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A narrativa ilustrada: um estudo da trilogia de livros-imagem de Suzy Lee

Gabriela Rodrigues Hengles

Resumo: o texto disserta sobre a capacidade narrativa das ilustrações e a relação do leitor
infantil com o livro-imagem e as figuras pictóricas em geral. Depois, traça um panorama
sobre as obras que compõem a Trilogia da Margem, da autora sul-corenana Suzy Lee,
mostrando a estrutura que compõe a narrativa destes livros-imagem e como eles despertam o
processo imaginativo do leitor para que ele construa sua própria história.
Palavras‑chave: livro infantil, livro-imagem, leitor.

Há mais de 60 mil anos, como demonstram desenhos em cavernas pré-históricas, o


homem utiliza imagens como signos para sua comunicação. O advento da prensa móvel
inventada por Gutemberg trouxe diversas possibilidades à produção literária e, ao longo dos
cinco séculos que se seguiram, a narrativa escrita tomou diversas formas, assim como
aconteceu com as imagens ilustrativas que sempre a acompanharam.
Atualmente, o mercado editorial conta uma diversa gama de tipos de livros feitos com
os mais diferentes materiais e formatos: livros de madeira, infláveis, com cheiro, com som,
livros-jogos, com texturas, com apliques, livros com pop-ups e diversas outras
combinações. Entretanto, “todos têm, basicamente, o mesmo objetivo: contar uma história”
(Lins, 2002 p. 5).
Entende-se por narrativa a exposição de um ou de uma série de acontecimentos mais ou
menos encadeados, reais ou imaginários, por meio de palavras ou de imagens. Ilustrar para
contar histórias é tão antigo quanto a civilização humana e a ilustração foi, por milênios, a
forma que permitiu o acesso à informação. Segundo Flusser (2007, p. 152):

Uma imagem é, entre outras coisas, uma mensagem: ela tem um emissor e procura um
receptor. Essa procura é uma questão de transporte. Imagens são superfícies. Como elas
podem ser transportadas? Depende dos corpos em cujas superfícies as imagens serão
transportadas.

As crianças, particularmente, atribuem às imagens significados que estão relacionados ao seu


universo simbólico, estabelecendo relações entre o que veem e leem quando a relação entre as
dua formas de representação é coerente (Crenzel, 2009). No livro infantil, o conceito de texto
ultrapassa os limites do código verbal, pela associação entre linguagem textual e ilustração.
As duas linguagens compartilham o mesmo suporte e, para as crianças, é a ilustração que
geralmente funciona como a linguagem de acesso mais imediato (Ramos & Panozzo, 2004
apud Crenzel, 2009).
A imagem não somente orna, elucida ou ilustra o texto escrito, mas pode também
descrever, narrar, expressar, persuadir, brincar ou enfatizar sua própria configuração, chamar
atenção para o seu suporte ou para a linguagem visual. Enfim, ela transmite uma mensagem
por si só. Portanto, é totalmente plausível que um livro possa ser escrito tão somente com
ilustrações. Ao contar uma história de maneira visual e não por meio da descrição verbal, um
livro de ilustrações pode se tornar experiência única: imediata, animada, comovente, mas para
que isso ocorra, são muitos os aspectos de sua criação que devem ser observados (Salisbury,
1997 apud Crenzel, 2009).
A imersão do leitor na história narrada, ou seja, o padrão de leitura estável e contínuo
que ocupa completamente nossas capacidades cognitivas, não é uniforme (Murray, 1997 apud
Crenzel, 2009). Ela pode ser classificada dentro de algumas categorias em função do tipo de
envolvimento em diferentes situações: curiosidade, simpatia, identificação, empatia e
transporte (Glassner, 1997 apud Crenzel, 2009). Este último estágio, no qual realmente
perdemos a linha divisória entre nós e a personagem, confundindo-nos com ela, acontece com
mais frequência e facilidade nas crianças. Quando brincam, assumem uma personagem e a
incorporam como se fossem reais (Benjamin, 2002).
Diferente dos livros ilustrados em geral, os livros-imagem possuem uma narrativa
construída unicamente com ilustrações. O suplemento verbal é percebido em alguns elemento
pré e pós-textuais do livro, e à vezes o autor opta por utilizar pequenas (mínimas) palavras e
frases que não narram o fato, apenas o elucidam; a história propriamente é contada por
imagens, sem texto (Necyk, 2006).
A característica mais interessante do livro-imagem é o fato dele deixar uma margem de
interpretação muito aberta para seus leitores destinatários, sejam eles crianças ou qualquer
outro que se interesse pela narrativa. O leitor torna-se, de certa maneira, coautor da história, à
medida em que aplica valores e interpreta as ilustrações conforme o seu conhecimento de
mundo. “Ele fornece uma apreensão mais aberta, como a própria imagem, em oposição ao
discurso articulado do texto que, apesar de polissêmico, parece ser mais fechado e
controlável” (Necyk, 2006 p. 4).
A Trilogia da Margem de Suzy Lee

Suzy Lee, nascida em 1974, é uma artista por fomação, tendo concluído seu máster em
Londres no Camberwell College of Art. Seus livros têm repercutido internacionalmente: as
ilustrações de The black bird (O pássaro negro, Chondung Books, 2003) foram exibidas na
Feira de Bolonha (2005), La revanche des lapins (A vingança dos coelhos, La Joie de Lire,
2002) ganhou o Prêmio de Livro Mais Bonito da Suíça (pelo Ministério da Cultura da Suíça)
e sua versão de Alice no País das Maravilhas (Last Gasp, 2003) figura no Artist’s Book
Collection, da Tate Britain, em Londres (Lee, 2012).
No Brasil possui três livros lançados pela editora Cosac Naify: Espelho (originalmente
publicado em 2003), Onda (2008, Melhor Livro Ilustrado da lista do jornal The New York
Times) e Sombra (2010). A Trilogia da Margem, como é chamada a coleção pela autora, é
composta por livros-imagem que trazem sempre a mesma personagem em diferentes
situações. Em todas as obras o diferencial é a relação estabelecida entre a história narrada e o
objeto livro. A personagem interage com a dobra física central da encadernação do livro,
chamada de “espinha”, que, ao mesmo tempo, é o limite entre a fantasia e a realidade. Apenas
Sombra contém palavras, e ainda assim, mínimas: a onomatopéia “click!”, para simbolizar o
ato de acender e apagar a luz, e a frase “O jantar está pronto!”, que desperta a personagem de
seu mundo de fantasias. Ademais, todas as histórias são narradas apenas com imagens.
É importante ressaltar que as narrativas construídas apenas através de imagens
necessitam de uma produção assim pensada. As cenas ilustradas devem ser planejadas para
que a ilustração dê conta de uma série de informações geralmente fornecidas pelo texto.
A disposição das imagens no formato dos livro é claramente proposital. Espelho (18 x
31 cm) é um livro vertical, visando a retratar um espelho de largura estreita e cumprimento
padrão. A imagem refletida no espelho não altera as feições e ações da personagem, evitando
a sensação de sufoco. Onda (31 x 18 cm) está disposto em formato horizontal, que se espraia
em uma visão panorâmica. Se o livro na vertical se concentra na personagem, o horizontal é
eficaz para mostrar a relação entre a personagem e o ambiente. Já em Sombra (31 x 18 cm),
quando o livro é aberto, as páginas de comprimento horizontal se ligam de cima a baixo e
criam um formato quase quadrado, como um mapa aberto. Quando fechados, os livros
possuem o mesmo tamanho, mas suas particularidades expressam implicitamente aspectos
importantes da história de cada um, como pode ser visto nas Figuras 1, 2 e 3. (Lee, 2012).
Figura 1 Sombra. Figura 2 Espelho.

Figura 3 Onda.

O prazer da leitura destes livros está intrínseco aos processos imersivos da criança na
narrativa. Como já dito anteriormente, crianças têm, particularmente, o dom de se envolverem
com as histórias que leem, conforme explica Benjamin (2002, p. 69 apud Crenzel, 2006 p. 26):

Não são as coisas que saltam das páginas em direção à criança que as vai imaginando – a
própria criança penetra nas coisas durante o contemplar, como nuvem que se impregna do
esplendor colorido desse mundo pictórico. Diante de seu livro ilustrado, a criança coloca em
prática a arte dos taoístas consumados: vence a parede ilusória da superfície e, esgueirando-se
por entre tecidos e bastidores coloridos, adentra um palco onde vive o conto maravilhoso.

Neste mundo repleto de imagens, o livro infantil mantém o papel de estimular a criança
a ser criança, a criar (Lins, 2002). Suzy Lee traz em seu livro A Trilogia da Margem (2012)
vários relatos sobre a reação de seus leitores mirins com a sua obra. Eles criam narrativas
próprias para os fatos ilustrados nas obras, incrementando o enredo com fatos que não existem
originalmente; dão nome à personagem e formulam explicações lógicas para o que está
ocorrendo, mesmo que essas explicações existam exclusivamente em sua imaginação.

Ainda que o livro não tenha palavras para ler, pode conter mais significado e atrair aqueles
que são letrados; ele oferece ao leitor a experiência de contar uma história própria pela
montagem de componente que não o texto conhecido. […] A capacidade de ler nem sempre
significa capacidade de entender. Ler um livro significa entender, interpretar e ir além:
reconstruir livremente a história. O mais importante: a capacidade para expressar a história
com suas próprias palavras (Lee, 2012 p. 152-3).
O que torna um livro-imagem bem-sucedido, como são os livros de Suzy Lee, é a capacidade
de conduzir delicadamente o leitor mas, ao mesmo tempo, expô-lo a todas as possibilidades de
diversas experiências de leitura. Espelho, Onda e Sombra deixam, literal e figurativamente, espaço
para o leitor imaginar; “um livro ilustrado frustante não deixa espaço nenhum e está inteiramente
cheio de imagens de um artista sem imaginação” (Lee, 2012 p. 146).
O entendimento de que uma história não tem uma única interpretação é de suma
importância para que, desde pequeno, se aprenda a descobrir uma visão de mundo adequada
ao seu universo emocional e cognitivo e a respeitar as interpretações várias de outras pessoas.
O livro-imagem contemporâneo é um convite aberto ao inesgotável trabalho de atribuição de
sentido e de interpretação do mundo e da vida (Necyk, 2006 p. 11).

Referências bibliográficas
CRENZEL, R. S. A ilustração infantil como recurso narrativo: influência das imagens na
leitura de histórias por crianças. 2009. 170p. Tese (Doutorado em Artes e Design) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
FLUSSER, V. O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naify, 2007. 224p.
LEE, S. A trilogia da margem. São Paulo: Cosac Naify, 2012. 192p.
______. Espelho. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
______. Onda. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
______. Sombra. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
LINS, G. Livro infantil? São Paulo: Rosari, 2002.
NECYK, B. J. Imagem e narrativa no livro infantil contemporâneo. In: SIMPÓSIO LARS:
ILLICITE ERRORE – TRANSGRESSÃO OU IMPERTINÊNCIA?, 5, 2006. Rio de Janeiro:
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2006. 12p.

The illustrated narrative: a study of the trilogy of picture books of Suzy Lee

Abstract: the text discusses the capacity of narrative illustrations and reader's relationship
with the children's picture book, and pictorial figures in general. Then, it presents an overview
of the works that make up the Trilogy Margin, author of South Korean Suzy Lee, showing the
structure that makes up the narrative of these picture books and how they arouse the reader's
imaginative process, so he builds his own history.
Keywords: children's book, picture book, reader.

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