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Daniel de Assis

Análise três mortes

Refletir sobre o conto de Tolstoi, “Três mortes”, é também refletir sobre um evento que
perpassa todos os seres, sendo aquilo que nos une mas também aquilo que nos difere.
Pensar na morte é também pensar no que é o homem.

O homem está irremediavelmente associado à linguagem e não pode ser concebido fora
dela. O homem não é tão somente aquele que pensa, que existe antes de ser, mas
também, aquele que fala. Porém, se o ato de falar trás a marca da humanidade e poderia
elevar o homo sapiens acima dos outros entes que compõem a biosfera, a linguagem,
por meio da fala, trás também outra marca, a da morte. O homem é tanto o mortal
quanto “o falante” (AGANBEIN, 2006, p. 10), pode experienciar a morte enquanto
morte, diferindo do animal que “não morre” apenas “cessa de viver” (AGANBEIN,
2006, p. 13). A morte é por nós pensada, podemos antecipá-la, sofrê-la. É assim que o
fato derradeiro e definitivo acaba por nos definir, tornando homem aquele que é para um
fim, não no sentido de ter um propósito, mas sim, por viver na antecipação ─ e em
função ─ de uma “possibilidade da impossibilidade da existência em geral”
(AGANBEIN, 2006, p13). Vivemos para “o fim”.

Porém, para além de seu fim, a existência humana é permeada por pensamentos,
estudos, criações, enfim, pelos múltiplos atos da vida, sendo que o ato humano se dá na
correlação (e vínculo) desta multiplicidade1. Estabelecer tais vínculos é uma experiência
que passa necessariamente pela arte ─ a qual articula os domínios cognitivo, ético e
estético. É pela proximidade que o mundo da arte mantém com o da vida que o falar de
ambos torna-se tão próximo. Assim, tratar do conto de Tolstoi, da morte das
personagens que permeiam a historia, torna-se estritamente próximo do falar da morte
em geral, pois não leremos aqui por um viés formalista que ignora tal vínculo e se, de
algum modo, tratamos da “forma” do conto é no afã de por meio desta alcançar o
conteúdo da obra e sua estreita relação com o mundo da vida.

1
Não inseri aqui as referências porque parti de minhas anotações sobre o texto, posteriormente posso
fazê-lo se algo aqui tiver algum proveito)
A morte eminente de Fiodor e Mária são tratadas de modo bem distinto tanto pelos
doentes quanto por aqueles que os circundam. Em torno de Mária á uma cautela, todos
evitam comentar com ela a gravidade de seu estado, para convencê-la a não seguir
adiante com a ideia da viagem, o marido tece argumentos com cautela, evitando a
palavra morte, “se você piorar na viagem... pelo menos estaria em casa”. Mesmo a
própria doente, ainda esperançosa quanto à cura, evita o termo e quando fala a palavra
“morrer”, logo se assusta. O sinal da cruz realizado pela criada também é questionado
pela moribunda “o que é isso?”, “ e porque está se benzendo”.

Mária estaria entre o estágio de negação e raiva2, embora na maioria dos casos “a
negação seja uma reação temporária, sendo logo substituída por uma aceitação parcial”
(ROSS, 1966, p. 53), este estágio pode se estender, como se dá com personagem que
mantém o costumeiro “para-choque” da negação quanto a derradeira notícia. Já o
estágio da raiva é marcado também pela “inveja e ressentimento” (ROSS, 1966, p. 63).
Percebe-se que Mária reage mal à demonstrações de saúde daqueles que à cercam, “Eles
estão bem, o resto não tem importância” diz após saírem para tomar café.

De modo distinto Tanto Fiodor quanto sua família tratam da morte próxima sem
embaraços, chegando ele a ser importunado pelas botas que não mais usaria, dado o fato
que certamente iria morrer. A cozinheira chega a dizer “ninguém irá enterrá-lo com
botas novas”. Fiodor compreende e aceita este fato, respondendo que darias as botas
contanto que Serioga,o solicitante, lhe comprasse uma campa para cobrir seu túmulo, e
jutifica “porque eu estou morrendo”, sem pesar ou medo.

A diferenças entre Fiodor e Mária não se encontram tão somente no âmbito da


linguagem usada por estes e seus familiares para tratar da morte que já antecipam, mas
também na forma como vivem, ambos pertencem à classes sociais distintas. Fiodor está
em uma pequena Isbá, alocado sobre o fogão e ocupava o ofício de cocheiro. Mária,
viaja comodamente de carruagem, acompanhada de uma criada e o impecílio para que
sua jornada se concretize não é de natureza econômica. Dois modos de vida distintos,
duas formas também distintas de lidar com a morte.

A palavra morte dialoga corriqueiramente com o trágico, não é por menos que o
contraste entre as famílias de Fiodor e Mária é tão evidente, pois, geralmente, este é um
2
No livro sobre a morte e o morrer de Elisabeth Kübler ROSS, a autora enumera cinco estágios pelos
quais o doente passa sobre a ideia de que irá morrer; negação, raiva, barganha, depressão, aceitação.
tema que se aborda com muitos receios. Mas a banalidade da morte de Fiodor não se
iguala àquela que logo ao fim da narrativa adentra a contagem que intitula a obra. A
morte de uma árvore não possui alarde e temores. Ela não passa pelos estágios pelos
quais passamos, sua morte é banal e comumente – ou até filosoficamente – não é tratada
não pode antecipar, sofrer o fim eminente. Ela é apenas abatida. Ao igualar a “morte” de
seres tão distintos o efeito causado não é o de enaltecer ou dramatizar a árvore e sim,
amenizar, naturalizar, a morte dos homens. No fim, apesar de todas as nossas
preocupações e ritos e lamentos apenas findamos, àqueles sepultados já não são os
“falantes”, não podem mais antecipar coisas alguma, tal como a árvore que é cortada.

Referências:

AGANBEIN, Giorgio. A linguagem e a morte: Um seminário sobre a negatividade.


Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

ROSS, Elisabeth Kübler. Sobre a Morte e o Morrer. 7° ed. São Paulo: Martin Fontes,
1966.

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