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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

SOFRIMENTO PSÍQUICO NA CONTEMPORANEIDADE

PRODUTIVIDADE E HUMILHAÇÃO SOCIAL: FACES DO PROCESSO DE


TERCEIRIZAÇÃO.

FERNANDA MASCARENHAS

MATHEUS MEDRADO

FEIRA DE SANTANA, 2017


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

SOFRIMENTO PSÍQUICO NA CONTEMPORANEIDADE

PRODUTIVIDADE E HUMILHAÇÃO SOCIAL: FACES DO PROCESSO DE


TERCEIRIZAÇÃO.

Artigo entregue pelos discentes Fernanda


Mascarenhas e Matheus Medrado sob
orientação da prof. Clarissa Medrado como
etapa do processo avaliativo da disciplina
Sofrimento Psíquico na Contemporaneidade
durante o período letivo 2017.1

FEIRA DE SANTANA, 2017


Produtividade e Humilhação social: Faces do processo de Terceirização.

Resumo: Na maximização da produção econômica, determinadas classes sociais ficam


submissas a poderosos interesses de uma minoria. O objetivo principal deste artigo é
apresentar as características principais sobre o fenômeno social da terceirização e como
estas influenciam diretamente o trabalhador. Mesmo tendo ciência que cada sujeito
possui características biopsicossociais idiossincráticas, é comum determinadas camadas
da sociedade – aquelas mais associadas aos trabalhadores terceirizados –
experimentarem sensações de perda da dignidade; naturalizar condições de trabalho
insalubres; reconhecer-se politicamente e socialmente no campo da submissão, e nada
mais que isso. Na primeira parte visa-se apresentar uma breve história da terceirização
e de como ela ocorreu no Brasil, embasando-se através das normatizações feitas pelo
judiciário que legitimaram tais condições de trabalho. Na segunda parte caracterizar-se-
á a terceirização como potência tanto para a humilhação social, quanto para a formação
de transtornos psicológicos e fisiológicos sobre os corpos dos trabalhadores.

Palavras-chave: Trabalho; Terceirização; humilhação social; Saúde Mental;


Transtornos fisiológicos.
Introdução

1. A Terceirização e suas características.

A reorganização do modelo de produção foi motivada por uma nova perspectiva


organizacional. Por volta de 1945, a produção em massa motivada pelo modelo
taylorista/fordista foi substituída pelo Toyotismo: a produção vinculada à demanda, ou a
chamada “produção enxuta”. A empresa, responsável pela construção da mercadoria, ou
em outras palavras, a atividade-fim, oferta mecanismos de gratificação que estimulam,
indiretamente, a competição: quanto mais metas forem alcançadas ou superadas, mais e
maiores retribuições eram ofertadas. Com a soma destes fatores, a rotatividade e a
necessidade de aceleração da produção, o ritmo industrial dispensava a realização de
atividades-meio1 ao processo industrial, requisitando, portanto, a realocação de
empresas para a realização destas atividades. (CRUZ, 2009)
Iniciou-se, assim, verdadeira reengenharia da estrutura empresarial: empresas
periféricas passaram a contratar trabalhadores sem qualificação ou pouco qualificados
para operações de curto tempo (trabalho temporário) ou para a realização de serviços
instrumentais; empresas centrais concentraram seus esforços na contratação de
trabalhadores qualificados para a operação e fiscalização do processo-produtivo final.
Essas empresas periféricas associaram-se às empresas centrais e, mediante um processo
que se convencionou chamar de terceirização, assumiram o papel de provê-las no que
diz respeito aos serviços meramente instrumentais. (MARTINEZ, 2016)
A expressão “terceirizar” deriva de um neologismo construído a partir da área de
administração das empresas, “visando enfatizar a descentralização empresarial das
atividades para outrem, um terceiro à empresa”. (CRUZ, 2009) Estabelece-se, portanto,
uma relação trilateral formada entre trabalhador, intermediador de mão de obra
(empregador aparente, formal ou dissimulado) e o tomador de serviços (empregador real
ou natural), caracterizada pela não coincidência do empregador real com o formal.

Segundo Mauricio Godinho (2015), terceirização é o fenômeno pelo qual se


dissocia a relação econômica de trabalho da relação justrabalhista que lhe seria

1
Entende-se atividade-meio como aquela que se presta apenas para facilitar a empresa para alcançar seu propósito,
por exemplo: atividades de limpeza, conservação, vigilância, suporte de informática, transporte, fornecimento de
alimentos, etc.
correspondente. É o mecanismo jurídico que permite a um sujeito de direito tomar
serviços no mercado de trabalho sem responder, diretamente, pela relação empregatícia
estabelecida com o respectivo trabalhador. (ibid). Em outras palavras, é a ausência de
pessoalidade e subordinação: entre trabalhador e empresa tomadora não haverá
pessoalidade, ou seja, caráter intransmissível do contrato de trabalho; os empregados
são juridicamente subordinados à empresa prestadora de serviços, e não a tomadora.
O presente trabalho irá se dispor ao entendimento jurisprudencial acerca da
terceirização anterior à aprovação da nova lei de terceirização – Lei nº 13.429/2017,
projetando as consequências sociais e simbólicas deste processo legislativo na vida dos
trabalhadores.

1. A Terceirização no Brasil e sua fundamentação jurídica.


Diversas foram as modificações legais ao longo desses 70 anos de implementação
da terceirização de empresas. Seus primeiros registros legais da terceirização datam por
volta da década de 40. Na época, a legislação da época assegurava – através do artigo
455 da CLT – a contratação de empresas terceirizadas da mesma maneira que vinha
acontecendo ao redor do planeta. A partir de 1967, com o decreto-lei n° 200, artigo 10,
§ 7°, o próprio Estado passou a praticar a terceirização, pois objetivava-se descentralizar
as atividades administrativas de âmbito federal (BRASIL/1967), operacionalizando
atividades executivas, de maneira a impedir a inflação desmensurada de cargos
governamentais. Entretanto, a correspondência desta lei com a realidade ficou em
aberto, pois não foi regulamentada a prática da terceirização, cabendo a lei n°5645,
parágrafo único, artigo 3°estabelecer as condições: “As atividades relacionadas com
transporte, conservação, custódia, operação de elevadores, limpeza e outras
assemelhadas serão, de preferência, objeto de execução mediante contrato, de acordo
com o art. 10, § 7º, do Decreto-lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967”. (CRUZ, 2009)
Apesar do direcionamento legal quanto aos tipos de atividade-meio que
poderiam ser terceirizadas, os prazos não estavam devidamente regulamentados. Assim,
a Lei 6.019/74, art. 10°§ 1 e § 2, delimitavam que:
§1 O Contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo empregador,
não poderá exceder ao prazo de cento e oitenta dias, consecutivos ou não.

§2 O contrato poderá ser prorrogado por até noventa dias, consecutivos ou


não, além do prazo estabelecido no § 1 deste artigo, quando comprovada a
manutenção das condições que o encejaram
E, aquilo que estava quase que exclusivamente vinculado com a administração privada,
tornou-se, com a constituição de 1988, através do artigo 37°, parágrafo II, legitimo o
reconhecimento do vínculo de emprego com a administração pública, sem a prévia
aprovação em um concurso público:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;

Com a iminência de um período de retração do mercado interno, e a consequente


necessidade de se reduzir custos no processo de produção, a resposta jurídica a este
contexto econômico foi a flexibilização das relações de trabalho. Assim, a Lei nº
7.102/83 firmou que o trabalhador não estabelecia vinculação empregatícia nem com a
cooperativa, nem com a empresa terceirizadora nos serviços especializados ligados à
atividade-meio do tomador. Para além da iniciativa privada, a administração pública
também se desresponsabilizou quanto à vinculação empregatícia de serviços-meio
através da terceirização conforme a Súmula nº 331 do TST em 1993.Por fim, após
algumas modificações ao longo desses últimos 20 anos, o processo de contratação para
a prestação de serviços respalda-se da seguinte maneira, in verbis:

Súmula 331: CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.


I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-
se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de
trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II – A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não


gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta,
indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).

III – Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços


de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem
como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador,
desde que inexistentes a pessoalidade e a subordinação direta.

IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,


implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto
àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste
também do título executivo judicial.

V– Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta


respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso
evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei nº
8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das
obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora.
A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das
obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.

VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as


verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral.

No dia 31/3/17, após encaminhamento do PL 4.302/98 da Câmara dos


Deputados ao Palácio do Planalto, foi sancionada pelo Presidente Michel Temer a nova
lei da terceirização, lei 13.429/2017, alterando dispositivos da lei 6.019/74, que dispõe
sobre o trabalho temporário e versa sobre as relações de trabalho na empresa de
prestação de serviços a terceiros. Cabe ressaltar que apesar da aprovação legislativa, a
lei ainda é passível de ser revogada tendo em vista a análise jurisprudencial pelo
judiciário.

A grande problemática em torno desta lei encontra-se disposto ao artigo 4°. O


referido dispositivo prevê que a empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa
jurídica de direito privado destinada a prestar a contratante serviços determinados e
específicos, podendo ser também a atividade-fim, e não apenas sob a modalidade de
contrato de trabalho temporário.

“Art. 4º-A Empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de


direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e
específicos.

§ 1º A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho


realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para
realização desses serviços.

§ 2º Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios


das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a
empresa contratante”.

Como se percebe, quando a lei resolveu trabalhar sobre a terceirização dos serviços, não
cumpriu ela o papel de delimitadora das hipóteses as quais podem ser adotadas o
trabalho terceirizado, limitando-se a dizer que os serviços fornecidos pela empresa
prestadora devem envolver "serviços determinados e específicos”. Essa não lacuna
legislativa abre implicações diretas na vida dos trabalhadores. Em um cenário
econômico de recessão e abundância de mão-de-obra, é evidente que a generalização da
terceirização é benéfica para os grandes empresários: abundância de mão-de-obra a
custos baixos. As consequências que estes processos legislativos tem sobre a sociedade
são massivos e ultrapassam os efeitos de curto prazo: relações simbólicas são
modificadas; autopercepções sobre o corpo são deturpadas; deslegitima-se, muitas
vezes, à classe o direito de trabalhar em condições dignas ao mesmo tempo em que o
mercado demanda cada vez mais de velocidade, multifuncionalidade, adaptação e
competitividade. Estes efeitos e outras questões serão abordadas na seção subsequente.

2. Terceirização como uma Potência para o Sofrimento Psíquico.


Todo este movimento histórico e legislativo nos últimos anos no Brasil é congruente a
uma tendência mundial no campo do trabalho: o acumulo de capital e de lucro. Os
avanços tecnológicos na sociedade não mais correspondem a uma maior inclusão de
pessoas no mercado de trabalho, ou uma redução na jornada de trabalho, com condições
mais dignas; muito menos a ratificação da razão social do trabalho, e sim a
desvinculação da ideia de dignidade e realização pessoal, restando apenas a
sobrevivência e a submissão. Este é um cenário comum vivido rotineiramente por
milhões de brasileiros que trabalham em empresas terceirizadas, onde não se é incomum
encontrar relações de trabalho cada vez mais intolerantes, intransigentes e impacientes.

A flexibilização das relações de trabalhos vistas denota um processo


multifatorial. No campo econômico, a tendência do modelo neoliberal é de cada vez
menos manter custos desnecessários à atividade-fim. Historicamente vê-se uma gradual
fragilização das representações políticas e sociais – as quais representam um amparo
legal e social para os trabalhadores – ao mesmo tempo em que se instaurou um processo
de maior competitividade entre os membros da classe, em relações cada vez mais
predatórias e injustas. (OLIVEIRA, 2007) São processos de dominação que mesclam
insegurança, incerteza, sujeição, competição, proliferação de desconfiança e do
individualismo.

Esse processo institucionalizado de precarização das relações de trabalho, por


meio das terceirizações, tem implicações que vão além dos portões da empresa. Os
ritmos acelerados da produção; a insegurança quanto a manutenção do emprego e a
competitividade na linha produtiva produzem, muitas vezes, a perda de construções
simbólicas importantes já conquistadas, ou até a consolidação de transtornos
psicológicos ou fisiológicas nos casos mais intensos.
As consequências da terceirização ultrapassam as barreiras do campo econômico
e político e se alastram para os âmbitos biopsicossociais do sujeito. Segundo Mendes
2007(apud COSTA E MEDEIROS, 2013, p. 4):

o indivíduo adota estratégias de defesa, que são as mediações ao sofrimento,


como o cinismo, a dissimulação, a hiperatividade, a desesperança em ser
reconhecido, o desprezo, os danos aos subordinados, a negação dos riscos
inerentes ao trabalho, a comunicação distorcida, entre outras. O problema é
que essas mediações, quando insuficientes, podem resultar nas mais variadas
patologias físicas e psicológicas.

A violência dentro do sistema trabalhista está impregnada em um discurso sutil, para


que o empregado acredite que toda mudança nesse cenário o favorece, enquanto que, no
que tange os benefícios da terceirização, o patrão na maioria das vezes ganha esta causa.
De acordo com Franco, Druck e Seligmann-Silva (2010), há alguns principais
paradigmas propagados sutilmente visando o esforço máximo dos empregados, podendo
levar à problemas de exaustão de natureza psíquica e/ou física, porém dentro de uma
lógica capitalista, o único fim possível é a produção. Enquanto as empresas estimulam
esses sentimentos degradantes sem visar a saúde dos sujeitos, estes são obrigados a se
inserir no processo para continuar no mercado de trabalho, levando essa mesma
empresa estimuladora a lucros à custa de sua integridade.

Cabe observar também que existe uma competitividade generalizada: a disputa


do poder entre as empresas se transfere para a competição entre os indivíduos. Nesse
sistema, o sujeito é obrigado a se encontrar num processo em que, segundo Sennett
(2006 apud FRANCO, DUCK e SELIGMANN-SILVA, 2010), estimula a onipotência e
o narcisismo adormecido do sujeito, fazendo entender que é preciso a produção eficaz
individual, custe o que custar. Entretanto, sendo este o caso, sua integridade é o preço a
ser pago: “as práticas de gestão adotadas fomentam a indiferença pelo destino dos
demais, que se transformam em rivais a serem derrotados ou mesmo excluídos. “
(FRANCO, DUCK e SELIGMANN-SILVA, 2010, p.238).

A flexibilidade, por sua vez, abarca o sentimento que é impregnado nos


trabalhadores de estar apto a fazer de tudo um pouco. “Além do papel que assume na
precarização do trabalho, contribui para incrementar a tensão e a fadiga ligadas aos
esforços de adaptação continuada à cascata de mudanças de todo tipo” (ibid). A
realidade é cruel neste sentido. Os trabalhadores são obrigados a se desfazerem de sua
identidade profissional com a finalidade de estar arqueável a todo tipo de trabalho.
Enquanto o indivíduo é obrigado a se desocupar da sua qualificação visando uma
flexibilidade – o que o levará ao desgaste – o patrão lucra com a não necessidade de
contratar profissionais especializados nas áreas, pois nos trabalhadores ordinários já
foram impregnados de que conseguem exercer qualquer serviço. O discurso da
flexibilidade é incutido como qualidade de um bom trabalhador, quando, na verdade, é
um benefício para aquele que produz o discurso. Neste cenário econômico atual, quem
não estiver disposto a esvaziar-se de suas aptidões principais e aprender a lidar com
qualquer linha de produção a todo custo, não é considerado um profissional decente.
Assim, as portas do desemprego se abrem.

Ainda segundo Franco, Druck e Seligmann-Silva (ibid), um outro fator


adoecedor expressa-se na necessidade de mudança e inovação continuada. Os
trabalhadores são vistos como produtos meramente descartáveis, e querendo ou não, os
mesmos estão cientes disto. Esse sistema de trocas delega o descarte do trabalhador por
dois vieses específicos: ou o indivíduo não se atualiza e se reinventa para além de suas
funções, ou é desligado pelo desgaste, seja pela idade, por cansaço, pouca produção ou
por adoecimento. A incerteza que o sujeito vive sobre as questões da sua permanência, e
o sentimento de descartabilidade frente a qualquer mínima situação, impacta sobre sua
autopercepção simbólica, corporal e cultural, pois nem sua saúde (elemento primário
para garantir sua sobrevivência e de sua eventual família) é garantia de sua segurança
financeira e social. Segundo Sato (1991 apud FRANCO, DRUCK E SELIGMANN-
SILVA (2010), para que o paradigma da mudança permaneça, faz-se necessário que ela
seja efetivada de forma rápida, não importando a natureza e complexidade do trabalho,
ou até mesmo, o tempo necessário para o estabelecimento de vínculos com a função.
Dessa forma, o último paradigma atribuído por), é o da rapidez, no qual demanda do
trabalhador uma velocidade absurda nos termos da produção. Nesse sistema veloz, nem
todos são capazes de se inserir, à vista disso, cria-se uma sensação de incerteza e
adoecimento daqueles que não se veem aptos a estarem nessa lógica. Segundo Franco,
Druck e Seligmann-Silva (2010, p. 239):

Corresponde assim, uma vez mais, ao ideal de onipotência e perfeição que


coloca marca infamante em todos os desgastados e cria intolerância aos que
não são velozes por oscilações da saúde ou porque estão sendo atingidos pelo
envelhecimento. Assim, a maximização da intensificação do trabalho obriga o
trabalhador a romper seu equilíbrio psico-orgânico. Na atualidade, em muitas
organizações, a impaciência é institucionalizada em detrimento do trabalho
bem feito.

3. Considerações finais

É difícil se pensar em subjetividade, solidariedade e cooperação entre indivíduos no


modelo neoliberal. As metamorfoses paradigmáticas ao longo dos anos na economia
mundial tenderam para relações de dominação/submissão entre os detentores de
poder econômicos e os desafortunados. Neste sentido, as implicações econômicas,
através de decisões políticas e jurídicas, rasgam possibilidades de transformação
social de trabalhadores e trabalhadoras pelo Brasil. A terceirização, no sentido
restrito, poderia aprimorar a qualidade dos produtos e valer o a razão social do
trabalho. Entretanto, mecanismos ideológicos direcionam o comportamento de
grandes empresários a buscarem, na maioria das vezes, uma maior margem de lucro
às custas da integridade de outros semelhantes.

Dizer que todos os trabalhadores estarão à mercê de tendências mundiais e que


jamais haverá a possibilidade de transformação é submete-se a um fatalismo
ideológico exacerbado. Também afirmar que não existem grandes empresas que se
preocupam com a saúde e o bem-estar psicológico/fisiológico de seus funcionários
também é absurdo. Existem cotidianamente possibilidades de intervenção, mesmo
que consideradas pequenas e insignificantes: a não concordância com a lógica de
competitividade entre companheiros de profissão; a solidariedade com colegas de
trabalho que estejam enfrentando dificuldades financeiras; em suma, toda potência
afetiva que o ser humano tem ao expressar sua subjetividade.

No que diz respeito a esfera macrossociológica, é sabido por nossos


representantes políticos e doutores do direito as implicações de tais condições de
trabalho. A questão elementar dirige-se para a sociedade, querendo ou não. A apatia
política implica em possibilidades institucionais de se produzir contextos insalubres
de trabalho e convívio social – a nova Lei de terceirização e seus efeitos, por
exemplo. Cabe, portanto, aos sujeitos estarem cada vez mais atentos à
transformações sociais, inserindo-se nos contextos que dizem respeito ao âmbito
público, pois aqueles que se omitem de atuar em nome do bem coletivo, permitem a
outros atuarem em nome de bens privados.
4. Referências

BRASIL, Decreto-lei n°200, 3 de fevereiro de 1967.

_______, CONTITUIÇÃO FEDERAL, 1988.


_______, Lei n° 13.429, 31 de março de 2017.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 331. Relator: Min. Marco Aurélio
Mendes de Farias Mello. Contrato de Prestação de Serviços. Legalidade..
Brasília,2011

CRUZ, Luiz Guilherme Ribeiro da. A terceirização trabalhista no Brasil: aspectos gerais
de uma flexibilização sem limite. Caap, Belo Horizonte, v. 16, n. 1, p.319-341, dez.
2009. Disponível em:
<https://www2.direito.ufmg.br/revistadocaap/index.php/revista/issue/view/6/showToc>.
Acesso em: 20 jul. 2017.

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