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A INFLUENCIA DAS LENDAS ARTHURIANAS NO IMAGINÁRIO E

COTIDIANO MEDIEVAL

Artigo apresentado ao professor da disciplina


Historia Medieval do segundo período do
Curso de História do ISED/FUNEDI/UEMG
como requisito parcial para a conclusão desse
período.

DIVINÓPOLIS-2009
A INFLUENCIA DAS LENDAS ARTHURIANAS NO IMAGINÁRIO E
COTIDIANO MEDIEVAL

Carla Fonseca de Morais


Aluna do Curso de História/ISED/FUNEDI/UEMG

RESUMO

O presente artigo busca compreender como as lendas arthurianas influenciaram no


imaginário e no cotidiano medieval e mostra alguns dados que remetem a existência de
Arthur.

Palavras-chave: Arthur. Idade Média. Lendas. Imaginário. Graal.

INTRODUÇÃO

Estas coisas aconteceram há muito, muito tempo, numa


terra chamada Grã-Bretanha. O bispo Sansum, que
Deus abençoe acima de todos os santos vivos ou
mortos, diz que estas memórias deviam arder no fogo
do inferno com todo o resto da podridão da
humanidade decadente, pois estas são as histórias dos
dias que antecederam a descida das grandes trevas
sobre a luz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Estas são as
histórias das terras a que chamamos Lloegyr, que
significa Terras Perdidas, do país que outrora foi nosso,
mas ao qual os nossos inimigos chamam agora
Inglaterra. Estas são as histórias de Artur, o Senhor da
Guerra, o Rei que Nunca Existiu, o Inimigo de Deus e,
que o Cristo Vivo me perdoe, o melhor homem que
jamais conheci. Como eu chorei por Artur.
Bernard Cornwel. O Rei do Inverno

Ao falar em Idade Média muitas pessoas se lembram das lendas, dos mitos, dos
romances de cavalaria envolvendo seres fantásticos como: fadas, dragões, monstros,
duendes, heróis, lugares mágicos, serpentes do mar, etc. Filmes, livros, séries de
televisão adotam o riquíssimo imaginário medieval para seus roteiros, dando lugar a
imaginação fantástica que alimenta a curiosidade humana. Entretanto na própria Idade
Média nos séculos XI a XIII houve uma explosão de romances escritos e entre eles
muitos derivados das lendas Arthurianas. “Na Idade Media este era o grande tema, em
poesia e em prosa. Não só na Ingaterra, mas proeminentemente na França e na
Alemanha haviam romances de Artur... em todo idioma da cristandade.”1

1
ASHE, Geoffrey. Introdução ao Rei Artur.
Disponível em:
<http://assets4.scribd.com/doc/7074599/Geoffrey-Ashe-InTRODUCAO-AO-REI-ARTHUR-Traducao-
Por-Emerson-de-Oliveira> Acesso em: 28 nov 2009

2
Na minha adolescência li muitos romances baseados na figura do lendário Rei
Arthur, entre eles a trilogia de Bernard Cornwel composta pelos livros: Rei do Inverno,
O Inimigo de Deus e Excalibur. Ao ler estas obras me interessei pelo assunto e comecei
a pesquisar sobre as origens da lenda e sua repercussão na Idade Média. Este artigo é
uma busca de compreender como os mitos e lendas principalmente aqueles envolvendo
a figura do rei Arthur, influenciou e fez parte do cotidiano dos medievos.
Após os Annales a história incorpora elementos do cotidiano e da mentalidade
dos homens como objetos de estudos. Para uma melhor compreensão, o historiador
busca analisar certo período histórico com o olhar do sujeito que vivia na determinada
época, ou seja, em um estudo sobre a Idade Media, deve-se buscar ao analisar o período,
ter um olhar de um medievo, da pessoa que estava inserido na época. E qual a
importância das lendas e mitos para se compreender o período medieval? É que as
pessoas que viviam na idade média, estavam rodeadas de um riquíssimo imaginário e
isto consequentemente influenciou na vida delas.

Como a maioria das civilizações. E talvez mais até do


que muitas delas, a civilização medieval foi fascinada
por tudo o que dizia a respeito ao sobrenatural e ao
extraordinário. Mas o que a caracteriza com maior
particularidade é o seu interesse pelos limites do
sobrenatural, interesse que sucitava reações de ordem
religiosa, estética e mesmo científica.2

Os mitos e lendas medievais eram repassados de gerações para gerações através


da oralidade, o que consequentemente resultou nas mais variadas versões de uma
mesma lenda que é o caso da lenda do rei Arthur. Baseando-se em diversos autores
como: Jacque Le Goof, G. Duby, Carolina Moreira Reis, Geoffrey Ashe, Giba Stam,
Ken Dark, Reinaldo José Lopes, Adriana Zierer e outros, busco conhecer um pouco as
várias versões das lendas arthurianas, alguns pontos que levam a hipóteses da existência
de Arthur e como essas lendas repercutiram na Idade Média.

A ORIGEM CELTICA DE ARTHUR

Os celtas segundo alguns autores são de origens desconhecidas, muitas lendas e


mitos são originados desses povos politeístas que tinham como prática contar histórias e
transmiti-las oralmente de gerações para gerações. “Em geral, os celtas eram ágrafos e a
2
LE GOFF, Jacques. Maravilhoso. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário
Temático do Ocidente Medival. Bauru, SP: EDUSC, 2002, vol.1 p.105

3
3
transmissão de seu saber, de sua cultura e de suas lendas era oral.” Eram povos bem
antigos que segundo um artigo da revista Limites da Nossa História:

Suas origens são desconhecidas, mas regredindo 3000


anos no tempo, já encontramos relatos de que os celtas
haviam espalhado por toda a Europa dando origem,
entre outros, os povos conhecidos como góticos,
gauleses e britânicos. Viveram onde hoje fica a Espanha
e se chamavam ibéricos. Ocuparam a Ásia Menor sob o
nome de gálatas. Seu domínio estendiam-se do norte da
Escócia, até as praias setentrionais da Espanha e
Portugal e das costas da Alemanha, até a capital romana.
Seu território era limitado a oeste pelo Atlântico e leste
pelo Mar Negro. Povos nórdicos, conhecidos por
saberem trabalhar com metais, eles enfeitavam suas
mulheres com ouro e se protegiam através de escudos de
ferro. Revelaram uma imaginação prodigiosa,
dedicando-se à poesia e a contar histórias. Seu
repertório incluía uma grande variedade de lendas
mágicas.4

Entretanto segundo Caroline Moreira “já que antes ser um povo homogêneo, ser
celta era, na verdade, ter uma série de tradições em comum.” 5, ou seja, eles poderiam
viver em vários lugares distintos e o que os ligavam entre si eram seus hábitos e
costumes em comum. As lendas celtas tinham como características a presença do
sobrenatural, de elementos mágicos.
A lenda do rei Arthur contém diversas versões que chegaram até os dias atuais. A
sua origem pode ser considerada em um texto escrito por um monge de nome Gildas do
século VI, encontrado na França e em canções de gesta. Entretanto o nome exato de
Arthur aparecerá pela primeira vez em um romance escrito por Nennius (também um
monge, mas de origem britânica) chamado: Historia Brittonum (História dos Bretões).

Ele conta 12 grandes vitórias de um líder corajoso e


inteligentíssimo chamado Artur, que teria colecionado
vitórias sobre os saxões, culminando com o triunfo em
Monte Badon... A obra de Nennius apresenta novos
componentes retirados de lendas celtas e galesas. Ele
conta, por exemplo, que em uma batalha, Artur teria
matado 940 inimigos com um só golpe. Essa era uma
forma tradicional nas narrativas celtas: incluir feitos
obviamente inverídicos fazia crescer a fama do
guerreiro. A maior novidade acrescida por Nennius, o
nome Artur, também tem uma referência na mitologia
celta: uma coletânea de lendas sobre antigos heróis

3
REIS, Moreira Carolina. A Memória da Matéria de Bretanha em narrativas de Álvaro Cunqueiro e
Méndez Ferrín. RJ:UERJ, 2007 p.25
4
? . A Perdido nas Brumas Estranha Origem do Nome Do Brasil. Revista Limites. São Paulo: Abril,1995
5
Idem 3

4
galeses chamada Mabinogion fala de um líder chamado
Artur.6

No século XII por volta de 1135 e 1136 Geoffrey de Monmouth consolida a


figura de Arthur como um rei na obra: Historia Regnum Brithanniae (história dos reis da
Bretanha) produzida com influencias do textos de Gildas, fontes orais bretãs e gaulesas
e claro também da sua própria imaginação. A história começa relatando a origem do
povo bretão, que segundo ele foi fruto da colonização dos troianos por volta do século
XII a.C. Há uma mistura de fatos reais e mitológicos de origem celta como a figura do
famoso mago Merlim que foi responsável pelo nascimento de Arthur, o rei que salvaria
a Bretanha da mão dos invasores Saxões, a espada Excalibur, figuras como fadas,
monstros das quais Arthur enfrenta e também lugares como a ilha de Avalon para onde
depois de ser ferido o rei é levado.7
A espada Excalibur pode ser considerada um elemento celta na lenda, devido a
arma representar para esses povos um objeto sagrado e individual para cada guerreiro,
tanto que quando cada guerreiro morria a espada deveria ser jogada em um lago (muitas
espadas foram encontradas por arqueólogos em fundos de lagos nas regiões onde os
celtas viveram). A espada antes de ser batizada por Excalibur na história do clérigo
Geoffrey, ela teve vários nomes em outros registros como Caliburn e Caladfwlch. Esse
objeto tinha como utilidade dar uma força sobrenatural a Arthur, conta a lenda que ela
foi forjada em Avalon, uma ilha sagrada por deuses (característica de muitas lendas
medievais, misturar o real com o maravilhoso, o além). G. Duby fala que na Idade
Média por volta do século XI:

Os utensílios em que esse tempo coloca o maior


empenho em modelar, aqueles cujo o peso simbólico era
maior de todos, são as espadas. Insígnia de um “ofício”,
de uma profissão reputada nobre, instrumento de
repressão, da exploração do povo, o gládio, mais que o
cavalo, distingue o cavaleiro dos outros homens.
Ploclama-lhe a superioridade social. Acredita-se que as
espadas dos príncipes são fabricadas num passado
lendário, muito anterior a envangelização, por semi-
seuses artesãos. Elas são envolvidas por talismãs. Têm
os nomes deles. As espadas no ano mil é como uma

6
STAM, Giba. O Verdadeiro Rei Artur. Revista Aventuras na História. São Paulo, SP: Editora Abril.n.75.
Outubro de 2009
Disponível em:
http://historia.abril.com.br/gente/verdadeiro-rei-artur-433395.shtml Acesso em: 28 de nov 2009
7
Os relatos sobre a obra de Geoffrey Monmouth é baseado nos textos: REIS, Caroline Moreira (idem 3) e
de STAM, Giba (idem 6).

5
pessoa. Na hora de sua morte, sabemos, a primeira
preocupação de Rolando foi para com Durandal.8

Nestre trecho do texto de Duby, mostra como as lendas influenciavam os


medievos e então faziam parte do imaginário deles. E como essa permanência de
valorizar esse objeto remonta a tempos antigos e se fixou até a baixa Idade Média. Ele
cita uma outra lenda que se deriva de uma canção de gesta que é a de Rolando,
personagem sobrinho do famoso rei Carlos Magno, entretanto o elemento maravilhoso
na lenda se foca na espada chamada Durandal que dava força a ele, porém uma força
vinda do Deus cristão diferentemente da força que emanava de Excalibur, que foi uma
espada de origem de divindades pagãs.

Tanto as obra de Nennium e de Monmouth tem um ponto principal que é a


vitória do Monte Badon por volta de 517. “De fato, a arqueologia comprova que na
época que sucede a batalha, as invasões na Bretanha diminuíram e as tribos puderam
desfrutar de uma certa paz que duraria algumas décadas.”9, ou seja, tem a possibilidade
desta batalha ter mesmo ocorrido. A batalha ocorre para conter a invasão dos saxões,
povos estes denominados bárbaros pelos romanos. Vale lembrar que o contexto dessa
época do século V e VI no Ocidente, estavam ocorrendo ainda as chamadas Invasões
Bárbaras. Que segundo Jacques Le Goff:

As causas das invasões importam-nos pouco.


Crescimento demográfico ou atracção por territórios
mais ricos, como Jordanes invoca, foram motivos que
provavelmente só actuaram na seqüência de um impulso
inicial que poderia muito bem ter sido uma modificação
do clima, um arrefecimento que, da Sibéria à
Escandinava, teria feito diminuir as terras de cultivo e
de criação de gado dos povos bárbaros e os teria posto
em movimento, empurrando-se uns aos outros, para o
sul e para o oeste até às Finisterras ocidentais: a
Bretanha, que iria ser a Inglaterra... No início do século
VI, a partilha do Ocidente parece estar garantida entre
os Anglos- Saxões, numa Grã-Bretanha completamente
isolada.10

O contexto da época corresponde com o contexto das lendas escritas pelos


autores Nennium e Monmouth. Como disse o historiador da Universidade de
Cambridge, Inglaterra, e autor do livro A Descoberta de Rei Artur Geoffrey Ashe que

8
DUBY, G. A Europa na idade média. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.6
9
Idem 6
10
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Estampa, 1983. v.1. p.30-45

6
dados arqueológicos mostra que na época, os bretões estavam deixando as cidades e
passando a povoar lugares mais isolados, como fortes em colinas devido as invasões
saxãs.11
A figura de um Rei Bretão como Arthur que segundo o conto de Monmouth, foi
fruto de uma profecia do mago Merlim na qual dizia que ele seria o rei que salvaria a
Bretanha dos Saxões, tem bases históricas. Primeiramente vale relatar a situação
britânica no período que Monmouth data a vida de Arthur, “É um fato que as pessoas da
Inglaterra eram as pessoas Célticas, os antepassados dos gauleses, e que eles ficaram
independentes de Roma, em algum lugar aproximadamente no ano 410.” 12, ou seja, a
Inglaterra não estava mais submetida a Roma, ela estava “autônoma”. Entretanto
começa as invasões do saxões no início do século VI, o que consequentemente leva aos
britânicos a se movimentarem. A figura de Arthur, é no conto, a salvação para aquele
povo que estava em conflito primeiramente contra os romanos e no século VI com os
novos invasores os saxões.
Analisando Arthur como um rei Bretão, primeiramente a época não se remete a
uma monarquia concretizada. Arthur passa a ser considerado rei por ser um chefe militar
de “sucesso”. Segundo Ken Dark em um relatório postado na revista eletrônica Bhistish
Archaeology em março de 1998:

A interpretação convencional da arqueologia e da


história das áreas que estavam em mãos britânicas
durante os séculos V e VI, é que o controle político
rapidamente foi transferido para os senhores de guerra
local. O resíduo de romanização só permaneceu nos
mosteiros e entre o clero, enquanto a cultura secular
rapidamente veio a assemelhar-se a Idade do Ferro pré-
Romana. Esta visão atribuiu muito peso a prova escrita e
mais cedo a poesia gaulês heiroica que retrata um
mundo de aristocracias guerreiras, de luta e de festa,
muito ao contrário das imagens convencionais do
Império Romano-Bretanha, mas que, se
pertinentemente, diz respeito principalmente ao extremo
norte da que tinha sido a Roman Britain.13

11
ASHE, Geoffrey. Introdução ao Rei Artur.
Disponível em:
<http://assets4.scribd.com/doc/7074599/Geoffrey-Ashe-InTRODUCAO-AO-REI-ARTHUR-Traducao-
Por-Emerson-de-Oliveira> Acesso em: 28 nov 2009
12
Idem 11
13
DARK, Ken. Séculos de sobrevivência Romano no Ocidente. Revista British Archaeology. Ed.março
1998. n. 32.
Disponível em:
<http://www.britarch.ac.uk/ba/> Acesso em: 28 de nov de 2009

7
O contexto social da época na Bretanha (que corresponde hoje ao norte da
França e ao Reino Unido) como foi dito anteriormente era das pessoas deixando as
cidades para lugares como colinas e outros devido as invasões. A miséria entre esses
povos também era relevante, e a busca de segurança era característica daquele tempo.
Depois de Roma ter retirado seu domínio sobre a Bretanha por volta de 410, apesar dos
bretões serem submetidos aos romanos, eles tinha a proteção militar que vinha do
império impedindo a invasão de outros povos. Contudo os bretões pouco deixaram
influenciarem pela cultura romana, não que eles não adquiriram elementos desta, porem
a sociedade ainda era basicamente dividida em pessoas comuns e em uma aristocracia
guerreira. Arthur pode ser considerado parte dessa aristocracia guerreira, que em
denominadas áreas se denominavam reis, como na História Regnum Brithanniae ele era
filho de bastardo de Uther naquele momento era rei, mas entretanto na história mostra
vários reinos formados na Bretanha, contudo esses reis eram tipos guerreiros de
destaque, ou seja, integrantes da elite guerreira.

A elite que escapava dessa pobreza era composta por


alguns bretões romanizados, que desfrutavam de um
conforto um pouco maior, vivendo em habitações
fortificadas de pedra e de madeira, que chegavam até a
importar produtos finos como o vinho. Era nesse grupo
de privilegiados que se formavam os guerreiros, e Artur
teria vivido entre eles, onde aprendeu a usar a espada e a
lança.14

O personagem de Arthur se remete a um chefe guerreiro, que por ter salvo os


bretões por algum bom tempo do avanço dos saxões foi considerado como rei, existia
reis, mas a Inglaterra não pode ser considerada uma monarquia na época, esses reis
eram mais regionais. L. Alcock e S. Knight em um texto do Dicionário Ilustrado da
Idade Média fala que o que pode se dizer sobre o lendário Athur é que ele “parece ter
sido um chefe de clã britânico que capitaneou uma força militar, agindo em nome dos
reis britânicos”, ou seja, a construção do personagem como uma figura de rei pode ter
sido construída a posteriore e “ que pode ter tido uma participação decisiva para

14
STAM, Giba. O Verdadeiro Rei Artur. Revista Aventuras na História. São Paulo, SP: Editora
Abril.n.75. Outubro de 2009
Disponível em:
http://historia.abril.com.br/gente/verdadeiro-rei-artur-433395.shtml Acesso em: 28 de nov 2009

8
garantir a vitória numa importante batalha em Mount Badon, nos primeiros anos do
século VI.”15
O conto dos Reis da Bretanha também fala do amor de Arthur para com
Guinevere, e de seu sobrinho Mordred que toma a posição de rei de Arthur e se adultera
com sua esposa, mas no fim Arthur se vinga do sobrinho em uma batalha. Nesta batalha
Arthur sai gravemente ferido e é levado para a ilha de Avalon (a ilha mágica), não da
para saber se ele morreu ou viveu, não há margem de resposta na história de Monmouth.
A obra foi considerada um meio de grande influencia na Inglaterra para consolidação
dos reis.
O livro de Monmouth transformou o guerreiro bretão
em príncipe da cristandade: corajoso, justo, respeitado e
invencível. Seu objetivo, segundo Adriana Zierer, era
legitimar o poder dos reis ingleses. A obra teve tanta
influência que por 600 anos foi considerada a versão
oficial da história britânica.16

Vê-se que tamanha era a influência que exerceu a lenda, principalmente na


Inglaterra, tornando-se um mito que ajudou na construção de uma monarquia e um
Estado posteriormente, explicando a origem dos britânicos. Como disse Marc Bloch em
a Apologia da História, que o mito é uma forma de história usada desde a antiguidade
para que um povo se identifique entre si, criando então uma forma de diferenciar dos
outros.

O GRAAL: UM ELEMENTO CRISTÃO INCORPORADO NA LENDA.

Como já mencionei anteriormente, as lendas Arthurianas teve diversas versões


na Idade Media e até aos dias atuais essas se encontram presentes. Ao passar do tempo a
lenda foi incorporando elementos como o amor de Guinevere, esposa de Arthur com
Lancelot e o Santo Graal. O Santo Graal aparece pela primeira vez em um romance
escrito por Chrétien de Troyes de 1162 a 1182: Perceval le Gallois ou Le conte du
Graal, na verdade foram sete novelas que pela primeira vez uniu a figura de Arthur com
a do Santo Graal. O Santo Graal é um objeto que se remete a figura de Cristo, e ao

15
LOYN, Henry R. (org); CABRAL, Álvaro (trad); JÚNIOR, Hilário Franco(rev).Dicionário Ilustrado
da Idade Média. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Ed., 1997. p.94
16
STAM, Giba. O Verdadeiro Rei Artur. Revista Aventuras na História. São Paulo, SP: Editora Abril.n.75.
Outubro de 2009
Disponível em:
http://historia.abril.com.br/gente/verdadeiro-rei-artur-433395.shtml Acesso em: 28 de nov 2009

9
incorporar este objeto na lenda nota-se a influencia cristã no imaginário medieval. Por
volta do século XI a igreja já estava basicamente consolidada em uma posição
previlegiada de poder, o que a permitiu a ter uma forte influência no imaginário da
Idade Média e que consequentemente influenciava no comportamento dos medievos.
Caroline Moreira Reis mostra que ao introduzir um elemento cristão na lenda entre
outros motivos, um deles foi uma forma dos celtas recém cristianizados pudessem
continuar a se encontrarem em seus ideais imaginários, mantendo assim parte de suas
tradições vivas:

Ainda assim, houve mudanças entre as lendas celtas e as


narrativas medievais que tratam de Arthur em razão a
cristianização do mundo ocidental, ainda que, segundo
Ashe, os celtas cristãos da Britânia e Irlanda
mantivessem “uma atitude receptiva para com os deuses
e deusas de épocas anteriores”, porque os “cristãos
destas terras desejam continuar crendo neles”. Deste
modo, estes deuses já não poderiam sobreviver como
mitos ligeiramente dissimulados de reis, rainhas, magos
e fadas.17

Esta inserção de elementos cristãos a lenda devido à cristianização, a partir do


século XI rendeu várias obras, entre as mais importante foi a Chrétien de Troyes um
romancista francês. No conto de Troyes o Graal é um prato ou tigela cravejado de
pedras preciosas que carrega uma hóstia da qual Percival (um cavalheiro de Arthur), ao
ir a um castelo de um Rei pescador, assiste uma cena na hora do jantar na qual a peça é
tipo um objeto de veneração e que tem poder mágico. Só que no dia seguinte ao do
jantar todos da casa desaparecem e Percival fica sozinho, só depois ao encontrar um
eremita que ele sabe o significado daquela peça deslumbrante. A história de Chrétien é
interrompida neste ponto, o que segundo vários autores o autor morre antes de concluir
a história. O fato é que a França nesta época era uma da regiões mais cristãs, e o escritor
era um francês e cristão e isso resultou na cristianização da corte do rei Arthur.
A história ganha os mais variados fins e algumas transformações posteriormente
por outros autores. “O fato é que, apenas meio século após a morte do autor, havia
surgido nada menos que 18 continuações, prólogos ou novas versões da história do
Graal.”18. A Estoire dou Graal (c. 1200), de Robert de Boron , a Demanda do Santo
Graal (séc. XIII), de um autor desconhecido e a Le Morte d`Arthur (A Morte do Rei

17
REIS, Moreira Carolina. A Memória da Matéria de Bretanha em narrativas de Álvaro Cunqueiro e
Méndez Ferrín. RJ:UERJ, 2007 p.25
18
LOPES, Reinaldo José. A saga do Santo Graal. In: Revista Aventuras na História. Editora Abril n.59,
Junho de 2008

10
Artur, sem versão em português) (1469-70), de Thomas Malory foram as obras que mais
destacaram sobre o assunto. As obras de Boron e a Demanda do Santo Graal se referem
ao Graal como um prato ou um cálice, como explica Reinaldo José Lopes:

Robert de Boron e o autor desconhecido de A Demanda


do Santo Graal, fizeram uma espécie de equação entre a
lança que sangra (um bocado parecida com a lança de
Longino aquela do envangelho de Nicodemos) e o Graal
que carrega a Hóstia. E concluíram que na verdade, o
recepiente só podia ser o prato (ou cálice) sagrado.19

Já Thomas de Malory ao escrever Le Morte d’ Arthur faz uma narrativa que


junta os elementos das narrativas feitas anteriormente . Nela Arthur aparece como um
homem justo e com uma inegável força. Imagem da qual até hoje é assemelhada ao
lendário rei. “A Morte d’Arthur, de Malory, mostra a progressiva espiritualização do
romance secular. Cavaleiros que se esforçaram por atingir a perfeição.” 20, ou seja, a
busca de perfeição da figura do cavaleiro pode ser percebida até através das lendas
medievais, estas mostravam o como a figura do cavaleiro tinha destaque no meio
social, e como os ideais cristãos eram valorizados por essas pessoas da época. “A busca
do Santo Graal na literatura medieval converte-se em sinônimo da busca de perfeição
pelo cavaleiro”. Não apenas a obra de Malory, mas desde a obra de Chrétien de Troyes
que busca a propagação dos ideais dos cavaleiro: “ Sua principal preocupação parece ter
sido as atitudes, hábitos e crenças que caracterizavam a cavalaria de seu tempo, e suas
implicações morais.”21

CONCLUSÃO:

As lendas Arthurianas tiveram um grande destaque e enorme influência no


imaginário medieval por ser uma das mais populares da época. A explosão de romances
derivados da lenda do século XI adiante, remete a propagação dos ideais da cavalaria
pela igreja, ou seja, os romances no contexto medieval tinham um enorme poder de
persuasão, o que se pode concluir que estes eram tomados muitas vezes como uma
verdade. Como foi dito anteriormente no presente artigo, a obra de Monmouth: Historia
Regnum Brithanniae, foi tida como uma história da própria Inglaterra no tempo que ela

19
Idem 17
20
LOYN, Henry R. (org); CABRAL, Álvaro (trad); JÚNIOR, Hilário Franco(rev).Dicionário Ilustrado
da Idade Média. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Ed., 1997. p.780
21
Idem 19

11
foi escrita, uma história que buscou a construir um sentimento de pertencimento aquele
lugar e ajudou na construção de uma monarquia posteriormente.
Segundo Adriana Zierer as lendas do Rei Arthur em Portugal teve como função
além de propagar os ideais da cavalaria, um interesse particular. Esse interesse foi da
parte do rei Afonso III. Isso leva a concluir que de certa forma as lendas e mitos tinham
uma função ideológica no cenário medieval.

No século XIII as obras arthurianas circulavam


amplamente em Portugal através da ação dos recitadores
e cantores, que difundiam o ideal cavaleiresco na
Europa Ocidental. No entanto chama a atenção o fato
destas obras terem sido postas por escrito justamente no
governo de Afonso III (1248- 1279)... Afonso III foi
vitorioso nos combates (a guerra civil durou entre 1245
e 1248) e, desta forma, uma imagem positiva foi
vinculada a sua figura, a qual se beneficiou também a
idéia do rei invencível representado por Arthur.22

O Santo Graal ao ser inserido na lenda teve também uma enorme repercussão
para os medievos, pois resultou em diversas buscas pelo o objeto nos mais variados
lugares e pelas mais variadas pessoas. O objeto Sagrado chegou a encantar as pessoas
da Idade Média, que o mosteiro de Glastonbury localizado na Inglaterra durante:

O século XII assistiu ao florescimento das lendas que


tornaram a abadia famosa numa escala européia: a
atribuição de uma visita de José de Arimatéia no século
I de nossa era e a proliferação das lendas arturianas,
culminando na descoberta dos supostos túmulos de
Artur e Guinevere no começo da década de 1190.
Glastonbury tornou-se um grande centro de
peregrinação e outros temas lendários se desenvolveram
à sua volta, como os relacionados com o Santo Graal e o
Espinho de Glastonbury que florescia duas vezes por
ano, em maio e no Natal.23

O imaginário medieval era rico. Pode-se concluir que as lendas e mitos que
faziam parte dele eram um reflexo do cotidiano, de modo que elementos do dia-a-dia
eram incorporados e elementos como ideais de cavalaria ou um modelo de um rei justo
da qual Arthur correspondia eram inseridos para serem propagados pela Europa
Ocidental. Seria anacronismo dizer ou indagar: mas como as pessoas acreditavam em
lendas ou coisas sobrenaturais como o Graal a ponto de saírem procurando por ele?
22
ZIERER, Adriana. Arthur como modelo Régio nas Fontes Ibéricas Medievais (Parte I): A demanda do
Santo Graal. 2003. s/p
23
LOYN, Henry R. (org); CABRAL, Álvaro (trad); JÚNIOR, Hilário Franco(rev).Dicionário Ilustrado
da Idade Média. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Ed., 1997. p.404

12
Deve-se lembrar que atualmente dispomos de inúmeros suportes que nos fornece uma
base de conhecimentos e que as pessoas na atualidade são mais bem informadas devidos
a vários estudos acadêmicos que existem dos mais diversos assuntos. E mesmo assim
quem nunca acreditou em uma superstição, no mito do bicho papão que por acaso tem
origem na Idade Média? Quem nunca teve na infância passado pela fase de acreditar no
papai Noel, em fadas, em fantasmas ou em duendes? O sobrenatural exerce um fascínio
no ser humano até os dias atuais e isso é inegável.
A respeito se o rei Arthur de fato existiu, essa é uma pergunta ainda sem
resposta. Há indícios que nos remete de fato a sua existência, mas nada realmente
concreto foi encontrado nos dias de hoje devido o período da qual é datada a sua
existência ser escasso fontes documentais. Muitos autores apostam em teses que ele
realmente existiu, outros dizem que ele só existiu mesmo na lenda. Entretanto pra
muitos com certeza ele existiu e salvou a Bretanha dos saxões, sejam estes medievos ou
não, o que leva o ser humano acreditar é a sua imaginação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

? . A Perdido nas Brumas Estranha Origem do Nome Do Brasil. Revista Limites. São Paulo: Abril,1995

ASHE, Geoffrey. Introdução ao Rei Artur.


Disponível em:
<http://assets4.scribd.com/doc/7074599/Geoffrey-Ashe-InTRODUCAO-AO-REI-ARTHUR-Traducao-
Por-Emerson-de-Oliveira> Acesso em: 28 nov 2009

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