áreas rurais do Sul do país, tendo por base o trabalho familiar em pequenas
propriedades (uma colônia equivalia, geralmente, a cerca de 25 ha de terra). No caso do
território Quarta Colônia o termo colono se aplica à origem italiana ou alemã.
60 J o s é M a r c o s Fr o e h l i c h
Segundo Jameson (1997), o voraz apetite consumidor pelo mundo do espetáculo que
13
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A emergência e trajetória histórica do Condesus Quarta Colônia,
baseada no concertamento de atores territoriais e locais, aponta para uma
experiência de aproveitamento das (então) novas estruturas de oportunida-
des promovidas pelos processos de globalização e repercussões do ambienta-
lismo, a partir das potencialidades específicas e interessantes – herança eco-
lógica, paisagística, cultural, social – que o âmbito territorial apresenta(va).
Em consonância com a lógica cultural contemporânea – construção de
identidades, valorização das diferenças, ecletismo, esteticização, resgate da
tradição – esta experiência, de certa maneira, criou um novo modo simbólico
de afiliação e pertença a um território, mediante o esforço que retrabalhou e
O Rural Múltiplo 65
REFERÊNCIAS
AMARAL, R. C. Sentidos da festa à brasileira. Revista Travessia, São Paulo:
Centro de Estudos Migratórios, n. 31, maio/ago. 1998.
BARTH, F. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro:
Contra Capa Livraria, 2000.
BAUDRILLARD, J. Simulacros e simulações. Lisboa: Relógio d’Água. 1991.
BHABHA, H. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
CANCLINI, N. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2000.
______. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais de globalização. 6.
ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.
CARNEIRO, M. J. Ruralidade: novas identidades em construção. In:
Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro: CPDA-UFRRJ, n. 11, p.
53-75, out. 1998.
68 J o s é M a r c o s Fr o e h l i c h
da demanda e seu ajuste por meio dos preços monetários, foram eles que
permitiram explicar suas práticas constitutivas. O mercado de Fontaines é
efeito de uma construção social e econômica, realizada por alguns indivíduos
que queriam fazer o mercado existir, e da aceitação dos demais participantes
que se beneficiam de sua existência. Ou seja, ela inverte a lógica e mostra
que a “mão invisível” na verdade é o resultado de uma construção social
(Garcia-Parpet, 2003).
Para os institucionalistas mercados não são dessocializados como
parecem, mas são socialmente e historicamente construídos, sustentados
por um conjunto de instituições, e amparados por outros elementos que
além do preço definem as preferências dos indivíduos e apoiam as transa-
ções econômicas. Mercados são arenas de interação social (Beckert, 2010),
conformados em ambientes institucionais (Abramovay, 2001), em que os
atores disputam recursos e colocam em interface distintos valores, normas
e interesses (Conterato et al., 2011).
Mesmo que os mercados convencionais também sejam construídos
socialmente, nos circuitos curtos os padrões normativos e culturais-cogniti-
vos proporcionam contornos especiais. O agricultor e suas organizações são
os principais agentes dessas construções, e organizam as técnicas de produ-
ção, agregação de valor, propaganda e venda, em virtude de compartilhar
certas relações que não são somente econômicas, mas também políticas,
culturais e sociais. O que faz desencadear e orientar o comportamento dos
indivíduos na ação econômica depende do grau de legitimidade, aceita-
bilidade e consentimento que assumem no interior da sociedade, o que é
dado pelos consumidores, ao reconhecer certos elementos em torno da ali-
mentação. Assim, os processos de comunicação e mediação entre agricultor
e consumidor é que configuram as bases de sustentação da ação econômica
em circuitos curtos de comercialização.
Entender esses mercados requer desagregar a teia de interações
que compõem o conceito de instituições, conforme sinalizado por Scott
(2014). Cada contexto apresenta suas próprias misturas institucionais, que
somente podem ser entendidas na medida em que se penetra nessas formas
de expressão. Além do mais, apresentam outros agentes que também auxi-
liam, animam e fazem constituir esses ambientes institucionais.
76 G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C e c c o n i D e o n
A agência
A teoria institucional aborda a restrição criada pela estrutura social,
com ênfase na forma pela qual as instituições padronizam as atividades e
relações sociais no tempo e no espaço, e assim orientam os agentes. Mesmo
assim, de acordo com Scott (2014), não deixa de reconhecer que formas
individuais possam criar manter e transformar as instituições.
A agência corresponde à capacidade que os indivíduos, por meio de
suas atividades, possuem de introduzir mudanças e alterar o curso dos fatos
(Giddens, 2009). Para Escher e Schneider (2011), na agricultura familiar o
poder de agência tem proporcionado uma diversidade de inovações socio-
técnicas e institucionais, práticas de trabalho e produção e arranjos socio-
políticos, adaptados as suas possibilidades de reprodução socioeconômica.
78 G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C e c c o n i D e o n
A Organização
Historicamente, o abastecimento de frutas e hortaliças da Metade
Sul do Rio Grande do Sul provém da Central de Abastecimento (Ceasa/
RS). Desde seu surgimento em 1973, tem permitido o fornecimento para
intermediários que, posteriormente, fracionam em vendas para os varejistas
locais. Essa forma de provimento tem garantido a disponibilidade física e
O Protagonismo dos Agricultores Familiares na Construção Social de Mercados 79
regularidade dos alimentos, mas não tem resolvido questões espaciais, cul-
turais, ambientais e socioeconômicas envolvidas com a produção (Maluf,
2004). Logo, atividades produtivas deixam de ser estimuladas, limitando as
oportunidades para os agricultores familiares locais (Ibidem).
O caso de Santiago1 ocorre na mesma sistemática, todavia técnicos da
Emater-RS/Ascar em conjunto com a prefeitura motivaram os agricultores,
em 1979, à instalação da “Feira Livre do Produtor”. Podemos considerar
a Feira como a primeira fase dos circuitos curtos de comercialização de
Santiago.
A Feira Livre ocorre no lugar denominado Praça dos Brinquedos, no
centro da cidade, em que 12 feirantes comercializavam dispostos junto aos
veículos, charretes e em pequenas tendas. Dez anos mais tarde, foi criada
a Associação Santiaguense dos Feirantes, visando a congregar e aumentar
o poder de reivindicação e barganha dos agricultores. No mesmo ano, para
fazer cumprir o previsto em um Regulamento da Feira, compôs-se o Conse-
lho de Administração da Feira, formado por organizações e entidades locais.
A prefeitura disponibilizou um funcionário para auxiliar nesse objetivo e
exercer um processo de animação para que a Feira resultasse em êxito para
os feirantes e para os consumidores. Esse servidor viria a receber o nome
de Fiscal da Feira, acompanhando o grupo ainda hoje.
Esse período também é reconhecido pelo surgimento de um conjun-
to de inovações tecnológicas. Dentre elas, destaca-se o cultivo de hortaliças
em ambientes protegidos, que permitiu o aumento produtivo de folhosas
para atender ao mercado varejista local. O modelo de estufa Santiago desen-
volvido por um técnico do Escritório Municipal da Emater-RS/Ascar em
conjunto com os agricultores, veio a ser difundido por todo o Estado, como
referência para a produção hortigranjeira. Esse técnico local chegou a fazer
viagens a outros países em busca de atualização e qualificação para atender
aos agricultores na produção de hortaliças. Por meio do Fundo Estadual
de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais
1
O município localiza-se na Região Central do Rio Grande do Sul numa microrregião
denominada Vale do Jaguari. Possui uma população de 50.622 habitantes e área
territorial de 2.413,133 Km2.
80 G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C e c c o n i D e o n
2
O número total de agricultores em atividades de comercialização de circuito curto é
superior na medida em que forem considerados aqueles que comercializam também
alimentos processados.
3
As compras da Agricultura Familiar para o Pnae foram instituídas pela Lei n.º 11.947,
de 16 de junho de 2009 e Resolução/CD/FNDE nº 38, de 16 de julho de 2009. Essa
legislação insere a obrigatoriedade de compra de no mínimo 30% dos alimentos para
a alimentação escolar da agricultura familiar, entre outras diretrizes consoantes à
alimentação saudável.
4
Instituído em julho de 2003 (Lei 10.696/2003), o PAA integra o Plano Safra da
Agricultura Familiar 2003/2004 e é uma ação estrutural do Programa Fome Zero. É
um programa que busca viabilizar uma maior estabilidade para a produção familiar,
beneficiando os agricultores enquadrados no Pronaf, por meio da compra, sem licitação,
de produtos da agricultura familiar. As aquisições são destinadas à formação de estoques
e à distribuição de alimentos para pessoas em situação de insegurança alimentar
(Cerqueira; Rocha; Coelho, 2006, p. 5).
82 G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C e c c o n i D e o n
5
As seguintes organizações locais destacam-se como animadores: Prefeitura de Santiago,
Emater-RS/Ascar, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santiago, Sindicato Rural de
Santiago, Serviço Nacional da Aprendizagem Rural (Senar/RS), Centro Empresarial de
Santiago, Serviço Brasileiro de Apoio as Pequenas e Microempresas (Sebrae) e o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
O Protagonismo dos Agricultores Familiares na Construção Social de Mercados 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O caso analisado ilustra o que a literatura tem denominado de cir-
cuito curto de comercialização. Ademais, aponta para a importância desse
mecanismo para a agricultura familiar. Mais que uma forma de gerar renda,
estes circuitos representam a reconexão entre produção e consumo, cujo
distanciamento é uma realidade imputada pelas cadeias alimentares. Em
municípios como Santiago isto não é diferente, as redes de supermercados
fazem a ponte com os consumidores, cuja demanda é atendida a partir de
produtos de outras regiões, constituindo o circuito longo.
Na contramão desse processo, as formas de comercialização aqui
apresentadas representa um rompimento com essa lógica ao estabelecer um
outro padrão, legitimado por elementos institucionais próprios, que foram
sendo construídos a partir da interação entre os múltiplos agentes locais.
Esta (re)aproximação é garantida pelos próprios agricultores familiares, e
neste sentido podem ser considerados protagonistas.
O caso, entretanto, revela que este protagonismo foi mobilizado a
partir da ação de animadores locais, quando o poder público, sobretudo os
agentes de extensão, foram sensíveis em perceber as potencialidades dos
agricultores, dos seus produtos, e capazes de orientar quanto aos caminhos,
formas de organização, recursos necessários, etc. Entre esses animadores e
protagonistas, alguns desenvolveram maiores habilidades sociais para mediar
os conflitos na trajetória dessa experiência.
Em síntese, os circuitos curtos de comercialização representam uma
construção social, em que os atores devem ser capazes de constranger a
estrutura e o fluxo dos acontecimentos em favor da ordem e da mudança
social. Ou então, segundo Fligstein (2007), revelam a construção de um
O Protagonismo dos Agricultores Familiares na Construção Social de Mercados 85
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, R. Desenvolvimento e instituições: a importância da expli-
cação histórica. In: ARBIX, G.; ZILBOVICIUS, M.; ABRAMOVAY, R.
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p. 165-177.
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sistema alimentario: tendencias evolutivas. Documents de Análisis Geográfica,
Barcelona, v. 54, p. 11-32, 2009.
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Liverpool (UK), v. 31, n. 5, p. 605-627, 2010.
BERTHOUD, G. Market. In: SACHS, W. (Ed.). The development dictionary:
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CERQUEIRA, P. S.; ROCHA, A. G.; COELHO, V. P. Agricultura familiar
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Alimentos no Estado da Bahia. Revista Desenbahia, Salvador, v. 3, n. 5, p.
55-78, set. 2006.
CONCEIÇÃO, O. A. C. A contribuição das abordagens institucionalistas
para a constituição de uma teoria econômica das instituições. Ensaios FEE,
Porto Alegre, v. 23, n. 1, p. 77-106, 2002.
CONTERATO, M. A. et al. Mercantilização e mercados: a construção da
diversidade da agricultura na ruralidade contemporânea. In: SCHNEIDER
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teóricas e práticas sociais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011. p. 67-90.
ESCHER, F.; SCHNEIDER, S. A Contribuição de Karl Polanyi para a
sociologia do desenvolvimento rural. Revista Sociologias, Porto Alegre, v. 13,
n. 27, p. 180-219, 2011.
FLIGSTEIN, N. Habilidade social e a teoria dos campos. Revista de Admi-
nistração de Empresas, São Paulo, v. 47, n. 2, p. 61-80, abr./jun. 2007.
86 G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C e c c o n i D e o n
Emiliano Guedes
Gabriel Picos
Humberto Tommasino
1
Información disponible en: <http://www.mtss.gub.uy/documents/11515/2d2702f2-5c92-
4d80-bc0e-e7b15db6ccc6 y http://90000invitantrabajadoresrurales.wordpress.com/>.
Los Movimientos y Organizaciones Sociales Campesinas en el Uruguai 91
goría Agricultura Familiar, así como el no uso del Campesinado, hace a una
perspectiva hegemónica sobre lo rural, donde predomina la ubicación del
campesino como sujeto social pre-capitalista, con definiciones más cercanas
a la antigua tradición de los estudios campesinos (Sevilla Guzmán, 2011;
Martins de Carvalho, 2013), que a las de las nuevas tradiciones; opera princi-
palmente una mirada “descampesinista” sobre el tema. En Uruguay, el con-
cepto de Agricultores Familiares se instala entonces desde la academia en
la década del 80 del siglo pasado, y las propias organizaciones que nuclean
a este tipo de productores comienzan a asumirlo como propio a partir de
finales de los 90, principalmente de Comisión Nacional de Fomento Rural
(CNFR), organización de la que hablaremos en detalle más adelante. Más
cercano en el tiempo (2008, y reformulada en 2014), la institucionalidad
pública construyó su propia definición de Agricultura Familiar con motivo
de delimitar los alcances de las políticas públicas hacia ese sector.
Más allá de matices, todas las definiciones de Agricultura Familiar
toman como elementos centrales de la misma dos pilares: el trabajo fami-
liar como predominante en los predios, y la posesión de la tierra (tanto en
propiedad como en arrendamiento). Esto por lo menos hasta los ajustes a la
definición realizado en el 2014 desde el Ministerio de Ganadería, Agricul-
tura y Pesca (Resolución nº 387/2014, MGAP), donde se han incorporado
una mayor flexibilización en relación al tema de los ingresos extraprediales,
así como al tema de la tenencia de la tierra, dada la necesidad de incluir un
rubro particular como es el de los apícolas. Es que la Agricultura Familiar
no deja de ser un concepto que engloba una diversidad de situaciones y
realidades cada vez más complejas.
En términos estadísticos, la posibilidad de ubicar la cantidad de Agri-
cultores Familiares en el Uruguay, también presenta algunas dificultades. Si
tomamos el último censo agropecuario realizado en nuestro país (2011), se
nos presenta un escenario que nos dice que el Uruguay cuenta con 44.781
explotaciones que hacen uso de 16,4 millones de hectáreas explotables
(Diea – MGAP, 2014). Dado que el censo en sí mismo no discrimina a la
interna de las explotaciones, cuales estarían en manos de agricultores fami-
liares y cuales en manos de empresarios, por el momento podemos estimar
que el número de Agricultores Familiares, surge de una estimación a partir
de las 36.797 explotaciones de menos de 500 hectáreas del censo 2011, y las
92 E m i l i a n o G u e d e s – G a b r i e l P i c o s – H u m b e r t o To m m a s i n o
2
Según Tommasino (2001, p. 143) este “paraguas conceptual de sustentable”
presenta como objetivos generales y básicos: a) Mejorar la salud de los productores y
consumidores; b) Mantener la estabilidad del medio ambiente (métodos biológicos de
fertilización y control de plagas); c) Asegurar lucros a largo plazo de los agricultores y
d) Producir considerando las necesidades de las generaciones actuales y futuras.
94 E m i l i a n o G u e d e s – G a b r i e l P i c o s – H u m b e r t o To m m a s i n o
RESISTENCIA SUPERACIÓN
ORGANIZACIÓN ORGANIZACIÓN
SOCIAL SOCIAL
CONTRATENDENCIAS PROYECTO POLITICO
SOCIAL
FORMACIÓN
Estrategias colectivas de generación de escala Socialización de los medios de
ECONÓMICA
• •
3
Este tema es de difícil abordaje, ya que los modelos técnicos, sobre todo para la
producción animal, responden básicamente al agronegoció y a las concepciones de alta
productividad con utilización en extenso de tecnologías de insumo. Esto incluye una
amplísima utilización de biocidas que generan impactos muy fuertes tanto en la salud
humana como ambiental.
96 E m i l i a n o G u e d e s – G a b r i e l P i c o s – H u m b e r t o To m m a s i n o
4
“El desencadenamientos de cambios en la concepción del mundo se dará a partir del momento
(de varios momentos en lo cotidiano de la vida de las personas) en que las personas asuman
resistir activamente, o sea, cambiando las matrices de consumo y de producción, y de buscar,
cada uno a su manera, nuevas formas de relacionarse con los capitales (resistiendo y superando
la opresión), con los gobiernos (negando las políticas compensatorias y el clientelismo), con la
naturaleza (producción ecológica), con las demás personas y familias oprimidas (la CRS), con
las demás clases sociales populares del campo y la ciudad (alianzas) y , sobretodo, consigo mismo,
al redescubrir nuevas esperanzas, y siempre que sea posible, construir utopías” (Martins de
Carvalho, 2013, p. 344).
Los Movimientos y Organizaciones Sociales Campesinas en el Uruguai 97
la misma. En primer lugar existe un fuerte impulso desde las políticas públi-
cas vinculadas a lo rural, con énfasis en el fortalecimiento de los procesos
asociativos de la agricultura familiar y los asalariados rurales. En este sentido
se crea por ley 17.930, la Dirección General de Desarrollo Rural en la órbita
del Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca, que empieza a funcionar
en el año 2008, como la encargada del diseño y ejecución de políticas públi-
cas para la actividad agropecuaria con énfasis en la producción familiar. A su
vez, por ley 18126 de abril de 2007, se crean las Mesas de Desarrollo Rural,
con la finalidad de promover un mayor involucramiento de la sociedad civil
organizada en la implementación de las políticas públicas. A esto se suma,
la revitalización del Instituto Nacional de Colonización, el cual ha aumen-
tado su capacidad de compra de tierras en los últimos años (40.000 ha en
los últimos cuatro años)5 y ha instrumentado una política de acceso a tierra
dirigida a grupos y organizaciones de productores y/o asalariados rurales.
A nivel de políticas públicas dirigidas a los trabajadores rurales,
se destaca la ley 18441 de 2008, donde se establece la jornada laboral de
8 horas para los trabajadores rurales y la incorporación de los Sindicatos
Rurales en los Consejos de Salarios. Por otra parte, existe un escenario
adverso al desarrollo de la agricultura familiar, dado por un contexto nacional
que favorece el desarrollo de las empresas capitalistas en el campo (princi-
palmente a través de exoneraciones fiscales), lo que ha hecho de Uruguay
un país propicio para el desarrollo de inversiones por parte de grandes capi-
tales extranjeros y empresas transnacionales. En este sentido en la última
década se ha generado una disputa por el acceso a la tierra por parte de las
empresas capitalistas dedicadas principalmente a la producción de granos
(soja) y a la forestación. Otra de las inversiones que podemos decir ha gene-
rado gran impacto a nivel rural, sobre todo desde la movilización de los
sujetos colectivos, es la propuesta de extracción minera a cielo abierto para
la obtención de hierro por parte de capitales extranjeros.
5
El dato es sacado de la página de Presidencia: <http://www.presidencia.gub.uy/
comunicacion/ comunicacionnoticias/colonizacion-fideicomiso-comprara-tierras-nuevas-
colonias-lecheras>.
98 E m i l i a n o G u e d e s – G a b r i e l P i c o s – H u m b e r t o To m m a s i n o
6
La información presentada en esta caracterización surge del análisis de la información
institucional (quienes somos, noticias, convenios, publicaciones y documentos)
presentada en su página web <www.cnfr.org.uy>. Revisión de fecha agosto de 2014.
Los Movimientos y Organizaciones Sociales Campesinas en el Uruguai 99
Por otra parte a través del accionar de las SFR en las Mesas de Desarrollo
Rural, las mismas han gestionado ante la institucionalidad publica, el acceso
a servicios básicos para las localidades donde están insertas (salud, educa-
ción, electrificación rural, caminería y transporte, etc.), así como han rei-
vindicado el apoyo a la agricultura familiar a través del acceso a tierras, el
acceso a créditos y subsidios y la gestión de estas herramientas por parte de
las organizaciones locales.
En relación a la actividad gremial, pilar fundamental de la CNFR,
la misma participa de distintos espacios a nivel nacional y regional. A nivel
nacional, la misma presenta delegados en diversos organismos como ser,
Instituto Plan Agropecuario, Instituto Nacional de Investigación Agrope-
cuaria, Junta Nacional de la Granja, Sistema Nacional de Áreas Protegidas,
Instituto Nacional de Semillas, etc. A su vez la misma se vincula a nivel
regional, siendo miembro fundador de la Confederación de Organizaciones
de Productores Familiares de Mercosur (Coprofam) y participando activa-
mente de la Reunión Especializada en Agricultura Familiar (Reaf).
100 E m i l i a n o G u e d e s – G a b r i e l P i c o s – H u m b e r t o To m m a s i n o
7
Información disponible en: <http://www.espectador.com/politica/60309/ocuparon-
tierras-del-instituto-de-colonizacion>.
Los Movimientos y Organizaciones Sociales Campesinas en el Uruguai 105
8
Datos proporcionados en febrero de 2013 por el ex Presidente de INC, Andrés
Berterreche (<http://www.radiouruguay.com.uy/innovaportal/v/31243/22/mecweb/
colonizacion_reclama_mantener_seccion_constitucional_del_icir?parentid=28545>).
9
El INC consigna 3.832 colonos en su página web, con fecha febrero 2011 (<http://
www.colonizacion.com.uy/content/view/26/152/>), a eso habría que sumarle las
adjudicaciones de estos últimos 3 años. El dato es sacado de la página de Presidencia
(<http://www.presidencia.gub.uy/comunicacion/comunicacionnoticias/colonizacion-
fideicomiso-comprara-tierras-nuevas-colonias-lecheras>).
106 E m i l i a n o G u e d e s – G a b r i e l P i c o s – H u m b e r t o To m m a s i n o
REFLEXIONES FINALES
El panorama que trazamos para el campesinado en Uruguay parece
tener caminos muy complejos y dificultosos. No parece existir en el corto
plazo un proceso de crecimiento y consolidación de estos sujetos colecti-
vos en Uruguay. Claro está, las dinámicas sociales y los ciclos de lucha son
impredecibles. Nos corresponde como estudiosos de la temática que hemos
tomado partido por los sectores subalternos, profundizar los análisis sobre
los procesos de lucha aportando elementos que permitan que estos sujetos
puedan consolidarse en grupos sujetos de la transformación social.
REFERENCIAS
CARÁMBULA, M. et al. Los límites de la ciudadanía: el caso de los traba-
jadores asalariados rurales. En: RIELLA, A. (Coord.). “El Uruguay desde la
sociología X. Diversidad cultural, discriminación e inseguridad. Cuidados,
fecundidad, educación y género. Desigualdades sociales, desarrollo territo-
rial y movilidad. Gestión de recursos humanos, capital social y acción sin-
dical”. Montevideo, Uruguay: Facultad de Ciencias Sociales; Universidad
de la Republica, 2012. p. 351-370.
Los Movimientos y Organizaciones Sociales Campesinas en el Uruguai 109
1
Sobre conceito de habitus ver Bourdieu, Pierre. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2007.
2
Destacamos que os procedimentos metodológicos deste texto fazem parte da pesquisa
de Doutorado (2011-2015) junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia (Unesp,
São Paulo) e que contou com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp), sob orientação do professor doutor Antonio Nivaldo
Hespanhol.
Os Assentamentos de Reforma Agrária 115
3
Conforme o Dicionário de Filosofia de Abbagnano (1998), o devir pode ser entendido
também como o “vir a ser”, ou seja: “Uma forma particular de mudança, a mudança
absoluta ou substancial que vai do nada ao ser ou do ser ao nada. Esse é o conceito
de Aristóteles e Hegel”. Aristóteles afirmava: “Diz-se D. em muitos sentidos: ao lado
daquilo que vem a ser absolutamente [...], há aquilo que vem a ser isto ou aquilo. O D.
absoluto é só das substâncias: as outras coisas que vêm a ser precisam necessariamente
de um sujeito, já que a quantidade, a qualidade, a relação, o tempo e o lugar vêm a ser
só em referência a certo sujeito; e enquanto a substância não pode ser atribuída como
predicado a nenhuma outra coisa, todas as outras coisas podem ser atribuídas como
predicado a uma substância” (p. 277).
4
Conforme Fialho (2011, p. 16, grifos do autor) “A figura do gaúcho, construída ao longo
do processo histórico de ocupação e formação do território rio-grandense, incorporou
diversas significações até alcançar a atual – habitante do Estado do Rio Grande do Sul
– Brasil. A palavra gaúcho, no decorrer dos anos, passou por um processo de construção
do sentido de identidade, seguindo dois caminhos que convergiram para o significado atual
da palavra. Esses dois caminhos estão identificados com a personalidade dos indivíduos
e com o espaço físico que ocupam. Antigamente referido a certa casta de características
depreciativas que ocupava determinada região que compreendia parte dos territórios
da Argentina, do Brasil e do Uruguai; atualmente, desvinculada das características
depreciativas, atribuídas aos habitantes do Rio Grande do Sul”.
116 A l i n e We b e r S u l z b a c h e r
5
Haesbaert (1988) analisa documentos da Cooperativa Mista Aceguá, referente aos
esforços para formação do ideal de cooperação na Colônia Nova Esperança, situada
próxima a Bagé e criada em 1949 por imigrantes alemães de origem ucraniana.
6
De acordo com o MIN (Brasil, 2009), a denominada mesorregião Metade Sul do Rio
Grande do Sul é um território de aproximadamente 154.100 km², com 105 municípios
fazendo fronteira com o Uruguai e a Argentina. Para o Instituto Brasileiro de Geografia
e statística (2012), o Rio Grande do Sul possui sete mesorregiões: Noroeste, Nordeste,
Centro-Ocidental, Centro-Oriental, Sudoeste, Sudeste e Metropolitana.
118 A l i n e We b e r S u l z b a c h e r
Figura 1 – Mapas com divisão das “Metade Norte” e “Metade Sul” do Estado
Os Assentamentos de Reforma Agrária 119
O primeiro mapa contém uma aproximação da divisão dos biomas. O segundo está de acordo
com os municípios considerados pelo MIN como integrantes da mesorregião da Metade Sul.
Fonte: Rio Grande do Sul (2011) e Brasil (2009) – Mapas adaptados.
Figura 2 – Porcentagem da área municipal plantada com arroz (esq.) e soja (dir.)
Os Assentamentos de Reforma Agrária 127
A partir da Tabela 1 pode-se constatar que, entre 1990 e 2000, foram ins-
talados 60% dos assentamentos que existem atualmente no Estado. Cabe desta-
que às regiões Território Zona Sul, Fronteira Oeste-Livramento e Metropolitana,
ressaltando-se que as duas últimas não possuíam, até então, áreas reformadas.
Conforme os dados, há atualmente cerca de 13 mil famílias assentadas no Estado.
Tabela 1 – Assentamentos instalados, número de famílias e área
Assentamentos
Capacidade Área
Regiões Incra* até 1990- 2001-
Famílias (ha) Total
1989 2000 2011
Centro-Norte-Nordeste 4.423 95.687,47 6 55
97 36
Metropolitana 1.066 21.882,96 0 26
32 06
Missões 1.286 26.628,34 2 23
36 11
Território Zona Sul 4.694 99.582,18 6 70
116 40
Fronteira Oeste – Livra-
1.856 38.462,83 0 26 22 48
mento
Total 13.325 282.243,77 14 200 115 329
*Consideramos a regionalização adotada internamente pelo Incra-SR 11, a fim de
facilitar a sistematização dos dados obtidos.
Fonte: Incra, dados de 2011 – Pesquisa de Campo (fevereiro 2012).
Elaboração: Sulzbacher, A. W.
Observação: Mesmo que não seja recomendado o uso do mapa coroplético para
dados absolutos (capacidade dos assentamentos), optamos pelo uso de cores, a fim
de permitir contraste visual, facilitando a rápida associação ao leitor.
Fontes: Malha cartográfica do IBGE e Censo Agropecuário 2006. Elaboração:
Sulzbacher, A. W.
132 A l i n e We b e r S u l z b a c h e r
Mas uma característica aqui, até pelas famílias, que vêm de uma
região de muita diversidade, e isso foi refletido aqui. Então o
que não tinha aqui na região, nas outras propriedades era ou só
arroz ou só gado... [...] Depois é óbvio, o tempo foi passando e as
famílias vão descobrindo de que “ah, essa plantação aqui a gente
consegue produzir para o consumo, essa outra produção consegue
comercializar” (Grupo Focal 2, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discutimos, de forma geral, aspectos do processo de formação histó-
rico-geográfica do Rio Grande do Sul, relacionando com algumas das difi-
culdades de adaptação das famílias assentadas, sobretudo na Metade Sul.
É importante lembrar que existem diferenças, como é o caso da região das
136 A l i n e We b e r S u l z b a c h e r
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução Alfredo Bosi. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
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assentamentos rurais em Candiota, RS. Ciência e Natura, v. 30, p. 149-172,
2008.
BOURDIEU, Pierre. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2007.
BRANDAO, J. B.; FROEHLICH, J. M.; BREITENBACH, R. Florestas
de eucaliptos na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul – Brasil: promessas
e evidências. Redes, Santa Cruz do Sul, v. 19, p. 216-235, 2014.
BRASIL. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Promeso: Pro-
grama de Promoção da Sustentabilidade de Espaços Sub-Regionais. Brasília:
MIN, 2009.
BRITO, A. N. S. Entre o corredor e a estância: dinâmicas sociais e produtivas
na APA do Rio Ibirapuitã. 2010. 159 f. Dissertação (Mestrado em Extensão
Rural) – Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural, Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2010.
Os Assentamentos de Reforma Agrária 137
1
Emater-RS – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio
Grande do Sul.
2
Este trabalho poder ser visualizado na íntegra em: <http://www.revistas.usp.br/
signosdoconsumo/article/viewFile/76390/80099>.
150 Gisele Martins Guimarães – Ezequiel Redin – Paulo Roberto Cardoso da Silveira – Janaína Balk Brandão
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Os Desafios da Juventude Rural Enquanto Categoria Sociopolítica Emergente
Os dados das pesquisas apresentadas mostram a importância das
Tecnologias de Informação e Comunicação na construção da identidade da
juventude rural e o consequente fortalecimento desta enquanto categoria
sociopolítica emergente. A possibilidade de interação e interatividade entre
os jovens, por meio da Internet, permite a aproximação (mesmo que virtual)
dos atores, conectando-os mediante uma rede de expectativas, demandas
e valores reforçando o sentido de “ser jovem rural”, derivando daí a organi-
zação social destes enquanto atores sociais coletivos.
Por isso, acredita-se que o avanço das TICs no meio rural pode
potencializar a ativação de recursos humanos, como o fortalecimento das
organizações de jovens, gerando inclusive uma transmissão de valores e sig-
nificados ligados ao ethos camponês (jovem rural). Nesse sentido, o processo
3
Disponível em: <https://www.facebook.com/ajurati.arroiodotigre?fref=ts>.
De Sujeitos Ocultos (Off-line) a Sujeitos Visíveis (On-line) 153
REFERÊNCIAS
BORDENAVE, J. E. D. O que é comunicação rural. São Paulo: Ed. Brasi-
liense, 1983.
De Sujeitos Ocultos (Off-line) a Sujeitos Visíveis (On-line) 155
Jaqueline Malmann
Jairo Alfredo Genz Bolter
AS NOÇÕES DE BOURDIEU
Trabalhar com Bourdieu implica reconhecer, ao mesmo tempo, que
o homem, enquanto ser historicamente determinado, traz em si disposições
que são frutos de sua história, e se insere em campos sociais que condi-
cionam suas possibilidades de ação. Enquanto tais disposições orientam a
ação dos agentes, provocando a transformação dos cenários em que atua,
tais cenários contribuem para a contínua readequação dessas disposições.
Neste sentido, Bourdieu (1987) aponta que uma trajetória é a objetivação
das relações entre os agentes e as forças presentes no campo. As situações de
vulnerabilidade, entretanto, que muitas vezes se fazem presentes, podem
As Famílias Assentadas da Reforma Agrária 159
que buscam exercer também alguma influência sobre o espaço social que
aí se constitui. Sobre este aspecto é necessário destacar que neste período
de consolidação do assentamento ocorre, muitas vezes, uma emancipação
das famílias na forma de agir, com relação às orientações, tanto do Estado
quanto do MST.
Bourdieu (1996) argumenta que as ações, comportamentos, escolhas
ou aspirações individuais não derivam de cálculos ou planejamentos, pois
são produtos da relação entre um habitus e as pressões e estímulos de um
campo.
O assentamento Lagoa do Junco foi criado em 1995, e é composto por
35 famílias, sendo, algumas que já trabalhavam na fazenda desapropriada
e outras oriundas dos acampamentos do MST (localizados em sua grande
maioria na Região Noroeste do Estado).
O deslocamento da Região Noroeste para a Região Sul do Estado1
representou, para as famílias vinculadas ao MST, a necessidade do enfrenta-
mento de diversas barreiras, entre elas a mais imediata foi a necessidade de
trabalhar em um solo com características desconhecidas pelos assentados e
distintas entre os lotes.
Parte das dificuldades, especialmente produtivas, enfrentadas no
primeiro ano de instalação do assentamento, podem ser compreendidas
se considerarmos a relação que se estabelece entre o capital de origem e
o capital de chegada necessário para enfrentar os desafios de produção e
organização, uma vez que, muitas vezes, torna-se “impossível dar conta das
práticas em função unicamente das propriedades que definem a posição
ocupada, em determinado momento, no espaço social” (Bourdieu, 2011, p.
105). Na questão da produção, percebe-se claramente que o habitus herdado
exerceu grande influência no momento de decisão sobre qual cultivo a ser
adotado,2 pois tratava-se inicialmente de um ambiente novo e distinto.
1
Fato esse vivenciado por muitas famílias assentadas no Estado do Rio Grande do Sul.
2
O primeiro cultivo realizado na área do assentamento foi o de milho.
164 Jaqueline Malmann – Jairo Alfredo Genz Bolter
3
Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul.
4
Destaca-se que hoje são apenas dez famílias que ainda permanecem vinculadas à
Coopat.
As Famílias Assentadas da Reforma Agrária 165
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do apresentado, é possível verificar uma nova ruralidade em
voga, na qual faz-se urgente reconsiderar a visão do rural como um espaço
estanque, ou meramente de produção.
A percepção de diferentes trajetórias sociais no interior de um mesmo
campo social pode ser compreendida a partir do habitus, na condição de
mediador entre o passado e o presente, como sistema que funciona como
categoria de diferenciação, mas também, como princípio organizador da ação
prática, que tanto explica a naturalização, a aceitação, como ajuda a encon-
trar respostas criativas às demandas do meio social (Bourdieu; Wacquant,
2008). Em outras palavras, muito da relação entre habitus e trajetórias sociais
está em que o habitus modifica-se com as experiências, sendo este, entre-
tanto, sempre uma referência para a ação. Assim, as famílias assentadas, de
forma geral, são pressionadas por um sistema de regras que é hegemônico
no campo, impondo-se como algo natural, mas que, no entanto, também é
passível de mudanças, as quais só se realizarão pelas experiências vividas.
Com isso, pode-se constatar a partir da realidade do assentamento
Lagoa do Junco, que este é um espaço que, independentemente de sua
trajetória social, sofre com as intervenções externas, não possuindo os indi-
víduos uma total liberdade sobre as decisões de suas trajetórias de vida.
Ao final, a partir da análise realizada via conceitos propostos por
Bourdieu, tem-se uma tendência à compreensão de que é o indivíduo que
tem a capacidade de articular as múltiplas referências que lhe são propostas
ao longo de sua caminhada social. Verificou-se, porém, que é a história da
trajetória dos sujeitos que vai determinar relacionalmente os enfrentamen-
tos, as estratégias, as vantagens e desvantagens materiais e simbólicas de
cada indivíduo ou campo social.
As Famílias Assentadas da Reforma Agrária 169
REFERÊNCIAS
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1987.
______. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
______. O poder simbólico. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004a.
______. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo cien-
tífico. São Paulo: Editora Unesp, 2004b.
BOURDIEU, P.; WACQUANT, L. Una invitación a la sociología reflexiva.
Buenos Aires: Siglo XXI Editores Argentina, 2008.
BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. 2. ed. Porto Alegre,
RS: Zouk, 2011.
CRUZ, I. M. F. da S. Entre estruturas e agentes: padrões e práticas de
consumo em Portugal. Resultados da análise quantitativa aos dados do IOF
1967-2006. In: Congresso Português de Sociologia, 6. Lisboa, 2008.
GONÇALVES, W. A questão agrária brasileira: vinte anos de debate. In:
Estado e agricultura no Brasil: política agrícola e modernização econômica
brasileira 1960-1980. São Paulo: Hucitec, 2008.
170 Jaqueline Malmann – Jairo Alfredo Genz Bolter
Ezequiel Redin
Vilson Flores dos Santos
Paulo Roberto Cardoso da Silveira
1
Trata-se de uma ação coordenada por Vilson Flores dos Santos, então doutorando em
Extensão Rural, objetivando atender demanda da Arejur em conhecer as principais
solicitações das diferentes associações municipais de jovens rurais suas constituintes.
174 E z e q u i e l R e d i n – V i l s o n F l o r e s d o s S a n t o s – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
2
Nessa perspectiva podem-se elencar os seguintes trabalhos: Schneider, 1994; Cama-
rano; Abramovay, 1999; Carneiro, 1998; Sacco dos Anjos; Caldas, 2003; Castro, 2005;
Stropasolas, 2006, Brumer; Anjos, 2008; Marin, 2009; Weisheimer, 2009; Froehlich et
al., 2011; Marin; Redin, Costa, 2014.
A Juventude Rural em Ação 175
3
Núcleo Interdisciplinar em Extensão e Pesquisa sobre Alimentação e Sociedade.
4
Núcleo de Estudos sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
A Juventude Rural em Ação 181
O DESFECHO
O processo de construção social da juventude rural em ação desen-
rola-se pela trama destes atores rurais movidos pela ânsia de prospectar um
futuro mais promissor e digno, seja no espaço rural ou no urbano. O enredo
procrastina-se sobre a forma de adaptação da juventude rural a uma vida
184 E z e q u i e l R e d i n – V i l s o n F l o r e s d o s S a n t o s – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, P. Uma vida perdida. In: BOURDIEU, P. (Org.). A miséria do
mundo. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 437-449.
______. A juventude é apenas uma palavra. In: BOURDIEU, Pierre. Ques-
tões de sociologia. Lisboa: Fim de Século Edições, 2003.
BRUMER, A.; ANJOS, G. Gênero e reprodução social na agricultura fami-
liar. Revista Nera, ano 11, n. 12, p. 6-17, 2008. Disponível em: <http://www4.
pct.unesp.br/nera/revistas/12/6_brumer_e_anjos_12.pdf//>. Acesso em: 30
jun. 2014.
CAMARANO, A. A.; ABRAMOVAY, R. Êxodo rural, envelhecimento e mas-
culinização no Brasil: panorama dos últimos 50 anos. Rio de Janeiro: Edição
621; Ipea, 1999. 28 p.
CARNEIRO, M. J. Camponeses, agricultores e pluriatividade. Rio de Janeiro:
Contra Capa Livraria, 1998.
A Juventude Rural em Ação 185
1
A criação e estabelecimento do Pronaf em 1996 abre um debate na agenda pública e
inaugura um conjunto de políticas diferenciadas para a agricultura, partindo do reconhe-
cimento econômico da agricultura familiar e da sua conceitualização no fórum científico
(Grisa, 2012).
2
Para definir autoconsumo usamos a abordagem de Grisa e Schneider (2008), em que
este é considerado como a parcela da produção produzida pela família e destinada ao seu
consumo, o que segundo os autores é diferente de subsistência, quando os agricultores
cultivam produtos para o consumo e comercializam o excedente.
188 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
3
O Sigra é um sistema integrado em que constam os dados de diagnóstico da realidade
dos assentamentos de Reforma Agrária no RS. É alimentado pelos extensionistas rurais
que atuam nos assentamentos. A Ates, por sua vez, é a sigla utilizada para denominar o
programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária concebido em
2003 no Brasil.
4
Representando 18,93 % dos estabelecimentos agropecuários, as famílias assentadas
dinamizaram a economia local com seu potencial de consumo e representa um grande
peso na produção leiteira do município e na ocupação da força de trabalho. São apro-
ximadamente 76% das famílias que produzem leite, com a produção anual girando em
torno de 5,4 milhões de litros.
190 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
acordo com Maluf e Menezes (2000), isto deve ocorrer devido às caracterís-
ticas que lhes são inerentes, uma vez que a agricultura familiar, pela maior
mobilidade na alocação dos fatores de produção disponíveis, consegue variar
entre os extremos de depender exclusivamente de transações no mercado
para sua reprodução social ou de recuar até o completo autoabastecimento.
Embora a mercantilização da agricultura tenha afastado progressi-
vamente os agricultores da produção para o autoconsumo, na agricultura
familiar ainda está presente a cultura da diversificação (mesmo que de forma
simbólica). Tal fato gera potencialidades a serem exploradas por programas
de desenvolvimento. Nesse sentido o debate da qualidade da alimentação
tem o potencial de desnudar a mudança das práticas e hábitos alimentares5
ocorridos nas últimas décadas, resgatando nos agricultores a preocupação
com a soberania alimentar e capacitando-os para a construção de mercados
alternativos.
Partindo-se do conceito de SAN, definido em 2004 na segunda Con-
ferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional promovida pelo
Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional:
5
Entende-se por hábitos alimentares o que envolve os tipos de alimentos que costumam
fazer parte como componentes da dieta cotidiana e suas formas de preparação; práticas
alimentares referem-se ao número de refeições, os rituais que as envolvem, os níveis de
sociabilidade, marcadamente reduzidos pela refeição fora do domicílio e pelo abandono
da prática de a família sentar-se à mesa em conjunto para celebrar o ato alimentar
(Silveira; Guimarães, 2010).
A Erosão da Cultura Alimentar e os Desafios Para a Segurança Alimentar 193
6
Brasil. Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan) Lei nº 11.346, de 15
de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
– Sisan com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras
providências.
194 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
7
Aqui considerados aqueles alimentos que não passam por nenhuma etapa de proces-
samento, assumindo grande perecibilidade e advindos da agricultura sem passar pela
indústria alimentar.
8
Em 2005, as dez maiores redes de varejo do mundo eram responsáveis por um fatur-
amento de 840 bilhões de dólares, 24% do mercado global, estimado em 3,5 trilhões
de dólares e somente a rede Wal-Mart possuía 8% do faturamento bruto do mercado
varejista global (Oosterveer; Guivant; Spaargaren, 2007).
9
Segundo os autores, os supermercados buscam atrair consumidores para produtos que
eles não pretendiam comprar, seduzidos pelas estratégias de promoção e marketing.
A Erosão da Cultura Alimentar e os Desafios Para a Segurança Alimentar 197
Segundo Pollan (2008), mais de dois terços das calorias consumidas diariamente vêm de
10
apenas quatro vegetais cultivados em escala mundial e vinculados aos grandes impérios
alimentares: milho, soja, trigo e arroz.
198 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
realidade estudada, pois por meio dos dados produtivos dos assentamentos
percebemos que a prioridade tem sido os cultivos comerciais, gerando-se
uma situação de insegurança alimentar ou de falta de soberania alimentar.
De acordo com os dados do Sigra, 72% das famílias produzem soja e
76,6% estão envolvidas com a atividade leiteira. Os Planos de Recuperação
dos Assentamentos (PRA), elaborados pela Emater-RS, demonstram um
avanço da produção leiteira nas áreas de soja nos assentamentos. Esse fator
pode ser considerado positivo se for analisada a questão da geração de valor
agregado por área e as possibilidades desse sistema ser desenvolvido com
vista à sustentabilidade, como apontam Machado e Balem (2012). Balem,
Secretti e Marostega (2011), no entanto, demonstram que a atividade lei-
teira nos assentamentos em JC é basicamente desenvolvida em sistemas
convencionais de produção, com alta demanda de mão de obra e custo de
produção. Assim, cabe a reflexão se a substituição da monoatividade soja
pela monoatividade leite11 em sistemas convencionais seria uma alternativa,
pois isso gera uma dependência dos quatro assentamentos diante de apenas
duas atividades produtivas, praticamente.
No escopo da nossa discussão o maior impacto dessas atividades
produtivas está relacionado à produção de alimentos. A atividade leiteira,
segundo as agricultoras que participaram do Grupo Focal, tem garantido
uma renda satisfatória às famílias envolvidas, o que influencia na compra
de alimentos em supermercados. Elas afirmaram que antes da expansão da
atividade leiteira no assentamento a produção era para o autoconsumo, mas
agora, como a maioria das famílias tem renda mensal com o leite, adquirem
mais alimentos.
Uma questão importante nessa discussão é a disponibilidade de
mão de obra nas famílias, pois de acordo com os dados do Sigra (2013) os
assentamentos de Júlio de Castilhos possuem em média 2,8 pessoas por
família. Essa questão é importante, pois com restrição de mão de obra é de
se esperar que as famílias priorizem os cultivos comerciais em detrimento
Assentamentos o leite é responsável pelo ingresso líquido de 60%, 53% e 57% dos
recursos nos assentamentos Santa Júlia, Ramada e Nova Ramada II, respectivamente.
Esse dado não consta no PRA do assentamento Alvorada.
A Erosão da Cultura Alimentar e os Desafios Para a Segurança Alimentar 199
enraizamento e entrelaçamento.
A Erosão da Cultura Alimentar e os Desafios Para a Segurança Alimentar 205
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quatro parecem ser os fatores fundamentais que ocasionam a erosão
da cultural alimentar: a pressão modernizante, em que o tradicional é sinô-
nimo de atrasado e o industrial de moderno; a diminuição da mão de obra
206 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SUPERMERCADOS (Abras). Jornal
Zero Hora, Porto Alegre, 20 de junho de 2000 (Encarte especial).
ARNAIZ, M. G. Comer bien, comer mal: la medicalización el comporta-
miento alimentario. Salud Pública de México, Ciudad del México, vol. 49, n.
3, maio/jun. 2007.
ARNAIZ, M. G. Em direção a uma nova ordem alimentar? In: CANESQUI,
Ana M.; GARCIA, Rosa W. D. (Orgs.). Antropologia e nutrição: um diálogo
possível. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2005.
A Erosão da Cultura Alimentar e os Desafios Para a Segurança Alimentar 207
1
O presente texto fundamenta-se em reflexões e evidências no âmbito do Projeto de
Pesquisa “Repensando o conceito de ruralidade no Brasil: implicações sobre as políticas públi-
cas”, fruto da parceria entre o Fórum de Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS)
do Instituto Interamericano para Cooperação na Agricultura (IICA), o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) – por meio da Secretaria de Desenvolvimento Terri-
torial e do Núcleo de Estudos Agrários (Nead) –, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB),
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Projeto de Pesquisa buscou ampliar a
discussão sobre a diversidade e as múltiplas dimensões do meio rural contemporâneo,
culminando na construção de uma tipologia atualizada dos espaços rurais, que consid-
ere os avanços conceituais da temática da ruralidade e da territorialidade no âmbito da
academia, dos gestores públicos e dos movimentos sociais. Os relatórios desta pesquisa
compõem volumes da Série Desenvolvimento Rural Sustentável do IICA.
A(s) Ruralidade(s) nas Políticas Públicas Brasileiras 217
2
Os termos citados expressam como alguns grupos sociais se reconhecem. Por exemplo,
faxilanenses são grupos sociais que compõem territórios específicos das regiões Centro
e Centro-Sul do Estado do Paraná; retireiros são povos que vivem às margens do Rio
Araguaia, região entre Mato Grosso e Tocantins; geraizeiros são populações tradicionais
que vivem nos cerrados do norte do Estado de Minas Gerais; vazanteiros são populações
que habitam as ilhas e barrancos de rios como São Francisco, Tocantins e Araguaia.
Estes termos têm a ver com a forma com que estas populações se relacionam entre si,
e, também, com as relações que estabelecem com a natureza.
222 S i l v i a A p a r e c i d a Z i m m e r m a n n – K a r i n a Yo s h i e M a r t i n s K a t o – C a t i a G r i s a
Infraestrutura e Intersetorialidade
Ao longo do estudo identificamos algumas questões a serem explo-
radas se quisermos compreender as formas pelas quais as políticas públicas
podem vir a incluir as diferentes dimensões do mundo rural.
Identificamos que algumas mudanças proporcionadas pelas políticas
públicas estudadas, na medida em que dotam de infraestrutura o mundo
rural e reconhecem como categoriais sociais pertencentes ao mundo rural
outros segmentos para além do agricultor familiar (quilombolas, pescado-
res, ribeirinhos, etc,), podem fomentar o surgimento de novas ruralidades,
abrindo outros horizontes para se pensar o rural. As reflexões que se seguem
não estão voltadas a um olhar normativo sobre as políticas públicas, mas
buscam, essencialmente, refletir sobre o mundo rural, e em que medida
diferentes ruralidades são reconhecidas e exigem diferentes tratamentos
no âmbito de execução das políticas públicas.
Um aspecto a ser ressaltado relaciona-se com a infraestrutura e a
provisão de serviços no meio rural. Nas sociedades contemporâneas, as fron-
teiras tornam-se mais fluidas, não representando um limite estático entre os
lugares (sejam esses regiões, territórios, cidades, rural e urbano) e reduzindo
o tempo de deslocamento de ideias e informações. Este contexto reclama de
forma ainda mais veemente a superação da falta de infraestrutura no espaço
rural, demandando políticas públicas de moradia, transporte, saneamento,
telecomunicações, saúde, entre outras. A garantia do direito à infraestrutura
no espaço rural também exige uma ação intersetorial das políticas públicas,
228 S i l v i a A p a r e c i d a Z i m m e r m a n n – K a r i n a Yo s h i e M a r t i n s K a t o – C a t i a G r i s a
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De um modo geral, das seis políticas públicas analisadas neste traba-
lho, quatro (PMCMV, o Pronatec, a política de assentamentos e o PNBL)
exaltam elementos que são fundamentais para a compreensão do rural como
um espaço de vida para além de um espaço de produção. A ampliação do
acesso à terra, a garantia de um lugar para viver e garantir a reprodução social
e econômica da família, a valorização das habitações rural, o incremento da
qualidade de vida, o acesso ao consumo de bens e serviços (energia elétrica,
saneamento) e o acesso à informação e à comunicação são elementos basi-
lares destas políticas citadas. Sua razão, nesse sentido, situa-se no campo
da ampliação de direitos e de uma maior equalização da qualidade de vida
e de oportunidades no campo e na cidade.
O Pronaf, PNAE, política de assentamentos rurais e PMCMV, por
sua vez, são políticas destinadas exclusivamente no público da agricultura
familiar e dos povos e comunidades tradicionais. Elas caminham na direção
de privilegiar e fortalecer uma ruralidade específica, que compreende um
rural que produz, e que é um “rural com gente” (como destacou a 1ª Con-
ferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, em
2008). Suas iniciativas, ainda que pouco articuladas, nos sugerem um rural
diversificado, que produz boa parte dos alimentos agrícolas brasileiros, que
busca formas mais sustentáveis de produção (em que há grupos que pautam
a agroecologia e outras práticas sustentáveis), e que guarda um importante
patrimônio cultural. Além de destacar a importância social e econômica das
áreas rurais – e a necessidade de fortalecê-las –, estas políticas reconhecem
que o desenvolvimento rural passará pelo fortalecimento de segmentos
específicos, portadores de distintas ruralidades.
Da investigação empreendida, podemos sugerir que o êxito nas
políticas públicas está relacionado principalmente ao avanço realizado
na direção da ressignificação e da ampliacão da forma como este espaço
rural vem sendo interpretado e conduzido em algumas políticas públicas e
também do maior reconhecimento da diversidade dos grupos sociais que
constituem o rural. Destacamos como um desafio premente, contudo, o
reconhecimento da importância de que as ações governamentais entendam
a ampliação de boa parte das infraestruturas enquanto direitos fundamen-
232 S i l v i a A p a r e c i d a Z i m m e r m a n n – K a r i n a Yo s h i e M a r t i n s K a t o – C a t i a G r i s a
tais que devem, logo, ser garantidos também no espaço rural. A promoção
do desenvolvimento rural tem como condicionante o rompimento com o
senso comum que interpreta o desenvolvimento e o rural como categorias
incompatíveis de serem conjugadas. E o alargamento da infraestrutura e
dos serviços básicos para o meio rural evidenciam-se como um bom começo
nessa direção.
Adicionalmente, persiste no horizonte a necessidade de se pensar as
políticas públicas para o rural a partir de um corte territorial (e não setorial)
e, ao mesmo tempo, em uma perspectiva multidimensional (e que incorpore
para além da econômica, as dimensões social, ambiental, cultural e política)
que, muito embora não perca de vista a importância da agricultura nos ter-
ritórios rurais, não reduza os seus fins à produção agrícola.
Não haverá uma fórmula geral a ser posta em prática de maneira
uniforme para o alcance desse objetivo. Ao contrário. O desenvolvimento
rural requer que as políticas públicas cada vez mais articulem, de forma
diferenciada, a ampliação de direitos e serviços e certa flexibilidade para
dar conta das especificidades do território, de sua matriz produtiva e dos
grupos sociais que o constituem.
Isso requer não apenas o contínuo monitoramento participativo das
políticas públicas instituídas e o controle social, mas a introdução de meca-
nismos retroalimentadores que permitam a geração e adoção de práticas
inovadoras que facilitem a sua aderência à diversidade do meio rural. Exige,
ademais, o melhor tratamento dos distintos grupos sociais que constituem
o rural brasileiro, rompendo, aos poucos, com o olhar reducionista que isola
o rural do todo, para que, enfim, passe a considerá-lo a partir das relações
que estabelece com o seu entorno.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, L. F. MST impõe pauta da Reforma Agrária no governo
Dilma. 13 de fevereiro de 2014. Disponível em: <http://www.mst.org.br/
node/15722>.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Manual do agente emissor
de Declaração de Aptidão ao Pronaf. Versão 1.0. Brasília (DF): MDA, 2014a.
A(s) Ruralidade(s) nas Políticas Públicas Brasileiras 233
METODOLOGIA
A base empírica do estudo deu-se no município São Francisco
de Assis (SFA), no Rio Grande do Sul (Brasil). A investigação, realizada
nos anos de 2012 e 2013, valeu-se de entrevistas semiestruturadas com
os agentes de desenvolvimento envolvidos com a política no município e
análise documental. Complementou-se a pesquisa com a participação dos
autores em reuniões realizadas no município e na vivência junto aos agricul-
tores familiares e agentes de desenvolvimento envolvidos. Os dados foram
avaliados de forma qualitativa, por meio da análise de conteúdo.
O município de São Francisco de Assis (SFA) está localizado na
região central do Estado do Rio Grande do Sul e possui características simi-
lares, ou seja, uma economia fortemente baseada no setor agropecuário.
Uma região do município apresenta características do Bioma Pampa voltada
à agricultura empresarial e outra de Rebordo do Planalto, no qual predomi-
nam os traços de uma agricultura típica de colonização italiana, com uma
agricultura mais diversificada e de pequena escala.
1
De acordo com Friedmann (1993): o Primeiro Regime Alimentar marcou a criação
do mercado mundial de alimentos e nasceu entre 1870 e 1914; o Segundo Regime
Alimentar institui-se entre 1950 e 1970 e estabelece forte relação entre a agricultura
nacional e a transnacionalização do capital; o Terceiro Regime Alimentar pode ser
considerado ainda emergente e vem a dar os primeiros sinais a partir de 1980, com o
processo de globalização e completa internacionalização dos impérios alimentares.
238 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
2
Entende-se por padrão fordista um conceito de alimento produzido e consumido em
massa, indiferenciado e desenraizado do contexto (Pollan, 2007).
240 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
3
É comum na literatura da chamada Nova Sociologia Econômica a utilização do termo
embeddedness, traduzido por enraizamento social das relações econômicas, segundo a
tradição iniciada por Karl Polanyi.
242 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
4
Antes de 2010 participaram dez agroindústrias das chamadas públicas.
O Papel da Alimentação Escolar na Construção de Mercados Para a Agricultura Familiar 247
5
Expressão utilizada por um dos informantes qualificados.
248 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A venda para o Pnae fortaleceu os agricultores envolvidos e motivou o
investimento em sistemas diferenciados de produção, aumentando e/ou qua-
lificando aqueles já existentes, mas que eram voltados quase exclusivamente
para o autoconsumo. Os valores referentes à comercialização dos produtos da
agricultura familiar para a alimentação escolar foram aumentando a partir da
efetivação das mudanças na política pública, em 2009, de forma significativa.
Ao mesmo tempo, no entanto, em que se nota a comercialização de uma
grande variedade de produtos, percebe-se dificuldades de produção de alguns
produtos demandados, o que revela que é necessário avançar no processo.
A partir da experiência estudada pode-se afirmar que há um movimen-
to de concertação dos agentes envolvidos com o processo, no sentido de forta-
lecer os sistemas de produção locais e de estimular o acesso dos agricultores a
outros mercados, além do possibilitado pelo Pnae. Neste sentido, parece ser
uma inferência importante a necessidade da criação de novas institucionalida-
des, espaços de negociação de normas de relacionamento, as quais dialogam
permanentemente com as instituições tradicionais, buscando-se transformar
o seu modus operandi. A criação da cooperativa e a concertação de agentes
para acesso às chamadas públicas e construção dos projetos de compra são
exemplos destas novas institucionalidades, as quais enfrentarão, certamente,
em vários momentos, a oposição das “velhas” institucionalidades, pois estas
representam o Estado e este é o ente regulador das relações sociais, muitas
vezes comprometidas com uma forma tradicional de pensar e agir conflitantes.
REFERÊNCIAS
ANJOS, F. S. dos et al. Agricultura familiar e políticas públicas: o impacto
do Pronaf no Rio Grande do Sul. RER, n. 42, v. 3, p. 529-548, jul./set. 2004.
250 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – G u s t a v o P i n t o d a S i l v a – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
Fonte: Hectare do Brasil Ltda. Localização Quarta Colônia no Mapa do Rio Grande
do Sul. Porto Alegre, 2015.
Identidades e Patrimônio Cultural em Sistemas de Produção de Alimentos Coloniais no Rural Contemporâneo da Quarta Colônia-RS 257
1
A tipologia “Agricultor Familiar” refere-se a uma categoria social, política e produtiva
reconhecida pela Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006 (Lei da Agricultura Familiar) que
designa dimensão, mão de obra e renda anual adquirida específica para enquadramento.
Ver <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11326.htm>.
258 Gisele Martins Guimarães – Ivaldo Gehlen
Estado deve preservar (no presente) seu legado para garantir às futuras
gerações a oportunidade de conhecer os valores e manifestações que deram
existência a sua origem.
Neste sentido, acredita-se que a transformação dos produtos a partir
das exigências sanitárias e a secundarização do saber-fazer em sua apresen-
tação “De Origem” pode estar causando o desmonte das especificidades
do território, em que a ideologização do lugar e seus atributos históricos de
colônia parecem cultuar o patrimônio cultural do lugar, apenas de forma
simbólica, promovendo apenas o uso “comercial” das identidades.
A racionalidade, no entanto, fundamentada no saber-fazer tradicio-
nal é fundamental para a caracterização dos produtos diante dos turistas
que buscam “consumir” a cultura do lugar em todas as suas expressões,
o que inclui gastronomia típica. Tais saberes, materializados em produtos
alimentares de caracterização colonial, valorizados pelo consumidor turista
como típicos do lugar, podem fazer com que os atores reforcem a sua iden-
tidade a partir da valorização de seus produtos por meio de saberes-fazeres
tradicionais.
Diante de um quadro de “mercantilização das identidades”, contudo,
salienta-se que a preservação dos saberes e dos valores “de origem” é pri-
mordial para a caracterização do território e que a ausência de estratégias
institucionais de preservação das identidades “originais” pode condenar o
território à perda de suas raízes, o que implicaria o “desmonte” de recursos
específicos e possibilidades de visibilidade que se dão via saberes enraiza-
dos culturalmente entre os atores.
Por fim, sem a pretensão de encerrar conclusões sobre tema tão pro-
fícuo e complexo, salienta-se que o processo em curso, ao mesmo tempo
em que cria condições propícias para desenvolvimento e valorização das
comunidades locais, gera graves riscos de deterioração, desaparecimento
e destruição do patrimônio cultural, devido à falta de consciência e meios
para protegê-lo no ambiente, sobretudo do mercado de alimentos, talvez
um dos mais regrados e regidos por normas de cunho industrial. Caminhos
que apontem para o reconhecimento legal de saberes tradicionais como
276 Gisele Martins Guimarães – Ivaldo Gehlen
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, R. Bases para a formulação da política brasileira de desenvol-
vimento rural: agricultura familiar e desenvolvimento territorial. Brasília:
Ipea, 1998.
ABRAMOVAY, R. O futuro das regiões rurais. Porto Alegre: UFRGS, 2002.
BRUNET, R. Le territoire dans les turbulences. Paris: Reclus, 1990.
CAMMARATA, E. B. El turismo como práctica social y su papel en la
apropriación del território. In: LEMOS, A. I. G.; ARROYO, M.; SILVEIRA,
M. L. (Orgs.). América Latina: cidade, campo e turismo. São Paulo: Univer-
sidade de São Paulo, 2006.
DILLEMBURG, E. T.; RAUPP, A. K. A Agroindústria no sistema sindi-
cal. In: BARROSO, L. A.; ZIBETTI, D. W. (Orgs.). Agroindústria: uma
análise no contexto socioeconômico e jurídico brasileiro. São Paulo: Livraria
e Editora Universitária de Direito, 2009.
FLORES, M. A identidade cultural do território como base de estratégias de desen-
volvimento – uma visão do estado da arte. Série Territórios com Identidade.
São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www4.fct.unesp.br>. Acesso em:
3 abr. 2008.
FROEHLICH, J. M. et al. Êxodo seletivo, masculinização e envelheci-
mento da população rural na região central do RS. Cienc. Rural, vol. 41, n.
9, p.1.674-1.680, set. 2011.
GEHLEN, I.; RIELLA, A. Dinâmicas territoriais e desenvolvimento sus-
tentável. Sociologias, Porto Alegre, v. 1, n 11, jan./jun. 2004.
GUIMARÃES, G. M. A legislação industrial e sanitária dos produtos de origem
animal: o caso das agroindústrias de pequeno porte. 2001. 146 p. Dissertação
(Mestrado em Extensão Rural) – Universidade Federal de Santa Maria,
Santa Maria. 2001.
Identidades e Patrimônio Cultural em Sistemas de Produção de Alimentos Coloniais no Rural Contemporâneo da Quarta Colônia-RS 277
1
Compreende-se aqui como territorialidades, os aspectos objetivos e subjetivos que
representam a especificidade de um território, conceito que desenvolveremos adiante.
2
Neste caso, este recurso é tomado como capaz de obter valorização econômica e
diferenciar-se diante do mercado por suas características culturais, gerando uma
sinergia positiva com os demais segmentos econômicos para alavancar uma dinâmica
de desenvolvimento territorial.
280 Paulo Roberto Cecconi Deon – Fernanda Elisa de Oliveira Venturini – Paulo Roberto Cardoso da Silveira
3
Para Putnam (1996), capital social é um conjunto de recursos que interagem, tais como
confiança, reciprocidade, são recursos dados como simbólicos, os quais quando acessados
promovem a mudança do destino de certo grupo social. Para Bourdieu (1989), capital
social é um conjunto de recursos e poderes efetivamente utilizados pelos atores sociais.
284 Paulo Roberto Cecconi Deon – Fernanda Elisa de Oliveira Venturini – Paulo Roberto Cardoso da Silveira
4
Neste caso, recursos tradicionais são aqueles que sempre estiveram presentes em
determinado espaço geográfico, mas nunca foram valorizados como potencial de
desenvolvimento. São oriundos das formas específicas de ocupação do espaço e da
organização social que lhes deram sustentação, mas não ativados podem permanecer
apenas como potência, não representando capacidade de articulação intra ou inter-
setorial (Pecqueur, 2005).
5
A legislação sanitária vigente no Brasil foi elaborada em 1951 para garantir a segurança
alimentar em situações de grande escala de produção e elevado tempo entre produção
e consumo (Silveira; Zimermann, 2004). No caso da produção artesanal de alimentos
em pequena escala e destinada a circuitos locais/regionais de produção-distribuição-
consumo, tal legislação mostra-se incompatível com a realidade vivenciada, sendo sua
aplicação dificultada pelo investimento necessário em estrutura física (instalações e
equipamentos), a qual exigiria elevada capacidade de pagamento. Os empreendedores
devem aumentar a escala de produção para alcançar a capacidade de pagamento,
precisando aumentar a matéria-prima e a mão de obra necessária, além de necessitar
expandir a comercialização para novos consumidores além dos circuitos locais/regionais
(Guimarães; Silveira, 2007).
A Abordagem dos Sistemas Agroalimentares Localizados (Sial) 285
6
Para nossa argumentação ter coerência sociológica, as redes sociotécnicas estão em
um nível mais macro que as redes socioprodutivas, pois constituem um arranjo de
forças políticas, econômicas e institucionais que, em determinado momento, definem
as estratégias político-institucional e de geração/difusão de tecnologias, explicando
por que algumas vicejam e outras, também cogitadas, sejam preteridas. Já as redes
socioprodutivas são arranjos locais/regionais, buscando assegurar melhores condições
de produção, organização e relação com os mercados, por meio de ações coletivas de
cooperação e colaboração. O desempenho destas redes socioprodutivas em muito é
condicionada pela conformação de redes sociotécnicas capazes de influenciar a dinâmica
política e econômica do segmento em questão.
286 Paulo Roberto Cecconi Deon – Fernanda Elisa de Oliveira Venturini – Paulo Roberto Cardoso da Silveira
7
Mesmo que na maior parte dos casos as agroindústrias rurais não consigam atingir a
formalização plena.
A Abordagem dos Sistemas Agroalimentares Localizados (Sial) 287
8
Embora o Censo Agropecuário de 2006 aponte para 99 estabelecimentos no município
em que os produtores declaram produzir cachaça, as informações são contraditórias
quando entrevistados informantes-chave ligados a instituições de apoio no município,
os quais apontam que esse número chega a mais de 250 alambiques. Por outro lado,
estudos preliminares apontam para a substituição desses empreendimentos (Redin,
2010; Deon et al., 2012). Essa falta de conhecimento dos números reais desse público
poderia ser apontado como um ponto frágil tendo em vista a ativação de um Sial, pois
limita a capacidade de ação do poder público e demais agentes de apoio, os quais não
possuem base concreta para planejamento e envolvimento dos produtores.
288 Paulo Roberto Cecconi Deon – Fernanda Elisa de Oliveira Venturini – Paulo Roberto Cardoso da Silveira
9
Referimo-nos às capacidades categorizadas por Guimarães e Silveira (2007), e que
nos casos aqui analisados podem ser compreendidas como: mobilizáveis – relações
de confiança-fidelidade com consumidores, habilidade de comerciar; instaladas –
estrutura disponível para processamento, transporte, etc.; adquiridas – aquelas advindas
das instituições-suporte, baseadas no conhecimento técnico-científico e gerencial;
aprimoradas – aquelas advindas de processo de formação e adoção de Boas Práticas de
Fabricação; além das adicionadas, descritas em nota posterior.
10
“Colonial” é a denominação para o produto produzido artesanalmente por descendentes
de imigrantes europeus, os quais receberam áreas de terras denominadas de colônia
(Silveira et al., 2008).
11
Dentre as entidades participantes destacam-se o papel do Instituto Federal Farroupilha
– Campus de São Vicente do Sul (IFF Campus SVS) que atuou na mobilização,
organização e em todo processo de criação da instituição, além de instituições locais
como a prefeitura de Jaguari e o Escritório Municipal da Emater/RS, o Sebrae/RS e o
próprio Comitê Gestor do Centro Mesorregional de Uva e Vinho de Jaguari. Aliás, a
criação da associação é um resultado das ações projetadas por este Comitê e que havia
ficado sob responsabilidade do IFF Campus SVS.
A Abordagem dos Sistemas Agroalimentares Localizados (Sial) 289
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os casos analisados sugerem a formalização como uma consequên-
cia do fomento às agroindústrias rurais. Este processo tem significado um
entrave para a “ativação” do Sial, gerando uma clivagem entre unidades pro-
cessadoras, as quais apresentam capacidades diferenciadas e que obstaculi-
zam uma política comum e articulada para desenvolver o Sial, acabando por
provocar a pressão pela adoção de mecanismos de seleção dos “mais aptos”.
As redes socioprodutivas constituídas são atualmente o resultado de
anos de adaptação às adversidades, reações perante diferentes contextos, o
que pode explicar sua sustentação no tempo e no espaço. Não se percebe,
todavia, estas redes como capazes de gerar consensos para promover siner-
gia entre os diferentes atores e assumir-se como ator político com poder de
292 Paulo Roberto Cecconi Deon – Fernanda Elisa de Oliveira Venturini – Paulo Roberto Cardoso da Silveira
interferência nas políticas públicas; pelo contrário, são redes frágeis, assu-
mindo papel reativo às políticas públicas e tendo no poder público e nas
organizações de Ater os atores-referência do processo de articulação local.
Os agentes fomentadores do processo de articulação, por sua vez,
se utilizam de estratégias de formação de redes a curto prazo, não estabe-
lecendo um processo de aprendizagem organizacional coletiva, o qual vise
a desenvolver elementos de sociabilidade capazes de empoderar os atores
para que a rede se sustente no tempo e no espaço.
O contexto em análise sugere que tanto por parte das redes sociopro-
dutivas quanto das redes sociotécnicas, parece não ocorrer aspirações signi-
ficativas no sentido de ativação de um Sistema Agroalimentar Localizado
no município de Jaguari, pois prevalece uma lógica setorial, fragmentária, e
de cunho assistencialista, incapaz de perceber que as potencialidades terri-
toriais, presentes na produção artesanal de alimentos e bebidas, poderiam
articular-se como eixo orientador para um processo de desenvolvimento
territorial.
Finalmente, deve-se enfatizar que as estratégias de ativação de recur-
sos genéricos e específicos, via formalização do processamento artesanal de
alimentos e bebidas, até o momento tem fracassado, exigindo que novas
institucionalidades sejam construídas e consolidadas.
REFERÊNCIAS
BOUCHER, F. et al. Globalizacción y Evolución de la Agroindustria Rural en
América Latina: Sistemas Agroalimentarios Localizados. Lima, 2000. (Prodar
Working documents. Series n. 10).
BOUCHER, F.; POMÉON, T. Reflexiones en torno al enfoque Sial: evolu-
ción y avances desde la Agroindustria Rural (AIR) hasta los sistemas Agro-
alimentarios Localizados (SIAL). In: INTERNATIONAL EAAE- SYAL
SEMINAR-SPATIAL DYNAMICS IN AGRI-FOOD SYSTEMS, 116.,
2010. Parma, Itália. Anais... Parma: EAAE, 2010. Disponível em: <http://
www.eaae.org/site2014/>. Acesso em: abr. 2013.
A Abordagem dos Sistemas Agroalimentares Localizados (Sial) 293
1
A Agricultura Familiar produz 38% do valor bruto da produção agrícola brasileira e
ocupa apenas 24,3% da área total dos estabelecimentos agropecuários, apesar de ser a
principal fornecedora dos alimentos básicos para a população brasileira.
300 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
2
Ver Neves (2007) e Buainain (2007).
Velhas e Novas Interrogações Sobre a Formação Tecnológica Para a Agricultura Familiar 301
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões deste texto, nem de longe são conclusivas, ao contrá-
rio, lançam mais interrogações do que caminhos, pois não partimos de um
modelo preconcebido e sim de premissas que apontam para a necessária
mudança da base epistêmica do ensino agrícola. Partimos do pressuposto
de que a AF necessita de um serviço de extensão rural de acordo com
a sua diversidade e especificidade. Assim, profissionais com outras bases
epistêmicas são imprescindíveis. Por outro lado, a formação para o modelo
modernizador é insustentável e não compatível com a produção de alimen-
tos saudáveis. AF no cenário brasileiro é a grande responsável pelos ali-
mentos da cesta básica, mesmo sem o compromisso político dos “centros
do saber”. Um serviço de extensão adequado, associado à políticas públicas
de qualidade poderiam alavancar ainda mais esse setor.
REFERÊNCIAS
BALEM, T. A.; SILVEIRA, P. R. Agroecologia: além de uma ciência, um
modo de vida e uma política pública. ENCONTRO DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO, 5. 2002, Florianópolis.
Anais... Florianópolis: Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção, 2002.
1 CD-ROM.
BALESTRO, M. V.; SAUER, S. (Orgs.). Agroecologia e os desafios da transição
ecológica. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
BRASIL. (Re)significação do ensino agrícola da rede federal de educação profis-
sional e tecnológica. Documento Final. Brasília: Brasil, 2009.
______. Lei 11.326 de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a for-
mulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos
Familiares. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,
25 de julho de 2006.
312 Ta t i a n a A p a r e c i d a B a l e m – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a
1
Para conhecer mais sobre o debate da superação dos mitos do rural, ver o documento
“O novo rural brasileiro: uma atualização”. Disponível em <http://www.sober.org.br/
palestra/2/823.pdf>.
Formação Profissional Para o Rural Contemporâneo 321
2
Atualmente a UERGS oferece 19 cursos de Graduação ativos, 14 cursos de Pós-Grad-
uação Lato sensu e encontra-se instalada em 24 municípios: Alegrete, Bagé, Bento
Gonçalves, Cachoeira do Sul, Caxias do Sul, Cruz Alta, Encantado, Erechim, Frederi-
co Westphalen, Guaíba, Litoral Norte – Osório, Montenegro, Novo Hamburgo, Porto
Alegre, Sananduva, Santa Cruz do Sul, Santana do Livramento, São Borja, São Francisco
de Paula, São Luiz Gonzaga, Soledade, Tapes, Três Passos, Vacaria. Está vinculada à
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia.
Formação Profissional Para o Rural Contemporâneo 325
3
As Ciências Agrárias compõem uma área multidisciplinar de estudos envolvendo campos
como Agronomia, Agroecologia, Engenharia Florestal, Engenharia de Pesca, Medicina
Veterinária, Zootecnia, Ciências de Alimentos, Engenharia de Aquicultura entre outros
cursos pensados para a realidade rural e que visam à busca do aprimoramento técnico, o
aumento produtivo, qualidade de vida, melhorias no manejo e preservação dos recursos
naturais.
4
Uma boa discussão acerca das diferenças e propósitos que cercam os conceitos de
Desenvolvimento Rural e Desenvolvimento Agrícola pode ser encontrada no artigo
“Desenvolvimento rural no Brasil: os limites do passado e os caminhos do futuro”,
de Zander Navarro. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
40142001000300009&script=sci_arttext>.
Formação Profissional Para o Rural Contemporâneo 327
ção. Ressalta ainda que estas constituem demandas dinâmicas, ou seja, não
estanques no tempo e por essa razão os cursos tecnológicos precisam ser
constantemente revistos, o que justificaria também sua curta duração.
Sob este prisma os CSTs em Ciências Agrárias da Uergs foram pen-
sados a partir da necessidade de profissionais específicos, o que fica com-
provado nos cursos idealizados com focos bem delimitados, com exceção
do CST em Sistemas de Produção, que mais tarde, foi reformulado e teve
o nome trocado para Agropecuária Integrada. Como os nomes sugerem,
fomentavam a integração campo e lavoura, tendo como pilar o agroecossis-
tema e não apenas a tecnologia.
Os cursos em sua conjuntura ideológica apresentavam conflito com
a política de desenvolvimento que deu origem à Universidade, voltada à
formação de profissionais multidisciplinares. Ao contrário desta perspectiva,
a educação profissional tecnológica investia na formação de profissionais
específicos, e isso em um cenário rural marcado cada vez mais pela multi-
funcionalidade.
Vale lembrar que nesta ocasião, a Uergs possuía uma Reitoria Pró-
-tempore, sem reitor eleito direta e democraticamente, mas sim com cargos
de confiança vinculados aos então governos de Estado. Esta situação tirava
a autonomia da Universidade de pensar e exercer sua própria política de
desenvolvimento regional, fazendo da instituição parte executora de polí-
ticas de governo.
Nesse período observa-se no Brasil uma expansão significativa na
oferta de cursos tecnológicos pelas Instituições de Ensino Superior, que pas-
saram a criar cursos com nomes, grades e cargas horárias bastante diversas.
Isso levou o Ministério da Educação (MEC) a elaborar em 2006 a primeira
versão do Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia, delimitando
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível
Tecnológico. Dentre uma série de delimitações, está a diretriz de utilização
das denominações, das cargas horárias e da infraestrutura preestabelecidas
pelo catálogo nos cursos superiores de Tecnologia oferecidos pelas Institui-
ções de Ensino Superior.
330 G i s e l e M a r t i n s G u i m a r ã e s – B e n j a m i n D i a s O s o r i o F i l h o – A n d r é a M i r a n d a Te i x e i r a
5
O curso de Agropecuária: Sistemas de Produção passou a ser denominado Agropecuária
Integrada, o curso de Agropecuária: Fruticultura, passou a ser Fruticultura; o curso
de Agropecuária: Horticultura passou a Horticultura e o curso de Agropecuária:
Agroindústria com todas as suas ênfases foi transformado em Agroindústria. Apenas o
curso de Agropecuária: Silvicultura não foi reformulado, sendo extinto na Universidade.
Formação Profissional Para o Rural Contemporâneo 331
pelos egressos para sua colocação no mercado de trabalho com suas profis-
sões não tradicionais maculavam a imagem da instituição, contribuindo para
a diminuição pela procura por vagas.
Diante de um quadro de crise institucional (poucos alunos e lacunas
no quadro docente), a Universidade sentiu a necessidade de repensar o
perfil de seus cursos nas diferentes regiões. Os professores da Uergs, na
maioria doutores, por terem na sua base profissional formação em Bacha-
relado ou Licenciatura, relatavam dificuldades em atuar na docência em
cursos de tempo reduzido.
Após as reformulações, ainda estavam presentes nos cursos supe-
riores de Tecnologia algumas características diferenciais, pois alguns dos
professores da Uergs que participaram da construção destas novas propostas
insistiam no papel inovador desta Universidade, bem como sua importância
no desenvolvimento regional. As grades curriculares avançavam em direção
às necessidades de um rural contemporâneo, quando comparadas às grades
de cursos tradicionais (incluindo componentes como Gestão das Relações
Humanas, Desenvolvimento Sustentável, Uso e Conservação dos Recursos
Naturais, Ética e Cidadania, etc.), no entanto, a curta duração dos cursos
mostrava-se insuficiente para uma formação mais ampla, rebaixando muitas
vezes a qualidade da formação profissional.
Somada a estas questões, a necessidade de desenvolver pesquisa
e extensão criava uma dinâmica acadêmica distinta dos pressupostos dos
projetos político-pedagógicos dos cursos tecnológicos, que preconizavam
formação rápida, envolvendo os alunos em atividades de pesquisa, e assim,
aumentando o tempo necessário para a formação profissional. O interes-
se dos discentes pela pesquisa científica fez com que muitos tecnólogos
egressos, mesmo diante de algumas dificuldades, como o preconceito com a
profissão, ingressassem em programas de Pós-Graduação. Tanto que atual-
mente há dezenas de tecnólogos egressos da Uergs com títulos de mestres
e doutores.
Vale ressaltar que os cursos de Tecnologia da Uergs diferenciavam-se
dos cursos de Tecnologia da maioria das Instituições de Ensino Superior,
que consistem em Graduações realmente curtas, podendo chegar à reduzida
integralização em quatro semestres. Ao contrário, o aluno que ingressava na
332 G i s e l e M a r t i n s G u i m a r ã e s – B e n j a m i n D i a s O s o r i o F i l h o – A n d r é a M i r a n d a Te i x e i r a
6
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul.
7
Instituto Rio Grandense do Arroz.
8
Algumas Universidades, como Universidade Federal de Pelotas (UFPel),
Universidade do Pampa (Unipampa), e a própria Uergs, vêm incluindo os tecnólogos
em seus editais de seleção docente.
Formação Profissional Para o Rural Contemporâneo 333
9
O Bacharelado em Ciência e Tecnologia de Alimentos veio para substituir o
CST em Agroindústria e o Bacharelado em Gestão Ambiental para substituir o CST
homônimo.
Formação Profissional Para o Rural Contemporâneo 335
difusa hoje apresentada pelo novo rural, isso graças a uma formação mais
sistêmica (e menos específica) proposta pela Universidade. Estes profissio-
nais, mesmo enfrentando dificuldades de reconhecimento no mercado de
trabalho, veem conseguindo colocação em espaços alternativos às instâncias
governamentais, como empresas privadas, cooperativas, sindicatos e movi-
mentos sociais, porém é urgente uma participação mais ativa do Estado nas
instâncias de decisão e ação (para além do neoliberalismo que preconiza
isenção do Estado nestas questões), o que não vem acontecendo no Rio
Grande do Sul.
A Universidade Estadual do Rio Grande do Sul encontra-se num
momento de reencontro com os propósitos idealizados em sua criação, pri-
mando pelo diálogo com a sociedade, o que faz com que a instituição possa
estar atenta às demandas regionais e a partir destas constituir-se como agente
de desenvolvimento sustentável. Muitos são os desafios a serem superados,
sobretudo no que se refere à formação em Ciências Agrárias, foco de análise
neste texto, no entanto o retorno aos cursos de Bacharelado a partir da moder-
nização de seus propósitos vem oferecendo mais otimismo e credibilidade à
instituição, com significativas procuras pelos cursos atualmente oferecidos,
o que leva a Uergs a estar mais próxima do compasso almejado desde sua
criação, entre o profissional formado e o mercado de trabalho
Ainda há muito caminho a ser trilhado, na busca por uma formação
profissional mais apropriada às novas ruralidades. Neste, os docentes preci-
sarão de formação continuada, no sentindo de dominar o entendimento da
visão sistêmica, deixando de lado a simplificação da agricultura que o forte
apelo dos pacotes tecnológicos da revolução verde proporciona. Além disso,
o pensar da formação profissional contemporânea deve atravessar os muros da
Universidade e promover diálogos com a sociedade civil e instâncias governa-
mentais, para que os novos profissionais, em suas mais diferentes formações,
sejam absorvidos e valorizados no intuito da ação para o rural contemporâneo.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, R. Funções e medidas da ruralidade no desenvolvimento contem-
porâneo. Rio de Janeiro: Ipea, 2000. (Texto para Discussão nº 702).
Formação Profissional Para o Rural Contemporâneo 339
1
Na perspectiva dos gestores públicos a preparação está associada ao saber acadêmico e
não se considera a capacidade metodológica de relacionar as práticas pedagógicas com
a realidade vivida pelos educandos. As diferenças são subsumidas na escola tradicional,
sendo o tratamento igual aos desiguais a forma de preservar as desigualdades.
Da Escola no Campo à Escola do Campo 343
2
Originada na França, a Pedagogia da Alternância baseia-se no princípio de
que os educandos não devem se afastar do contexto de produção vivenciado por suas
famílias e que os conteúdos abordados na escola devem ser relacionados efetivamente
com as práticas dos agricultores; nesse sentido, a formação dos educandos deve alternar
o tempo escola (aulas com os professores formadores em espaço escolar) e o tempo
comunidade (o educando volta para sua família ou comunidade e busca aplicar os
conhecimentos adquiridos, bem como refletir sobre os problemas enfrentados no
cotidiano e que passam a ser objeto de abordagem no tempo escola).
344 A n a C e c í l i a G u e d e s – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a – V i l s o n F l o r e s d o s S a n t o s
3
Porque antes, nos anos 60, Paulo Freire ao inovar metodologicamente faz a crítica a esta
educação.
348 A n a C e c í l i a G u e d e s – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a – V i l s o n F l o r e s d o s S a n t o s
4
A subalternidade é definida por Martins (1989) como uma condição que
envolve a exploração econômica, a dominação política e a exclusão cultural.
Da Escola no Campo à Escola do Campo 349
5
No processo de construção de uma educação do campo, os educadores do MST
tomam como princípio a Pedagogia do Movimento “por ter o sem-terra como sujeito
educativo e ter o MST como sujeito da intencionalidade pedagógica sobre esta tarefa de
fazer educação. E é também do movimento, porque se desafia a perceber o movimento
do Movimento, a transformar-se transformando” (Caldart, 2011, p. 98).
352 A n a C e c í l i a G u e d e s – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a – V i l s o n F l o r e s d o s S a n t o s
6
Trata-se do trabalho elaborado por Ana Cecília Guedes, intitulado “A Educação do
Campo na Perspectiva do Desenvolvimento Rural: Um estudo de caso de duas escolas
rurais da Região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul”, CPGER-UFSM, 2015.
Da Escola no Campo à Escola do Campo 359
7
O regime de ciclos adotado pela escola organiza-se da seguinte maneira: 1° ciclo: 1° ano
(1° ano), 2° ano (2° ano), 3° ano (3° ano); 2° ciclo: 1° ano (4° ano), 2° ano (5° ano), 3 ano°
(6° ano); 3° ciclo: 1° ano (7° ano), 2° ano (8° ano), 3° ano (9° ano), utilizando do regime
de progressão quando necessário. Este ciclo de formação foi organizado baseado nos
estudos de fases de formação que são refenciados em estudos de Piaget, Vigotski e
Wallon.
8
Os temas geradores têm origem no pensamento freiriano da década de 50, o qual propõe
um estudo da realidade, o que se dá por meio da “fala” do educando e sua família e
a escola propõe-se a organizar os dados, surgindo assim os temas geradores, extraídos
então da prática de vida do educando e sua família.
360 A n a C e c í l i a G u e d e s – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a – V i l s o n F l o r e s d o s S a n t o s
9
A Educação Infantil teve suas atividades cessadas em 2009.
10
O 1º Ciclo de Formação – infância de 6 a 8 anos de idade com o primeiro contato
com a escola, o grupo de colegas, os educadores onde inicia-se o processo de ampliação
da socialização. Neste momento a alfabetização e o letramento exigem prática
pedagógica centrada no lúdico; o 2º Ciclo de Formação – segunda infância situada entre os
9 e 11 anos de idade, ocorre a consolidação das relações estabelecidas na primeira fase e
inicia-se a fase das operações concretas, da aquisição intelectual e da introspecção, das
dúvidas, das perguntas e de um certo grau de reflexão; 3º Ciclo de Formação – entre os
12 e 14 anos de idade. Esta fase conhecida como fase de transição entre adolescência e
jovem, em que seus processos de pensamento assemelham-se aos dos adultos, é a fase
da abstração e da construção de hipóteses (Rio Grande do Sul, 2013, p.15).
11
H aguete (1985, p. 142): “a idéia de participação envolve a presença ativa dos
pesquisadores e de certa população em um projeto comum de investigação que é ao
mesmo tempo um processo educativo, produzido dentro da ação”.
362 A n a C e c í l i a G u e d e s – Pa u l o R o b e r t o C a r d o s o d a S i l v e i r a – V i l s o n F l o r e s d o s S a n t o s
tampouco na realidade separada dos homens. Só pode ser compreendido nas relações
homens-mundo. Investigar o tema gerador é investigar, repitamos, o pensar dos homens
referido à realidade, é investigar o seu atuar sobre a realidade que é sua práxis(...)”
(Freire, 1987, p. 98).
E ntre os educandos, na Escola Espírito Santo, 62,5% afirmaram que têm
13
REFERÊNCIAS
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XIV Endipe, POA, 29 de abril de 2008.
Da Escola no Campo à Escola do Campo 365
Pedro de Hegedus
Félix Antonio Fúster Rebellato
Pablo Areosa
METODOLOGIA
El trabajo que se presenta se realizó en el marco de un estudio regio-
nal del BID, efectuado en el segundo semestre del 2013, comparando la
situación de los SATER en un conjunto de países especialmente seleccio-
nados. La primera parte de este estudio regional refiere a la situación de los
países (constituye este trabajo).
El objetivo general del trabajo es analizar los Sater de Uruguay, con
énfasis en las dimensiones de pertinencia, efectividad y sostenibilidad. El
abordaje tiene una base metodológica relacionada al paradigma cualitativo
(en función del tiempo y los recursos disponibles). Se efectuó un análisis
descriptivo y exploratorio, con generalizaciones de tipo analítico, recono-
ciendo que el carácter de los datos, y las limitaciones existentes, hacen
que el tratamiento de la información muchas veces sea más ilustrativo que
estadísticamente riguroso.
El trabajo está caracterizado como una entrevista semiestructurada
a informantes calificados de los principales Sater. La información fue reco-
lectada entre julio y agosto del 2013. Se realizó un taller de presentación
de avances (24 de setiembre de 2013) el cual generó sugerencias que se
370 Pe d r o d e H e g e d u s – F é l i x A n t o n i o F ú s t e r R e b e l l a t o – Pa b l o A r e o s a
RESULTADOS Y DISCUSIÓN
La población objetivo
En este apartado se ofrece información relacionada con la población
objetivo de las acciones de los Sater. Este aspecto es también importante ya
que uno de los problemas que existían en la década del 90 era la débil defi-
nición de quienes constituían la población objetivo (desde el punto de vista
conceptual y cuantitativo). Se declaraba “trabajar con todos, chicos, media-
nos y grandes” y en definitiva se terminaba interactuando con algunos, los
que se acercaban “a la oficina”.
Con rigor en la definición conceptual y en la cuantificación de los
productores familiares se destaca la DGDR del MGAP. Es de conocimien-
to general la definición que el MGAP maneja al respecto y es de destacar
la actualización reciente (2014) en los criterios establecidos, flexibilizando
las definiciones para reflejar mejor la realidad actual. El resto de los Sater
tiende a ubicar al público objetivo como ‘la empresa familiar”, utilizando
una concepción más flexible, y vinculándola a los objetivos específicos de la
organización. Por ejemplo, Digegra señala que trabaja “con la empresa fami-
liar granjera, no de subsistencia”. El IPA trabaja con la “empresa familiar
ganadera, de diferente escala”. Puede plantearse como hipótesis un primer
nivel de atención integral de la producción familiar en la DGDR, y luego
un segundo nivel de atención técnica específica, a cargo de Digegra e IPA,
para las situaciones relativamente más dinámicas de inserción.
Además de la categoría producción familiar, hay otras menciones que
también son objeto de atención según los entrevistados. Cabe señalar a los
asalariados rurales (DGDR, INC, Udelar/Sceam). Se destaca el trabajo del
Sceam (Udelar), en base al Centro de formación localizado en Bella Unión,
y el Convenio de trabajo con asalariados rurales que se implementa en
acuerdo con la DGDR y la Udelar. Gracias a esta dinámica, puede afirmarse
374 Pe d r o d e H e g e d u s – F é l i x A n t o n i o F ú s t e r R e b e l l a t o – Pa b l o A r e o s a
Dimensión de pertinencia
La dimensión de pertinencia intenta responder el grado en que los
Sater y sus acciones son relevantes para los productores y responden a sus
necesidades. Un aspecto central a estudiar es el de la participación de la
población objetivo. La participación de los beneficiarios puede implicar
tres niveles: (a) aportando información, (b) en la toma de decisiones, y (c)
gestión y co-gestión en el manejo de los recursos.
En los Sater privados, son los productores los que controlan las orga-
nizaciones, toman las decisiones y realizan la gestión de los recursos. Se
puede esperar que exista correspondencia entre los problemas que se per-
ciben y las actividades que se ejecutan. En los Sater pertenecientes a la
institucionalidad pública la participación tiene dos formas: i) a través de
1
Información proporcionada por el Ing. Agr. Dr. M. Carambula. Facultad de
Agronomía, Departamento de Ciencias Sociales. Coordinador Convenio de trabajo con
asalariados rurales (MGAP/ Udelar).
Los Servicios de Asistencia Tecnica y Extension Rural (Sater) en Uruguay 375
Dimensión de Efectividad
La dimensión de efectividad intenta responder en qué medida las
acciones logran tener los efectos buscados en la población objetivo. En
este aspecto es importante considerar: las líneas de acción y los efectos
generados; los vínculos que los Sater realizan con otros actores; el enfoque
metodológico de trabajo, y el uso de sistemas de seguimiento y evaluación.
Metodología de trabajo
De acuerdo al número de personas que participan se clasifican los
métodos como: i) masivos (impresos, radio, TV, WEB, email, mensajes texto
en celular), que son aquellos que permiten trasmitir rápidamente informa-
ción a amplios sectores en forma eficiente, y ii) interpersonales, que son los
que permiten por la interacción que se genera entre los participantes, capa-
citar y educar (grupos, talleres, giras, predios demostrativos, visitas al predio,
programas informáticos interactivos). La metodologia de trabajo se relaciona
con los paradigmas y enfoques que se emplean en las intervenciones.
En el 2005 se realizó una importante investigación de los Sater en el
Mercosur, con foco en la década del 90, a cargo de Ricardo Thornton (2006),
importante investigador y experto en comunicación del Inta (R. Argentina).
Los resultados indicaban que convivían en el Mercosur enfoques de inter-
vención amparados en el paradigma difusionista, que presentaban sus difi-
cultades en proyectos vinculados a la sustentabilidad, y enfoques basados
en el paradigma educativo, en donde se constataba que el tiempo que los
proyectos tienen no contemplaba las necesidades requeridas. Esta situación
sigue vigente.
Los Servicios de Asistencia Tecnica y Extension Rural (Sater) en Uruguay 381
2
En la década del 90 se desarrolló el proyecto de cordero pesado (16 kg)
mediante una excelente articulación entre investigación, industria, mercados y servicios
de asistencia técnica/extensión. Los actores claves fueron SUL, Central Lanera, y
Frigorífico San Jacinto. Hoy genera exportaciones por decenas de millones de dólares.
382 Pe d r o d e H e g e d u s – F é l i x A n t o n i o F ú s t e r R e b e l l a t o – Pa b l o A r e o s a
En el caso del INC, tiene una tradición ‘bancaria’ que llevaba a una
atención individualizada, en donde el vínculo con el colono es el pago de la
renta. No obstante, desde el 2005 va operando un cambio de modelo, ya que
la visión clásica de parcela individual aislada, con limitaciones de tamaño y
financieras, y uso de tecnología tradicional no es viable.
La utilización en el país de las TICs es clasificada en general como
incipiente para los entrevistados con excepción del IPA. En el caso de la
producción familiar la alfabetización digital y la no existencia de problemas
de conectividad son condiciones previas. Todos entienden que debería ser
mayor su empleo por diferentes razones: i) porque puede llegar a regiones
alejadas en donde otras posibilidades no existen, ii) porque los productores
familiares no pueden ausentarse de sus predios, iii) porque ahorra tiempo y
recursos (tanto a los Sater como a los destinatarios), y iv) porque permitiría
mejorar la relación entre entidades y socios.
Las opiniones indican que el celular es un medio de mucha utili-
zación en las áreas rurales por todos los actores, y que permite trasmitir
rápidamente mensajes de texto breves, por ejemplo alertas o invitaciones
a reuniones. El correo electrónico, para quienes tienen conectividad, cons-
tituye un medio de creciente aceptación, y se ubica en segundo lugar. El
acceso a internet se relaciona en Uruguay con el nivel educativo y econó-
mico del productor (esto es válido también para la radio y TV). Y cada vez
más se hace en forma diaria (igual para la radio y TV). Las percepciones de
los entrevistados tienden a ubican como importante el porcentaje de acceso
a internet por parte de los productores.
Seguimiento y evaluación
La cultura de seguimiento y evaluación (SyE) incide en la efectivi-
dad de los Sater. De una ausencia en el siglo pasado se ha ganado conciencia
en torno a la importancia de incorporar en la actualidad estos mecanismos.
El peligro latente es considerar que cuanto más sofisticados son estos dispo-
sitivos mejor es. Es justamente al revés. Lo más adecuado es emplear pocos
indicadores y mecanismos de seguimiento participativos, para evitar caer en
la trampa de que el SyE se convierta en un fin en sí mismo.
Los Servicios de Asistencia Tecnica y Extension Rural (Sater) en Uruguay 383
Dimensión de sostenibilidad
La dimensión de sostenibilidad analiza los factores que aseguran la
continuidad de los Sater en el futuro. En este sentido cabe considerar el
financiamiento y la estabilidad laboral de los técnicos.
Financiamiento
Las fuentes básicas de financiamiento de los Sater en el país son las
siguientes: i) asignaciones presupuestales por parte del Gobierno central,
ii) fondos parafiscales o impuestos (ej., Fondo de la granja para Digegra) iii)
recursos de financiamiento externo de proyectos, (ej., proyectos con BID,
Banco Mundial), iv) donaciones (ej., Fondo de adaptación del protocolo de
Kyoto) y v) financiamiento directo a cargo de los productores (ej., Fucrea).
La fuente de financiamiento externo debe ser el componente de
mayor peso en el total de recursos invertidos para los Sater en el país. Al
respecto, el Programa de desarrollo rural productivo con el Banco Interame-
ricano de Desarrollo contribuye con 33,3 millones de dólares, y el Programa
de manejo de cambio climático con el Banco Mundial tiene un monto de
32,2 millones de dólares (solo para el componente relacionado con DGDR).
En la medida que el país continúe utilizando esta vía de financiamiento, es
384 Pe d r o d e H e g e d u s – F é l i x A n t o n i o F ú s t e r R e b e l l a t o – Pa b l o A r e o s a
PROYECTANDO EL FUTURO
De acuerdo al contexto y a las dinámicas observadas, se proyecta una
situación de futuro con dos escenarios. Un escenario representante de un sistema
público de Sater compuesto básicamente por el MGAP (Digegra, DGDR)
y el IPA, coordinando con el Inia/Udelar y el resto de la institucionalidad
agraria, y trabajando con la producción familiar y empresarial. Algunas líneas
de trabajo en este escenario incluyen: i) el impulso a los planes de negocio
y estrategias de comercialización e inserción en cadenas de valor, ii) la pro-
moción de la calidad e inocuidad de los productos exportables, y iii) la con-
servación de los recursos naturales (ej., planes de uso y manejo del suelo)
y la mitigación de los impactos ambientales de los procesos productivos
(ej., plan regional de manejo de plagas en frutales racionalizando el uso de
productos fitosanitarios).
En este escenario se visualiza a la DGDR trabajando con la pro-
ducción familiar y otros sectores de la población rural con exclusión socio-
económica, y en las regiones y comunidades más alejadas, a los efectos
386 Pe d r o d e H e g e d u s – F é l i x A n t o n i o F ú s t e r R e b e l l a t o – Pa b l o A r e o s a
CONCLUSIONES
1. La gran lección aprendida es que el Estado no se puede retirar de la
gestión del cambio técnico integral. El sector público tiene un papel
importante que cumplir en la generación de conocimiento confiable y
transparente, pero también en la utilización del mismo. El mercado por
sí solo no asegura que se desarrollen los Sater; rápidamente emergen las
“fallas” en las áreas social y ambiental.
388 Pe d r o d e H e g e d u s – F é l i x A n t o n i o F ú s t e r R e b e l l a t o – Pa b l o A r e o s a
REFERENCIAS
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EPÍLOGO
O Rural no Século 21
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2
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Wanderley, M. N. B. O mundo rural como um espaço de vida: reflexões sobre a propriedade
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Epílogo 395
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396 Sílvia Aparecida Zimmermann – Gisele Martins Guimarães – Tatiana Aparecida Balem – Paulo Roberto Cardoso da Silveira
Cátia Grisa
Engenheira agrônoma (UFPel). Mestre em Desenvolvimento Rural
(UFRGS). Doutora em Ciências Sociais (UFRRJ). Pós-Doutora no Progra-
ma de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (UFRGS). Professora-
-adjunta da UFRGS. catiagrisa@yahoo.com.br
Emiliano Guedes
Formado em Ciências Veterinárias (Udelar Uruguai). Mestrando em
Educação e Extensão Rural (Udelar Uruguai). Assessor em Promoção e
Gestão do Desenvolvimento Territorial (Ministério de Ganadería, Agricul-
tura y Pesca, Uruguai). emilianoguedes@gmail.com
398
Ezequiel Redin
Tecnólogo em Agropecuária: Sistemas de Produção (Uergs). Bacharel
em Administração (Ulbra). Licenciatura Plena para a Educação Profissional
(UFSM). Especialista em Gestão Pública Municipal (UFSM). Especialis-
ta em Tecnologias de Informação e Comunicação Aplicadas à Educação
(UFSM). Mestre e Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Exten-
são Rural (UFSM). ezequielredin@gmail.com
Gabriel Picos
Licenciado em Psicologia (Udelar-Uruguai). Mestre em Ciências
Agrárias opção Ciências Sociais (Udelar-Uruguai). Professor-adjunto do
Serviço Central de Extensão. gpicos.uy@gmail.com
Humberto Tommasino
Formado em Medicina e Tecnologia Veterinária (Udelar-Uruguai).
Mestre em Extensão Rural (UFSM). Doutor em Desenvolvimento e Meio
Ambiente (UFPR). Professor-adjunto Faculdade de Veterinária (Udelar-
-Uruguai). htommasino@gmail.com
Sobre os Autores 399
Ivaldo Gehlen
Bacharel em Ciências Sociais (PUC-RS). Especialista em Educação
de Adultos e Desenvolvimento Rural Integral (Centro Regional de Educação
de Adultos, México). Mestre em Sociologia (UFRGS). Doutor em Sociologia
(Université de Paris X). Professor Associado I da UFRGS. Ivaldo@ufrgs.br
Pedro de Hegedus
Graduado em Agronomia (Udelar-Uruguai). Mestre e doutor em
Extensão Agrícola (Iowa State University of Science and Technology).
Professor agregado da Udelar-Uruguai. Assessor técnico da Direção Geral
do Ministerio de Ganadería Agricultura Y Pesca. phegedus@adinet.com.uy