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SS SSS Acesso & Informacgéo 1. Panorama Internacional ste trabalho pretende levan- E tar problemas e suscitar dis- cussGes sobre a regulamenta- cao do acesso & informacio, hoje, nos arquivos brasileiros. Para a melhor compreensao do caso do Brasil, julgamos necessério tragar um panorama geral da situagao inter- nacional, mesmo correndo o risco de repetir informagdes jé veiculadas em outros trabalhos. Procuraremos apre- sentar, assim, através do estudo da le- gislagdo existente, como 0 acesso aos arquivos publicos e privados é regu- lamentado nos principais paises da Europa ¢ da América. A Franga foi o primeiro pais que legislou especificamente sobre 0 as- sunto. A lei de 25 de junho de 1794 (7 Mesidor, Ano II) determinava que, a partir daquela data, os arquivos na- cionais estariam abertos aos cidadaos franceses. O direito dos cidadaos a in- formagao, contudo, j4 era assegurado nos Arquivos Brasileiros* Célia Maria Leite Costa Priscila Moraes Varella Fraiz constitucionalmente na Suécia desde 1766, Na verdade, a preocupagao com a conservagéo dos documentos e a . abertura dos arquivos & investigagio histérica € uma quest@o que remonta a alguns séculos antes de Cristo. Via de regra, 0 acesso aos documentos constitufa um privilégio dos que des- frutavam o poder, excecSo feita & Ate- nas do século TV 2.C., que conseguiu estabelecer uma relag&o entre o con- ceito de democracia ¢ 0 direito & in- formagio. Durante © século XIX, a questo evoluiu lentamente, e os progressos efetuados podem ser vistos, de certa forma, como fruto da pressio dos his- toriadores. Mesmo considerando que se vivia nos fempos modernos e que 0 poder feudal havia sido abolido, o acesso aos documentos continuava sendo probleméatico. Pafses como a Franca, a Bélgica, a Inglaterra, Itélia e Pafses Baixos, apesat de admitirem © livre acesso aos arquivos, impunham ainda muitas restrigdes e fixavam pra- * Trabalho apresentado no VII Congresso Brasileiro de Arquivologia, realizado em Brasflia de 13 a 16 de jumho de 1988. Estudos HlstOricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 65-76. 64 ESTUDOS HISTORICOS — 1989/3 zos bastante dilatados para a consulta ads seus documentos. A grande revolugado documental, in- clusive com relagao & abertura dos ar- quivos ao publico em geral, s6 acon- teceu apés a Segunda Guerra Mun- dial. Alids, os efeitos da explosio do- cumental dos anos 1940 nio se fize- ram sentir exclusivamente no que diz respeito ao acesso e a disseminagio da informagiio, Eles atingiram, sobre- tudo, a questfo do processamento da documentagao produzida e recebida pelos érgéos publicos, tornando pre- mente a necessidade de modernizar a teoria arquivistica. E desse periodo que data o surgimento dos conceitos de gest@o de documentos ¢ de organi- zacdo sistémica dos arquivos, que mui- to contribuiram para viabilizar o aces- so As informacdes nas fases interme- didria ¢ corrente. O desenvolvimento cientifico © tec- noldgico, © progresso das pesquisas histéricas, a utilizagéo dos métodos quantitativos em pesquisa, a elabora- ao do conceito de direito 4 informa- cio, o aparecimento de diversos meios de reprodugao e, finalmente, a infor- miatica sao fatores que influfram deci- sivamente na abertura dos arquivos ao puiblico, a partir da década de 1950. Na Franga, a consulta aos documen- tos baseia-se em legislagio relativa- mente recente: duas leis de 1978 e€ uma de 1979. A Lei 7.918, de 3 de janeiro de 1979, possui quatro arti- gos que tratam da questio do acesso aos documentos. No que se refere aos Arquivos Nacionais e Departamen- tais, a nova lei procura adaptar os arquivos da Franga i realidade da se- gunda metade do século XX, estabe- lecendo um certo compromisso entre os intetesses privados dos cidadaos e 0 direito legitimo 4 informagao, assegu- rado por lei em diversos paises. De uma maneira geral, os documen- tos administrativos séo liberados ao cidadao francés desde sua produgio. Para os documentos que nao “‘nascem livres”, o prazo legal de abertura & consulta € de 30 anos, com excegio de algumas categorias de documentos que ferem a privacidade dos cidadaos ou que pdem em risco a seguranca do Estado, Dentro dessas categorias, po- demos citar os documentos médicos (150 anos); os dossiés pessoais (120 anos); documentos de imposto de ren- da (60 anos); ¢ documentos cujo livre acesso compromete a seguranga e@ @ ordem piiblica (60 anos). Ao contrério da Franga, a Alema- nha Federal nao possui nenhuma lei referente a arquivos ou ao direito a informagao. Contudo, a Constituigio em vigor no pafs assegura “o direito & informagao sem restrigdes, consul- tando fontes geralmente acess{veis” (Franz, 1985), 0 que nao inclui, se- gundo a jurisprudéncia alema, do- cumentos de arquivo, Devido a ine- xisténcia de legisla¢do especifica, o acesso & documentacao federal e dos lander baseia-se nos regulamentos ¢ dispositivos internos das instituigdes arquivisticas. O regulamento que dis- ciplina a consulta aos documentos dos arquivos federais data de 11 de setembro de 1969. Com base nesses regulamentos in- ternos, pode-se afirmar que, de ma- neira geral, 0 acesso aos documentos, tanto em nivel federal como nos Jin der, é livre, desde que o pesquisador aceite as regras de consulta determi- nadas pela administrago do arquivo. No caso especifico dos arquivos pri- vados, por exemplo, o acesso se limita “aos interesses pessoais justificados”, © que permite um certo nivel de arbi- trariedade nas decisdes de aceitagio ou recusa dos pedidos de consulta. No que diz respeito aos arquivos pi- blicos, existem restrigdes ao acesso & ACESSO A INFORMACAO NOS ARQUIVOS BRASILEIROS 65 documentagao que trata da seguranga e da ordem publica, Nesses casos, a consulta podera ser vetada, se houver risco para us interesses do Estado J4 na Holanda, de acordo com as leis de arquivos de 1918 e 1962, 0 acesso aos documentos € vinculado ao ingresso. destes em depésitos de arquivos ptiblicos, o que significa di- zer que, em principio, todo documen- to recolhido é imediatamente liberado ao ptiblico, As leis holandesas esta- belecem um prazo de até 10 anos pa- ra o recolhimento, em depdsito, dos documentos da administragao publi- ca de mais de 50 anos. Documentos produzidos ha menos de 50 anos po- dem, contudo, ser recolhidos, desde que as instituigGes arquivisticas dispo- nham de espago e justifiquem o reco- Ihimento. Apesar de a liberagdo dos do- cumentos estar diretamente vinculada por lei ao ingresso destes em depdsi- tos ptblicos, existem algumas restri- ges & liberagdo de certos documentos transferidos, como, por exemplo, cer tiddes de nascimento (100 anos) ¢ de casamento (75 anos), Contraditoria- mente, entretanto, o Cédigo Civil dé ao cidadao o direito de obter cépias destas certiddes, inclusive de ter ceitos. Os arquivos dos diversos érgaos que integram 0 Consetho e a Comis- sao das Comunidades Européias fo- ram liberadas ao piblico a partir de fevereiro de 1983, seguindo o prinei- pio geral que estabelece um prazo de 30 anos a partir da produgio do do- cumento. Dessa forma, em 1983 foi facultado 0 acesso aos documentos da Comunidade Européia do Carvao e do Aco — CECA, e, em janeiro de 1989, sero liberados os arquivos da Comunidade Econémica Européia — CEE e da Comunidade Européia da Energia Atmica — Euraton, Com excegao de alguns documentos ainda considerados confidenciais, to- do documento € acessivel a partir do 31" ano de sua produgao, desde que sejam respeitadas as regras de con- sulla estabelecidas pelo érgdo produ- tor. Os Estados Unidos contribuiram decisivamente para a democratizagaio da informagao, com a promulgagio do “Freedom of Information Atc'” — FIA, de julho de 1967, modificado em 1974/75. O FIA estabelece uma distingéo entre os documentos que devem ser divulgades, os documentos que devem ser mantidos & disposigaio do piblico e os que sao liberados me- diante prévia solicitagéo, através de petigGes. A partir da divulgagao des- se ato, o segredo na administracao ptiblica dos Estados Unidos passou a ser excecdo. Com relago aos prazos de libera- go dos documentos & consulta, eles variam entre 30 e 75 anos. Como ra- ramente os documentos chegam aos Arquivos Nacionais com menos de 30 anos, pode-se afirmar que, de uma ma- neira geral, os documentos recalhidos aos Arquivos sio imediatamente libe- rados ao piblico, excegdo feita, por exemplo, aos documentos médicos e psiquidtricos (75 anos); documentos do FBI (75 anos); dossiés pessoais das Forgas Armadas (75 anos); recensea- mentos populacionais (72 anos) e in- formagdes sobre ex-combatentes (50 anos). Quanto aos documentos que dizem respeito & defesa e seguranga nacional, eles sao classificados como supersecretos, secretos e confiden- ciais. Na maior parte dos casos, as restrigGes so suspensas antes de 50 anos. A Lei C-43, de 1982, que regula © acesso A informacdo e a questio da privacidade no Canadd, apresenta caracteristicas muito semelhantes ao 66 ESTUDOS HISTORICOS — 1989/3 “Freedom of Information” dos Esta- dos Unidos. A peculiaridade da lei canadense consiste no fato de ter sido a primeira a determinar, em uma de suas cléusulas, que o governo deve publicar e divulgar, anualmente, in- formagées que facilitem 0 acesso do cidaddo aos documentos de seu inte- » resse. Até a promulgacao da referida lei, 0 acesso as informagées de cardter pessoal era assegurado pela ‘Lei da Privacidade”, promulgada em 1978, como parte da Ata Canadense de Di- reitos Humanos. Com relacao aos documentos de ar- quivo, salvo algumas excecdes, eles sao liberados 4 consulta to logo sio depositados nos Arquivos permanen- tes. As excecGes a esta regra dizem respeito a documentos de arquivos privados, cujas restrigdes sao impostas pelos titulares dos arquivos ou fami- liares, So escassas as informagées relati- vas & América Latina sobre leis de arquivos, e, mais particularmente, so- bre legislagao que regulamente o aces- sO aos documentos, com excegio do México, sobre o qual se encontra uma razodvel bibliografia. A pesquisa so- bre esta questo relativa & Argentina, Uruguai e Chile baseou-se exclusiva- mente no trabalho de José Maria Jar- dim, representante do Brasil na comis- sao responsdvel pelo Projeto de cons- trugdo de uma metodologia ibero- americana de gestao de documentos, e autor de um relatorio sobre a situa: gdo dos arquivos piiblicos nesses pai- ses. O Arquivo Geral da Nagéo, do Uruguai, vinculado a0 Ministério de Educacdo e Cultura, tem sua atuagao fundada na Lei 8.015, de 1926, e no seu Regulamento Organico, de 1977, sendo que € nesse ultimo que se en- contram os dispositivos legais refe- rentes ao acesso aos documentos pt- blicos e privados. Em principio, qual- quer cidaddo poderd ter acesso avs documentos, inclusive reproduzi-los, excegao feita aos documentos que ne- cessitem de repato ou restauragao. Nesses casos, a consulta é feita em cé- pias devidamente autenticadas. Exis- tem entretanto documentos, arquivos ou fundos considerados reservados, cuja liberagao € condicionada a uma resalugdo conjunta de quem estabele- ceu a reserva ¢ do diretor do Arquivo Geral da Nagao. Especificamente, com relagao a restrigfo a documentos doa- dos por particulares, ¢ importante res- saltar que ela nao pode exceder a 50 anos. Na Argentina, as questées relativas a arquivo sao regulamentadas através da Lei 15.930, de 10 de novembro de 1961, e de dois decretos — um de 1979 e outro de 1981. Nao ha na le- gislagio nenhuma referéncia explici- ta ao acesso aos documentos. De- preende-se da leitura do artigo 4.° da lei mencionada que, de maneira ge- ral, funciona o prazo de 30 anos para a liberacéo dos documentos dos minis- térios, secretarias de Estado e organis- mos descentralizados, excecdo feita a alguns documentos que permanecem no érgao produtor, atendendo a ra- zoes de Estado. Este prazo é confir- mado no artigo 16.” da mesma lei, que considera como documentos his- téricos todos aqueles relacionados com assuntos ptblicos, sejam origi- nais, rascunhos ou cépias, expedidos por autoridades civis, militares ou eclesidsticas. Este Ultimo artigo, entre- tanto, amplia o prazo para 50 anos, quando se trata de mapas, planos, car- tas geogrdficas e marftimas. Em relagéo a alguns tipos de do- cumentos de origem privada, como, por exemplo, documentos de associa- gdes civis ¢ entidades com personali- dade juridica, o artigo 6.° da referida lei estabelece que, em caso de extin- gio das mesmas, sua documentacio ACESSO A INFORMACAO NOS ARQUIVOS BRASILEIROS 67 deverd ser recolhida ao Arquivo Ge- ral da Nagao no prazo méximo de 20 anos. Contudo, o acesso ao ptiblico a esses documentos sé poderd ser efe- tuado 50 anos apés a dissolugao des- sas_instituigdes. A documentagao oficial do Chile, sob a responsabilidade do Arquivo Nacional, tem sua sustentagao legal no Decreto 5.200, de 1929, e no regu- lamento do Arquivo, aprovado em 1962. O decreto de 1929 apenas de- fine as categorias de documentos e seus respectivos prazos para ingresso no Arquivo Nacional. Os dispositivos legais que estabelecem os critérios de liberagéo dos documentos encontram- se no regulamento de 1962. Esses cri- térios definem exclusivamente de que forma o usudrio podera ter acesso aos documentos e que condigdes deverd preencher no caso de necessitar obter cépias. No México, a documentacao da ad- ministragao pablica federal esté sob a responsabilidade do Arquivo Geral da Nagio, eriado em 1823 e vincula- do, hoje, & Secretaria do Governo. De acordo com a bibliografia consultada, s6 a partir de 1980 surgiu a primeira legislagao criando um Sistema de Ar- quivos no pais. Em 1981, foi elabora- do um projeto de lei regulamentar so- bre direito & informagao, dando pros- seguimento as reformas politica constitucional iniciadas em 1977. Es- te projeto, submetido a discussao nos meios profissionais e na sociedade em geral, recebeu intimeras criticas e su- gest6es. Em 1982, surgiu um antepro- jeto de lei de administracio de do- cumentos, com 0 objetivo de normali- zar e regular a administragao dos do- cumentos dos poderes do Estado, dos municipios ¢ dos organismos auxilia- res do Poder Executivo. Dentre as dis- posigdes comuns, o anteprojeto pre- via prazos para a liberacio dos do- cumentos & consulta, estabelecendo como regra geral o prazo de 30 anos apés sua producao. Segundo informagdes prestadas pe- la diretora do Arquivo Geral da Na- Gao, © projeto de lei sobre direito & informagéo nao foi aprovado pelo Congresso, tendo sido arquivado, e o anteprojeto de Iei sobre administragao de documentos continua em discussao, sem ter sido sequer apresentado ao Congresso. O regimento do Arquivo Geral da Nagio, cuja ultima versio data de 1946, regula a questio do atendimento ao publico sem contudo definir normas especificas referentes a prazos para a liberacio de do- cumentos. O acesso aos documentos recolhidos ao Arquivo é totalmente livre, provavelmente em face da ine- xist8ncia de legislagfo federal sobre o assunto. 2. © caso brasileiro Como ja foi exposto na primeira parte deste trabalho, a Suécia foi o primeiro pais a incluir em sua Cons- tituigéo, datada de 1776, a nogio do direito A informagio. Somente cerca de dois séculos apés 0 exemplo sueco € que se assiste, em nosso pais, a fato semelhante, com a nova Constituigéo que vem de ser promulgada. As dificuldades de aceitag&o desta nogao pela Assembléia Nacional Cons- tituinte foram de diversas ordens, po- dendo-se apontar como a principal delas a tendéncia altamente conserva- dora dos constituintes, representada pela formagéo do chamado “Cen- trio”. A despeito dessa forte corrente, © direito @ informacio e a instituigao do habeas-data foram assegurados no texto constitucional, gragas aos esfor- gos individuais de alguns constituin- tes, através de emendas e destaques. Fora do ambito parlamentar, a so- ciedade civil teve um peso importan- 68 | STUDOS HISTORICOS — 1989/3 te neste processo. Intmeras foram as propostas encaminhadas as comissdes tematicas da Constituinte. Vale res- saltar que pouco ou quase nada foi considerado ¢ aproveitado na dltima versio do projeio constitucional, De toda forma, entre essas propostas, po- demos citar a do Arquivo Nacional — instituigéo responsdvel pela politica de protegao do patriménio documen- tal da nagio —, a qual se destaca por sua extensio e ubrangéncia. Além do Arquivo Nacional, outras entidades se fizeram representar, como a Fe- derago das Associagées de Morado- res do Estado do Rio de Janeiro — FAMERTJ, a Ordem dos Advogades do Brasil — OAB, o Plendrio Prdé-Parti- cipacao Popular da Constituinte € o Sindicato dos Biblioteedrios de Sao Paulo, que encaminhou proposta em conjunto com a Associagéo dos Ar- quivistas do Brasil — AAB, a Asso- ciacéo dos Bibliotecdrios do Distrito Federal — ABDF e 0 Conselho Re- gional de Museologia — CRM. Apesar das centenas de emendas ¢ destaques sobre a questo do habeas- data e do direito & informagiio, pre- valece ainda hoje o temor de demo- cratizar a informagao, como se pode observar pela rejeigao da emenda que previa o acesso a qualquer documen- to oficial 30 anos apés sua producao. © Iiamarati, utilizando o secular ar- gumento da inconveniéncia de se li- berar & consulta os arquivos da Guer- ra do Paraguai, influiu decisivamente para a rejeigaéo da emenda. Para se ter uma idéia da dimenséo do problema, 0 item relative ao habeas-data estaya incluido entre outras questées polémi- cas, como estabilidade de emprego, jornada de trabalho, liberdade sindi- cal e direito de greve, que as corren- tes conservadoras queriam eliminar ou alterar. Apds intensas negociagdes entre as diversas correntes ¢ tendén- cias, conseguiu-se manter este item no texto definitive da nova Constituicao. Os pardgrafos que se referem ao habeas-data ¢ a0 acesso a informacao, contidos no artigo 5.° do Capitulo | do Titulo If — “Dos direitos e ga- rantias fundamentais” —, so os se- guintes: “XIV — _E assegurado a todos ‘ acesso & informagaio e resguardado o sigilo da fonte, quando necessdrio no exercicio profissional.”” “XXXII — Todos tém direito de receber dos érgaos piblicos informa- gdes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serao prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindivel & segu- ranga da sociedade e do Estado.” “LXXIT — Conceder-se-4 habeas- data: a) para assegurar o conhecimento de informagdes relativas @ pessoa do impetrante constantes de registros ou banco de dados de entidades governa- mentais, ou de cardter publico; b) para a retificagao de dados, quando nao se prefira fazé-lo por pro- cesso sigiloso, judicial ou administra- ti E contudo no pardgrafo 2.° do arti- go 216 do Capitulo III, Titulo VIII — “Da ordem social” que se encontra 0 grande avango da nova Constituigio no que se refere ao acesso 4 informa- go, como pode ser observado no tex- to a seguir: “Cabem a administragao publica, na forma da Ici, a gestio da documentagiio governamental ¢ as pro- vidéncias para franquear sua consulta a quantos dela necessitem”. A importincia da inclusio deste ar- tigo deve-se sobretudo ao fato de nao existir até © momento uma lei de in- formagaio que garanta ao cidadio o direito elementar de ter acesso aos ACESSO A INFORMAGAQ NOS ARQUIVOS BRASILE|ROS 69 documentos da administracdo publica que lhe dizem respeito. No que se concerne ao problema da protecao ao patriménio documen- tal, © novo texto constitucional amplia uma conquista jé obtida na Constitui- gao de 1946. O texto constitucional de 46 foi o primeiro a considerar a documentagao de valor histérico como um bem a ser protegido pelo poder ptblico. Até entaio, pela Constituigao de 37, o patrim6nio hist6rico era cons- tituido apenas de “monumentos his- toricos e naturais, assim como as pai- sagens e os locais particularmente do- tados pela natureza’’. A proposta que 0 Arquivo Nacio- nal encaminhou as subcomissdes te- maticas e que foi aproveitada, na sua totalidade, no novo texto constitucio- nal é bem mais abrangente, nela in- cluindo-se a protegio do poder pi- blico, com a colaboragéo da comuni- dade, a0 patriménio cultural brasilei- ro, por meio de inventérios, registros, vigiléncia, tombamento e desapro- priagio, além de outras formas de acautelamento e preservacao. O texto prevé ainda punigdo contra os danos e ameagas a esse patriménio, que in- clui, entre os bens materiais ¢ imate- riais, os documentos. A caréncia no Brasil de instrumen- tos legais sobre © direito & informagao nao, se restringe & omissdo ou ao mau tratamento do assunto nas constitui- Ses brasileiras. Do ponto’ de vista da legislagao, 5 Brasil sempre sofreu um atraso considerdvel, situando-se em posicio inferior a outros paises da América Latina, como jé foi exposto na primeira parte deste trabalho. Até a década de 70, nao existia qualquer medida legislativa especifica para arquivos ptiblicos e privados, do- cumentagio em geral ou acesso in- formagao. Data de 1975 © primeiro decreto presidencial sobre 0 assunto, o de n° 75.657, de 24 de abril de 1975, que criou o Sistema de Servi- gos Gerais — Sisg, cujo Grgao central € a Secretaria de Administragéo Pt- blica da Presidéncia da Reptiblica — Sedap (ex-DASP: Departamento Ad- ministrativo do Servico Publico). O Sisg ¢ integrado por todos os érgdos e unidades da administragio federal, com excecgo dos ministérios milita- res, do Ministério das Relacdes Exte- tiores e do Estado-Maior das Forgas Armadas. Uma das atribuigSes do Sisg consisie em promulgar normas que disciplinem © uso, guarda, conserva- ¢ao, reprodugdo e incineragdo de pro- cessos ¢ documentos na fase corrente, Em 1978, foram criados o Sistema Nacional de Arquivos — Sinar e a Comissdo Nacional de Arquivos — Conar, com a finalidade de fortalecer as atribuigdes do Arquivo Nacional. O Sinar, ctiado através do Decreto n° 82.308, de 25 de setembro de 1978, é integrado pelos arquivos intermedié- rios ¢ permanentes do poder ptblico, cabendo ao Arquivo Nacional, como 6rgao central do Sistema, a competén- cia para gerir os documentos dessas duas idades. Em 1980, por iniciativa do Arqui- vo Nacional e com a aprovacio do Ministério da Justica, foi criade uma comisséo que elaborou um anteproje- to de lei que dispde sobre a politica nacional de arquivos. Ao longo de quatro anos de trabalho, o antepro- jeto sofreu intimeras modificacdes (cerca de 17 versdes). Finalmente, foi submetido a apreciagao do Congreso Nacional o projeto de lei n.” 4.895- A/84, que conceitua e classifica os arquivos ptiblicos e privados; assegu- ra o livre acesso 4 documentagao per- manente; classifica os arquivos priva- dos que apresentam interesse piiblic dispde sobre a organizacio adminis- trativa do setor de arquivos, através 70 ESTUDOS HISTORICOs — 1989/3 do Sinar, e impede a eliminagao e des- truigao de documentagio permanente, entre outras medidas. Como o tema especifico deste tra- balho € 0 acesso & documentacao, li- mitar-nos-emos a comentar este ponto do projeto n.° 4.895-A/84, ou seja, da atual versio da “Lei de Arquivos” em tramitacao no Congresso. O arti- go 8° do Capitulo II, que trata dos arquivos ptiblicos, assegura". .. 0 di- reito de livre acesso e pesquisa com referéncia a documentos ostensivos de arquivos permanentes”, ¢ o pardgrafo tinico deste mesmo artigo diz que “‘legislagio especial estabelecerdé nor- mas para acesso € pesquisa relativa- mente a documentos sigilosos ou que, por sua natureza e condicdes, impo- nham restricdes de consulta a arqui- vos permanentes”, Este pardgrafo nico sofreu algumas modificagdes nas diversas versdes apresentadas, co- mo por exemplo a do projeto de lei n’ 4.371/84, que suprimia do corpo do texto a expressio “documentos si- gilosos””. Sobre o regime de acesso a ar- quivos privados, o texto em tramita- cdo estipula nos seus artigos 12 e 13 que “‘os documentos de arquivos de entidades religiosas e produzidos an- teriormente & vigéncia do Cédigo Ci- vil ficam, desde jé, clasificados como arquivos de interesse ptiblico, sob a protegao especial do Arquivo Nacio- nal”, e que este“... poderd celebrar convénios destinados a estabelecer re- gime especial de consulta aos do- cumentos referidos no artigo ante- rior”. A tramitagdo legislativa deste pro- jeto foi interrompida, e até o presente momento nao hé nenhuma definigado sobre quando ele tornaré a ser apre- ciado, Paralelamente & Lei Geral de Ar- quivos, é de fundamental importancia a existéncia de leis complementares que regulem © acesso @ informagéo em alguns casos especificos, Com refe- réncia A documentagio pessoal e judi- cidria, por exemplo, deve ser uma le- gislagdo que garanta © acesso a essas informagées, resguardada a privacida- de. O que deve prevalecer na defesa e justificativa dessa matéria € 0 uso cientffico das fontes. Admitimos, con- tudo, que devem existir algumas res- trigdes no tocante A divulgagao de no- mes de pessoas implicadas e outras informagdes que possam identificé- las, principalmente se a pessoa jé cumpriu pena imposta pela agao do Estado. Por essa razio, documentos processuais de crimes comuns devem estar sujeitos a estas restricgdes. J& no caso de documentos proces- suais de crimes politicos cuja respon- sabilidade seja do Estado, 0 acesso deve ser amplo ¢ irrestrito. Por isso, € absolutamente necesséria uma lei de informagaéo que possa dar conta do acesso as informacdes contidas nos documentos correntes da administra- Gao ptiblica que ainda n&o se encon- tram em arquivos de custédia. Foi sustentando a defesa da transparéncia administrativa que 0 habeas-data e o artigo 216 foram instituidos, propi- ciando um primeiro passo para a cla- boragio de uma Iei de informacao. Além das leis sobre o acesso & formagéo, devem-se claborar leis complementares regulando, entre ou- tras coisas, a politica de recolhimento de documentos, avaliagéo e sele¢ao, conservagaéo e microfilmagem. A au- séncia de prazos para o recolhimento da documentagio de caréter perma- nente aos depésitos de arquivos pti- blicos, a eliminagdo aleatéria de do- cumentos e seu manuseio indiscrimi- nado sao obstéculos 4 manutengao da integridade da informagio e sua dis- ponibilidade de acesso. ACESSO A INFORMACAO NOS ARQUIVOS BRASILEIROS 71 Devido & auséncia de legislagao es- pecifica sobre acesso nos arquivos pu- blicos e privados, nesta ultima parte do trabalho iremos ver de que forma as principais instituigGes arquivisticas do pais regulam o acesso aos seus acervos.. O Centro de Documentacdo Histé- rica da Aerondutica — Cendoc foi criado recentemente, com a finalida- de de receber a documentagéio perma- nente do Ministério, bem como algu- mas colegGes de documentos avulsos, recebidas através de doagdes. Em pro- cesso de estruturagdo, e na auséncia de uma politica de recolhimento de- finida, 0 acervo ainda é pequeno, po- dendo-se destacar 0 Arquivo da For- ca Aérea Brasileira (FAB). O Cendoc conta com um regulamento geral, mas nele néo hé referéncia alguma a cri- térios de acessibilidade. A principio, a consulta é livre para a documenta- Ho ostensiva, mediante pedido de au- torizagdo por contato telefénico ow postal. Contudo, o acesso & documen- ‘taco sigilosa obedece as normas pre- vistas no regulamento para salvaguar- da dos assuntos sigilosos, estabelecido pelo Decreto n° 79.099, de 6 de ja- neiro de 1977. No Arquivo da Marinha, todos os documentos encontram-se liberados para consulta, excego feita aos con- fidenciais de menos de 20 anos. E através do Memorando Interno n.” 11, de 25 de julho de 1986, que essa res- trigao € regulamentada. No Arquivo Histérico do Exército, existe a Portaria n.° 2.449, de 27 de setembro de 1979, que dita as normas para a utilizacfo dos arquivos, biblio- tecas e museus, mas nao nos foi per- mitido consulté-la. Através do pré- prio diretor do Arquivo, obtivemos a informagao de que o acesso depende de sua autorizagao. Dado que os cri- térios sio pessouis, subjetivos ¢ inde- finidos, pode-se afirmar que existe um certo grau de arbitrariedade na aceita- lo ou recusa dos pedidos. Em rela- G80 aos documentos sigilosos, a con- sulta s6 poderd ser feita observando-se as normas estabelecidas pelo decreto jd citado, que regula a salvaguarda de assuntos sigilosos. Provavelmente de- vido @ auséncia de uma politica de re- colhimento, como ja referimos ante- tiormente, o periodo de abrangéncia da documentacio é pequeno — de 1808 & década de 1920. O Arquivo Histérico do [tamarati era a Unica instituigdo que tinha o acesso ao seu acervo regulamentado através de decreto presidencial. Este decreto (n.” 64.122, de 19 de fevereiro de 1969) estipulava que o acesso era livre para os documentos anteriores a 1900, com excec¢éo dos documentos relativos 4 Guerra do Paraguai e a limites. Para os documentos que se situavam entre 1900 € 1945, seria ne- cessdria a autorizagdo do Ministério das Relacdes Exteriores, com parecer da Comissio de Estudos dos Textos da Histéria do Brasil. A documenta- Ho posterior a 1940 nao era acessi- vel, salvo excegdes que se justificas- sem a juizo do MRE e ouvida tam- bém a referida Comissao. A partir de 12 de outubro deste ano, a liberagdo ao piblico dos do- cumentos deste acervo passou a ser regida pelas portarias n.°s 593 e 594, do préprio MRE. De acordo com a nova legislacao, ficou regulamentada a questao do acesso, tendo sido dila- tado para até 1959 o prazo de consul- ta, Alids, esse prazo, segundo infor- macées prestadas pela chefe do ar- quivo, ja funcionava extra-oficialmen- te hé algum tempo. A Portaria n.’ 593 estipula os no- vos prazos ¢ estabelece as categorias de usuarios que podem ter acesso ao acervo, ¢ a 594 cria a “Comissao Per- Histarice manente do Arquivo

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