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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CURSO DE LETRAS
LITERATURA AMAZONENSE
PROFESSOR CARLOS GUEDELHA

A Colonização da Amazônia

O início da colonização amazônica, ou seja, a primeira penetração


do homem branco pelos rios situados no atual estado do Amazonas, não
foi feita pelos portugueses, mas pelos espanhóis. Francisco Pizarro,
governador do Peru, organizou uma expedição que saísse em busca das
riquezas que supunha existir a leste da cidade de Quito. Essa primeira
expedição saiu a 25 de dezembro de 1539. É importante fixar a data, para
verificarmos como os espanhóis, desde cedo, começaram a atividade
colonizadora. A essa altura, Portugal mal iniciava a colonização do Brasil –
que começou com a primeira expedição, em 1530, de Martim Afonso de
Sousa –, assim mesmo nos pontos do litoral nordeste e leste. A região
amazônica, por ocasião dessa primeira expedição, ainda desconhecia a
presença lusitana.

Da expedição de Francisco Pizarro desmembrou-se uma outra,


comandada por Francisco Orellana, que, em virtude da escassez de
alimentos, desceu o rio a procurá-los. A expedição de Orellana, além de
ser pioneira por ter percorrido toda a planície amazônica, assume papel
relevante pelo fato de ter surgido com ela a lenda das amazonas, cujo
nome seria transferido para o grande rio e, mais tarde, para o estado.

O relato da descoberta das amazonas nos foi legado por Frei Gaspar
de Carvajal, um dos religiosos que integravam a expedição de Orellana. É
possível que as amazonas não passassem de uma tribo em fase de
matriarcado ou, então, se tratasse de mulheres indígenas na atividade da
caça e da pesca, como é costume ainda hoje em certas tribos, que deixam
às mulheres esses afazeres.
O relato de Carvajal é fantasioso, sem nenhuma verossimilhança,
apesar de alguns historiadores, como Rosa do Espírito Santo, darem-lhe
caráter de realidade:

A 22 de junho de 1542, quase chegando à foz do rio Nhamundá, a


expedição de Orellana procurou aproximar-se da terra, para
procurar alimento. Porém, mal alguns homens desembarcaram,
foram obrigados a voltar aos navios, devido às flechas dos índios.
Travou-se um combate terrível e Orellana notou que o ataque era
feito por bonitas mulheres brancas, altas e de cabelos compridos.
Usavam apenas uma pequena tanga.1

O relato do Frei Gaspar de Carvajal constitui, sem qualquer dúvida,


o primeiro documento literário do Amazonas. Está para a literatura
amazonense assim como a Carta, de Pero Vaz de Caminha, está para a
literatura brasileira.

O segundo reconhecimento da região amazônica foi feito pela


expedição comandada por Pedro de Ursúa, saída de Quito em 1559. Essa
expedição não foi tão bem sucedida quanto a de Orellana, em virtude de
divergências internas causadas por Lope de Aguirre.

A partir desse estágio da colonização, é indispensável constatar


como a febre de riqueza, sintetizada na procura do mítico Eldorado,
contribui para a exploração e povoamento da Amazônia. Sobre o Eldorado,
Arthur Cezar Ferreira Reis dá a seguinte notícia:

A lenda do Dorado recolhida em Quito [...] ao tempo da


conquista dessa província incaica, contribuía também para o
entusiasmo. Para o Oriente, como o país da canela, fora também
dos domínios incaicos, reinava um príncipe, El Dorado, cujas
riquezas não era possível medir. Os templos, os palácios, a
pavimentação da cidade de Manoa, onde vivia, tudo nessa região
encantada se construíra em ouro, ouro puro, só ouro. O

1
COSTA, Rosa do Espírito Santo. História do amazonas. Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 1965,
p. 19.

2
monarca, pelas manhãs, banhava-se num lago de águas
perfumadas, sobre as quais lançava ouro em pó.2

Outra lenda falava no país dos Omáguas , confundindo-o com o


Dourado. De qualquer maneira, não havia certeza de sua localização. Ora
o “localizavam nas planuras venezuelanas, ora nos recessos da selva
amazônica, no Rio Negro, no Orenoco”.3

O interesse de Portugal pelas terras americanas só começou na


quarta década do século XVI. Isso mesmo porque o comércio de
especiarias com a Índia declinava e a burguesia mercantilista portuguesa
necessitava expandir seus negócios. Dessa maneira, voltou suas vistas
para o Brasil, explorando-o a partir do sistema das feitorias, ou seja,
pequenas clareiras à orla marítima, para a exploração da madeira. A
colonização da Amazônia, porém, só começou no século XVIII, no tempo
em que Portugal estava incorporado à Espanha. Talvez por esse motivo a
Amazônia tenha seguido um processo político e cultural diverso do do
Brasil. No início da colonização chegou, inclusive, a constituir-se em outro
país, como explica Nelson Werneck Sodré:

A partir de 1621, sob dominação espanhola, a colônia foi


repartida em duas áreas, cada uma delas diretamente
subordinada à Metrópole: o Estado do Brasil – do Rio Grande do
Norte atual a São Paulo; o Estado do Maranhão – do Rio Grande
do Norte atual ao Pará.4

Não foram só as divergências geográficas que contribuíram para


essa divisão, mas também as dificuldades de comunicação entre os
núcleos urbanos brasileiros e amazônicos. Era mais fácil ligá-los
diretamente à Metrópole.

2
REIS, Arthur Cezar Ferreira. História do Amazonas. Manaus: [Typographia de A. Reis] 1931. p. 23-4.
3
Ibidem, p. 24.
4
SODRÉ, Nelson Werneck. O Estado do Maranhão. In: Formação Histórica do Brasil. 10ª ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1979, p. 125-6.

3
Mesmo quando o estado do Maranhão desapareceu oficialmente, a
situação não se alterou: a Amazônia continuou ligada diretamente a
Portugal. E mesmo após a independência os laços com a Europa
continuaram. Se não os econômicos, com Lisboa, pelo menos os culturais,
com Paris. Na verdade, o Amazonas só não pertence a um outro país por
dois motivos: primeiro, pelo fracasso das invasões holandesas, francesas e
inglesas em território brasileiro, o que separaria inevitavelmente o sul e o
norte do Brasil; segundo, pela atuação da diplomacia brasileira nas
épocas posteriores, assegurando as conquistas que os portugueses
fizeram à custa das armas.

Pelo Tratado de Tordesilhas, a Amazônia era quase toda da


Espanha. A faixa de terra americana que pertenci a Portugal estendia-se a
leste de uma linha reta traçada para o sul a partir de local próximo onde
hoje se situa a cidade de Belém. A Amazônia portuguesa talvez não
atingisse 10% do que mede atualmente. A expansão e o alargamento das
fronteiras para o oeste começaria em 1637, ainda sob a dependência de
Portugal à Espanha.

Nesse ano, o explorador português Pedro Teixeira fez, em sentido


inverso, o percurso que, quase cem anos antes, Francisco Orellana fizera.
Pedro Teixeira partiu de Cametá, no Pará, e subiu o rio até Quito. A
expedição levou, no percurso de ida e volta, dois anos e dois meses e seu
feito foi considerado importante, dada a dificuldade, na época, de navegar
contra a correnteza do rio e contra as cachoeiras. É preciso considerar que
Portugal não desrespeitou a linha estabelecida pelo Tratado de
Tordesilhas, pois Portugal e Espanha constituíam, à época, um só país.

Os portugueses, utilizando-se de uma estratégia militar admirável,


souberam dominar e fechar a Amazônia aos estrangeiros. Quando
reconquistaram sua independência, em 1640, já tinham uma importante
posição tomada: em 1616, Francisco Caldeira Castelo Branco tinha
fundado o Forte do Presépio, raiz da cidade de Santa Maria de Belém do

4
Grão-Pará. A importante posição, no caso, caracterizava-se pela
localização do forte: na foz do rio Amazonas, ele impedia a passagem de
barcos estrangeiros e praticamente vedava o acesso a toda a região. A
estratégia não ficava só aí, porém. Os novos fortes, origem das demais
cidades, obedeciam a igual concepção. Manaus, para citar um exemplo, foi
criada como fortificação, em 1669, para impedir o acesso ao rio Negro e
seus afluentes. Tudo isso por causa da perigosa aproximação dos
holandeses e dos missionários espanhóis, como noticia Arthur Cezar
Ferreira Reis:

Nessa época, diziam que os índios do rio Negro e do Solimões


tinham relações com os holandeses de Surinam. Os
Missionários espanhóis também se aproximavam do rio
Amazonas. Portanto, era preciso fortificar a foz do rio Negro.
Coube ao capitão Francisco da Mota Falcão fortificar a boca do
rio Negro. Escolheu um lugar três léguas acima do encontro das
águas do rio Negro com o Solimões. Entre dois igarapés,
levantou-se um pequeno bloco de pedra e barro, de forma
quadrada. Estava feito o forte, que recebeu o nome de São José
do Rio Negro.5

Considerando-se o estabelecido no Tratado de Tordesilhas, Manaus


fica na parte que pertencia à Espanha. A ação portuguesa na Amazônia foi
essencialmente militar – daí as fortificações – e Portugal expandiu seus
limites de forma assombrosa.

O principal desses fortes, tanto no plano político-militar como no


literário, é o que deu origem à cidade de Tabatinga. Essa cidade, situada
na fronteira brasileira com a colombiana, ainda hoje apresenta
características de uma fortificação. Representa o ponto mais a oeste da
colonização portuguesa. Os lusos, ao atingirem esse ponto, construíram o
forte como posição defensiva, para evitar que os espanhóis os
expulsassem e retomassem suas fronteiras. O objetivo foi atingido – essa a
sua importância político-militar; do ponto de vista literário, Tabatinga
sobressai porque foi ali que surgiram os dois documentos literários
iniciais da poesia amazonense. Isso se deve ao grande número de militares

5
REIS, Op. Cit. P. 42

5
que Portugal para ali deslocava, exatamente para manter sua posição. Se
a grande maioria dos soldados era analfabeta, como não é difícil concluir,
havia, entretanto, alguns letrados. Mais que isso, com pretensões de
poetas.

Completando o quadro da época, assinale-se que os inimigos de


Portugal não eram apenas externos, mas também os nativos, em situação
semelhante à do restante do Brasil. Para derrotá-los mais facilmente, foi
utilizada a tática da divisão entre as diversas tribos. Porém, quando o
combate se fazia direto, ou seja, entre brancos e índios, estes últimos,
inferiores em armas, eram derrotados e os sobreviventes escravizados. À
medida que os índios eram dizimados, a penetração para o interior se fazia
e as potencialidades se revelavam. Esse é, pelo menos, o pensamento de
Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Muller:

Necessitados de mão-de-obra para a produção de açúcar, fumo e


outros produtos, esses colonos decidiram-se a escravizar o
elemento nativo. Fustigados pelos jesuítas, pesquisadores e
defensores dos índios, foram penetrando na floresta amazônica,
através das vias fluviais e matas rasas, descobrindo assim suas
potencialidades, as especiarias.6

A descoberta das especiarias constituiria o chamado ciclo das


drogas-do-sertão, em que aventureiros de todas as partes buscavam o
que a floresta oferecia de importante economicamente: canela, cravo, anil,
cacau, raízes aromáticas, madeiras, salsaparrilha, etc.

No momento, porém, é mais importante fixar o conflito índio-


colonizador, porque dele trata o poema A Muraida, um dos documentos
literários a que já nos referimos. Antes, assinale-se que a primeira grande
rebeldia que se conhece, por parte dos indígenas, é a de Ajuricaba, chefe
dos Manaus, tribo que habitava a região onde hoje se situa a cidade do
mesmo nome. Ajuricaba foi, durante muito tempo, um obstáculo às
pretensões portuguesas. Utilizando-se da geografia da região e de sua
6
CARDOSO, Fernando Henrique & MÜLLER, Geraldo. Amazônia: Expansão do Capitalismo. 2ª ed. São
Paulo: Brasiliense, 1978, p. 21.

6
melhor adaptação a ela, conseguiu impor-se à superioridade militar dos
brancos. Portugal só pôde se firmar quando prendeu e assassinou
Ajuricaba, hoje em dia um herói regional.

A colonização foi feita com sacrifícios, tanto para os indígenas como


para os brancos. Até o final do século XVIII, nenhum núcleo urbano, à
exceção de Belém, tinha população suficiente para se sobressair e
proporcionar o surgimento de cultura. Produções literárias do período
foram realizadas pelos colonizadores. Conhecemos apenas duas, ambas de
Tabatinga (o poema A Muraida e os sonetos de Francisco Vitro José da
Silveira). Não é possível constatar a existência de outras.

Crédito:
ALEIXO, Marcos Frederico Krüger. Introdução à Poesia no Amazonas, com
apresentação de autores e textos. Rio de Janeiro: UFRJ, 1982.
(Dissertação de Mestrado)

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