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Ética Pessoal e

Profissional
— Sem Hipocrisia AUTOR: GABRIEL LACERDA
COLABORAÇÃO: PROFESSOR THIAGO BOTTINO

GRADUAÇÃO
2015.1
Sumário
Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

Introdução...................................................................................................................................................... 3

Plano de Aulas e Calendário............................................................................................................................. 6

ANEXO I — Ética Geral e Jurídica: Problemas para discussão em aula................................................................. 10

ANEXO II — CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB.................................................................................................. 24


Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

Introdução

Objetivo e informações burocráticas

O objetivo deste curso é permitir que os alunos formem, não exatamente


um conceito, mas uma percepção do que é ética. Em paralelo, estudar-se-á
a aplicação desta percepção, no plano específico do direito, no exercício da
profissão de advogado.
As aulas serão integralmente participativas. A ideia é que, através de in-
tervenções em aula, questionamento, desempenho de papeis e debates, os
alunos entendam e sintam como e porque a adoção de uma postura ética
coerente, diante da vida e da profissão, é não apenas necessária socialmente,
mas também pessoalmente útil.
Em paralelo, serão examinadas e discutidas as normas objetivas aplicáveis
especificamente à profissão de advogado com ênfase no Codigo de Ética e
Disciplina da OAB, transcrito no Snexo II e também nas disposições perti-
nentes da Lei no. 8.906 de 4.7.1994, transcritas no Anexo III.
Além da apostila, será distribuído aos alunos um livro, de autoria do pro-
fessor, preparado para cursos profissionalizantes do SENAC que poderá ser-
vir de subsídio ao debate e complementará a apostila.
As aulas serão ministradas às 6as. feiras, começando pontualmente às
11hs. e durarão até as 11.50. A avaliação será feita considerando:

a) uma primeira prova;


b) duas notas individuais de participação em aula;
c) um trabalho final.

O professor Thiago Bottino participará das 6 primeiras aulas, podendo


também comparecer ocasionalmente às demais.

Panorama geral

Qualquer sociedade, humana ou mesmo animal, gera padrões de conduta


a serem seguidos por seus integrantes. Nas sociedades animais, esses padrões
são bastante simples. Derivam diretamente das leis biológicas básicas da pre-
servação dos indivíduos e da espécie. Normalmente, são obedecidas pelos
integrantes da sociedade, de forma automática, por simples instinto.
Já nas sociedades humanas, enormemente mais complexas, a situação é
obviamente diferente. Os padrões de conduta das sociedades humanas va-
riam conforme a geografia, a história, a economia e a religião dos diversos

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grupos sociais. Condutas aceitas como normais no Brasil seriam consideradas


contrárias aos padrões geralmente adotados, por exemplo, no Japão; e vice-
-versa. Pode-se até dizer que existe uma ética capitalista e uma ética socialista,
uma ética ocidental e uma ética oriental, uma ética protestante, uma ética
católica e uma ética muçulmana, e assim por diante.
Um exemplo, absolutamente trivial, ilustra agudamente o ponto: no Oci-
dente em geral, considera-se como inaceitável a exteriorização de ruídos ou
emissões corporais. É de bom tom por a mão à frente da boca ao espirrar,
tossir e mesmo bocejar. Mas já houve tempo em que era considerado sinal
de cortesia que alguém, convidado para uma refeição, emitisse, ao terminar,
um sonoro arroto, significando com isso um cumprimento ao anfitrião, pela
qualidade da comida servida. No século XIX, no Brasil, uma escarradeira era
peça necessária nas salas de visita das residências mais elegantes. Hoje, porém,
a regra é rígida: não é polido se espirrar, arrotar, bocejar, emitir gases, cuspir
ou mesmo tossir em sociedade.
Já na China o padrão é completamente diverso. De fato, um dos proble-
mas práticos que o país a atualmente enfrenta, ao aumentar seus contatos
com o ocidente, é modificar a atitude milenar de aceitar como natural a emis-
são em público de flatulências barulhentas e frequentemente malcheirosas.
Esses exemplos, a rigor, poderiam ser considerados não pertinentes a ques-
tões éticas, mas a padrões de conduta de natureza diversa, normalmente cha-
mada de boa educação ou boas maneiras. Mas mesmo compreendida ética em
seu conceito mais estreito e até com normas de natureza estritamente legal,
acontece fenômeno análogo.
Na ética brasileira, quando algum aluno pede a um professor uma carta
de recomendação para uma universidade, espera-se que, se o professor por-
ventura não tiver comentários favoráveis ao aluno, discretamente se desculpe
e não escreva a carta. Mas, se aceitar escrever, o normal é que apenas elogie o
aluno; e, mais: que mande cópia a ele do que escreveu. Já nos Estados Uni-
dos, considera-se que o solicitante tem um direito a receber uma cópia da
carta escrita sobre ele, mas sugere-se e espera-se que ele formalmente renun-
cie a esse direito e que o recomendante diga exatamente o que pensa sobre
o solicitante, inclusive e especialmente eventuais restrições. E mais: o solici-
tante deve fornecer ao recomendante um envelope dirigido à universidade, já
sobrescritado. Escrita a carta, o recomendante deve coloca-la nesse envelope,
fechá-lo bem fechado, e assinar transversalmente sobre a abertura.
Diferenças culturais desse tipo são ainda extremamente relevantes até mes-
mo no plano estritamente legal.No Brasil, cogita-se hoje seriamente de tipifi-
car como crime ações homofóbicas. Já em algumas outras culturas o homosse-
xualismo é moralmente reprovável, quando não ilegal, ou até criminoso.

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Exatamente porque existem tantas diferenças, no tempo e no espaço,


decidiu-se adotar para este curso uma postura formativa, muito mais que
informativa.
O objetivo, repetindo, com outras palavras, é, assim, despertar nos alunos
uma sensibilidade para o tema ético, aguçar a capacidade de identificar ques-
tões éticas nas diversas situações da vida, sejam elas excepcionais ou mesmo
apenas cotidianas. Nessa trajetória espera-se também que os alunos absorvam
naturalmente um conjunto essencial de informações objetivas sobre os textos
em vigor
O resultado ideal almejado é que, terminado o curso, os alunos estejam
capacitados a conseguir traçar seus próprios padrões individuais de compor-
tamento e desenvolver o mais que for possível sua capacidade de conduzir
as próprias condutas por meio de escolhas conscientes e livres dentro de um
conjunto coerente.
Em paralelo, como parte necessária de sua instrução profissional, os fu-
turos bacharéis tomarão conhecimento, de forma crítica, dos padrões éticos,
cristalizados em normas escritas, aplicáveis à profissão que escolheram.
Com isso, espera-se, finalmente, demonstrar as dificuldades intrínsecas de
traduzir em normas abstratas um tipo de juízo que é, pela própria natureza,
de caráter moral e de grande subjetividade e, consequentemente a necessida-
de de cada pessoa de formular para si mesma padrões próprios de conduta.
Ética, em síntese, é mais uma questão de consciência que de normas. As
normas admitirão sempre interpretação; já a consciência, de cada um e de to-
dos, percebida como a única verdadeira liberdade, é o melhor caminho para a
construção de uma sociedade ou qualquer organização social, mais agradável
para os que nela vivem ou dela participam.

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Plano de Aulas e Calendário

1ª. AULA — 27 de fevereiro

Objetivos, proposta, delimitação do conteúdo.

Serão discutidas as seguintes perguntas:

Que é ética? —
Para que estudar ética?
Como estudar ética?
Que parâmetros adotar como referência para construir padrões?

Notas

• Mostrar os diferentes graus de normas de conduta que orientam uma


sociedade, classificadas diferentemente conforme ao grau de ofensa
que sua violação provoca. Correlacionar a ética a um padrão moral de
certo e errado. Enfatizar com exemplos a possibilidade uma conduta
ser, ao mesmo tempo, legal e não ética, ou ilegal e ética.
• Mostrar como várias escolhas, feitas no cotidiano inconscientemente,
representam muitas vezes, verdadeiras escolhas éticas.

Quanto ao modo de estudar há diversas opções. Ligar o estudo da ética a


um processo de tomada de consciência.

• Salientar a necessidade um padrão externo e seu caráter inevitável.


Mostrar com exemplos variações no tempo e no espaço. Elencar almas
sugestões doutrinárias / filosóficas (Aristóteles, Sto. Tomaz, Nietsche,
Hegel, Kant etc.).

2ª AULA — 6 de março

Discussão livre sobre uma narrativa confessional do professor, contando


alguns dos dilemas éticos com que se defrontou ao longo de sua carreira
como advogado, debatendo a cada passo sobre se foi ou não correta a alterna-
tiva adotada, procurando referir ao Código de Ética da OAB.

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3ª. Aula — 13 de março

Continuação e conclusão da 2ª. Aula.


Preparação para as aulas seguintes

4ª. Aula — 20 de março

Os alunos trarão à discussão dilemas éticos de qualquer natureza que eles


próprios tenham enfrentado. Alternativamente o aluno poderá, em vez de
trazer um problema pessoal seu, escolher algum dos exemplos mencionados
no livro e trazê-lo ao debate.
O(a) próprio(a) aluno(a) conduzirá o debate, servindo o professor como
moderador.
A atuação de cada aluno(a) nessa fase resultará em uma primeira nota de
participação.

5ª. Aula — 27 de março

Idêntica à anterior.
Entrega aos alunos do texto da prova escrita a ser feita em casa e trazida
pessoalmente na aula seguinte. A prova constará de duas a quatro questões,
problemas de ética profissional ou pessoal, a serem resolvidas conforme a
opinião pessoal de cada um. Consulta totalmente livre.

6ª. Aula — 10 de abril (Semana de provas)

Entrega das provas.


Os professores debaterão ainda, em sala de aula, com a participação dos
alunos o primeiro dos problemas do Anexo I.

7ª. Aula — 17 de abril (ainda no período de provas)

Vista de prova.
Entrega de notas de prova e da nota de participação relativamente à pri-
meira parte do curso.

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8ª. Aula — 8 de maio

Inicialmente, o professor fará uma breve apresentação do Código de Ética


e Disciplina da OAB e da moldura legal em que ele se insere.
Em seguida, haverá uma discussão conjunta sobre o planejamento das
próximas aulas, conforme explicado a seguir.
O Anexo I contém uma série de problemas específicos a respeito de éti-
ca jurídica. O primeiro problema é uma questão real, ocorrida há mais de
um século, quando um famoso jurista (Evaristo de Moraes), consultou outro
famoso jurista (Rui Barbosa), sobre se devia ou não aceitar a defesa de um
determinado caso e que, como mencionados será debatido pelos professor,
durante a semana de provas.
Todos os demais problemas, em número de vinte, giram em torno de um
mesmo contexto de fatos, imaginados pelo professor.
A abordagem também será feita em diálogos com o professor, com a parti-
cipação da turma, em forma de dramatização. O(a) aluno(a) representará um
personagem, sempre o mesmo, que tem uma dúvida sobre que atitude tomar
diante de alguma situação concreta.
O professor, por sua vez, será o interlocutor com quem o personagem
conversa, que poderá ser seu pai, um de seus sócios, cliente ou o amigo. Em
todos os casos, espera-se que os alunos enquadrem as soluções no Código
de Ética, no Estatuto do Advogado, e, bem assim, em seus próprios padrões
individuais.
Ao final da dramatização, haverá necessariamente uma decisão, ou seja, a
dúvida discutida (representar ou não um cliente, aceitar ou não determinada
tarefa etc.), terá sido resolvida. A resolução de cada problema será considerada
como um fato, quando for abordado qualquer dos problemas subsequentes.
Na primeira aula da série, os alunos lerão, em classe, os problemas, e será
escolhido que aluno(a) atuará em que problema.
Em qualquer caso, cada aluno(a) deverá apresentar um problema. O ca-
lendário a seguir foi preparado no pressuposto de estarão matriculados doze
alunos, mas poderá sofrer adaptações caso o numero de alunos matriculados
sofra alterações para mais ou para menos.

9ª. Aula — 15 de maio

Apresentação de três problemas. (Em princípio os de números 2, 13 e 14)

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10ª. Aula — 22 de maio

Apresentação de três problemas. (Em princípio os de números 3, 4 e 5)

11ª. Aula — 29 de maio

Apresentação de três problemas. (Em princípio os de números 7, 10 e 11)

12ª. Aula — 12 de junho

Apresentação de três problemas. (Em princípio os de números 12, 18 e


15 ou 19)

13ª. Aula — 19 de junho

O professor explicará à turma como deverá ser o trabalho final, (elabora-


ção de um código de ética próprio), a ser impreterivelmente entregue na aula
seguinte, durante a semana de provas.

14ª. Aula — 26 de junho

Entrega do trabalho final. Ao entregar o trabalho cada aluno(a) deverá


fazer uma brevíssima exposição oral sobre as premissas em que se baseou ao
elaborar seu código.

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ANEXO I — Ética Geral e Jurídica: Problemas para


discussão em aula

Explicação

Este material contém 21 problemas de ética profissional. O primeiro deles


é um problema típico, real e eterno, ocorrido há mais de um século. Os vinte
outros são foram imaginados pelo professor.
O problema real será debatido pelos Professores Thiago Bottino e Gabriel
Lacerda, na 6ª. aula do curso, a ser realizada durante a semana de provas, no
dia 10 de abril.
Nas aulas seguintes, serão chamados nominalmente alunos para encami-
nhar a solução de um dos problemas imaginários, que será debatida com a
turma, valendo a apresentação para a nota de participação.
Para efeitos didáticos, não importa a situação imaginada, será necessário
localizar as disposições do Código de Ética e do Estatuto do Advogado apli-
cáveis ao caso.

Problema Real — A consulta de um jurista

Um dos problemas mais tradicionais e relevantes da ética jurídica é se o


advogado deve ou não aceitar o patrocínio de um criminoso, contra o qual há
um clamor público. Variante desse problema ocorre também quando um ad-
vogado, convidado a defender um determinado acusado, sente-se compelido
a recusar o convite por qualquer outro motivo igualmente relevante.
Esses dois temas se entrelaçam e são documentados em textos escritos por
juristas notáveis, em um caso real, ocorrido há mais de um século, que se
tornou célebre na história do direito penal brasileiro.
José Mendes Tavares, médico de profissão, teve também atuação política
relevante, tendo, inclusive chegado a Senador da República. Foi um relevan-
te aliado do Marechal Hermes da Fonseca, Presidente da República entre
1910 e 1914, após aquela que foi a primeira grande batalha eleitoral travada
no Brasil. Hermes da Fonseca, militar de carreira, fundador de um partido
extremamente conservador, tinha vencido o conhecido jurista baiano Rui
Barbosa, em uma campanha intensamente emocional. Hermes representava
o militarismo, a tradição o conservadorismo, Rui a inovação, o poder civil, as
liberdades democráticas.
Mendes Tavares teve uma vida pessoal atribulada. A esposa de um oficial
de marinha, o Comandante Lopes da Cruz, em caso que chocou a sociedade
carioca, abandonou o lar conjugal para viver com Mendes Tavares.

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O comandante não se conformou e passou a assediar a esposa e o político,


insistindo que ela voltasse ao lar.
Em 14 de outubro de 1911, o Comandante Lopes da Cruz foi assassinado
em pleno centro da cidade, por dois assassinos profissionais. Mendes Tavares
foi imediatamente acusado de ser o mandante do crime.
O episódio provou grande comoção social e mesmo política. A vítima era
um homem honesto, assassinado porque defendia a honra da família. O acu-
sado era um político conhecido, ligado a um governo acusado de autoritário.
Clamava-se que o crime tinha que ser punido, que o mandante de um ho-
micídio tão escandaloso não poderia ser protegido por ser aliado do governo.
Mendes Tavares pediu a um conhecido advogado, Evaristo de Moraes,
que assumisse sua defesa. Evaristo era amigo pessoal e correligionário de Rui
Barbosa, tendo inclusive participado de sua campanha como candidato a
presidente.
Em dúvida sobre se aceitaria ou não o patrocínio, Evaristo consultou o
próprio Rui Barbosa, em uma carta que acabou por se constituir em um
marco da historia do direito do Brasil.
A carta, datada de 18 de outubro de 1911, tinha o seguinte texto:

Venerando mestre e preclaro chefe.


Para solução dum verdadeiro caso de consciência solicito vossa palavra
de ordem, que à risca cumprirei. Deveis ter, como toda a gente, notícia,
mais ou menos completa, do lamentável crime de que é acusado o Dr.
Mendes Tavares.
Sabeis que esse moço é filiado a um agrupamento partidário que apoiou
a desastrada candidatura do Marechal Hermes. Sabeis outrossim que, ar-
dente admirador da vossa extraordinária mentalidade e entusiasmado pela
lição de civismo que destes em face da imposição militarista, pus-me deci-
didamente ao serviço da vossa candidatura.
Dada a suposta eleição do vosso antagonista, tenho até hoje mantido e
pretendo manter seguramente as mesmas ideias. Ocorreu todavia o triste
caso a que aludi.
O acusado Dr. José Mendes Tavares foi meu companheiro durante qua-
tro anos, nos bancos escolares. Não obstante o afastamento político, sempre
tivemos relação de amistosa camaradagem. Preso, angustiado, sem socorro
imediato de amigos do seu grupo, apelou para mim, solicitando meus ser-
viços profissionais.
Relutei, no princípio; aconselhei desde logo, fosse chamado outro patro-
no, parecendo-me estar naturalmente indicado um profissional bem conhe-
cido, hoje deputado federal, que supus muito amigo do preso. Essa pessoa
por mim apontada escusou-se à causa.

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A opinião pública, diante de certas circunstâncias do fato, alarmou-se


estranhamente, chegando-se a considerar o acusado indigno de defesa!
Não me parece se deva dar foros de justiça a essa ferocíssima manifestação
dos sentimentos excitados da ocasião.
O acusado insiste pela prestação dos meus humildes serviços. Eu estou
de posse de elementos que em muito diminuem, senão excluem, sua respon-
sabilidade no caso. Recorro respeitosamente à vossa alta autoridade e vos
instituo, com grandíssima e justificada confiança, juiz do meu proceder:
devo, por ser o acusado nosso adversário,desistir da defesa iniciada?
Prosseguindo nela, sem a menor quebra dos laços que me prendem à
bandeira do civilismo, cometo uma incorreção partidária?
Espero de vossa generosidade resposta pronta e que sirva como sentença
inapelável, para acalmação de minha consciência.
Venerador e respeitador
Evaristo de Morais

Este problema, real e documentado, será o primeiro e especial problema a


ser debatido no curso, e servirá de padrão para os demais, imaginários.

Problemas hipotéticos

Dilemas éticos de um jovem advogado

Utilizando os fatos de um exemplo imaginário descrito a seguir, foram


construídos vários problemas. Esses problemas são todos de natureza ética,
profissional e mesmo pessoal, e você deverá tentar resolvê-los, de acordo com
o Código de Ética e o Estatuto dos Advogados e usando também sua própria
noção de ética. Sua solução deverá ser debatida em aula, com o professor de-
sempenhando o papel de algum personagem, em diálogo com você.
Os problemas foram imaginados como ocorrendo ao longo do tempo. Os
fatos, mencionados em um problema ou decorrentes de eventuais soluções
acertadas no debate em aula, serão considerados, no encaminhamento dos
problemas seguintes, como já tendo efetivamente ocorrido.

Fatos

O Sr. José Monteiro é um velho e rico advogado. Durante muitos anos man-
teve com alguns colegas um escritório, de pequenas dimensões, mas de grande
faturamento, que atendia a empresas nacionais de porte médio, geralmente em
questões trabalhistas, fiscais, contratuais e, ocasionalmente, em casos criminais.

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Gradualmente, o escritório foi se tornando menor, à medida em que os


colegas do Sr. José Monteiro iam se retirando, aposentando ou morrendo.
Ao final de 2011, o Sr. José Monteiro, já rico e prestes a se aposentar, con-
vidou seu neto, José Monteiro Neto, recém formado na Escola de Direito da
Fundação Getúlio Vargas, para integrar o escritório. Em dezembro de 2014,
quando você também se formou na mesma escola, faleceu o último dos cole-
gas do velho Monteiro. José Monteiro Neto, ou Zeca, como você o chamava,
então, com consentimento do avô, convidou você, R. Azevedo amigo(a) dele
e irmã(o) da namorada dele, Josefina, a entrar para o escritório, a partir de
Janeiro de 2015.
Você, que já tinha trabalhado durante dois anos, como estagiário em um
grande escritório de advocacia, receberia uma quota da sociedade de advo-
gados fundada originalmente pelo velho Monteiro, que passaria a chamar-se
então Monteiro, Monteiro e Azevedo — MMA — Advocacia.
Por seus serviços você não iria receber um salário. Tinha apenas uma reti-
rada fixa de R$ 5.000, por mês, a título de adiantamento. Sua remuneração
seria igual a 80% dos honorários efetivamente recebidos pela MMA por ser-
viços prestados diretamente por você.
Anualmente, começando em janeiro de 2016, seria feito um acerto de
contas. Se os honorários gerados pelos seus serviços, recebidos em 2015, não
tivessem atingido R$ 60.000,00 (i.e. doze vezes R$ 5.000,00), que você teria
já recebido como retirada, você ficaria devendo a diferença, a ser descontada
em prestações mensais de sua retirada mensal, em 2016, que continuaria
fixada no mesmo valor de R$ 5.000,00.
Já se você gerasse em honorários um valor maior do que os R$ 60.000,00
já retirados em 2015, digamos R$ 100.000,00, teria direito a receber, como
participação no lucro, sem imposto de renda, 80% da diferença (i.e. 80% de
R$ 40.000,00, ou seja, R$ 32.000,00).
Nesse caso, sua retirada mensal para 2016 seria fixada em 1/12 avos do
total de seus honorários no ano 2015 (R$ 60.000 de retirada + R$ 32.000 de
bônus) ou seja, 1/12 de R$ 92.000,00 igual R$ 7.666,66.
O contrato inicial, firmado por você com avô e neto, tinha a duração de 3
anos, a partir de 31/12/2014, renovável automaticamente por períodos idên-
ticos, salvo aviso escrito seu aos dois Monteiros e à sociedade ou de qualquer
deles a você, com 90 dias de antecedência.
Você começou a trabalhar animadíssimo(a). Era muito amigo(a) de seu
futuro cunhado, confiava inteiramente nele. O velho Monteiro anunciava
que pretendia se aposentar em breve, mas mantinha ainda muitos contatos,
era conceituado, e emprestava à firma sua longa e bem sucedida experiência
profissional. As perspectivas do escritório pareciam promissoras — muitos
clientes, muito serviço, muitos projetos.
Era, sem dúvida, para você, um excelente começo de carreira.

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Problemas

1. Um bom emprego?
Seu pai é funcionário público e uma pessoa bastante conservadora. Ao
saber do convite de Zeca, para trabalhar na MMA, chamou você para uma
conversa, procurando fazê-lo(a) mudar de ideia. Lembrou de seu projeto ori-
ginal de estudar para um concurso público, fez elogios ao escritório onde
você tinha estagiado. E mais: fez vários comentários desabonadores sobre a
conduta profissional do velho Dr. Monteiro.
Na aula, você será arguido(a) pelo professor, que representará o papel de
seu pai e deverá articular e defender as razões pelas quais você aceitou o con-
vite de Zeca, a despeito das restrições.
A turma participará da discussão, deste e dos demais casos.

2. Fazer-se conhecido(a)
O velho Monteiro, também representado pelo professor, chama você e
Zeca para uma conversa. Ele está entusiasmado com sua contratação; quer
construir para seu neto um escritório moderno e próspero, capacitado a com-
petir com as grandes firmas que dominam o mercado. Para isso, está disposto
a investir até mesmo quantias substanciais. Cogita de fazer uma participação
ao público, anunciar nos jornais, preparar uma página na Internet, contratar
um profissional para divulgar o nome da firma, escolher uma espécie de lema
publicitário, publicar uma circular etc.
Você deverá pensar na solicitação, ajudar a aperfeiçoá-la com alguma ideia
que você mesmo tenha, mas procurar também ver os limites impostos pelo
Código de Ética.
O professor fará o papel do Dr. Monteiro e os demais alunos atuarão
como Zeca.

3. Rompimento do noivado
Josefina, sua irmã, rompeu o noivado com Zeca e começou a namorar um
outro rapaz. Zeca ficou surpreendido e muito magoado com o rompimento.
Você teme que essa separação possa prejudicar a relação profissional com seu
ex-futuro cunhado.
Zeca, representado pelo professor, chama você para conversar. Declara so-
lenemente que tudo continua como antes, mas você desconfia que ele não
está sendo sincero.
Ao lado disso, você já trabalha há quatro meses no escritório, tem se es-
forçado bastante, mas ainda não tem informações concretas sobre o fluxo de
honorários recebidos pela MMA e gerados pelo seu trabalho.
Você, no momento, não tem nenhuma outra perspectiva concreta de em-
prego mas não gostaria de ficar desempregado.

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Na aula você e o professor tentarão reproduzir a conversa sua com Zeca.


Você deverá pensar em alguma forma razoável de se garantir.

4. Novo cliente
Você está namorando sério e pretende casar em breve com um(a) rapaz
(moça), chamado(a) Lúcio (a), Lu. Lu é filho(a) do Sr. Freitas, homem de
origem humilde, hoje muito rico. O Sr. Freitas começou a vida como garçon,
em um restaurante a quilo e foi subindo com esforço; atualmente é proprie-
tário de uma cadeia de seis pizzarias no Rio de Janeiro, a conhecida rede Sa-
porita. A Saporita mantém ainda uma franquia com filiais em todo o Brasil.
Você vislumbra a possibilidade de aumentar sua renda, tornando a Sapori-
ta cliente da MMA. Você sabe, por exemplo, que os restaurantes Saporita no
Rio de Janeiro e vários franquiados em outras cidades estão tendo problemas
trabalhistas, enfrentando ao mesmo tempo dezenas de reclamações trabalhis-
tas, patrocinadas por um escritório especializado.
Sabe também que o Sr. Freitas, pessoalmente tem contra si uma autuação
da Receita Federal, relativamente vultosa, ainda na primeira instância admi-
nistrativa. Lu, que foi quem lhe deu a ideia, revela que tem ouvido seu pai se
queixar algumas vezes dos patronos que o representam nesses processos.
Levando adiante seu plano, você primeiro conversa com Zeca sobre se será
possível esperar um reflexo positivo em sua remuneração, se você trouxer o
cliente, talvez um percentual de eventuais futuros honorários cobrados pela
MMA ao Sr. Freitas ou à rede Saporita.
Ainda sem uma resposta definitiva de Zeca sobre o assunto, você tem uma
primeira conversa com o Sr. Freitas.
Na aula, você tentará reproduzir sua conversa com seu futuro sogro, ambos
representados pelo professor. Na discussão, você e a turma deverão presentes
as disposições do Código de Ética, em cotejo com seus interesses pessoais.

5. Reclamação trabalhista
Você é designado por Zeca para representar um cliente do escritório MMA
em uma audiência trabalhista. O Reclamante, Sr. Silva, foi despedido por
justa causa da loja do cliente, sob alegação de desfalque.
Ao lhe passar o caso, Zeca lhe disse que, na realidade, o reclamante não
deu desfalque nenhum, mas que o cliente, Sr. Rodrigues, descrito como sen-
do um ricaço velho e cheio de manias, mandou embora o Sr. Silva, por pro-
blemas estritamente pessoais. Na verdade o Sr. Rodrigues cismou que sua
mulher, muito mais moça que ele, estava tendo um envolvimento om o Sr.
Silva; ficou com muita raiva e armou para deliberadamente prejudica-lo.
A instrução que você recebeu de Zeca foi:
— O cliente diz que não faz acordo de jeito nenhum; que quer “arrebentar”
com o Sr. Silva; que não se incomoda de perder o caso, mas quer ir até o fim.

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Zeca lhe deu ainda diversos documentos que provariam o suposto desfal-
que. Você sabe que, na realidade, esses documentos são ideologicamente falsos.
Aquilo deixou você revoltado; sem saber o que fazer, você disse na hora
que sim, que iria à audiência, mas vai se aconselhar com o professor sobre
como se conduzir.

6. Negociação de honorários
Seu futuro sogro chama você para uma conversa. Está inclinado, mas não
decidido, a entregar à MMA algum serviço, sejam os casos trabalhistas da
rede Saporita, seja o processo pessoal dele. Quer saber quanto o escritório
cobraria e qual a habilitação de seus profissionais para o tipo de caso.
A essa altura, você já sabe que a MMA lhe garantiu que, se você trouxer
o cliente, terá direito a 10% dos honorários pagos ao escritório, além, é cla-
ro, da remuneração combinada sobre os que forem atribuídos a seu próprio
trabalho.
Você sabe também que você mesmo, que não tem experiência suficiente
para conduzir os processos. Mas Zeca, que vem se especializando em direito
do trabalho, poderá se incumbir com competência dos casos trabalhistas.
Zeca costuma cobrar honorários conforme o valor do caso e a situação
financeira do cliente; normalmente, em processos trabalhistas de valor indi-
vidual não muito elevado, cobra um valor fixo mensal de R$ 50,00 por pro-
cesso, desde que, como é comum, o cliente tenha um número relativamente
alto (20 ou mais) de casos semelhantes. Na área fiscal, quem tem realmente
competência é o avô de Zeca, mas este cobra bem mais caro; trabalhando
normalmente por hora, cobra à razão de no mínimo, R$ 800,00.
O professor fará o papel do seu futuro sogro na conversa.

7. Trabalho de lobby
Um dos maiores e mais antigos clientes de MMA é uma empresa de pla-
nos de saúde O escritório já atuou em vários processos de seu interesse. O
cliente está muito preocupado porque ouviu dizer, de fonte segura, que a
agência governamental que fiscaliza esse tipo de empresa, está cogitando em
baixar uma norma obrigando à cobertura de despesas com o tratamento de
diversas doenças crônicas, pré-existentes à data da contratação. O Dr. Mon-
teiro tem bons contatos dentro da agência e pede que você vá até Brasília,
falar com um funcionário amigo dele e ver o que pode apurar. A instrução
que você recebeu foi:
— O Eusébio é meu amigo há muitos anos e vai receber você bem. Ele é a
segunda pessoa na agência e, se ele mexer os pauzinhos, sai o regulamento como
a gente quer. Explique o que nosso cliente deseja e veja o que é preciso para con-
seguir. Você pode dizer que o cliente tem condições de mobilizar os concorrentes
para um trabalho conjunto.

FGV DIREITO RIO  16


Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

Você acha razoável o pedido? Como você agiria? Prepare-se para conversar
com o Sr. Eusébio, que será representado pelo professor.

8. Cliente envolvido em escândalo


Um outro cliente importante de MMA é uma prestadora de serviços de
informática, a Compuserv. A Compuserv planeja, compra equipamento,
programa e instala redes de computadores em grandes empresas, privadas
e estatais e em repartições públicas. Recentemente, a Polícia Federal iniciou
uma operação, denominada a Operação Bom Serviço, para apurar a suspeita
de que funcionários de uma grande empresa estatal haviam recebido propina
para contratar diversos serviços, não especificados.
A Compuserv, marca uma reunião com o velho Dr. Monteiro, sem dizer
qual o assunto. Zeca está no exterior e o Dr. Monteiro, sem suspeitar do que
iria se tratar, convida você para assistir à reunião.
O representante da Compuserv, nervoso, logo ao início da reunião, desa-
bafa. Diz que está preocupadíssimo com a operação da Polícia Federal, pois
tem na empresa estatal investigada uma das suas maiores clientes e que, in-
felizmente, a Compuserv tinha sido forçada a pagar propina a diretores não
apenas dessa empresa, mas de duas outras estatais de menor porte e, como se
não bastasse, em algumas repartições. E mais, que as propinas tinham sido
pagas no exterior, com fundos provenientes de uma conta numerada, não
revelada à Secretaria da Receita Federal, que o proprietário da Compuserv
mantém em um banco suíço. O Dr. Monteiro, discretamente, faz sinal a você
para que se retire da reunião e você obedece.
Você fica preocupado e, à noite, vai conversar com seu pai, papel que o
professor representará, sobre o assunto.

9. Cliente pobre
Nos primeiros meses de seu trabalho na MMA, você já aceitou dois ca-
sos sem pagamento de honorários. O primeiro foi representar uma tia sua,
aposentada, em uma ação contra a repartição pública em ela que trabalhou,
pedindo um reajuste de sua aposentadoria; a segunda, uma empregada antiga
de sua família, em uma ação de despejo movida contra ela pelo proprietário
do imóvel no subúrbio em que mora.
Nas duas vezes, você figurou sozinho na procuração, mas teve um certo
trabalho para convencer seu amigo Zeca que autorizasse você a usar a infraes-
trutura do escritório (secretária, estagiários, impressora, copiadora etc.) para
os serviços.
Além desses casos, você trabalha também pro bono em um terceiro proces-
so, de interesse um ex-motorista de seu futuro sogro, Sr. Freitas. Esse caso,
porém, foi aceito por Zeca sem dificuldade, inclusive figurando ele também
na procuração, porque o Sr. Freitas é cliente do escritório.

FGV DIREITO RIO  17


Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

Agora você foi diretamente procurado por Severino, filho de um antigo


porteiro do prédio em que você morou, Severino foi seu amigo de infância,
cresceu junto com você. Quando os dois já eram grandes, Severino foi feri-
do defendendo você contra um marginal que tentava assaltar você. Severino
agora trabalha como auxiliar de porteiro em um prédio próximo àquele onde
você mora.
Você não sabe exatamente qual é o caso, mas não pode se negar a atender
ao pedido de seu antigo amigo para uma reunião.
O professor fará o papel de Severino na reunião. Os fatos que usará foram
baseados em fatos reais.

10. Caso do atropelamento


Este problema foi inspirado por um dos episódios de um filme argentino,
Relatos Selvagens.
O velho dr. Monteiro liga para sua casa um dia, às 6.30 da manhã, manda
acordar você e pede que você vá imediatamente à casa do Sr. Alfredo Toma-
zzini. O sr Tomazzini é um cliente importante da MMA. É um empresário
muito rico, que mora em uma enorme mansão, em um bairro nobre da ci-
dade. Rodrigo, filho do Sr. Tomazzini, rapaz de 17 anos, na noite da véspera,
pegado escondido o carro do pai e tinha atropelado uma moça, grávida de
sete meses, à porta de um restaurante elegante.
No caminho para a casa do cliente, você ouve, no rádio do carro, a noticia
do fato. A moça atropelada era recepcionista do restaurante e estava saindo
do trabalho quando foi atropelada. Ela e o filho que estava esperando mor-
reram a caminho do hospital. Os clientes do restaurante assistiram à cena,
captada também pelas câmeras de segurança do estabelecimento. O marido
da moça atropelada, pastor em uma igreja evangélica, entrevistado pela rádio,
fez declarações indignadas, disse que vai conclamar os fieis de sua igreja para
pedir justiça.
Chegando à casa do Sr. Tomazzini, este comunica a você que tem um pla-
no para livrar o filho Rodrigo do processo. O jardineiro da casa, Sr. Antônio,
já foi convencido a, mediante uma vultosa quantia em dinheiro e a promessa
de pagar todos os custos da defesa, confessar que foi ele que tirou o carro
do patrão e atropelou a moça. O Sr. Tomazzini quer contratar a MMA para
defender o jardineiro.
Na aula o professor fará o papel do Sr. Tomazzini com quem você vai
dialogar.

11. Convite para advogado interno de um cliente


Seu futuro sogro, Sr. Freitas, acabou por contratar os serviços da MMA
para conduzir as reclamações trabalhistas no Rio contra as pizzarias da rede
Saporita e está satisfeito com os serviços que a firma vem prestando, tão satis-

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feito que agora propôs contratar você como advogado interno. Está disposto
a lhe pagar um fixo de R$ 5.000,00, o mesmo que sua retirada em MMA.
Não exige dedicação integral. Basta que você passe lá todos dias pelo menos
duas horas dentro do horário comercial e supervisione os diversos assuntos
jurídicos da empresa.
Você discute a proposta com seu sócio Zeca que, embora não muito con-
tente, concorda em que você a aceite. Afinal, pondera Zeca, o que você ganha
na MMA é em função de seu resultado. De modo que, se tomarem muito tempo
seu lá na Saporita, sua remuneração aqui vai descer.
Discute também com Lu, que, no seu modo de perceber, foi quem deu a
ideia ao pai porque quer viabilizar o casamento de vocês.
Você então aceita e assume o cargo.
Nem bem você assumiu seu novo emprego e surge um problema. O Sr.
Freitas acredita que a Lac Laticínios, fornecedora de mozzarela para a Sapo-
rita, vendeu uma partida estragada do produto. Não chega a ter certeza, mas
só a isso pode atribuir o fato de várias reclamações recebidas de clientes da
Saporita que alegam ter tido complicações intestinais após refeições em uma
das pizzarias da rede.
Um desses clientes, um conhecido advogado civilista, chegou até a mover
contra a Saporita, uma ação de perdas e danos.
Você promete que vai estudar o assunto; primeiro você estuda a possi-
bilidade de mover ação contra a LAC. Depois pega a pasta da ação movida
contra a Saporita para fazer a contestação.
Logo, surge um problema: você sabe que o autor da ação é diretor de uma
empresa cliente de MMA.
Você vai conversar com Zeca, representado pelo professor, sobre como
conduzir o assunto.

12. Caso contra empresa de plano de saúde


Um amigo do Sr. Freitas, Sr. Augusto Oliveira, procura você na MMA
com um problema: ele precisa fazer uma cirurgia cardíaca e seu plano de saú-
de negou-se a autorizar a cirurgia, alegando que a cirurgia foi recomendada
para corrigir um problema congênito e, por isso, é pré-existente à contratação
do plano. O Sr. Oliveira cogita de mover uma ação contra a empresa de segu-
ros na qual mantém o plano.
A empresa de seguros não é cliente de MMA, mas, segundo informa o
Sr. Oliveira, baseia suas alegações em uma portaria da agência reguladora,
exatamente aquela que foi emitida em decorrência de seus contatos com Sr.
Eusébio, o funcionário amigo do velho Azevedo
Mais uma vez, você pega procuração do Sr. Oliveira, mas antes de lhe dar
uma orientação vai conversar com seu amigo e sócio Zeca.

FGV DIREITO RIO  19


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13. Insulina gratuita para diabéticos


O escritório MMA foi contratado por um cliente diabético, amigo do
velho Dr. Monteiro, para mover uma ação contra o Ministério da Saúde
visando obter que o governo forneça gratuitamente a insulina que o cliente
precisa tomar continuamente.
O escritório entra com uma ação e consegue uma liminar concedendo
tutela antecipada.
O Dr. Monteiro, entusiasmado, chama você e o Zeca e diz:
— O meu amigo me fez o favor de me autorizar a entrar com esta ação em
nome dele. A gente não está nem cobrando nada dele. Minha ideia era justamen-
te obter a liminar, que nós obtivemos, e, aí sim, sair em campo para faturar. Vocês
sabem quantos diabéticos existem no Brasil? Quantos têm que tomar insulina
diariamente? Acho que são uns 3 milhões. Digamos que um terço deles tope entrar
na ação, pagando honorários fixos de R$ 50,00, teremos um ingresso de R$ 50
milhões! Agora vocês dois vão ter que sair em campo para buscar essa grana.
Zeca responde simplesmente:
— Tudo bem, vovô. Vamos ver o que podemos favor e damos notícia.
Na aula, o professor fará o papel de Zeca, em uma conversa com você.

14. Tentativa de captar um novo cliente


Em uma festa de família, na casa dos pais de Lu, você conhece um parente
dele(a), o Sr. Antunes, que mora em São Paulo. Informado de que você é
advogado(a), o Sr. Antunes puxa conversa sobre um problema jurídico da
empresa em que ele trabalha, subsidiária brasileira, com sede em São Paulo,
de uma empresa italiana que explora no Brasil uma franquia de pizzas e está
tendo um problema com um franquiado no Rio de Janeiro. Por conta de sua
experiência com a empresa de seu futuro sogro, você consegue mostrar ao Sr.
Antunes que entende do assunto e logo vislumbra na conversa a possibilidade
de captar um novo cliente. Pensando, nisso troca cartões de visita com o Sr.
Antunes.
No dia seguinte, você conta a conversa ao Zeca que logo redige junto com
você uma carta ao Sr. Antunes nos seguintes termos.

Prezado Sr. Antunes,


Fazendo referência à conversa que tivemos ontem na casa de meu futuro
sogro, tomo a liberdade de mandar-lhe em anexo um material que, acredi-
to seja do seu interesse.
Colocando-me à sua disposição para qualquer outro esclarecimento,
subscrevo-me.
Atenciosamente
R. Azevedo

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O material citado são cópias de duas decisões do STJ que você citou no
caso de seu cliente e que parecem se adequar ao caso da empresa em que o
Sr. Antunes trabalha. Junto vai também um luxuoso prospecto impresso da
MMA, com os nomes e currículos dos sócios, fotografias dos sócios e das
instalações, uma breve relação dos melhores clientes do escritório.
Uma semana depois o Sr. Antunes e chama você para uma conversa, no
escritório da empresa em que trabalha, em São Paulo. Zeca concorda em
pagar sua passagem.
Prepare-se para essa reunião em que o professor representará o Sr. Antunes.

15. Processo disciplinar


Em uma audiência em um processo de litigioso de família, você teve um
bate-boca com o advogado da parte contrária, um velho familista, Dr. Oro-
zimbo. O caso era uma ação em que a cliente do Dr. Orozimbo, uma senhora
muito rica da alta sociedade cariocas, divorciada, queria retirar do ex-marido,
seu cliente, Sr. Alfredo, o direito à guarda compartilhada dos filhos do casal,
uma menina de 8 anos e um menino de 6. Alega que seu cliente, além de
viciado em drogas, tinha molestado sexualmente a própria filha.
Você sabe que as alegações contra o Sr. Alfredo são absurdas; ele nunca
molestou a filha, que adora, e, embora ocasionalmente fume um ou outro
cigarro de maconha, não é de, forma alguma, um viciado. Ao contrário, é
um executivo de uma pequena empresa, que paga pensão regularmente para
o filho, nunca tomou drogas pesadas.
O Dr. Orozimbo, porém, é muito experiente, com vasta tarimba nesse
tipo de audiência e você sente que ele está levando a melhor sobre você em
uma sucessão de pequenos incidentes.
Você se irrita, sobretudo com o ar arrogante com que ele, sempre se diri-
gindo diretamente ao juiz, repete, em tom de mofa, que o(a) jovem colega,.
certamente por sua inexperiência está, mais uma vez equivocado(a).
Aquilo vai deixando você cada vez nervoso(a) até que uma hora você ex-
plode e fala, bem alto, dedo em riste para o Dr. Orozimbo:
— Sou jovem mas não sou idiota. A experiência é um farol virado para trás,
seu velho gagá.
O Dr. Orozimbo, afetando calma dirige-se em tom formal ao juiz:
— Requeiro a V.Excia, que faça constar, ipsis litteris, da assentada da audi-
ência, os termos em que o(a) jovem colega se dirigiu a mim para que eu possa
representar contra ele(a) à Comissão de Ética e Disciplina da OAB, por falta de
lhaneza, nos termos do Art.45 do Código de Ética.
O juiz faz que sim com a cabeça, você fica sem ação, e a audiência prosse-
gue. Seu cliente, presente à audiência, fica aborrecido.

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Alguns dias depois, vem a sentença, que retira de seu cliente o direito à
guarda compartilhada e só lhe permite ver os filhos na presença de uma go-
vernanta, contratada pela mulher e paga por ele.
O cliente fica irritado e manda você passar o caso imediatamente para um
outro advogado cujo nome indica. No mesmo dia você recebe uma notifi-
cação do relator do processo instaurado pelo Conselho de Ética e Disciplina
intimando você para prestar esclarecimentos a respeito da representação apre-
sentada pelo Dr. Orozimbo.
Você está sem saber o que fazer e vai conversar com o Zeca que será repre-
sentado pelo professor.

16. Negociação de honorários


A Compuserv, cliente já referida acima, acabou sendo envolvida na ope-
ração da Polícia Federal que ficou conhecida como Operação Bom Serviço. O
dono da empresa, Sr. Almeida, foi preso temporariamente e pede a alguém do
escritório MMA vá vê-lo. Você é designado(a) para fazer o primeiro contato.
O velho Dr. Monteiro lhe dá instruções bem diretas:
— Não sei ainda como vou conduzir o caso. Preciso estudar se vou recomendar
uma delação premiada ou negar tudo. Sei apenas que hoje à noite já vou prepa-
rar um primeiro habeas-corpus. Mas, antes de mais nada, temos que acertar os
honorários. Esse cara é cheio da grana. Lembra aquela reunião da qual eu discre-
tamente pedi a você que se retirasse? Pois é... Ele contou que tinha um esquema de
propina fixa com várias estatais e repartições. Era uma praxe. Ela faturava alto,
mas tinha que pagar, e pagava sempre, uma comissão. Eu sei que ele tem alguns
milhões de dólares na conta dele na Suíça e mais um bocado de grana em casa
ou em contas em nomes de laranjas. Vai lá e veja o quanto você pode tirar dele.
Com esta instrução, você vai visitar o Sr. Almeida, representado pelo pro-
fessor, na carceragem da Polícia Federal.

17. Convite para participar em um programa de televisão


A Associação de Portadores de Diabetes, uma entidade sem fins lucrativos,
contratou a MMA para propor uma ação para obrigar o governo a fornecer
gratuitamente insulina aos diabéticos. A ação acaba de ser julgada procedente
em primeira instância.
A notícia sai nos jornais. A assessoria de marketing contratada pelo Dr.
Monteiro consegue que a produção de um programa de televisão convide
alguém do escritório para ser entrevistado sobre o assunto.
Você é escalado(a) para representar a MMA e vai gravar entrevista na te-
levisão.
Na aula, o professor fará o papel do entrevistador (por hipótese, Jô Soares).

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18. Conflito entre dois clientes


Você acabou sendo contratado pelo Sr. Antunes, o executivo paulista que
você conheceu em casa de seus futuros sogros, para representar a firma dele,
(uma empresa de nome Napoletana), em uma ação contra um franquiado no
Rio. Você fica contente, pega uma procuração para o escritório, inteira-se dos
fatos e está já minutando a inicial quando esse mesmo franquiado, Sr. Ones-
taldo, dono de uma firma chamada Opíparo, entra em contato com o Zeca.
Você e o Zeca não sabiam, mas o Sr. Onestaldo conhece há muitos anos o
velho Dr. Monteiro.
Sem ligar os fatos Zeca marca uma reunião com o Sr. Onestaldo e, sem
falar com você, aceita o caso.
Logo, em uma conversa casual, os dois se dão conta do conflito.
Converse com o Zeca, representado pelo professor, sobre o que fazer nessa
situação.

19. Prazo perdido


Um dos muitos casos que o escritório MMA entregou a você para con-
duzir, logo que você fechou contrato com eles, foi defender uma pequena
cliente do escritório, D. Aparecida, em uma ação que lhe foi movida para
devolver em dobro o sinal de R$ 10.000,00 que havia recebido para a compra
de um apartamento de sua propriedade. D. Aparecida alegou que o contrato
não se efetivou porque o comprador desistiu do negócio, não por culpa dela.
Você contesta a ação e acompanha o caso. Um dia, sai a sentença que é
contrária à D. Aparecida.
Na ocasião, você e todo o pessoal do escritório estavam atarefadíssimos
com um grande caso e você acabou se enganando e perdendo o prazo de
apelação no processo de D. Aparecida.
Discuta com o Zeca como vocês devem proceder.

20. Resultados ao final do contrato


Estamos em agosto de 2017. Até o final de setembro você deverá decidir
se vai querer ou não continuar seu contrato com a MMA. Nesse período você
ganhou relativamente bem. Já no segundo ano, sua retirada mensal dobrou e,
no terceiro ano atingiu R$ 14.000,00. As perspectivas para o futuro são boas.
Você agora está casado com Lu e tem também boas perspectivas profissionais
na firma da família dele(a). Ao mesmo tempo, durante os três anos passados
na MMA, você conseguiu, com muito esforço, se preparar para um concurso
público e acaba de ser aprovado, esperando para breve sua nomeação para a
defensoria pública.
Você está indeciso sobre o que fazer e precisa tomar uma decisão. Lu é
favorável a que você renove o contrato com a MMA. Já seu pai insiste em que
você aceite sua nomeação para a defensoria.
Você vai conversar sobre seu dilema com o seu professor.

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ANEXO II — CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB

Publicado no Diário da Justiça, Seção I, do dia 01.03.95, pp. 4.000/4004.

O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO


BRASIL, ao instituir o Código de Ética e Disciplina, norteou-se por princí-
pios que formam a consciência profissional do advogado e representam im-
perativos de sua conduta, tais como: os de lutar sem receio pelo primado
da Justiça; pugnar pelo cumprimento da Constituição e pelo respeito à Lei,
fazendo com que esta seja interpretada com retidão, em perfeita sintonia com
os fins sociais a que se dirige e as exigências do bem comum; ser fiel à verdade
para poder servir à Justiça como um de seus elementos essenciais; proceder
com lealdade e boa-fé em suas relações profissionais e em todos os atos do seu
ofício; empenhar-se na defesa das causas confiadas ao seu patrocínio, dando
ao constituinte o amparo do Direito, e proporcionando-lhe a realização prá-
tica de seus legítimos interesses; comportar-se, nesse mister, com indepen-
dência e altivez, defendendo com o mesmo denodo humildes e poderosos;
exercer a advocacia com o indispensável senso profissional, mas também com
desprendimento, jamais permitindo que o anseio de ganho material sobre-
leve à finalidade social do seu trabalho; aprimorar-se no culto dos princípios
éticos e no domínio da ciência jurídica, de modo a tornar-se merecedor da
confiança do cliente e da sociedade como um todo, pelos atributos intelectu-
ais e pela probidade pessoal; agir, em suma, com a dignidade das pessoas de
bem e a correção dos profissionais que honram e engrandecem a sua classe.
Inspirado nesses postulados é que o Conselho Federal da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelos arts. 33
e 54, V, da Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994, aprova e edita este Código,
exortando os advogados brasileiros à sua fiel observância.

TÍTULO I
DA ÉTICA DO ADVOGADO

CAPÍTULO I
DAS REGRAS DEONTOLÓGICAS FUNDAMENTAIS

Art. 1º O exercício da advocacia exige conduta compatível com os pre-


ceitos deste Código, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos Provimentos e
com os demais princípios da moral individual, social e profissional.

Art. 2º O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor


do Estado democrático de direito, da cidadania, da moralidade pública, da

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Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

Justiça e da paz social, subordinando a atividade do seu Ministério Privado à


elevada função pública que exerce.
Parágrafo único. São deveres do advogado:
I — preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profis-
são, zelando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade;
II — atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracida-
de, lealdade, dignidade e boa-fé;
III — velar por sua reputação pessoal e profissional;
IV — empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal
e profissional;
V — contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das
leis;
VI — estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que
possível, a instauração de litígios;
VII — aconselhar o cliente a não ingressar em aventura judicial;
VIII — abster-se de:
a) utilizar de influência indevida, em seu benefício ou do cliente;
b) patrocinar interesses ligados a outras atividades estranhas à advocacia,
em que também atue;
c) vincular o seu nome a empreendimentos de cunho manifestamente du-
vidoso;
d) emprestar concurso aos que atentem contra a ética, a moral, a honesti-
dade e a dignidade da pessoa humana;
e) entender-se diretamente com a parte adversa que tenha patrono consti-
tuído, sem o assentimento deste.
IX — pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação
dos seus direitos individuais, coletivos e difusos, no âmbito da comunidade.

Art. 3º O advogado deve ter consciência de que o Direito é um meio de


mitigar as desigualdades para o encontro de soluções justas e que a lei é um
instrumento para garantir a igualdade de todos.

Art. 4º O advogado vinculado ao cliente ou constituinte, mediante rela-


ção empregatícia ou por contrato de prestação permanente de serviços, inte-
grante de departamento jurídico, ou órgão de assessoria jurídica, público ou
privado, deve zelar pela sua liberdade e independência.
Parágrafo único. É legítima a recusa, pelo advogado, do patrocínio de
pretensão concernente a lei ou direito que também lhe seja aplicável, ou con-
trarie expressa orientação sua, manifestada anteriormente.

Art. 5º O exercício da advocacia é incompatível com qualquer procedi-


mento de mercantilização.

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Art. 6º É defeso ao advogado expor os fatos em Juízo falseando delibera-


damente a verdade ou estribando-se na má-fé.

Art. 7º É vedado o oferecimento de serviços profissionais que impliquem,


direta ou indiretamente, inculcação ou captação de clientela.

CAPÍTULO II
DAS RELAÇÕES COM O CLIENTE

Art. 8º O advogado deve informar o cliente, de forma clara e inequívoca,


quanto a eventuais riscos da sua pretensão, e das conseqüências que poderão
advir da demanda.

Art. 9º A conclusão ou desistência da causa, com ou sem a extinção do


mandato, obriga o advogado à devolução de bens, valores e documentos re-
cebidos no exercício do mandato, e à pormenorizada prestação de contas, não
excluindo outras prestações solicitadas, pelo cliente, a qualquer momento.
Art. 10. Concluída a causa ou arquivado o processo, presumem-se o cum-
primento e a cessação do mandato.

Art. 11. O advogado não deve aceitar procuração de quem já tenha patro-
no constituído, sem prévio conhecimento deste, salvo por motivo justo ou
para adoção de medidas judiciais urgentes e inadiáveis.

Art. 12. O advogado não deve deixar ao abandono ou ao desamparo os


feitos, sem motivo justo e comprovada ciência do constituinte.

Art. 13. A renúncia ao patrocínio implica omissão do motivo e a continui-


dade da responsabilidade profissional do advogado ou escritório de advoca-
cia, durante o prazo estabelecido em lei; não exclui, todavia, a responsabilida-
de pelos danos causados dolosa ou culposamente aos clientes ou a terceiros.

Art. 14. A revogação do mandato judicial por vontade do cliente não o


desobriga do pagamento das verbas honorárias contratadas, bem como não
retira o direito do advogado de receber o quanto lhe seja devido em eventual
verba honorária de sucumbência, calculada proporcionalmente, em face do
serviço efetivamente prestado.

Art. 15. O mandato judicial ou extrajudicial deve ser outorgado indivi-


dualmente aos advogados que integrem sociedade de que façam parte, e será
exercido no interesse do cliente, respeitada a liberdade de defesa.

FGV DIREITO RIO  26


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Art. 16. O mandato judicial ou extrajudicial não se extingue pelo decurso


de tempo, desde que permaneça a confiança recíproca entre o outorgante e o
seu patrono no interesse da causa.

Art. 17. Os advogados integrantes da mesma sociedade profissional, ou


reunidos em caráter permanente para cooperação recíproca, não podem re-
presentar em juízo clientes com interesses opostos.

Art. 18. Sobrevindo conflitos de interesse entre seus constituintes, e não


estando acordes os interessados, com a devida prudência e discernimento,
optará o advogado por um dos mandatos, renunciando aos demais, resguar-
dado o sigilo profissional.

Art. 19. O advogado, ao postular em nome de terceiros, contra ex-cliente


ou ex-empregador, judicial e extrajudicialmente, deve resguardar o segredo
profissional e as informações reservadas ou privilegiadas que lhe tenham sido
confiadas.

Art. 20. O advogado deve abster-se de patrocinar causa contrária à ética,


à moral ou à validade de ato jurídico em que tenha colaborado, orientado ou
conhecido em consulta; da mesma forma, deve declinar seu impedimento
ético quando tenha sido convidado pela outra parte, se esta lhe houver reve-
lado segredos ou obtido seu parecer.

Art. 21. É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem


considerar sua própria opinião sobre a culpa do acusado.

Art. 22. O advogado não é obrigado a aceitar a imposição de seu cliente


que pretenda ver com ele atuando outros advogados, nem aceitar a indicação
de outro profissional para com ele trabalhar no processo.

Art. 23. É defeso ao advogado funcionar no mesmo processo, simultanea-


mente, como patrono e preposto do empregador ou cliente.

Art. 24. O substabelecimento do mandato, com reserva de poderes, é ato


pessoal do advogado da causa.
§ 1º O substabelecimento do mandato sem reservas de poderes exige o
prévio e inequívoco conhecimento do cliente.
§ 2º O substabelecido com reserva de poderes deve ajustar antecipada-
mente seus honorários com o substabelecente.

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CAPÍTULO III
DO SIGILO PROFISSIONAL
1 Ver arts. 7o, II e XIX, 34, VII, e 72, § 2o, do Estatuto.
2 Ver arts. 1º, § 3o, 14, parágrafo único, 33, parágrafo único, 34, XIII, e
35, parágrafo único, do Estatuto e Provimento n. 94/2000.

Art. 25. O sigilo profissional é inerente à profissão, impondo-se o seu res-


peito, salvo grave ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando o advogado
se veja afrontado pelo próprio cliente e, em defesa própria, tenha que revelar
segredo, porém sempre restrito ao interesse da causa.

Art. 26. O advogado deve guardar sigilo, mesmo em depoimento judicial,


sobre o que saiba em razão de seu ofício, cabendo-lhe recusar-se a depor
como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou
sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou tenha sido advogado,
mesmo que autorizado ou solicitado pelo constituinte.

Art. 27. As confidências feitas ao advogado pelo cliente podem ser utili-
zadas nos limites da necessidade da defesa, desde que autorizado aquele pelo
constituinte.
Parágrafo único. Presumem-se confidenciais as comunicações epistolares
entre advogado e cliente, as quais não podem ser reveladas a terceiros.

CAPÍTULO IV
DA PUBLICIDADE2

Art. 28. O advogado pode anunciar os seus serviços profissionais, indivi-


dual ou coletivamente, com discrição e moderação, para finalidade exclusi-
vamente informativa, vedada a divulgação em conjunto com outra atividade.

Art. 29. O anúncio deve mencionar o nome completo do advogado e o


número da inscrição na OAB, podendo fazer referência a títulos ou qualifi-
cações profissionais, especialização técnico-científica e associações culturais e
científicas, endereços, horário do expediente e meios de comunicação, veda-
das a sua veiculação pelo rádio e televisão e a denominação de fantasia.
§ 1º Títulos ou qualificações profissionais são os relativos à profissão de
advogado, conferidos por universidades ou instituições de ensino superior,
reconhecidas.
§ 2º Especialidades são os ramos do Direito, assim entendidos pelos dou-
trinadores ou legalmente reconhecidos.
§ 3º Correspondências, comunicados e publicações, versando sobre cons-
tituição, colaboração, composição e qualificação de componentes de escri-

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Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

tório e especificação de especialidades profissionais, bem como boletins in-


formativos e comentários sobre legislação, somente podem ser fornecidos a
colegas, clientes, ou pessoas que os solicitem ou os autorizem previamente.
§ 4º O anúncio de advogado não deve mencionar, direta ou indiretamen-
te, qualquer cargo, função pública ou relação de emprego e patrocínio que
tenha exercido, passível de captar clientela.
§ 5º O uso das expressões “escritório de advocacia” ou “sociedade de advo-
gados” deve estar acompanhado da indicação de número de registro na OAB
ou do nome e do número de inscrição dos advogados que o integrem.
§ 6º O anúncio, no Brasil, deve adotar o idioma português, e, quando em
idioma estrangeiro, deve estar acompanhado da respectiva tradução.

Art. 30. O anúncio sob a forma de placas, na sede profissional ou na re-


sidência do advogado, deve observar discrição quanto ao conteúdo, forma e
dimensões, sem qualquer aspecto mercantilista, vedada a utilização de outdo-
or ou equivalente.

Art. 31. O anúncio não deve conter fotografias, ilustrações, cores, figuras,
desenhos, logotipos, marcas ou símbolos incompatíveis com a sobriedade da
advocacia, sendo proibido o uso dos símbolos oficiais e dos que sejam utili-
zados pela Ordem dos Advogados do Brasil.
§ 1º São vedadas referências a valores dos serviços, tabelas, gratuidade ou
forma de pagamento, termos ou expressões que possam iludir ou confundir
o público, informações de serviços jurídicos suscetíveis de implicar, direta ou
indiretamente, captação de causa ou clientes, bem como menção ao tama-
nho, qualidade e estrutura da sede profissional.
§ 2º Considera-se imoderado o anúncio profissional do advogado me-
diante remessa de correspondência a uma coletividade, salvo para comunicar
a clientes e colegas a instalação ou mudança de endereço, a indicação expressa
do seu nome e escritório em partes externas de veículo, ou a inserção de seu
nome em anúncio relativo a outras atividades não advocatícias, faça delas
parte ou não.

Art. 32. O advogado que eventualmente participar de programa de tele-


visão ou de rádio, de entrevista na imprensa, de reportagem televisionada ou
de qualquer outro meio, para manifestação profissional, deve visar a objetivos
exclusivamente ilustrativos, educacionais e instrutivos, sem propósito de pro-
moção pessoal ou profissional, vedados pronunciamentos sobre métodos de
trabalho usados por seus colegas de profissão.
Parágrafo único. Quando convidado para manifestação pública, por qual-
quer modo e forma, visando ao esclarecimento de tema jurídico de interesse

FGV DIREITO RIO  29


Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

geral, deve o advogado evitar insinuações a promoção pessoal ou profissional,


bem como o debate de caráter sensacionalista.

Art. 33. O advogado deve abster-se de:


I — responder com habitualidade consulta sobre matéria jurídica, nos
meios de comunicação social, com intuito de promover-se profissionalmente;
II — debater, em qualquer veículo de divulgação, causa sob seu patrocínio
ou patrocínio de colega;
III — abordar tema de modo a comprometer a dignidade da profissão e
da instituição que o congrega;
IV — divulgar ou deixar que seja divulgada a lista de clientes e demandas;
V — insinuar-se para reportagens e declarações públicas.

Art. 34. A divulgação pública, pelo advogado, de assuntos técnicos ou


jurídicos de que tenha ciência em razão do exercício profissional como advo-
gado constituído, assessor jurídico ou parecerista, deve limitar-se a aspectos
que não quebrem ou violem o segredo ou o sigilo profissional.

CAPÍTULO V
DOS HONORÁRIOS PROFISSIONAIS3
3 Ver arts. 21 a 26 e 34, III, da Lei n. 8.906/94 e arts. 14 e 111 do Regula-
mento Geral.

Art. 35. Os honorários advocatícios e sua eventual correção, bem como


sua majoração decorrente do aumento dos atos judiciais que advierem como
necessários, devem ser previstos em contrato escrito, qualquer que seja o ob-
jeto e o meio da prestação do serviço profissional, contendo todas as especifi-
cações e forma de pagamento, inclusive no caso de acordo.
§ 1º Os honorários da sucumbência não excluem os contratados, porém
devem ser levados em conta no acerto final com o cliente ou constituinte,
tendo sempre presente o que foi ajustado na aceitação da causa.
§ 2º A compensação ou o desconto dos honorários contratados e de valo-
res que devam ser entregues ao constituinte ou cliente só podem ocorrer se
houver prévia autorização ou previsão contratual.
§ 3º A forma e as condições de resgate dos encargos gerais, judiciais e
extrajudiciais, inclusive eventual remuneração de outro profissional, advo-
gado ou não, para desempenho de serviço auxiliar ou complementar técnico
e especializado, ou com incumbência pertinente fora da Comarca, devem
integrar as condições gerais do contrato.

Art. 36. Os honorários profissionais devem ser fixados com moderação,


atendidos os elementos seguintes:

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I — a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões


versadas;
II — o trabalho e o tempo necessários;
III — a possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros
casos, ou de se desavir com outros clientes ou terceiros;
IV — o valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para
ele resultante do serviço profissional;
V — o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente avul-
so, habitual ou permanente;
VI — o lugar da prestação dos serviços, fora ou não do domicílio do ad-
vogado;
VII — a competência e o renome do profissional;
VIII — a praxe do foro sobre trabalhos análogos.

Art. 37. Em face da imprevisibilidade do prazo de tramitação da deman-


da, devem ser delimitados os serviços profissionais a se prestarem nos pro-
cedimentos preliminares, judiciais ou conciliatórios, a fim de que outras
medidas, solicitadas ou necessárias, incidentais ou não, diretas ou indiretas,
decorrentes da causa, possam ter novos honorários estimados, e da mesma
forma receber do constituinte ou cliente a concordância hábil.

Art. 38. Na hipótese da adoção de cláusula quota litis, os honorários de-


vem ser necessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos
de honorários da sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advin-
das em favor do constituinte ou do cliente.
Parágrafo único. A participação do advogado em bens particulares de
cliente, comprovadamente sem condições pecuniárias, só é tolerada em cará-
ter excepcional, e desde que contratada por escrito.
Art. 39. A celebração de convênios para prestação de serviços jurídicos
com redução dos valores estabelecidos na Tabela de Honorários implica cap-
tação de clientes ou causa, salvo se as condições peculiares da necessidade e
dos carentes puderem ser demonstradas com a devida antecedência ao res-
pectivo Tribunal de Ética e Disciplina, que deve analisar a sua oportunidade.

Art. 40. Os honorários advocatícios devidos ou fixados em tabelas no regi-


me da assistência judiciária não podem ser alterados no quantum estabeleci-
do; mas a verba honorária decorrente da sucumbência pertence ao advogado.

Art. 41. O advogado deve evitar o aviltamento de valores dos serviços


profissionais, não os fixando de forma irrisória ou inferior ao mínimo fixado
pela Tabela de Honorários, salvo motivo plenamente justificável.

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Art. 42. O crédito por honorários advocatícios, seja do advogado autôno-


mo, seja de sociedade de advogados, não autoriza o saque de duplicatas ou
qualquer outro título de crédito de natureza mercantil, exceto a emissão de
fatura, desde que constitua exigência do constituinte ou assistido, decorrente
de contrato escrito, vedada a tiragem de protesto.

Art. 43. Havendo necessidade de arbitramento e cobrança judicial dos


honorários advocatícios, deve o advogado renunciar ao patrocínio da causa,
fazendo-se representar por um colega.

CAPÍTULO VI
DO DEVER DE URBANIDADE

Art. 44. Deve o advogado tratar o público, os colegas, as autoridades e os


funcionários do Juízo com respeito, discrição e independência, exigindo igual
tratamento e zelando pelas prerrogativas a que tem direito.

Art. 45. Impõe-se ao advogado lhaneza, emprego de linguagem escorreita


e polida, esmero e disciplina na execução dos serviços.

Art. 46. O advogado, na condição de defensor nomeado, conveniado ou


dativo, deve comportar-se com zelo, empenhando-se para que o cliente se
sinta amparado e tenha a expectativa de regular desenvolvimento da deman-
da.

CAPÍTULO VII
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 47. A falta ou inexistência, neste Código, de definição ou orientação


sobre questão de ética profissional, que seja relevante para o exercício da ad-
vocacia ou dele advenha, enseja consulta e manifestação do Tribunal de Ética
e Disciplina ou do Conselho Federal.

Art. 48. Sempre que tenha conhecimento de transgressão das normas deste
Código, do Estatuto, do Regulamento Geral e dos Provimentos, o Presidente
do Conselho Seccional, da Subseção, ou do Tribunal de Ética e Disciplina
deve chamar a atenção do responsável para o dispositivo violado, sem preju-
ízo da instauração do competente procedimento para apuração das infrações
e aplicação das penalidades cominadas.

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TÍTULO II
DO PROCESSO DISCIPLINAR
4 Ver arts. 43, 58, III, 61, parágrafo único, “c”, 68, e 70 a 74, da Lei n.
8.906/94, arts. 89, V e VII, 120, § 3o, 137-A e seguintes do Regulamento
Geral e Provimento n. 83/96.
5 Ver Provimento n. 83/96 e o Manual de Procedimentos do Processo
Ético-Disciplinar, editado pela Segunda Câmara do Conselho Federal.

CAPÍTULO I
DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA

Art. 49. O Tribunal de Ética e Disciplina é competente para orientar e


aconselhar sobre ética profissional, respondendo às consultas em tese, e julgar
os processos disciplinares.
Parágrafo único. O Tribunal reunir-se-á mensalmente ou em menor perí-
odo, se necessário, e todas as sessões serão plenárias.

Art. 50. Compete também ao Tribunal de Ética e Disciplina:


I — instaurar, de ofício, processo competente sobre ato ou matéria que
considere passível de configurar, em tese, infração a princípio ou norma de
ética profissional;
II — organizar, promover e desenvolver cursos, palestras, seminários e dis-
cussões a respeito de ética profissional, inclusive junto aos Cursos Jurídicos,
visando à formação da consciência dos futuros profissionais para os proble-
mas fundamentais da ética;
III — expedir provisões ou resoluções sobre o modo de proceder em casos
previstos nos regulamentos e costumes do foro;
IV — mediar e conciliar nas questões que envolvam:
a) dúvidas e pendências entre advogados;
b) partilha de honorários contratados em conjunto ou mediante substabe-
lecimento, ou decorrente de sucumbência;
c) controvérsias surgidas quando da dissolução de sociedade de advogados.

CAPÍTULO II
DOS PROCEDIMENTOS

Art. 51. O processo disciplinar instaura-se de ofício ou mediante represen-


tação dos interessados, que não pode ser anônima.
§ 1º Recebida a representação, o Presidente do Conselho Seccional ou
da Subseção, quando esta dispuser de Conselho, designa relator um de seus
integrantes, para presidir a instrução processual.

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§ 2º O relator pode propor ao Presidente do Conselho Seccional ou da


Subseção o arquivamento da representação, quando estiver desconstituída
dos pressupostos de admissibilidade.
§ 3º A representação contra membros do Conselho Federal e Presidentes
dos Conselhos Seccionais é processada e julgada pelo Conselho Federal.

Art. 52. Compete ao relator do processo disciplinar determinar a notifica-


ção dos interessados para esclarecimentos, ou do representado para a defesa
prévia, em qualquer caso no prazo de 15 (quinze) dias.
§ 1º Se o representado não for encontrado ou for revel, o Presidente do
Conselho ou da Subseção deve designar-lhe defensor dativo.
§ 2º Oferecida a defesa prévia, que deve estar acompanhada de todos os
documentos e o rol de testemunhas, até o máximo de cinco, é proferido o
despacho saneador e, ressalvada a hipótese do § 2º do art. 73 do Estatu-
to, designada, se reputada necessária, a audiência para oitiva do interessado,
do representado e das testemunhas. O interessado e o representado deverão
incumbir-se do comparecimento de suas testemunhas, a não ser que prefi-
ram suas intimações pessoais, o que deverá ser requerido na representação
e na defesa prévia. As intimações pessoais não serão renovadas em caso de
não-comparecimento, facultada a substituição de testemunhas, se presente a
substituta na audiência. (NR)6
6 Ver Proposição n. 0042/2002/COP (DJ, 03.02.2003, p. 574, S.1).
§ 3º O relator pode determinar a realização de diligências que julgar con-
venientes.
§ 4º Concluída a instrução, será aberto o prazo sucessivo de 15 (quinze)
dias para a apresentação de razões finais pelo interessado e pelo representado,
após a juntada da última intimação.
§ 5º Extinto o prazo das razões finais, o relator profere parecer preliminar,
a ser submetido ao Tribunal.

Art. 53. O Presidente do Tribunal, após o recebimento do processo devi-


damente instruído, designa relator para proferir o voto.
§ 1º O processo é inserido automaticamente na pauta da primeira sessão
de julgamento, após o prazo de 20 (vinte) dias de seu recebimento pelo Tri-
bunal, salvo se o relator determinar diligências.
§ 2º O representado é intimado pela Secretaria do Tribunal para a defesa
oral na sessão, com 15 (quinze) dias de antecedência.
§ 3º A defesa oral é produzida na sessão de julgamento perante o Tribunal,
após o voto do relator, no prazo de 15 (quinze) minutos, pelo representado
ou por seu advogado.

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Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

Art. 54. Ocorrendo a hipótese do art. 70, § 3º, do Estatuto, na sessão


especial designada pelo Presidente do Tribunal, são facultadas ao represen-
tado ou ao seu defensor a apresentação de defesa, a produção de prova e a
sustentação oral, restritas, entretanto, à questão do cabimento, ou não, da
suspensão preventiva.

Art. 55. O expediente submetido à apreciação do Tribunal é autuado pela


Secretaria, registrado em livro próprio e distribuído às Seções ou Turmas jul-
gadoras, quando houver.

Art. 56. As consultas formuladas recebem autuação em apartado, e a esse


processo são designados relator e revisor, pelo Presidente.
§ 1º O relator e o revisor têm prazo de dez (10) dias, cada um, para ela-
boração de seus pareceres, apresentando-os na primeira sessão seguinte, para
julgamento.
§ 2º Qualquer dos membros pode pedir vista do processo pelo prazo de
uma sessão e desde que a matéria não seja urgente, caso em que o exame deve
ser procedido durante a mesma sessão. Sendo vários os pedidos, a Secretaria
providencia a distribuição do prazo, proporcionalmente, entre os interessa-
dos.
§ 3º Durante o julgamento e para dirimir dúvidas, o relator e o revisor,
nessa ordem, têm preferência na manifestação.
§ 4º O relator permitirá aos interessados produzir provas, alegações e arra-
zoados, respeitado o rito sumário atribuído por este Código.
§ 5º Após o julgamento, os autos vão ao relator designado ou ao membro
que tiver parecer vencedor para lavratura de acórdão, contendo ementa a ser
publicada no órgão oficial do Conselho Seccional.

Art. 57. Aplica-se ao funcionamento das sessões do Tribunal o procedi-


mento adotado no Regimento Interno do Conselho Seccional.

Art. 58. Comprovado que os interessados no processo nele tenham inter-


vindo de modo temerário, com sentido de emulação ou procrastinação, tal
fato caracteriza falta de ética passível de punição.

Art. 59. Considerada a natureza da infração ética cometida, o Tribunal


pode suspender temporariamente a aplicação das penas de advertência e cen-
sura impostas, desde que o infrator primário, dentro do prazo de 120 dias,
passe a freqüentar e conclua, comprovadamente, curso, simpósio, seminário
ou atividade equivalente, sobre Ética Profissional do Advogado, realizado por
entidade de notória idoneidade.

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Art. 60. Os recursos contra decisões do Tribunal de Ética e Disciplina, ao


Conselho Seccional, regem-se pelas disposições do Estatuto, do Regulamen-
to Geral e do Regimento Interno do Conselho Seccional.
Parágrafo único. O Tribunal dará conhecimento de todas as suas decisões
ao Conselho Seccional, para que determine periodicamente a publicação de
seus julgados.
Art. 61. Cabe revisão do processo disciplinar, na forma prescrita no art.
73, § 5º, do Estatuto.

CAPÍTULO III
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 62. O Conselho Seccional deve oferecer os meios e suporte impres-


cindíveis para o desenvolvimento das atividades do Tribunal.

Art. 63. O Tribunal de Ética e Disciplina deve organizar seu Regimento


Interno, a ser submetido ao Conselho Seccional e, após, ao Conselho Federal.

Art. 64. A pauta de julgamentos do Tribunal é publicada em órgão oficial


e no quadro de avisos gerais, na sede do Conselho Seccional, com antecedên-
cia de 07 (sete) dias, devendo ser dada prioridade nos julgamentos para os
interessados que estiverem presentes.

Art. 65. As regras deste Código obrigam igualmente as sociedades de ad-


vogados e os estagiários, no que lhes forem aplicáveis.

Art. 66. Este Código entra em vigor, em todo o território nacional, na


data de sua publicação, cabendo aos Conselhos Federal e Seccionais e às Sub-
seções da OAB promover a sua ampla divulgação, revogadas as disposições
em contrário.

Brasília-DF, 13 de fevereiro de 1995.


José Roberto Batochio, Presidente

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ANEXO III

Lei no. 8.906 de 4 de julho de 1994


Estatuto do Advogado
Dispositivos relevantes

CAPÍTULO VIII
DA ÉTICA DO ADVOGADO

Art. 31. O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de


respeito e que contribua para o prestígio da classe e da advocacia.
§ 1º O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência
em qualquer circunstância.
§ 2º Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autorida-
de, nem de incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício
da profissão.
Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissio-
nal, praticar com dolo ou culpa.
Parágrafo único. Em caso de lide temerária, o advogado será solidariamen-
te responsável com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte
contrária, o que será apurado em ação própria.
Art. 33. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consig-
nados no Código de Ética e Disciplina.
Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do
advogado para com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a
publicidade, a recusa do patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever
geral de urbanidade e os respectivos procedimentos disciplinares.

CAPÍTULO IX
DAS INFRAÇÕES E SANÇÕES DISCIPLINARES

Art. 34. Constitui infração disciplinar:

I — exercer a profissão, quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por


qualquer meio, o seu exercício aos não inscritos, proibidos ou impedidos;
II — manter sociedade profissional fora das normas e preceitos estabele-
cidos nesta Lei
III — valer-se de agenciador de causas, mediante participação nos hono-
rários a receber;
IV — angariar ou captar causas, com ou sem a intervenção de terceiros;
V — assinar qualquer escrito destinado a processo judicial ou para fim
extrajudicial que não tenha feito, ou em que não tenha colaborado;

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VI — advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a boa-fé


quando fundamentado na inconstitucionalidade, na injustiça da lei ou em
pronunciamento judicial anterior;
VII — violar, sem justa causa, sigilo profissional;
VIII — estabelecer entendimento com a parte adversa sem autorização do
cliente ou ciência do advogado contrário;
IX — prejudicar, por culpa grave, interesse confiado ao seu patrocínio;
X — acarretar, conscientemente, por ato próprio, a anulação ou a nulida-
de do processo em que funcione;
XI — abandonar a causa sem justo motivo ou antes de decorridos dez dias
da comunicação da renúncia;
XII — recusar-se a prestar, sem justo motivo, assistência jurídica, quando
nomeado em virtude de impossibilidade da Defensoria Pública;
XIII — fazer publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente, alega-
ções forenses ou relativas a causas pendentes;
XIV — deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação doutrinária e de
julgado, bem como de depoimentos, documentos e alegações da parte con-
trária, para confundir o adversário ou iludir o juiz da causa;
XV — fazer, em nome do constituinte, sem autorização escrita deste, im-
putação a terceiro de fato definido como crime;
XVI — deixar de cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada
do órgão ou autoridade da Ordem, em matéria da competência desta, depois
de regularmente notificado;
XVII — prestar concurso a clientes ou a terceiros para realização de ato
contrário à lei ou destinado a fraudá-la;
XVIII — solicitar ou receber de constituinte qualquer importância para
aplicação ilícita ou desonesta;
XIX — receber valores, da parte contrária ou de terceiro, relacionados
com o objeto do mandato, sem expressa autorização do constituinte;
XX — locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte
adversa, por si ou interposta pessoa;
XXI — recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quan-
tias recebidas dele ou de terceiros por conta dele;47
47 Ver Provimento n. 70/89.
XXII — reter, abusivamente, ou extraviar autos recebidos com vista ou
em confiança;
XXIII — deixar de pagar as contribuições, multas e preços de serviços
devidos à OAB, depois de regularmente notificado a fazê-lo;
XXIV — incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia profissional;
XXV — manter conduta incompatível com a advocacia;
XXVI — fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para inscrição na
OAB;

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XXVII — tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da advocacia;


XXVIII — praticar crime infamante;
XXIX — praticar, o estagiário, ato excedente de sua habilitação.
Parágrafo único. Inclui-se na conduta incompatível:
a) prática reiterada de jogo de azar, não autorizado por lei;
b) incontinência pública e escandalosa;
c) embriaguez ou toxicomania habituais.
Art. 35. As sanções disciplinares consistem em:
I — censura;
II — suspensão;
III — exclusão;
IV — multa.
Parágrafo único. As sanções devem constar dos assentamentos do inscrito,
após o trânsito em julgado da decisão, não podendo ser objeto da publicidade
a de censura.

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Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

GABRIEL LACERDA
Advogado, formado pela PUC — RJ e mestrado pela Universidade de
Harvard (EUA). É sócio aposentado do Escritório Trench Rossi Watanabe,
trabalhou em outros escritórios. Trabalhou também como advogado
interno em algumas empresas, inclusive Caemi, Brascan, Petrobrás.
Foi professor da PUC-RJ, e responsável por cursos na Coppe/UFRJ e na
FGV onde participou da equipe do CEP. Atualmente conduz a atividade
complementar; Direito no Cinema na Graduação da Fundação Getúlio
Vargas. Escreveu, os livros Direito no Cinema, Nazismo Cinema e Direito,
Em Segredo de Justiça, Eu Tenho Direito, O Estado é Você, Agir bem é bom,
entre outros.

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Ética Pessoal e Profissional — Sem Hipocrisia

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen Leal


PRESIDENTE

FGV DIREITO RIO


Joaquim Falcão
DIRETOR
Sérgio Guerra
VICE-DIRETOR DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Rodrigo Vianna
VICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO
Thiago Bottino do Amaral
COORDENADOR DA GRADUAÇÃO
Andre Pacheco Mendes
COORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – CLÍNICAS
Cristina Nacif Alves
COORDENADORA DE ENSINO
Marília Araújo
COORDENADORA EXECUTIVA DA GRADUAÇÃO

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