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tempo e espaço também mudem.

Com seu
Entrevista - Nam June Paik humanismo high-tech, sua obra é uma resposta ao
por Rodrigo Garcia Lopes suposto impacto neutralizador, alienante e virótico da
TV e do vídeo. Interessado nas possibilidades
interativas dos meios, Paik enfatiza e valoriza o papel
Ele já fez uma família de robôs congestionarem o ativo do espectador. Como ele mesmo diz, "é preciso
trânsito em Nova York, uniu o planeta via satélite conhecer a tecnologia o bastante para subvertê-la,
com o vídeo Good Morning, Mr Orwell, em 1984, e para humanizá-la".
foi um dos principais artistas do movimento Fluxus, Quando Nam June Paik abriu a porta de seu
ao lado de Joseph Beyus e Dick Higgins. apartamento no Soho, numa noite fria e de neve em
Aos 62 anos, o artista sul-coreano (naturalizado Nova York, para esta entrevista, eram três horas da
norte-americano) Nam June Paik é reconhecido como manhã. Atravessamos duas portas maciças e pegamos
o principal responsável pelo estabelecimento do vídeo um velho elevador que dá no hall de seu apartamento.
como uma nova forma de arte. Pioneiro da video-arte, Seu loft é mesmo como dizem: parece um imenso
desde os anos 60, Paik vem usando a tecnologia para galpão de algum cientista louco ou um outsider
desmistificá-la e humanizá-la, propondo novos modos tecnológico, com centenas de aparelhos de TV de
de percepção estética. "O vídeo não é eu vejo, mas eu todos os tipos e tamanhos empilhados entre
vôo." Um dos vencedores da Bienal Internacional de videoesculturas e restos de trabalhos.
Veneza no ano passado e atualmente terminando um Paik nos recebe com um sorriso, apesar do
livro sobre a China e uma seleção de seus ensaios, cansaço da viagem de volta da Alemanha. Oferece
Paik possui uma obra que se desdobra em vários uma garrafa de água Perrier e um pote de plástico
planos: peças musicais, readymades, vídeos, com fatias de manga. Usando calças largas de veludo
esculturas e instalações com vídeo. e suspensórios, parecendo um mestre de alguma seita
Em sua obra multimídia, Paik combina a cyberzen, ele nos conduz a uma sala cheia de
sensibilidade oriental para o espaço, o silêncio e a computadores e máquinas de fax que, a qualquer hora
simplicidade do Zen com a saturação de imagens dos do dia ou da noite, disparam alguma mensagem. Paik
meios de comunicação de massa, usando a mais tenta responder um fax, mas a máquina demora a
avançada tecnologia do Ocidente. Em suas obedecer. Ele sorri. Diz: "É, às vezes a tecnologia é
videoesculturas e instalações, trabalhos quase sempre um problema". Paik é de uma simplicidade e
de dimensões monumentais, ele retira o vídeo e a TV humildade impressionantes; destoa da imagem do
do seu uso cotidiano, altera e cria imagens com o gênio arrogante. Seu jeito de se comunicar também
emprego de computadores, em sofisticadas colagens condiz com o cosmopolitismo de sua arte babélica e
visuais, provocando uma verdadeira desconstrução do profética: ele fala um inglês novaiorquino com forte
olhar. Em Videofish, por exemplo, instalou dezenas sotaque coreano, usando freqüentemente palavras e
de vídeos de alta definição no teto de uma sala com termos em alemão.
filmagens algo abstratas de peixes nadando, como Good night, Mr. Paik.
num aquário suspenso sobre a cabeça dos
espectadores. Em W Bhudda, simplesmente colocou Antes de trabalhar com vídeo, você era músico.
uma estátua de Buda vendo televisão. Em cima do Como foi seu percursocriativo até a videoarte ?
aparelho, uma minicâmera filmava a estátua. Ou seja,
os espectadores e Buda viam simplesmente no vídeo NAM JUNE PAIK - Antes de ir para a Europa eu
a imagem silenciosa do mestre. havia me graduado em Música, História da Música e
Nos dourados e frenéticos anos da "Fluxus", Estética no Japão. Em 1958 fui para a Alemanha
durante uma performance e diante de uma platéia estudar Música Nova com Wolfgang Fortner, na
atônita, Paik cortou a gravata de John Cage, que Universidade de Munique. Comecei a trabalhar com
estava na fila da frente, e lhe deu um banho com um música eletrônica com Stockhausen, que foi um
balde de espuma. Em seguida, sentou-se no piano e, grande professor. Um dia descobri que a maioria dos
em vez de tocá-lo, começou a destruí-lo a compositores alemães que haviam era simplesmente
machadadas. Em seguida, pegou uma motocicleta e uma droga. Alguns deles eram até famosos, mas ainda
saiu acelerando do teatro com ela. Cinco minutos assim eram ruins. Aquilo pra mim foi uma
depois, o telefone do teatro tocou. Era Paik, ligando iluminação: descobri que eu também podia escrever
para dizer que a performance havia terminado. música tão mal ou pior do que eles! Foi assim que
Simpatizante das idéias de Marx, John Cage, perdi meu complexo de inferioridade de compositor
Marshall McLuhan e Marcel Duchamp, Paik reintegra alemão. Mas logo percebi que meu negócio não era
o aparelho de TV e o vídeo num novo ambiente, bem música, e comecei a combinar música eletrônica
quase mítico, fazendo com que nossas percepções de e ação, em performances que passaram a se chamar
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de action music. Nesta época estava interessado em
criar eventos acústicos, em explorar o som dos Há um incidente muito interessante que ilustra
objetos, em transformar objetos comuns em bem essa sua relação com o Zen. Refiro-me ao Zen
instrumentos musicais e vice-versa. Ao mesmo for TV. Você poderia nos contar essa estória?
tempo, comecei a tomar consciência do mundo
capitalista, da coisificação. E senti isso na pele, pois PAIK - É, aquilo foi um fato bastante curioso, que
eu não estava ganhando nada com música eletrônica, me despertou para as possibilidades do uso do vídeo
mal dava para sobreviver. Comecei a me virar para fazer arte. Foi ao acaso. Um dia, em Nova York,
vendendo objetos sonoros. Até que um dia me deparei voltei para casa, liguei a TV e percebi que ela estava
com os escritos de Karl Gòtz, que desde os anos 20 com defeito: na tela só havia uma linha branca na
estava fazendo pesquisas e estudos teóricos sobre horizontal. Então tive a idéia de virar a TV na vertical
pensamento computadorizado. Gòtz, que eu saiba, foi e batizei a obra de Zen for ll£
o primeiro teórico a escrever sobre as possibilidades
estéticas do vídeo, a reconhecer a possibilidade de Você costuma assistir televisão?
produzir arte usando meios eletrônicos, e aquilo me
despertou. PAlK - Não, quase nunca. Na Verdade, eu passei
muitos anos sem condições de comprar uma. Eu só
O que o levou a apropriar a TV e o vídeo como comprava televisões usadas para fazer arte, não para
uma nova forma de arte? assistir (risos).

PAiK - O que fiz não foi bem apropriar a TV. Qual é a sua relação com a tecnologia? É comum
Apropriar sugere algo mais amplo, carrega um ouvir mais críticas do que elogios em relação a ela.
sentido de propriedade, o que não é o caso. Vejo o uso
da TV e do vídeo em minha obra como uma PAIK - Essa pergunta é interessante. Por exemplo,
decorrência natural do meu trabalho com a música, e uma coisa que odeio é o frio. Hoje de manhã passei
ela está presente até hoje. Foi só nos anos 60 que muito frio porque meu sistema de calefação havia
resolvi concentrar minha atividade na exploração do pifado. Acho que nos últimos quinze anos virei um
pensamento videoeletrônico. Como marxista, eu capitalista mais realista, mais prático, então passei a
achava que a economia que determinava a arte. Nesse não me importar tanto em pagar um pouco mais para
sentido, achei que estava seguindo o pensamento de não passar frio. Por outro lado, se cada família da
Marx. Estudei muito eletrônica e comecei a perceber China pudesse ter um carro isso seria uma catástrofe
como a nossa visão estava sendo alterada pelo ecológica. Quando estou nos EUA, vejo a maioria dos
aparecimento da TV. Hoje ela é a base de nossa visão. intelectuais adotar uma posição radical em relação à
tecnologia. Eles costumam apontar só seu lado
Você vem de um país budista. Vários de seus negativo, como a poluição. Claro, para quem nasceu
trabalhos trazem títulos como TV Buda e Dig ital num ambiente onde já havia máquina de lavar,
Zen. Como o zen-budismo afetou sua sensibilidade? telefone, microondas e outras comodidades fica fácil
não pensar nessas coisas, pois elas já são uma coisa
PAIK - Esses trabalhos que fazem referência ao natural em suas vidas. A lógica deles é: "Por que o
Zen são metade irônicos e metade sérios. Quando se resto do mundo não tem máquina de lavar,
nasce num país budista como a Coréia, e se é um computador etc? É tão mais chique e clean". Os
jovem intelectual ou artista, a tendência é ir contra intelectuais norte-americanos não têm motivos para
aquilo, menosprezar ou ironizar o budismo, do ficar chorando. Eles esquecem que se você congelar o
mesmo modo como os intelectuais católicos nunca desenvolvimento da tecnologia você automaticamente
gostam de afirmar que são católicos. Você sabe, todos congela o status quo, a riqueza e o american way of
sempre querem estar na oposição (risos). Mas algo life. Não há caminho de volta. Eles esquecem que até
que não posso negar como herança cultural é a hoje a maioria dos chineses, russos e indianos não
resignação do oriental. Na Coréia, a resignação e o tem sequer máquina de lavar. Isso quer dizer que eles
trabalho duro são dois princípios básicos do budismo têm de lavar suas roupas à mão, e talvez continuem
ainda muito importantes. Abaixar o nível de fazendo isso para sempre. Ora, qual é o problema
expectativas é algo que está construído em nós. Não com uma máquina de lavar? Eu odeio lavar as minhas
somos caras durões. Minha atitude com o Zen sempre meias.
foi bem-humorada: quando vejo alguma coisa e penso
"sim, isso é muito engraçado", aquilo pra mim é Zen. Então a questão estaria em como adequar a
Nós ironizamos o Zen mas ao mesmo tempo o tecnologia às necessidades do ser humano ?
respeitamos.
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PAIK - Sem dúvida, mas a tendência dos perseguido como terrorista. Nós sabemos que não há
intelectuais ocidentais sempre foi a de menosprezar a alternativa para o capitalismo. Teremos que conviver
televisão e a tecnologia. Eles sempre encararam a TV com isso até o fim. Mas acho que o que Beuys queria
como algo banal e alienante, um mero era apontar para os perigos do capitalismo. Eu tive a
entretenimento, algo que deixa as pessoas cegas, sorte de conhecê-lo quando tanto ele quanto eu não
quando não a vêem como uma espécie de "Big éramos muito conhecidos. Eu acompanhei sua
Brother", do livro 1984, do George Orwell. Só que trajetória da total obscuridade até ele virar um pop
em 84 eu fui o primeiro a dizer que não, que Orwell star. Desde o momento em que o conheci eu sabia que
estava só metade certo em sua teoria, que a TV ele era evidentemente um gênio, alguém muito
também tem seu lado positivo. A TV possibilita especial. Fiquei surpreso ao ver como ele se tornou
acessos a lugares que não tínhamos antes. Ela pode uma celebridade em menos de três anos, era
servir para mobilizar as pessoas, para despertá-las, fantástico como aquilo pudesse acontecer tão rápido.
como ocorreu anos atrás no Leste Europeu ou na Eu fiquei feliz por ele. Não tive ciúmes de seu
Alemanha Oriental. Para mim, a TV teve uma sucesso porque ele não ficou arrogante depois de ficar
importância fundamental para essas mudanças. Fiquei famoso. Era o mesmo. Mantivemos uma relação de
surpreso quando, em 1989, comecei a ouvir todo amizade até sua morte.
mundo falar que George Orwell estava errado e
pensei: "Mas só agora vocês estão falando nisso?". Você se considera um artista pós-moderno ?
Falando de um ponto de vista terceiro-mundista, acho
que a tecnologia deveria promover o progresso e não PAIK - Eu não sei muito bem o que é isso. É um
a miséria. Eu sempre digo que é preciso conhecer a termo que veio da arquitetura, não é? Bem, para mim
tecnologia o bastante para subvertê-la e humanizá-la. é uma continuação dos procedimentos básicos do
Modernismo, como colagem, apropriação, citação.
Você recebeu uma influência muito grande de Acho que é a idéia de que Modernismo seria
John Cage. O que você aprendeu com ele ? equivalente a uma arte high, culta, enquanto o pós-
modernismo seria algo mais simples, ou uma mistura
PAIK - Bem, antes de Cage meu guru era Karl de arte erudita e popular. Minha impressão é que o
Marx. Também aprendi muito com Marshall próprio Marx havia previsto isso, quando disse que é
McLuhan, com Stockhausen. Meu primeiro encontro a economia que decide a arte, e que a arte um dia
com Cage foi em 1958, na Alemanha. Acho que seria acessível a todos, não só para uma elite
Cage, basicamente, me passou um sentido de privilegiada. Para mim, quando os artistas da pop art
liberdade em relação ao meu trabalho, de que eu faziam aquelas colagens eles estavam na verdade
poderia fazer o que quisesse. Ele disse tudo sobre fazendo realismo. Estavam apresentando a realidade
essa questão de quebrar com a tradição. Que você não em si mesma, como o urinol de Duchamp.
só pode tocar o piano mas quebrá-lo também, se
quiser, como eu fiz, o que para a época era um pouco Você ainda acredita na existência de uma
demais. Outra coisa que aprendi com ele foi nunca vanguarda hoje?
julgar e criticar sem antes procurar entender.
PAiK - Bem, muitas coisas do Modernismo
O artista alemão Joseph Beuys foi um de seus ficaram velhas, não é? Elas não causam mais choque.
amigos e colaboradores do movimento Fluxus. Como Eu diria que pessoas que continuam a experimentar e
era ele ? pesquisar podem ainda ser chamados de avant-garde.
Só que os problemas sociais, tecnológicos e estéticos
PAIK - Beuys era um artista profundamente de hoje são bem diferentes dos anos 20, e os artistas
preocupado com a ecologia, numa época em que não devem procurar respostas artísticas diferentes para
se falava muito nisso. Foi um dos pioneiros do esta situação. Eu tenho um amigo que era compositor
Partido Verde alemão. Depois da guerra, quando de vanguarda e vivia na miséria. Até que ele fez um
houve o boom econômico na Alemanha, ele virou um jingle para a Coca-Cola, bolou um comercial genial,
drop-out, pois percebeu, com ceticismo, que aquela ficou conhecido no mundo inteiro e hoje está
renascença econômica não vinha acompanhada de um milionário. Não é incrível? Para mim, a música de
boom democrático e cultural. De uma hora para outra, John Cage não é melhor do que a dos Beatles. Vejo os
empresários que haviam pertencido ao partido nazista dois trabalhos num mesmo nível: os dois são
e empresas nazistas como a Volkswagen e a Mercedes trabalhos sérios, e são geniais.
Benz estavam voltando a ser poderosos, ficando cada
vez mais ricos. Ele queria protestar contra isso, mas
teria de ser feito através de sua arte, senão ele seria
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Você foi o pioneiro da videoarte. Qual é sua pessoas. Nunca paguei Stockhausen ou Cage para me
reação ao ver seu trabalho ser usado, citado e copiado ensinarem. Na única vez que ofereci pagar Cage por
por outros artistas e pela publicidade ? suas aulas ele disse que não valia a pena, porque não
havia muito mesmo para ser ensinado.
PAIK - Eu não ligo. Do ponto de vista socialista,
se os videomakers ou quem quer que seja estão
usando meu trabalho e minhas idéias para vender Referência Bibliográfica
sabonete ou fazer arte, para mim dá no mesmo. No Lopes, Rodrigo Gárcia, Vozes e Visões, Ed
fundo, eles continuam seguindo o espírito de Marx. Iluminuras, São Paulo, 1996
Na verdade, acho que eu só indiquei um caminho,
propus uma mudança no sentido de pensar as relações
entre arte e tecnologia. A TV não só pode entreter
milhões de pessoas como também pode alterar suas
sensibilidades. Sempre me interessei pelas
possibilidades interativas da TV, em usá-la como um
meio de aproximar as pessoas, e não de isolá-las. De
aumentar a sensibilidade das pessoas, não de anulá-
las.

Como você vê a videoarte hoje?

PAiK - Há vários modos de entendê-Ía. Um deles


é o de algo que é usado para satisfazer as
necessidades do capitalismo, vender produtos, fazer
dinheiro. No meu caso, significa buscar recursos para
meus trabalhos, colocar mais dinheiro no circuito
digital e na computação para que eu continue a
pesquisar. George Brecht, um grande amigo meu e
um dos principais teóricos do movimento Fluxus,
disse que existem dois tipos de cientistas: o cientista
que pesquisa e o que aplica. Do mesmo modo, há o
artista que pesquisa e o que aplica. De Kooning e
Picasso, quando apareceram, e até a metade de suas
carreiras, eram artistas de pesquisa. Depois, quando
começaram a se repetir apenas para ganhar dinheiro,
viraram artistas aplicados. Duchamp, por outro lado,
dedicou sua vida inteira à arte-pesquisa. Eu diria que
meu trabalho é metade arte-pesquisa e metade
aplicada. Meu trabalhos não vendem muito bem. As
dimensões de muitos dos meus trabalhos não cabem
num museu ou numa sala. Em que lugar você
colocaria seiscentos monitores de TV? Mas também
não posso ficar dependendo de incentivos e de
impostos dos outros. Eu preciso de dinheiro para
minhas instalações.

Para terminar: o que você procura ensinar ou


transmitir às pessoas com sua arte?

PAiK - Há dois modos de ensinar: um é numa sala,


assumindo uma postura didática, com pessoas
olhando para você. Eu nego esse papel. O outro é por
meio do seu trabalho ou observando o trabalho dos
outros. Ensinar no sentido de dizer o que é certo ou
errado não faz sentido para mim. Eu faço meu
trabalho, e dele pode-se colher algo que ensine outras
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