1. Introdução
De forma geral, as empresas entendem de forma equivocada o conceito de Ergonomia como
sendo apenas uma análise de avaliação postural. A Ergonomia não se limita só a isto, ela
abrange questões comuns da realização de serviços, o que pode incluir o modo como será
feito e/ou como evitar acidentes na realização destes.
A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem, e este trabalho abrange não
apenas aqueles executados com máquinas e equipamentos, mas também todas as situações em
que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva. O estudo também
abrange os diversos fatores que influenciam no desempenho do sistema produtivo procurando
reduzir a fadiga, estresse, erros e acidentes, proporcionando segurança, satisfação e saúde aos
trabalhadores, durante o relacionamento com este sistema produtivo (LIDA, 2005).
Medidas ergonômicas eficazes resultam na redução dos esforços e desconforto no
desempenho da tarefa, conseqüentemente há um aumento da rentabilidade das empresas pela
maior produtividade, diminuição do custo operacional, sem considerar a economia das
despesas públicas com a saúde e seguridade social (CODO e ALMEIDA, 1998 apud
TEIXEIRA, 2008).
Lida (2005) classifica a Ergonomia conforme o contexto em que é aplicada. Segundo o autor
ela pode ser de: concepção, correção, conscientização e participação. De forma resumida, a
ergonomia de concepção ocorre quando a contribuição ergonômica se faz durante o projeto do
produto, da máquina, ambiente ou sistema. A ergonomia de correção é aplicada em situações
reais, já existentes, para resolver problemas que se refletem na segurança, fadiga excessiva,
doenças de trabalhador ou quantidade e qualidade da produção. A ergonomia de
conscientização procura capacitar os próprios trabalhadores para a identificação e correção
dos problemas do dia-a-dia. E a ergonomia de participação procura envolver o próprio usuário
do sistema na solução de problemas ergonômicos (LIDA, 2005).
2. Objetivos
Este estudo propõe-se a analisar o local de operações e os escritórios de uma empresa de
transporte, localizada no município de Macaé. Esta empresa trabalha exclusivamente com o
transporte de cargas tais como, contêineres, caixas e kits que possuem materiais, provenientes
de plataformas. A empresa recolhe todo o material no Porto de Macaé e transporta para sua
base de trabalho, na qual espera até o momento que a empresa destinatária libere o
recebimento desses equipamentos para a realização do serviço. Assim o objetivo é fazer uma
análise de ergonomia de correção, com foco em propor melhorias a um posto de trabalho já
existente.
Atualmente o quadro funcional da empresa estudada, conta com 26 colaboradores, possui uma
sede de 2500m2 e uma considerável carteira de clientes, que exigem uma frota renovada com
manutenções preventivas e corretivas, profissionais qualificados e treinados seguindo as
normas de seguranças assim como a conscientização da preservação do meio ambiente, e
tributação e encargos sociais em dia.
Pode-se classificá-la como empresa de médio porte, tendo como principal produto a prestação
de serviço de transporte de cargas offshore, transporte de produtos perigosos, locação de
equipamentos offshore e movimentação de cargas.
A escolha dessa empresa foi motivada pelo tipo de operação que realiza, que inclui
movimentação de carga pesada e perigosa que pode gerar vários problemas relacionados à
saúde do trabalhador. Neste sentido, o presente artigo tem como proposta apresentar algumas
possíveis melhorias no processo da realização destas atividades laborais de forma a contribuir
com as questões de saúde e segurança dos trabalhadores.
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3. Metodologia do estudo
O processo de análise do sistema de trabalho foi realizado a partir de dados levantados em
entrevistas, questionários e visitas técnicas de forma a alcançar dois objetivos importantes:
(1) compreender a situação de trabalho, pelo grupo pesquisador e (2) caracterizar os
problemas segundo a ótica dos trabalhadores. A metodologia se constitui portanto de
observações diretas e indiretas (filmagens, fotografias, relatos, etc.) para avaliação das
condições ergonômicas da empresa.
Para um estudo do ambiente de trabalho da empresa foi aplicado o Questionário Nórdico dos
sintomas músculo-esquelético aos trabalhadores da empresa (Anexo A) proposto por Lida
(2005), sobre três aspectos com relação as partes do corpo com problemas ocasionados pelo
trabalho: nos últimos 7 dias, nos últimos 12 meses e se houve afastamento nos últimos 12
meses. Porém, os dados referente aos ultimos 7 dias foram desconsiderados por não serem
relevantes na análise proposta.
O questionário aplicado abrangeu perguntas iniciais relacionadas à capacitação, condições de
trabalho e experiência profissional dos trabalhadores, seguido de perguntas que objetivavam a
especificação de membros do corpo com maior freqüência de dor, as quais serviram como
possíveis indicadores de disfunções nas atividades laborais realizadas e neste sentido
poderiam ser utilizados como ponto de partida para uma análise ergonômica mais
aprofundada e objetiva.
Apesar do quadro funcional da empresa contar com 26 colaboradores só foi possível a
aplicação do questionário com uma amostra de 16 colaboradores (aproximadamente 61,54%)
que exercem diferentes funções tais como:
Funções
Motorista de Carreta;
Motorista de Munck;
Assistente Administrativo;
Financeiro Administrativo;
Analista de Recursos Humanos;
Técnico de Logística;
Ajudante.
Tabela 1: Tipos de funções exercidas na empresa estudada
Para uma melhor compreensão da análise dos resultados as funções dos trabalhadores
pesquisados foram divididas em dois setores: escritório e operacional. O setor de escritório
abrange as funções da área administrativa, logística e recursos humanos e é composta por 5
funcionários dentre 16 pesquisados. O setor operacional se compõe pelas funções dos
motoristas e ajudantes com um total de 11 funcionários.
A amostra de funcionários foi composta por 4 mulheres e 12 homens com idades entre 25 e 50
anos, os quais possuem entre 2 meses e 6 anos no exercício da função dentro da empresa e
entre 2 meses e 20 anos de experiência no cargo.
4. Resultados
Analisando os questionários e os gráficos 1,2 e 3, pode-se perceber que das partes do corpo
selecionadas, as que causaram maiores incômodos nos últimos 12 meses (29/10/2009 –
29/10/2010) foram no pescoço com 31% seguido dos ombros com 25%, punhos e mão com
18,75% e a coluna lombar, coluna dorçal, quadril ou coxas ambas com 12,5%. Apesar das
ocorrências, o que mais afetou os trabalhadores impossibilitando-os de trabalhar foram os
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problemas com a coluna dorsal, como relataram 19% dos entrevistados, a lombar e os
tornozelos e/ou pés com 13%.
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Gráfico 1: Ocorrência de dores nos últimos 12
meses nos membros
Feita tal análise percebeu-se que os mais afetados por dores são os trabalhadores do setor
operacional, visto que os setores administrativo, financeiro, de RH e de Logística não
apresentaram nenhum tipo de dor causado pelo trabalho realizado na empresa, com exceção
de uma reclamação de dor no ombro nos últimos 12 meses. Já os motoristas de carreta e os
motoristas de munck sentiram diferentes tipos de dores tais como, nos pés devido ao contato
diário com pedais pesados dos caminhões, as manivelas para operar as cargas e as condições
de trabalho ao permanecerem várias horas dirigindo, e/ou em pé realizando operações em
posições desfavoráveis fazendo juz a grande reclamação das dores no pescoço.
Embasado nestas constatações, ficou evidente que a situação crítica da empresa na área de
trabalho está relacionada às atividades operacionais, tornando-se assim o objeto de estudo
deste trabalho. Em função desse resultado foram realizadas ainda outras entrevistas com estes
trabalhadores a fim de determinar possíveis situações críticas específicas deste setor.
Com os resultados encontrados nos relatos, entrevistas e questionários, o grupo pode constatar
que os motoristas de munck apresentavam maior potencial de contribuição para a pesquisa e
proposições de melhorias.
5. Estudo da análise crítica
5.1 Caracterizações das condições ambientais de trabalho
Como o local de operação não possui cobertura, os trabalhadores realizam suas funções
expostos a sol, chuva e vento. Além disso, os caminhões disponíveis para o trabalho
apresentam pedais pesados.
Dentro do local de operações da empresa ocorre falta de visibilidade na área em que farão à
suspensão do material (contêineres, caixas e cestas). Os operadores são obrigados a ficar com
o corpo retorcido durante a realização do trabalho, devido a má utilização do layout do pátio
assim como a disposição das alavancas no caminhão de munck, o que ocasiona fortes dores
após a operação.
5.2 Trabalho Preescrito x Trabalho Real
Segundo o Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde, os estudos sistemáticos das
situações de trabalho têm como objetivo compreender como o trabalhador faz para
desenvolver ou realizar a sua tarefa. A análise ergonômica coloca em evidência que as tarefas
são variáveis ao longo da jornada de trabalho e que o indivíduo, ele mesmo, é submetido às
variações do seu estado interno. Ainda segundo o Manual, os fatores de risco devem ser
avaliados no contexto organizacional onde o trabalhador está inserido
Com base nisto, a partir da identificação da situação crítica de trabalho dentro da empresa,
pode-se iniciar o estudo desta atividade procurando compreendê-la de forma mais detalhada,
para em seguida aplicar os conceitos enunciados pela ergonomia de correção.
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O primeiro passo foi o levantamento de informações que teve como principal objetivo
compreender melhor sobre o que se trata a profissão motorista de munck e como funciona a
sua principal ferramenta de trabalho, o caminhão munck.
Segundo o WWN Transportes (2010), o caminhão munck é um equipamento hidráulico
utilizado para carregamento, descarregamento, transporte e movimentação de máquinas e
peças pesadas. Sendo assim, o motorista de munck é responsável pela parte da direção do
caminhão até a parte de movimentação de cargas através das alavancas que fazem parte da
estrutura física do caminhão.
Para uma compreensão das operações deste trabalho, pela ótica dos trabalhadores foram
realizadas observações no posto de trabalho, procurando-se compreender mais
detalhadamente as atividades que os mesmos realizam em sua rotina de trabalho.
A partir dos relatos dos motoristas de munck pode-se conhecer todo o processo do trabalho
prescrito. É importante ressaltar que na realização do trabalho o motorista de munck pode
realizar as tarefas junto a um ajudante, que o auxilia em determinadas etapas do processo, ou
trabalhar sozinho executando todas as operações.
Para o estudo do trabalho real, ou seja, do trabalho que é efetuado na prática, foi realizada
uma entrevista filmada. A entrevista foi concedida por um motorista de munck que explicou
as etapas do processo de carregamento e descarregamento de cargas. Esta entrevista teve
como objetivo principal observar como é a execução do trabalho na prática e entender
detalhadamente como todas as etapas são executadas.
Avaliando cada etapa do processo de carregamento de carga, é possível fazer um quadro
comparativo com as situaçãos mais divergentes:
Etapa Trabalho Prescrito Trabalho real
Dar a volta para verificar o que está Muitas vezes o motorista de munck
Calçar as patolas acontecendo do outro lado do agacha-se para verificar o que ocorre
caminhão do outro lado em vez de dar a volta.
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Pode-se perceber que a analise feita na Tabela 2, expõem que há divergê ncias entre o que
deveria ser feito e o que de fato é realizado diariamente pelos trabalhadores em questão. Ao
transcorrer deste trabalhado serão analisados mais profundamente os problemas que tais
situações ocasionam.
5.3 Problemas Identificados
Ao analisar todo o procedimento de trabalho, foram levantados cinco problemas principais
que acabam ocasionando mais dores durante e depois dos procedimentos: (a) o alcance visual
do funcionário ao movimentar o material, (b) a dor que este sente nos pés ao acelerar o
caminhão, (c) as posições em que permanece durante toda a operação, isto é, com o corpo
torcido, (d) as posturas inadequadas ao subir no caminhão e, (e) o levantamento inadequado
de cargas.
5.3.1 Dificuldades no campo visual durante as operações
O funcionário precisa ter noção de todo seu entorno para realizar sua função, porém, todos os
equipamentos envolvidos – caminhão, contêineres, guindastes – são um grande obstáculo
visual para ele, o que impede uma melhor desempenho no trabalho.
Segundo Lida (2005), os olhos do ser humano têm grande mobilidade, porém, quando se
exige atenção em um campo visual mais amplo se estabelece uma Hierarquia das Tarefas
Visuais.
O trabalho realizado pelos motoristas de munck está de acordo com o nível 4 da Hierarquia
das Tarefas Visuais, o que requer um maior esforço corporal por parte desses funcionários,
havendo mais gastos energéticos. Esses maiores esforços produzem fadiga, e, por
conseqüência, o empregado acaba simplificando o seu serviço, gerando um menor
rendimento.
5.3.2 Desconforto nos pés
Para que o caminhão de munck inicie seu funcionamento, o trabalhador precisa deixar o carro
ligado e acelerá-lo. De modo semelhante, pelo trabalho envolver o transporte do materiral à
empresa destinária,o acionamento do pedal torna-se movimento constante. Entretanto, o pedal
do acelerador é muito pesado e duro, causando dor nos pés dos funcionários, que são
motoristas e dependem deste pedal para realizar seu serviço.
Segundo Lida (2005), o pé é considerado como um tipo de alavanca do corpo. Os relatos dos
funcionários mostram que é preciso fazer grande força para o correto funcionamento desse
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pedal, gerando-lhes muitas dores nos pés ao final do dia, por causa do desgaste repetitivo com
este membro do corpo
5.3.3 Torções no Corpo
Segundo Lida (2005), existem três situações principais em que a má postura pode produzir
conseqüências danosas: trabalhos estáticos que envolvem uma postura parada por longos
períodos; trabalhos que exigem muita força; e trabalhos que exigem posturas desfavoráveis,
como o tronco e pescoço torcidos.
O trabalho dos funcionários, da empresa em estudo, envolve a primeira e terceira situação, já
que eles desenvolvem todo seu serviço em pé, às vezes estático, com o corpo e o pescoço
torcido, para poder movimentar as alavancas do caminhão e ainda ver o material sendo içado
da forma correta, como pode ser vista nas figura 1 e 2.
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Figura 1 – Tronco e Pescoço torcidos
teclado, o mouse e o monitor em distâncias adequadas em longo prazo podem gerar dor nos
punhos, no pescoço e na coluna dos usuários. A cadeira de alguns funcionários não possui
regulagem e nem todos têm apoio para os pés, o que pode gerar dores nos mesmos e nas
perdas, provocando também problemas de circulação. A sala mesmo tendo luzes fluorescentes
e teto forrado de cor branca, gera em alguns pontos pouca luminosidade, causando problemas
nos olhos e dores de cabeça, pois o funcionário sem nem perceber, força muito a vista quando
está trabalhando, principalmente nos monitores de computadores que não possuem uma tela
de proteção.
Para resolver tais problemas seria necessário um estudo com equipamento próprio para
verificação da adequação dos níveis de iluminância para interiores (NBR-5413) a fim de
evidenciar a necessidade de colocação de mais pontos de luz no teto. A compra de telas para
os monitores de todos os computadores dos escritórios, assim como armário para
armazenagem de documentos, livrando a mesa dos funcionários para que possam ter mais
espaço para colocar o que realmente importa. Cadeiras reguláveis são boas, mas podem ser
substituídas por apoios de pés, desde que a altura do monitor, do teclado e do mouse, consiga
se ajustar a altura do funcionário, sem que as pernas deste fiquem pressionadas.
Em relação à parte operacional, a solução crítica exige um estudo mais aprofundado e
minucioso para que sejam possíveis recomendações mais apropriadas e viáveis, para os
trabalhadores e para a empresa. Assim, para trabalhos futuros pode-se mencionar uma análise
mais aprofundada nos problemas identificados neste trabalho contemplando o que as
conseqüências psicoemocionais ocasionadas por esta atividade de trabalho geram na
produtividade do trabalho e um estudo mais aprofundado nas atividades de trabalho realizado
nos escritórios.
Referências
BRIDGER, R. S. Introduction to ergonomics. 2ª ed. London: Taylor e Francis, 2003, p.548.
DOENÇAS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E DO TECIDO CONJUNTIVO RELACIONADAS
COM O TRABALHO in Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde - Capítulo 18. Disponível em:
<www.segurancanotrabalho.eng.br/ergonomia/9.doc> Acesso em 08 de Novembro de 2010.
LIDA, I. “Ergonomia Projeto e Produção” 2ª Ed. Editora: Edgard Blücher, 2005.
TEIXEIRA, M. F. A.“A Importância Fisioterapêutica na Utilização do Questionário Bipolar de Couto na
Avaliação de Fadiga em Conjunto com A Análise das Interrupções de Trabalho em Operadores de Telefonia
(Call Center): Estudo Preliminar”. Universidade Veiga de Almeida – Rio de Janeiro, 2008.
UFRRJ, ”Riscos ergonômicos - Transporte de cargas”. Disponível em http://www.ufrrj.br/institutos
/it/de/acidentes/ergo.htm. Acesso em 07 de Novembro de 2010.
WWN Transporte, “Guindastes e Transportes Pesados”. Disponível em: http://www.wwntransportes.com.br/
materias.php?cd_secao=8&codant=. Acesso em 05 de Novembro de 2010.
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