Anda di halaman 1dari 140

1

LINKS URBANOS
da escala metropolitana à escala local
trabalho final de graduação
maria claudia levy figliolino
orientador: abílio guerra
dez.2013
2
Propõe-se a percorrer
diferentes células do
organismo vivo que é a
cidade, costurando-as
de modo sutil e discreto.
Direcionando-as para um
crescimento, que mesmo
que incontrolável, seja
consciente e includente.
Linkando-as, suavemente,
admitindo suas diferenças
e resultando na passagem
de uma à outra de maneira
leve, sem bruscas rupturas.
Sempre constante.

Da infraestrutura
metropolitana à escala
local, das decisões políticas
da macrometrópole ao
cotidiano do indivíduo.
Procura-se tratar com
abrangência dos opostos,
3
de modo a conectá-los, e
fazer com que trabalhem
juntos, e se multipliquem
com a tamanha
imprevisibilidade a que lhes
é inerente.

trabalho final de graduação


maria claudia levy figliolino
orientador: abílio guerra
dez.2013
4

PLANTA DA CIDADE DE SAO PAULO_COMPANHIA CANTAREIRA E


ESGOTOS 1881
5

PLANTA DA CAPITAL DO ESTADO_JULES MARTIN 1890


6

PLANTA DA CIDADE DE SAO PAULO_GOMES CARDIM 1897


7

SARA BRAZIL_1930
8
“Habitar uma cidade é ser dela cidadão”
[Jorge Wilheim]

foto aérea. fonte: bingmaps 2013


10
Montagem de notícias de jornal sobre a favela do moinho
deste ano de 2012. O início do trabalho se pautou no desgosto
frente ao território desigual observado em São Paulo. 11
12
sumário
Introdução 14

1_Gestão pública: resgate do bairro 20


Recentes dinâmicas de estruturação urbana 22
Resgate do bairro 30
O Plano de Bairro em São Paulo 38
Organização administrativa da cidade 42

2_Terrain vague: obsolescência e oportunidade 58


Porque o bairro central 62 13
Barra Funda de Baixo 64
Terreno, começo de uma pesquisa 70
Novos protagonistas urbanos 80

3 _Projeto urbanístico e arquitetônico 84


1_Urbano 88
2_Terreno 92
3_Casa de cultura e cidadania 104

foto nelson kon / tratamento maria claudia levy


os links são patterns urbanos
introdução básicos, portanto, nós de
grande densidade que servem
para costurar os tecidos
urbanos limítrofes e reforçar
fluxos em distintos níveis,
cruzamentos que introduzem
14 uma nova seção urbana,
suturam descontinuidades
e reforçam linhas de
transporte; são enfim,
essencialmente desenvolvidos
no sentido transversal, sobre
múltiplos níveis e estratos.
[MONTANER, Josep Maria. Sistemas Arquitetônicos Contemporâneos. 1a edição,
Barcelona, Gustavo Gili, 2008.p.127]
François Ascher em seu livro Novos Princípios do Urbanismo [1] nos alerta da
necessidade do urbanismo acompanhar uma nova sociedade que está emergindo.
Uma nova sociedade exige um novo urbanismo, como já dizia Le Corbusier ao utilizar
o termo L’Esprit Noveau – o novo urbanismo no qual acreditava em sua época.
A sociedade moderna, que cunhou o termo urbanismo, concebeu a cidade da maneira
que vivemos hoje. Grande aglomerado de pessoas, abastecidas por sistemas e redes
de infraestruturas elétricas, hídricas, pluviais, de transporte, etc.
Hoje, segundo Ascher, estamos vivendo a terceira grande revolução da sociedade
desde a revolução da cidade clássica. As sociedades estão em mutação e vivem uma
evolução profunda da maneira como pensam, agem, se relacionam socialmente,
economicamente e politicamente. A gestão do território é fruto dessas condutas e
não pode ser deixada de lado enquanto reflexão critica e constante da cidade.
Vivemos um momento mais do que nunca da errância. Não apenas a própria cidade se
conforma como um grande labirinto, que sempre foi, mas o mundo, agora encontra-
se conectado como um corpo único em que as informações fluem velozmente.
O movimento nos está intrínseco. A sensação de pertencimento é cada vez mais
árdua, uma vez que as opções são demasiadas. Não englobam apenas meu bairro,
minha cidade, mas o globo. O que ver, ler, escutar, a escolha se torna mais complexa,
e a sistematização o maior desafio.
Essa afirmação não é de forma alguma negativa. Marta Bogéa em seu livro Cidade
Errante explica a natureza do movimento da cidade e do homem e nos atenta, de uma 15
certa maneira, à mesma sociedade em mutação que Ascher fala. O movimento agora
nos é inerente, mas precisamos conseguir jogar com ele, isso significa reformular
nossas concepções de cidade, arquitetura, política, cidadania e cultura.
Se a vida constitui-se de encontros, e a cidade nasce juntamente como
objeto agregador desses encontros, não caberia aos arquiteto, enquanto
grupo que trabalha com a configuração de espaços, desenhar aquilo
que, para que o imprevisto possa ocorrer, é preciso ser previsto? [2]
Queremos construir uma cidade não apenas da informação, mas do conhecimento.
A cidade da informação já nos é inerente. E para isso precisaremos de educação
e formação. Precisaremos de uma politica pública, que seja inteligente, sólida,
1. ASCHER, François. Os novos sistematizada, e nos ajude a construir junto com esse momento de agenciamento em
princípios do urbanismo. São Paulo, rede, que está cada vez mais estabelecido.
Romano Guerra, Coleção RG bolso,
volume 4. 2010 Que cidade será essa que vamos construir?
2. BOGÉA, Marta. Cidade errante. Em diversos momentos na história da literatura, desde a modernidade, acompanhamos
Arquitetura em movimento. 1ª edição.
São Paulo, Senac São Paulo, 2009. o retrato do ser urbano: protegido ou perdido, excluído ou incluído meio à multidão,
p. 200 mas sempre só. Este, tratado por Baudelaire, Allan Poe, Victor Hugo, Walter Benjamin,
3. SIMMEL, Georg. As grandes
mais futuramente por Debord, entre outros. Seria talvez a mesma personagem a
cidades e a vida do espírito [1903]. que Georg Simmel [3] nomearia como o típico habitante da grande cidade: aquele de
Rio de Janeiro, Mana, v. 11, n. 2, out. caráter blasé.
2005. p. 581
Marcado pela indiferença o blasé é obrigado a anular seus sentimentos e não
exteriorizar de fato aquilo que lhe está no interior. “O espírito moderno tornou-se mais
e mais contábil” segundo as palavras do autor. Ou seja, sob a lógica de determinações
numéricas e quantitativas, econômicas e temporal: levado pelo pulsar do relógio,
pontual, sem muito espaço para o desvio, exteriorização dos sentidos e subjetivação.
Mediante a mera intensificação quantitativa das mesmas condições,
esse resultado se inverte em seu contrário, nesse fenômeno peculiar
de adaptação que é o caráter blasé, em que os nervos descobrem a sua
Contant Nieuwenhuys, “Nova
derradeira possibilidade de se acomodar aos conteúdos e à forma da Babilônia”
vida na cidade grande renunciando a reagir a ela – a autoconservação
de certas naturezas, sob o preço de desvalorizar todo o mundo objetivo,
o que, no final das contas degrada irremediavelmente a própria
personalidade em um sentimento de igual depreciação. [4]
A insatisfação perante à cidade que desenha o habitante indiferente, depreciador
da realidade. É natural daquele que consiga se desviar das objetivações e ritmos
altamente pontuados, conseguir se sensibilizar. “Para poder criar a sua vida, precisa
Cena do filme Asas do Desejo, Wim
criar esse mundo”[5] como dizia Constant ao justificar a Nova Babilônia, onde propõe Wenders.
um projeto urbano utópico baseado no ambiente imaginário e no jogo recreativo, em
que os cidadãos são participantes ativos da construção da cidade; essa por sua vez, Ao lado: sem título_Laura Vinci.
Ampulheta, intervenção Moinho
uma cidade móvel para uma população nômade. Central Arte Cidade 1997. Foto Nelson
Kon
Ao pensar um cenário para esse novo urbanismo que ainda se apresenta como uma
16
incógnita, não parece ruim almejar a Nova Babilônia, que por mais utópica que tenha
sido em sua época, se mostra mais do que nunca atual.
O contemplativo não nos satisfaz mais. Queremos voz ativa, precisamos participar.
Arquitetos e urbanistas, partindo do pressuposto de que a cidade é viva, acreditam
que cabe a nós decidirmos e encaminharmos o destino das cidades. Uma cidade
sem desigualdade, habitada, que produza o que precisa consumir, seja sustentável,
consciente, que abrace, tenha espaço para intervenção, mudanças, que permita e
seja permitida.
Enquanto um organismo vivo, tem-se na sua menor célula – o homem – o princípio
da mudança. Um cidadão ativo, vivo, colaborador e ator das ações da grande máquina
urbana, que caminha com muitos pés e corações.
4. Idem. Ibidem. p. 582
Compreendendo a crise perante as diferentes escalas da metrópole, propõe-se
5. Nieuwenhuys, Constant. “Nova
navegar na escala urbana, a fim de alcançar a escala humana, buscando o momento Babilônia”. In: CARERI, Francesco.
em que uma se conecta com a outra. Os vazios urbanos [6] são tratados de modo a Walkscapes. O caminhar como
representarem grandes parcelas de possibilidade, espaços intersticiais passíveis de prática estética. 1ª Edição, Barcelona,
Gustavo Gili, 2013
ação, e indispensáveis para essa nova estruturação de cidade pós era industrial.
6. Entendidos como grandes terrenos
Iremos analisar num primeiro momento as dinâmicas de estruturação urbana, e suas residuais meio ao tecido urbano
mudanças no século XX, frente ao advento do automóvel, e mais tarde à chegada das construido, frutos da presença da
indústria nas cidades.Ver: SOLÀ-
novas tecnologias. Para depois compreender como funcionam as divisões político- MORALES, Ignasi. Terrain Vague.
administrativas do território e tentar entender qual a voz ativa do cidadão frente a Cambridge, MIT Press, 1995
17
tal modelo. Compara-se São Paulo com a cidade de Paris. Procurando se afirmar a Abaixo fotos tiradas a partir do
Viaduto Orlando Murgel, no centro
importância do bairro como forte unidade de estruturação da cidade e célula básica da cidade de São Paulo. De um lado
para o planejamento. Escala de atuação aprazível, onde estabelecem-se os vínculos a Favela do Moinho, do outro terreno
com ruinas de um antigo depósito
afetivos, de pertencimento e simbólicos nas relações humanas com a metrópole. tomadas por vegetação selvagem.
Fotos autora
Agradeço enormemente Abílio Guerra, por me proporcionar a experiência de um ano
em Paris. Sem a qual, não teria sido possível realizar o presente trabalho. Enquanto
cidadã e estudante na França, pude viver e conviver na escala do bairro. Dinâmica que
me despertou e me instigou o olhar perante certos aspectos da vida cotidiana, jamais
observados na metrópole paulistana.
Num segundo momento realiza-se a análise e justificativa do terreno escolhido como
objeto projetual. Pretende-se contar de forma resumida a história oficial desse local,
apresentando um panorama da região e seus moradores, indicando o que foi tomado
como referência de projeto. Além disso foram entrevistados diferentes moradores
dos dois lados da estrada de ferro, compreendidos no bairro da Barra Funda de Baixo.
De modo que dessem seu depoimento sobre sua relação com o lugar onde moram e
sua percepção das transformações vividas na região.
No terceiro capítulo se destrincha o processo projetual que se desenvolveu ao longo
deste ano. Processo que se dividiu em trés momentos distintos, abrangendo, cada um,
uma escala diferente de atuação. Partindo de uma diretriz urbana para os grandes
terrenos lindeiros à linha férrea até o desenho do objeto arquitetônico aqui proposto:
uma transposição à linha do trem e um centro de bairro, equipamento gerido pela
18
subprefeitura da sé.
A este trabalho agradeço o professor Jorge Wilheim pela pesquisa extensa e
principalmente por seu olhar perante a cidade e o território, que me abriu para
diversas questões cruciais que alimentaram a pesquisa. Agradeço sua humildade e
sua disponibilidade ao me receber em seu escritório e conversar sobre meu projeto
com muita atenção e dedicação.
Sua consulta foi imprescindível também devido sua participação no plano diretor
Abaixo imagem dos meandros do de 2002, razão pela qual me adentrei no Plano de Bairro, uma de suas premissas.
canal do Pinheiros. Fonte: FRANCO,
Fernando de Mello. A construção Política muito pouco discutida, que apresenta bibliografia escassa, em que encontrei
do caminho: a estruturação da muita dificuldade em me aprofundar.
metrópole através da conformação
técnica da Bacia de São Paulo. Tese A pesquisa contou com a estimada colaboração da Secretaria de Desenvolvimento
de doutorado. São Paulo, FAU USP.
2005. E estrada de ferro na entrada Urbano, a SP Urbanismo e a Prefeitura de São Paulo, a que agradeço pela
da Favela do Moinho, Campos Elíseos, experiência do estágio este ano, que me proporcionou uma leitura muito mais clara
São Paulo. Foto autora.
da organização político-administrativa da cidade e das dificuldades de lidar com
a extensão do território paulistano. Além de todos os conselhos de meus colegas,
mapas e informações que agregaram muito à pesquisa.
Agradeço à professora Andrea Tourinho por toda a contribuição intelectual referente
à cidade e aos bairros, preservação e simbologia, além de toda a paciência e carinho.
Ao amigo, mas também professor, Marcus Vinicius Damon pelas conversas, auxílios e
trocas mútuas que só enriqueceram, e que continuarão a acrescentar nosso trabalho
enquanto arquitetos, artistas, designers, fotógrafos e músicos.
Dedico o trabalho à Abílio Guerra a quem devo minha formação enquanto tutor,
professor, chefe e amigo.
Mônica Nogami Gaultier, tia querida que contribuiu enormemente para minha
experiência, formação pessoal e profissional.
Adriano Bechara, Mateus Humberto e Francesco Restuccia pelas discussões que
sempre subvertem meus pensamentos. 19
Nina Dalla, Gabriela Cherubini, Júlia Reis e Ju Machado por todo apoio, atenção,
dedicação e amizade.
À minha família: Anna Isabel, Juliano, Alexandre pai e filho, Cristina, Cecília, Luiza,
Gabriela, Laura, Olívia, Renata e todos que estão no meu dia-a-dia.
Para minha mãe.
20
1.
gestão pública: resgate do bairro
21
As sociedades ocidentais estão em mutação,

Recentes dinâmicas de estruturação


urbana
entrando em uma nova fase da modernidade,
que assiste à evolução profunda das
maneiras de pensar e agir, da ciência e da
técnica, das relações sociais, da economia,
das desigualdades sociais e das formas de
democracia. Essas mutações implicam e tornam
necessárias transformações importantes na
concepção, produção e gestão de cidades e
do território; elas engendram uma revolução
urbana moderna, terceira desde a revolução da
cidade clássica e da cidade industrial. [1]
Série: Espetáculo do crescimento,
Segundo Flávio Villaça a dinâmica de uma metrópole pode ser 2013. Foto Tuca Vieira tirada na
ocasião da X Bienal de arquitetura de
entendida ao se analisar o espaço intra-urbano compreendido São Paulo.
em sua estrutura territorial. Ou seja, assumindo que os
elementos diversos de uma cidade interagem entre si, Pâgina anterior: foto da passarela
desenhando o movimento comum às metrópoles – brasileiras, existenteque conecta o distrito de
no caso de seu livro –, sendo estes estruturais [territoriais] ou Santa Cecília à Barra Funda. Na rua
Capistrano de Abreu, centro de São
superestruturais [estrutura econômica, política e ideológica – Paulo. Foto autora.
não territoriais]. [2]
Em seu livro Espaço Intra-urbano, o autor se propôs a
compreender o ponto comum entre a forma de estruturação
das metrópoles brasileiras, alegando que da mesma maneira
22 que elas são de fato distintas, possuem uma série de
semelhanças – decorrentes de um mesmo país, formação
social, mesmo momento histórico, mesmo modo de produção
e sob mesmo Estado – que consequentemente desenham
uma similar estruturação do território urbano.
É importante compreender o território segundo a estruturação
desenhada por Flavio Villaça. Principalmente, entender o papel
do centro principal de São Paulo, definido como o coração da
cidade, com a capacidade de aglutinar funções, atrair distintas
classes sociais e faixas etárias. Nos limites de hoje, conhecido
como Centro velho e Centro novo [distintos do chamado centro
expandido, que compreende a Av. Paulista].
A lógica da cidade de São Paulo, segundo Flávio Villaça, até
os anos 1960 se pautava na dinâmica centro – subcentros,
movimento que conformava o tecido urbano e desenhava sua
expansão. Havia de um lado o Centro principal [Centro velho
+ Centro novo], caracterizado pela alta oferta de empregos,
comércio especializado e confluência de infraestruturas
de transportes, servindo a cidade toda; e de outro lado os 1.ASCHER, François. Os novos
subcentros, definidos como centralidades secundárias, que princípios do urbanismo. São Paulo,
Romano Guerra, Coleção RG bolso,
conformavam uma estrutura local, mas que ainda assim eram volume 4. 2010. p.17
complementados pela área central, a exemplo: Santo Amaro,
Penha, Santana, etc. 2. VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-
urbano no Brasil. Studio Nobel, São
Com a difusão do automóvel, e mais tarde do metrô e de Paulo, 1998.
área central principal
1>

2> bairros centrais

subcentros
3>

subcentros conectados com


4>
centro principal.
23
[lógica centro-subcentro]

nova centralidade
5>

6> novas centralidades

Diagrama de centralidades em São


Paulo segundo arquiteta Andrea
Tourinho. Elaboração MCLF para 7> malha de novas centralidades
palestra proferida pela autora sobreposta ao funcionamento da
no Simpósio: Áreas Centrais em lógica centro-subcentros
Metrópoles Latino-Americanas
realizado em Setembro de 2013
tecnologias de comunicação, foram criando-se novas centralidades, numa malha sobreposta a
antiga malha hierárquica de centro-subcentros [3]. Hoje, novos centros guardam uma relação
de competitividade acirrada com o Centro, formando uma lógica de ofertas alternativa, e quase
apagando a antiga malha de predominância. O que Villaça viria a chamar de fruto da cidade
tipicamente capitalista, àquela que se modela em função do mercado imobiliário, deslocando o
centro principal para outros pontos da cidade [Paulista e Faria Lima a exemplo de São Paulo].
Potencializando a segregação sócio espacial do território.
A década de 1960 marcou nova transformação na natureza e estrutura do centro
de São Paulo. O atual Centro novo foi também abandonado pelas camadas de
Walt Disney apresentando em 1960 the
alta renda, passando a orientar-se para as camadas populares. Surgiu um novo
Experimental Prototype of the City of
centro decadente, que se agregou ao antigo formando um único Centro velho. [4] Tomorrow [EPCOT]. Modelo de gated
community americana baseada no
A exemplo das novas centralidades promovidas pelo mercado temos os shopping centers e as automóvel.
gated communities, fruto do Leap Frog [5] [suburbanização] nos EUA, modelo importado por
nós a partir dos anos 1960.
O mercado imobiliário começou a deslocar o centro, o que provocou o processo de decadência
do centro principal. Segundo Flávio Villaça, esse esvaziamento que se deu em diferentes cidades
do Brasil, tem correlação direta com a difusão do automóvel. Comprova em sua tese que a
partir dos anos 1960, com o crescimento da indústria automobilística, tem-se o esvaziamento
e degradação dos importantes centros das metrópoles: a exemplo Salvador e Recife. Em São
Paulo o mercado começou a expandir e mudar de localização sentido sudoeste, começando
pela Av. Paulista, depois Faria Lima, hoje Berrini.
A maneira dos habitantes se relacionarem com sua cidade foi profundamente alterada. A partir
24 do momento que se tem novas ferramentas de transporte e de comunicação, a expressão: “O
ponto faz o negócio” já não se faz mais efetiva. O fator de localização estratégica deixa de ser Localização do Shopping Aricanduva
em São Paulo. Terreno de aproximada-
estruturante para a dinamização da malha urbana uma vez o negócio pode criar o ponto partir mente 1 milhão de metros quadrados.
de si.
Em muitos casos se tem a situação do comércio local sofrer competitividade com outros
centros. Sendo mais fácil o acesso a informação, preço e pluralidade de funções [lazer, cultura,
saúde, alimentação] num centro consolidado pelo mercado que pela centralidade local, que
muitas vezes se encontra desestruturada e desarticulada. Os shoppings são um grande
competidor nesse caso. [você sabia que o shopping Aricanduva possui o MC Donalds que mais
vende de São Paulo?]
Todavia, os novos instrumentos de transporte e de comunicação abrem novas
possibilidade de escolha em matéria de localização residencial, de atividades, e
3. TOURINHO, Andréa de Oliveira.
mudam a natureza do “local”: este não é herdado ou imposto, porém é resultado Do Centro aos centros: bases
das lógicas reflexivas, das decisões que são tão mais complexas quanto maiores teórico-conceituais para o estudo da
forem os meios de deslocamentos ou de telecomunicações disponíveis a centralidade em São Paulo. Tese de
Doutorado, Fau Usp 2004
indivíduos ou organizações. Isto não evita problemas de coesão social, pois estas
lógicas podem resultar em novas formas de segregação. [6] 4. VILLAÇA, Flávio. Op.Cit. p. 265

Assim como descreve Brissac: “Nos últimos anos, novos agentes e padrões de organização 5. Termo americano Leap Frog, para
do espaço urbano anunciam um outro ciclo de reestruturação. Megaprojetos internacionais subusrbanização. Ver: TOURINHO,
de redesenvolvimento vão reconfigurar regiões inteiras das cidades, baseados em Andréa de Oliveira. Op. Cit.
imensas estruturas arquitetônicas multifuncionais. Investimentos intensivos que exigem 6. ASCHER, François. Op. Cit. p.38
desregulamentação e subordinação da administração pública. Uma dinâmica que, devido a sua
escala, distingue-se por completo dos modos de ocupação e organização do espaço urbano até 7. BRISSAC, Nelson. Ver: < www.
então promovidos pelo Estado e pelos interesses imobiliários tradicionais.”[7] artecidade.or.br/novo/pesquisa/zl/zl>.
Acessado em 20 de Julho de 2013.
25

Legenda imagens: Shopping Interlar


Aricanduva, propaganda disponivel
via youtube. Acessado 1 novembro
2013.
Essa sobreposição de malhas de centralidade da cidade
[centro-subcentro e novas centralidades], segundo Andrea
Tourinho [8], começou a enfraquecer as dinâmicas locais dos
centros de bairro, sobretudo a partir das duas últimas décadas
do século XX devido às novas condições de localização do
capital na metrópole – que se traduz na dispersão dos pontos
de concentração do terciário pela cidade, sobretudo em suas
áreas centrais.
A lógica da vida de bairro deixou de ser dominante estruturante
da cidade. O que não significa que ela não exista. Ela existe e é
um importante ator nos bairros em que se registra. Tomemos
como exemplo o bairro do Bixiga.
O Bixiga possui um forte caráter de bairro. É só passear por
suas ruas íngremes em um fim de tarde para saber. Não é à
toa que nele se conformou a Associação Bela Vista, formada
por atores locais para discussão do futuro do bairro. O grupo
formado por diferentes instituições e grupos civis da região se
reúne semanalmente para discutir o Plano de Bairro [parte da
política dos Planos Regionais, política prevista no Plano Diretor
de 2002 e retomada pela atual gestão de Fernando Haddad]. O
que é um grande avanço para o bairro e muito importante para
manutenção das dinâmicas e para sua representatividade nas
ações do poder público.
26 Segundo o arquiteto e crítico Abílio Guerra, o Bixiga não é
esquecido, é escondido, o que lhe atribui seu maior tesouro.
Está na Bela Vista, no alto, entre Paulista e Consolação. Entre
grandes eixos e avenidas, elevados, portanto entre. Bairro
central: sim. Contudo desconhecido, protegido. Criou-se
numa ilha intocada. Com todas suas características de bairro
tradicional, permeada por sua arquitetura tombada, não
sofreu grandes alterações na paisagem: o que lhe garante
a identificação da população por sua paisagem urbana 8. TOURINHO, Andréa de Oliveira.
característica. Op.Cit.

Mas, no fundo, o que torço mesmo é para que a 9. GUERRA, Abilio. Grotão do Bixiga.
esqueçam por mais algum tempo – com sorte, Arquiteturismo, São Paulo, ano 06,
n. 064.01, Vitruvius, jun. 2012 <http://
algumas décadas –, que troquem a revitalização www.vitruvius.com.br/revistas/read/
artificial da área pela vitalidade arcaica que lhe arquiteturismo/ 06.064/4389>
dá o caráter. O isolamento tem como aliado a
10. GUERRA. Abílio. Op. Cit.
própria inexistência oficial do Bixiga, bairro
tradicionalíssimo desprezado pela divisão Ao lado, os diferentes núcleos de forte
administrativa da cidade, afinal não passa de identidade dos bairros centrais, que
uma denominação popular para uma parte podem ser entendidos como fruto
das grandes barreiras [trens e
do distrito da Bela Vista, sendo o grotão sua avenidas] que confluem na região
parte mais baixa, geograficamente. Passear central de São Paulo. Ao mesmo
por ali é se deparar com a memória da cidade tempo que os isolam, são quem os
delimitam e os escondem; tornando-
provinciana que São Paulo foi até anteontem. os individualmente peças singulares
[10] formadoras desse grande tecido que
é a área central. Elaboração: MCLF
27
Nos bairros centrais não é apenas o Bixiga que se encontra nessa situação. Ao
observarmos a malha central, ela se divide pelos grandes eixos: Leste - Oeste, Norte
- Sul, desde a ferrovia até as grandes avenidas advindas do plano de Prestes Maia.
E o que está entre esses importantes rasgos, fios condutores de grandes fluxos,
são bairros ilhados, retalhos na colcha da cidade, consequentemente excluídos e
protegidos: protegidos da especulação, da invasão, do turista; excluídos por que o
mercado imobiliário lhe virou as costas; conhecidos por sua história: muitas vezes
bairros operários, tradição no samba, na macarronada, no comércio local ou serviço
especializado, mas sempre com cara de bairro.
Reconhecemos o traço que caracteriza os bairros centrais: seja por suas edificações
tombadas, seja pelo pequeno comerciante de ofício, seja pelo comércio especializado
que se estruturou de tal maneira a estabelecer uma dinâmica local paralela à dinâmica
metropolitana de incansáveis fluxos, gerando uma vida intrínseca ao local, de forte
reconhecimento daqueles que lá habitam.

O “boom” econômico brasileiro


transformando a natureza do
morar. Barra Funda, São Paulo.
Foto Francesco Jodice, 2006. Fonte:
BURDETT, Ricky, SUDJIC, Deyan
[eds.]. Living in the endless city.
Londres, Phaidon. 2011

28

Casario no grotão da Bela Vista. Foto


Abílio Guerra.

Ao lado: Santa Cruz do Capibaribe,


PE. Foto Tuca Vieira. Série:
Espetáculo do crescimento, 2013. X
Bienal de arquitetura de São Paulo.
29
O bairro como unidade urbana

resgate ao bairro
Ao lado: samba na Barra Funda
Brasil está com a cidadania atrasada.[1] entre amigos em dia de sábado. Rua
Anhanguera, 2013. Foto autora.
Estamos aqui retomando uma dinâmica que já foi muito
presente na cidade de São Paulo: a vida de bairro,
movimento muito rico e estimulador, principalmente
nos bairros centrais aqui tratados.
A vida de bairros anteriormente operários, onde se
localizavam pequenas vilas, era marcada pela criançada
na rua, os mais velhos papeando na porta de casa,
mensagens que eram gritadas da janela, roupas sendo
lavadas no espaço comum à todos, e etc. Cenas que
compõem o imaginário de quem pensa nos bairros
como a Móoca, Bom Retiro, Bixiga há 50 anos atrás.
Os próprios clubes esportivos, muito comuns na cidade
de São Paulo – a exemplo Clube dos Ingleses, Clube
Helvétia, Esporte Clube Sírio, entre outros – se iniciaram
a partir dessa forte dinâmica de bairro, para encontro da
sociedade civil, discussões das questões locais, trocas
intelectuais, culturais, etc.
O bairro corresponde à dimensão de ter-
30 ritório ideal para a reinvindicação coletiva.
Em território maior, na região administra-
tiva, surgem conflitos de prioridade entre
um bairro e outro; em escala menor, na rua
domiciliar, as reinvindicações esgotam-se
rapidamente. [2]
Dizer que hoje a vida de bairro não existe mais em São
Paulo seria um exagero. Mas podemos dizer sim que ela
está em extinção.
Segundo o arquiteto Jan Gehl a atual vida cotidiana,
antigamente totalmente atrelada ao espaço público,
hoje se alterou. As tarefas vinculadas à rotina, antes 1. Jorge Wilheim em entrevista
realizadas na rua, como passar um recado, chamar o realizada pela autora. Junho 2013
vizinho, lavar a roupa, brincar, socializar, etc., foram 2. WILHEIM, Jorge. Projeto São Paulo:
perdendo seu espaço no âmbito público. Podendo hoje propostas e melhorias da vida urbana.
ser realizadas dentro de casa, fenômeno fruto das novas Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1982.
p. 64
tecnologias e intrínseco à dinâmica atual da sociedade.
[3] 3. Palestra proferida por Helle Søholt,
sócia fundadora do escritório Gehl
Atualmente o espaço público para ser atraente e Architects, na Prefeitura de São
Paulo em abril de 2013 na ocasião
congregar pessoas, precisa oferecer atividades da inauguração do projeto Centro
complementares à rotina. Trabalho este, que pauta a Diálogo Aberto, coordenado pela SP
Urbanismo.
31
ação do escritório Gehl Architects, especialistas em consultoria de governos, a que
Jan Gehl, importante arquiteto urbanista, com longa pesquisa na área e cunhador do
termo “Cidade para pessoas”, é fundador. [4]
Cidade como campo de negociação
São Paulo cresceu abruptamente nos anos 50, resultado da vinda de uma grande
massa de origem rural, que pouco sabia das tradições da vida urbana. A dinâmica
de inclusão dessa massa nas metrópoles marcou o processo de industrialização do
século XX.
Dubai. Foto Francesco Jodice, 2009.
Com a descentralização do processo industrial observada nas últimas décadas,
o desafio se coloca novamente: como reorganizar as cidades, como possibilitar o Ao lado: contraste entre construções
observada nos Campos Elíseos/Santa
desenvolvimento econômico em novas bases. Ceciília. Foto autora.

As dinâmicas da economia global têm provocado profundas alterações Próxima página: Largo da Concórdia.
na estrutura produtiva e na organização territorial do país, com a Foto Tuca Vieira.
emergência de novos pólos industriais e o redesenho da infraestrutura
logística, sobretudo ferroviária e portuária. Com isso altera-se o papel
estratégico da metrópole: ela deixa de sediar atividades industriais,
transferidas para outros locais, e tende a se consolidar como um centro
de gerenciamento corporativo e de serviços. [5]
O urbanista Jorge Wilheim, em sua extensa pesquisa, principalmente quando se
trata de São Paulo, fomenta uma ideia que nos é muito aprazível: a tentativa de
32
redinamização da grande metrópole de São Paulo através de múltiplas e pequenas
dinâmicas locais. Como organizar a cidade por bairros e não sob a atual lógica de
centralidades dispersas?
Baseando-se em um modelo existente e efetivo de governo descentralizado como a
cidade de Paris podemos visualizar a ideia: organizar administrativamente a cidade
por arrondissements [equivalente a nossa divisão de subprefeituras], fornecendo aos
respectivos “subprefeitos” uma autonomia decisória efetiva perante a municipalidade,
ou seja de cunho jurídico e orçamentário.
Uma mairie [subprefeitura] de um arrondissement em Paris é o edifício político que
representa o conselho do arrondissement [conseil d’arrondissement], presidido pelo
Prefeito do arrondissement [Maire d’arrondissement, ou o equivalente ao Subprefeito
em São Paulo]. Este último por sua vez é eleito pelo próprio conselho, oito dias após
4. Jan Gehl (nascido em 17 de
a eleição do prefeito da cidade. setembro, 1936) é um arquiteto
dinamarquês e consultor de
O conselho de cada arrondissement por sua vez é escolhido através de eleições diretas, projeto urbano, cuja carreira
realizadas no próprio edifício da subprefeitura, sendo o número de conselheiros tem-se centrado na melhoria da
qualidade de vida urbana, orientando
proporcional à seu território. O voto não é obrigatório e a população ao votar precisa redesenhos de cidades, com foco
comprovar que mora nos limites administrativos daquela subprefeitura. no pedestre e ciclista. [fonte: www.
gehlcitiesforpeople.dk/]
A independência política e jurídica da mairie d’arrodissement veio a partir de uma lei
5. PEIXOTO, Nelson Brissac.
estabelecida em 1982, que organizou administrativamente as três maiores cidades Paisagens Urbanas. São Paulo, Senac
da França: Paris, Marseille e Lyon [Lei PML], prevendo esse espaço de representação São Paulo, 2004. p.44
33
34
35
do poder civil perante a municipalidade, além de prover uma gestão mais autônoma
dos diferentes bairros [descentralizando o poder no âmbito da municipalidade]. Um
equilíbrio entre o conselho da cidade de Paris e o conselho local do arrondissement.
Com poder decisório sobre seu território [referente sempre à questões de
administração local: escolaridade, auxílio social, equipamentos esportivos, lazer,
etc.] e de representatividade direta do cidadão. [6]
Dentro de seu edifício ocorrem exposições de alunos e artistas locais, eleições,
registros civis [casamentos, nascimento, óbito, título eleitoral], e, principalmente
organização e sistematização das atividades disponíveis na região: feiras livres,
festivais, cursos, entre outras atividades [comércios e serviços].
Praça de atendimento no Vale
O cidadão em contato com essas informações se apropria de seu bairro, sendo do Anhangabaú. Apesar do local
incentivado o contato entre moradores de uma mesma região, que utilizam a privilegiado, o edifício não é
convidativo. Foto Autora.
subprefeitura como espaço de troca e convívio, e principalmente como ferramenta
para ordenamento de informações do bairro, fomentando a dinâmica local social,
econômica, politica e culturalmente. A prática da cidadania pelo habitante é
conquistada, de tal maneira, que ele se sinta parte da política social de sua própria
rotina. Poder importantíssimo que todo habitante necessita para se tornar um
cidadão.
Mas quais são os problemas urbanos que se destacam ao analisarmos
a vida de um bairro e quais as formas de sua solução? É ao nível da Projeto Cine B na Luz. Associação
vida cotidiana do bairro que se percebem as carências em informações, Amo a Luz. Fonte: www.
36 apropriacaodaluz.blogspot.com.br/
em oportunidades de trabalho, creches, escolas de primeiro grau
e animação cultural. É ao nível do bairro que convém que se inicie a
organização da sociedade civil em seu legítimo anseio de participar com
eficácia. [7]
Por uma [re]apropriação do bairro
Quando se tratam de decisões municipais, de caráter abrangente da cidade, não
são todos os cidadãos que se sentem no direito e capacidade de comentar e se
posicionar. Mas quando se trata de sua rua, sua feira, sua praça, seu cotidiano e
Festival Baixo Centro, 2013. Carlos
rotina, um habitante de um bairro torna-se um expert, melhor do que ninguém nesse Serejo, Sebastião de Oliveia, Luana
conhecimento. Nesse caso imagina-se um debate público muito mais profundo e Minari, Jeff Lemes, Toco e Cau, do
palpável para um cidadão se apropriar, e assim exercer seus direitos. grupo Ocupeacidade. Foto Baixo
Centro.
Uma sociedade civil não articulada, no âmbito desse microcosmos tratado, não tem
conhecimento e acesso à seus direitos. A cidade vive uma constante mudança, a 6. Statut et institution de Paris. In:
cidade é um organismo vivo. Como criar mecanismos para manter esse organismo www.paris.fr/politiques. Acessado em
1 de novembro de 2013.
saudável e sempre preocupado com sua saúde e bem estar? Garantindo que cada
célula se represente e saiba seu lugar, suas necessidades e suas demandas. 7. WILHEIM, Jorge. Projeto São
Paulo: propostas e melhorias da vida
Fortalecer a dinâmica de bairro, não é um retorno à vida de comunidade. Muito menos urbana. Paz e Terra, Rio de Janeiro,
1982. p. 65
é uma utopia. É um modo mais organizado e sistemático de possibilitar o exercício
da cidadania em perímetros geográficos de proximidade e manter um mecanismo de
manutenção dentro de um contexto tão plural como é a cidade de São Paulo.
8. Pesquisa do arquiteto e urbanista As atividades locais, pequenos serviços, antigos moradores, tradições do bairro,
Jan Gehl, que se pauta na premissa
de que as cidades são feitas de comércios vicinais, já são inerentes aos bairros. Todo bairro possui sua dinâmica
pessoas e não de edifícios. Gehl prega própria, cotidiana viva, assiste todo dia o ir de seus habitantes, e os recolhe na hora
a importância do desenho para a
escala humana, desde o mobiliário
de dormir.
urbano à grandes metrópoles.
Enaltece o uso dos espaços públicos Como de uma maneira delicada e estimuladora dessas dinâmicas já preexistentes o
e defende que o Poder Público é poder público pode agir, para reforço de uma organização administrativa localizada?
um ator crucial para o diálogo do
território com a população. Para mais A partir da premissa da “Cidade para Pessoas” de Jan Gehl, [8], para esta ser de fato
informações ver: GEHL, Jan. Cidade
para pessoas. São Paulo, Editora vivida, é necessário instaurar-se uma dinâmica de organização política administrativa
Perspectiva. 2013 em que o cidadão tenha sua representatividade efetiva nas decisões. Abrindo-se
sempre que possível, processos abertos, transparentes e participativos.
Uma vida de proximidade significa distâncias físicas e geográficas acessíveis. Para se
criar laços sociais, afetivos e significativos com o lugar que se habita.

Parque Minhocão, 2012. Foto Tiago


Queiroz
37
Ao lado: New Road, Gehl Architects.
Prova de que os diferentes podem
conviver juntos. Acervo Gehl
Architects.
Quando abordamos o tema do planejamen-

o plano de bairro em são paulo


to urbano, não há como fugir da política,
afinal, o próprio termo política tem suas
raízes na urbe, a pólis grega. Porém não
há como ignorar o vasto campo do contexto
social, desde reinvindicações urgentes e di-
versificadas de moradores até as pressões
e atividades econômicas do mercado imo-
biliário, das idiossincrasias partidárias ao
sentimento de classe, da pressa de setores
governamentais ao individualismo enraiza- Plano de Bairro de Perus, 2012. Única
do na cultura migrante. [1] subprefeitura que realizou tal política,
estabelecida pelo Plano Diretor de
Jorge Wilheim [2] foi questionado sobre o plano diretor 2002.
de São Paulo, documento que ajudou a produzir há dez
anos, referente ao que gostaria de comentar nesse
momento de revisão vivido pela atual gestão de Fernando
Haddad. O urbanista explica que é natural a revisão de
um documento produzido dez anos atrás, julgando-a
necessária nesse atual momento de retomada, e se
queixa do não cumprimento de uma das diretrizes
contempladas no documento, que diz não ter sido se
38 quer iniciada: O plano de bairro.
A eficácia do Plano de Bairro para Wilheim é que,
através de pequenas ações de baixo custo realizadas no
bairro, se têm uma melhoria IMEDIATA. Quanto ao nível
administrativo, segundo o urbanista, a escala menor
se faz muito mais simples de trabalhar, tornando o
planejamento EFICAZ.
Oferecer ferramentas políticas para a população é
uma atitude de auxílio para a manutenção do exercício
da cidadania e da participação responsável ou co-
responsável da democracia. Permitindo que os próprios
moradores de uma região coordenem sua manutenção
natural. A cidade é orgânica, muda constantemente.
A preservação material ou imaterial não se guarda
intocada, se ajuda a guiar o pulsar e o crescer.
Temos que ter a sensibilidade de oferecer para os
bairros e seus cidadãos, a possibilidade de se entrosar
e exigir seus direitos, terem representatividade e
1. WILHEIM, Jorge. São Paulo uma
ciência de suas responsabilidades e deleites. Barrar Interpretação. São Paulo, Editora
uma operação urbana, opinar nas grandes construções, Senac 2011. p.194
no potencial construtivo, nos incentivos urbanísticos 2. Jorge Wilheim em entrevista para o
decididos pelo poder público. Se proteger e mudar Roda Viva em 4/02/2013
Mas o que é o plano de bairro?
Os Planos de Bairros são
complementares ao Plano Diretor e aos
Planos Regionais Estratégicos e têm
como objetivo estabelecer diretrizes
específicas para determinados locais
da cidade. Estas diretrizes não podem
ser contraditórias ao que for definido
no Plano Diretor, no Zoneamento
e nos Planos Regionais, mas sim
complementares. Poucos Planos de
39
Bairros foram elaborados na Cidade de
São Paulo, mas existe a oportunidade
de se definir no novo Plano Diretor os
critérios e regras para elaboração dos
Planos de Bairro. Estes planos podem
ser elaborados por distritos e não
necessariamente por bairros, lembrando
que sua principal característica é tratar
de assuntos locais, sempre atentando
para as orientações do Plano Diretor.
[www.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br]
conforme precisarem e desejarem.
Uma população articulada exige uma população com um grau de instrução, com
saúde, educação, informada, e principalmente: cidadã. Quem não é cidadão, não
mora. Não almeja nada pelo lugar que não considera sua casa. A partir do momento
que a pessoa vive: anda, sente a cidade, ouve, troca, aprende, ensina – se sente
parte desse organismo e por ele irá lutar e exigir. A cidade desumanizada, não forma
cidadãos, pois não lhes oferece uma vida digna, e nem mesmo lhe dá ferramentas
para exigir. O ensinamento vem do próprio viver, do cotidiano, do ir e vir, conhecer, Rede Social Bela Vista, organização
desejar. Se você vive para sobreviver, você não percebe que está de fato vivendo. Uma civil da Bela Vista, que está
articulando a população local para
cidade de sobreviventes funciona, mas não se mexe, ela marcha, ela é morta, ela é organizar o Plano de Bairro, demanda
automatizada. do futuro Plano Diretor [que está em
processo de aprovação]. Fonte:
A luta pelos direitos sociais faz com que o cidadão tenha de se qualificar para interagir www.redesocialbelavista.com.br
no processo político. Seja para defender seus próprios interesses ou os interesses de
sua comunidade. Esse exercício é vital para a cidade, e a partir do momento que o
cidadão não se sente com uma representatividade efetiva em seu microcosmos, ao
menos de acompanhar o processo das decisões, ele se abstém, e se anestesia. No
momento que se sente dono de um conhecimento [escala da comunidade/bairro/
vida cotidiana], ele se sente mais responsável para agir, opinar, e assim iniciando seu
processo político, que o fará se qualificar e se organizar.

40

Ao lado imagem de cortiço na Rua


Conselheiro Nébias, Santa Cecília.
Representando ausência do poder
público na região.
41
A era da informação permite estabelecermos novas formas 1. WILHEIM, Jorge. São Paulo uma

organização administrativa da cidade


Interpretação. São Paulo, Editora
de organização, no trabalho e na obtenção do conhecimento. Senac 2011. p.67
Em lugar da estrutura piramidal hierárquica, o trabalho
2. Lembrando que a atual gestão de
pode der organizado sob forma de redes ou malhas, em Fernando Haddad está trabalhando na
que os integrantes são assimétricos quanto ao poder que fortificação das subprefeituras, ação
exercem – porém integrados, interagentes e focalizados que está em processo. Após o Plano
Diretor, o próximo passo é garantir
na área a que, em conjunto, se dedicam. [1] o Plano Regional Estratégico, que
já se refere à cada subprefeitura. E
Assumindo que a representatividade de um cidadão perante o Estado se por último o Plano de bairro, previsto
dá na proximidade que se tem da decisão que é tomada, observamos que para das início em 2014. Ver: http://
gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/
em São Paulo estamos com um déficit de representação governamental.
Quando se trata da micropolítica, a figura que mais representa grupos de
interesses específicos em nosso modelo eleitoral seria o vereador. Este,
por sua vez, não é vinculado à nenhum território. Por mais que tenha
sido eleito representando um bairro ou uma comunidade, responde na
Câmara à demandas da cidade toda.
Existem em São Paulo as subprefeituras, criadas em 2002 na gestão da
Marta Suplicy. Órgão que instituiu-se justamente para tratar de questões
locais aos distritos. Contudo o projeto não foi levado para frente, e nos
últimos anos esvaziou-se. Não sendo atualmente uma referência de
gestão de escala local, inclusive nunca cumprindo uma premissa básica
do Plano Diretor de 2002, que era o desenvolvimento do Plano de Bairro.
42
A subprefeitura de Perus foi a única das 32 subprefeituras paulistanas
que concluiu a demanda. [2]
Decidimos então nos debruçar sobre a estrutura de governo que rege
a cidade de Paris como um comparativo ao modelo paulistano. Para
assim compreender o funcionamento de um governo descentralizado,
buscando aplicar uma organização diversa da que atualmente organiza
nosso território.
Na França, o que de fato dá representatividade para as comunidades
– esteja ela inserida em um aglomerado urbano ou no campo – é
sua autonomia e poder parcial de decisão sobre questões jurídicas,
legislativas e, principalmente orçamentárias.
As grandes cidades francesas foram reorganizadas politicamente, após
a aprovação da lei PML [Paris, Marseille e Lyon] de 1982. Constituiu-
se na descentralização no nível da cidade, sobre o fundamento de
fortificar administrativamente o elemento conhecido historicamente: o
arrondissement [limite político administrativo existente simbolicamente
desde 1795, que equivaleria à nossa subprefeitura,]. A subprefeitura
de cada arrondissement – edifícios políticos previstos no urbanismo
moderno de Haussmann – concebeu uma construção jurídica especifica,
instituindo conselhos e prefeitos do arrondissement eleitos por sufrágio
universal pela população habitante da região. O resultado dessa lei foi
43

Divisão de subprefeituras em
São Paulo realizada em 2002,
reestruturando a cidade em
áreas administrativas de 350 mil
a 450 mil habitantes. Cada uma
compreendendo um conjunto plural
de distritos. Na época eram 31,
atualmente são 32, com a nova de
Sapobemba. Fonte SMDU 2013
muito positivo e deu início a uma forte dinâmica de bairro, hoje indispensável nas 3. A história das mairies de Paris têm
seu início em 1795 enquanto divisão
cidades citadas. [3] territorial. Para mais informações
consultar www.paris.fr/
A representatividade observada na França, em níveis urbanos, civis e legislativos,
torna o cidadão muito mais implicado nas decisões políticas e consequentemente 4. About community Boards. Ver:
http://www.nyc.gov/html/cau/html/cb/
mais ativo, uma vez que sente a eficácia de sua participação. Já o sistema brasileiro, about. Acessado em 20 de setembro
federativo, importado dos Estados Unidos, nos coloca numa hierarquia em que o de 2013.
baixo escalão da pirâmide não possui autonomia legislativa e orçamentária. Ou seja,
não se desenvolvem projetos nos distritos, pois não há verba, nem poder jurídico
nas subprefeituras, ficando a cargo da Prefeitura coordenar. O que resulta numa
efetividade de poder muito restrita dos pequenos aglomerados.
Mesmo que falando abstratamente dos níveis de poder, em linhas gerais, o poder
decisório, seja do município, da subprefeitura, ou de associações de bairros, é muito
menor, comparando com o poder decisório e político da prefeitura.
Recaímos no problema de gestão pública que Jorge Wilheim está cansado de
reafirmar. Para ele tamanha é a importância da organização e sistematização do
território, que aceitou ser secretário estadual de Economia e Planejamento entre
O Conselho Participativo Municipal
1975 e 1979. Já havia compreendido que no fundo a questão recai na verticalidade/ é um organismo autônomo da
horizontalidade do sistema de governo. sociedade civil, reconhecido pelo
Poder Público Municipal como espaço
Em Nova Iorque foram criados além dos Boroughs [equivalente à nossa subprefeitura] consultivo e de representação da
sociedade nas 32 subprefeituras da
os Boards, conselhos formados por moradores da região eleitos para serem cidade de São Paulo. As eleições
44 representantes de um certo grupo, que se aproxima mais à nossa escala de bairro. serão dia 8 de dezembro de 2013. Não
se sabe ainda a efetividade que esse
Esses representantes, através de reuniões mensais na comunidade, conseguem conselho terá. Ver:
atuar como instrumentos de pressão sobre as decisões tomadas pelo poder público, www.conselhoparticipativo.prefeitura.
incluindo e representando todos os diferentes grupos de moradores no processo, sp.gov.br/

assim como aprovar ou vetar projetos para a região. Os Boards, por sua vez, são
quem compõem o conselho dos Boroughs. Assim garantindo a participação mesmo
quando o território se apresenta extenso. [4]
As subprefeituras em São Paulo quando foram criadas, havia a intenção de
descentralização do poder. Contudo, o processo que se iniciou não obteve continuidade
na gestão seguinte, e retrocedeu.
Outro fator importante é considerar que a estrutura eleitoral brasileira é eficaz, e
o voto é obrigatório, o que já auxilia para uma reflexão política [mesmo que seja
mínima] pelos seus habitantes.
Como se utilizar da dinâmica eleitoral existente efetiva e da divisão das subprefeituras
já inerentes ao território desde 2002 para empoderar e legitimar as ações locais?
O Conselho Municipal, diretriz do Plano Diretor de 2002 e do Plano Diretor 2013, está
sendo pela primeira vez implementada este ano e será uma ferramenta que auxiliará
muito nesse processo. Contudo, qual a legitimidade desse conselho? Terá ele poder
Ao lado mapa das Communities
efetivo de decisão? Boards em Nova Iorque. Fonte www.
nyc.gov
Board Composition & Membership
Community boards are local representative bodies.
There are 59 community boards throughout the City, and
each one consists of up to 50 unsalaried members, half
of whom are nominated by their district’s City Council
members. Board members are selected and appointed
by the Borough Presidents from among active, involved
people of each community and must reside, work, or have
some other significant interest in the community.
Responsibilities
Community boards have a variety of responsibilities,
including but not limited to:
• Dealing with land use and zoning issues. CBs have
an important advisory role and must be consulted
45
on the placement of most municipal facilities in the
community. Applications for a change in or variance from
the zoning resolution must come before the board for
review, and the board’s position is considered in the final
determination.
• Assessing the needs of their own neighborhoods. CBs
assess the needs of their community members and meet
with City agencies to make recommendations in the City’s
budget process.
• Addressing other community concerns. Any issue
that affects part or all of a community, from a traffic
problem to deteriorating housing, is a proper concern of
community boards.
[efetividade dos conselhos municipais de Nova Iorque: os Boards. fonte: http://www.
nyc.gov/cau/cb]
Mairie du 19eme arrondissement
mairie de paris desde 1878
População: 184.787 habitantes
Território: 6, 79 km2
Densidade [hab/km2]: 27.489
[fonte www.mairie19.paris.fr/]

Principais funções da Mairie d’arrondissement:


_Planejamento: aprovação de projeto [permissão para
construção], e aprovação do uso do solo.
_Educação: contribuir no desenvolvimento local do
ensino público.
_Habitação: garantir que 30% das habitações disponíveis
46 sejam de cunho social.
_Cultura: cultura e vida associativa. Comunicação e
informação e serviços envolvidos.
_Assistência Social: gestão do comitê de chamado de
CASVP [centre d’action sociale de la Ville de Paris].
_Registros do Estado Civil: nascimento, óbito,
casamento, registro eleitoral, etc.
_Serviços: limpeza urbana, serviços locais e manutenção
de equipamentos públicos.

Diagrama do funcionamento
municipal de Paris atualmente.
Elaboração MCLF.
Cidade de Paris
População: 2.257.981 hab.
Território: 105,40 km2
Densidade [hab/km2]: 20.980
[fonte www.paris.fr]

Mapa Paris intra muros. Fonte


CASSINI [http://carto.apur.org/] 47
<Guia mensal Le Paris du 19eme.
Publicação editada pela Mairie du
19eme. Todas as mairies possuem
sua própria revista de conteúdo.
Objetivo de divulgação de atividades,
serviços, entre outras informações
sobre a região.

>Página inicial da Mairie du 19eme


e página do link guia do 19eme. O
portal se mostrou bem interativo e de
fácil navegação.

>Ao lado a perspectiva da edificação


de 1878. A praça Armand Carrel é o
espaço público que recebe o edifício
político emblemático no 19eme
arrondissement. Fonte Google
Subprefeitura da Sé
susbprefeitura de são paulo desde 2002
População: 431.106
Território: 26,2 km2
Densidade [hab/km2]: 16.454
[fonte IBGE / censo de 2010]

Principais funções da Subprefeitura*:


_Planejamento: execução de zoneamento e normas
urbanas; código de obras.
_Serviços: Limpeza urbana, serviços locais.
_Transporte: manutenção de ruas

48

* Após sua criação, as subprefeituras


foram esvaziadas, não cumprindo as
Diagrama do funcionamento funções que lhe foram previstas.
municipal de São Paulo A partir deste ano, 2013, a situação se
atualmente. Elaboração MCLF. alterou, e o desejo da atual gestão é
cada vez mais lhe atribuir autonomia.
49

Cidade de São Paulo


População: 11.253.503 hab.
Território: 1.521,101 km2
Densidade [hab/km2]: 7.398,26
[fonte IBGE / censo de 2010]
Subprefeitura da Sé inserida na
RMSP. Fonte SMDU 2013. Elaboração
MCLF.

Página inicial do portal da


Subprefeitura da Sé de São Paulo. e
página dos serviços de equipamentos
públicos. O portal se mostrou pouco
interativo e confuso para navegação.

Ao lado imagens da inserção do


edifício da Sub Sé. Foto autora, 2013.
são paulo
algumas subprefeituras

Nessa página encontram-se imagens tiradas a partir do google


street view das subprefeituras e mairies das cidades de São
Paulo e Paris respectivamente. As mairies de Paris possuem
a premissa de sempre estar em frente ou próximas a praças
públicas. São de fácil acesso e bem localizadas no bairro. Já as

Aricanduva Butantã

Cidade Ademar Cidade Tiradentes Ermelino Matarazzo

50
susbprefeitura são paulo: a edificação. fonte google street view

Freguesia do Ó Guaianases Ipiranga

Perus M’boi Mirim Pinheiros

Itaim Paulista Jabaquara Parelheiros


paris
algumas mairies

subprefeituras não possuem um padrão. Sendo muitas vezes


de difícil acesso, a exemplo a Sub de Pinheiros que está ao lado
de uma grande avenida e a marginal. Em contraponto temos a
mairie do 11eme arrondissement que, como podemos observar
na imagem, está sediando um casamento.
casamento!
1eme 3eme

6eme 8eme 11eme

51

12eme 13eme 14eme

16eme

mairies paris: le batimênt


15eme 17eme

18eme 19eme 20eme


são paulo
interface digital

Alguns dos portais de subprefeituras de São Paulo foram


fotografados, assim como alguns dos portais das mairies
de Paris. Analisando graficamente ambas interfaces digitais
podemos perceber de imediato, respectivamente, um
espelhamento na relação do órgão perante sua comunidade.

Aricanduva Butantã

Cidade Ademar Cidade Tiradentes Ermelino Matarazzo

52
susbprefeitura são paulo: o portal. fonte ww.prefeitura.sp.gov.br

Freguesia Brasilândia Guaianases Ipiranga

Perus M’boi Mirim Pinheiros

Itaim Paulista Jabaquara Parelheiros


paris
interface digital

A importância da comunicação gráfica é extrema, visto que é


através desta plataforma que a população pode ter acesso aos
serviços, esportes, cultura, lazer, educação e religião oferecidos
por sua região. Sua comunicabilidade representa um profundo
impacto na relação do habitante com sua cidadania e com seu
bairro. Ou seja: seu cotidiano.
1eme 3eme

6eme 8eme 11eme

53

12eme 13eme 14eme

mairies paris: le portal. fonte www.paris.fr/


15eme 16eme 17eme

18eme 19eme 20eme


Estes organogramas ilustram como estruturas de governo

são paulo
são organizadas em São Paulo e Paris. Eles têm a função de
dar uma primeira impressão de como as responsabilidades
básicas são arranjadas, identificando as principais funções
no nível federal, estadual e municipal. Ainda que oferecendo
uma visão geral comparativa, eles não têm a intenção de
fornecer um sistema detalhado de cada governo, que pode
ser encontrado apenas ao se analisar caso a caso.

54

Diagramas de comparação
governamental.

São Paulo: fonte BURDETT, Ricky,


SUDJIC, Deyan [eds.]. Living in the
endless city. Londres, Phaidon. 2011.
Tradução autora.

Paris: produção Mônica Nogami


Gauter e Maria Claudia Levy.
paris
55

nível nacional

nível regional

nível estadual

nível municipal

nível distrital
Organização municipal Diagrama do funcionamento
de são paulo hoje municipal de São Paulo atualmente.
Elaboração MCLF

SUBPREFEITURAS COM MAIS Proposta 1: Proferir mais autonomia a


AUTONOMIA cada subprefeitura
[cenário]

56

CENTROS DE BAIRRO PARA Proposta 2: Criar edificícios


APOIO DAS SUBPREFEITURAS administrativos de apoio à
[cenário] subprefeitura. Que contenham
principalmente praças de
atendimento

FUNCIONAMENTO DE PARIS
[exemplo] Exemplo de governo descentralizado:
Paris. As subprefeituras possuem
autonomia perante à municipalidade,.
Em termos populacionais uma
subprefeitura em Paris [Mairie
PREFEITURA d’arrondissement] possui metadedo
númeto de habitantes de uma
SUBPREFEITURA subprefeitura em São Paulo

EQUIPAMENTOS
MUNICIPAIS
Descentralização e participação:
_Retomar o conceito de descentralização
do poder, dando maior autonomia às
subprefeituras;
_Proceder, em cada subprefeitura, à
realização de Planos de Bairros e eventual
avaliação e revisão dos Planos Diretores de
cada subprefeitura;
_Implementar a constituição e atuação de
conselhos, de modo especial os Conselhos
de Representantes, revendo a melhor forma
de ver a sociedade sendo representada, em 57
cada subprefeitura, fortalecendo assim a
legitimidade da política de descentralização;
_Implantar novas formas eletrônicas de
expressão e participação cidadã, e fazer, sem
hesitação, uso das formas constitucionais de
consulta popular;
_Iniciar estudos, levantamentos e debates
destinados a reunir subsídios para o próximo
Plano Diretor Estratégico, com vigência de
2012 a 2022.
[Trecho de propostas pontuais para São Paulo em: WILHEIM, Jorge. São Paulo uma
interpretação. 2011, p. 225]
58
2.
terrain vague: obsolescência e
oportunidade
59
• sambódromo

• escola de samba

• estação barra funda 60.000m2


• memorial da
américa latina
• favela do moinho

60
• parque da água branca

• estação marechal
deodoro • terminal
princesa
isabel

• praça da
república
• espaço anhembi • estação tietê

61

• museu de arte sacra


• jardim da luz / pinacoteca
• estação julo prestes / sala são paulo
• estação da luz / museu
da língua portuguesa

• largo do paissandú
• estação brás
• parque dom pedro ii
• anhangabaú
• terminal dom pedro ii
• subprefeitura da sé
O Centro é o espaço de representação de

por que os bairros centrais?


toda a sociedade, o que o faz ser um campo
compartilhado. E, como tal, o Centro se
caracteriza por ser um campo de conflito.
Pensar e agir sobre a transformação da
área central de São Paulo exige enfrentar
o campo de projeto como um campo
de negociação dos conflitos, onde a
coexistência pacífica se torne não apenas
possível, mas sobretudo desejável. [1]

Focamos principalmente nos bairros centrais, por sua


vocação enquanto bairros de identidade forte, ao mesmo
tempo que servem à cidade toda, tanto pelo comércio
especializado, rede de transporte público e empregos
oferecidos. Os bairros centrais são muito importantes e
são de extremos interesse de estudo pois abrangem em
si, as duas escalas que permeiam a crise das cidades
contemporâneas: Escala metropolitana versus escala
local.

A vitalidade do centro relaciona-se à sua


capacidade de atrair todas as classes
62
sociais e faixas etárias.[...] Sua organização
oscilou entre guardar traços da cidade
colonial e responder às necessidades de
transformação impostas pelo dinamismo
da metrópole em cada uma de suas etapas.
[2]

Apesar do centro ser o coração da cidade – receber


milhões de pessoas diariamente, possuir grande parte
dos equipamentos culturais, oferecer trabalho, grande
pólo de comércios especializados, ser a região mais bem
servida de transporte público – existe inegavelmente
uma forte dinâmica local, muito rica e ímpar em cada
um de seus diferentes bairros: seja Centro Velho, Centro Ao lado: Rua Barão de Itapetininga.
1974. Acervo SP Urbanismo
Novo, Santa Ifigênia, Campos Elíseos, Luz, Santa Cecília,
Bom Retiro, Móoca, Glicério, Bixiga, Consolação, 1. FRANCO, Fernando de Melo,
Higienópolis, Vila Buarque, Baixo Augusta, etc. “Campo Compartilhado”, In: Centro
Diálogo Aberto. São Paulo, SP
Muito ligado a sua história, juntamente com as Urbanismo, 2013

nuances da linha férrea, que foi rasgando parte da área 2. MEYER, Regina Maria Prosperi;
central, outra parte foi sendo construída já no tecido GROSTEIN, Marta Dora. A leste do
centro. Territórios do urbanismo. São
danificado. As grandes avenidas também tiveram sua Paulo, Imprensa Oficial do Estado de
parte na conexão de grandes eixos metropolitanos que São Paulo, 2010. P. 21
segmentavam na escala do humano: o próprio Elevado
Costa e Silva, a Avenida Radial Leste, Avenida do Estado,
Avenida Rio Branco, entre outros importantes eixos
viários presentes na malha central. O resultado desses
grandes recortes e costuras foram bairros escondidos,
dinâmicas internas muito fortes e únicas em cada ilha
conformada pelos desenhos axiais que convergem
sentido Vale do Anhangabaú, como previa o plano de
Prestes Maia.

A desvalorização da área central se deve principalmente


à necessidade de reestruturação da indústria e dos
modos de produção, o que fez a cidade virar as costas
para a região. O que não significa que não há vida lá,
há sim e muita. Inclusive deslegitimando o atual termo
muito utilizado pelas mídias ao referirem-se aos projetos
de requalificação das áreas centrais como projetos de
“revitalização”.

63
Barra Funda de Baixo

barra funda de baixo Na segunda metade do século XIX, o loteamento de uma


vasta propriedade da família Prado, conhecida como
Chácara do Carvalho deu origem ao bairro da Bar-
ra Funda. A ocupação da área se acentuou a partir de
1892, quando entrou em funcionamento a estação da
São Paulo Railway, ferrovia popularmente denominada
“Inglesa”.

A facilidade do transporte e o preço dos terrenos fa-


voreceu a implantação de inúmeras indústrias na área
menos elevada do bairro, que passou a ser identifica-
da como Barra Funda de Baixo. Próxima ao Rio Tietê, aí
também estavam instaladas olarias e, das águas se re-
tirava areia para construção. Entre os estabelecimentos
fabris estavam a Fábrica de Vapor de Tecido e Fiação de
Corda e de Barbante, em 1892, e a Cristaleria Paulista,
na Rua Conselheiro Brotero, em 1905.

Na Barra Funda de Baixo também residia parte signifi-


cativa dos imigrantes moradores no bairro, muitos dos
quais eram proprietários de pequenas oficinas artesa-
64
nais e manufaturas de fundo de quintal. E famílias ne-
gras, cujas mulheres eram empregadas domésticas
nos bairros próximos, de Campos Elíseos, Santa Cecília
e Perdizes. Os homens negros, quando não emprega-
dos em indústrias, carregavam mercadorias na ferrovia,
eram vendedores ambulantes ou prestavam serviços
temporários no comércio das redondezas.

O ponto de encontro desses trabalhadores era o Largo


da Banana, hoje integrado à área do Memorial da Amé-
rica Latina, onde praticavam capoeira e formavam rodas
de samba. Em 1914, eles fundaram o primeiro cordão
carnavalesco da cidade; em sequência surgiriam outros,
também organizados nos territórios negros existentes
Fonte: DPH. Guia de bens culturais
da cidade de São Paulo. São Paulo,
na Bela Vista e na Baixada do Glicério.
Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012. Na Barra Funda de Cima, a paisagem era predomi-
nantemente a de um bairro residencial, pontuado por
Abaixo: panorâmica da passarela
existente em direção ao terreno em casas térreas e pequenos estabelecimentos de comér-
foco. Foto autora. cio e serviços.

65
estaçao barra funda

66

estaçao barra funda


estação da luz

67

estaçao julio prestes


estaçao barra funda

68

estaçao barra funda


estação julio prestes

69

Visão seriada desde o trem


Foto e elaboração autora.

estação da luz
O resultado da desindustrialização é o

terreno: começo de uma pesquisa


terreno vago [1]

Entre Campos Elíseos, Bom Retiro, Barra Funda e


Santa Cecília. Quando digo entre é literalmente entre.
Um espaço que não se conformou. No limbo de sua
existência indefinida, se desenha pelos limites daqueles
que o margeiam. Não havia como ocupá-lo.

O mesmo lugar que presenciou o desenvolvimento Industrias em São Paulo 1919.


Fonte: FRANCO, Fernando de
de São Paulo, participando ativamente do seio que Mello. A construção do caminho:
alimentou seu vasto crescimento, não vingou. a estruturação da metrópole
através da conformação técnica
Simples resultado de uma incompatibilidade de da Bacia de São Paulo. Tese de
diferentes gestores. Duas companhias ferroviárias doutorado. São Paulo, FAU USP.
2005
distintas, São Paulo Railway e Sorocabana, a primeira
com seu término na Estação da Luz e a última com seu
término na estação Júlio Prestes, ambas com o desafio
de lidar com áreas de várzea, território de baixo custo e
desocupado na época, a qual inseriram suas estradas
de ferro. Desenhou-se um grande vazio, justificado pelo
esboço de um dia talvez construir uma grande estação,
que nunca se consumou.
70
O espaço entre pertencia à Rede Ferroviária Federal
S/A, e devido uma dívida de IPTU foi para leilão em 1999.
Após o leilão, foi para a União, e ainda encontra-se em
posse indefinida devido brigas legislativas. A par de sua Intervenção de João Resende.
Arte Cidade
questão burocrática - estado jurídico – ele existe, ele
está.

Existe por si, pelo vazio conformado pelo limite dos bairros
que o rodeiam. Cresceram desde seu início de maneira
indiferente um com outro, afinal desenvolveram-se do
impulso gerado pela linha férrea, cada um com um fim
definido pelas estradas de ferro, desenhando o terrain
vague [2] aqui em questão.
1. MORALES, Ignasi Solà. Terrain
Campos Elíseos meio ao luxo de uma sociedade burguesa Vague, Anyplace MIT 95

se conformando, no final do século XIX. Consistindo 2. Termo utilizado por Solà-Morales.


principalmente em casarões de barões do café e suas A importância do termo ser dito em
francês se dá pelo autor devido a
famílias. Avenidas largas, fartas. Uma distância razoável ambiguidade de ambas palavras não
do centro, que garantia toda a privacidade de uma se expressarem em outra língua.
MORALES, ignasi Solà. Presentes
luxuosa casa de bairro clássico, nos moldes europeus y Futuros. La arquitectura en las
da época. ciudades. Vague em português pode
ser traduzido como vago, incerto,
O Bom Retiro pelo nome já se conforma como o bairro onda, movimento, vazio.
isolado, do retiro e do descanso. Ironicamente ao seu futuro uso, que seria justamente
o de negar esse retiro, do negócio em sua mais pura raiz. O bairro testemunhou a
chegada de inúmeras fabricas e industrias, juntamente com suas vilas operárias,
conformando esse território ao mesmo tempo que produtivo e pragmático, quanto
popular e descontraído.

Na Barra Funda de Baixo residia parte significativa dos imigrantes moradores


do bairro industrial, muitos dos quais eram proprietários de pequenas oficinas
Mapa funcional da cidade de artesanais e manufaturas de fundo de quintal. Assim como famílias cujas mulheres
São Paulo, 1955 Fonte: FRANCO,
Fernando de Mello. A construção e homens eram empregadas domésticas nos bairros próximos, de Campos Elíseos,
do caminho: a estruturação da Santa Cecília e Perdizes.
metrópole através da confor-
mação técnica da Bacia de São Juntamente com o rasgo, barreira de nível local, gerado por essas duas linhas de
Paulo. Tese de doutorado. São trem, estava a contrastante capacidade de conexão entre dois pontos tão distantes,
Paulo, FAU USP. 2005
proporcionado pela capacidade de rápido deslocamento do trem.

O local e o regional, dialogam com um contraste jamais coexistente antes. As


distâncias passam a ser medidas por tempo e não mais por quilometragem. Talvez
mais fácil ir da Luz até Paranapiacaba que ir a pé de um lado ao outro do trilho do
trem.

Esse buraco tornou-se a própria metáfora para o esvaziamento posterior que a linha
de trem passou a significar na rede de transportes brasileira. A razão principal pela
qual São Paulo desenvolveu-se e inchou, deixou de ser importante para o momento 71
econômico seguinte almejado pela metrópole, que na década de 30 já vinha iniciando
sua tendência à indústria automobilística.

Foto aérea Nelson Kon, 2009 A crise do café afetou os barões e os bairros industriais sofreram, e sentiram essa
queda. Juntamente com eles, a ferrovia, que lá estava para testemunhar essa
bara bom
dinâmica que viria ao fim.
funda retiro
Bairros importantíssimos para a concepção da cidade, foram esvaziando-se. O
transporte férreo foi perdendo sua força e cedendo seu lugar na economia. O que não
santa campos
cecilia elíseos se pensou, imagino que naturalmente, pois foi a primeira vez que o mundo vivenciou
essa experiência, era o destino desses terrenos centrais, vastos, e agora esvaziados
de conteúdo e sentido no contexto que viria a seguir.
Esquema dos distritos ao redor
do terreno. Elaboração MCL Espaços intersticiais surgiram e nada se fez. Regiões foram degradando-se e fomos
nos distanciando deles, ao invés de combatê-los, integrando-os ao tecido consolidado.
Segundo Solà-Morales “são bordas carentes de uma incorporação eficaz, são ilhas
interiores esvaziadas de atividade, são esquecidos restos que permanecem fora da
dinâmica urbana”.

Atualmente a questão pula aos olhos. O problema é mundial. Não há metrópole que
não sofra dessa decisão tomada por políticas passadas. Como resolver? O vazio está
lá, materializado, enorme, complexo, difícil de se pensar um reestabelecimento.
Esse movimento para com o patrimônio industrial, ou mais importante, vazio
industrial, encontra-se cada vez mais em pauta no mundo contemporâneo. Sabemos
que temos que reciclar, aproveitar estruturas pré concebidas, redes centrais de
articulações vitais. Contudo a batalha é sempre a mesma. A reconversão.

Nuestras ciudades están pobladas por este tipo de territorio. Áreas


abandonadas por la industria, por los ferrocarriles, por los puertos;
áreas abandonadas como consecuencia de la violencia, el recesso
de la actividad residencial o comercial, el deterioro de lo edificado;
espacios residuales e los márgenes de los rios, vertederos, canteras;
áreas infrautilizadas por inaccesibles entre autopistas, al margen
de operaciones inmobiliarias, cerradas sobre si mesmas, de acceso
restringido por teóricas razones de seguridade y protección. [3]

Temos grandes exemplos de urbanismos mundiais de reestruturação de grandes


pólos econômicos que entram em decadência: observamos grandes intervenções
urbanas em ex áreas portuárias, industriais em Barcelona, Londres, Argentina, Nova
Iorque, Alemanda, etc. E caímos num debate contemporâneo: de como reintegrar
essas regiões ao tecido urbano, de maneira suave, de modo a recosturar, linkar,
reintegrar, sem grandes políticas de arrasa quarteirão que apagam a história e
recomeçam como se nada houvesse...

Mas o que verdadeiramente merece destaque é pensar o vazio não como algo negativo,
72 que segrega. E sim como o que permite, como se a todo minuto se encontrassem
Terrain vague. Foto Marcus Vinicius
num estágio de plena transformação, ou seja, pensar o vague como a onda, em pleno Damon, 2013.
movimento, caminhando para o infinito das possibilidades que o abraçam.

Terreno antiga rodoviária na Cra-


colândia Sao Paulo. Foto Autora, 2010

3. SOLÀ-MORALES, Ignasi. Presentes


y Futuros. La arquitectura en las
ciudades. Barcelona, Collegi Oficial
d’Arquitectes de Catalunya / Centre de
Cultura Contemporània. 1996, 10-23.
p. 23
Um lugar vazio, sem cultivos
terrain vague nem construções, numa
cidade ou num subúrbio,
um espaço indeterminado
sem limites precisos. Um
lugar que é exógeno e
estranho, fora do circuito das
estruturas produtivas das
cidades, uma ilha interna 73

desabitada, improdutiva
e muitas vezes perigosa,
contemporaneamente à
margem do sistema urbano e
parte fundamental do sistema.
[...] O vazio é a ausência, mas
também a esperança.
[Solà-Morales. Ignasi. “Urbanité Intersticielle”. Inter Art Actuel, n. 61, 1995. In: CARERI, Francesco.
Walkscapes. O caminhar como prática estética. 1ª Edição, Barcelona, Gustavo Gili, 2013. p. 43]
74
O IBA Emscher-Park foi o plano de reabilitação

referência: IBA emscher park


na área industrial no distrito alemão da
Renânia do Norte-Westfália, de 1989. Meio
ao cenário do pós guerra, a região industrial
alemã localizada na várzea do Rio Emscher,
antes conhecida por sua glória e riqueza,
após sofrer bombardeamentos e um profundo
esvaziamento, se vê passando por um intenso
processo de degradação e declínio econômico.

Dezessete cidades se unem para desenvolver


esse plano, que prevê seis diretrizes
de atuação: parque paisagístico do Rio
Emscher; reforma ecológica do sistema
do Rio Emscher; novo aproveitamento de
Paisagem do romantismo
industrial. Lanschaft Park,
construções industriais; trabalhar no parque;
Duisburg Nord. Paisagismo de desenvolvimento integrado de moradia
Latz and Partner, 1991. em bairros; iniciativas sociais, emprego e
qualificação. O projeto foi um sucesso, apesar
da ausência de incentivos federais, e é hoje
até um importante roteiro turístico para quem
visita a Alemanha.

Pioneiro quando se refere ao patrimônio 75


industrial, se baseiam numa intervenção que
se aproveite do já construido e consolidado.
A partir de uma área totalmente degradada,
desvalorizada, inicia-se um processo de
transformação e recriação, principalmente
programática, subvertendo o uso das
edificações existentes.

A antiga zona industrial na beira do Rio


Emscher é transformada em um parque
linear, em que se restauram, reutilizam
e reaproveitam todas as construções ali
presentes (entre outros projetos propostos
pelo consórcio conformado por 17 cidades da
Renânia do Norte-Westfalia). Resultando numa
paisagem verdadeiramente romântica, meio
à ruínas e lembranças conturbadas, tanto da
guerra – e de toda violentação que a região
Mettre en place un processus. sofreu – quanto da época, motivo de orgulho,
Michel Corbou 2010. Lanschaft em que eram o grande pólo tecnológico e
Park, Duisburg Nord. Paisagismo industrial da Alemanha.
de Latz and Partner, 1991.
cartografia emotiva atelier da alegria
oficina boracea
clube escola
anhanguera

galpão
anhanguera
clube b

senac
[arquivo]
76

colegio estadual
alarico silveira

galeria baró

teatro são pedro

teatro escola
novos protagonistas macunaíma
urbanos levantados
casa de cultura
comércio e serviços digital
entrevistados

equipamentos
importantes levantados goma oficina
estação marechal
deodoro
berlin instituto criar

favela do
moinho 77

nova estação
intermodal
[proposta]

oficina cultural
oswald de casa do povo
andrade

sesc bom retiro

colégio liceu
coração de jesus

estação julio
prestes

terminal princesa isabel


78
79
novos protagonistas urbanos
Nos vastos intervalos abandonados
proliferam-se favelas, comércio de
rua, atividades de reciclagem e outros
modos informais de ocupação do espaço
urbano. É onde grupos que na sociedade
contemporânea são socialmente excluídos
e desenvolvem diferentes dispositivos de
sobrevivência na metrópole [1]

Paralelo ao forte caráter histórico e tradicional do bairro Miguel Metralha, jornalista que
[2] – presente desde as ruínas e edifícios históricos trabalha em editora de revista de
degradados até os pequenos comércios locais – existe pornográfia na Luz. Cena de “O
Pornógrafo” de João Callegaro, 1970.
o esvaziamento estampado nas ruas, resultado do Cinema Marginal e Boca do Lixo.
processo industrial que por lá passou. A ausência do
poder público que abriu espaço para a marginalização
[3], a ocupação, a tomada do espaço por aqueles que lhe
tiveram para si.

Presencia-se na região: a Favela do Moinho, a famosa


região conhecida como Cracolândia, moradores de rua, Ao lado: Parque Minhocão.
catadores de papelão, cortiços, produtoras de cinema, Intervençao Muda_coletiva e
imigrantes, o coletivo Baixo Centro, a Galeria Baró, a Basurama Brasil. Apoio Baixo Centro.
Fotos Baixo Centro
Casa de Cultura Digital, a Associação Parque Minhocão,
80
entre outros... 1. PEIXOTO. Nelson Brissac. Arte/Ci-
dade Zona Leste Máquinas Urbanas.
Esses mesmos vazios que permitem o ilícito, e que São Paulo, Artedardo, 2011.p.15
podem ser vistos como negativo da cidade formal e 2. Entende-se o bairro tratado como
desejável, são os respiros que permitem as ocupações Barra Funda de Baixo / Santa Cecília,
região que mistura características
de borda, as manifestações legitimas da sociedade civil. dos dois bairros e se faz única, um
terceiro elemento.
Esse processo de reestruturação regional
3. A palavra marginalização não
se dá simultaneamente a uma intensa entendida como termo negativo, e
reorganização urbana, com massivos sim como forte oponente autônomo
investimentos em enclaves modernizados contra o não marginal, “formal”.
Tem-se assim como grande exemplo
e o completo abandono de vastas áreas o cinema marginal reconhecido
da cidade, sobretudo as zonas industriais. internacionalmente, que teve seu
berço no Campos Elíseos.
Surgem situações urbanas críticas.[4]
4. PEIXOTO, Nelson Brissac.
Berlim, Nova Iorque, Amsterdã, são cidades que viveram Paisagens Urbanas. São Paulo, Senac
São Paulo, 2004. p.50
esse momento de ressignificação de grandes glebas
industriais, também conhecidas como “constelações 5. Terrenos amplos, subutilizados.
espaciais” , através da subcultura. Iniciam-se como Termo utilizado por LANGE, Bastian.
“Espaços abertos temporários em
bairros perigosos, abandonados, mas que permitiram a Berlim”. In: ROSA, Marcos Leite
diversidade, o convívio, novas formas de ocupação, seja (Org.). Microplanejamento. Práticas
urbanas criativas. São Paulo, Editora
de moradia, seja artística cultural. de Cultura, 2011. p 180
81
Amsterdã tem uma tradição de intervenções por coletivos artísticos no
centro e conhece uma cultura de ocupação de prédios vazios desde os
anos 70, quando havia grande carência de moradia para estudantes e
recém-formados. [6]

O espaço urbano aberto deve ser experimentado, e podemos ver os movimentos


atuais que acontecem no Minhocão por exemplo. Surge essa nova figura urbana: os
“culturepreneur” [7] ou empredor cultural, que representa a figura catalisadora do
processo de renovação espacial e urbana.

De forma alguma vemos uma falta de vitalidade nos bairros, mas sim um descuido,
degradação, falta de segurança, má gestão pública. Ao observar o “mapa emotivo”
do bairro em questão percebemos este momento de revalorização e ressignificação.
E isso deve-se ao novo movimento de pessoas na área. Simples e apenas. Pessoas,
gente, seres, que usam, passam, consomem, fazem, trazem, expões, ousam, levam,
constroem, destroem, transformam.

Os protagonistas urbanos ocupam o Minhocão aos domingos, geram atividades Minhocão durante o Festival Baixo
noturnas e diurnas, articulam a população, promovem atividades, exigem, lutam, Centro, 2013. Foto Tiago Queiroz.

reúnem, criticam...Segundo Fernando de Melo Franco ”é o inter-relacionamento dos


conteúdos programáticos dessas faixas que constrói a potência desse lugar”. [8]

Há exemplos de revitalizações feitas em áreas de Nova Iorque e Berlim nos anos 80


82 e 90, em que iniciativas culturais foram tomadas, porém no eixo da subcultura. São
estruturas informais, uma arte com participação da comunidade local, vanguardista
e inovadora, tendo, como por exemplo em, Nova Iorque, iniciado com um movimento
Festa Junina na Rua Anhanguera
de invasão, consistindo na ocupação totalmente ilegal de artistas em antigos galpões 2013. Realizada pelo coletivo Galpão
industriais. A exemplo temos a Factory de Andy Warhol pioneira de ocupação no Soho, Anhaguera.
hoje um dos bairros mais valorizados de Manhattan.
6. NEFS, Marten. Incubadoras
urbanas. Políticas de revitalização
O papel de subculturas e coletivos de jovens têm suas iniciativas sendo capazes de urbana através de subculturas. A
reforçar estruturas sociais, gerar novos empregos, novas possibilidades econômicas experiência paulistana e o contexto
internacional. In: http://www.
nas áreas de turismo, arte e vida noturna. Ajudando na amenização dos efeitos vitruvius.com.br/revistas/read/
negativos da gentrificação – uma vez que se sabe que o local sofrerá tal impacto arquitextos/05.058/487
[como imaginamos na região da Luz]. 7. Termo utilizado por LANGE,
Bastian. “Espaços abertos
Berlim nos anos 70 e início dos 80 afirmou sua posição de ilha alternativa temporários em Berlim”. In:
na Alemanha e se tornou famosa internacionalmente por sua cena ROSA, Marcos Leite (Org.).
Microplanejamento. Práticas urbanas
subcultural, o movimento de invasão em Kreuzberg e estilo de vida criativas. São Paulo, Editora de
alternativo e punk. Depois da queda do Muro em 1989 uma cultura de Cultura, 2011. p. 178
clubes de música eletrônica e uma nova cena de arte se desenvolveram. 8. FRANCO. Fernando de Melo.
Os prédios industriais vazios, terrenos baldios e áreas que circundavam “Contrários e contraditórios”,
In: ROSA, Marcos Leite (Org.).
o Muro eram excelentes ambientes para as raves ilegais. A partir desta Microplanejamento. Práticas urbanas
cena underground uma rede informal de clubes de música eletrônica criativas. São Paulo, Editora de
surgiu.[9] Cultura, 2011. p. 142

9. NEFS, Marten. Op. Cit.


Um bom exemplo deste tipo de intervenção em São Paulo é a Rua Augusta, em
que através de iniciativas culturais privadas, clubes noturnos e casas de shows,
a rua ganhou fama e é reconhecida por sua diversidade de público 24 horas por
dia, recebendo desde turistas a prostitutas todos os dias. Deste modo garante-se
a diversidade programática e valoriza-se a região através de um processo natural,
envolvendo os moradores locais, diferente de processos de valorização imobiliária
que observamos regidas pela lei do mercado [muito comuns à São Paulo].

Factory de Andy Warhol. Soho, NY. Abre-se espaço para um estilo de vida alternativo, aberto, gera vida à região, atrai todo
tipo de público, traz diversos tipos de atividade. A área torna-se mais movimentada,
por consequência mais segura, por conseguinte valoriza-se – surgindo um segundo
problema que merece muita atenção: a “expulsão” das classes menos favorecidas.

O objetivo é minimizar a desigualdade dos lugares, uma das precondições


para se aproximar de uma intangível sustentabilidade e construir urbanidade
onde a história só tem aportado valores funcionais. Trata-se de outra visão
de paisagem, não recorrente em São Paulo, compreendida como espaço
destinado à morada. [10]

Queremos uma cidade que seja para a morada, para a cidadania, para todos.

Independente de como o processo de valorização da terra se der em determinada


gleba – amena debaixo pra cima, ou imposta de cima para baixo – sempre irá gerar a
segregação sócio espacial, de quem São Paulo é primeira vítima.
83
O que nos interessa tratar neste argumento é como munir a população para ao
menos compactuar com os processos. Dialogar: exigindo seus direitos cada vez mais,
Gordon Matta-Clark. Conical e lutando pelo que acreditam, pela sua morada.
Intersect, 1975

10. FRANCO. Fernando de Melo.


“Contrários e contraditórios”.
In: ROSA, Marcos Leite (Org.).
Microplanejamento. Práticas urbanas
criativas. São Paulo, Editora de
Cultura, 2011. P. 146
84
3.
projeto urbanístico e arquitetônico
85

Casa da Cultura e Cidadania.


Centro de Bairro na Barra
Funda de Baixo / Santa Cecília.
Equipamento gerido pela
subprefeitura da Sé. São Paulo SP
ÁGUA BRANCA

60.000
BARRA FUNDA
56.000m2 289.000m2

MOINHO

76.000m2
86

“As mudanças na esfera produtiva introduzidas no país


no fim do século 20 agem diretamente sobre as áreas
originalmente organizadas pela produção industrial. A
obsolescência das instalações do primeiro parque fabril,
associada à desconcentração industrial decorrente
do processo de reestruturação produtiva, coloca em
disponibilidade um estoque volumoso de áreas aptas a
uma redefinição de uso”
FRANCO. Fernando de Melo. Contrários e contraditórios, em: ROSA, Marcos
Leite (Org.). Microplanejamento. Práticas urbanas criativas. São Paulo, Editora
de Cultura, 2011. P. 146
Fonte: Bing Maps, 2013
Elaboração: MCLF, 2013
Fonte terrenos: Operação
Urbana Lapa-Brás 2009

0m2
87
LUZ

PARI

107.000m2

124.000m2
BRÁS BRESSER

70.000m2
104.000m2
A partir do princípio de que a metrópole

1_urbano
contemporânea tem como seu maior caráter a
presença simultânea do local e do metropolitano, como
duas escalas distintas, buscamos um modelo que trate
deste paradoxo de modo que eles consigam conviver,
assim como seus habitantes consigam se identificar.

A ideia seria reintegrar os vazios urbanos à cidade,


assumindo-os enquanto parte diversa do tecido
urbano tradicional e tornando-os pontos cruciais de
convergência e coexistência para a recostura proposta,
nos âmbitos territoriais, sociais e econômicos.

Para transformá-los em nós convergentes seria


necessário pensar no programa mais adequado para
abrigarem. Mas qual escala atender?

A resposta foi AMBAS. E então se assume a dificuldade.


Como tratar das duas escalas, metaforizadas na
própria linha férrea, que conecta pontos tão distantes e
fragmenta aquilo tão próximo?

Seria necessário identificar momentos para se


88 responder à cada escala. Assim como momentos que
se trabalharia ambas sobrepostas.

No estudo de caso aqui contemplado, grande parcela


de 60 mil m2 entre Bom Retiro, Campos Elíseos, Santa
Cecília e Barra Funda, optamos por atender ambas.
Trabalhando sempre numa resolução conjunta, que
viria a ser o grande desafio a solucionar.
subprefeitura da sé na rmsp

grandes terrenos

89
diretriz de atuação nos grandes terrenos

90
Situação Atual_

• trem para cargas e passageiros


• grande volume de passageiros Barra Funda, Luz, Brás
• estações sub utilizadas [Júlio Prestes]
• grandes pátios em Lapa, Luz, Pari
• barreira territorial com dificuldade para transposição de pedestres
• heterogeneidade de uso e ocupação do solo entre regiões a sul e norte da
ferrovia
• baixa densidade populacional no trecho norte
• condição de drenagem deficiente na região de várzea ao norte da ferrovia
• importante: considerar que haverá um aumento substancial da densidade de
habitantes
91
Situação Proposta_

• trilhos para transporte de pessoas não mais de cargas, com a construção


do ferroanel
• construção de novas estações entre as existentes
• aproveitamento dos grandes terrenos desocupados pela ferrovia para
implantação de novos espaços públicos, áreas verdes, sistema cicloviario, e
equipamentos nas escalas metropolitana e local;
• criação de conexões que permitam alternativas de deslocamento para
pedestres
• criação de transposições que ofereçam programas atrativos de permanência
ao longo do eixo da linha férrea
2_terreno

92

croquis de estudo
93
metro

situação
cptm

linha 1 azul

linha 3 vermelha

linha 16 [prevista 2025]

94
zeis e distritos

uso predominante do solo

ATUAL
comercial zeis 3

residencial

CENÁRIO misto região SUJEITA à


DENSIFICAÇAO_
CEPAC

misto
95

barra funda
bom retiro

santa cecilia campos eliseos


96
principais eixos
4

TRANSPOSIÇAO A JARDIM
PARQUE DESENVOLVER DA LUZ
AGUA
BRANCA 97

1 2 3

ANHANGABAU

legenda
1.av. são joão
2.av rio branco
3. av. do estado
4. av. norma p. gianotti
diretriz de ação 1

> Área permeável

> Âgua

metro_linha16
1
2
3
98

> Novas Transposições /


Ciclovia

> Percursos e vida

OBJETO
DESENVOLVIDO

5 1 2

>Vista do terreno a partir


da passarela existente.
Foto Marcus Vinicius
Damon. 2013
Elaboração MCLF, 2013
> Edificações e atividades
99

Imagina se aqui fosse


uma ciclovia???

Esse verde me faz


imaginar um parque ai!
100

Tomamos como partido o não


enterramento da linha férrea [forte
previssa da Operação Urbana
Lapa-Brás SMDU PMSP 2009]. Pois
acredito que não devemos apagar
nossa história para reescrevê-la.
Possuímos uma estrutura que não
nos deixará esquecer de nosso
passado industrial. Temos que
transformar a linha férrea em
paisagem natural a ser contemplada,
a imagem atual das ruínas obsoletas
em espaços públicos que reúnam,
muros que agregam, galpões que
ganham vida. A infraestrutura está
colocada, cabe a nós aproveitá-la e
devolver para a cidade o que sempre
lhe pertenceu, o convívio público e a
paisagem.
Fotos do terreno tiradas do trem pela
autora. 2013
1 Área permeável
O primeiro passo, foi imaginar uma grande área permeável,
partindo de uma massa árborea que funcionaria como o Jardim
em Movimento, conceito do paisagista francês Gilles Clément –
mata de baixa manutenção que é constituída de modo a se auto
replicar e se manter.

2 Água
O segundo momento foi o desejo do elemento água, que
se faria presente ao longo do terreno todo. O córrego
Anhanguera seria destamponado [assumindo que tal ação
só seria viabilizada se implementado um sistema de troncos
coletores ao longo dos rios afluentes ao Tiete]. E seria criado
um espelho d’água [5 cm apenas, para baixa manutenção e
101
evitar dificuldades de travessia], como elemento ordenador do
território, de modo a se implementar os programas ao longo
deste novo eixo criado.

3 Novas transposições / ciclovia


Imaginou-se uma travessia a aproximadamente cada 500m
ao longo da linha férrea. De modo a resultar em duas novas
transposições a se traçar neste estudo de caso. Assumindo
importantes eixos a serem conectados, decidiu-se por
desenhá-las como segue no mapa indicado.
Outro importante partido aqui contemplado é desativação dos
trilhos da linha 8 diamante do metro entre a Barra Funda e
a Júlio Prestes [estudos da CPTM provaram que estação JP
é subutilizada], realizando nesse trecho então um caminho
verde: com ciclovia, pista de corrida e espaço para caminhada e
descanso.
LINHA 8
CPTM

LINHA 7
CPTM

foto aérea s/ escala. fonte bingmaps2013

102

LINHA 8 SENA
CPTM audio

CICLOVIA

implantação geral da proposta


CÓRREGO RUÍNAS VIADUTO CRECHE FAVELA DO RUÍNAS
ANHANGUERA ORLANDO MOINHO RECEM
MURGEL PRAÇA DEMOLIDAS

AVENIDA SILOS
RIO
BRANCO

103

AC CACC CÓRREGO EMEF RUÍNAS VIADUTO CRECHE HABITAÇÃO ESTAÇÃO


ovisual ANHANGUERA ORLANDO INTERMODAL
PRAÇA
MURGEL METRO E TREM

CONSELHO PÁTIO ESPELHO UBS SILOS GRANDE MASSA


GESTOR D’AGUA AVENIDA MIRANTE ARBÓREA/
RIO JARDIM EM
BRANCO MOVIMENTO CICLOVIA
104
3_CACC
casa da cultura e cidadania
105

visita da janela do trem sentido barra funda - luz


106
107
córrego anhanguera córrego anhanguera

cptm linha 7 cptm linha 7

cptm linha 8 ciclovia

espelho d’água

_vazio _córrego aflorado _córrego aflorado


_muro _área verde _área verde
_grande barreira _respiro para a cidade _respiro para a cidade
_desqualificado _ciclovia no lugar da ferrovia _ciclovia no lugar da ferrovia
_inacessível _equipamento para bairro _equipamento para bairro
_POSSIBILIDADE _transposição
_centro de bairro sob passarela de
transposição
_metropolitano X local

108

EDUCAÇÃO/CULTURA/LAZER INFORMAÇÃO/REFEIÇÃO/DESCANSO/WI-FI
109
programa
ACOLHIMENTO

INFORMAÇÃO PRAÇA DE ATENDIMENTO


BALCÃO DO TRABALHO

ACESSO DIGITAL:
LEITURA/DESCANSO/

110

ATELIÊ CURSO DE IDIOMA


REFEITÓRIO

AUDITÓRIO

* Programa proposto por Jorge


Wilheim em que desempregados
da região poderiam encontrar
tarefas diárias para realizar nas
proximidades. Ver: WILHEIM, Jorge.
São Paulo uma Interpretação. São
Paulo, Editora Senac 2011.
EDUCAÇAO/CULTURA/LAZER CIDADANIA Organização municipal
de são paulo hoje

Um centro de bairro, gerido


pela subprefeitura, foi o
equipamento imaginado para SUBPREFEITURAS COM MAIS
apoiar a comunidade local AUTONOMIA
[cenário]
e fomentar sua dinâmica
econômica e social, nomeado
de CASA DA CULTURA E
CIDADANIA [CACC]. Um
espaço de sistematização
das atividades e serviços
oferecidos pela região,
como também espaço
para 1) ouvidoria [praça de
atendimento: hoje apenas 111
CENTROS DE BAIRRO PARA
presente na subprefeitura]; centro de bairro APOIO DAS SUBPREFEITURAS
2) balcão do trabalho*; 3) [cenário]
acesso a internet livre, leitura
e descanso de periódicos
online; 4) espaço para
usufruto dos moradores
locais, entendido na barra
funda como ateliês, oficinas,
espaço para exposição e
apresentações artísticas; e
5) um centro de idioma para
prioritariamente receber os
estrangeiros que trabalham FUNCIONAMENTO DE PARIS
na indústria têxtil para [exemplo]

aprender o português. Foi


imaginado também 6) um
espaço para reunião do PREFEITURA
conselho gestor do bairro SUBPREFEITURA
[eleito pela população local],
EQUIPAMENTOS
com sanitários e vestiários, MUNICIPAIS
juntamente com bicicletário e CENTRO DE BAIRRO
playground.
implantação

A
L

RU
AB
OR
_SENAC F

AC
112 EA C
RU
AA

E
NH

O D
REC
AN

RU AG B C
GU
ER

_CACC
A

ELEVAÇAO
B OESTE A

LOVIA
CAMINHO VERDE / CIC

RUA CAPISTRANO
_RUÍNAS

_EMEF

D
113

G C B

ACESSO
PRINCIPAL

A _CONSELHO LEGENDA PISO


GESTOR
A. CALÇADA: PEDRA DE GRANITO

B. GRAMA

C. PASSARELA: PISO DECK

RU D. PISO PEDRA PERMEAVEL


A
CN
SO E. MASSA ARBOREA INTENSA
NE
BI F. CORREGO DESTAMPONADO
AS
G. ESPELHO D’AGUA
114

perspectiva interna
SENAC

RUA GRECO

estrutura
CPTM

elevação oeste

CACC

CONSELHO
GESTOR
115
O jardim romântico de Rosa Kliass

referência:
parque da juventude_são paulo
Ao caminhar pela intervenção de Kliass no Parque da Juventude em São
Paulo, é impossível não sentir paz e quietude. O que antes representava
repressão, agora é elemento lúdico, promotor de convivência e bem-
estar à população. O usuário sente-se distante do presídio que ali
habitava [Carandiru].
O elemento que era antes um segregador, tornou-se o elemento
integrador. O que antes era motivo de alerta, virou fonte de prazer. O
muro neste projeto não é uma barreira, e sim um convite à um agradável
passeio. Se este possui alguma relação com a memória do presídio?
Quem decide é o usuário. Segundo palavras da autora: “Se você quiser
que exista uma relação com a memória do presídio, ela existe!”.

Ao andar pela obra, aquele que sabe o que o espaço representou, a


dor que provocou, pode sim enxergá-la como um memorial. Contudo
não de maneira negativa e sombria, e sim de modo transformador e
revigorante, deixando o passado no passado.

As memórias fortes do Carandiru, o impacto que causou no entorno,


podem ser totalmente superados por gerações futuras, e quem sabe
esquecidos por completo. Para que serviria preservar uma memória
116 de maneira árdua, que poderia em algumas décadas esvaziar-se de
sentido? Neste ponto de vista, Kliass realizou o projeto sob medida: não
chegou a comprometer o caráter lúdico, prazeroso e agradável de seu
jardim – tornando a visita um passeio denso e apreensivo – mas também
não se deixou fazer cair no esquecimento. O fator decisivo é a bagagem
de cada visitante.

O projeto, apesar de sujeito à interpretações, está longe da melancolia


em qualquer caminho escolhido. A memória, de alguma forma está no
ar poético das ruínas, no olhar metafórico daquele que observa o parque
da perspectiva do antigo vigia em cima do muro. Ela é sentida na pele.

Mesmo aquele que chega nu de conhecimentos sobre o passado do


local, percebe, através da clara demarcação e contraste, o que foi
objeto sujeito à intervenção e o que foi objeto interventivo. Por exemplo
da maneira que o aço corten é implementado, ao cicatrizar as falhas
da muralha de concreto indiscretamente. O diálogo com o passado é
realizado de maneira cética e clara, havendo uma clara diferenciação.
Até mesmo sugerindo uma mudança de comportamento: a muralha –
que antes era proibida para àqueles usuários do complexo quando ainda
presídio – agora é o ponto imperdível para àqueles que frequentam o
parque, podendo observá-lo com uma visão geral e ampla, apelidada por
Ruth Verde Zein de perspectiva vôo de pássaro.
117

fotos nelson kon


plantas

Um grande espaço amplo se constroi, de planta


livre, desenhado sempre com largos corredores
de passagem e algumas inflexões que contém
partes mais definidas do programa [sanitário,
cozinha e salas de aula]. O auditório foi colocado na
extremidade devido a dificuldade de trabalhar com planta térreo
um fluxo livre e contínuo dado tamanha extensão do
objeto: 145m de comprimento.

118 O programa se torna sempre fluído, não havendo


rupturas entre os espaços que acontecem ao longo
do grande salão. Sendo separados apenas por
diferentes cotas de nível e pé direito que variam ao
longo do percurso induzido.

Um momento importante do objeto é o mezanino que


se apresenta como uma varanda externa que corta
o volume internamente. Uma separação em vidro
transversal ao objeto a separa do interno, mantendo planta primeiro
suas extremidades abertas. Para acessá-lo pode
subir as escadas internas ou utilizar a rampa externa
que leva à cobertura [alternativa para quem quer
cruzar, pois há também um elevador e uma escada
no volume do conselho gestor]. É permitido o acesso
ao mezanino mesmo que a Casa esteja fechada -
em dias de apresentação noturna no auditório por
exemplo é possível acessá-lo.

O espaço é aqui entendido como democrático e de


todos. O acesso à informação e a ouvidoria são os
pontos fortes para a prática da cidadania conquistada
através do convívio, da educação e da formação planta cobertura
desses habitantes.
119
“Ao redefinir infraestrutura não apenas como sistema funcional, mas

corte longitudinal
como suporte para novos significados atribuídos pela negociação e
pelo compartilhamento de usos, poderemos promover a fricção entre a
universalidade da técnica com particularidades da cultura local. Ou fomentar
a reorganização de sistemas de escala metropolitana fechados, em um campo
aberto de possibilidades aderentes à localidade. Contrários e, por que não,
complementares”
[FRANCO. Fernando de Melo. Contrários e contraditórios, em: ROSA, Marcos Leite (Org.).
Microplanejamento. Práticas urbanas criativas. São Paulo, Editora de Cultura, 2011. p.146 ]

120
121

corte longitudinal

Transposição: As funções todas foram acopladas na base da edificação criada.


Em sua cobertura recebe uma larga transposição, com dimensão de 15 metros
de largura, para uso metropolitano e diário de quem trabalha na região e precisa
atravessar a linha férrea. Em sua generosa extensão permite que ocorreram
feiras e atividades de lazer, assim como um belo mirante para o vazio que ainda
se mantém desenhado. A larga cobertura se serve também da rede WI FI, e teto
jardim, transformando assim em uma passarela-praça.
cortes

corte transversal A

122

corte transversal B
123

corte transversal D
concurso open house vitra_concepção do perspectiva
cruzamento de dois prismas, buscando o externo
dentro do interno.

124

vista da treliça de aço

corte longitudinal. destaque para a varanda interna à edificação fonte acervo SPBR
A inserção do edifício se dá aproveitando as duas cotas de

referência:
midiateca da puc do rio_angelo bucci
nível, que caracterizam a área destinada, no campus da PUC -
Rio de Janeiro.

Assim como o térreo do projeto, seu programa se faz


duplo, dividido essencialmente em dois volumes: privado
(administrativo) e público (também chamado de o edifício). “A
possibilidade que este duplo térreo oferece se coaduna muito
bem com a natureza bi-partida do programa proposto para a
biblioteca, a saber: – acervo ou armazém, e administração;
 –
áreas de público, ou o edifício”. (Memorial descritivo projeto
SPBR)

Sem janelas na extensão longitudinal, o que garante


a iluminação do conjunto são as duas aberturas nas
extremidades do volume, no eixo norte e sul, e sheds na
cobertura. O salão principal, com 1.300 metros quadrados
(15m de largura, 90m de comprimento e pé direito de
9m) é iluminado pela varanda (única abertura no sentido
longitudinal), que se caracteriza por ser um pequeno volume
que rompe transversalmente o edifício, trazendo um ambiente
externo para o interior do projeto.

O que impressiona mais do projeto, é seu corte. A fluência 125


das áreas, a separação funcional, a utilização de mezaninos,
pés direitos duplos e até triplos, transformam o volume
prismático em uma única grande sala sem monotonia. A
separação dos ambientes cabe pela diferença de cota de
altura, agregando diferentes áreas em um mesmo espaço.
A transparência das ambiências deve-se também ao piso
transparente presente nas estruturas acima do salão
principal. Apenas a área de estudo, no último pavimento, cota
17,00m, encontra-se em um local mais reservado.

A estrutura do projeto é de aço, com treliça nas duas fachadas


principais, vão central de 45 metros e balanços de 15 e 30
metros. A decisão estrutural foi uma escolha posterior à
forma.

A linguagem do edifício instiga uma lógica de uso de concreto


armado, isso se deve ao fato de que, no início do processo
projetual, o escritório se debruçou sobre as duas opções
construtivas, e somente no meio do processo que se optou
definitivamente pelo aço, justificada através da leveza
da estrutura e das fundações, além da facilidade que se
conquistar o vão de 42 metros adotado formalmente.
A estrutura da edificação

modulação
foi imaginada a partir
da premissa da pré-
fabricação. Um módulo
que poderia ser
reproduzido em série,
com a cobertura no
topo e passível de se
elevar do chão para
a permeabilidade do
terreno. De modo a se
adaptar a diferentes
relevos e poder ser
reproduzido ao longo da
linha férrea sem limitação.

126

detalhe cobertura verde com piso elevado sem escala


legenda
1. MÓDULOS DE PISO
500X750mm
1
2. PISO ELEVADO

3. LAJE ALVEOLAR

4. TRELIÇA METALICA
DE AÇO PATINÁVEL
APARENTE 350mm 3 2
5. MONTANTES
50X100mm
6 5 4
6. CHAPA PERFURADA
DE COBRE

127
módulo explodido sem escala

5.0m
7.5m

módulos da cobertura 1/100


ampliação corte e elevação

128

elevaçao sem escala corte transversal C


129
130

vista do auditório vista da passarela


vista da rampa externa para varanda interna
vista aérea da passarela

131
132
bibliografia

visita da janela do trem sentido barra funda - luz


Bibliografia

ASCHER, François. Os novos princípios do urbanismo. Coleção RG bolso, volume 4.


São Paulo, Romano Guerra, 2010

BOGÉA, Marta. Cidade errante. Arquitetura em movimento. São Paulo, Senac São
Paulo, 2009

BRAGA, Milton Liebentritt de Almeida. Infraestrutura e projeto urbano. Tese de


doutorado. São Paulo, FAU USP, 2006

BUCCI, Angelo. São Paulo, razões de arquitetura. Da dissolução aos edifícios e de


como atravessar paredes. Coleção RG bolso, volume 6. São Paulo, Romano Guerra,
2010

BURDETT, Ricky, SUDJIC, Deyan [eds.]. Living in the endless city. Londres, Phaidon,
2011

CARERI, Francesco. Walkscapes. O caminhar como prática estética. 1ª Edição,


Barcelona, Gustavo Gili, 2013

CASTELLO, Lineu. Da sustentabilidade da subjetividade: o projeto IBA Emscher


Park, Arquitextos, número 42.01. São Paulo, Portal Vitruvius, novembro de 2003.
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.042/636
133
Centro Diálogo Aberto. São Paulo, SP Urbanismo, 2013

CLÉMENT, Gilles. Le Jardin en movement. http://www.gillesclement.com/cat-


mouvement-tit-Le-Jardin-en-Mouvement, acessado 14 de julho de 2013.

CORBOU, Michel. Le Jardin font la ville. Rio de Janeiro, Aliança Francesa do Brasil,
2013

DPH. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo. São Paulo, Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, 2012

FRANCO, Fernando de Mello; et. al. São Paulo: redes e lugares. In: Vitruvius,
Arquitextos, São Paulo, 07.077, out 2006 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/
arquitextos/07.077/307>

FRANCO, Fernando de Mello. A construção do caminho: a estruturação da


metrópole através da conformação técnica da Bacia de São Paulo. Tese de
doutorado. São Paulo, FAU USP, 2005

GEHL, Jan. La humanización del espacio urbano: la vida social entre los edificios.
Barcelona, Editorial Reverté, 2006

GEHL, Jan. Cidade para pessoas. São Paulo, Editora Perspectiva. 2013
GUERRA, Abilio. Grotão do Bixiga. Arquiteturismo, São Paulo, ano 06, n.
064.01, Vitruvius, jun. 2012 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/
arquiteturismo/06.064/4389>

JACQUES, Paola Berenstein. Breve histórico da Internacional Situacionista – IS.


Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 035.05, Vitruvius, abr. 2003 <http://www.vitruvius.
com.br/revistas/read/arquitextos/03.035/696>

MACEDO, Silvio Soares (Org.). Paisagismo brasileiro. Guia de parques e praças. São
Paulo, Edusp, 1999

MEYER, Regina Maria Prosperi; GROSTEIN, Marta Dora. A leste do centro.


Territórios do urbanismo. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010

MONTANER, Josep Maria. Sistemas Arquitetônicos Contemporâneos. 1a edição,


Barcelona, Gustavo Gili, 2008

MUMFORD, Lewis. A cidade na História: suas origens, transformações e


perspectivas. São Paulo, Martins Fontes, 1998

NEFS, Marten. Incubadoras urbanas. Políticas de revitalização urbana através de


subculturas. A experiência paulistana e o contexto internacional. In: http://www.
vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/487
134 NETO, José Police [org.]. Plano de Bairro: Perus em transformação. São Paulo. Cia.
Dos Livros, 2012

NEUTRA, Richard. Arquitetura social em países de climas quentes. Tipogrfia Edanee


Ltda, 1948

OLIVEIRA, Olivia de. Lina Bo Bardi – Sutis substâncias da arquitetura. São Paulo,
Romano Guerra / Gustavo Gili, 2006

PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas. São Paulo, Senac São Paulo, 2004

PEIXOTO. Nelson Brissac. Arte/Cidade Zona Leste Máquinas Urbanas. São Paulo,
Artedardo, 2011

PEIXOTO. Nelson Brissac. Intervenções urbanas: Arte/Cidade. São Paulo. Editora


Senac, 2012

ROSA, Marcos Leite (Org.). Microplanejamento. Práticas urbanas criativas. São


Paulo, Editora de Cultura, 2011

SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito [1903]. Rio de Janeiro,


Mana, v. 11, n. 2, out. 2005

SOLÀ-MORALES, Ignasi. Presentes y Futuros. La arquitectura en las ciudades.


Barcelona, Collegi Oficial d’Arquitectes de Catalunya / Centre de Cultura
Contemporània. 1996, 10-23

SOLÀ-MORALES, Ignasi. Terrain Vague. Cambridge, MIT Press, 1995

VILLAÇA, Flávio. A produção e o uso da imagem do centro da cidade: o caso de São


Paulo e a responsabilidade das elites e a decadência dos centros de São Paulo e
Rio. Textos de estudos. Não publicados. 1993

VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo, Studio Nobel, 1998

TOURINHO, Andréa de Oliveira. Do Centro aos centros: bases teórico-conceituais


para o estudo da centralidade em São Paulo. Tese de Doutorado, FAU USP, 2004

SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito [1903]. Rio de Janeiro,


Mana, v. 11, n. 2, out. 2005

WILHEIM, Jorge. Projeto São Paulo: propostas e melhorias da vida urbana. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1982

WILHEIM, Jorge. São Paulo uma Interpretação. São Paulo, Editora Senac, 2011

135
136

prancha de projeto entregue novembro 2013


137
138
139
140

Anda mungkin juga menyukai