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Leitura e Interpretação de Textos
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Leitura e Interpretação de Textos
SUMÁRIO
UNIDADE 1......................................................................................................................7
Módulo 4: Coesão............................................................................................................30
UNIDADE 2....................................................................................................................39
UNIDADE 3....................................................................................................................56
UNIDADE 4....................................................................................................................81
Referências..................................................................................................................117
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Leitura e Interpretação de Textos
APRESENTAÇÃO
Todo leitor deve ter como objetivos ler e não somente decodificar, mas
se desenvolve durante toda a vida, na medida em que temos contatos com diferentes
Priorizamos o texto por entendê-lo, seja visual seja acústico, como concretização
mundo, de participarmos dele; são formas de doação para que outro nos leia. Todos
somos livros transitando pela biblioteca vida. Uma vez que a relação leitor / texto é
vivificante para ambas as partes e que os textos se realizam entre os locutores, fica o
1 Graduada em Letras pelo Centro Universitário de Patos de Minas; Especialista em Português e Literatura
e Mestre em Letras – Estudos Literários, pela UFMG. Leciona em cursos a distância e presenciais.
Trabalha com tutoria, revisão e elaboração de cursos na área de Português, Literatura e Produção de
Textos.
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UNIDADE 1
MÓDULO 1 - A LINGUAGEM HUMANA E O CÓDIGO LÍNGUA
Convém estabelecermos nosso objeto de estudo, aquele sobre o qual trataremos
Língua:
contextos de uso.
refletimos sobre a língua, sobre os modos que a usamos, nos benefícios que ela nos traz;
não refletimos assim como não pensamos no ar que respiramos: apenas respiramos.
Unidade 1
Normalmente entendemos a língua como algo tão natural e óbvio que, por isso mesmo,
Vamos começar a pensar diferente: vamos pensar este nosso objeto como uma
das faculdades mais ricas que o homem possui; vamos pensar este nosso objeto como
humana.
Verdade é que a língua (idioma) é apenas um dos códigos utilizados pelo homem
na sua atividade comunicativa; apenas um dos códigos da linguagem. Mas isso não
humana, ou seja, o texto. Falaremos sobre ele mais adiante. Por ora, vamos aprofundar
Bagno:
[...] não existimos fora da linguagem, não conseguimos sequer imaginar
o que é não ter linguagem – nosso acesso à realidade é mediado por
ela de forma tão absoluta que podemos dizer que para nós a realidade
não existe, o que existe é a tradução que dela nos faz a linguagem,
implantada em nós de forma tão intrínseca e essencial quanto nossas
células e nosso código genético. Ser humano é ser linguagem. (BAGNO
in ANTUNES, 2010, p.11)
Assim como:
Ou ainda:
Mas é mais que isso. Nós nos expressamos e nos comunicamos por meio dela assim
como interagimos, realizamos ações, atuamos sobre o outro e sobre nós mesmos:
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olhares, do silêncio, dos gestos, das roupas e do perfume que usamos. São inúmeras
as formas de linguagem que utilizamos para atravessar, a cada instante, o espaço que
Todas as formas são maravilhosas porque têm este fim: interação. Uma
1.1 A língua
A língua é um fator social, pertencente ao social e que serve ao social. Ela é,
portanto, ao mesmo tempo, de uso individual e um bem comum. Pela língua estabelecemos
A língua pode ocorrer por meio da fala ou da escrita. Não há como saber quando
Unidade 1
nossos ancestrais desenvolveram a capacidade de agregar sons às ideias, ou seja,
quando surgiu a fala e a sua relação com a realidade. Também não há como saber
acerca das primeiras línguas faladas. Só sabemos daquelas que já existiam na época
4000 a.C.
da linha? Não. As línguas continuam se transformando porque são vivas. Mais a frente,
europeu:
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Leitura e Interpretação de Textos
Será que houve um dia em que os homens falavam a mesma e única língua?
própria língua?
Unidade 1
Estas são apenas perguntas para aguçar sua curiosidade. Nem tente
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Fala:
Produção textual-discursiva oral.
Uso de sons articulados e significativos e de aspectos prosódicos Envolve
outros cursos expressivos tais como gestualidade, movimentos, mímica.
Escrita:
Produção textual-discursiva gráfica
Modalidade complementar à fala
Desenvolvida e utilizada pelo homem em muitas culturas. Línguas
ágrafas: línguas que não possuem escrita
Unidade 1
Fala e escrita diferenciam-se conforme o uso e assemelham-se por
Tanto uma quanto a outra se estruturam por meio de uma gramática, são
organizadas e contextualizadas de acordo com a intenção comunicativa
e o contexto de produção, bem como se manifestam por meio de um
determinado gênero textual (aula, palestra, notícia, resenha, artigo,
etc.) (GERALDY, 1997)
para um amigo; outros são orais e, no entanto, resultam de leituras, anotações, como
uma aula expositiva presencial; outros, como os jornais televisos, são falados, mas os
uso modificando tanto a fala quanto a escrita, estudaremos em nosso próximo módulo
no mundo, que participamos dele. Escrever e falar são formas de doação para que outro
[...]
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Leitura e Interpretação de Textos
línguas do mundo vivem mudanças em seu interior, que podem acontecer, inclusive,
é língua oficial em oito países e em nenhum deles há igualdade total em relação à fala
Interessante notar que, apesar de ser a língua oficial, em países como Cabo Verde,
Unidade 1
Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, o português não é utilizado pela população no seu
está associado à condição sociocultural: é falado pela população culta, pela classe
na língua que utilizamos hoje. Também há um dado importante: não há língua que
2 Crioulos: línguas mistas que nasceram do contato entre o idioma europeu e determinada língua nativa,
conservando características das duas línguas. Disponível em http://www.instituto- camoes.pt/cvc/hlp/
index.html
3 informação disponível no Portal do Museu da Língua Portuguesa: http:// www.estacaodaluz.org.br
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Leitura e Interpretação de Textos
falada por eles. Ela se modifica no contato com outras línguas e se modifica no tempo.
E mais: ela se modifica dentro de um mesmo país, em função das pessoas que a usam
e em função do uso que se faz dela. Vejamos estas mudanças um pouco mais de perto.
Quando ela varia em função das pessoas que a usam, dizemos que ocorre
variação dialetal; quando varia em função do uso que se faz dela, ocorre variação
Como exemplo, leia trechos do texto no qual, Kleidir Ramil, músico e escritor
No Rio é “e aí merrmão! CB, sangue bom! Vai rolá umach paradach”. Até
eu entender que merrmão era “meu irmão” levou um tempo. Em São Paulo
eles botam um “i” a mais na frente do “n”: “ôrra meu! Tô por deintro, mas não
12r inteindeindo”. E no interiorrr falam um erre todo enrolado: “a Ferrrnanda
marrrcô a porrrteira”. Dá um nó na língua. A vantagem é que a pronúncia deles
no inglês é ótima.
Em Mins, quer dizer em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte,
Nossenhora e qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei daquela história
do mineirinho na plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou
apontando as malas: “Muié, pega os trem que o bicho tá vindo”.
No nordeste é tudo meu rei, bichinho, ó xente. Pai é painho, mãe é mainha,
vó é vóinha. E pra você conseguir falar com o acento típico da região, é só
cantar sempre a primeira sílaba de qualquer palavra numa nota mais aguda
que as seguintes. As frases são sempre em escala descendente, ao contrário
do sotaque gaúcho.
Mas o lugar mais interessante de todos é Florianópolis, um paraíso sobre a
terra, abençoado por Nossa Senhora do Desterrro. Os nativos tradicionais,
conhecidos como Manezinnhos da Ilha, têm o linguajar mais simpático
da nossa Língua Brasileira. Chamam lagartixa de crocodilinho de parede.
Helicóptero é avião de rosca (que deve ser lido rôchca). Carne moída é boi
ralado. Se você quiser um pastel de carne precisa pedir um envelope de boi
ralado. Telefone público, o popular orelhão, é conhecido como poste de prosa
e a ficha de telefone é pastilha de prosa. Ovo, eles chamam de semente de
galinha, e motel é lugar de instantinho.”
(Para ler este texto na íntegra,
acesse http://www.cantadoresdolitoral.com.br/k/index.html)
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Leitura e Interpretação de Textos
Para comprovar este tipo de variação, leia abaixo o fragmento do texto de Carlos
Antigamente
2.1.3 Variação Social: conforme o meio social em que foi criada e o nível de escolaridade.
Leia um trecho do poema “Aos poetas clássicos” de Patativa do Assaré, poeta cearense
Unidade 1
que só passou seis meses na escola:
Poetas niversitário,
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.
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Leitura e Interpretação de Textos
Vale, pelo encanto da leitura, você ler o restante deste poema que está disponível
técnica (ou jargões) específica a elas. No entanto, quando os falantes utilizam esta
variedade fora do grupo a que lhe deu origem, pode parecer pedantismo ou forma de
2.1.5 Variação etária: conforme a idade do falante. A gíria é um exemplo típico desta
variação. Veja como este texto de Mário Quintana também explica e exemplifica bem a
dicionários como velhas caducas num asilo. Às vezes uma que outra se
escapa e vem luzir-se desdentadamente, em público, nalguma oração
de paraninfo. Pobres velhinhas...
Pobre velhinho!
QUINTANA, Mário. Triste História, em Porta Giratória.
São Paulo: Globo, 1988, p. 20.
das pessoas que a usam – variação dialetal; e em função do uso que se faz dela –
uso e na variedade dos recursos da língua, “aproximando-se cada vez mais da língua
padrão e culta em seus usos mais ‘sofisticados’ (literários, obras científicas, etc.)”.
Unidade 1
simultaneamente, por isso é pontilhada Houve tempo para a elaboração, por isso,
escritor, com o ouvinte / leitor, com o grau de intimidade entre os interlocutores e com o
Bowen, citado por Travaglia (1997, p.53) considera que são cinco os graus de
formalismo distintos, tanto na língua oral quanto na escrita e propõe o seguinte quadro:
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Leitura e Interpretação de Textos
VARIEDADES DE MODO
Língua falada Língua escrita
Oratório Hiperformal
VARIANTES DE GRAU DE Formal (deliberativo) Formal
FORMALISMO Coloquial Semiformal
Coloquial distenso Informal
Familiar Pessoal
como de hiperformal (equivalente escrito de oratório) a pessoal (notas para uso próprio,
bilhetes para conhecidos), a língua nos oferece inúmeros recursos. O que temos de
Seria inadequado, por exemplo, enviar um bilhete para o diretor de sua faculdade
comunicação.
2.1.3 Sintonia: “é o ajustamento na estruturação de seus textos que o falante faz, com
base em informações específicas que tem sobre o ouvinte”. (TRAVAGLIA, 1997, 56).
• do status do interlocutor;
podemos conhecer a língua pelo uso que as pessoas fazem dela, como conhecer as
culturas das pessoas pelo uso que estas fazem da língua. Podemos também concluir
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Leitura e Interpretação de Textos
que não podemos considerar certo ou errado o uso de uma variedade distinta da
nossa. Tudo é uma questão de adequação, ou seja, do melhor uso dos recursos em
o preconceito contra o uso de outras variedades não padrão. O próprio fato de nomear
a variedade como Norma Culta traz o pressuposto de que a outra variedade é inculta.
E isso não é uma verdade. É importante sabermos que toda variedade configura-se em
padrão (inclusive estamos aqui para aprender e exercitar a variedade padrão): trata-se
qualquer variedade.
Unidade 1
de uma faculdade, no entanto escreveu poemas como uma roseira produz rosas. Se
fôssemos desprezar seus versos porque não estão de acordo com a norma culta, não
sentiríamos o perfume de suas palavras. Perde cada um que, pelo preconceito, não
escuta o outro ou não permite que ele fale e, consequentemente, perde a comunidade
A) Língua Falada
sempre reconhecido como apropriado para uma situação muito formal. Poder-se-ia
citar exemplos tirados de nossa literatura, tais como os sermões do Padre Antônio
mais rico, com muito sinônimos ou quase sinônimos, usados para evitar repetições
4. Casual (Coloquial distenso): nesse nível percebe-se uma completa integração entre
pela omissão de palavras e pouco cuidado em sua pronúncia, que pode ocorrer
com mudanças de sons, sem seus finais, etc. Seriam exemplos desse nível as
B) Língua escrita
nível.
formalidade que este. É a forma de língua que encontramos, por exemplo, em cartas
Unidade 1
ortografia simplificada, construções simples, sentenças fragmentadas.
5. Pessoal: quase sempre notas para uso próprio. Como exemplos podem-se citar um
recado anotado ao telefone, um bilhete que deixamos para avisar alguém da casa de
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Leitura e Interpretação de Textos
materializar, por exemplo, em qualquer imagem, numa música; ou em uma única palavra
ou seja, o texto.’ Dessa forma, nós delimitamos nosso campo de estudo ao texto como
textuais será importante para ampliarmos nossa capacidade textual, nossa capacidade
verbais e não verbais. Os verbais podem ser oral (sonoro) ou escrito (visuais, táteis – no
caso do braille); os não verbais podem ser visuais, sonoros, táteis, olfativos, gustativos.
Resumindo: tudo o que passa pelo filtro dos cinco sentidos será um texto, desde que
Faça o seguinte, então, para exercitar a leitura dos textos (não verbais e verbais):
saia por aí lendo a vida explodindo em cores – leia a natureza, as pessoas, o vento,
os sons, o silêncio. Leia tudo e descubra que ler é, antes de tudo, sentir. Esta leitura
da vida a partir do exercício dos cinco sentidos ampliará de tal maneira seu
conhecimento de mundo que lhe permitirá a leitura e o conhecimento dos demais textos.
Uma vez que não conseguimos estudar neste espaço todos os tipos de textos
construirmos um texto escrito ou falado. Assim como podemos utilizar o escrito para
texto original.
Uma diferença é que é que os textos verbais são lineares. Quando vemos uma
imagem, nossos olhos captam o conjunto, não há necessidade de saber a ordem que
uma relação entre as palavras, as frases, os parágrafos. Esta relação é um dos fatores
que determinam a existência de um texto como texto escrito ou falado; é uma relação da
do sentido: quanto mais soubermos sobre as circunstâncias e a época em que o texto foi
criado, sobre seu autor e sua intenção com aquele texto, sobre as ideias que defendia ou
Unidade 1
defende, mais saberemos sobre o texto; maior será o sentido que dele construiremos.
Vamos aceitar o desafio implícito nas palavras de Barthes e ler a seguinte imagem:
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Unidade 1 Leitura e Interpretação de Textos
Ambiguidade visual.
Disponível em http://www.possibilidades.com.br/possibilimagens/frame_ambiguidades.asp.
Acesso em dezembro de 2012
fixarão em um ponto a partir do qual começará a vagar por todo o resto. A mente fica
enfileirados, uns acima outros abaixo, ocupando quase toda a tela e, no fundo, algumas
chaminés, das quais uma com fumaça e, mais ao fundo, prédios e, por trás e acima
deles o céu.
O que isso quer dizer? A resposta ficaria apenas nessa descrição. Porém temos
emigrantes ao Brasil.
sustentam as fábricas. Eles é que produzem a riqueza daqueles que sequer aparecem.
Eles são muitos rostos, uma multidão sem individualidade; explorados e oprimidos só
apurada. No entanto, essa leitura não esgota todo o significado da tela, pois as imagens
Unidade 1
são formadas de ideias e sentimentos vários, mais que de palavras. Estas podem até falar
sobre a imagem e descrevê-la, mas não podem desvendar todo seu valor significativo.
Apesar disso, como leitores, continuamos nossa busca pelo significado, subvertendo a
o texto necessita possuir para se configurar com tal, para possuir textualidade. São elas:
Linguísticas:
Coesão
Coerência
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Leitura e Interpretação de Textos
Pragmáticas:
Situacionalidade
Intencionalidade
Informatividade
Aceitabilidade
Intertextualidade
sentido.
Unidade 1
Aceitabilidade: o leitor tem que aceitar o que está sendo dito. E aceitar, neste
caso, é diferente de concordar. É que o leitor tem que fazer uma espécie de pacto
com o autor para que a leitura aconteça. Caso contrário ou a leitura não se inicia ou é
interrompida. Para que o pacto aconteça o texto precisa ser aceitável e “o leitor tem
é bom que se diga: Roland Barthes foi quem o disse. Isso é que acontece nos
textos: formam-se a partir de outros, mesmo que nem sempre reconheçamos o texto
original. Por exemplo: esta nossa disciplina é um intertexto. Você poderá comprovar as
texto. No entanto, em suas leituras, fique atento a todas as propriedades, pois elas
Em uma das minhas aulas de português perguntei aos alunos o que eu precisava
para fazer um texto, e eles me falaram “palavras”, “sentidos”, “estrutura”, “caneta”, “papel”,
“computador”. Dando continuidade para a aula, e para que eles pudessem comparar,
perguntei também o que eu precisava para construir uma casa, aí falaram: “pedreiro”,
disse a eles que construir um texto é como construir uma casa, se para construirmos
Unidade 1
A presença dos sujeitos
Alguém levantou a mão e falou “de um autor”. Isso. E quando eu faço um texto,
leitor”. Comparar a construção de um texto com uma casa foi eficaz, pois quando
texto? Por que ninguém se lembra do autor? Ele também constrói o texto, ele também
escolas, no ensino de português, se esquecem de falar isso para os alunos, que fazer
o autor. Sem o leitor o texto não existiria. É para ele que produzimos o texto. Sempre
devemos ter em mente ao produzir um texto que o leitor deve ler o texto e deve ter
alguma reação ao lê-lo. Ao escrever um texto deve-se ter em mente quem será o leitor
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Leitura e Interpretação de Textos
do meu texto?
o texto não falaram nenhum correspondente. Fica claro para eles que sem terreno
não há casa, e devemos levá-lo em conta, analisar quem está em volta, os vizinhos, se
o terreno aguenta o peso da casa, etc. No texto é a mesma coisa, devemos olhar em
nossa volta, o contexto em que o texto está sendo produzido é extremamente importante
na produção do texto tanto para servir de tema, quando para servir de base teórica. É
o contexto que vai nos indicar o que podemos escrever, o que podemos ler, o como
proceder para transformar o texto, etc. Terreno e o contexto irão sustentar o texto, servir
tanto de tema como base para um bom texto. Sem contexto não há texto, já que esse
A estrutura e o alicerce
mesma forma que para o texto realmente é importante a estrutura, cada tipo de texto
terá seu alicerce, ou seja, sua forma. Uma dissertação não se escreve da mesma forma
que uma narração e vice-versa. Isso precisa ficar claro para o aluno. Também, se para
essas perguntas antes de produzir um texto, então ele ficará mais organizado.
texto é sem dúvida a palavra. É através dela e para ela que escrevemos. A palavra é
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Leitura e Interpretação de Textos
leitor), a ponte que passa do sujeito para o contexto (o mundo), a palavra é o trator que
derruba impérios e muros, a ponte que liga a infelicidade da felicidade. É a palavra que
faz com que nos tornemos humanos, demasiadamente humanos. É a palavra o tijolo da
linguagem, é ela o material do texto, a substância, é através dela que vamos nos refugiar
no mundo e do mundo, expressando o que temos em nosso interior, seja ódio, seja o
medo, seja o sonho, seja a vontade de passar uma ideia. Produzir um texto, assim como
ler, é mostrar para o que é externo em nosso corpo, a fúria do eu. A fúria que ronda toda
Unidade 1
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Leitura e Interpretação de Textos
sequencial.
Unidade 1
remissão pode ser feita para trás (anáfora) e para frente (catáfora), por meio de recursos
- De ordem gramatical:
relativos)
numerais
artigos definidos.
Exemplos:
nome de Dela. Todos os dias, Dela ficava junto ao portão esperando Heitor apontar lá
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Leitura e Interpretação de Textos
sinônimos
alguém.
hiperônimos / hipônimos
aves.
Unidade 1
nomes genéricos:
epítetos
Ayrton Senna foi um dos maiores esportistas brasileiros. Todo o mundo lamentou
nominalização.
Eles foram testemunhar sobre o caso. O juiz disse, porém, que tal
Exemplos:
significação.
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Leitura e Interpretação de Textos
- Elipse:
Exemplos:
por nomes genéricos, mas também por meio das demais espécies de pronomes, de
Exemplos: Tudo colaborou para minha decisão: o atraso, o tempo, a solidão e a saudade.
orientações ou indicações para cima, para baixo, para a frente e para trás, ou ainda
Exemplo:
Unidade 1
respectivos significados.
se realiza por encadeamentos que podem ser obtidos por justaposição (sem a presença
Exemplos:
violentas
Conexão: “Acho que as escolas terão realizado sua missão se forem capazes de
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Leitura e Interpretação de Textos
como uma placa de trânsito. Agora, imagine uma placa incorreta enviando as pessoas
coesivos: deixaremos nosso leitor perdido e o significado pretendido não poderá transitar
Eis alguns recursos linguísticos que estabelecem relações entre os elementos do texto:
3 - Causa – porque, já que, visto que, graças a, em virtude de, por (+infinitivo)
Unidade 1
4 - Conclusão – logo, portanto, pois.
5 - Condição – se, caso, desde que, a não ser que, a menos que.
(+infinitivo)
menos.
13 - Tempo – quando, logo que assim que toda vez que, enquanto, toda vez
que.
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Leitura e Interpretação de Textos
II – Pronomes relativos: qual, cujo, quanto, que, quem, onde, quando, como
2 - O fragmento de frase de que ele faz parte. Pode ser que haja um verbo
ou um substantivo que exija uma preposição. Nesse caso, ela deve preceder
o relativo.
III – Conectivos de transição: aparecem iniciando frases estabelecendo uma ponte entre
transição possibilita uma maior organização do pensamento e faz o texto progredir mais
facilmente.
fato.
tudo.
Coerência
Podemos definir coerência ao compreendermos o oposto (antônimo) desta
palavra: incoerência. Muitas vezes percebemos que uma situação é tão inadequada em
festa para comemorar a tristeza; estudar e não passar de ano; votar em um político
nos esforçamos para justificá-las, pois nossa mente sempre busca por coerência. Porém,
daqui a pouco. Antes, precisamos saber o que representa a coerência para um texto.
Um texto pode ter uma situação à qual está vinculado. Mas se ele não tem
coerência, ele nada tem. Ele pode ter elementos coesivos, mas se ele não tem coerência,
Unidade 1
ele nada tem. Ele pode ter intertextos, informações, intenções... mas se ele não tem
coerência...
esforçamos sempre por coerência! Devido a esse esforço, percebemos que nós, como
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Leitura e Interpretação de Textos
este texto mantém com um contexto (situação externa e anterior a ele) e na relação que
o leitor mantém com o texto. Ou seja: ela deve existir antes, durante e depois do texto.
a uma.
4.3 Repetição
Palavras e ideias pertencentes ao tema devem ser mantidas ao longo do texto. Elas
Nada no texto ocorre por acaso: algo que foi falado deve ser retomado em momentos
diferentes do texto. É como um bordado: se a agulha não volta para retomar um ponto,
o ponto da frente fica solto, comprometendo não só a harmonia como a sustentação dos
Unidade 1
pontos.
4.4 Progressão
Um texto deve progredir trazendo novas informações para aquele elemento que
foi repetido. Repete, retoma o que foi dito e acrescenta algo novo; repete, retoma o que
foi dito e acrescenta algo novo, e assim sucessivamente no decorrer do texto. Seguindo
final do poema, no desenho da “vida besta”, podemos quase ouvir o zumbido de uma
mosca preguiçosa. Ou seja, o texto, por sua coerência, nos remete, também, para fora
dele.
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Leitura e Interpretação de Textos
Cidadezinha qualquer
4.5 Não-contradição
foi dito. Se um texto é uma dissertação contra a violência, por exemplo, e num dado
momento passar a defender a pena de morte, houve contradição. Mas não podemos
confundir a contradição com o contraste; este é um recurso muito utilizado para reforçar
Unidade 1
a argumentação.
que contradigam o que já foi dito anteriormente. Não se pode, por exemplo, ser contra a
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Leitura e Interpretação de Textos
seres humanos.
4.6 Relação
entre as partes.” Cada pedacinho do texto deve estar relacionado a outros pedacinhos e
ao texto todo. É um sistema: partes que se associam e agem em conjunto para benefício
próprio e do todo. Não se podem jogar frases soltas, sem relação entre si, pois se não
Nostalgias
Há tempos escrevi este decassílabo nostálgico:
Unidade 1
Têm ambos o mesmo ritmo. Causam ambos o mesmo nó na garganta que me impede
de continuar.
Talvez o poema já esteja pronto... e ninguém notou. Nem eu!
Porque ele próprio se completou, cada verso chorando no ombro do outro... E sem
mesmo notar que eram decassílabos!
(Mário Quintana)
Observe como o último verso sintetiza bem a ideia de relação: “cada verso
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Leitura e Interpretação de Textos
UNIDADE 2
MÓDULO 5 - INTERTEXTUALIDADE
Sabe quando isso ocorre? Sempre. Segundo Platão e Fiorim (2001), “a linguagem
Unidade 2
é fundamentalmente, constitutivamente heterogênea”. Se a linguagem é heterogênea e
o texto é a materialização desta linguagem, então todo texto é heterogêneo. Isso quer
dizer que ele é formado por diferentes textos, que ele traz para o seu cenário diferentes
Você poderia perguntar: Então não existe originalidade? Não há nada original?
de uma situação diferentes com uma intenção autoral diferente, em um texto diferente,
o sentido deste novo texto também será outro. Tudo muda: o que acontece é uma
criação.
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Leitura e Interpretação de Textos
Segundo Platão e Fiorim (2001), um texto cita outro com, basicamente, duas
finalidades distintas:
licença Poética, de Adélia Prado e a letra da música Até o fim, de Chico Buarque,
podemos notar que, em diálogo com a primeira estrofe do poema de Drummond, Adélia
do ser mulher naquela que carrega bandeiras em contraposição ao ser homem que
carrega o estigma de ser gauche (solitário, diferente dos outros, triste). Mulher é
Chico Buarque elege um anjo safado, “um chato dum querubim” para determinar
as dificuldades da vida. Porém, o eu lírico afirma que, apesar das predições do anjo, ele
Adélia e Chico dialogam com Drummond. Este dialoga com o texto bíblico no qual
o anjo Gabriel profetiza a Maria sobre seu filho “Este será grande, e será chamado Filho
do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi. Ele reinará eternamente sobre a
Na quinta estrofe do Poema de Sete Faces, Drummond volta a citar o texto bíblico
poeta contrapõe esta citação à referência da anunciação pelo anjo, como que a afirmar:
“não tive a mesma origem; logo não posso ter o mesmo fim”.
Unidade 2
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
No caso dos três poemas lidos as referências são bastante explícitas. Mas pode
acontecer de um leitor não conhecer o texto com o qual se está travando um diálogo.
Nesse caso, este leitor perde na quantidade e na qualidade do sentido que ele poderia
escrita introdutória em outro texto. Observe que no início de nossos estudos sobre
intertextualidade, há uma escrita entre aspas, tamanho de letra menor que o restante
do texto e que está alinhado à direita com os nomes dos autores entre parênteses.
Aquela escrita é uma epígrafe. Ela tem a pretensão de carregar uma ideia geral do texto
que introduz.
Unidade 2
Uma vez que as fontes de pesquisa devem ficar evidentes para os leitores, marcam-
se com aspas a presença do texto do outro. Há três tipos de citação: direta, indireta e
citação de citação.
2.1 Citação direta: Marcada com aspas e com referência ao autor, ano de
Exemplo:
“Há diferentes formas de mostrar a presença das múltiplas vozes num texto: deixá-
las, por conta da memória do leitor, ou trazê-las para a cena, demarcando explicitamente
2.2 Citação indireta: é a reprodução não literal das ideias de outro autor no
texto. Nesse caso, o texto não virá entre aspas e terá somente o nome do autor da fonte
e o ano de publicação. Para a reprodução não literal, cria- se outro texto com as próprias
Exemplo:
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Leitura e Interpretação de Textos
implícita, poderá ser trazida à tona pela memória do leitor; quando explícita, seu lugar e
retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Pode ocorrer com a finalidade de uma
sátira, de uma brincadeira ou mesmo para negar as ideias do texto fonte. É realizado
a partir de qualquer linguagem, ou seja, o texto fonte pode ser também uma linguagem
não verbal.
com diversos objetivos. Veja a seguir como esta obra foi fonte, para a criação de,
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Leitura e Interpretação de Textos
textualidade, há ainda que considerar que o texto se estrutura de alguma forma para
ideia, contar uma história, descrever fatos ou objetos, dar ordens ou conselhos. O uso
expositivos), ou injuntivos.
Cada tipo se diferencia nos aspectos lexicais e sintáticos, nos tempos verbais
e nas relações lógicas (dentro e fora do texto). Cada tipo se configura conforme o
Unidade 2
predomínio dessas sequências linguísticas. Estes tipos são utilizados na elaboração
Gêneros são todos os textos: crônicas, contos, fábulas, poemas, cartas, avisos,
outros gêneros.
interpretação dos gêneros. Marcuschi, citado por Irandê Antunes, afirma que tipos e
gêneros se complementam, pois “os textos realizam gêneros e todos os gêneros realizam
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Leitura e Interpretação de Textos
acontece ou existe somente num tempo e num espaço. Nada está fora do tempo e do
problematizada (algo ocorre e muda a situação inicial). A situação é cada vez mais
problematizada e perturbada até o clímax. Nesse instante uma solução para o problema
Unidade 2
é apresentado, a situação volta a se acalmar, mas nada será como antes. A história é
As mudanças relatadas são organizadas de maneira tal que entre elas existe
perfeito (bebeu, cantou, chegou) o pretérito mais que perfeito (ouvira, cantara) e o
46
Leitura e Interpretação de Textos
Não importa o tamanho da narrativa, se de três ou de três mil linhas, ela terá os
perguntas:
O que aconteceu? Com quem? Por que ou para quê?
Como aconteceu? Onde? Quando? Quem é o contador?
serão dadas pelo contador e outras serão reinventadas pelo ouvinte / leitor, que é aquele
Vamos ler um capítulo do livro Pequenos Amores, de José Roberto Torero (2003,
Unidade 2
Esse é um número que exige total confiança entre os parceiros.
Mário confiava em Maria até descobrir que Maria o traía com Piteco, o palhaço.
Maria, que não sabia que tinha sido descoberta, ainda confiava em Mário na
noite em que ele a deixou cair.”
Outros gêneros, mesmo que a tipologia dominante não seja a narrativa, podem
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Leitura e Interpretação de Textos
Descrever exige o poder da observação. O observado, para ser descrito, paralisa-se sob
48
Leitura e Interpretação de Textos
Unidade 2
ligação, dos adjetivos e das comparações para construir a figura da namorada:
NAMORADOS
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada?
A moça se lembrava:
- A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
O que é isto?
De que é feito?
49
Leitura e Interpretação de Textos
enunciador de ensinar ou de convencer. É bom sempre pensar que quem vê, vê com
situado.
com as intenções, com o tipo de informação. Logo, o olhar do outro é uma forma de
textos que pretendem apenas indicar como fazer, como realizar uma ação são chamados
de injuntivos.
imperativo. A forma nominal do verbo no infinitivo também é muito utilizada por esta
tipologia.
Unidade 2
Outdoor “bebeu e está dirigindo vai ficar lindo com uma coroa de flores”. Disponível
em http://www.google.com.br/imgres?q=Outdoor+“bebeu+e+está+dirigindo+vai+fic
ar+lindo+com+uma+coroa+de+flores”&hl. Acesso em novembro de 2012.
51
Leitura e Interpretação de Textos
abrangente e profundo.
dissertativa:
frequência, querendo comprovar a validade de nossas ideias. Até nas coisas mais banais
como, por exemplo, se uma cadeira deve ficar aqui ou ali, nós entramos com nossa
Para que essa felicidade ocorra mais e mais vezes, o segredo é a organização
Podemos dissertar para expor nossa opinião e defendê-la; para expor uma
argumentativo.
Unidade 2
É comum em sequências expositivas, o uso da 3ª pessoa do discurso para
53
Leitura e Interpretação de Textos
1 descrição
“Como uma ilha azul que se avista a distância, pouco a pouco ela ia
ganhando contorno e detalhes, e, já próxima, revelava formas originais
e intrigantes.” (Amir Klink)
2 Definição
“A escuna azul, um veleiro viajante de dois mastros que de tempos em
tempos aparecia no Brasil.” (Amir Klink)
3 enumeração:
Tempos chuvosos ou ensolarados; tempos catastróficos ou tempos de
trégua da natureza; tempos diversos, mas a escuna era a mesma.
4 comparação.
Ela, aparentemente imóvel, parecia um barco em uma garrafa.
5 contraste.
No entanto, trazia movimento, transformação. A escuna era o próprio
movimento.
Unidade 2
aconteceu, onde, quando; perguntas típicas da tipologia narrativa. “Todo relato de fatos
54
Leitura e Interpretação de Textos
conteúdo mais genérico, que constituem a essência do texto dissertativo” (PLATÃO &
objeto descoberto.
Unidade 2
55
Leitura e Interpretação de Textos
UNIDADE 3
MÓDULO 9 - TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS A CONSTRUÇÃO TEXTUAL
9.1 Tipologia Dissertativa
9.1.1 Dissertativa argumentativa
Todo texto tem, por trás de si, um produtor que procura persuadir o seu
leitor, usando para tanto vários recursos de natureza lógica e linguística.
(PLATÃO & FIORIM, 2002)
texto ficam explícitos, enquanto que nas outras tipologias, os pontos de vista ficam
implícitos, mas perceptíveis na seleção de assuntos e nos termos escolhidos pelo autor.
Unidade 3
pensamento.
particulares. Assim:
portanto, assim, por conseguinte, consequentemente, decorre daí que, então, segue-se
Veja como Guiomar de Grammont estrutura seu texto nesse tipo de raciocínio:
Unidade 3
Ler devia ser proibido
Guiomar de Grammont
“A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens
para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo
insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem
do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam
mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado,
de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo
mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal
sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se
esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e
amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto
perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que
tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder
incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria
feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria
mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem
procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não
experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que
conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar
ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos
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Leitura e Interpretação de Textos
para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a
invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além
do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia.
Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios
azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que
um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes
para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais
percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos
impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus
filhos, pode levá- los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta
que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de
quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem
conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias,
pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou
para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes
demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre
não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível
controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o
que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar
sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista
Unidade 3
de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas
leem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de
remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros
da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem
magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E
esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o
homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é
mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou
para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais
àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em
metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer
um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da
submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias,
tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna
coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os
indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os
capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser
proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.”
http://www.leialivro.com.br/ler-devia-ser-proibido/#ixzz246okPKIm
58
Leitura e Interpretação de Textos
causalidade
Exemplos:
Unidade 3
O setor de produtos e serviços para animais domésticos no Brasil vai muito
bem, obrigado. Não surpreende. Afinal, existem no país hoje quase 98 milhões desses
animais – são cerca de 35 milhões de cães, 5 milhões de peixe, 18 milhões de gatos,
18 milhões de pássaros, entre outros menos cotados. Para você ter uma ideia, 44%
dos lares brasileiros das classes A, B e C possuem um cão ou um gato. Aliás, o Brasil
conta com a segunda maior população de cães e gatos do mundo. Todos esses dados
são da Anfalpet, associação que reúne os fabricantes de produtos para animais
domésticos.
Revista Gol Linhas Aéreas Inteligentes. Luiz Alberto Marinho. Set.2011.
muito bom.
Veja agora um bom exemplo citado por Barbosa (1994, p.) de argumento por
uma analogia entre a atitude irracional dos macacos, que os leva a serem capturados,
e a ganância dos capitalistas. Com essa analogia, o autor pretende demonstrar que a
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Leitura e Interpretação de Textos
macacos, contadas por Arthur Morgan? Segundo a história, tomam de um coco e abrem-
lhe um buraco, do tamanho necessário para que nele o macaco enfie a mão vazia.
Colocam dentro torrões de açúcar e prendem o coco a uma árvore. O macaco mete a
mão no coco e agarra os torrões, tentando puxá-los em seguida. Mas o buraco não é
bastante grande para que nele passe a mão fechada, e o macaco, levado pela ambição
A origem disso está na ausência de valores. É na ausência, no vazio que deveria ser
não construiu bem os argumentos. De qualquer forma, nesses casos, a dissertação fica
prejudicada. No caso de ser você o escritor, fique atento para não incorrer nestes erros:
sempre resulta numa situação que parece sem saída e sempre desfavorável.
Exemplo:
Exemplo:
autoridade, muitas vezes como uma falsa citação como no exemplo abaixo,
Assim como Cristo disse: “quem com ferro fere com ferro será ferido”, devemos
Unidade 3
planeta, pois parece que nunca se preocupam com o dinheiro que recebem
O estudante será um ótimo advogado, pois seu pai foi um excelente jurista.
fazer. Afinal de contas, podemos levar o camelo até a água, mas não podemos
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Leitura e Interpretação de Textos
obrigá-lo a beber.
62
Leitura e Interpretação de Textos
Nele se desenvolve uma ideia central ou nuclear à qual se agregam outras, chamadas de
ideias secundárias, que são decorrentes da mesma ideia nuclear. Nuclear e secundárias
descritivos. Para construir bem um parágrafo, o segredo está na organização das ideias
Deve-se evitar construir parágrafos com apenas um período. O ideal é que possua
Unidade 3
O primeiro passo para elaborar um parágrafo é delimitar o assunto. Assunto
frase núcleo (ou tópico frasal). Com a frase núcleo elaborada, é só desenvolvê-la para
em seguida concluí-la.
1) Delimitar o assunto: delimitar quer dizer partir do amplo para o mais específico
possível. Suponhamos que você tenha que escrever sobre “Televisão”. Como há
“Efeitos da Televisão”
Ótimo! Delimitou bastante. Mas ainda está amplo, pois a televisão possui variados
Agora, sim! O assunto está delimitado e dele obtivemos o tema. O próximo passo
é estabelecer os objetivos.
crianças.
dos objetivos será sua frase-núcleo, a frase que contém a ideia principal com todas as
a frase núcleo, também chamada de tópico frasal, seja a frase introdutória do parágrafo.
as ideias que serão desenvolvidas. As ideias são as palavras- chave. Para desenvolver
“Muitos programas infantis têm como tema a rivalidade, a disputa que desconhece
valores e que desemboca em lutas sangrentas. A influência desses programas pode ser
conquista de amigos”.
Unidade 3
São inúmeras as formas para desenvolver e estruturar o parágrafo. Vejamos
algumas:
em sua carreira como matemático, Fernando Codá Marques chamou a atenção ao ser
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=3¬icia=753
do cadastro de terras na Amazônia ainda é uma incógnita. Nem estado, nem União sabem
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=3¬icia=753
Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque
escolhem este modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma necessidade
possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado
grande quantidade de alimento. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo
Não se pode imaginar contraste mais violento do que o existente entre as duas
água [...]. De outro lado, um caos de pedras cinzentas cravadas em desordem no chão
de argila seca, rachado pelo sol [...]. No litoral, a riqueza da vegetação [...]. No sertão,
a caatinga, como lhe chamavam os índios, com uma vegetação de cactos, de moitas
66
Leitura e Interpretação de Textos
básico da decodificação, exige a presença de um sujeito que ativa suas memórias, seus
outro. Ler é estar em contato com o outro, numa atitude de negociação, de troca. A ponte
que nos possibilita este contato é o texto, o qual temos estudado nesta nossa disciplina.
o leitor. Quanto mais íntimo e intenso for o relacionamento entre estes elementos, mais
Unidade 3
conseguirmos construir (ou reconstruir) o sentido de um texto. Para a construção do
sentido é necessário considerar que existe a linha e a entrelinha; o dito e o não dito;
a seguir, de Carlos Drummond de Andrade, ilustra bem esta busca pelo significado,
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
(Carlos Drummond de Andrade)
a) Procure saber quem é o autor do texto, qual a ideia que ele defende.
c) Veja em qual veículo foi publicado o texto e procure entender qual a linha deste
d) Descubra que tipo de leitor, o texto e o canal (revista, livro, jornal) pressupõem:
responda, mas também compactue com o autor e, se plausível, aceite o texto. Aceite-o
Buscar informações
Realizar trabalhos acadêmicos
Consultar (significados, localizações, listas etc.)
Cumprir eventuais obrigações: manuais, bula
Sentir prazer, deleite
para uma leitura “proveitosa”, descritos por Marconi e Lakatos (2009, p.20): atenção,
É o espírito crítico que impede o surgimento de um leitor passivo, aquele que não
constrói os sentidos; aquele que, por não possuir uma atitude responsiva de interação,
aspectos fundamentais em uma leitura informativa; por isso, você aprenderá agora as
de seu computador; neste último caso, selecione e sublinhe. Sublinhar é muito útil para:
assimilar;
memorizar;
Unidade 3
preparar uma revisão rápida do assunto;
fichar
Método:
e outros.
os parágrafos.
esquema.
Unidade 3
mestra – aquelas que, como vimos, carrega o sentido primordial do texto. Uma vez
localizada estas palavras ou frases, deve-se localizar as outras que estão associadas a
As mais importantes ficam em uma linha sem recuo para parágrafo. As que lhe
são agregadas ficam sinalizadas nas linhas sequencialmente abaixo em um recuo maior
Ímpeto da paixão e do entusiasmo deve ser dirigido à própria vida. vida biológica:
vida biográfica:
minha circunstância
meu destino
minha vocação
felicidade criadora
Unidade 3
Com o texto devidamente decomposto, podemos reconstruí-lo por meio de uma
síntese, tomando por base as ideias essenciais e a ordem entre estas ideias.
Para que a paixão reencontre sua direção, deve-se apaixonar pela vida;
Na elaboração de um resumo:
A ordem das ideias e a sequência dos fatos não devem ser modificadas.
por meio da análise das partes do texto. O exame do índice ou sumário poderá auxiliar
objetiva.
72
Leitura e Interpretação de Textos
Muitos consideram que basta ler os textos referentes à sua área profissional e
apenas saber escrever os textos que a sua profissão exige. No entanto, essa limitação
mesmo um tormento para alguns leitores. Isso pode acontecer, como vimos, quando, por
também porque o leitor se mantém na leitura das linhas, na superfície do texto, sem
Unidade 3
mergulhar nas entrelinhas.
Precisamos ler o dito e o não-dito, pois muitas vezes este carrega mais
informações que o que foi expliciitamente dito. Ao escrever, o autor seleciona palavras e
excluídas, também aparecem no texto através de sua ausência. E nós vamos ler estas
que não aparecem explicitamente no texto a partir do que foi dito pelo autor e a partir do
entrecruzamento das informações que possuímos com aquelas que o autor nos fornece.
(...)
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos,
mal rompe a manhã.
artigo principal. Sem ler o artigo, apenas a manchete e o olho (um texto mais explicativo
73
Leitura e Interpretação de Textos
que o título principal para garantir a leitura da reportagem) podemos depreender o não-
desse tipo de leitura será um leitor que não é conduzido passivamente pelas ideias do
autor.
Unidade 3
um velho que está por acabar. Logo, o título já está determinando um marco. Busca-se
a visão do (a) autor (a) sobre o “velho homem”. Vamos por partes:
2º) “interessa-se mais pelos filhos”: o “velho homem” interessava-se pouco pelos
filhos.
3º) “Assume e exibe emoções”: o “velho homem” não assumia nem exibia suas
emoções.
5º) “Aprecia culinária”: se o “velho homem” não apreciava, então ele nem devia
cozinhar!
6º) “Apurou seu senso estético”: o “velho homem” era rude, grosseiro, não
apreciava a arte.
7º) “É forte, mas tem estilo”. Observe para o (a) autor (a) tanto o velho quanto o
novo possuem a característica força. No entanto, o “velho” é forte sem estilo. E ter estilo
seria mais importante que ser forte. Aliás, ter estilo é o que justifica ser forte. Força sem
Unidade 3
Observe que o (a) autor (a) peca pela generalização excessiva e pela construção
com a afirmativa de que “está nascendo o novo macho do século XXI”. Lendo o implícito,
12.1 PRESSUPOSTOS
75
Leitura e Interpretação de Textos
como verdadeiro, a afirmação explícita também o será. Não o admitindo como verdadeiro,
a informação explícita também não será ou não terá cabimento; será ilógica.
Se alguém lhe diz que Sandra parou de fumar, você admite como verdade desde
que concorde que ela fumava. O verbo traz o pressuposto: não há como parar se nunca
começou. No entanto, se chega uma terceira pessoa e lhe diz que Sandra nunca fumou,
Unidade 3
elencam:
tornar-se, que significa “vir a ser”, decorre a informação implícita de que anteriormente
André não era um antitabagista convicto. Se André fosse antes um antitabagista convicto,
foi o último a chegar, está logicamente implícito que todos chegaram antes dele.
Se Maria participasse de todas as festas, não teria o menor sentido dizer até. Até,
na festa.
76
Leitura e Interpretação de Textos
marcadores de pressupostos:
1) Adjetivos (ou palavras similares): Nasce o novo macho do século XXI Novo pressupõe:
o permanecer, continuar, tornar-se, vir a ser, ficar, passar [a], deixar [de], começar
anterior ao presente.
Unidade 3
3) Verbos que indicam um ponto de vista sobre o fato expresso pelo seu complemento
O verbo pretender pressupõe que seu objetivo direto é verdadeiro para o sujeito,
4) certos advérbios:
agrícola.
5) Certas conjunções:
Os brasileiros, que não se importam com a coletividade, só se preocupam com seu bem-
b) Restritiva – sem vírgulas – pressupõe-se que o que ela diz concerne apenas
com seu bem-estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos etc.
12.2 SUBENTENDIDO
Unidade 3
e, neste caso teremos um pressuposto. Porém, há casos em que o não dito só pode ser
o contexto em que foi proferida a frase (ou todo o texto). No subentendido, o implícito
Helga, esposa de Hagar, conta para sua amiga que o marido de Irma havia parado
(BROWNE, 20 /12/2006)
78
Leitura e Interpretação de Textos
Helga não disse que ele havia morrido e sim que tinha parado de beber. Em
“parou de beber”, o pressuposto é que ele bebia. Daí a ter morrido é uma informação
que a amiga só pôde inferir por ter conhecido o esposo da Irma e saber que ele só iria
parar de beber quando morresse. A morte do marido de Ilma foi, portanto, subentendida
pela amiga.
Segundo Platão e Fiorim (2002), existe uma diferença capital entre pressupostos
e subentendidos:
falante quanto para o ouvinte, uma vez que decorre necessariamente de algum elemento
linguístico colocado na fase. Ele pode ser negado, mas o falante coloca-o de maneira
atrás do sentido literal das palavras e negar que tenha dito o que o ouvinte depreendeu
Unidade 3
de suas palavras. O subentendido serve, muitas vezes, para o falante proteger-se. Com
pergunta de Hamlet, seu filho. Por isso responde afirmativamente. No entanto, o filho
questiona novamente o pai. Este não responde que sim nem que não, ou seja, esconde-
se atrás do enunciado explícito; mas pede que a fala dele não seja contada à mãe.
Certamente porque ela conhece muito bem o enunciador e o contexto para depreender
o subentendido. Dessa forma, Hagar não teria como negar o que disse no não-dito.
79
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos
80
Leitura e Interpretação de Textos
UNIDADE 4
MÓDULO 13 - AMBIGUIDADE
Ambiguidade é a ocorrência de dois ou mais sentidos em uma mesma sentença;
é uma comunicação que possui mais de uma interpretação. Ela pode ser proposital ou
acreditar que aquilo que quis dizer ter sido bem dito; outras tantas vezes, acontece de o
leitor também não perceber a ambiguidade e construir o sentido conforme esta leitura.
Nesses casos, nem o autor realiza sua intenção nem o leitor constroi o sentido e o jogo
Unidade 4
termina como um jogo da velha, quando nenhum dos jogadores ganha.
conhecer as artimanhas da língua, para poder flagrá-la no uso. É preciso conhecer todos
leitura, perceber se ambiguidade foi ou não proposital e, caso tenha sido, com qual
propósito.
A ambiguidade pode ser gramatical, lexical e também visual. Neste último caso
das frases. É visual quando no jogo de cores e do claro/escuro, mais de uma imagem
81
Leitura e Interpretação de Textos
entram e saem a todo instante. Algumas vão para nunca mais voltar, outras chegam e
Nesta festa das palavras, muitas agregam significados novos sem se desvencilhar
forma e som, mas com significados diferentes – são as chamadas palavras homônimas;
outras, ainda, possuem o mesmo som, mas com forma e significados diferentes – são
Um simples “o que você quis dizer com isto?” pode levar ao entendimento. Mas, em um
Unidade 4
texto, não dá para fazer esta mesma pergunta ao autor; por isso precisamos de dois
do gênero em que o texto foi escrito, de onde foi publicado, da época da divulgação, dos
82
Leitura e Interpretação de Textos
levantamos o contexto:
1º) A disseminação no país da droga crack e o mal que ela exerce sobre o
craques (aqueles que se distinguem em alguma atividade, aqueles que são os melhores),
para os elaboradores do outdoor, eram os que pertenciam à lista que eles mesmos
levantaram, obviamente diferente da lista de Dunga. Fazer como Dunga e não usar
Unidade 4
Para evitar ou desfazer a ambiguidade lexical é preciso conhecer o contexto de
Para isso, tenha sempre um dicionário por perto. Um dicionário é extremamente bom
83
Leitura e Interpretação de Textos
dicionário:
Burro (lat burru) 1 Zool Produto híbrido resultante do cruzamento da égua com o jumento; é
menos corpulento que o cavalo e tem orelhas muito grandes e crina curta. 2 Zool V jumento.
Col (acepções 1 e 2): lote, manada, récua, tropa. Voz: azurra, ornea, orneja, rebusna, relincha,
zorna, zuna, zurra. 3 fam Indivíduo estúpido, grosseiro, teimoso ou muito ignorante. 4 Jogo de
cartas próprio para crianças, no qual ganha o parceiro que primeiro se descarta. 5 O parceiro
que perde em cada partida desse jogo. 6 Náut Cabo para dar direção ao extremo da verga da
mezena. 7 Pontalete que sustém horizontalmente carro de boi ou carroça. 8 Cavalete triangular,
de altura regulável, em que se prende a madeira que vai ser serrada. 9 Armação em que os
canteiros lavram as lousas de pedra. 10 Prensa para espremer raspa de mandioca; arataca.
11 Aparelho para torcer o fumo em corda. 12 Náut Pequeno motor auxiliar. 13 Tradução literal
de autor clássico para auxilar os estudantes de línguas antigas. 14 Folc O médium de exu em
quimbanda. B.-burreiro, Reg (Rio Grande do Sul): burro padreador de um lote de burras. B.-
choro, Reg (Rio Grande do Sul): burro padreador de um lote de éguas; hechor. B. de carga:
pessoa que trabalha em demasia. B. montês: espécie de jumento bravo; onagro. B. sem rabo:
carregador que puxa um carrinho de mão. Adj Asnático, estúpido, grosseiro, tolo. Pra burro,
gír: em grande quantidade; muito, em demasia.
Unidade 4
palavras na frase. Por exemplo, colocar o advérbio (que modifica o verbo, o adjetivo e o
próprio advérbio) distante do termo que ele está modificando, colocar o adjetivo antes ou
por diante.
significados e o acúmulo destes pode gerar dúvidas sobre a intenção do falante/ escritor.
destes termos ou dos elementos que se agregam a eles, devemos ficar atentos.
84
Leitura e Interpretação de Textos
adverbiais.
da ambiguidade:
Unidade 4
(as palavras de quem: do advogado ou do réu?)
1) pronomes pessoais:
o Presidente da República.
3) pronome relativo:
gabinete, essa ambiguidade se deve ao pronome relativo que, sem marca de gênero.
A solução é recorrer às formas o qual, a qual, os quais, as quais, que marcam gênero e
número.
Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima, deve-se deixar claro qual o
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi chamado por uma
senhora.
do nosso riso não existiria, pois muitas piadas se fundamentam no duplo sentido de uma
2) Não deixe sua cadela entrar na minha casa de novo. Ela está cheia de pulgas.
- Diana, não entre nessa casa de novo. Ela está cheia de pulgas.
Unidade 4
Propaganda Nestlê “Encha seu filho de bolacha”. Disponível em http://www.google.com.br/
imgres?q=Propaganda+Nestlê+“Encha+seu+filho+de+bolacha”. Acesso em dezembro de 2012.
Propaganda assistência funerária Sinaf. “Como arrumar uma coroa”. Disponível em http://www.google.
com.br/imgres?q=Propaganda+assistência+funerária+Sinaf. +“Como+arrumar+uma+coroa”.&hl. Acesso
em novembro de 2012.
87
Leitura e Interpretação de Textos
A moça e a velha
88
Leitura e Interpretação de Textos
13.4 Texto 4
Unidade 4
Como ler um texto
O aprendizado da leitura
maior rendimento possível da leitura de um texto. Mas não se pode responder a essa
pergunta sem antes destacar que não existe para ela uma solução mágica, o que não
quer dizer que não exista solução alguma. Genericamente, pode-se afirmar que uma
UNICAMP:
tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que se lê. Um bom
89
Leitura e Interpretação de Textos
dos pais permite a interpretação de que com a companhia ou autorização dos pais os
adverte de que essa interpretação é estranha e só pode ter sido produzida por engano
do redator. É muito provável que ele tenha tido a intenção de dizer que os menores estão
motéis.
Unidade 4
mundo, o que nos leva à conclusão de que o aprendizado da leitura depende muito das
Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três
questões básicas:
e, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o
texto está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de que ele
precisa ser lido com mais atenção ou de que o leitor não tem repertório suficiente para
pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma
90
Leitura e Interpretação de Textos
leitura competente não terá dificuldade em identificá-la. Não saber dar resposta a essa
III – Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião
dada? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor
para convencer o leitor de que ele está falando a verdade. Saber reconhecer
Unidade 4
91
Leitura e Interpretação de Textos
que haja uma correspondência inseparável entre objeto e palavra: para cada objeto uma
língua não existe. O que nós temos, em todas as línguas, é uma infinidade de palavras
que ora significam ora deixam de significar e que servem ora a um ora a vários objetos.
Leia uma excelente definição dada por Adélia Prado, poeta de Divinópolis-MG, a
Antes do nome
Quem entender a linguagem entende Deus cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser
calada.
palavra. Por isso seguimos, neste caos, procurando a palavra. Esta, segundo os
O sonho de todo aquele que espera cem por cento de clareza na comunicação
é que todas as palavras possuíssem apenas denotação. Sonho irrealizável, pois uma
92
Leitura e Interpretação de Textos
14.1 Denotação
Denotar é indicar. Indicar é apontar com o dedo indicador. Quem aponta diz com
o dedo: “Olha, ali está!”. Logo, a denotação de uma palavra é o ato de ela apontar para
linguagem comum, usual. Por exemplo, veja as denotações da palavra monstro extraída
do dicionário Aurélio:
Veja que o significado até o recorte ([...]) está restrito ao animal. No entanto,
Unidade 4
na continuação do dicionário estende-se o significado a pessoas e a comportamentos
humanos. Há uma tênue linha que separa a denotação da conotação. Para identificá-la,
de referencial ou literal:
Utiliza o sentido denotativo das palavras, ou seja, aquele retratado pelo dicionário.
entre outros.
alguém realmente é monstro. Se você diz que estamos devorando um planeta, é porque
letra.
93
Leitura e Interpretação de Textos
REVISTA VEJA. Estamos devorando o planeta (Capa). Edição 2143. 16/12/2009. Disponível em http://
veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx. . Acesso em dezembro de 2012.
14.2 Conotação
A denotação quer tudo ao pé da letra, mas não é assim que uma comunicação
acontece. É preciso considerar que o que é claro para um leitor pode não ser para
subjetividade.
representa. Ela se refere ao objeto para buscar uma significação e estendê-la a outro
dois.
tijolo. Logo, no sentido denotativo. Já no segundo, exemplo, muro é uma divisória, só que
não mais de cimento, areia e tijolos. É uma divisória feita de mágoas e ressentimento e
que age como um muro, dividindo os espaços, representando uma barreira entre duas
Unidade 4
Observe que a conotação possui uma significação mais ampla, mais subjetiva, mais
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
(Carlos Drummond de Andrade)
95
Leitura e Interpretação de Textos
Se a pedra no meio do caminho for uma pedra mesmo, não há muito o que se
pensar e aceitamos o sentido denotativo e pronto. Mas se a palavra pedra não estiver
possibilidades de significado, que serão apreendidos por nós quanto maior for nossa
Adelia Prado, em seu poema Paixão, fala-nos deste momento terrível para o
Paixão
De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos,
não é a bola bonita caminhando solta no espaço. [...]
Adélia Prado.
Unidade 4
17.3 Texto 5
Generalização e Especificação
A linguagem é tanto mais clara, precisa e pitoresca quanto mais específica e
concreta. Generalizações e abstrações tornam confusas as 87rahma, traduzem conceitos
vagos e imprecisos. Que é que expressamos realmente com o adjetivo ‘belo’, de sentido
geral e abstrato, aplicável a uma infinidade de seres ou coisas, quando dizemos uma
bela mulher, um belo dia, um belo caráter, um belo quadro, um belo filme, uma bela
notícia, um belo exemplo, uma bela cabeleira? É possível que a ideia geral e vaga de
‘beleza’ lhes seja comum, mas não suficiente para distingui-los, para caracterizá-los de
maneira inconfundível. Praticamente quase nada se expressa com esse adjetivo
aplicado indistintamente a coisas ou seres tão díspares. Seria possível assinalar-lhes
traços singularizantes por meio de outros adjetivos mais específicos – mulher atraente,
tentadora, sensual, arrebatadora, elegante, graciosa, meiga...; dia ensolarado, límpido,
luminoso, radiante, festivo...; caráter reto, impoluto, exemplar...; rapaz esbelto,
robusto, guapo, gentil, cordial, educado...
É claro que, ainda assim, o resultado não seria grande coisa, pois muitos dos
adjetivos propostos são ainda bastante vagos e imprecisos, se bem que em menor grau
do que “belo”. No caso, o recurso a metáforas e comparações teria maiores possibilidades
de salientar os traços mais característicos e pitorescos do que a simples adjetivação.
As palavras abstratas apelam menos para os sentidos do que para a inteligência.
96
Leitura e Interpretação de Textos
Unidade 4
apreensíveis.
A sabedoria popular traduzida nos provérbios é um exemplo da linguagem
concreta concisa, frequentemente metafórica e pitoresca. A sentença “onde impera a
mediocridade ou a ignorância, os que têm algum merecimento se destacam
facilmente” não tem o mesmo vigor nem a mesma concisão do conhecido provérbio “Em
terra de cego, quem tem olho é rei”.
No gênero descritivo, principalmente, impõe-se a preferência por palavras de
sentido concreto, específico e metafórico. Nenhuma ideia nos daria de determinado
jardim o autor que se limitasse a generalidades, dizendo apenas que é muito bonito,
muito florido, com os seus canteiros cheios de viçosas flores, com algumas plantas
rasteiras, uma grama bem tratada e uma árvore muito frondosa. Flores? Que flores?
Plantas rasteiras? Que plantas rasteiras? Uma árvore muito frondosa? Que árvore? Há
de especificar tudo isso, para que a descrição do jardim se torne inconfundível.
97
Leitura e Interpretação de Textos
que se vale quem fala ou escreve, para comunicar à expressão mais força e colorido,
Muito se fala sobre o uso das figuras de linguagem com o fim de dar maior
sentido, o significado; é aquela busca da coisa pela palavra, pela palavra que, como
O bom da língua é que ela nos oferece inúmeros recursos para isso. Um deles
poesia ao discurso. Por meio delas, a sensibilidade do produtor navega até os receptores,
deste tópico para a construção do sentido. Aproveite para saborear alguns poemas e
permitir que eles cumpram a função de sensibilização. Deixe-se invadir pela criatividade
Serenata sintética
Lua
morta
Rua
torta
Tua
porta
(Cassiano Ricardo)
Amei em cheio
Amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o.
(Paulo Leminski)
Unidade 4
distintos.
[...]
Não, acho que estás só fazendo de conta
Te dei meus olhos pra tomares conta,
Agora, conta como hei de partir?
(Chico Buarque)
do período.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
99
Leitura e Interpretação de Textos
ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.
Extremamente circunspecta...
Extremamente circunspecta
Jazia a perna. Digo-vos que extremamente circunspecta e pálida
Jazia a perna. Digo-vos que extremamente circunspecta, pálida e ambígua
Jazia a perna. Digo-vos que extremamente circunspecta, pálida, ambígua e
superveniente
Jazia a perna. Uma perna jazia extremamente
Entre aparatos. Calçada de sapatos e de meias. Só não trazia
Ligas, nem a parte superior, a que saindo do joelho
Unidade 4
Aprofunda-se como coluna até onde o ser se duplica.
[...]
(Vinícius de Moraes)
101
Leitura e Interpretação de Textos
[...]
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo Profundamente.
Unidade 4
(Manuel Bandeira)
102
Leitura e Interpretação de Textos
descendente
O verbo no infinito
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Unidade 4
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
103
Leitura e Interpretação de Textos
uma forma de expressar a compreensão do mundo. Mais que por palavras ela é formada
por ideias e percepções sobre a vida que adquirimos nas nossas experiências cotidianas.
definição para “rio subterrâneo”. Quanto mais próximas estiverem as nossas definições
sobre este termo, mais nos aproximaremos da definição do que seja meu pensamento.
Se para você “rio subterrâneo” é rio embaixo da terra, aquele que não vemos,
então meu pensamento será algo que não se vê, mas que existe no fundo de mim mesma.
Agora se você considera que rio subterrâneo é aquele que guarda mais mistérios que
Unidade 4
um rio sobre a terra; é aquele que surpreende ao ser desvendado; é aquele que reserva
tamanho e nas formas das chamas. Logo, o amor é tudo isso e mais, porque Camões
diz que é um fogo que não cessa. Sabemos que findo o elemento da combustão, o fogo
cessa; se é uma madeira, assim que esta é queimada o fogo acaba. No amor não. Nele,
o elemento que dá vida ao fogo não é consumido pelo fogo; por isso o fogo permanece.
Dessa forma, o significado é enriquecido. O que está sendo definido ganha em sentido,
Lendo o poema “Os poemas” de Mário Quintana, veja como, sob as graças da
metáfora, amplia-se nossa definição de poesia, da que vem de longe e da que mora em
104
Leitura e Interpretação de Textos
nós:
Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
(Esconderijos do Tempo. Mário Quintana.)
significado já existe entre os dois termos. A função do leitor, neste caso, é identificar o
Unidade 4
Se, por exemplo, eu digo que gosto de ler Machado de Assis, você deverá
entender que eu gosto de ler as obras deste autor. Se digo que bebi todo o cálice, você
saberá que ninguém bebe cálice e sim o líquido que nele está. E assim, são várias as
Nada melhor que tomar um porto nas noites frias com os amigos.
105
Leitura e Interpretação de Textos
(Drummond está dizendo que o bonde passa cheio de gente, mesmo que ele estivesse
um conceito, tomou-se outro por empréstimo, mas, devido ao uso contínuo, não mais se
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Leitura e Interpretação de Textos
maçã do rosto, cabeça de prego, braço da poltrona, dente de alho, braço do rio, cabeça
abacaxi.
Unidade 4
O Filho de Deus (Jesus Cristo)
órgãos do sentido: tato, visão, audição, paladar, olfato. Para criar ou compreender a
linguagem sinestésica, é preciso relacionar o campo do sentido às palavras que lhe são
próprias:
Depois, basta misturar estas palavras com algum substantivo. Por exemplo:
107
Leitura e Interpretação de Textos
“Esta chuvinha de água viva esperneando luz e ainda com gosto de mato
longe, meio baunilha, meio manacá, meio alfazema”.
(Mário de Andrade)
Unidade 4
108
Leitura e Interpretação de Textos
Interpretar é captar a intenção geral do texto. Isso acontece na reunião das partes
que foram separadas para a análise. Com a correta análise chega-se à interpretação
(capacidade crítica).
A análise é, então, o caminho. Tudo o que estudamos até aqui foi a bagagem para
Unidade 4
Descobrir o esquema de composição: qual a orientação temática e
de recursos sintáticos.
de um determinado tipo.
perguntar:
O que é dito? Como foi dito? Com que recursos lexicais e gramaticais? Quais
as estratégias discursivas? Quando é dito? Por que é dito? Para quem? Que efeitos
1ª) ler o texto para poder dividi-lo e questioná-lo. Vamos, nesta leitura, sublinhar
29/06/2004 – 03h04
tem capacidade finita, ainda que muito grande. Mas a capacidade de aprender depende
da motivação. Um péssimo aluno na escola fundamental pode fazer uma excelente pós-
em Nova York.
perigo dos tempos modernos: a ansiedade. Segundo Ribeiro, existe um nível ótimo
desmotivada aprende mal, mas o mesmo acontece com uma pessoa excessivamente
Mas é preciso lembrar que o aluno não é um vaso a ser preenchido com litros de
como aprende algo nas situações nas quais se envolve por prazer. Por exemplo, se a
momentos de aprendizado.
os educadores, é que todos tendem a repetir dificuldades históricas. Quem sofreu com
a organização das informações, por exemplo, pode continuar sofrendo com isso. Mas
ânimo. “Não há quem não tenha dificuldades, assim como não há dificuldades que não
Qualquer que seja o método, porém, é preciso vencer a ideia de que aprender é
Para ele, é imediatismo achar que basta comprar o livro e responder às perguntas
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u857.shtml.
Acesso em 21/12/2012.
Unidade 4
Uma vez sublinhado, vamos decompor, analisar:
Que ele vá ensinar alguma técnica de aprendizagem para que esta não caia no
esquecimento.
Quem escreveu?
Paulo de Camargo; free-lance, ou seja, escreve sobre temas específicos que ele
mesmo escolhe e envia para o jornal. Ele não tem um vínculo empregatício com o jornal
e recebe pelos artigos que são publicados. Que esperamos de um free-lance? Que ele
irá se empenhar para realizar um bom artigo, pois só assim receberá por ele.
Folha de São Paulo: o segundo maior jornal do país com um público em que mais
brasileiros.
Qual a ideia principal apresentada para ser defendida no texto? Ou, no caso deste
Quais as ideias secundárias, aquelas que estão agregadas à principal para lhe dar
sustentação?
Como foi dito? Com que recursos lexicais e gramaticais? Quais as estratégias
discursivas?
gênero textual artigo jornalístico, no qual apresenta as defesas para uma aprendizagem
consistente.
que está escrito: foi outro quem disse e não ele. Ou seja, há um compartilhamento de
No geral, àqueles que se interessam pela educação (90% dos leitores da Folha).
estudantes.
Unidade 4
O que está implícito?
O Não dito é lido pelo que foi dito: ao afirmar que é necessária motivação
para o aprendizado, o autor, simultaneamente, mostra que há quem diga que não.
ideia de que o ser humano é “um vaso a ser preenchido com litros de informação”.
que ela é resultado de um movimento mais interno do que externo. O ser se motiva muito
Gostando do que faz! Fica aqui, no implícito do implícito, meu desejo a vocês: que
113
Leitura e Interpretação de Textos
16.1 Texto 6
[...]
uma capacidade cerebral muito sofisticada e requer experiência: não basta apenas
domínio da língua.
específicas: primeiro, prevenir para que a leitura posterior não nos surpreenda e, segundo,
para que tenhamos chance de escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se,
evitando preconceitos.
e introdução
Os passos da pré-leitura
folheio sistemático: ler o prefácio e o índice (ou sumário), analisar um pouco da história
que deu origem ao livro, ver o número da edição e o ano de publicação. [...] Verifique
possível. Tudo isso vai ser útil quando formos arquivar os dados lidos no nosso arquivo
mental!
114
Leitura e Interpretação de Textos
O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Pode-se, nesse caso, aplicar as
pré-leitura, analisamos o livro. Para isso, é imprescindível que saibamos em qual gênero
No caso de ser um livro teórico, que requeira memorização, procure criar imagens
mentais sobre o assunto, ou seja, VEJA, realmente, o que está lendo, dando vida e
Note bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira coisa a fazer é
ser capaz de resumir o assunto do livro em duas frases. Já temos algum conteúdo para
isso, pois o encadeamento das ideias já é de nosso conhecimento. Procure, agora, ler
bem o livro, do início ao fim. Esta é a leitura efetiva, aproveite bem este momento!
Unidade 4
Não pare a leitura para buscar significados de palavras em dicionários ou sublinhar
qual vamos efetivamente acabar com qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente,
vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico fará com que fiquemos com
aquela dúvida incomodando-nos até que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação
Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e o ato de interromper a leitura
não vai fragmentar a compreensão do assunto como um todo. Será, também, nessa
Para ressaltar trechos importantes opte por um sinal discreto próximo a eles,
Aproveite bem esta etapa de leitura! Para auxiliar no estudo, é interessante que,
115
Leitura e Interpretação de Textos
ao final da leitura de cada capítulo, você faça um breve resumo com suas próprias
QUINTO NÍVEL pode ser opcional: a etapa da repetição aplicada. Quando lemos,
tenhamos prática, ou seja, que tenhamos experiência do que foi lido na vida. Você só
pode compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada como unir a teoria
à prática.
muitas vezes sujeitos àqueles brancos quando queremos evocar o assunto. Para evitar
cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, esforce-se para traduzi-lo com suas
próprias palavras. Procure associar o assunto lido com alguma experiência já vivida ou
É importante lembrar que esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos
30 dias posteriores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a leitura e ao
melhorar a aparência e a saúde. Pois bem, embora não tenhamos condições de ver
com o que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la quando melhoramos
116
Leitura e Interpretação de Textos
REFERÊNCIAS
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em novembro de 2012.
TORERO, José Roberto. Pequenos Amores. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. VINÍCIUS
dezembro de 2012.
120