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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

Introdução à LIBRAS: Língua Brasileira de Sinais

Discentes: Ana Clara MenezesPetersen e Irleidiane de Jesus Santos

Docente: Anderson Rafael Siqueira Nascimento

A NECESSIDADE DA IMPLANTAÇÃO DE LIBRAS COMO COMPONENTE


CURRICULAR OBRIGATÓRIO EM CURSOS DE SAÚDE PARA FORMAÇÃO
DE PROFISSIONAIS MAIS HUMANIZADOS

Santo Antônio de Jesus - BA

2017
ANA CLARA MENEZES PETERSEN E IRLEIDIANE DE JESUS SANTOS

A NECESSIDADE DA IMPLANTAÇÃO DE LIBRAS COMO COMPONENTE


CURRICULAR OBRIGATÓRIO EM CURSOS DE SAÚDE PARA FORMAÇÃO
DE PROFISSIONAIS MAIS HUMANIZADOS

Artigo, de cunho avaliativo, feito


para o componente curricular
Introdução à LIBRAS: Língua
Brasileira de Sinais, sob a
orientação do docente Anderson
Rafael Siqueira Nascimento

Santo Antônio de Jesus - BA

2017
A NECESSIDADE DA IMPLANTAÇÃO DE LIBRAS COMO COMPONENTE
CURRICULAR OBRIGATÓRIO EM CURSOS DE SAÚDE PARA FORMAÇÃO
DE PROFISSIONAIS MAIS HUMANIZADOS

Ana Clara Menezes Petersen¹ e Irleidiane de Jesus Santos²

1 Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em


Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia

2 Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em


Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia

RESUMO: A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é utilizada pela comunidade surda


brasileira como primeira forma de comunicação. Apesar de existirem leis que garantem
a inclusão dos surdos na sociedade atual, ainda encontram-se dificuldades no diálogo
entre eles e os ouvintes. São muitos os desafios para que ocorra uma efetiva
comunicação entre o profissional de saúde ouvinte e o paciente surdo, o que faz com
que a eficácia no atendimento e serviço prestado seja prejudicada. Assim, este estudo
teve como objetivo questionar discentes de cursos de saúde pertencentes a uma
universidade pública sobre o conhecimento deles acerca da LIBRAS e a sua importância
para a formação de um profissional mais humanizado, além debuscar relatos de surdos
na literatura que comprovem a necessidade do ensino da língua de sinais aos
profissionais de saúde. Notou-se que é de grande relevância para os graduandos a
implementação de LIBRAS, ainda na formação desse profissional de nível superior,
como componente curricular obrigatório, não abordando apenas a prática da língua de
sinais, como também sua trajetória como língua, seus aspectos sociais e políticos, as
terminologias corretas a serem usadas, entre outros. Concluímos que esta
implementação é importante, porque além de facilitar a comunicação com indivíduos
surdos, contribui para a formação mais humanizada do futuro profissional de saúde, o
que faz enxergar o outro além de um corpo a ser estudado ou curado.

Palavras chaves: LIBRAS; profissional de saúde; surdo; comunicação.


O SURDO, SUA LÍNGUA E A DIFICULDADE DE COMUNICAÇÃO DA
SOCIEDADE OUVINTISTA

A linguagem é a expressão do pensamento humano, segundo Rousseau (1978), e


ela pode se desenvolver através de gestos ou da articulação de diferentes sons. Ele ainda
afirma que a língua surge da necessidade de comunicação que aumenta conforme a
expansão do convívio social.

A partir disso, podemos inferir que, como todas as línguas foram formadas a
partir da necessidade dos indivíduos de se comunicar, as línguas orais evoluíram porque
os indivíduos de determinada sociedade oralizavam e precisavam se entender entre si,
assim como as línguas de sinais são a forma de entendimento entre as comunidades
surdas do mundo.

Gesser (2009) relata em seu livro que apesar da língua de sinais não ser
universal, ou seja, ser a mesma em todo o mundo, pode-se afirmar que é universal a
necessidade que os indivíduos tem de se comunicar, por isso a língua de sinais nasceu
como uma forma natural de se comunicar de um grupo cultural do povo surdo.A Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS) é utilizada pela comunidade surda brasileira como
primeira forma de comunicação.

A partir da lei número 10.436, sancionada em 24 de Abril de 2002, tem-se o


reconhecimento da LIBRAS como uma língua com estrutura própria e uma forma de
inclusão dos indivíduos surdos na sociedade:

Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua


Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a
forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza
visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema
lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de
pessoas surdas do Brasil.
Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o
uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de
comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do
Brasil.
Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços
públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento
adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas
legais em vigor.
Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais,
municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de
formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus
níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras,
como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs,
conforme legislação vigente.

Apesar de existirem tais leis que garantem a inclusão dos surdos na sociedade
atual, ainda encontram-se dificuldades no diálogo entre eles e os ouvintes. Isso acontece
pela dificuldade que a sociedade ouvinte tem de aceitar e estudar a língua de sinais e,
por isso, muitas vezes, nos deparamos com situações em que culpabilizamos e
marginalizamos o surdo por uma limitação nossa. Esse preconceito está enraizado
socialmente, muito devido à antiga proibição do uso da língua de sinais no Brasil.

Até o século XV, os surdos eram considerados como ineducáveis, até que teve
início a educação dos surdos, tendo como berço a França. Em 1857, no Brasil Império, a
língua de sinais foi trazida para ser implementada uma educação surda no território
brasileiro. Apesar das inúmeras proibições relacionadas ao uso da língua de sinais no
Brasil, em 2002, a LIBRAS foi finalmente reconhecida como uma língua oficial
brasileira. (MONTEIRO, 2006). Segundo Gesser (2009): “Cada língua de sinais tem
suas influências e raízes históricas a partir de línguas de sinais específicas. [...] Tanto a
língua americana de sinais (americansignlanguage - ASL), quando a língua brasileira de
sinais (LIBRAS) tem suas origens na língua francesa de sinais.”.

O surdo, historicamente, não se reconhece como deficiente e quando os surdos


discutem a surdez, usam termos relacionados com sua língua, passado e comunidade,
relatam Padden e Humphries (1988 apud GESSER, 2009, p. 46).A partir desse ponto de
vista, Lane (2008 apud BISOL; SPERB, 2010, p. 8) diz o seguinte:

[...] ser Surdo (com “S” maiúsculo) é reconhecer-se por meio de uma
identidade compartilhada por pessoas que utilizam língua de sinais e não
vêem a si mesmas como sendo marcadas por uma perda, mas como
“membros de uma minoria linguística e cultural com normas, atitudes e
valores distintos e uma constituição física distinta.

Quando se fala no âmbito da saúde, é comum histórias de profissionais que


atenderam indivíduos surdos e não conseguiram uma comunicação eficaz, visto que não
entendiam LIBRAS. A comunicação é a ferramenta essencial para a eficiência no
serviço prestado e pode afetar diretamente a sua qualidade. Segundo Novaes (2007, p.
3):

[...]levando em consideração as especificidades linguísticas da Língua


materna dos surdos brasileiros – Libras, língua oriunda da comunidade surda,
é correto afirmar que a falta de profissionais de saúde habilitados, bem como
a ausência de tradutores-intérpretes no atendimento do usuário surdo, afetará
consideravelmente a comunicação e, por conseguinte, o serviço de saúde
prestado.

Nessa questão, a dificuldade de interação entre a pessoa surda e o profissional


ouvinte pode vir a comprometer a saúde dessa pessoa e, por isso, usualmente utiliza-se
intérpretes ou um familiar que saiba a língua.São muitos os desafios para que ocorra uma
efetiva comunicação entre o profissional de saúde e o paciente surdo, o que faz com que a
eficácia no atendimento e serviço prestado seja prejudicado. Nessa situação, os profissionais
utilizam-se de todas as formas alternativas que conseguem identificar, além da verbalização,
como o toque por parte dos profissionais, a leitura das expressões faciais e corporais, afirma
Cardoso et al (2006). Essa maneira como é/não é feita a comunicação entre o usuário do
serviço de saúde e o profissional que o está atendendo pode impactar num futuro
diagnóstico ou tratamento do paciente. No entanto, o que mais se perde na incapacidade
de comunicação direta entre as partes é o vínculo e a totalidade das informações
passadas.Relatos das pessoas surdas sobre as causas que podem tornar inadequada a
comunicação com os profissionais de saúde e também suas propostas para melhorar essa
comunicação são analisados por Costa e col. (2009, p. 2):

“Que todos os que vão lidar com o público, estejam preparados para lidar
com esse público, seja ele qual for. A pessoa com deficiência ou não; o mais
pobre, o mais rico. Estarem preparados para lidar com esta pessoa e respeitar
a diferença quando encontrar uma pessoa diferente deles, no caso – isso é
muito importante. Respeitar, entender, ter uma postura ética– eu acho isso
muito importante” (entrevistada)

Dessa forma, é necessário que o profissional esteja preparado para atender a todo
o público de maneira adequada, inclusive o indivíduo surdo.

Além disso, os profissionais tendem a enxergar o surdo como um deficiente,


doente, fruto de uma formação hospitalocêntrica, e isso pode impactar na maneira de
tratar esses indivíduos.Sobre a questão das diferentes visões sobre a surdez Bisol e
Sperb (2010) retratam que dois discursos podem ser constantemente percebidos acerca
da surdez: o da perspectiva clínico-terapêutica (baseado na noção de deficiência) e a
concepção socioantropológica (baseada na noção de diferença). Bisol e Sperb (2010)
ainda relatam que a visão clínico-terapêutica é pautada num conceito de doença, em que
a surdez é vista como uma limitação para o desenvolvimento da pessoa. Em
contrapartida, a visão socioantropológica tem a ver com o estudo dos conceitos de
identidade, cultura, poder e linguagem e surgiu a partir das lutas pelos direitos civis das
“minorias”, as quais, assim como os surdos, tinham algum tipo de diferença cultural em
relação à ordem vigente.

Seguindo a linha de raciocínio da perspectiva socioantropológica, temos o


processo de humanização do futuro profissional que está sendo implantado em novos
cursos da área da saúde, como o Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da UFRB.
Nesse ponto, Souza afirma que humanizar é o processo que busca oferecer ao paciente
um tratamento que leva em conta a totalidade do indivíduo (1985 apud BAZON et al,
2004, p 91).

O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar do Ministério


da Saúde (2001 apud COSTA, 2009, p 572) visa, dentre outras demandas, “[...]
humanizar a assistência hospitalar pública prestada aos pacientes, assim como aprimorar
as relações existentes entre usuários e profissionais, com vistas a melhorar a qualidade e
a eficácia dos serviços prestados.”. Esse programa afirma que:

A humanização é entendida como valor, na medida em que resgata o respeito


à vida humana. Abrange circunstâncias sociais, éticas, educacionais e
psíquicas presentes em todo relacionamento humano. Esse valor é definido
em função de seu caráter complementar aos aspectos técnico-científicos que
privilegiam a objetividade, a generalidade, a causalidade e a especialização
do saber. (BRASIL, 2001, p. 52)

Dessa forma, busca-se observar a necessidade do ensino de LIBRAS a todos os


profissionais de saúde para que esses possam interagir com o paciente surdo,
equilibrando a visão clínica, inerente à área de atuação, com a visão socioantropológica,
que vê o sujeito a partir de sua diferença ou especificidade cultural. Também é
importante compreender a importância para os graduandos da implementação de
LIBRAS, ainda na formação desse profissional de nível superior, como componente
curricular obrigatório, não abordando apenas a prática da língua de sinais, como
também sua trajetória como língua, seus aspectos sociais e políticos, as terminologias
corretas a serem usadas, entre outros.

Isso é importante porque além de facilitar a comunicação com indivíduos surdos,


contribui para a formação mais humanizada do futuro profissional da saúde, o que o faz
enxergar o outro além de um corpo a ser estudado ou curado. Dessa forma, pretendemos
investigar a necessidade do aprendizado de LIBRAS por estudantes de cursos superiores
de saúde para a formação de um sujeito humanizado e como fator de inclusão da
comunidade surda. Para tanto, questionamos discentes dos cursos de saúde da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), com seu Centro de Ciências de
Saúde (CCS) localizado na cidade de Santo Antônio de Jesus – BA, sobre o
conhecimento deles acerca da Língua Brasileira de Sinais e a necessidade de aprendê-la,
além de buscarmos relatos de surdos na literatura que comprovem a necessidade do
ensino de LIBRAS aos profissionais de saúde.

PERSPECTIVAS NO ATENDIMENTOÀS PESSOAS SURDAS EM SERVIÇOS


DE SAÚDE

Bentes, Vidal e Maia (2011) fizeram uma pesquisa sobre a dificuldade de


atendimento aos surdos nos serviços de saúde e a maior parte dos surdos entrevistados
relatou que precisam levar um acompanhante para mediar a comunicação com os
trabalhadores do serviço. Outros deixam até de ir ao serviço por falta de um
acompanhante. Isso poderia ser evitado se os trabalhadores dos serviços de saúde
fossem capacitados para atender à comunidade surda, garantindo a efetiva comunicação
e prestação de cuidados às pessoas surdas, assim como demanda a Lei nº 10.436, de 24
de Abril de 2002. Porém, ainda é bastante relatado pelos surdos na literatura que,
quando se encaminham para um espaço de saúde, ninguém sabe LIBRAS e, portanto,
ninguém os entende, dificultando assim a criação de vínculos com essa comunidade.
(BENTES; VIDAL; MAIA, 2011).

É percebido, inclusive pelos próprios profissionais da saúde que existe um


impasse no atendimento à comunidade surda e esse impasse poderia ser resolvido se
todos esses profissionais soubessem a língua de sinais. Um dos entrevistados num artigo
de Chaveiro et al. (2010, p. 641) diz o seguinte:

‘A comunicação fica muito restrita, vai depender só do que o paciente


consegue oralizar, ler nos lábios e alguns gestos muito rudimentares. Seria
muito interessante que os profissionais da saúde tivessem maior
conhecimento da LS, dessa forma teria maior integração, teria a inclusão que
todo mundo busca. (S1)’

É relatado ainda pelos profissionais de saúde que eles precisam conhecer mais a
pessoa surda e o ideal seria que não houvesse intérpretes, mas não há um curso de
LIBRAS para eles, sendo que esse seria essencial. (CHAVEIRO et al., 2010). Essa
limitação dos profissionais poderia diminuir se, em cursos de saúde fosse implementado
o ensino de LIBRAS como componente curricular obrigatório, assim como o é na
formação de professores, segundo o capítulo II do Decreto nº 5.626, de 22 de Dezembro
de 2005:
Art. 3º A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos
cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível
médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino,
públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 1º Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o
curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia
e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de
professores e profissionais da educação para o exercício do magistério.
§ 2º A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais
cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da
publicação deste Decreto.

Tais explanações deixam evidente que não são os surdos que precisam saber
oralizar ou ler lábio para um acolhimento bem feito nos locais de saúde, mas sim a
sociedade que precisa adaptar-se às necessidades desse grupo, para assim, incluí-lo no
cuidado em saúde. (CHAVEIRO; ALVES BARBOSA, 2005, p. 420). Fica perceptível a
necessidade dos surdos serem compreendidos pelos profissionais de saúde na seguinte
fala de uma paciente surda:

‘Tive apendicite (...). Meu esposo também é surdo, (...). No primeiro hospital
que fui deram-me remédio e falaram que podia voltar para casa que não era
nada sério. A dor só aumentava, procuramos outro hospital, não conseguiram
nos entender, aplicaram uma injeção (...). Já não suportava de tanta dor, foi
quando chegou em casa nossos amigos, um casal de surdos, eles tinham
carro, fomos buscar uma sobrinha minha, ouvinte, para ir junto ao hospital,
só assim recebi atendimento. Fui operada, o apêndice supurou. Fiquei
internada 9 dias, ninguém pôde ficar comigo, estava sozinha, os profissionais
do hospital não sabiam conversar comigo, passei mal, chorei, tudo sozinha.
(S3)’ (CHAVEIRO; ALVES BARBOSA, 2005, p. 421).

Dessa forma, é possível notar, pela bibliografia encontrada, que a assistência que
prestada ao indivíduo surdo hoje ainda é muito precária, mesmo ele tendo seus direitos
garantidos por lei. Isso se deve, em muito, a uma falta de capacitação dos recursos
humanos que hoje trabalham nos espaços de saúde do SUS. Por isso, é de suma
importância a implantação da disciplina de LIBRAS como componente curricular
obrigatório em cursos de saúde, para que o cuidado com as pessoas surdas seja
completo.

LIBRAS COMO COMPONENTE CURRICULAR OBRIGATÓRIO: POR QUÊ?

A pesquisa realizada na UFRB – CCS nos levou a resultados interessantes,


alguns dos quais serão comentados e discutidos. A partir dos cursos oferecidos no
Centro de Ciências da Saúde em questão, aderiram ao questionário 101 discentes dos
quais 63,4% cursava Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, 20,8% Psicologia, 8,9%
Medicina, 4% Nutrição e 3% Enfermagem.
O Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da UFRB propõe uma formação geral
em cultura humanística, artística e científica articulada a saberes concernentes ao campo
da saúde, tendo em vista o desenvolvimento de competência política, ética e
humanística, permitindo ao bacharel escolhas profissionais maduras, conscientes e
sensíveis à realidade social e possibilitando que os egressos cursem uma das opções de
formação profissionalizante (UFRB, 2014).

Cerca de 92% dos discentes que responderam ao questionário declararam ter


nenhum ou pouco conhecimento de LIBRAS, sendo que 95% dos graduandos
questionados consideraram o aprendizado de LIBRAS muito importante para a
formação dos profissionais de saúde.

A seguir, no gráfico 1, é demonstrado o percentual de possíveis reações dos


discentes ao se depararem com uma situação profissional futura que fosse necessário
dialogar em LIBRAS:

Gráfico 1. Reação dos discentes da UFRB - CCS ao se


deparar com uma situação futura em que fosse
necessário utilizar a LIBRAS, em Santo Antônio de
Jesus - BA, no período de Agosto de 2017

13,90% Tentaria se utilizar de


mímicas
28,70%
Pediria por um intérprete

Falaria mais alto e


28,70% pausadamente
Utilizaria a LIBRAS (se
souber)
26,70% Chamaria pelo
acompanhante/familiar
2%

A maioria das pessoas optou por chamar um intérprete ou chamar pelo


acompanhante/familiar do paciente. Isso demonstra a falta de uma formação em
LIBRAS para que o profissional possa dialogar diretamente com seu paciente surdo, em
detrimento de ter uma mediação feita por terceiros, o que pode interferir no seu
diagnóstico e, consequentemente, o tratamento do indivíduo. Além disso, nota-se que
algumas pessoas que já tem certo conhecimento da língua de sinais, se utilizariam da
LIBRAS para comunicação com o paciente. No entanto, pudemos perceber que 13,90%
das pessoas que realizaram o questionário tentariam se utilizar de mímicas. Essa visão é
dotada de preconceitos, já que a mímica quer fazer com que a pessoa “veja” e imagine o
objeto e o sinal é feito para que a pessoa veja e identifique o “símbolo” convencionado
para aquele objeto. (GESSER, 2009).

O gráfico 2 apresenta o percentual da opinião dos discentes inqueridos em


relação à contribuição da inclusão de LIBRAS como componente curricular obrigatório
em cursos de saúde para a formação de um profissional mais humanizado.

Gráfico 2. Opinião do discentes da UFRB - CCS sobre se a


inclusão de LIBRAS como componente curricular
obrigatório em cursos de saúde contribui para um
profissional mais humanizado, em Santo Antônio de Jesus
- BA, no período de Agosto de 2017

2%
8,90% Sim

Não

Talvez

89,10%

A partir desse gráfico, é perceptível a importância da inclusão do curso de


LIBRAS como componente curricular obrigatório a formação de um profissional mais
humanizado, sendo isto o considerado pela maioria desses discentes.

Porrozi e Sousa (2009) afirmam que a oferta do componente curricular como


eletivo não tem atraído a atenção dos alunos que, compreensivelmente, sem
informações profundas sobre sua relevância, preocupam-se apenas com as disciplinas
obrigatórias para a conclusão de seus respectivos cursos, e esta inclusão de LIBRAS
como componente curricular obrigatório em todos os cursos da área de saúde, seria uma
solução a médio e longo prazo, permitindo uma assistência mais humanizada.

Além disso, através de estudos, Chaveiro et al. (2008, p. 581) afirmam que a
população surda que usa linguagem gestual é linguisticamente e culturalmente um
grupo minoritário, porém a maior parte dos cursos na área de saúde singulariza a surdez
como uma condição patológica, não considerando a população surda como um grupo
cultural dessa minoria.

O gráfico 3 demonstra o percentual das denominações utilizada pelos discentes


para se referirem a quem utiliza a LIBRAS como primeira língua:

Gráfico 3. Denominação utilizada pelos discentes da UFRB


- CCS para se referir a quem utiliza a LIBRAS como
primeira língua, em Santo Antônio de Jesus - BA, no
período de Agosto de 2017
1% 2%

34,70% Surdo
35,60%
Surdo-Mudo
Deficiente auditivo
Mudinho
26,70%
Outra

De acordo com isso, a maioria das pessoas respondeu que utiliza a terminologia
deficiente auditivo (35, 6%) e, em segundo lugar, surdo (34,7%). Porém 26,7% utilizam
o termo surdo-mudo, o que exprime que há uma falta de conhecimento em relação à
cultura surda e as denominações corretas a serem utilizadas.

As terminologias surdo-mudo ou mudo, são termos caracterizados a partir de


ideias preconceituosas, negativas, com a finalidade de depreciar o indivíduo surdo. O
termo deficiente auditivo traz mais uma concepção de doença, patologização, por isso
não deve ser o empregado para aqueles que utilizam a língua de sinais. Sendo assim, o
termo adequado para se dirigir à comunidade surda é “surdo”, sendo mais valorizado e
representativo se for com letra “S” em maiúsculo. (CARDOSO, 2016).

É importante que os profissionais de saúde respeitem e reconheçam a identidade


e cultura surda, para que possam assimilar como se referir a cada indivíduo surdo ao
qual irá prestar serviço, compreendendo a diferença entre os termos corretos a serem
utilizados.

No gráfico 4 abaixo foram analisadas as expressões ou palavras que para os


estudantes mais representavam a humanização:

Das palavras ou expressões utilizadas no gráfico, foram consideradas mais


relevantes para a humanização o acolhimento (90,1%), o respeito (89,1%) e a empatia
(89,1%).

Essas três palavras resumem muito bem a formação acadêmica humanizada que
vem sendo proposta nos últimos anos, como no curso de Bacharelado Interdisciplinar
em Saúde. O acolhimento está “[...] baseado no estabelecimento de relações solidárias e
de confiança entre os profissionais e as pessoas que procuram os serviços, para resolver
seu problema de saúde, tornando-se aspecto importante para que ocorra o vínculo,
contribuindo para a resolubilidade do problema.” (TEDESCO; JUNGE, 2013, p. 1686).
O “respeito”, segundo Santos e Souza (2000) está diretamente relacionado com atitudes
ena consideração de que essas atitudes, por sua vez, relacionam-se estreitamente ao
modo como interpretamos e definimos as diferenças, e qual a representação que
fazemos delas. Já empatia é a “[...] habilidade de se colocar no lugar das pessoas, para
que uma pessoa possa visualizar e sentir na mesma perspectiva as experiências
vivenciadas por outra(s) — atitude fundamental para o bem-estar físico e mental de
ambas.” (TEREZAM; REIS-QUEIROZ; HOGA, 2017, p.697).

Esses três elementos, se combinados com a interdisciplinaridade e a


responsabilidade social podem gerar um atendimento eficiente e humanizado para os
indivíduos surdos. Além disso, os profissionais da saúde que tem uma formação
equilibrada entre as visões sócioantropológica e clínico-terapêutica tendem a crescer
profissionalmente, já que aprendem a lidar com desafios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dado o exposto, fica explícito que, segundo os relatos encontrados na


bibliografia e a pesquisa realizada, há necessidade da implantação de um componente
curricular obrigatório com o ensino de LIBRAS em cursos de saúde. O acolhimento dos
indivíduos surdos depende, em muito, desse ensino da língua de sinais ainda no período
de formação, visto que precisa de ferramentas adequadas de comunicação e postura
ética adequada. Os profissionais a serem formados após essa mudança terão em mãos o
mecanismo necessário para uma escuta qualificada do sujeito, além, é claro, de
compreender sua cultura e história, o que muito provavelmente irá contribuir para a
formação de um profissional mais humanizado.
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