Na visão clássica, havia uma imagem sublime e ideal do ser humano, tido
como dono e senhor de si mesmo e centro do universo. Sob esse viés, tendo
em mente que a liberdade tornara igual todos os homens quantitativa e
qualitativamente, a explicação para o desenvolvimento do comportamento
criminoso parecia, aos estudiosos, extremamente misteriosa e enigmática, na
qual o delinquente, embora pudesse respeitar as leis, tinha optado pelo mal.
Uma crítica cabível sobre esses quatro paradigmas consiste no fato que
qualquer estereótipo de delinquência se faz errôneo, tendo em vista a realidade
complexa e plural a qual está submetida o indivíduo. O comportamento
delinquente não resulta exclusivamente nem da liberdade existencial sem
condicionamentos, nem de meras respostas a fatores circunstanciais. O
criminoso, de acordo com o postulado da normalidade, é um homem como
qualquer outro, que acata as leis ou as descumpre.
Dos primórdios da civilização até o fim da Idade Média, temos a “idade de ouro”
da vítima, no qual era adotado o processo penal inquisitivo. A vítima, nesse
caso era protagonista do processo, cabendo a ela a vingança privada. No
entanto, eram extremamente brutais e desproporcionais as penas aplicadas
aos infratores, chegando muitas vezes à morte ou á tortura. Com o fim da
autotutela proporcionada pelo Estado Social de Direito, o protagonismo da
vítima foi neutralizado, uma vez que as diretrizes criminais não poderiam ser
influenciadas por paixão e emotividade das vítimas, cabendo ao Estado o
processo acusatório do delito com o objetivo de alcançar uma aplicação
serena, objetiva e institucionalizada das lei, o que caracteriza a segunda fase,
na qual o papel da vítima foi praticamente reduzido ao auxilio testemunhal. A
terceira fase teve início logo após a 2º Guerra Mundial, momento em que o
mundo via horrorizado as atrocidades cometidas por Hitler aos judeus. Nesta
fase, portanto, surge a Vitimologia, que neste momento estava encarregada de
realizar a referida redescoberta, pois passou a estudar qual o motivo do
esquecimento do sistema penal em relação à vítima.