Sexta-feira, 9 de Março de 2018 | Número 463 | Director Carlos Rosado de Carvalho | Preço 700 Kz | www.expansao.co.

ao

EUROBONDS PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA

MinFin diz que foi o BNA Voos domésticos da futura
que se enganou na conta operadora vão pagar
para pagamento de juros imposto de consumo
| P. 23 | P. 21

EXCLUSIVO
REVELA RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA REVISTA GRÁTIS
O que vai
Especial

+ 25.000
mudar com
a nova Lei do mulher com
Investimento entrevista
Angola volta a ter três zonas de
desenvolvimento e oferece in- exclusiva à
Funcionários
centivos como redução de im-
postos para investimentos que
sejam implantados nas seis
Top Model
províncias menos desenvolvi-
das do País. | P. 02 Maria Borges
QUEDA DE 13%

Crise afunda
consumo de
Públicos Em ano de
eleições, em que
os órgãos do

em 2017
Estado estavam
combustíveis proibidos de
contratar novos
em 2017 funcionários pelo
OGE, o número
de trabalhadores
da função pública
subiu 7% para
385.423.
PARCERIA
PA
Em Angola, SPARKNEWS
SPAR
há um funcionário Conhe
Conheça a história de Verónica
José, que
q nas últimas duas
público para 76 décadas transformou a vida
década
habitantes, número de milhares
milh de angolanos através
abaixo dos padrões do microcrédito.
mic A história
de Verónica
Ver é a contribuição
internacionais.
LÍDIA ONDE

do Exp
Expansão para uma iniciativa
| P. 06 da Sparknews
Spa que juntou jornais
interna
internacionais para contarem
O consumo de combustíveis em históri
histórias de mulheres que
Angola baixou 12,9% no ano pas- ajudar
ajudaram a mudar vidas. | P. 31
sado, período em que se registou
o mais baixo nível de consumo
dos últimos cinco anos. Analis- PUB

tas dizem que é o efeito da perca

do poder de compra. | P. 20 BFA Exportação

URBANIZAÇÃO BOA VIDA O FOMENTO

Hotel proibido À EXPORTAÇÃO
de vender PASSA POR AQUI.
quartos
pela CMC
A polícia das bolsas mandou sus-
pender a venda ao público dos
ASSINATURA FOTOGRAFIA

produtos que estão a ser comer-

cializados pela empresa Urbani-
zação Boa Vida. Em causam a ven-
da de quartos de um hotel cinco
estrelas a investidores. | ÚLTIMA
2 EXPANSÃO | 9 de Março 2018

DESTAQUE INVESTIMENTO PRIVADO EM ANGOLA

QUINTILIANO DOS SANTOS

A meta do Governo é elevar a produção e reduzir as assimetrias regionais atraindo investimento para o interior do País

PROPOSTA DE LEI DO INVESTIMENTO PRIVADO 2018

Investir nas seis províncias

menos desenvolvidas vai dar
mais benefícios aos empresários
O País volta a ter três zonas de desenvolvimento e oferece incentivos como a redução de impostos para os
projectos de investimento que sejam implantados nas províncias da Lunda-Norte, Lunda-Sul, Moxico, Cuando
Cubango, Cunene e Zaire. Governo apenas intervém no processo de aprovação de investimentos prioritários.

duzido em 80% da taxa em vigor
Martins Chambassuco para oito anos, enquanto para as
zonas A e B, os incentivos são os
definidos na Lei (ver página 4).
Fazem parte da zona A, as pro-
províncias de Benguela e Huíla
(ver infografia).
A proposta de lei pretende aca-
bar com a obrigatoriedade de ter
um sócio angolano, com 35%, do
para os estrangeiros. Todo o va-
OS NÚMEROS lor investido no País, seja de que
DA PROPOSTA DA LIP montante ou origem, em espe-
cial na zona C, tem incentivos.
As autoridades, através da

A nova proposta de Lei do Inves-

timento Privado em Angola pre-
vê benefícios e incentivos espe-
ciais para os investimentos que
se destinam a seis províncias
com uma taxa de desenvolvi-
mento considerada baixa.
O documento, apreciado em
Conselho de Ministros na sema-
na passada, volta a dividir o País
em três zonas de desenvolvi-
mento. As províncias que inte-
gram a zona C - Cuando-Cuban-
go, Cunene, Lunda-Norte, Lun-
da-Sul, Moxico e Zaire - fazem
parte das regiões preferenciais
do Governo e onde a lei prevê os
maiores benefícios.
Em concreto, para esta zona,
de acordo com a proposta de Lei,
o imposto industrial pode ser re-
víncias de Luanda, Namibe, os
municípios-sede das províncias
de Benguela, Huíla e o municí-
pio do Lobito, enquanto a zona B
inclui o Bié, Bengo, Cabinda,
Cuanza-Norte, Cuanza- Sul,
Huambo, Malanje, Namibe, Uí-
ge e restantes municípios das
A questão
crítica da pouca
atractividade do
investimento directo
privado reside
no actual ambiente
de negócios
investimento estrangeiro. Um
pressuposto que o delegado da
economia alemã em Angola, Ri-
cardo Gerigk, diz ter sido o “der-
radeiro erro” da Lei de 2015, ao
obrigar empresas estrangeiras a
conceder uma participação de
35% a sócios angolanos: “Foi uma
afronta ao capital estrangeiro”.
O documento, com nove capí-
tulos e 45 artigos, é visto como
um pilar para o sucesso do Pro-
grama de Apoio à Produção, Di-
versificação das Exportações e
Substituição das Importações
(PRODESI).
A proposta de lei quer acabar
com algumas barreiras contidas
na legislação em vigor e a pers-
pectiva do Governo é acabar
com os limites de investimento,
tanto para os nacionais, como
3
É o número de zonas
de desenvolvimento
para reduzir as assimetrias
80%
É taxa de redução do imposto
industrial na zona C por oito anos
45 Artigos
A proposta tem nove capítulos
e 45 artigos
Agência para o Investimento
Privado e Exportações (AIPEX),
garantem que todos os investi-
dores podem contratar incenti-
vos que existem na lei.
Para facilitar, o Governo prevê
a criação de duas vias para a con-
tratação de incentivos, uma
muito rápida, que é o regime da
declaração prévia, e a outra é o
contrato de investimento.
Uma fonte ligada ao processo
revela ainda que, na declaração
prévia, a AIPEX não aprova o in-
vestimento, apenas faz o registo
da empresa e passa o certificado
de registo de investimento pri-
vado que dá acesso aos benefí-
cios, entre os quais a redução do
imposto industrial para meta-
de, por três anos, da taxa que es-
tiver em vigor.

O consultor empresarial Gal-
vão Branco explica que em maté-
ria de diversificação económica,
quer por via da substituição das
importações como através do in-
centivo às exportações, o PRO-
DESI constitui um importante
incremento no sentido de sinali-
zar de forma suficientemente es-
truturada e com a adequada cla-
reza, as áreas que são prioritárias
para se atingir esse desiderato.
“O pressuposto de que, por
cada mil milhões USD despendi-
do actualmente em importa-
ções, seja suficiente investir 200
milhões USD, em produção lo-
cal, passa necessariamente pelo
envolvimento do investimento
privado. Acredito que o referido
programa pode vir a constituir-
-se num eficaz meio de atracção
do investimento privado, desde
que seja devidamente sustenta-
do por políticas de incentivo fis-
cal e crédito bancário orientado
para cada um dos “clusters” defi-
nidos”, refere Galvão Branco.
É preciso abrir
a economia
ao mercado externo,
desburocratizar
e eliminar
constrangimentos
O delegado de economia ale-
mã em Angola, Ricardo Gerigk,
refere que já não suporta mais
ouvir o discurso da diversifica-
ção da economia. “É preciso
abrir a economia ao mercado in-
ternacional, desburocratizar e
eliminar constrangimentos.
Quando havia dinhero para esti-
mular a diversificação, muito
pouco foi feito. Agora que faltam
os meios necessários, devido à
quebra na arrecadação de impos-
tos pela queda do preço do barril
de petróleo, a tarefa tornou-se
quase impossível”, afirma o eco-
nomista, que, por outro lado, ga-
rante que o grande constrangi-
mento para os investidores é ain-
da, de maneira geral, o excesso de
burocracia e a constante mudan-
ça das regras do jogo.
Relativamente ao fim da limi-
tação do investimento, (ver info-
grafia), Gerigk revela que, “após a
mudança do valor mínimo para ‘1
milhão USD’, houve uma enorme
diminuição dos projectos de in-
vestimento em Angola.” “Sempre
fui contra esta mudança, pois
para se investir 1 milhão USD, são
necessários, a grosso modo, 3 mi-
lhões USD. Não fazia e nem faz
sentido estabelecer valores, pois
um investimento de 100 mil USD
num projecto situado numa pro-
víncia fora de Luanda tem mais-
-valia do que todos a investir 1 mi-
lhão USD em Luanda”.
O consultor Galvão Branco diz
que o estabelecimento do limite
de 1 milhão USD foi o maior “pe-
cado mortal”.
“Acredito que hoje é consen-
sual assumirmos esse enorme
absurdo de abordar esta matéria
de natureza estratégica para o
nosso País”, avança o empresário.
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 3
PROPOSTA DA LIP
3 PERGUNTAS A
PEDRO GODINHO
Empresário
Empresários garantem
que o ambiente de negócios
actual não atrai investimento
Atrair investimento privado passa pela adopção de medidas públicas que
impulsionem os empresários. Não basta acabar com isenções para garantir
a atracção de mais investimentos. Acabar com a burocracia é outro desafio.
“ANGOLA NÃO Os empresários acreditam que transferência de divisas, princi- barragem de Laúca”, revelou
SE PODE DAR a instabilidade macroeconómi- palmente para pagamentos aos Gergk, que avança que a redução
AO LUXO DE ca, as dificuldades no pagamen- fornecedores, está a retrair o in- ou isenção de impostos não basta
to aos fornecedores e a burocra- vestimento e assinala que o ex- para atrair investimentos para
SELECCIONAR O cia institucional constituem o cesso de burocracia e a tolerân- fora de Luanda. A solução, se-
INVESTIMENTO” maior constrangimento na cap- cia à corrupção são outros facto- gundo disse, é muito mais com-
tação de investimento directo res que impactam negativamen- plexa, pois de que adianta ter que
O que falhou nas leis ante- privado, quer nacional como es- te na contratação de investimen- investir numa região fora de
riores para tornar o merca- trangeiro. tos. “Infelizmente vale em Ango- Luanda, se não houver infra-es-
do mais atractivo ao inves- Os investidores e especialistas la um triste ditado, comum a truturas básicas, como energia,
timento estrangeiro? contactados pelo Expansão afir- outros países: para os amigos água e estradas para escoar os
Melhorar o ambiente de ne- mam ser fundamental a adopção tudo, para os outros a lei”, lem- produtos. “Uma questão básica
gócios em Angola quer dizer de mecanismos e políticas públi- brou. O economista reconhece na minha modesta opinião tem a
criar condições para que cas tendentes a potenciar o de- que o limite do valor mínimo do ver, principalmente com o direi-
quem quer que seja que in- sempenho dos empresários nos investimento inibiu muito o cli- to de propriedade da terra. En-
vesta em Angola tenha possi- vários domínios da nossa econo- ma de negócios de empresas ale- quanto isto não for resolvido le-
bilidade de repatriar os lu- mia, para aumentar a competiti- mãs em Angola. “Várias empre- galmente, haverá sempre o re-
cros e dividendos resultantes vidade e não por via de atitudes sas alemãs estiveram e estão en- ceio e o risco para os investido-
da sua actividade. O País tem paternalistas. volvidas em projectos de infra- res”, sublinha.
de adoptar uma política mais O empresário Galvão Branco -estruturas importantes, como o O empresário Manuel Pinto
aberta do retorno do investi- reconhece que o código de inves- financiamento alemão para a de Andrade explica que duas
mento e ter a garantia de que timentos então vigente dispõe construção e fiscalização de pro- coisas falharam na lei em vigor:
este capital regresse ao país de algumas condições e trata- jectos de estradas e pontes, sec- o limite do investimento e a
de origem. Ter a economia mento de matérias bastante sen- tor das águas e energia, nomea- participação obrigatória de só-
estabilizada. As incertezas no síveis, como é o caso das isen- damente o apetrechamento da cio angolano, muitas vezes, pes-
mercado provocam o afasta- ções e incentivos que não são os soas que não entendiam do ne-
mento dos investidores. mais propícios para a mobiliza- gócio. Espera que o fim do limi-
ção do investimento privado. O te do investimento seja acom-
Como vê a eliminação da gestor garante ser “coerente e panhado com a definição da
obrigatoriedade da partici- tem sentido político da nossa A meta de subirmos qualidade do investimento.
pação angolana no investi- realidade a atitude discricioná- Por sua vez, a empresária Ca-
mento estrangeiro? ria de se atribuir incentivos fi- 12 lugares até 2022 tarina Oliveira reconhece que a
A obrigatoriedade da partici- nanceiros e fiscais atendendo às no Doing Business proposta é mais aliciante. A re-
pação de angolanos no inves- realidades sócio – económicas não é ambiciosa dução das isenções é boa, mas é
timento estrangeiro esteve li- das diferentes regiões, de modo preciso olhar para a questão do
gada a sectores específicos. a atenuar os efeitos do cresci- para mobilizar repatriamento de capitais para
Hoje os investidores estran- mento desigual.” Ricardo Gergk investidores atrair o capital estrangeiro.
geiros tentam evitar Angola diz que a actual dificuldade na M.C.
como mercado de preferên-
cia para fazer investimento,
por causa das dificuldades na
obtenção dos cambiais e de
fazer pagamentos ao exte-
rior, essas disponibilidades
não existem, é fundamental
que se reveja a questão da
disponibilidade das divisas
para os investidores estran-
geiros e nacionais. O País
pode ter a melhor lei de in-
vestimento possível, mas se a
situação dos cambiais não for
atractiva e acautelada, nin-
guém vai investir.
Partilha da opinião de que o
País deve definir a qualida-
de do investimento?
Neste momento, Angola não
tem condições de exigir o
tipo de investimento a con-
tratar do exterior e dar-se ao
luxo de seleccionar os inves-
tidores. Temos de reconhe-
cer que há investimentos
que não valem a pena por
atropelarem determinados
princípios básicos de com-
pliance e leis de negócios.
Esses não interessam ao
País. Tirando isso, o País
pode atrair baixo, médio ou
D.R.
grande investimento.
Empresários dizem que dificuldade no acesso a divisas afasta o investimento privado
4 EXPANSÃO | 9 de Março 2018

DESTAQUE PROPOSTA DE LEI DO INVESTIMENTO PRIVADO

Conheça as novas regras para investir

com incentivos fiscais em Angola
A nova proposta para o investimento privado faz cair o mínimo de investimento que era de 1 milhão USD
e acaba com a obrigatoriedade da participação de angolanos nos investimentos com origem no estrangeiro.

O ANTES E O DEPOIS DA LEI DO INVESTIMENTO PRIVADO

LEI N.º 14/15 DE 11 DE AGOSTO PROPOSTA ACTUAL

LIMITE DO INVESTIMENTO
Os benefícios e incentivos aplicam-se aos investimentos externos, cujo montante global Não há limite para investir e ter incentivos, ou seja, todo o valor investido tem incentivos,
corresponda ao contravalor em Kz equivalente ou superior a USD 1 milhão e investimentos internos, seja de que montante ou origem
cujo montante global corresponda ao contravalor em Kz equivalente ou superior a USD 500 mil
PARTICIPAÇÃO DE NACIONAIS
O investimento estrangeiro em Angola, nos sectores da energia e águas, hotelaria e turismo, transporte A proposta da nova lei elimina os limites obrigatórios de participação de nacionais no capital social previsto
e logística, construção civil, telecomunicações e meios de comunicação, apenas é permitido no caso no artigo 9.º da lei em vigor, isto porque se pretende dar realce à liberdade dos sócios
de ocorrer em parceria com cidadãos angolanos, com empresas de capital público ou empresas angolanas, decidirem sobre a estrutura do capital dos seus empreendimentos
em que detenham 35% do capital e participação efectiva na gestão
TRANFERÊNCIAS DE LUCROS
Transferência de lucros e rendimentos para o estrangeiro, incluindo as mais-valias, Depois de implementado o projecto de investimento privado externo, mediante prova da sua execução
depois de pagos os impostos devidos e do pagamento dos tributos devidos é garantido ao investidor, o direito a transferir para o exterior:
os dividendos ou os lucros distribuídos; o produto da liquidação dos seus investimentos,
incluindo as mais-valias; produto de indemnizações e royalties ou outros rendimentos
de remuneração de investimentos indirectos, associados à cedência de tecnologia
QUEM CONCEDE INCENTIVOS
A concessão de incentivos é da responsabilidade do Titular do Poder Executivo resultante da negociação, Há liberdade de contratar os incentivos com a agência do Governo ou aderir a incentivos
no âmbito do regime contratual do investimento privado que existem na lei para todos sem excepção

QUEM BENEFICIA
Para efeitos de atribuição de benefícios, o País é organizado em duas zonas de desenvolvimento: O País é organizado em três zonas, nomedamente a Zona A, inclui Luanda, Namibe,
Zona A inclui Luanda, municipios sede de Benguela, Huíla e o Lobito e a Zona B inclui Cabinda, Bié, os municípios-sede de Benguela, Huíla e Lobito; Zona B inclui Bié, Bengo, Cabinda, Cuanza-Norte,
Cunene, Huambo, Cuando cubango, Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Zaire, Bengo, Cuanza Norte, Cuanza-Sul, Huambo, Malanje, Namibe, Uíge e restantes municípios de Benguela e Huíla;
Cuanza Sul, Malanje, Namibe, Uige e os restantes municípios de Benguela e Huíla Zona C inclui o Cuando-Cubango, Cunene, Lunda-Norte, Lunda-Sul, Moxico e Zaire.
ACESSO AOS INCENTIVOS
No regime processual, todos os projectos de investimento privado estão sujeitos ao regime contratual, Existem duas vias: na primeira o investidor apresenta uma declaração prévia, ou seja, é a simples apresentação
enquanto regime processual único e o investimento é aprovado pelo Governo da proposta de investimento junto do órgão competente para efeitos de concessão de benefícios e registo
e a segunda é o regime contratual. No regime contratual, o investidor está isento do pagamento das taxas
e emolumentos devidos por qualquer serviço solicitado, incluindo os aduaneiros, por um ente público
não empresarial, durante um período não superior a cinco anos.
FIM DOS INCENTIVOS
Extinção dos incentivos pelo termo do prazo e pela revogação da autorização do investimento A extinção dos incentivos fiscais é feita pelo termo do prazo por que foram concedidos,
sendo que o prazo não pode ser superior a 10 anos.
IMPOSTOS SOBRE A APLICAÇÃO DE CAPITAIS
O montante dos dividendos ou lucros fica sujeito à obrigatoriedade de pagamento Impostos sobre os capitais, para zona A, os investidores têm uma moratória de três anos com a redução
de uma taxa de imposto de 15% quando o valor excendente for até 20%. da taxa entre 25% a 50% da taxa de imposto sobre a distribuição de lucros e dividendos.
Até 50% da participação nos fundos próprios, a taxa é de 30%. Para a zona B, de três a seis anos e o legislador prevê a redução em 50% a 60% da taxa do imposto
sobre os lucros e dividendos. Para a zona C, entre seis a oito anos com a redução da taxa entre 60% a 70%
da taxa de impostos sobre a distribuição de lucros e dividendos.
BENEFÍCIOS EXTRAORDINÁRIOS
A concessão destes incentivos é da responsabilidade do Titular do Poder Executivo, para os investimentos A sociedade veículo do investimento privado pode requerer a contratação de benefícios superiores
cujo montante corresponda a 50 milhões USD e gerem 500 ou 200 empregos aos definidos na presente Lei, sendo o referido pedido negociado em regime de concessão extraordinária
sempre que esse for o entendimento do Executivo, com base no interesse do desenvolvimento
económico e nos objectivos do Plano de Desenvolvimento Nacional.
CONSTITUIÇÃO E ALTERAÇÃO DAS SOCIEDADES
Se o projecto de investimento implicar a constituição da sociedade comercial, transmissão de acções, Os investidores devem informar apenas ou pedir autorização para tais actos,
devem estes actos obedecer à forma legal exigida. Qualquer alteração da sociedade os investidores sem estar sujeito a multas
poderiam incorrer em multas.
ABERTURA DE EMPRESA
O investidor estrangeiro para abrir uma empresa em Angola tinha que obter o certificado do registo Primeiro constitui a empresa sem impedimentos e depois, com esse veículo,
de investimento privado e depois fazer a escritura da empresa o investidor organiza o investimento
ENTIDADE AVALIADORA
Unidade Técnica para o Investimento Privado (Utip) Agência para o Investimento Privado e Exportações (Aipex)

CRONOLOGIA

13 de Maio de 2003 20 de Maio de 2011 11 de Agosto de 2015 28 de Fevereiro de 2018

Entra em vigor a Lei de bases
do Investimento Privado:
que estabelece as bases gerais
do investimento privado em Angola
e define os princípios sobre o regime
e os procedimentos de acesso aos
incentivos e facilidades a conceder.
A Agência Nacional de Investimento
Privado (ANIP), que será criada
a Julho de 2003, fica encarregue
de executar a política nacional em
matéria de investimentos privados.
Conhecida por a ‘Lei do Milhão’,
estabelecia como investimento
mínimo de 1 milhão USD aplicável
a nacionais e estrangeiros.
Os incentivos fiscais eram idênticos
para investidores nacionais
e estrangeiros.
Baixa para o equivalente a 500 mil Proposta de Lei do Investimento
USD o investimento mínimo para Privado, apreciada em Conselho
investidores nacionais. Estabelece de Ministros a 28 de Fevereiro,
parcerias obrigatórias em sectores põe fim aos limites mínimos para
estratégicos, em que os nacionais concessão de incentivos, extingue
têm que deter, pelo menos, a isenção fiscal e acaba com
35% das sociedades. Em Setembro a obrigatoriedade de ter sócios
é criada a Unidade Técnica angolanos. O órgão de execução
de Investimento Privado (UTIP) da política do investimento passa a ser
que servia de apoio ao PR a recém criada AIPEX (Agência para
para a aprovação de projectos o Investimento Privado e Exportações),
acima dos 10 milhões USD. que substitui a extinta UTIP.
 9 de Março 2018 | EXPANSÃO 5

Infografia: Expansão

ZONA A
Província de Luanda, do Namibe,
os municípios-sede das Províncias
CABINDA de Benguela, Huíla e o Município
do Lobito
1. Sisa — Redução da taxa
de 50% a 65%, por um período
de até 2 anos;
2. IPU — Redução da taxa até
25%, por um período até 2 anos;
ZAIRE
3. Imposto Industrial
— Redução da taxa de 50%
UÍGE a 60%, por período de 3 anos;
4. Taxa de liquidação provisória
do imposto industrial sobre
as vendas do 1º semestre
— Redução da taxa de 50% a 60%;
5. IAC — Redução da taxa de 25%
BENGO a 50% do imposto que incide
sobre distribuição de lucros
LUANDA LUNDA-NORTE e de dividendos, por um período
de 3 anos.
CUANZA-
-NORTE
ZONA B
Províncias do Bié, Bengo, Cabinda,
Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Huambo,
MALANJE Malanje, Namibe, Uíge e restantes
LUNDA-SUL municípios das Províncias
de Benguela e Huíla
1. Sisa — Redução da taxa de 65%
CUANZA-SUL a 75%, por um período de 3 anos;
2. IPU — Redução da taxa de 25% a
50%, por um período de 2 a 4 anos;
3. Imposto Industrial
— Redução da taxa de 60% a 70%,
por período entre 3 a 6 anos;
Município do Lobito
4. Taxa de liquidação provisória
Município-Sede da BIÉ do imposto industrial sobre
Província de Benguela as vendas do 1º semestre
HUAMBO — Redução da taxa de 60% a 70%;

BENGUELA MOXICO 5. IAC — Redução da taxa de 50%

a 60% do imposto sobre distribuição
de lucros e de dividendos,
por um período de 3 a 6 anos;

ZONA C
HUÍLA Províncias do Cuando-Cubango,
Cunene, Lunda-Norte, Lunda-Sul,
Moxico, Zaire
Município-Sede
da Província da Huíla 1. Sisa — Redução da taxa de 75%
a 80%, por um período de 4 anos;
2. IPU — Redução da taxa de 50% a
75%, por um período de 4 a 6 anos;
NAMIBE
3. Imposto Industrial
CUANDO-CUBANGO — Redução da taxa de 70% a 80%,
por período entre 6 a 8 anos;
4. Taxa de liquidação provisória do
CUNENE imposto industrial sobre as vendas
do 1º semestre — Redução da taxa
de 70% a 80%;
5. IAC — Redução da taxa de 60%
a 70% do imposto sobre distribuição
de lucros e de dividendos,
por um período de 6 a 8 anos.

INTENÇÕES E REALIDADE
Investimento Directo Estrangeiro entrado e obtenções de IDE aprovadas, milhões USD

1.507,6 Intenções de
IDE entrado IDE aprovadas

490,4 404,9
486,4 327,5
339,7
238,4 206,1
182,7 203,3 155,3

2010 2011 2012 2013 2014 2015

6 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
ANGOLA
Rácio de funcionários públicos por habitante em Angola está bastante abaixo da média internacional
OGE PROIBIA NOVAS ADMISSÕES
Entraram 25 mil funcionários
públicos em 2017
Em ano de eleições, em que os órgãos do Estado estavam proibidos de contratar, o número de funcionários
públicos aumentou 7% para 385.423. Em Angola há um funcionário público para 76 habitantes, um número
bastante abaixo dos padrões internacionais. Na Europa há um por cada 32 habitantes.
Martins Chambassuco
O número de trabalhadores da
função pública em 2017 aumen-
tou em 25 mil para 385.423,
equivalente a 7%, contrariando
a Lei do Orçamento Geral do
Estado 2017 que impedia a
contratação de funcionários
públicos.
Os números constam de um
relatório do Ministério da Ad-
ministração Pública Trabalho
Segurança Social (MAPTSS), a
que o Expansão teve acesso. O
relatório revela que 47.072 qua-
dros eram efectivos da admi-
nistração central (departamen-
tos ministeriais) e 338.402 per-
tenciam à administração local
(governos provinciais).
De acordo com o OGE 2017,
“não são permitidas novas ad-
missões que se consubstanciam
num aumento da massa salarial
da função pública, incluindo a
celebração de contratos de tra-
balho por tempo determina-
dom podendo apenas ocorrer
em casos devidamente justifi-
cados e aprovados pelo Presi-
dente da República”.
No entanto, o OGE 2017 pre-
via excepções, permitindo a
admissão de novos funcioná-
rios para “preenchimento de
vagas decorrentes de situações
de reforma, de abandono, de
demissão, de transferência ou
de morte”.
Em ano de eleições, com um
Orçamento Geral do Estado a
apertar o cerco à contratação de
funcionários públicos, bem
como a outras despesas asso-
ciadas com a função pública,
como o impedimento de “pro-
cessamento de horas extraordi-
nárias”, o Estado aumenta a sua
força laboral de 360.382 traba-
lhadores para 385.423.
Em 2017, a previsão de gastos
com vencimentos da função
pública rondava os 821,9 mil
milhões Kz. No entanto, não é
possivel apurar o valor efecti-
vamente gasto, uma vez que a
execução orçamental só dá a s
despesas globais com pessoal,
isto é, incluindo militares e pa-
D.R.
acordo com o relatório, estas
duas áreas foram as que mais
FUNÇÃO PÚBLICA A ENGORDAR
Número de funcionários públicos 2013-2017 beneficiaram com a admissão
de efectivos no ano passado.
Fonte: Conta Geral do Estado e MAPTSS 385.423
Um funcionário
por 76 habitantes
Contas feitas, em Angola exis-
te um funcionário público para
360.382 76 habitantes, um valor abaixo
357.113 da média dos padrões interna-
353.967
cionais.
347.178 No que toca a representativi-
dade por género, os dados do
Ministério do Trabalho reve-
lam que 161.649 dos funcioná-
rios públicos são mulheres e
223.774 homens.
2013 2014 2015 2016 2017 O secretário-geral da União
Nacional dos Trabalhadores de
Angola (UNTA), Manuel Viage,
ramilitares. Mas não estaria em declarações ao Expansão,
De acordo com prevista a admissão de 25 mil questionou os processos de ad-
o OGE 2017, “não são funcionários. missão de funcionários quando
Em 2017, segundo o MAPTSS, a ordem era proibir contrata-
permitidas novas os efectivos da função pública ções. Viage adiantou, no entan-
admissões que se estavam maioritariamente vin- to, que este ano é esperado um
consubstanciam culados nos sectores da Educa- aumento de 6% a 7% no efectivo
ção, com 169.280, e Saúde, com da função pública devido ao
num aumento da 88.264, totalizando 257.544, ou anunciado ingresso de até 20
massa salarial” seja, 67% do total dos trabalha- mil professores e de 5 mil técni-
dores da função pública. De cos da saúde.

ALEGADA BURLA ACABOU EM DETENÇÕES
Investigação diz que UTIP
falhou due diligence
no caso do fundo tailandês
Suposto fundo tailandês apresentou-se em Angola com um cheque
de 50 mil milhões USD na mão. De altas patentes do Estado até a pequenos
empresários, várias figuras terão sido enganadas neste esquema.
Quingila Hebo
A Unidade Técnica para o In-
vestimento Privado (UTIP)
terá falhado a avaliação de risco
a um suposto fundo tailandês
que anunciou em 2017 um fi-
nanciamento de 50 mil milhões
USD para apoiar projectos, ad-
mitiu esta semana o chefe do
departamento central do Servi-
ço de Investigação Criminal
(SIC), Tomás Agostinho.
O responsável da investiga-
ção falava em conferência de
imprensa esta semana, no qual
foi anunciada a detenção de seis
estrangeiros e dois cidadãos na-
cionais por suspeitas da prática
dos crimes de falsificação de
documentos, burla por defrau-
dação, associação de malfeito-
res e branqueamento de capi-
tais. “Terá havido uma falha,
um erro, de avaliação deste pro-
jeto de investimento da parte
da entidade responsável pela
captação de investimento”, ad-
mitiu Tomás Agostinho.
A 30 de Novembro, a UTIP, li-
derada por Norberto Garcia, ce-
lebrou um contrato de financia-
mento com a Centennial
Energy Company. Na altura, os
responsáveis desta empresa as-
sumiram que este se tratava de
um fundo que iria apoiar projec-
tos angolanos.“Resulta de um
investimento individual de um
fundo lícito que possui todas as
certificações e garantias, não se
Novo Executivo extingiu a UTIP
trata de empréstimo ou crédito,
não exige garantia soberana
nem bancária, obriga apenas
que o proprietário do fundo par-
ticipe na gestão do projecto
como sócio, assegurando o re-
torno do investimento”, referiu
na altura Celeste de Brito, que
se apresentou como consultora
da Centennial. Entretanto, a en-
tão PCA do Natrabank foi detida
no âmbito desta investigação ju-
dicial. Na altura da assinatura
do acordo de financiamento
com a UTIP, Celeste de Brito ga-
rantiu que o fundo iria financiar
projectos que já tinham dado
entrada na UTIP. Na ocasião,
Norberto Garcia anunciou que o
projecto entre as partes passava
por os empresários entregarem
os projectos na UTIP que depois
os entregava ao suposto fundo
para posterior financiamento.
No momento da detenção,
que decorreu num hotel em
Luanda, foram encontrados na
posse dos suspeitos processos
de 53 projectos submetidos por
empresários e supostamente
prontos a serem financiados,
bem como um cheque no valor
Empresa Centennial
Energy assinou
contrato com a UTIP
que visava
financiar projectos
que estavam parados
OS NÚMEROS
DO ALEGADO ESQUEMA
99 Mil Milhões USD
é o valor do cheque que o SIC
encontrou na posse dos suspeitos
50 Mil Milhões USD
é quanto os suspeitos disseram
ter para financiamento
99 mil milhões USD do Bank Of
China, com sede em Hong Kong.
Quando entrou em Angola, a
Centennial Energy anunciou
que já terá feito investimentos
semelhantes no Vietname,
Camboja, Myanmar e noutros
países asiáticos.
Entretanto, Tomás Agostinho
referiu que, contactadas as con-
géneres do SIC nestes países,
concluiu-se que a linha de finan-
ciamento não existe. Agostinho
adiantou que estão envolvidos
no processo pelo menos três ofi-
ciais de alta patente das Forças
Armadas Angolanas (FAA), que
gozam de um fórum especial.
O Expansão enviou questões ao
ex-director da UTIP e actual por-
ta-voz do MPLA, Norberto Gar-
cia, nomeadamente sobre que
tipo de due diligence terá sido fei-
ta pela UTIP, mas não obteve res-
posta até ao fecho de edição.
LÍDIA ONDE
Edificio já não tem o letreiro com o nome do Natrabank
BNA MANDOU SUSPENDER ACTIVIDADE
Instalações do
Natrabank encerradas
há vários meses
Sociedade que
se apresentou como
um banco, constituída
apenas com um capital
social de 2 milhões Kz,
fechou dez meses após
a inauguração.
O Natrabank encerrou portas
há pelo menos cinco meses,
apurou o Expansão junto de
várias fontes. O letreiro que
constava na fachada do edificio
da sede já não se encontra no
local e as mesas e cadeiras es-
tão empilhadas, sem qualquer
utilização.
A instituição foi inaugurada
no ano passado e na altura foi
apresentada por Celeste de
Brito, presidente do conselho
de administração, como um
banco único em África e no
Mundo que iria trazer valor
acrescentado aos recursos na-
turais de um país afectado pela
crise do preço do petróleo no
mercado internacional.
Entretanto, onze dias após a
inauguração que contou com a
presença do então ministro da
geologia e minas e actual mi-
nistro da justiça, Francisco
Queiroz, o BNA mandou encer-
rar a instituição. Em causa, se-
gundo alegou o banco central,
estava a utilização da palavra
“ bank”, reservada apenas as
entidades habilitadas pelo re-
gulador como instituições fi-
nanceiras que por Lei estavam
obrigadas a um capital mínimo
de 2,5 mil milhões Kz. A medi-
da, segundo fonte do BNA con-
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 7
OSMAR EDGAR
tactada na altura pelo Expan-
são, foi desencadeada pelo de-
partamento de supervisão que
alegou irregularidades no uso
da palavra banco.
O BNA achou conveniente le-
galizar a empresa e ordenou a
alteração da marca e a redefini-
ção do seu “core business”. Ce-
leste de Brito, contactada pelo
Expansão na altura, disse que
não tinha sido notificada pelo
BNA. Outra fonte garantiu, no
entanto, que a PCA do Natra-
bank tinha estado reunida com
o então governador do BNA,
Valter Filipe, e em cima da
mesa esteve o início do proces-
so de encerramento do Natra-
bank, por indefinição do objec-
to de actividade.
Em Julho do ano passado o
Expansão apurou que a empre-
sadesrespeitou a suspensão de
actividade imposta pelo banco
central. Na mesma altura, Ce-
leste de Brito terá proposto ao
BNA que o Natrabank servisse
de depósito de ouro que estava
a negociar com produtores an-
golanos e que em troca lhe fos-
se emitida uma garantia sobe-
rana, um pedido que não mere-
ceu aval do BNA.
Celeste de Brito foi detida
esta semana pelo SIC (ver peça
ao lado).
Celeste de Brito foi
detida esta semana
por envolvimento
na alegada burla do
fundo tailandês de
50 mil milhões USD
8 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
ANGOLA
SÓ UMA FOI APROVADA NA ASSEMBLEIA NACIONAL DESDE 2002
Três Comissões Parlamentares
de Inquérito bloqueadas na AN
A UNITA considera que tem faltado vontade política para se abordar em profundidade matérias
de interesse nacional, através das Comissões de Inquérito Parlamentar, mas o MPLA refuta
a acusação. Na história democrática do País, só foi constituida uma CPI na Assembleia Nacional.
Hermenegildo Tchipilica
Ao longo da história da demo-
cracia do País, a Assembleia Na-
cional apenas constituiu uma
Comissão Parlamentar de In-
quérito (CPI) e bloqueou ou-
tras três, todas de iniciativa da
UNITA. Entretanto, o partido
da oposição submeteu uma
nova CPI, na qual pretende ver
apuradas questões relativas à
divida pública de Angola.
A primeira CPI de iniciativa
da UNITA surgiu em 2012 (ver
caixa) e foi a única a realmente
avançar. É preciso esperar até
2013, quando o partido do ‘Galo
negro’ volta a submeter na AN
um pedido de CPI, relacionado
com o caso BESA. Esta CPI foi a
primeiro de três que entretanto
nunca foram viabilizadas. Na se-
gunda, em 2016, pedia que se
apurassem as contas da Sonan-
gol, bem como os investimentos
conjuntos com Isabel dos Santos
No ano passado, novamente
com o clã ‘dos Santos’ na mira, a
UNITA volta a activar este me-
canismo para que se investigas-
se o Fundo Soberano de Angola
liderado por José Filomeno dos
Santos, na sequência de denún-
cias e investigações de um con-
sórcio internacional de jorna-
listas que deu origem aos deno-
minados “Paradise Papers”. O
consórcio levantava dúvidas
sobre a entrega de 85% dos fun-
dos públicos geridos pelo Fun-
do Soberano a um só gestor, no
caso, o amigo de ‘Zenu’, o suíço-
-angolano Jean-Claude Bastos
de Morais. Mais uma vez, não
teve andamento.
A 2 de Março, a UNITA subme-
teu um pedido de uma nova CPI
sobre a dívida pública, justifican-
do que “o tema da dívida ainda
não alcança a relevância que me-
rece nos debates, não obstante
ser a maior rubrica do OGE em
Angola desde o ano de 2016”.
“Não obstante ser um pro-
blema gravíssimo e inibidor do
crescimento e desenvolvimen-
to, o tema da divida não é dis-
cutido por falta de conheci-
mento e pelo facto dos dados
Cronologia das Comissões de Inquérito Parlamentares
2012
A UNITA submente à Assembleia
Nacional a primeira CPI da história
do País. Com o objectivo
de apurar sobre um suposto caso
de intolerância política no
Huambo, esta foi a única comissão
que obteve luz verde da AN.
A realização de Comissões Parlamentares de Inquérito são um imperativo legal
Alcides Sakala
considera que as
três CPI´s pedidas
pela UNITA não
foram viabilizadas
“por falta de
vontade política”
serem embelezados pelo Exe-
cutivo”, refere.
A Lei nº13/17, de 6 de Julho –
a Lei Orgânica que aprova o Re-
gimento da Assembleia Nacio-
nal refere no artigo n.º 314 que
as Comissões Parlamentares
de Inquérito são constituídas
por resolução da Assembleia
Nacional, publicada em Diário
da República. O artigo n.º 310
do mesmo diploma refere que
as Comissões de Inquéritos
Parlamentares destinam-se a
averiguar o cumprimento da
Constituição e das leis e a apre-
ciar os actos que violem a exe-
cução do OGE. Após a sua cons-
tituição, tem um prazo de 90
dias para a conclusão do inqué-
rito e apresentação do respec-
tivo relatório.
2013 2016
Um ano depois, o partido Uma vez mais a UNITA requer
do “Galo Negro” voltou à carga junto da Assembleia Nacional
e apresenta uma proposta de uma uma CPI sobre a Sonangol
CPI para analisar o “caso BESA”. na qual solicitava que se apurasse
Foi chumbada. e documentasse a origem
dos investimentos conjuntos
com Isabel dos Santos.
Também não avançou.
BREVES
ANGOLA QUER RÚSSIA
MAIS ACTIVA NA
ECONOMIA NACIONAL
O Presidente da República,
João Lourenço manifestou
o interesse do País numa
participação mais activa da
Rússia na economia.
João Lourenço apresentou
esta vontade ao Ministro das
Relações Exteriores
da Rússia, Serguei Lavrov,
a quem indicou sectores
de cooperação, nomeadamente
ao gás e na área diamantífera.
O chefe da diplomacia russa
reuniu-se com o seu homólogo
angolano, Manuel Augusto
para reforço das colaborações,
onde foi igualmente abordado
um pacote de acordos em fase
de discussão pelas duas partes,
com realce para o documento
que validará as equivalências
dos diplomas académicos.
EUA ALERTAM ÁFRICA
SOBRE INVESTIMENTOS
CHINESES
O secretário de Estado
QUINTILIANO DOS SANTOS
dos Estados Unidos,
Rex Tillerson, advertiu os países
africanos para terem cuidado
com as condições dos
investimentos chineses
no continente, chamando
a atenção para os termos
e a manutenção da soberania.
Em declarações ao Expansão, o “No que diz respeito à China,
porta-voz da UNITA, Alcides COMISSÃO como já disse noutras partes
Sakala considera que as três CPI´s do mundo, não estamos
pedidas pelo partido não foram DE INQUÉRITO de forma nenhuma a tentar
viabilizadas “por falta de vontade PARLAMENTAR colocar os investimentos
política”. “Essas CPI´s procuram SOBRE chineses fora de África, porque
de facto entender esta má gestão INTOLERÂNCIA são necessários”, disse
do erário público, os contornos da o membro do Governo norte-
corrupção e outras questões rela-
POLÍTICA -americano equivalente
cionadas. E também responsabi- A Comissão Parlamentar ao ministro dos Negócios
lizar os próprios elementos impli- de Inquérito sobre Estrangeiros nos governos
cados em todos esses processos”, a intolerância política europeus. “Cremos, no entanto,
reforça. O porta-voz da UNITA constituida em 2012 que é importante que os países
adiantou que as três propostas de foi a única CPI criada africanos considerem
CPI’s acabaram por “ser chumba- em Angola. com cuidado os termos desses
das em conferência de lideres” na Na altura, a primeira investimentos e não renunciem
Assembleia Nacional. Comissão Parlamentar de à sua soberania”, sustentou,
O vice-presidente da bancada Inquérito foi coordenada falando na capital da Etiópia,
do MPLA, João Pinto, desvalori- pelo deputado do MPLA Adis Abeba, numa conferência
za as acusações da UNITA, Higino Carneiro, e tinha de imprensa conjunta com
adiantando apenas que se trata como finalidade identificar o presidente da comissão
de “um argumento político”. Por queixas de intolerância da União Africana,
sua vez, o vice-presidente da política alegadamente Moussa Faki Mahamat.
CASA-CE, Manuel Fernandes, perpetrados pelo MPLA
considera que a Assembleia Na- contra membros da UNITA
cional deve evoluir, entender no Huambo. NOVO REGIME JURÍDICO
melhor o seu papel, interpretar A missão trabalhou PARA ESTRANGEIROS
melhor o valor das iniciativas e em alguns municípios, ATÉ MAIO
valorizá-las. “Essas iniciativas reuniu-se com a sociedade Uma comissão que integra
são importantes, visam clarifi- civil, autoridades seis ministros tem menos
car algumas situações com a fi- tradicionais e elementos de 90 dias para definir
nalidade de poder corrigir situa- de partidos políticos e, uma proposta para o novo
ções futuras, mas por orgulho de no fim, concluiu que não regime jurídico de cidadãos
um lado, pura e simplesmente houve intolerância política estrangeiros em Angola,
atira-se para o lado aquilo que naquele caso. conforme orientação
deveria ser útil”, disse. do Presidente da República,
João Lourenço. A informação
consta do despacho
presidencial 20/18, de final
de Fevereiro, que cria
2017 2018 esta comissão, coordenada
pelo ministro do Interior,
A UNITA requere a constituição O maior partido da oposição volta
Ângelo da Veiga Tavares, face
de uma CPI sobre o Fundo a submeter um pedido de CPI
Soberano de Angola para destinada a apurar a real dívida à “necessidade de estabelecer
investigar as denúncias pública do País. Aguarda resposta uma política migratória
e investigações do “Paradise da Assembleia Nacional. nacional que tenha em vista,
Papers”. de forma humana e ordenada,
a maximização dos benefícios
que decorrem da imigração”.

As empresas que gerem as três fábricas têxteis querem manter as unidades fabris
PRAZO DE ENTREGA TERMINOU EM FEVEREIRO
Empresas apresentam
propostas para continuar à
frente das indústrias têxteis
O Estado gastou 1,2 mil milhões USD com o recurso a uma linha de crédito
japonesa para a recuperação das três fábricas têxteis e concessionou-as,
em 2013, a sociedades anónimas, que pretendem manter as fábricas.
Quinjila Hebo
As empresas Alassola SA, Mahi-
najhu SA e Taxtang II apresenta-
ram propostas para continua-
rem na gestão das fábricas têx-
teis, nomeadamente África Têx-
til, Satec e Textang II, que foram
modernizadas através de uma li-
nha de crédito do Japão no valor
de 1,2 mil milhões USD e que
contou com a garantia do Estado.
O Executivo está a avaliar as
propostas para decidir se as man-
tém na posse das empresas que as
exploram ou se avança com um
processo de privatização.
“As propostas ora apresenta-
das consistem na gestão das
empresas para torná-las rentá-
veis para amortizar a dívida do
empréstimo. O processo está a
decorrer a bom ritmo e até fim
deste mês estará concluído”,
disse ao Expansão uma fonte li-
gada ao processo.
Em Novembro do ano passado
o Governo anunciou que as in-
dústrias deverão ser vendidas a
privados, através da realização
de um concurso público, depois
de em Setembro o Ministério da
Indústria ter cancelado os con-
tratos de concessão atribuídos a
três sociedades anónimas. Na al-
tura, o presidente da Comissão
de Avaliação do Sector Têxtil,
Vicente Leitão, disse ao Expan-
são que esta proposta já foi en-
tregue ao Governo e aguardava
por aprovação. Entretanto, na
sequência desta proposta o Go-
verno reuniu recentemente com
os representantes das empresas
gestoras das indústrias têxteis e
lançou um ultimato para apre-
sentarem propostas até final de
Fevereiro para continuarem à
frente das fábricas.
Em Setembro do ano passado,
o Ministério da Indústria cance-
lou os contratos de concessão
assinados com referido ministé-
rio, alegando “incompetência
absoluta do Instituto de Desen-
volvimento Industrial de Angola
para atribuição dos direitos de
Executivo está a
avaliar as propostas
para decidir se as
mantém na posse
das empresas
que as exploram
ou se avança
com privatização
LÍDIA ONDE
superfície”, reivindicando, as-
sim, a devolução das três fábri-
cas ao Estado.
Vicente Leitão, que coordena
a Comissão de Avaliação do Sec-
tor Têxtil disse ao Expansão em
Dezembro do ano passado que o
Estado deveria avançar com um
concurso público para a privati-
zação das fábricas e que quem
pretendesse ficar com as fábri-
cas deveria incluir as dívidas aos
trabalhadores e aos fornecedo-
res, bem como com o valor total
da dívida (capital mais juros) do
empréstimo contraído ao Japão.
O responsável revelou que es-
tas empresas tinham (e têm) as
concessões de gestão das fábri-
cas, mas quem continuava a pa-
gar a dívida referente ao crédito
japonês era o Estado.
Estado deverá recuar
na privatização
Entretanto, tudo indica que o
Governo terá recuado, tentando
agora mecanismos para a venda
por ajuste directo. Caso o Esta-
do avance com a privatização,
Vicente Leitão diz que deverá
contabilizar as dívidas aos tra-
balhadores e aos fornecedores
das unidades fabris quando
eram empresas públicas, bem
como a dívida contraída ao ban-
co japonês, que rondará os 1,4
mil milhões USD.
AVALIAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO EM CURSO
Angola Telecom
deixa ‘cair’ terceira
operadora móvel
Dívidas à empresa
ultrapassam
os 10 mil milhões Kz,
refere o CEO.
Maiores devedores
são ministérios
e administrações locais.
A terceira operadora de telefo-
nia móvel que estava prevista
começar a operar no primeiro
trimestre de 2018 deixou de fa-
zer parte das prioridades da An-
gola Telecom, informou Eduar-
do Sebastião, coordenador da
comissão de gestão da empresa
pública de telecomunicações.
A operadora móvel da Angola
Telecom custaria, numa primeira
fase, cerca de 200 milhões USD.
Eduardo Sebastião, que falava na
conferência de imprensa que assi-
nala o 26º aniversário da Angola
Telecom, referiu que a prioridade
da empresa agora passa por reduzir
os custos, aumentar as receitas e
melhorar os serviços prestados.
Segundo o gestor, actualmente
as despesas da empresa superam as
receitas em 130%, sendo que a meta
é reduzir para pelo menos 75%.
Eduardo Sebastião, entretanto, re-
conhece que a empresa apresenta
uma fraca capacidade de cobrança,
cobrando apenas 30% do que os
clientes devem à empresa.
Órgãos do Estado são os
maiores devedores
Os clientes da Angola Telecom têm
dívidas acumuladas que ultrapas-
Empresa pública de telecomunicações diz que vai reduzir custos
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 9
sam os 10 mil milhões Kz, de acor-
do com o responsável da empresa.
Entre os maiores devedores
estão os ministérios, governos
provinciais e as administrações
municipais e comunais.
Eduardo Sebastião avança que
a empresa vai reforçar a cobran-
ça de dívidas e que está a rever e a
renegociar os contratos das em-
presas que prestam serviços à
Angola Telecom.
O responsável garantiu ainda
que o processo de reestrutura-
ção da empresa não prevê dis-
pedimentos de pessoal, mas
que avançará por uma recolo-
cação e capacitação dos traba-
lhadores de acordo com o grau
de escolaridade. A empresa
conta com 997 trabalhadores
em todo o país, dos quais ape-
nas cerca de 200 são técnicos
superiores.
A comissão de avaliação e
reestruturação da Angola Tele-
com foi constituida em Dezem-
bro do ano passado. O objectivo
passa pela privatização de par-
te do capital.
De acordo com os resultados
provisórios, a Angola Telecom
facturou, em 2017, cerca de 14
mil milhões Kz.
Nova operadora
custaria cerca
de 200 milhões USD
mas projecto deixou
de ser prioritário,
refere o CEO
CÉSAR MAGALHÃES
10 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
ANGOLA
BRAÇO DE FERRO ENTRE EMPRESÁRIA E CARLOS SATURNINO
Isabel dos Santos
contra-ataca nova
administração da Sonangol
A antiga PCA da petrolífera nacional reagiu em comunicado e em entrevista
na mesma semana. Desmente Carlos Saturnino e reitera que durante
o tempo em que esteve na Sonangol aumentou os lucros e diminuiu a dívida.
Quingila Hebo
Isabel dos Santos respondeu às
acusações do actual presidente
do conselho de administração
da Sonangol, Carlos Saturnino,
que a acusou de ter ordenado a
transferência de 38 milhões
USD um dia depois de ter sido
exonerada e de não ter pago os
dividendos da participação in-
directa (via Esperaza) da So-
nangol na Galp.
A empresária concedeu uma
entrevista ao português Jornal
de Negócios em que exibe do-
cumentos que alegadamente
comprovam o pagamento dos
dividendos da Galp à Sonangol.
Diz ainda que não houve quais-
quer instruções de pagamentos
com data posterior a 15 de No-
vembro, dia da sua exoneração.
Na entrevista revela que não
estava à espera da exoneração
da liderança da petrolífera pelo
actual Presidente da Repúbli-
ca,JoãoLourenço, e explica por-
que afastou Carlos Saturnino da
presidência da Sonangol Pes-
quisa& Produção.
Carlos Saturnino foi afastado
da Sanangol P&P em Dezembro
de 2016, após a chegada de Isa-
bel dos Santos à Sonangol. Se-
gundo a ex-PCA da Sonangol,
como a Pesquisa & Produção
era a principal empresa do gru-
po Sonangol, era “sem dúvida, a
empresa que necessitava de
mais atenção dentro do grupo.
Isabel dos Santos foi afastada da Sonangol quatro meses depois de JLO tomar posse
Quando chegámos em Junho de
2016 não tomei a decisão de
exonerar Carlos Saturnino. Fi-
zemos primeiro um diagnóstico
e depois percebemos onde exis-
tiam debilidades e que empre-
sas do grupo eram mais frágeis e
precisavam de maior interven-
ção. No caso da Pesquisa & Pro-
dução, o que foi detectado é que
a empresa tinha muitas debili-
dades na parte de gestão. Ou
seja, tinha perdido em 2015 cer-
ca de 859 milhões USD. Era um
número muito elevado”, justifi-
cou Isabel dos Santos.
Por outro lado, “tinha proble-
mas na sua operacionalidade.
Estava sobredimensionada.
Existiam muitas direcções, mui-
tas linhas de reporte, os proces-
sos eram lentos, a empresa não
era funcional e tomámos a inicia-
tiva de redesenhar e reestruturar
a empresa, para transformar a
Sonangol Pesquisa & Produção
numa empresa mais parecida
com uma empresa internacional
operadora de petróleos”. Para
tal, continua Isabel, “redesenhá-
mos completamente a linha de
Isabel diz
que esperava
ouvir a estratégia
de Saturnino
para a empresa,
não ataques
ao CA cessante
ANTES E DEPOIS
DA ISABEL DOS SANTOS
115
Milhões USD
a Sonangol gastou
em consultoria em 2015
Estado deve proporcionar desenvolvimento urbano
90 Milhões USD
a Sonangol gastou LONGE DA META DAS NAÇÕES UNIDAS
em consultoria em 2017
Processo de fomento
gestão, com uma gestão mais pe-
de casas sociais em
quena, mais enxuta, mais ágil. O
conselho de administração da Angola está atrasado
Sonangol Pesquisa & Produção,
tanto para 2015 como para 2016,
teve muitas dificuldades em fe- Já só faltam
char e apresentar um orçamen-
to. Ou seja, trabalhava sem um 12 anos para o fim
orçamento. Isso era uma situa- da meta dos Objectivos
ção muito preocupante e não po- de Desenvolvimento
díamos continuar assim”. Sustentável e Angola
Isabel dos Santos diz também
na entrevista que esperava que continua com défice
Carlos Saturnino aproveitasse habitacional.
a conferência de imprensa para
divulgar a sua estratégia de ges-
tão para o futuro, mas tudo que
ouviu foi um ataque à anterior
administração. Angola está longe de atingir os
Isabel dos Santos desvaloriza “Objectivos de Desenvolvimen-
também a acusação de ter gasto to Sustentável” até 2030 reco-
muito dinheiro com consulto- mendados pelas Nações Unidas
rias, justificando que foi gasto aos governos porque está atrasa-
muito mais em anos anteriores da no fomento de casas sociais.
à sua chegada. Esta é uma das principais con-
clusões emitidas pelo arquitec-
to António Gameiro durante a
conferência sobre “o futuro da
habitação social em Angola”, or-
ganizado pela Imogestin em
parceria com o Expansão, que
decorreu esta semana.
Os objectivos de desenvolvi-
mento sustetável traça como ob-
jectivo que os governos devem
garantir às famílias uma habita-
ção segura, adequada, com preço
acessível e com os serviços bási-
cos funcionáis. O arquitecto que
abordou o tema “a habitação so-
cial em Angola”, lembra que já só
faltam 12 anos para se atingir a
meta indicada pelas Nações Uni-
das e que Angola continua com
um défice habitacional. Gamei-
ro lembra, por outro lado, que le-
gislação do País define como ha-
QUINTILIANO DOS SANTOS
bitação social “uma residência
totalmente subvencionada pelo
Estado”, destinada a cidadãos
que não preenchem os padrões
de rendimento mínimo.
Parte significativa das popu-
lações vive em bairros menos
QUINTILIANO DOS SANTOS
urbanizados, sendo que a gran-
de maioria habita na periferia,
com carência de equipamentos
sociais e serviços básicos.
Luanda, Huambo, Lubango e
Benguela, têm cerca de 45% da
população urbana do País.
De acordo com o arquitecto,
muitos projectos habitacionais
no País são erguidos sem uma
estrutura arquitectónica ade-
quada às necessidades da popu-
lação, razão pela qual, tais inicia-
tivas acabam por se tornar um
fracasso, uma vez que a popula-
ção procura fixar-se em locais
onde consiga realizar as suas ac-
tividades económicas.
“Precisa-se de desconcentra-
ção dos serviços, o que significa
investir em projectos habitacio-
nais onde já exista população,
para fazer assentamento dos ci-
dadãos, de acordo com cada re-
gião”, sugeriu Gameiro.
Quanto ao fomento e desen-
volvimento urbano, o arquitecto
defendeu que deve ser o Estado
pode delegar essa missão a em-
presários através de parcerias.
Em todo o mundo, 828 milhões
de pessoas vivem em “musse-
ques”. As cidades ocupam cerca
de 2% do espaço da terra, usam
cerca de 80% do consumo de
energia e provocam cerca de 75%
da emissão de dióxido de carbono.
Em todo o mundo,
828 milhões
de pessoas vivem
em “musseques”,
bairros não
estruturados
 PUB

O PARCEIRO GLOBAL PARA A

SUA EMPRESA.
Com uma ampla rede de agências em Angola, o Banco Caixa Geral Angola faz parte de um grupo presente
em 23 países e 4 continentes, sendo o parceiro estratégico para o seu negócio.

Invista numa parceria global, na inovação e excelência de serviços para o sucesso da sua empresa.

Caixa Angola, o Banco da sua empresa.

Para mais informações:

Linha Caixadirecta Angola
24H +244 226 424 424
www.caixaangola.ao
12 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
ANGOLA PROVÍNCIAS
DE NORTE A SUL
INE ARRANCA COM
INQUÉRITO SOBRE
DESPESAS E RECEITAS
O Instituto Nacional
de Estatística (INE) arrancou,
esta semana, na província
da Lunda Sul, com o terceiro
inquérito sobre Despesas,
Receitas e Emprego de Angola
(IDREA). De acordo com o
director do Serviço Provincial,
Josué Martins, o inquérito terá
a duração de um ano e conta
com 10 agentes, que vão
percorrer os quatro municípios
que compõem a província
da Lunda Sul. Sublinhou que,
a nível da província, o INE prevê
atingir cerca de 657 agregados
familiares. A informação a reter
tem a ver com as características
socio-demográficas
dos agregados familiares
e aspectos de saúde geral.
SECA PODE AFECTAR
MAIS DE 42 MIL
FAMÍLIAS
A seca pode comprometer as
colheitas de produtos agrícolas
de 42.485 famílias camponesas,
na presente campanha agrícola,
devido às fracas chuvas que
se registam na circunscrição,
no município de Ombadja
província do Cunene. As
previsões de colheitas, segundo
a nota, não são animadoras
devido à irregularidade
na queda de chuva, situação
que contribui também para o
aumento da mortalidade bovina.
CÂMARA DE COMÉRCIO
COM OS OLHOS NA
CLASSE EMPRESARIAL
A Câmara de Comércio
e Indústria do município
de Icolo e Bengo (CCIIB),
criada na semana passada,
pretende, com o programa
de acção 2018, promover
o desenvolvimento inclusivo
da classe empresarial local,
visando elevar o município
a uma referência no contexto
das municipalidades do País.
Segundo o presidente da CCIIB,
Adalberto Capingana, o órgão
que dirige vai acompanhar
a dinâmica governamental
no que concerne a matérias
de associativismo, investimento
privado e desenvolvimento
local, para representar
os interesses da classe
empresarial de Icolo e Bengo.
FAZENDA AGRO-
-INDUSTRIAL REDUZ
A PRODUÇÃO DE MILHO
A fazenda agro-industrial,
situada na comuna de Ringoma,
município de Camacupa,
província do Bié, prevê
uma redução para nove mil
toneladas de milho na presente
campanha agrícola, numa
extensão de 1.500 hectares.
Segundo o técnico Estevão
Miguel, comparativamente
ao ano anterior vai haver uma
queda para metade pelo facto
de os trabalhos de preparação
da terra terem começado tarde.
BENGUELA
Comboio do CFB volta
a “ganhar vida” 34 anos
depois da última viagem
Cumpriu-se um dos
principais objectivos
que levou o Governo
a investir cerca
de 2 mil milhões USD
na reactivação destes
caminhos-de-ferro.
A linha dos Caminhos-de-Ferro
de Benguela [CFB] voltou ao acti-
vo, depois de estar parada duran-
te 34 anos. Mil toneladas de man-
ganês proveniente da República
Democrática do Congo (RDC)
chegaram por comboio ao Porto
Comercial do Lobito, na quarta-
-feira, 7. Transportado em 25 car-
ruagens 50 contentores dos Ca-
minhos-de-Ferro de Benguela
[CFB], o minério deverá seguir
para o continente europeu e para
a Índia, segundo avançou fonte
governamental ao Expansão.
A linha beneficiará as regiões
afectas ao Corredor do Lobito e
facilitará a integração na região
da SADC, a Comunidade de Des-
envolvimento da África Austral,
através das vizinhas RDC e Zâm-
bia, que partilham uma vasta
fronteira com Angola. Abre, por
exemplo, o caminho para o envio
de mercadorias para esses paí-
ses, em particular de cimento,
peixe, sal e cerveja, e alguns dos
produtos mais solicitados no
mercado congolês, avançou o
“estatal” Jornal de Angola.
Este é um momento histórico,
depois da linha férrea de Ben-
guela, que liga à RDC, ficar total-
mente destruída devido ao con-
Ligação abre caminho para estabilidade económica de Angola na região
flito armado. O Governo angola-
no investiu cerca de 2 mil mi-
lhões de dólares USD na sua
reactivação.
O primeiro carregamento de
mineiro foi testemunhado pelo
ministro dos Transportes, Au-
gusto da Silva Tomás, e pelo vice-
-primeiro ministro dos Trans-
portes e Vias de Comunicação da
RDC, José Makila.
O governante democrata-con-
golês considerou que o reinício do
tráfego internacional no Cami-
nho-de-Ferro de Benguela con-
tribuirá para a estabilidade eco-
nómica dos dois países e da região,
impulsionando as trocas comer-
cias e a exportação de minérios
para a Europa, Ásia e América.
Augusto da Silva Tomás, minis-
tro dos Transportes do Governo de
João Lourenço, frisou que esta é
uma oportunidade para tornar
Angola mais forte e competitiva,
no contexto da região SADC, e ala-
vancar a diversificação económica.
Ao Expansão, o PCA dos Cami-
nhos-de-Ferro de Benguela, Luís
Teixeira, disse que a “rota inter-
nacional” poderá aumentar si-
gnificativamente as receitas da
empresa pública, podendo im-
pulsionar novos investimentos.
Nelson Sul
A linha beneficiará
as regiões afectas
ao Corredor do
Lobito e facilitará
a integração na
região da SADC
D.R.
Desde 1990, o Japão apoiou o País com 4,8 milhões USD em 16 projectos
MOXICO, UÍGE E BENGUELA
Japão financia com
940 mil USD projectos
de desminagem
O Governo
do Japão volta
a financiar projectos
de desminagem
e educação nas
províncias do Moxico,
Uíge e Benguela.
O Governo do Japão concedeu
um financiamento de 940 mil
USD para projectos de desmina-
gem e educação, no âmbito do
Programa de Assistência aos Pro-
jectos Comunitários (APC) no
País. Os acordos de cooperação
foram assinados, esta semana,
pelo embaixador do Japão em
Angola com as diversas organiza-
ções não-governamentais (ONG)
que vão executar os projectos.
Um dos acordos envolve a
ONG Mines Advisory Group
(MAG), que vai dispor de 650
mil USD para executar um pro-
jecto de desminagem na pro-
víncia do Moxico.
A ONG Ajuda Popular da No-
ruega (APN) vai receber um fi-
nanciamento de 200 mil USD
também para um projecto de
desminagem na província do Uí-
ge, enquanto a Associação para o
Apoio ao Desenvolvimento Co-
munitário (AADC) terá 90 mil
USD para a construção de qua-
tro salas de aula numa escola
primária da Kalossonga, na pro-
víncia de Benguela.
De acordo com Hironori Sa-
wada, o Governo do Japão dá
particular importância e priori-
dade à segurança humana, sa-
lientando que Angola é um País
com enorme capacidade e po-
D.R.
tencialidade para crescer e se
desenvolver em sectores como a
saúde e educação.
Recorde-se que o governo do
Japão doou, no ano passado, 733
mil USD resultado de assistên-
cia aos projectos comunitários
de segurança humana da Em-
baixada do Japão.
O projecto de construção de 4
salas de aula para a escola primá-
ria da Santa Ana na Província de
Benguela, o projecto de introdu-
ção da máquina para tratar as ca-
taratas por meio de cirurgia no
Hospital Geral de Benguela e o
projecto de Desminagem na
Província do Huambo imple-
mentado por ONG’s.
Dos 733 mil USD disponibili-
zados, 82 mil foram direcciona-
dos para o projecto de constru-
ção de 4 salas de aula para a esco-
la primária da Santa Ana na Pro-
víncia de Benguela, implemen-
tado pela ONG Saúde, Educação,
Reabilitação da Vida e Infra-es-
trutura Rurais (SERVIR).
Desde 1990, o Japão apoiou
Angola com 4,8 milhões USD em
16 projectos de desminagem, 1,4
milhões USD em 14 projectos no
sector da educação, e um milhão
de USD em nove projectos do
sector da saúde.
Alexandre Lourenço
Os investimentos
fazem parte
do programa
de assistência
aos projectos
Comunitário
do País
PUB
14 EXPANSÃO | 9 de Março 2018

MUNDO

D.R.
A contestação interna sobe de tom. O conselheiro económico de Donald Trump demitiu-se; os congressistas republicanos pedem ao Presidente que recue

FMI ALERTA PARA CONSEQUÊNCIAS NO CRESCIMENTO DA ECONOMIA MUNDIAL

UE responde com imposição de

taxas à “guerra do aço” de Trump
A “guerra do aço” do Presidente Trump, que visa a China, está a ser alvo de forte contestação externa
e interna. A indústria do aço e do alumínio americana adverte para os efeitos negativos da decisão, que pode
pôr em causa 6,5 milhões de emprego no país. A Europa vai responder com taxas às importações dos EUA.

Isabel Costa Bordalo
O Presidente dos EUA, Donald
Trump, está cada vez mais isola-
do na “guerra do aço” que lançou
há uma semana, quando anun-
ciou a intenção de impor uma
tarifa geral de 10% a todas as im-
portações de alumínio e outra
de 25% às importações de aço
para apoiar os produtores nor-
te-americanos e aumentar o nú-
mero de postos de trabalho. De-
pois da demissão do seu princi-
pal conselheiro económico,
Gary Cohn, mais de 100 con-
gressistas republicanos pedi-
ram a Trump que reconsidere a
ideia de taxar as importações de
aço e alumínio para evitar con-
sequências negativas para a
economia dos Estados Unidos.
Os congressistas alegam, em
carta, que aqueles impostos tor-
nam os negócios norte-ameri-
canos menos competitivos e os
consumidores mais pobres, re-
forçando as queixas já feitas pe-
las indústrias do aço e do alumí-
nio. Também os economistas
norte-americanos alertam que
a imposição de tarifas, para pro-
teger 140 mil empregos, arrisca
prejudicar 6,5 milhões de outros
postos de trabalho em vários
sectores. O aumento do preço do
aço, alegam, vai prejudicar as in-
dústrias que usam este produto,
como fabricantes de automóveis
e aviões ou fornecedores de ma-
teriais de construção.
Trump justifica a decisão com
o aumento da produção externa,
especialmente chinesa, que le-
vou à diminuição dos preços.
O movimento internacional
de contestação ao aumento de
tarifas é cada vez maior, englo-
bando vários países, o Fundo
Monetário Internacional (FMI)
e organizações transnacionais,
como a União Europeia e a Orga-
nização Mundial do Comércio.
A China, principal alvo do
anúncio de Donald Trump, reagiu
no domingo. Zhang Yesui, porta-
-voz da Assembleia Nacional Po-
pular, afirmou que o seu país “não
ficará de braços cruzados” peran-
te as ameaças dos EUA e “tomará
as medidas que se impõem”.
A Aluminum Association, or-
ganização dos EUA que repre-
senta 114 empresas do sector,
endereçou uma carta a Donald
Trump, quarta-feira, a alertar
para os efeitos negativos da im-
posição de tarifas alfandegárias .
E propôs medidas centradas na
China e que não prejudiquem
parceiros como o Canadá ou a
União Europeia.
Na quinta-feira, um porta-voz
da Casa Branca admitiu que o
Presidente venha a isentar o Mé-
xico e o Canadá do pagamento de
impostos sobre as importações
“As guerras
comerciais são más
e fáceis de perder”,
adverte o presidente
do Conselho
Europeu
de alumínio e de aço. Sarah San-
ders referiu-se ainda à possibi-
liadade estender a isenção a “ou-
tros países”, mas não fez qual-
quer referência à União Euro-
peia, que tem vindo a reagir à
medida com alertas a Trump.
“O Presidente Trump disse re-
centemente, e cito, que as guerras
comerciais são boas e fáceis de ga-
nhar mas a verdade é o contrário:
as guerras comerciais são más e
fáceis de perder”, afirmou Donald
Tusk, presidente do Conselho
Europeu, órgão que reúne os che-
fes de Estado e de Governo da UE.
Tusk deixou claro que a inten-
ção de Trump é o prenúncio de
“uma guerra comercial entre os
EUA e o resto do mundo”. E
ameaçou retaliar com a aplica-
ção de taxas sobre as importa-
ções de manteiga de amendoim,
sumo de laranja e ‘bourbon’. A
lista provisória está a ser discuti-
da e poderá incluir ainda “pro-
dutos de aço, industriais e agrí-
colas”, acrescentou a comissária
europeia para o Comércio, Cecí-
lia Malmstrom.
A directora geral do FMI,
Christine Lagarde, advertiu
para as consequências de uma
“guerra comercial” no cresci-
mento económico mundial. “Se
o comércio internacional for
posto em causa por este tipo de
medidas pode gerar uma quebra
de crescimento e uma redução
de intercâmbios seriam desani-
madores”, frisou.

O MUNDO NUMA PÁGINA
CABO VERDE | Novo terminal do
aeroporto da Praia duplica capacidade
O novo terminal do aeroporto da Cidade da Praia, que en-
trou em funcionamento do domingo, vai aumentar a ca-
pacidade de processamento de passageiros de 700 para
1.100 por hora, segundo a empresa Aeroportos e Segu-
rança Aérea (ASA). O projecto integra-se nas obras de
ampliação e modernização do aeroporto Nelson Mande-
le, que irão permitir duplicar a capacidade de acolhimen-
to de passageiros dos actuais 500 mil para um milhão até
2035. Além da extensão do terminal de passageiros, as
obras incluem a remodelação do terminal de cargas e a
extensão da plataforma de estacionamento de aerona-
ves do aeroporto, inaugurado em 2005. As obras, orça-
das em 29 milhões EUR, sofreram um acréscimo de 35%.
BRASIL
BRASIL | Supremo autoriza que sigilo
bancário a Temer seja levantado
Pela primeira vez na história do país, um Presidente em
exercício vai ver o sigilo bancário levantado. O Supremo
Tribunal autorizou o levantamento do segredo bancário a
Michel Temer, no âmbito de um caso de alegada fraude
num decreto sobre o sector portuário. O Presidente infor-
mou que irá solicitar ao Banco Central os extractos das
suas contas, entre 2013 e 2017. O processo tem por base
um decreto aprovado por Temer, que alterou a lei dos
portos e beneficiou a empresa Rodrimar, alegadamente,
em troca de subornos pagos ao partido Movimento De-
mocrático Brasileiro (MDB), liderado pelo Chefe de Esta-
do. A investigação foi iniciada em Setembro de 2017, a pe-
dido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
GUINÉ BISSAU | Um milhão EUR
para substituir carvão por gás butano
Financiado pela União Europeia, a União das Cidades Ca-
pitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e a Fundação Galp
assinaram sexta-feira um protocolo para levar o gás buta-
no aos bairros pobres da cidade de Bissau. O projecto, or-
çado em um milhão EUR, permite dotar 25.400 casas
com gás butano, a partir do dia 1 de Abril. O programa,
que envolve também à Câmara Municipla de Bissau, é um
“incentivo à substituição do carvão, que tem efeitos ne-
fastos para o ambiente e a saúde, por uma energia limpa”,
explicou o secretário-geral da UCCLA, Vítor Ramalho. Na
Guiné-Bissau, a lenha representa 75% da energia mais
procurada, seguida do carvão, 14%. Os produtos petrolí-
feros representam apenas 10% e a electricidade 1%.
CABO
VERDE EGIPTO
GUINÉ
BISSAU
MOÇAMBIQUE
ÁFRICA
DO SUL
ÁFRICA DO SUL | Venda de dívida
no mercado islâmico supera oferta
A venda de títulos da dívida em mercados islâmicos, para
responder a um buraco no orçamento superior a quatro
mil milhões USD, saldou-se pela grande procura com os
investidores a pedirem quatro vezes mais do que o ofere-
cido. Segundo a Bloomberg, o país está a considerar a
emissão de um rand denominado Sukuk, no ano fiscal
que começa a 1 de Abril, depois de se tornar, em 2014, no
primeiro país africano a emitir dívida soberana compatí-
vel com a Shariah. O rand Sukuk deve estabelecer uma re-
ferência para explorar as potencialidades deste mercado,
de acordo com o chefe do Tesouro Nacional, Tshepiso
Moahloli. “Existe um interesse forte, particularmente dos
gerentes de activos e de bancos islâmicos”, frisou.
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 15
Infografia: Expansão
EGIPTO | Fundo soberano para gerir
empresas estatais em discussão
O ministro das Empresas Públicas egípcio, Khaled Bada-
wi, anunciou, numa conferência no Dubai, que o governo
está a estudar a criação de um fundo soberano para gerir
a riqueza produzida pelas empresas públicas. A ideia do
fundo, segundo a Reuters, ainda está a ser discutida in-
ternamente, estando numa fase embrionária. Este anún-
cio ocorre numa altura em que o governo prepara a ven-
da de acções de oito a 10 empresas, numa operação na
Bolsa de Valores, em ambiente favorável ao investimento
estrangeiro. Com a venda de participações, que deverá
ocorrer nos próximos 18 meses, o executivo espera anga-
riar entre 2 mil milhões a três mil milhões USD, anunciou
o ministro das Finanças, Amr El-Garhy.
MOÇAMBIQUE | Australiana Syrah
explora grafite no norte do país
A companhia australiana Syrah assinou um acordo de mi-
neração com o Governo de Moçambique para a explora-
ção de grafite em Balama, no norte do país. A aplicação
do acordo, assinado pelo ministro dos Recursos Minerais
e Energia, Max Tonela, e a Twigg Exploration and Mining,
subsidiária da Syrah, está dependente da aprovação do
Tribunal Administrativo. A Syrah espera produzir este
ano, na mina que ficou concluída a 1 de Janeiro, entre 160
a 180 mil toneladas de grafite destinado sobretudo a fa-
bricantes de baterias, nomeadamente as que são usadas
nos carros eléctricos. A empresa australiana já explora
grafite na província do Cabo Delgado, vendendo a pro-
dução para a Europa, China, EUA, Índia e Brasil.
16 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
GRANDE ENTREVISTA
ANDREA MORENO PERITA JUDICIAL EM DELITOS ECONÓMICOS
“Qual é o controlo para
garantir que é repatriado
só o que foi expatriado?”
A perita judicial em delitos económicos, adverte para as consequências de uma má
lei do repatriamento. Defende que, além de abrir a porta ao branqueamento
de capitais, pode ser injusta para os empresários cumpridores.
Isabel Costa Bordalo (texto)
e Lídia Onde (fotos)
Como acompanha a discussão
sobre a lei de repatriamento
dos capitais?
A questão do repatriamento está
a ser tratada como a solução para
todos os problemas de Angola.
Eu não sei a que nível de análise
foi feita a comparação com o es-
trangeiro. Nenhum dos regimes
no estrangeiro teve um impacto
significativo em comparação
com a repercussão negativa que
essas leis tiveram.
Em Portugal, houve efeitos
positivos no repatriamento...
Em Espanha, por exemplo, foi
feita uma amnistia fiscal, em
2012, com uma tarifa única de
10%, que foi declarada inconsti-
tucional em 2017, porque a tri-
butação é uma obrigação funda-
mental constitucional. Toda
essa questão tem de ser muito
bem analisada antes de ser posta
em prática. Quando analisamos
as leis de repatriamento, temos
de ver qual a realidade desses
países. Temos de ver que capitais
são esses. Uma coisa é falarmos
de um capital sobre o qual não se
pagou impostos, outra é a sua
origem, se é lícita, ilícita, se foi
fruto de corrupção ou de lava-
gem de dinheiro. Uma lei dessas
pode abrir muitas portas. Qual-
quer pessoa se pode aproveitar.
A proposta de lei exclui resi-
dentes condenados judicial-
mente ou que estejam na con-
dição de indiciadas pela prá-
tica de crimes relacionados
com os recursos ilicitamente
detidos ou repatriados...
Essa é a única condicionante, o
que abre muitas possibilidades.
Vamos supor que eu, Andrea,
sou cidadã angolana e vou repa-
triar capitais. De repente, está-
-se a abrir uma porta para que
um cartel próximo de mim diga:
“Vamos mandar dinheiro para
Angola”. Qual é o controlo que
há para garantir que será repa-
triado só o que foi expatriado.
Tanto que uma das preocupa-
ções em todas as amnistias fis-
cais é saber a origem do dinhei-
ro, porque se abre uma porta
para a lavagem de dinheiro. Se
não houve controlo à saída, tam-
bém não vai haver na entrada.
É uma questão que não foi
acautelada?
Não nesta fase preliminar. Essa
é uma das questões que o GAFI
(Grupo de Acção Financeira
contra a Lavagem de Dinheiro)
terá em conta. É o órgão interna-
cional que emite recomenda-
ções aos bancos centrais para
manter o controlo sobre o bran-
queamento de capitais e o finan-
ciamento ao terrorismo. Angola
esteve debaixo de vigilância do
GAFI até 2016, justamente por
causa do branqueamento de ca-
pitais por falta de controlo. Por-
tanto, se houve uma observação
por causa da saída de capitais, lo-
gicamente vai haver uma obser-
vação para a entrada desses ca-
pitais. Acredito que vai haver
uma aproximação do Governo e
do GAFI neste processo.
“Estima-se que,
só em 2012,
saíram de Angola
ilicitamente
4 mil milhões USD.
A lei podia retroagir
até essa data”
Não reconhece esta proposta
como uma lei de repatria-
mento de capitais?
Ela não é uma lei para o repatria-
mento de capitais, mas uma am-
nistia fiscal com base na legisla-
ção, porque está atada ao prazo
de cumprimento das liquida-
ções dos impostos. Se fosse uma
lei para repatriamento de capi-
tais não estaria limitada a um
prazo específico de cinco anos.
Estima-se que, só em 2012, saí-
ram de Angola ilicitamente 4 mil
milhões USD. Portanto, a lei po-
dia retroagir até essa data.
O que a proposta devia conter
para ser uma lei de repatria-
mento?
Teria de excluir essa temporali-
dade do exercício fiscal; seria o
direito de liquidação de impos-
tos; teria de haver um levanta-
mento desses valores para saber
quanto se estima repatriar; não
seria um repatriamento volun-
tário, mas coercivo, aí sim seria
obrigatório fazer a repatriação.
Que mecanismos Angola tem
para um repatriamento coer-
civo bem-sucedido, nomeada-
mente para saber que valores
são esses e onde é que estão?
O BNA e o Ministério das Finan-
ças devem ter conhecimento des-
ses valores, a não ser que esse di-
nheiro tenha saído em malas. O di-
nheiro vai para fora de quatro for-
mas: sob facturação entre empre-
sas; pego numa mala e levo; crio
uma empresa fantasma e utilizo
sociedades offshore, para fazer
facturas fantasma; e uma quarta
forma é fazer uma expatriação le-
gítima dos valores. Em todas estas
formas, são cometidos delitos fis-
cais. A lei não devia contemplar a
regularização fiscal sem que esses
valores viessem para Angola.
Para ser abrangido pela lei
tem de haver repatriamento.
A proposta de lei considera o
pressuposto do repatriamento
cumprido se esses valores não
poderem ser repatriados por
questões administrativas ou le-
gais. Isso dá um pé à má-fé. Se es-
tivermos perante entidades
bancárias menos éticas ou loca-
lizadas em países com legisla-
ções opacas, pode abrir-se uma
janela para uma regularização
fiscal sem repatriamento.
Nesse caso, o que fazer?
Aí deve haver repatriamento
coercivo. Mas nesse caso já é
uma acção entre Estados, não é
uma acção voluntária entre ban-
co e cliente. A mensagem que se
está a passar com esta lei é que
não importa de onde saíram os
fundos, eles serão sempre am-
nistiados. Não pode ser assim.
Uma coisa é a amnistia fiscal, ou-
tra é a origem dos valores, isso já
é um crime à parte que não cabe
numa amnistia total.
A proposta de lei põe tudo no
mesmo saco?
Sim, é um erro. Lança a suspeita
sobre todos. Pela experiência in-
ternacional, faz-se uma separa-
ção. Por exemplo, houve um repa-
triamento de capitais no Brasil e
fez-se a separação. Tudo o que fos-
se ilícito não estava contemplado.
Quem tem dinheiro lá fora de
origem lícita tem estímulos,
com esta lei, para o repatria-
mento?
Claro. Se o único crime é a eva-
são fiscal, excelente. Tenho aqui
dólares que levei a um câmbio de
100, vou trazer a um câmbio de
208 e ainda sou perdoado, por
evasão fiscal, nos últimos cinco
anos. É injusto para os restantes
empresários. Eu não sei como é
que as associações empresariais
não se manifestam, porque vai
ter um impacto nos empresários
locais muito grande. Não have-
ria se houvesse um direcciona-
mento do investimento.
Surpreende-a que os empre-
sários, através das suas asso-
ciações, não se tenham pro-
nunciado?
As associações são muito fracas
ainda, tirando a AIA que é muito
activa e responde bem às neces-
sidades das indústrias. Estranho
que as associações ainda não te-
nham feito comentários. A fun-
ção da associação é trabalhar em
benefício dos seus associados.
Não é criticar uma lei depois de
promulgada. Os presidentes das
associações são pessoas muito
bem relacionadas e com capaci-
dade de influenciar e dizer que
esta lei vai afectar negativamen-
te o grupo de empresas que re-
presentam. Essa é a sua obriga-
ção e não estão a cumpri-la.
Qual seria a tributação justa?
Seria o que tinham de pagar, de
acordo com o delito cometido.
Podia excluir-se a multa, mas o “A mensagem
pagamento do imposto devia
ser realizado. que se está a passar
com esta lei
No caso da proposta do Minis- é que não importa
tério das Finanças, que foi de onde saíram
preterida pela do Banco Na-
cional de Angola, era pedida os fundos, eles
uma tributação única de 15%, serão amnistiados”
a taxa mais alta em vigor.

Essa lei devia partir do Ministé-
rio das Finanças, porque é uma
lei fiscal. Quem tem competên-
cia para analisar qual a necessi-
dade fiscal e de tributação é o
Ministério das Finanças, não é o
Banco Nacional de Angola.
O processo está invertido?
Eu acredito que sim. O próprio
Ministério das Finanças deve ter
“Quem tem competência
para analisar qual a
necessidade fiscal
e de tributação
é o Ministério
das Finanças,
não é o BNA”
perguntado porquê 0%. O Min- numa lei, quando parte de um ór-
Fin certamente fez um estudo so- gão que não tem a tutela, pode ser
bre a receita a arrecadar. A pro- declarado inconstitucional. Em
posta de lei sai de um órgão que Espanha, foram feitas 35 mil de-
não tem capacidade de tutela clarações voluntárias, o Estado
para isso. O BNA, segundo o Arti- arrecadou menos de metade do
go 100 da Constituição, tem com- que queria, mas a lei foi revogada
petência de supervisão bancária por inconstitucionalidade, cinco
e cambial. A parte fiscal é tutela anos depois. Como o Ministério
do Ministério das Finanças. Até da Fazenda já tinha os dados,
que ponto, ao ser convertido houve pessoas que foram para a
cadeia por delitos fiscais. Portan-
to, temos de analisar muito bem
tudo o que está ao redor de uma
lei, desde o momento em que ela
nasce. Ninguém duvida da capa-
cidade do Presidente da Repúbli-
ca para sancionar ou propor leis,
como ninguém duvidava da capa-
cidade do parlamento espanhol.
Há duas propostas em análise
na Assembleia Nacional: A da
UNITA pede uma tributação
de 45%, e a do Executivo pre-
vê isenção fiscal. O que deve
ser feito na especialidade?
Eu gostaria que se ouvissem os
bancos e os compliance officers,
porque quem vai ter de lidar com
a operacionalidade da lei vai ser
o sistema bancário e deveria ha-
ver uma percepção maior das
consequências. Que não seja
uma lei política, mas prática.
“Os defraudadores
têm muito poder
e influência, tem de
se colocar medidas
para operar dentro
do compliance”
O BNA participou na elabora-
ção da proposta de lei.
Sim, mas os compliances officers
dos bancos deveriam ter sido ou-
vidos porque é uma reintrodu-
ção de capitais no sistema ban-
cário, que afecta o compliance de
todos os bancos. Os defraudado-
res são pessoas com muito poder
e influência, então, tem de se co-
locar medidas para que essas
pessoas operem dentro do com-
pliance. A proposta de lei tam-
bém prevê que quando o dinhei-
ro estiver de volta a Angola a
operativa bancária será normal.
Essas pessoas devem ter uma
restrição, por exemplo, na reti-
rada do dinheiro do País, é o mí-
nimo. Eu não vou trazer o di-
nheiro de volta e levar para o es-
trangeiro outra vez.
Nesse caso, seria mesmo lava-
gem de dinheiro.
Aí seria passar na máquina de la-
var 10 vezes. Tem de haver con-
dicionantes na operativa bancá-
ria e nos produtos bancários que
podem contratar. Se você traz o
dinheiro é para que invista cá,
não em fundos de pensões, por-
que isso não gera economia. Ou
então coloca esse dinheiro à dis-
posição do Fundo Soberano. Se
as pessoas não querem tocar
nesse dinheiro, que ele sirva de
garantia para financiamento de
projectos em Angola, nomeada-
mente do OGE, que ainda não
têm financiamento assegurado.
Reverter o dinheiro para um
fundo gerido pelo Estado se-
ria, na prática, um confisco?
Não. É um serviço de garantia
para financiamentos, que fizesse
parte de uma garantia soberana.
Caberia aos economistas ver qual
a forma mais adequada de lhe dar
rentabilidade. O Estado tem de
ser beneficiado de alguma forma.
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 17
“SÓ HÁ UM ANO
A SONANGOL
TEM GABINETE
DE ÉTICA E
COMPLIANCE”
Vai realizar-se em Maio o 1.º
Congresso dos Profissionais
de Compliance em Angola,
que coincide com a criação
da World Compliance Asso-
ciation - Capítulo Angoka.
Qual a importância desta
associação em Angola?
Primeiro, temos de ter um
ponto de encontro entre os
profissionais.
Quantos são?
Cerca de 400. O compliance
existe na banca e existe a fi-
gura do compliance officer,
regulada pelo BNA. O BNA
lançou um instrutivo, o nú-
mero 2/2018, a dizer que
deve haver compliance nas
instituições e os bancos que
não tiverem não podem par-
ticipar no regime cambial.
Além dos bancos?
Existem nas empresas es-
trangeiras, por causa da le-
gislação dos seus países de
origem. Há necessidade de
uma estrutura de análise de
risco dentro das empresas,
porque um risco que hoje
não se mede é o risco repu-
tacional e, quando uma em-
presa perde a reputação, é
muito difícil manter-se no
mercado.
Como está o compliance
nas empresas privadas?
Muito pouco.
E no público?
Ainda existe menos. Só na
banca, porque é obrigatório.
Nos seguros, porque tam-
bém é obrigatório, está a
desenvolver-se. No sector
público não se houve falar
muito no compliance. Imagi-
ne que a Sonangol, a maior
empresa estatal, criou um
gabinete de ética só no ano
passado, com compliance
officer. Até então não existia.
Foi a administração de Isa-
bel dos Santos?
Sim. Está a ser um esforço
muito grande convencer as
empresas que compliance é
importante. O compliance é
uma estrutura de controlo in-
terno. Quando existe, o im-
pacto na sociedade e nas es-
truturas é muito positivo.
Acredito que, nos próximos
dois ou três anos, vamos ter
aqui entre 2.000 a 2.500
compliance officer.
Serão suficientes para co-
brir as necessidades?
Não.
Qual é o número ideal?
Ter um compliance officer em
cada empresa. O compliance
tem de ser entendido como
uma questão irreversível.
Não é moda, é uma necessi-
dade empresarial e estatal.
18 EXPANSÃO | 9 de Março 2018

GRANDE ENTREVISTA ANDREA MORENO

“É uma ilusão pensar que o Governo

não sabe quem praticou evasão fiscal”
Quem é que beneficia com a
actual lei?
Só quem tirou o dinheiro de An- “O governo pode
gola. O governo, com sorte, co-
meça a verificar benefícios a par- notificar as pessoas
tir do próximo exercício fiscal,
em 2019, se forem feitos real-
[porque sabe quem
mente investimentos, que gerem
emprego e que beneficiem a so-
são], dando um
ciedade. Quem sai a perder? To- prazo de 180 dias
dos os empresários que traba-
lham honestamente e o fisco. para trazerem
Há empresários que se quei- o dinheiro”
xam dessa concorrência des-
leal.
Sim e quem traz o dinheiro ainda
pode recorrer a benefícios da Lei
de Investimento Privado vigente.
Não se pode punir o empresaria-
do nacional, que paga os seus im-
postos, que está a aguentar a crise
cambial. Quando essas pessoas
mandaram dinheiro para fora, o
dólar estava a 100 kz e vão recebê-
-lo, sem pagar impostos, a 208.
Isso vai prejudicar o empresário,
pequeno e médio, que contribui
fielmente com os seus impostos,
porque naturalmente vão ser
criadas corporações que o vão en-
golir. Vão ter uma capacidade de
financiamento muito maior.
Qual é o investimento que hoje
rende, durante cinco anos, 100%?

É premiar a evasão fiscal?

Sim e crimes mais complexos. O
governo, para fazer justiça, deve-
ria dizer “você vai receber esse
dinheiro, porque é titular desses
valores, porém à taxa de câmbio
original e essa diferença cambial
reverte para o Estado”. Quando
se fez esse tipo de amnistia fiscal,
em países europeus, o problema
cambial não existia. Aqui existe e
enfrentamos uma queda no câm-
bio vertiginosa, desde 2015.

A lei surge num contexto errado?

Esta amnistia devia ser concedi-
da quando a crise cambial esti-
vesse solucionada ou, então, que
se acautelassem os mecanismos
para que não houvesse um bene-
fício em cima de um delito.
O que Angola deve fazer antes
de avançar para esta lei?
Devia fazer um estudo do cus-
to/benefício. Quanto é que se
prevê repatriar. Eu já ouvi falar
em valores de 20 mil milhões
USD, 60 mil milhões, 600 mil
milhões USD. Depois, quantifi-
car quanto vai voltar e qual o be-
nefício fiscal, considerando os
possíveis investimentos e em-
pregos que irá gerar. Se o gover-
no quer tirar partido dessa am-
nistia fiscal tem de redirecionar
os investimentos e impor em
que campos deve ser investido e
em que províncias.
Admite a existência de per-
dão fiscal?
Se o Governo quer gerar liqui-
dez com o regresso dos capitais,
a forma imediata é através dos
impostos.
“Quem sai a perder?
Todos os empresários
que trabalham
honestamente e
pagam os impostos”
O confisco é uma solução?
É uma solução radical. O gover-
no tem identificadas suficiente-
mente bem as pessoas que fize-
ram evasão fiscal para chegar a
um acordo, sem conhecimento
público. Pode notificar as pes-
soas, dando um prazo de 180 dias
para trazerem o dinheiro.
Portanto, há mecanismos
para agir e repatriar o dinhei-
ro, sem ser necessário apro-
var uma lei?
É uma ilusão pensar que o go-
verno não sabe quem praticou
evasão fiscal. O Governo de An-
gola tem os mecanismos, tem a
legislação, tem um sistema fis-
cal bastante bem estruturado
para saber o que saiu licita-
mente e o que saiu ilicitamen-
te. Esta amnistia fiscal é muito
abrangente.
Os mecanismos para seguir o
rasto ao dinheiro nem sempre
são eficazes.
Não são, porque o sistema ban-
cário não o torna eficaz. As nor-
mas são para todos, porém, al-
guns bancos ainda facilitam,
acredito que hoje em dia já não
tanto, porque há uma maior
pressão internacional. Os gran-
des defraudadores não são as
pessoas normais, são as politica-
mente expostas, com grande ca-
pacidade de movimentação,
muito bem relacionadas. Cultu-
ralmente, Angola ainda não é
madura o suficiente para garan-
tir uma transparência financei-
ra bancária, está-se a tornar ago-
ra, por pressão internacional e
por trabalho interno.
Aí entra o compliance?
Sim. Comply é cumprir. Essa
pressão é muito nova. Só rece-
bemos pressão de verdade,
quando Angola perdeu os cor-
respondentes financeiros.
Porque é que só forçámos o
seu cumprimento quando se
acabaram os dólares. Nin-
guém cumpria. Não se fazia di-
ligência reforçada. A própria
lei de branqueamento, nas
considerações, nem sequer
considerava as pessoas nacio-
nais politicamente expostas.
Só os estrangeiros eram pes-
soas politicamente expostas.
A lei tinha uma fragilidade e
foi muito criticada na época,
porque levantava essas ques-
tões até ao momento em que
os bancos internacionais dis-
seram: “Angola tem de fazer o
cumprimento normativo que
todos os outros bancos cum-
prem, porque está a colocar
muito dinheiro fora do País
por um circuito que não está a
ser controlado”.
PERITA JUDICIAL
EM DELITOS
ECONÓMICOS
Com formação específica
como Perita Judicial em em
Delitos Económicos e Master
em Compliance Officer, An-
drea Moreno realizou a sua
formação em Espanha, tendo
trabalhado em diversos paí-
ses, em especial em Angola,
onde realiza consultoria e for-
mação para diversas empre-
sas, em matéria de Complian-
ce Corporativo e Regulatório,
Prevenção e Branqueamento
de Capitais e Estabelecimen-
to de Programas Anto-Cor-
rupção. Actualmente, está fo-
cada na Implementação da
World Compliance Associa-
tion - Capitulo Angola e na
realização do 1º Congresso de
Profissionais do Compliance
em Angola , em Maio.
PUB
20 EXPANSÃO | 9 de Março 2018

EMPRESAS & MERCADOS

LÍDIA ONDE
Quebra foi sobretudo reflectida na redução dos níveis de importação de produtos refinados, que, de 2016 para 2017, caiu 19%

O NÍVEL MAIS BAIXO DOS ÚLTIMOS CINCO ANOS

Crise afunda consumo

de combustíveis em 2017
A perca de poder de compra em função do aumento dos preços dos produtos contribuiram para a redução
do consumo de combustíveis nos últimos dois anos. Especialistas ouvidos pelo Expansão lembram que muito
do gasóleo é consumido pela indústria, que tem sido bastante afectada pela falta de divisas.

No período em análise, o gasóleo dos que decorreu na semana

Maurício Vieira Dias
O consumo de combustíveis
em Angola baixou 12,9% para
4,4 milhões de Toneladas Mé-
tricas (ME) em 2017, periodo
em que registou o mais baixo
nível de consumo dos últimos
cinco anos,indicam os relató-
rios e contas da Sonangol desde
2013 e os resultados provisó-
rios de 2017 disponibilizados a
semana passada.
De acordo com dados da So-
nangol, 74% dos produtos refi-
nados consumidos em 2017 fo-
ram importados, enquanto
24,6% saíram da Refinaria de
Luanda, que além de gasolina e
gasóleo produz Jet A, Jet B e
querosene, num total de 1,1 mi-
lhões TM. Já a refinaria de Ca-
binda produziu os restantes
1,8%, correspondente a 80 mil
Toneladas Métricas.
A quebra no consumo interno
reduziu a importação de com-
bustíveis que, de 2016 para 2017,
caiu 19%, saindo de quase 4,1 mi-
lhões Toneladas Métricas para
as actuais 3,2 milhões TM.
continua a ser o combustível e
derivado do petróleo mais con-
sumido no País, representando
65% do total consumido em
2017. O consumo de gasóleo so-
freu uma redução de 18% no ano
passado, comparativamente ao
ano anterior, passando de 3,5
milhões de Toneladas Métricas
para os actuais 2,9 milhões.
Já a gasolina, segundo refina-
do mais consumido no País, so-
freu uma pequena redução de
4,4% em 2017, passando para os
pouco mais de um milhão de To-
neladas Métricas contra as 1,1
milhão de TM de 2016. No ano
passado representou 23% do to-
tal consumido (ver gráfico). Du-
rante a apresentação de resulta-
Cerca de 74%
dos refinados
foram importados
e os restantes
saíram das refinarias
de Luanda
e de Cabinda
passada, o presidente do conse- A QUEDA DO CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS
lho de administração da Sonan- Consumo de combustíveis em território nacional, toneladas métricas
gol, Carlos Saturnino, justificou
que a redução do volume de refi-
nados consumidos em 2017, Fonte: Sonangol 6.221.055 Total
comparado aos anos anteriores, Outros
se “deve às dificuldades de aces- 5.440.286
783.423 Gasóleo
so as divisas e à contracção da 5.048.245 5.113.378 Gasolina
procura, face à actual conjuntu- 529.614
1.312.999
ra económica nacional”. 995.541 4.454.692
Especialistas ouvidos pelo Ex- 549.899
pansão corroboram, em parte,
com os argumentos apresenta- 4.187.361
dos por Carlos Saturnino. Desta-
3.525.681
cam, porém, que além da crise é 3.107.466 3.079.981 2.893.334
necessário os relatórios da pe-
trolífera especificarem quais fo-
ram as áreas geográficas de con-
sumo, para se perceber onde
1.047.306 1.250.271 1.058.083 1.011.459
houve mais ou menor consumo. 945.238
Perda de poder de compra 2013 2014 2015 2016 2017
O antigo director de negocia-
ções da Sonangol, Lago de Car-
valho, defende que a quebra no tos nos últimos cinco anos. “ gasóleo), sendo que o sector
consumo nos últimos dois anos Mas é necessário saber em que anda “moribundo em função da
está relacionada com o fim da áreas geográficas o consumo di- crise”. “Os níveis de consumo
subsidiação de combustíveis le- minui”, remata. vão continuar a reduzir, embo-
vada a cargo pelo Executivoem Por seu lado, o engenheiro ra a indústria toda seja susten-
Dezembro de 2016. Lago de Pedro Godinho,lembra que tada por diesel. Basta ver que
Carvalho destaca ainda a perca grande parte do parque indus- quando houve problemas no
do poder de compra dos angola- trial que existe no País funciona abastamento de combustíveis,
nos em função do significativo com energia alterativa por via houve cidades que ficaram às
aumento dos preços dos produ- de grupo geradores (movidos a escuras”, afirma.

TAAG ENTREGA VOOS DOMÉSTIGOS
Futura Angola Expresso
vai cobrar imposto de consumo
nos voos internos
Os preços dos bilhetes de avião para voos internos deverão aumentar
já este ano quando for aplicado o Imposto de Consumo, conforme prevê
o OGE 2018. Grupo técnico do MinFin prepara implementação do imposto.
Mirene da Cruz
A TAAG vai liderar um consór-
cio com empresas privadas a
quem vai entregar os voos do-
mésticos, numa altura em que o
Governo tem em curso a imple-
mentação do imposto de consu-
mo nos bilhetes de passagem dos
transportes aéreos para percur-
sos a serem realizados em terri-
tório nacional.
O Orçamento Geral do Esta-
do 2018 entrou em vigor a 1 de
Março e, de acordo com a alínea
f, do ponto 2 do artigo 16.º, fica o
Presidente autorizado a “sujei-
tar ao Imposto de Consumo a
emissão de bilhetes de passa-
gem dos transportes aéreos e
marítimos, para percursos a se-
rem realizados integralmente
no território nacional”.
De acordo com uma fonte da
Administração Geral Tributária
(AGT), apesar de ainda não estar
estabelecida uma data para o iní-
cio da cobrança, o valor do impos-
to deverá ser reflectido no preço
final ao consumidor, à semelhan-
ça do que já acontece com os voos
internacionais. “Está ainda por
definir a taxa do imposto para
este serviço”, refere a AGT.
Fonte do Ministério das Fi-
nanças adiantou ao Expansão
que esta alteração em matéria
fiscal está a ser preparada por
uma equipa do MinFin, que terá
a sua primeira reunião apenas
no final do mês. Assim, a empre-
sa público-privada que vai ‘her-
Ministério dos Transportes diz que aeronaves da TAAG não são adequadas para voos domésticos
dar’ os voos domésticos que ain-
da estão a ser operados pela
TAAG irá ter que reflectir este
imposto no preço dos bilhetes.
O Ministério dos Transpor-
tes admite que “está em curso”
um processo “híbrido” em que,
“sob liderança da TAAG será
constituída uma sociedade co-
mercial no modelo típico de
uma perceria público-privada”
que irá comercializar a vertente
comercial de voos domésticos
da TAAG. O ministério adianta
que as aeronaves actualmente
utilizadas pela companhia aé-
rea apresentam “custos opera-
cionais muito elevados”, pois
são aeronaves de maior dimen-
são, cerca de 120 lugares, mais
vocacionadas para “voos de mé-
dio curso”, entre duas a quatro
horas. Está, assim, previsto que
a nova sociedade público-pri-
vada deverá utilizar “aeronaves
mais pequenas (até 70 lugares)
e mais económicas do ponto de
vista operacional”.
“O Executivo julga que uma so-
lução híbrida, conjugando a expe-
riencia da TAAG com a injecção
de capital privado para alavancar
Apesar de não estar
estabelecida uma
data para o início
da cobrança, o valor
deverá ser reflectido
no preço final,
diz a fonte
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 21
PUB
OS NÚMEROS
DAS AERONAVES
120
É o número de lugares que
as aeronaves da TAAG têm
70
É o número de lugares das
aeronaves da futura empresa
o negócio e transmitir outro rigor
e outra disciplina, características
próprias deste sector bastante
importante em qualquer econo-
mia, pode ser a melhor solução
neste contexto específico”, refere
a nota do Ministério.
Apesar de o Expansão ter soli-
citado o nome da futura empresa
– que entretanto já foi tornado
público e que deverá chamar An-
gola Expresso – o Ministério dos
Transportes não respondeu.
Desde o inicio da desvalori-
zação cambial efectuada no
País, em Janeiro, tem havido
protestos a contestar o aumen-
to de preços dos voos pratica-
dos pela TAAG. Em Fevereiro, a
empresa reduziu o preço do bi-
lhete dos voos domésticos, com
uma taxa que varia entre os
10% e 20%.
O Expansão solicitou esclare-
cimentos à TAAG, mas não obte-
ve resposta até ao fecho de edição.
CÉSAR MAGALHÃES
22 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
EMPRESAS & MERCADOS
A entrada em funcionamento da mina do Luaxe, este mês, pode contribuir para o aumento das receitas no sector
DIAMANTES
Receitas fiscais com diamantes sobem
5% para 14,7 mil milhões Kz em 2017
Angola vendeu mais de 9,4 milhões de quilates de diamantes, no ano passado, 33 mil quilates a mais
que em 2016. Endiama apresentou a investidores várias minas para explorar nas Lundas que,
de acordo com a Reuters, terão pertencido a Isabel dos Santos e cujas licenças terminaram.
Martins Chambassuco
As receitas fiscais com a venda
de diamantes aumentaram 5%
para 14,7 mil milhões Kz em
2017, face ao ano anterior, o
equivalente a 69 milhões USD,
beneficiando do aumento de
produção no País.
A informação resulta de dados
do Ministério das Finanças so-
bre a arrecadação de receitas fis-
cais diamantíferas entre Janeiro
e Dezembro de 2017, que indi-
cam que Angola vendeu em 12
meses 9,4 milhões de quilates,
que renderam 14,7 mil milhões
Kz em receitas fiscais, como Im-
posto Industrial e royalties( di-
reitos de exploração mineira)
pagos pelas empresas que ope-
VENDAS DISPARAM E PREÇOS DESCEM…
Preço médio por quilate e volume de vendas anual
Milhões de quilates
142
134
8.362
8.122
8.330
117
2010 2011 2012
ram no sector. posto industrial, contra os 4,6
Em termos globais, os dia- mil milhões Kz de 2016 e os di-
mantes angolanos representa- reitos de exploração (royalties)
ram vendas de 1,1 mil milhões renderam ao fisco mais de 9,6
USD em 2017, período em que mil milhões Kz, no ano passado.
Angola chegou a exportar cada É preciso recuar a 2012 para
quilate a um preço médio de encontrar um ano em que o sec-
117,23 USD. Em Novembro, os tor dos diamantes rendeu tanto
preços atingiram o pico, quando em receitas fiscais. Nesse ano,
cada quilate custou 138,6 USD. Angola arrecadou mais de 18 mil
O sector mineiro pagou um to- milhões Kz em receitas fiscais e
tal de 5,0 mil milhões Kz em im- as vendas representaram 1,1 mil
milhões USD, num volume total
de 8,3 milhões de quilates.
O País vendeu mais de 33 mil
quilates de diamantes, no ano,
Ganga Júnior reuniu- passado, comparativamente a
2016, quando o volume de dia-
-se com investidores mantes se situou nos 9,1 milhões
na África do Sul e de quilates.
apresentou as minas Os dados do Ministério das
Finanças revelam uma subida
cujas licenças do gráfico com as vendas desde
já expiraram Outubro último, quando tomou
posse o novo conselho de admi-
… MAS CAPTAÇÃO DE IMPOSTOS AUMENTOU
Valores arrecadados em impostos, milhões Kz
243 18.918
Preço USD Total 9.438
9.107 4.187
14.974
8.663 9.014
8.599 4.461
117 10.966
147 9.939
136 4.355
116 3.251 14.731
10.513
6.688 6.611
2013 2014 2015 2016 2017 2010 2011 2012
nistração da Endiama, agora li-
derada pelo economista Ngan-
ga Júnior.
De acordo com a agência noti-
ciosa Reuters, o presidente da
Endiama ofereceu a investido-
res licenças de exploração que
pertenceram a Isabel dos San-
tos, com a agência a remeter esta
informação para um vídeo de
uma reunião à porta fechada que
decorreu na cidade do Cabo, na
África do Sul, em Fevereiro.
Ganga Júnior terá afirmado que
as licenças expiraram e agora es-
tavam disponíveis para novos
parceiros de exploração.
Durante a apresentação do
PCA da Endiama, um slide
mostrava as minas cujas licen-
ças estariam disponíveis: Ca-
mafuca-Camazambo, Mulepe,
Sangamina, Chiri e Tchiegi, to-
das localizadas na Lunda Norte
e Lunda Sul.
Imposto Industrial Royalty
13.992 14.700
10.179
8.116
8.667
4.524
5.198
5.655 5.876
3.469
2013 2014 2015 2016
BREVES
BNA PROMOVE SEMANA
GLOBAL DO DINHEIRO
DE 12 A 18 DESTE MÊS
O Banco Nacional de Angola
(BNA) promove, de 12 a 18
deste mês, em Luanda,
no âmbito do seu programa
de educação financeira,
“A Semana Global do Dinheiro”,
em parceria com a “Global
Money Week”. A actividade
é uma iniciativa de carácter
mundial, promovida pela
organização holandesa “Child
& Youth Finance International”
(CYFi). Com o tema “Dinheiro
importa sim!”, crianças e jovens
terão acesso livre ao espaço,
aberto das 9h00 às 17h00,
onde se realizarão actividades
profissionais e lúdicas para lhes
proporcionar a oportunidade
ARQUIVO | EXPANSÃO
de exercerem o papel
de pequenos empreendedores
e de receberem conselhos
sobre gestão financeira.
ANGOLANOS NA FEIRA
INTERNACIONAL DO
TURISMO DE BERLIM
Angola participa, a partir
desta quarta-feira, na Feira
Internacional do Turismo
de Berlim, que decorre até
dia 11 deste mês. A delegação
angolana à exposição está
a ser chefiada pela ministra
da Hotelaria e Turismo, Ângela
Bragança, que durante a sua
estada deverá cumprir uma
vasta agenda de trabalho,
com participação em reunião
dos ministros africanos da Rota
da Seda, de fóruns, além
dos vários encontros
com entidades de fomento
ao turismo e homólogos dos
diferentes estados Alemães.
ANGOLA ENCOMENDA
TRÊS AVIÕES AIRBUS C-
-295 POR QUASE 160 M€
O País vai gastar quase 160
milhões de euros na aquisição
de três aviões de transporte
militar Airbus C-295. Em causa
está um despacho assinado
pelo Presidente angolano,
João Lourenço, autorizando
a empresa pública Simportex,
em representação da República
de Angola, a celebrar o contrato
com a empresa Airbus Defence
and Space. O contrato envolve
a aquisição de três aviões
do tipo C-295, um avião
bimotor turbo hélice que se
fabrica em Espanha, pelo valor
global de 159.900.000 euros
BNA RETIROU 14% DO
DINHEIRO A CIRCULAR
EM NOTA FÍSICA
Angola retirou, em Janeiro,
14% do dinheiro que tinha
Total
em circulação física, face
a dezembro, equivalente
a menos 73.396 milhões Kz.
9.629 Segundo dados preliminares
do último relatório sobre a Base
Monetária Ampla do BNA, em
5.071
janeiro estavam em circulação
física no país 454.154 milhões
2017 Kz, contra os 527.550 milhões
Kz do final de dezembro.
Fonte: AGT
 9 de Março 2018 | EXPANSÃO 23

ASSUNTO ESTÁ A SER RESOLVIDO

MinFin diz que foi o BNA que transferiu dinheiro

dos juros dos Eurobonds para a conta errada
Analistas desvalorizam ‘engano’ por ainda tará com o apoio do Goldman
estar dentro do período de carência. Ministério Sachs, do Deutsche Bank e do
ICBC, estaria prevista para o mês
das Finanças está a trabalhar para recuperar de Fevereiro. Caso a emissão de
o dinheiro e pagar ao veículo sedeado na Holanda. Eurobonds fosse efectuada na
quinta-feira, os yields a pagar se-
riam de 7,413%, bem abaixo dos
9,50% da emissão de 2015.
ros mas que o Executivo estava “Como estava dentro do pe-
Joaquim José Reis “a resolver a situação”. ríodo de carência, a maior parte
De acordo com a fonte do Min- dos investidores não encarou ‘o
Fin, este ministério autorizou o engano’ e consequente atraso
Banco Nacional de Angola a como um grande problema e pa-
efectuar a transferência antes rece ter ignorado a questão. Os

Angola transferiu por engano o
pagamento de juros de um em-
préstimo titulado com venci-
mento em 2019 semelhante a
um Eurobond para a conta erra-
da no mês passado, confirmou
ao Expansão uma fonte do Mi-
nistério das Finanças (MinFin).
A verba era destinada a um veí-
culo sedeado na Holanda, o
Northern Lights III BV, mas aca-
bou noutra conta domiciliada no
Deutsch Bank.
A Reuters noticiou esta sema-
na que alguns investidores de-
monstraram preocupações com
o atraso no pagamento destes ju-
do tempo limite, e que foi o ban-
co central que “se enganou na
conta”. No entanto, garante, que
este ‘engano’ não se irá traduzir
em “atraso ou incumprimento”,
uma vez que existe um período
de carência, de 30 dias, para o pa-
gamento a deste vínculo.
Fontes de fundos de investi-
mento internacionais admitiram
ao Expansão que este atraso no
pagamento não deverá ter im-
pacto nos yields angolanos, numa
altura em que se está a preparar
uma nova emissão de Eurobonds,
títulos de dívida emitidos por um
país num país estrangeiro numa
ADJALI PAULO
Deutsch Bank está no consórcio que vai emitir Eurobonds angolanos
moeda diferente deste país. A
Esta é a segunda emissão em preparação, no valor
de 2.000 milhões USD, servirá
vez no espaço para “melhorar a composição do
de cinco meses stock de dívida externa” do país,
que há problemas refere despacho assinado pelo
Presidente João Lourenço, de 5
com pagamentos de Março. O ministro das Finan-
ças, autorizado neste despacho a
concluir a operação, anunciou há
três semanas que a segunda
emissão de Eurobonds, que con-
investidores estão mais focados
em saber os planos do Governo
para manter as suas reformas e
como irá cobrir o seu financia-
mento nos próximos anos”, dis-
se uma das fontes.
Esta é a segunda vez no espaço
de cinco meses que há proble-
mas com a dívida externa ango-
lana. Em Novembro do ano pas-
sado, Angola fez um pagamento
de última hora ao Brasil para evi-
tar entrar em incumprimento
com o serviço da linha de crédito
brasileira da ordem dos 54 mi-
lhões USD”, confirmou uma
fonte do MinFin.

PUB

Consigo. Com certeza.

Sawde | Tranqwilidade | Segwrança

Descubra todos os seguros Bonws em: www.bonws.co.ao
24 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
EMPRESAS & MERCADOS
“CAMPEÕES” DAS DIVISAS
BFA, BIC e Caixa Angola ficaram com 37,5%
dos 200 milhões de euros vendidos pelo BNA
Banco de Poupança e Crédito (BPC) não tem as
contas em dia mas continua a participar nos leilões
RANKING DAS DIVISAS
Divisas vendidas aos bancos no leilão nº12 de 06 de Março, milhões de euros
do banco central. Cada euro já custa 264,719 Kz
depois de valorização de 0,9% esta semana. BIC
BFA
BCGA
BPC
BMA
dito (BPC), o campeão dos atrasos BAI
Maurício Vieira Dias na publicação de contas, recebeu SBA
FNB
19,6 milhões de euros e o Banco BNI
Millennium Atlântico (BMA), BCH
BCI
com 18 milhões de euros comple- BCS
tam o top cinco dos que mais com- VTB
BCA
O Banco de Fomento Angola praram (ver gráfico). BVB
(BFA), o Banco Internacional de De acordo com o BNA, os YETU
BPT 1,2
Crédito (BIC) e o Banco Caixa montantes vendidos esta sema- BPG 1,1
Geral Angola (BCGA) ficaram na têm como destino a importa- BIR 0,7
BMF
com 75 milhões de euros dos ção de matérias-primas, bens de 0,6
200 milhões comercializados equipamento, peças e acessó-
pelo Banco Nacional de Angola rios, telecomunicações, paga-
(BNA) no leilão de divisas de dia mento de resseguros e material
6 de Março. De acordo com a lis- de construção. importação
tagem a que o Expansão teve O leilão contou com a participa-
acesso, cada um destes bancos ção de 20 dos 29 bancos autoriza- de matérias-primas
arrebatou 25 milhões de euros. dos a operar no mercado. Na ses- e bens de
Feitas as contas, os três bancos são desta semana, foi apurada a equipamento, entre
comerciais compraram o equiva- taxa de câmbio média ponderada
lente a 37,5% dos 200 milhões de de 264,719 Kz por euro, represen- os contemplados
euros leiloados pelo banco cen- tando um aumento de 0,916% com divisas
tral. O Banco de Poupança e Cré- face à taxa que estava em vigor.
taram a ser aplicadas, pela sexta
vez, as regras anunciadas no final
de Janeiro pelo governador do
BNA, José de Lima Massano. Na
25,0
ocasião foi definido que as ofer-
25,0 tas dos bancos não podiam exce-
25,0 der em 2% a taxa de câmbio em
19,6
18,0
vigor antes do leilão.
14,7
11,3
Venda directa de 90 milhões
10,0
10,0 USD na semana passada
7,2 O leilão de 6 de Março seguiu-se a
7,1
6,5 uma venda directa de divisas
6,1 avaliadas em 90,1 milhões USD,
4,6
4,0
na sexta feira, 2 de Março, para
2,0 cobertura de operações de em-
presas prestadoras de serviço ao
sector petrolífero, à taxa de câm-
bio de 213,361 Kz por dólar.
Participaram da referida
venda 16 bancos comerciais.
A listagem obtida pelo Expan- Para a selecção foram excluídas
são é enviada exclusivamente operações de empresas presta-
aos bancos comerciais. O envio doras de serviços gerais; que
deste tipo de informação teve efectuam pagamentos a si mes-
início com o leilão de 23 de Janei- mas; pagamento de serviços de
ro, na sequência de uma reunião consultoria e de seguros; paga-
entre o banco central e os bancos mentos de bens alimentares; e
comerciais a operar em Angola pagamentos a favor de entida-
realizada a 19 de Janeiro. No lei- des em jurisdições classifica-
lão de divisas desta semana vol- das como offshore.
PUB
 9 de Março 2018 | EXPANSÃO 25

USD USD PETRÓLEO LUIBOR MERCADOS ACCIONISTAS VARIAÇÃO ÚLTIMO ANO

BNA ‘KINGUILAS’ BRENT OVERNIGHT Índice (País) 08-03-2018 1 Semana Início Ano Mínimo Máximo

AMÉRICAS

213,26 KZ 420 KZ 63,71 USD 20,06% Dow Jones Industrial Avg. (EUA)
S&P 500 (EUA)
24.801,36
2.726,80
-0,91%
0,48%
0,33%
1,99%
20.379,55
2.322,25
26.616,71
2.872,87
Nasdaq (EUA) 7.396,65 1,70% 7,15% 5.769,39 7.505,77
NYSE Composite (EUA) 12.707,01 0,43% -0,79% 11.324,50 13.637,02

-0,75% 0% -0,19% Ibovespa (Brasil) 85.483,55 0,15% 11,89% 60.314,70 88.317,83

04 PB EUROPA
Euro Stoxx 50 (Europa) 3.377,70 -0,63% -3,60% 3.306,66 3.708,82
FTSE 100 (Reino Unido) 7.156,34 -0,27% -6,91% 7.062,13 7.792,56
Dados de 02 a 08 de Março de 2018; Taxas câmbio médias USD; Setas indicam variações na semana, em % ou pontos base (pb). DAX (Alemanha) 12.191,79 0,01% -5,62% 11.830,98 13.596,89
PSI 20 (Portugal) 5.373,62 -0,05% -0,27% 4.569,07 5.793,38
IBEX 35 (Espanha) 9.593,10 -1,49% -4,49% 9.494,50 11.184,40

SEMANA DE 02 A 08 DE MARÇO DE 2018 CAC (França) 5.199,48 -1,20% -2,13% 4.933,77 5.567,03
SMI (Suíça) 8.799,81 0,08% -6,20% 8.491,61 9.616,38

Trump agita mercados

ÁSIA
Nikkei 225 (Japão) 21.368,07 -1,64% -6,14% 18.224,68 24.129,34
Topix (Japão) 1.709,95 -1,74% -5,92% 1.452,15 1.911,31
Hang Seng (Hong Kong) 9.306,83 -0,84% 4,17% 6.882,00 10.300,06
Shangai All Share (China) 3.444,17 0,45% -0,56% 3.158,88 3.757,20
Tarifas à importação de alumínio e aço nos EUA levou vários países CSI 300 (China) 4.077,60 0,70% 1,16% 3.312,89 4.403,34
a ameaçar com retaliações. Medidas proteccionistas arriscam ter ÁFRICA
um impacto negativo na economia mundial. FTSE/JSE All Share (África do Sul) 59.183,24 2,18% -0,54% 50.737,28 61.776,68
EGX 30 (Egipto) 16.459,44 6,58% 9,59% 12.345,33 16.493,03
Botswana Gaborone Domestic Index (Botswana) 8.684,53 -0,08% -1,98% 8.684,53 9.378,59
Nairobi SE All Share (Quénia) 182,16 0,09% 6,40% 119,62 182,16

principal conselheiro econó- pouco o seu discurso nos dias Nigerian Stock Exchange All Share Index (Nigéria) 42.905,71 0,15% 12,19% 24.877,20 45.321,82
Tiago Dionísio* mico de Donald Trump devido seguintes. Contudo, só os pró- Ghana Stock Exchange (Gana) 3.287,63 -1,49% 27,44% 1.862,93 3.353,80

ao seu desacordo com os pla- ximos dias dirão se os EUA Namibia Overall Index (Namibia) 1.443,40 1,05% 11,06% 11,56 1.461,15
Tanzania All Share Index (Tanzânia) 2.325,27 -2,16% -2,96% 403,99 14.153,68
nos do presidente norte-ame- avançam (ou não) com estas
Tunindex (Tunísia) 6.810,85 1,71% 8,42% 5.517,11 6.841,20
ricano de introduzir tarifas à (e/ou outras) medidas protec-
importação de alumínio e aço cionistas que arriscam ter um
VARIAÇÃO ÚLTIMO ANO
A Agência Internacional de no país. A demissão de Gary impacto negativo na economia MATÉRIAS PRIMAS
08-03-2018 1 Semana Início Ano Mínimo Máximo
Energia (AIE) referiu esta se- Cohn, que teve um papel muito mundial e, também, conse-
mana esperar que os EUA ve- relevante na elaboração da ac- quências nos mercados. ENERGIA
nham a dominar o mercado tual reforma fiscal nos EUA e Outro tema a dominar as WTI Crude (US$/barril) 60,32 -1,10% -0,10% 43,42 66,55
mundial de petróleo nos próxi- um defensor de outras políti- atenções dos investidores foi a Brent Crude (US$/barril) 63,71 -0,19% -2,99% 41,86 70,07
mos anos, prevendo que o au- cas que visam relançar o cres- reunião do BCE onde o princi- Gás Natural (US$/MMBtu) 2,78 2,85% 9,42% 2,15 3,53
mento da oferta de crude no país cimento económico no país, le- pal a destacar foi o facto do ban- Gasolina (US$/galão) 1,90 0,32% -2,39% 1,09 2,11
possa vir a satisfazer 80% do vou a uma descida generaliza- co central ter decidido retirar o METAIS PRECIOSOS
crescimento esperado da pro- da das bolsas. seu compromisso de aumentar Ouro (US$/onça) 1.326,20 1,61% 1,13% 1.209,70 1.368,30
cura até 2020 e mais de metade e/ou prolongar o actual progra- Prata (US$/onça) 16,47 1,64% -3,97% 15,41 18,96
desta nova procura até 2023. ma de compra de dívida caso Platina (US$/onça) 950,80 -0,73% 1,38% 876,10 1.034,20
Apesar do sucesso da actual es- Só os próximos seja necessário. Relembre-se OUTROS METAIS
tratégia da OPEP em reduzir a que este programa prevê a com-
sua produção para tentar ree- dias dirão se Trum pra de dívida num montante de
Cobre (US$/libra) 307,20 -0,89% -6,92% 252,55 332,20
Alumínio (US$/tonelada) 2.082,50 -2,21% -6,03% 1.833,50 2.236,00
quilibrar o mercado, a AIE acre- avança com medidas 30 mil milhões EUR por mês até Zinco (US$/tonelada) 3.260,50 -5,77% -0,87% 2.330,00 3.590,00
dita que a recuperação do preço proteccionistas final de Setembro. Esta decisão Estanho (US$/tonelada) 21.440,00 -0,86% 7,01% 18.711,00 21.951,00
do crude nos últimos meses tem do BCE foi interpretada como
AGRÍCOLAS
levado a uma nova investida dos um sinal de que a autoridade
Cacau (US$/tonelada) 2.456,00 9,64% 29,81% 1.755,00 2.455,00
produtores americanos e que monetária está agora mais con-
Café (US$/libra) 119,30 -1,45% -5,47% 116,50 157,55
isso possa prejudicar o cartel Por outro lado, as reacções fiante na capacidade da econo-
Açúcar (US$/libra) 13,02 -5,03% -13,55% 12,76 19,41
quando decidir voltar a aumen- internas, nomeadamente de mia da zona euro voltar a gerar
Algodão (US$/libra) 83,65 2,98% 8,23% 60,72 86,41
tar a sua oferta. Segundo a AIE, alguns membros do partido re- inflação. Por outro lado, confor- Milho (US$) 378,50 -0,07% 7,91% 345,50 430,25
isto poderia, inclusive, obrigar a publicano no Congresso, e da me esperado, o BCE decidiu Trigo (US$) 495,25 -2,03% 15,98% 409,75 607,50
OPEP a manter os actuais cor- comunidade internacional não manter as taxas de juro inalte- Soja (US$) 1.051,00 -0,61% 8,55% 945,25 1.080,75
tes na sua produção até 2021 de tardaram a chegar. De facto, radas e reforçou a sua expectati-
modo a evitar um novo período vários países chegaram a va de que as taxas irão permane- VARIAÇÃO ÚLTIMO ANO
prolongado de excesso de oferta ameaçar Trump (e os EUA) cer nos níveis actuais até muito MOEDAS
08-03-2018 1 Semana Início Ano Mínimo Máximo
no mercado mundial. com medidas retaliatórias, o depois do fim do programa de
KWANZA (ANGOLA)
A semana nos mercados fi- que terá motivado o presiden- compra de dívida.
Dólar (EUA) 213,38 -0,06% -21,27% 164,88 214,97
cou marcada pela demissão do te americano a suaviar um * Eaglestone Securities
Euro 263,92 -0,12% -24,55% 174,56 265,95
Libra (Reino Unido) 295,94 0,02% -24,22% 200,94 299,87
Rand (África do Sul) 17,90 0,96% -25,12% 11,39 18,54
YIELDS VARIAÇÃO ÚLTIMO ANO
EUROBONDS AFRICANAS Real (Brazil) 65,71 0,57% -23,76% 48,70 66,52
PAÍS Maturidade Cupão 08-03-2018 1 Semana 1 Mês 1 Ano Início do Ano Mínimo Máximo
METICAL (MOÇAMBIQUE)
Dólar (EUA) 62,32 -0,02% -5,91% 57,57 69,56

Angola 12-11-2025 9,500% 7,413% -0,077% 0,622% -1,734% 0,741% 6,409% 9,368% Euro 77,86 -1,84% -9,61% 65,46 78,13
Libra (Reino Unido) 87,28 -1,66% -8,61% 75,35 87,52
Rep. Democrática do Congo 30-06-2029 4,000% 8,532% 0,108% 0,067% -0,673% 0,547% 7,470% 10,490%
Rand (África do Sul) 5,23 0,18% -9,44% 4,17 5,55
Etiópia 11-12-2024 6,625% 6,609% 0,018% 0,906% -0,804% 1,060% 5,401% 7,771% Real (Brazil) n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Gabão 16-06-2025 6,950% 7,006% 0,058% 0,566% -0,062% 0,869% 5,939% 7,666% RAND (ÁFRICA DO SUL)
Gana 07-08-2023 7,875% 6,194% 0,145% 0,119% -1,989% 0,654% 5,283% 8,834% Dólar (EUA) 11,91 -0,18% 3,94% 11,51 14,57

Costa do Marfim 03-03-2028 6,375% 6,247% 0,078% 0,419% -0,240% 0,767% 5,230% 6,750% Euro 14,74 -1,10% 0,76% 13,38 17,07
Libra (Reino Unido) 16,53 -0,90% 1,15% 15,45 19,15
Quénia 24-06-2024 6,875% 6,346% 0,036% 0,305% -0,638% 0,913% 5,376% 7,313%
Real (Brazil) 3,67 -0,37% 2,19% 3,53 4,48
Moçambique 18-01-2023 10,500% 14,812% 0,080% 0,183% -3,057% -1,426% 14,209% 21,042%
EURO
Namíbia 29-10-2025 5,250% 5,335% 0,100% 0,265% 0,266% 0,457% 4,466% 5,445% Dólar (EUA) 1,24 0,88% 3,08% 1,05 1,26
Nigéria 12-07-2023 6,375% 5,253% 0,056% 0,148% -0,737% 0,285% 4,825% 6,264% Libra (Reino Unido) 0,89 -0,15% -0,41% 0,83 0,93
Franco (Suíça) 1,17 -1,24% 0,02% 1,07 1,18
Ruanda 02-05-2023 6,625% 5,756% -0,029% 0,209% -0,548% 0,286% 5,294% 6,551%
Iene (Japão) 131,28 -0,73% 3,05% 114,85 137,50
Senegal 30-07-2024 6,250% 5,375% -0,003% 0,222% -0,645% 0,843% 4,550% 6,263%
Fonte: Bloomberg e Eaglestone Securities.
Seychelles 01-01-2026 7,000% 7,301% -0,009% -0,013% -0,231% 0,083% 7,072% 7,750%

África do Sul 16-09-2025 5,875% 4,712% -0,004% 0,035% 0,118% 0,344% 4,234% 5,063%
Parceria:
Zâmbia 30-07-2027 8,970% 8,138% 0,186% 0,886% -0,118% 1,265% 6,896% 8,513%

Fonte: Bloomberg
PUB
 9 de Março 2018 | EXPANSÃO 27

GESTÃO

OSMAR EDGAR
DEDICADA
EMPREENDEDORA
Nos momentos mais conturbados do nosso País, a mulher Angolana
participou de forma activa em todas as situações em que a sua presença
foi necessária, tornando-se indispensável.

Mário Beirolas | Consultor

Comemorou-se mais um Dia In-
ternacional da Mulher.
Não se trata apenas de mais
um dia, mas de um dia de refle-
xão e alinhamento de estraté-
gias, que permitam evidenciar o
contributo da mulher, mais con-
cretamente da mulher Angola-
na, nos processos futuros de des-
envolvimento do nosso País,
contribuindo desta forma, atra-
vés da sua maturidade e conhe-
cimento, para o desenvolvimen-
to sustentado e melhoria do bem
estar social e económico.
Este dia é um dia, simultânea-
mente, de homenagem e admi-
ração por todas as mulheres que
quer no passado quer no presen-
te, e logicamente no futuro, con-
tribuem para o reconhecimento
internacional do nosso País.
Ser mulher é hoje cada vez
mais uma honra e simultânea-
mente uma responsabilidade,
cabendo-lhe um papel indiscu-
tível no desenvolvimento hu-
mano, na atenuação dos efei-
tos da pobreza, no equilíbrio
da economia doméstica e agrí-
cola e no seu crescente envol-
vimento nos distintos sectores
de actividade.
A maioria dos estudos inter-
nacionais indicam que as activi-
dades com intervenção da mu-
lher têm um desenvolvimento
mais sustentado e com maior
impacto positivo nas comunida-
des onde se inserem.
É essa sensibilidade humana e
“sentido de dedicação, persis-
tência e sofrimento” que a levam
a partilhar mais as suas emoções
e sentimentos, criando um
maior sentido de solidariedade.
Nesta cadeia de valor, deverá a
mulher,embora sem segrega-
ções, colocar em primeiro lu-
gar a empregabilidade de ou-
tras mulheres, garantindo des-
ta forma um melhor rendi-
mento para as famílias, bem
como fazendo crescer este sen-
tido de comunidade, tão im-
portante para a sua capacita-
ção e afirmação.
Olhando para os números, a
percentagem de mulheres que
CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA »
28 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
GESTÃO
» CONTINUAÇÃO DA PÁGINA ANTERIOR
vivem em zonas rurais, compa-
rativamente às zonas urbanas,
começa a verificar-se um equilí-
brio, o que indica que, nos últi-
mos anos, existiu um elevado
fluxo de mulheres para as cida-
des, na tentativa de melhoria de
qualidade de vida.
Por outro lado, constata-se,
que nas zonas rurais, é a mulher
que assegura a maioria das tare-
fas, nunca abdicando, em cada
momento, da sua responsabili-
dade familiar
Face a toda esta sobrecarga de
responsabilidades, a taxa de
analfabetização das mulheres
continua acentuada, embora re-
gistando-se hoje em dia, nas es-
colas, um equilíbrio entre a pre-
sença de raparigas comparativa-
mente ao número de rapazes, si-
gnificado do surgimento de uma
nova mentalidade educativa, a
partir da qual no futuro se pode-
rá pensar numa afirmação mais
equilibrada da mulher.
Ainda no que respeita à sua
ocupação, a maioria das mulhe-
res que trabalham ou têm activi-
dade empresarial está entre os
30 e os 45 anos, com uma média
de 3 a 6 filhos. Importante consi-
derar que, de alguns estudos
existentes, em agregados fami-
liares chefiados por mulheres o
índice de pobreza é inferior.
Questionadas sobre se a famí-
lia tem interferência negativa na
sua actividade, consideram, na
sua maioria, que face à sua capa-
cidade de gestão do tempo e sen-
tido de orientação conseguem o
equilíbrio, muito embora, na
maioria dos casos sem partilha
de tarefas em casa
Quanto às mulheres que en-
tram na actividade empresarial,
na maioria dos casos fazem-no
com capitais próprios, iniciando
actividade sem acesso ao finan-
ciamento (falamos de micro-em-
presas), bem como e face à di-
mensão do negócio, sem estudos
nem análise de risco, o que leva na
maioria dos casos a dificuldades
de crescimento e sustentação.
A mulher continua assim a en-
frentar um conjunto de factores
críticos, que condicionam a sua
afirmação, como sejam o baixo
nível de qualificações, a falta de
informação e actuação em rede,
o difícil acesso ao crédito ( recor-
rendo na maioria dos casos ao
microcrédito), quase sempre
desajustado das necessidades
reais de investimento.
Um melhor entendimento so-
bre o perfil da mulher Angolana,
leva-nos a considerar que é inteli-
gente e perspicaz, humilde, cora-
josa e dedicada, verdadeira, firme
e decidida, persistente e segura.
São estes atributos que, em
tudo, nos permitem acreditar na
sua afirmação, seja nas zonas ru-
rais, onde o seu papel vai ser es-
“Segundo estudos,
em agregados
familiares chefiados
por mulheres
o índice de pobreza
é inferior”
sencial no processo de cresci-
mento e modernização, seja nas
zonas eminentemente urbanas,
onde a sua afirmação se torna
mais difícil, pelo elevado índice
de competitividade, já não falan-
do pela forte pressão exercida
pelo “homem dominador”.
Mas, se quisermos perceber
como poderá a mulher desen-
volver uma maior presença e in-
tervenção nesta sociedade, onde
há espaço para todos, basta dei-
xar a sugestão para que utilize de
forma inteligente e persuasiva
os seus pontos fortes:
■ Capacidade de integração
(eliminando as barreiras e com-
plexos);
■ Persistência e iniciativa útil
e realista;
■ Procura de apoio em aliados
estratégicos, escolhendo as pes-
soas e os organismos adequados;
■ Formação e educação, a prin-
cipal arma, sabendo aprender
em todos os momentos, aprovei-
tando de forma inteligente as
melhores práticas de outras mu-
lheres a nível internacional, as
mulheres empreendedoras;
■ Utilizando o seu grande factor
de diferenciação, a intuição e ca-
pacidade crítica e de observação;
■ Utilização da era digital,
como canal privilegiado de des-
envolvimento de iniciativas em
rede, aproveitando os canais de
parceria e comunicação;
Um dos exemplos que podemos
utilizar da afirmação da mulher
no nosso País é o desporto, sen-
do já evidente a sua capacidade
de concretização, seja na lide-
rança, seja no sentido ganhador.
Alguns dos condimentos es-
senciais para a afrimação futura
da mulher e aperfeiçoamento do
seu perfil, embora ajustado a
cada perfil psicológico e enqua-
dramento social são:
■ Equilíbrio na relação traba-
lho/vida familiar
■ Actualização, formação,
acesso a informação e tecnologia;
■ Motivação e empreendedo-
rismo;
■ Partilha de boas práticas, su-
peração de obstáculos e controlo
do risco;
■ Visão de futuro, baseada na
esperança e na coragem,
Estes condimentos são essen-
ciais para resistir e integrar este
mundo, onde é preciso saber, sa-
ber fazer e saber ser, de forma in-
teligente e segura.
De qualquer forma, este pro-
cesso de socialização implica as-
sertividade, paciência e intui-
ção, para saber estar com a pes-
soa certa, no momento certo e
com o objectivo certo.
Neste processo de integração,
tem primordial importância a
atitude do homem e os diferen-
tes níveis de relacionamento e
postura, percebendo que a mu-
lher desde sempre foi comple-
mentar do seu crescimento di-
zendo mesmo dedicada e solidá-
ria, nunca concorrente, bastan-
do para tal ver a partilha de pa-
péis no seio da família ( isto
quando ela existe).
Quanto ao perfil do homem e o
seu relacionamento com a mu-
lher, considera-se na maioria
dos casos que o homem é:
■ Intolerante;
■ Crítico e algumas vezes des-
trutivo;
■ Passivo e “manipulador”;
■ Vaidoso e convencido;
■ Rotinado e astuto;
■ Algumas vezes complexado;
■ Fechado à partilha;
Perdoem-me os homens este
“robot”, pois decerto não é para
generalizar, no entanto nele se
consideram os aspectos que
mais dificultam a afirmação da
mulher na sociedade.
Ficarei satisfeito, se me prova-
rem que a maioria dos homens
não tem um pouco de cada um
destes “complexos de afirmação”.
Poderemos então sugerir ao
homem que perceba a impor-
tância da complementaridade
na troca de papéis com a mulher ,
que, no futuro, face aos desafios
do crescimento, é inevitável.
Que o homem utilize esta
complementaridade a seu favor,
ouvindo mais os seus conselhos,
divulgando de forma aberta os
seus projectos e aspirações, dan-
do espaço para a partilha de pa-
LÍDIA ONDE
“É inevitável que os
sistemas financeiros
comecem a perceber
a importância
da mulher no
desenvolvimento”
péis, assumindo as suas fraque-
zas, transformando-as com a sua
ajuda em forças, deixando-lhe a
frente sempre que for oportuno,
formando e ensinando, dando
lugar à criatividade feminina.
Terá o homem que perceber
que a inteligência emocional da
mulher lhe irá permitir sempre e
por necessidade, nos casos em
que não exista este bom senso,
gerar mecanismos de defesa que
acabarão por o isolar.
Mas, sou um fiel defensor da
inteligência partilhada, à seme-
lhança do que hoje acontece com
o desenvolvimento tecnológico
e a gestão da informação.
É inevitável que até os sistemas
financeiros começam a perceber
a importância da mulher no des-
envolvimento social e económico.
Basta ver que a maioria dos
microcréditos no mundo são
atribuídos a mulheres, que cum-
prem escrupulosamente com as
suas obrigações e crescem, apro-
veitando-os de forma miraculo-
sa, cumprindo e honrando os
compromissos e valorizando os
seus talentos.
Será agora importante que
esta realidade do microcrédito
se estenda para além da agricul-
tura, onde tem maior predomi-
nância, e se estenda às restantes
áreas de negócio
A mudança desta realidade
passa assim pela coragem e afir-
mação da mulher como ente so-
cial e político, na procura da sua
verdadeira essência, no eco de
uma voz consistente e coerente
com os seus desafios de inter-
venção numa sociedade justa,
equilibrada e saudável.
A prova desta afirmação é já a
presença da mulher em todos os
domínios da governação angola-
na, bem como dos resultados que
estas alcançam, com a sua inteli-
gência, realismo bom senso e ca-
pacidade empreendedora.
Não tenhamos dúvidas de que
aqui se afirma cada vez mais uma
complementaridade resultante.
Considerámos já a importân-
cia da formação e educação no
desenvolvimento da mulher e na
sua afirmação na sociedade. De
facto, com o actual desenvolvi-
mento social e económico, prin-
cipalmente a educação para a in-
tegração, começa a evidenciar-
-se nas escolas, nos seus níveis
mais básicos, esta tendência de
equilíbrio, bastando observar a
interacção rapaz/rapariga, em
que, na maioria dos casos, são
elas que lideram (cuidado é tam-
bém importante que não se tro-
quem os papéis).
Será esta igualdade de acesso e
orientação para o crescimento
profissional que garantirá tanto
a integração do homem como da
mulher. Diria mais, nas escolas,
os professores têm um papel es-
sencial na educação para a com-
plementaridade de papéis na so-
ciedade, na orientação vocacio-
nal dos alunos e na sua educação
para o respeito pelo outro, seja
homem ou mulher.
De igual modo, é na escola que,
e em conjugação directa com os
pais, se desenvolve a formação
saudável do papel da família e
dos amigos no crescimento pes-
soal e profissional.
Curioso destacar que a alegria,
vivacidade e sentido de inter-
venção das raparigas de hoje evi-
denciam já uma mudança de pa-
radigma, em que a sua afirmação
e irreverência tipificam a sua
força e motivação para vencer
Tão importante como formar
profissionais, é formar seres hu-
manos, moralmente sãos e cons-
cientes do seu papel na socieda-
de, na família e na interacção so-
cial responsável.
Sem me querer fixar a pala-
vras, deixaria uma sugestão para
ambos, homem e mulher, que
nesta complementaridade de pa-
péis garantam a sua segurança e
integridade, criem consistência
na relação, se apoiem na comple-
mentaridade e no diálogo con-
clusivo, com tolerância e enten-
dimento sobre as suas diferenças
naturais, utilizando um tempo
de qualidade, com alegria e en-
trega, sinceridade, lealdade e,
acima de tudo, respeito mútuo.
Assim, e neste equilíbrio, esta-
remos decerto a defender a pre-
sença imprescindível da mulher,
na sociedade, mas mais do que isso
a garantir-lhe o respeito e a admi-
ração que merece, não esquecen-
do o seu papel de mãe, a sua espe-
cial delicadeza, sensibilidade e
ternura, a verdadeira força genuí-
na, alimento da vida familiar.
E já agora que entramos numa
nova semana, sugiro que este Dia
da Mulher seja todos os dias e
que na família como na rua, no
trabalho ou mesmo na política,
exista esta complementaridade,
tornando-nos bons observado-
res e ouvintes da dedicação e em-
preendedorismo das mulheres.
Respeitar a mulher é assegu-
rar o progresso a justiça e a paz.
Mário Beirolas escreve semanalmente
 9 de Março 2018 | EXPANSÃO 29

GESTÃO IMPOSTOS

O EXPLICADOR FISCAL

Gustavo Amaral
Associate Partner da KPMG

TRIBUTAÇÃO
DE CONSÓRCIO EM SEDE
DE IMPOSTO INDUSTRIAL
Em Janeiro de 2017, o consór-
cio externo liderado pela socie-
dade Angolana XPTO, S.A. e do
qual faz igualmente parte a so-
ciedade Angolana ABC, S.A.,
ganhou um concurso público
para a construção da barragem
na província do Cuanza Norte.
Aproximando-se o prazo
para proceder à entrega da
Declaração Modelo 1 de Im-
posto Industrial, os adminis-
tradores das referidas socie-
dades pretendem saber se o
consórcio deverá, também
ele, cumprir com esta obriga-
ção declarativa.
Não, o consórcio externo entre a
XPTO, S.A. e ABC, S.A. não se en-
contra obrigado a proceder à en-
trega da Declaração Modelo 1 de
Imposto Industrial com refe-
rência ao exercício de 2017.
Com efeito, os consórcios são
meros instrumentos contra-
tuais, pelos quais se instituem
formas de exercício individual,
embora concertado, de activi-
dades, não possuindo persona-
lidade jurídica nem, bem as-
sim, personalidade tributária.
Como tal, a tributação dos ren-
dimentos decorrentes da sua
actividade deverá ocorrer ao
nível de cada um dos respecti-
vos membros.
Em face do que antecede, cabe
a cada sociedade membro do
consórcio declarar individual-
mente os rendimentos auferi-
dos, mediante a apresentação
da Declaração Anual de Rendi-
mentos Modelo 1 até ao final do
mês de Maio de 2018.
TAXA DE AMORTIZAÇÃO
ACELERADA
Perante um aumento conside-
rável do volume de encomen-
das registado nos últimos me-
ses, em Janeiro de 2018, a so-
ciedade ABC, Lda. adquiriu
uma nova máquina para o fa-
brico de fio e malha e tecidos
para a indústria têxtil, tendo a
mesma vindo a laborar inin-
terruptamente desde a sua
entrada em funcionamento.
Face ao desgaste que o refe-
rido equipamento tem sofri-
do em resultado da sua utili-
zação intensiva, a Direcção
Financeira da ABC, Lda., pre-
tende saber se o referido
equipamento poderá benefi-
ciar de algum regime especial
de amortização.
Sim, o equipamento em causa po-
derá beneficiar de uma majoração
da taxa de amortização aplicável,
pelo facto de se encontrar em re-
gime de laboração intensiva.
De acordo com a tabela das ta-
xas anuais de reintegrações e
amortizações, anexa ao Decreto
Presidencial n.º 207/15, de 5 de
Novembro, as máquinas e equi-
pamentos para o fabrico de fio de
malha e tecidos para a indústria
têxtil estão sujeitos a uma taxa de
anual de amortização de 12,5%.
Contudo, o Artigo 30.º do Có-
digo do Imposto Industrial esta-
belece que quando os bens do ac-
tivo imobilizado corpóreo se en-
contrem sujeitos a desgaste su-
perior ao que resultaria da sua
utilização normal, em conse-
quência de laboração em mais
do que um turno, poderá ser
aceite como custo fiscal do exer-
cício uma amortização calcula-
da de acordo com o método que
estiver a ser utilizado, acrescido
de 25% se a laboração for de 2
turnos ou de 50%, nos casos em
que a laboração seja contínua.
Em face do que antecede, e
tendo em consideração a labora-
ção contínua do equipamento, a
ABC, Lda. poderá amortizar o
equipamento em questão à taxa
anual de 18,75%.
Parceria:

PUB

ONTEM, HOJE
E AMANHÃ
TRANQUILIDADE.
Connosco, a sua segurança
e a da sua família está garantida.

LIGUE E
CONHEÇA
OS NOSSOS
SEGUROS.
936 197 350/1/2

Telefone Geral: 226 434 510 | E-mail: apoio@tranquilidade.co.ao | Site: www.tranquilidade.co.ao

30 EXPANSÃO | 9 de Março 2018

GESTÃO UNIVERSIDADES

BREVES

FALTA DE MATERIAL
DE APOIO CONDICIONA
ENSINO DAS LÍNGUAS
NACIONAIS
A falta de material de apoio,
como livros, fichas técnicas
e programas curriculares,
está a condicionar o ensino
das línguas nacionais nas
classes iniciais na província
do Cunene. De acordo com
a chefe de departamento
do Ensino Geral, Lúcia Yoleni,
a falta de manuais, tanto
para professores como para
os alunos, além de livros de
informática e de programas
de ensino, tem sido um dos
principais constrangimentos
para a implementação
do ensino das línguas
OshKwanhama e Nhaneca-
-Humbe nas classes iniciais.
Sem precisar o número
de alunos abrangidos,
a responsável realçou
que o ensino das línguas
nacionais teve a sua fase
de implementação em 2007,
e em 2012 de consolidação,
com a implantação das línguas
Oshikwanyama e Nyaneka-

LÍDIA ONDE
-Humbe, nos municípios
do Cuanhama, com 31 salas,
Namacunde e Ombadja, Na Academia de Pescas e Ciências do Mar o aumento de propinas surpreendeu os estudantes. Em Luanda, não houve alterações
com sete salas cada.
Cahama e Cuvelai quatro
salas e duas no Curoca. ENSINO SUPERIOR

Propinas altas obrigam muitos

estudantes a suspender matrícula
Depois de confrontados, no ano passado, com aumentos nas propinas e noutros emolumentos, neste
ano lectivo houve poucas alterações. Muitos alunos vêem-se, contudo, no limite e admitem suspender
a matrícula para evitar dívidas. É que, por mais ginástica que façam, os ordenados não esticam.

ano do curso de Direito da Uni- víncia de Benguela, não vai po-

Alexandre Lourenço
DITO
Apesar das propinas e outros
“Se querermos emolumentos não terem regis-
mudar o nosso país, tado aumento, neste ano lecti-
temos de construir vo, muitos estudantes têm re-
equipas cada vez mais ceio de se verem obrigados a
suspender o ano por incapaci-
multi-geracionais, dade financeira para garantir o
alicerçadas na energia pagamento de propina, apurou
das pessoas e o Expansão numa ronda efec-
tuada por algumas instituições
da mente aberta” de ensino superior.
Victor Hugo Mendes Jonas Conceição, que vai fre-
Jornalista quentar o 1º ano do curso de
Engenharia Informática, na
Universidade Lusíada de An-
“A escola tem por gola, com uma propina de 42
mil kz , receia que não tenha
objectivo promover outra opção a não ser suspen-
o desenvolvimento der a matrícula.
integral dos alunos “Embora a propina não tenha
alterado, o valor que irei pagar,
e os gestores devem por exemplo, iguala o meu salá-
transformar as escolas rio. Nesta condição, sou obriga-
mais eficazes onde do a estudar até onde poder, por-
que, além das propinas, tenho de
os alunos aprendem tratar dos outros emolumentos,
melhor” da compra de materiais e do
Pacheco Francisco transporte”, ilustrou o caloiro.
Director nacional do ensino geral Já Pedro Simão, estudante do 4º
versidade Independente de An-
gola (UNIA), reconheceu que,
no ano passado, não ficou pelo
caminho por ter recebido a aju-
da de parentes.
“Hoje em dia, nas nossas uni-
versidades, há muitas desis-
tências por falta de pagamen-
to, sobretudo nas instituições
privadas. Por isso, muitos pre-
ferem trancar (suspender) o
ano lectivo para evitar dívidas.
Estudar neste País é um acto
de coragem”, realçou o estu-
dante, de 37 anos. No seu caso,
a propina representa um en-
cargo mensal de 27.500 kz, no
presente ano lectivo.
Uma estudante do 2º ano do
curso de contabilidade e admi-
nistração da Universidade Cató-
lica de Angola revelou, sob ano-
nimato, ao Expansão, que tomou
a decisão de anular a matrícula
porque deixou de ter os 37 mil kz
necessários para a propina.
“Apesar de ser um assunto
que provém de longa data, as
propinas cobradas nas univer-
sidades são elevadas. Só nos
resta a opção de encerrar o
ano”, afirmou.
Odeth dos Santos, licenciada
em gestão financeira na Univer-
A despesa com
a propina é a parcela
que representa
mais gastos,
representando
em média 276 mil kz
sidade Independente de Angola,
diz que é com muita tristeza que
recorda o tempo em que perdeu
bons colegas por não consegui-
rem pagar a propina estabeleci-
da pela instituição.
Os estudantes da Academia de
Pescas e Ciências do Mar do Na-
mibe vão começar a pagar, a par-
tir deste ano, propinas no valor
de 15 mil kz, situação que põe em
causa a permanência de muitos
alunos que provêm de várias
províncias.
A decisão surpreendeu os es-
tudantes que estão a pensar de-
sistir porque, segundo alegam,
não foram informados da subida
no momento da matrícula.
João Caluvela, estudante do
curso de administração e gestão
das pescas, proveniente da pro-
der terminar a formação por
falta dinheiro.
“Quando fomos fazer a matrí-
cula, não nos informaram que tí-
nhamos de pagar este valor de
propina. Neste momento, já pa-
gamos o alojamento e alimenta-
ção. Esta decisão complica tudo,
só nos resta desistir”, lamentou.
Pedro Tuca, estudante do cur-
so de Mecânica Naval, indignado
com subida da propina, afirmou
que muitos estudantes irão de-
sistir, pois não havia acordo de
pagamento de propinas.
A Academia de Pescas e Ciên-
cias do Mar do Namibe é a úni-
ca instituição de ensino supe-
rior ligada ao sector das Pescas
no País.
De acordo com o estudo sobre
os Custos e o Financiamento do
Ensino Superior, cada estudante,
em média, gasta 330 mil kz por
ano para frequentar a universida-
de. A propina é a parcela que re-
presenta mais gastos, custando,
em média, 276 mil kz.
O estudo revela também que a
idade mais frequente é dos 22
anos e a média de idade dos estu-
dantes rondam aos 24,5 anos,
sendo que 63% residem com os
pais em habitação alugada.

GESTÃO MARÇO — MÊS DA MULHER EMPREENDEDORA
MICROCRÉDITO A DESFAVORECIDOS
A mulher que transformou vidas
a criar negócios em zonas de conflito
Há mais de duas décadas, Verónica José enfrentou a guerra para ajudar mulheres a desenvolveram pequenos negócios,
tornando-se pioneira na concessão de microcrédito em Angola. Enquanto os homens combatiam,
Verónica distribuía dinheiro e esperança em zonas onde o conflito era mais intenso.
Martins
Chambassuco
Verónica José tem um currículo
invejável que se mistura com um
percurso de activismo social.
Nas últimas duas décadas, trans-
formou a vida de milhares de an-
golanos, desde que decidiu dedi-
car-se a um projecto de microfi-
nanças que deu os primeiros
passos em 1999 e que, nas duas
décadas de existência, já deu mi-
crocrédito a mais de 20.000 pes-
soas, a maioria mulheres.
Licenciada em Contabilidade e
Auditoria, enfrentou a família
para levar pequenos emprésti-
mos ao interior do País, numa al-
tura em que a guerra civil desa-
conselhava viagens. Enquanto
milhões de pessoas fugiam para
Luanda, capital de Angola, por ser
a zona mais segura, Verónica an-
dava pelas províncias a fornecer
‘ferramentas’ de trabalho para
que as mulheres pudessem pôr
comida em casa. Os homens e ra-
pazes engrossavam as fileiras das
forças que se confrontavam. Ve-
rónica comandava um outro exér-
cito. O dos que ajudavam a criar e a
desenvolver negócios, a partir de
pequenas actividades informais.
O percurso de Verónica José
no activismo social começou aos
19 anos. Em 1991, entrou para a
organização não governamental
Development Workshop (DW),
como activista comunitária. Em
1995, a ONG DW decide fazer um
estudo do mercado informal
para entender a posição das mu-
lheres neste sector. O trabalho
tinha como alvo o mercado do
pescado, no Sambizanga, parale-
lo ao Roque Santeiro, um dos
maiores mercados africanos, lo-
calizado no subúrbio de Luanda.
É desenvolvido o programa de
apoio às mulheres no mercado
informal e nasce, assim, o pri-
meiro programa de microcrédi-
to, financiado pela embaixada
francesa. Quinze mulheres par-
ticipam na experiência piloto.
Vencer o cepticismo
“Lembro-me que as pessoas es-
tavam cépticas. Diziam que era
dinheiro perdido, porque as mu-
lheres não iriam reembolsar”,
recorda. A experiência mostrou
o contrário. Entre as vendedoras,
o interesse aumentou e o grupo
de clientes foi alargado, passan-
do de 15 para 60 mulheres.
Com os resultados positivos, a
ONG DW consegue outro finan-
ciamento, desta vez do governo
britânico. Nasce então o Progra-
ma de Subsistência Sustentável
(SLP), com o apoio de três ONG -
GRUPOS SOLIDÁRIOS ASSEGURAM REEMBOLSO
A Kixi Crédito é uma institui- dários, que funcionam em
ção que concede microcré- rede, auxiliando-se uns aos
dito a pessoas que queiram outros, e os individuais”, re-
iniciar ou desenvolver um vela Verónica José.
negócio, mesmo que seja Em termos de compromis-
numa actividade informal, sos, o cliente deve fazer a de-
num montante máximo de volução do dinheiro e ter ca-
um milhão de kwanzas. Os pacidade de desenvolver o
montantes atribuídos e os negócio e melhorar a sua
períodos de reembolso de- vida e a da comunidade.
pendem da capacidade que “Trabalhamos com grupos
os clientes demonstrem na solidários e criamos nas pes-
gestão do negócio. “Temos soas o espírito de entreajuda
dois tipos de clientes, no- e confiança mútua”, explica
meadamente os grupos soli- e exemplifica: “Se for um
a DW, a Care International e a
As comunidades no Save the Children – que apoia fa-
mílias da periferia de Luanda.
Huambo mostraram Em 1999, uma especialista zim-
que sabiam fazer babueana vem dar formação aos
negócio. A taxa de primeiros gestores do programa.
Verónica José é a primeira a rece-
retorno do crédito ber formação em microfinanças.
chegou aos 90% “Foram dias difíceis”, reco-
nhece a activista e empreende-
dora, detentora de uma pós-gra-
duação em Gestão Estratégica de
Recursos Humanos. Não se co-
nhecia as pessoas e o risco estava
sempre presente. Mas é nesta
fase que o projecto deixa o asfalto
da cidade e passa para as zonas
suburbanas da capital. “Deixá-
mos de actuar apenas no Roque
Santeiro e envolvemos mais
mercados informais nas zonas
periurbanas”, diz, orgulhosa.
Enfrentar zonas em guerra
Em finais de 2000, o Programa
de Subsistência Sustentável
LIDIA ONDE
grupo de três interessados
no crédito têm de ter garan-
tia mútua, isto quer dizer que
se um dos membros tiver di-
ficuldades em pagar, os ou-
tros devem reembolsar o di-
nheiro e isso traz união à co-
munidade”.
A instituição tem uma polí-
tica de juros que não ultra-
passa os 4% do valor empres-
tado e não financia negócios
proibidos por lei, como é o
caso das “kinguilas”, ou seja
cambistas de rua.
chega ao Huambo, graças à de-
terminação de Verónica. Mesmo
sabendo que aquela era a zona
mais crítica decide partir para o
Planalto Central, a 600 quiló-
metros de Luanda, ignorando os
conselhos de familiares e ami-
gos. Angola vivia uma guerra in-
tensa. Entre o cepticismo e a
vontade de querer ajudar, aceita
o desafio. Não se intimida e deixa
os dois filhos menores entre-
gues aos cuidados de um irmão e
à cunhada, que viviam em casa
dos seus pais.
“Foi um momento desafiante,
por ser mulher e ir para uma zona
de conflito”, lembra a gestora.
As palavras do pai ressoam-
-lhe na cabeça: que não podia ir
para o Huambo por causa da
guerra, que a cidade estava toda
destruída e sem infra-estrutu-
ras. Avisos repetidos por amigos
que, antes da viagem, lhe liga-
ram a dizer para não ir. Mas Ve-
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 31
rónica estava determinada. Sa-
bia que as pessoas precisavam da
ajuda financeira da Kixi Crédito.
“Foi a maior aventura da minha
vida. Tive de lutar contra a von-
tade de pessoas que me eram
próximas para ir para uma terra
onde a guerra tinha destruído
tudo”, revela. Para a dissuadi-
rem diziam-lhe que, na região
sul do País, as pessoas não ti-
nham cultura de negócios e que
não ia conseguir fazer nada.
Hoje reconhece que foi um pe-
ríodo de grande tensão, mas o
mais importante é que as comu-
nidades no Huambo mostraram
que sabiam fazer negócios e ren-
tabilizar o dinheiro. A taxa de re-
torno chegou aos 90%.
Viveiro de negócios
Três anos depois, Verónica José
regressa a Luanda com uma car-
teira de clientes que ultrapassa
os 15 mil. No regresso do Huam-
bo, é promovida a assistente de
operações de crédito. Deixa de
trabalhar directamente com os
clientes e passa a integrar a ad-
ministração, onde assume, há 10
anos, a gestão dos recursos hu-
manos. A equipa cresce e o nú-
mero de agências também.
Apesar de crescer na institui-
ção, sente saudades dos tempos
em que dava a cara e contactava
as pessoas. “Essa é a minha es-
sência, o meu DNA”, justifica.
Quando olha para trás, Veró-
nica tem consciência que trans-
formar a iniciativa comunitária
em viveiro de negócios foi um
dos maiores desafios da sua vida.
“Em Angola, não havia nenhu-
ma instituição vocacionada para
as microfinanças. Fomos os pri-
meiros a acreditar nas pessoas e
a afirmarmo-nos num mercado
cada vez mais competitivo, com
a entrada de novos operadores a
conceder o microcrédito.
Tudo isto dá-lhe um sentimen-
to de pertença e aguça o espírito
de missão que abraçou quando
há mais de 25 anos se lançou
neste projecto. Já foi tentada a
deixar a Kixi Crédito, mas che-
gou à conclusão que ajudar as
pessoas vale mais do que qual-
quer tipo de remuneração. E
uma certeza tem: em nenhum
outro projecto encontra tanta
satisfação e sentido de dever
cumprido. É o que sente em cada
abraço que recebe quando regres-
sa ao terreno e encontra alguém a
quem ajudou a mudar a vida.
Parceria:
RONALDO MIGUEL PITTA GRÓS

“A falta de planificação é um
dos piores erros dos empreendedores”
Ronaldo Pitra Grós trabalha em comunicação e marketing em empresas das telecomunicações, publicidade, saúde
e energia, desde 2006. Desde então, abraçou o empreendedorismo e, em sociedade, criou duas microempresas, uma
de fabrico e venda de gelados e outra de artes gráficas. Hoje, usa a sua experiência para ajudar outros empreendedores.

Mirene da Cruz

Em que consiste o livro

“Comece o seu negócio
com o pé direito”?
No momento actual da econo-
mia mundial, é muito comum fa-
lar-se sobre empreendedorismo
e sobre a sua importância para o
desenvolvimento de um país. No
entanto, o que não se diz é que o
caminho para se empreender
exige uma série de conhecimen-
tos e disciplinas que, muitas ve-
zes, não estão subentendidas nas
entrelinhas. É necessário alertar
os empreendedores sobre o de-
safio de “empreender”, os crité-
rios obrigatórios para quem quer
sobreviver neste desafio. Muito
mais do que ter vontade de o fa-
zer, é estar capacitado e disponí-
vel para as etapas inerentes ao
processo e paciência para chegar
ao “D”, sem pular o A, B, C de
“Como começar o seu negócio

QUINTILIANO DOS SANTOS

com pé direito”.

Porque lançar um livro

se já tem um portal criado
com orientações sobre
empreendedorismo?
Acredito que com o livro pode-
mos compilar de forma melhor
estruturada o percurso neces-
sário para se criar a “Mentalida-
de Empreendedora” e desen-
volver bons negócios. Com o li-
vro podemos também atingir o
público não tão virado para os
conteúdos digitais e conseguir-
mos ajudar a esclarecer algu-
mas dúvidas e mitos do “bem
empreender”.
O que os leitores
vão encontrar no seu
livro de novo e em que
é que ele se diferencia
do que já existe no mercado?
A abordagem dos temas que
propomos no livro é clara,
numa linguagem simples e de
fácil compreensão. O livro é di-
reccionado a todos os empreen-
dedores e candidatos a em-
preendedores e por este motivo
abordou-se os temas mais co-
muns e com os quais a maioria
certamente se identifica.
Empreender é um caminho
espinhoso?
Empreender pode sim ser um ca-
minho espinhoso, mas devemos
munir-nos das ferramentas neces-
sárias para desbravar esse cami-
nho. Não é um caminho impossí-
vel, é sim um caminho desafiador.
Auxiliar a inovar é o principal
objectivo do portal ABC
Nascido em Luanda,
Ronaldo Miguel Pitta Grós
fez a sua formação
académica entre Luanda,
África do Sul e Portugal.
Formado em Administração
de Empresas, em 2015
juntou-se a outros dois
empreendedores e, juntos,
desenvolveram a plataforma
de consultoria online,
o “ABC do Empreendedor”,
que trabalha em matérias
e ferramentas que ajudam
as pessoas, jovens
em especial, a melhor
empreender. Questionado
sobre novos livros, Ronaldo
disse qu, uma vez queo
trabalho do portal
é contínuo e dinâmico,
continua a pesquisar,
a trabalhar em textos para
ajudar os empreendedores
a ultrapassarem obstáculos
do seu percurso e talvez,
dentro de mais algum
tempo, consiga compilar
mais contributos num novo
livro. Aos 34 anos,
é casado. Nos tempos livres
gosta de estar na Internet,
ir ao cinema e à praia.
Desporto? É apenas um bom
espectador. Gosta de ouvir
R&B e Kizomba. O livro de
cabeceira é “O Terrorista
de Berkeley” e Califórnia
de Pepetela.
Quais são os principais erros
que os empreendedores
cometem?
Não existe uma fórmula ou se-
gredo para se criar um negócio
de sucesso, existem sim alguns
passos que o empreendedor
deve respeitar, principalmente
erros que o empreendedor deve
evitar, como: não pesquisar o su-
ficiente sobre o negócio ou o
mercado em que quer investir; a
falta de planificação (Plano de
Negócios e Estudo de Viabilida-
de); fraco domínio das finanças
da empresa;definir mal os pre-
ços dos produtos ou serviços que
pretende vender. Estes são os
mais comuns e sobre os quais
procuramos melhor direccionar
os empreendedores no livro.
Porque é que em Angola
há uma grande taxa de
mortalidade das empresas,
muitas delas não passam
do primeiro ou do segundo
ano de vida?
A mortalidade precoce da maior
parte das empresas em Angola
deve-se exactamente ao fraco
domínio dos empreendedores e
investidores sobre o mercado em
que apostam. Os empreendedo-
res começam os seus negócios
confiando apenas no próprio
instinto e ignorando as regras e
passos essenciais e indispensá-
veis para quem quer ter sucesso.
A falta de planificação é sem du-
vida um dos piores erros que um
empreendedor pode cometer.
Como olha para o momento
actual da nossa economia?
Este é, sem dúvida, um dos maio-
res desafios que iremos atraves-
sar. Acredito que depois de ultra-
passarmos essa fase nunca mais
seremos os mesmos. A consciên-
cia dos angolanos já está a mudar.
Já estamos mais conscientes de
que não existem facilidades e que
“o caminho faz-se caminhando”.
É com trabalho e dedicação que
conseguimos chegar onde alme-
jamos chegar e reservar para as
gerações futuras uma realidade
melhor que a nossa.
Os empresários angolanos
têm apostado nos negócios
certos?
Tem-se dito que os empresários
angolanos seguem a “moda”.
Uma grande parte não investe
ou aposta nas áreas de domínio e
sim naquelas que são mais sus-
ceptíveis de dar lucro rápido.
Como uma grande parte tem o
Estado como principal cliente,
então as áreas de investimento
estão viradas para aquelas onde
o Estado aposta mais.
 PUB

BFA Exportação

O FOMENTO
À EXPORTAÇÃO
PASSA POR AQUI.

O caminho de Angola passa pela exportação e esta conta com a experiência e solidez do BFA.
Para apoiar as empresas com ambição de exportar, criámos soluções que se adaptam a cada
sector de actividade, agilizam as transacções comerciais com o estrangeiro e garantem
a recepção dos pagamentos. Se o futuro da sua empresa passa pela exportação, passe
primeiro pelo BFA e junte-se a esta locomotiva a puxar pelo País.

Para mais informações dirija-se a um Balcão BFA, consulte www.bfa.ao ou ligue para a Linha
de Atendimento BFA 923 120 120.
34 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
PARCERIA ANGONABEIRA E LNL
Delta Gourmet Experience
testa café na refeição
São quatro menús requintados para degustar a cada
sexta-feira do mês de Março e todos eles têm em comum o café.
Partindo de um ingrediente co-
mum - o café - quatro chefes de
cozinha angolanos vão propor-
cionar uma experiência gastro-
nómica única, todas as sextas-
-feiras de Março.
O Delta Gourmet Experience,
que resulta de uma parceria en-
tre a empresa Angonabeiro e o
portal Luanda Nighlife (LNL)
arrancou, no dia 27 de Fevereiro,
com um jantar na Escola de Ho-
telaria e Restauração de Talato-
na, onde se testaram os palada-
res das refeições que vão ser ofe-
recidas durante este mês.
Os menús foram confecciona-
dos pelos chefes Pedro Rezende
Pereira, do restaurante Kook;
Manuel Escovalo, do restauran-
te La Piazza bu HCTA; Octávio
Neto, do restaurante Café del
Mar; e Hudson Vieira, do restau-
rante Champagneria. O menú de
cada um destes restaurante será
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Robot atende pacientes
e passa receitas
O robot consegue diagnosticar pacientes
e passar receitas, mas por enquanto o seu
veredito tem de ser validado por um médico.
A inteligência artificial está a
testar limites impensáveis. Na
China, um robot dotado com IA
começou a operar num ambula-
tório da província de Anhui, no
leste do país, como médico.
O «Doutor Assistente IA»,
desenvolvido pela empresa
iFlytek consegue diagnosticar
pacientes e passar receitas. Com
um aspecto humanoíde, o robot
opera com base numa base de
degustado a cada sexta-feira. O
KooK foi o primeiro, no dia 2 de
Março, a pó-lo à prova. Esta sex-
ta-feira, 9 de Março, é a vez do La
Piazza by HCTA, seguindo-se,
D.R.
dados, formada pelos diagnósti-
cos e receitas de outros médicos,
armazenada na sua memória.
No ano passado, o «Doutor As-
sistente IA» tornou-se no pri-
meiro do mundo a passar os exa-
mes para obter a licença para
exercer medicina. Mesmo as-
sim, os seus diagnósticos terão
de ser validados numa fase ini-
cial por um médico.
I.C.B.
no dia 16 de Março, o Café Del
Mar, e no dia 23 de Março, o
Champagneria.
Durante esta iniciativa, o pú-
blico poderá votar directamente
LISTA DA FORBES
Jeff Bezos destrona Bill
Gates e é o mais rico
O fundador da Amazon deixa para trás Bill
Gates e lidera a lista dos mais ricos, com uma
fortuna avaliada em 112 mil milhões USD.
Jezz Bezos, fundador e presi-
dente do gigante do comércio
eléctrico Amazon lidera a lista
da Forbes dos mais ricos, es-
treando-se no topo com uma
inédita avaliação de 12 algaris-
mos, e destrona Bill Gates, da
Microsoft, que liderou a lista 18
vezes nos últimos 24 anos.
Bezzos, que no ano passado es-
tava em terceiro lugar, tem uma
fortuna avaliada em 112 mil mi-
lhões USD, depois de registar ga-
nhos de 39.200 milhões USD, e
deixa Bill Gates para trás, com
AGENDA CULTURAL
EVENTO
FESTA
PUBSHOT
JET 7 NO
TEO RESORT
DJ’s Renato Xtrova, Afro Pupo,
Nosde, O’Magas, Zola Moreno e
KO preenchem o cartaz do even-
to, em Cabo Ledo.
09 de Março
D.R.
no portal LNL no seu Chef&Res- CONCERTO
taurante preferidos e elegerá,
assim, o vencedor da primeira
edição do Delta Gourmet.
Isabel Costa Bordalo
SANDRA
JAZZ
CORDEIRO
NO KUBICO
O concerto de Sandra Cordeiro
no Kubico Fusion conta com a
participação de DJ Set e Ruca
Moreira.
90 mil milhões USD, e Warren
Buffet, com uma fortuna avalia-
da em 84 mil milhões USD. 09 de Março
Em quarto lugar está um fran-
cês, Bernard Arnault, com 72 mil
milhões USD, e Mark Zucker-
berg, fundador do Facebook, ESPECTÁCULO
ocupa o quinto lugar, com 71 mil
milhões USD, após uma valori-
zação de 15 mil milhões USD.
O top 7 fecha, com o espanhol
Amancio Ortega, da Zara, e o
mexicano Carlos Slim, nos sexto
e sétimo lugares.
I.C.B.
AO VIVO
GILLIARD
NA CASA
DA MÚSICA
O espectáculo, na Casa da Músi-
ca, tem como convidado Eucli-
des da Lomba. Um dia antes, ac-
tua no restaurante o Sabor.
10 de Março
D.R.

MOTORES
Hyundai mostra novo Santa Fe
A Hyundai não esperou pelo Salão Automóvel de Genebra para mostrar um dos seus campeões de venda
a nível mundial. A 4.ª geração do Santa Fe está recheada de novidades quer no exterior, quer no interior.
Victor Jorge
Era um dos modelos mais aguar-
dados do construtor sul-corea-
no e esperava-se que seria des-
vendado somente no Salão Au-
tomóvel de Genebra. Contudo, a
Hyundai decidiu antecipar-se e
mostrou o seu Santa Fe, que che-
gará ao mercado mundial no fi-
nal de 2018 ou início de 2019.
De Sport a XL
A primeira novidade deste San-
ta Fe é o facto de o construtor
deixar cair o nome Santa Fe
Sport que será denominado, a
partir de agora, somente Santa
Fe. A versão com carroçaria
mais comprida adoptará, se-
gundo o construtor, a denomi-
nação Santa Fe XL, cuja divulga-
ção só será feita para o ano.
A frente do novo Santa Fe des-
taca-se pela assinatura da Hyun-
dai com a grelha em cascata e um
designer compósito do jogo de
luzes, com as luzes diurnas LED
posicionadas por cima dos faróis
LED principais.
DRIVE ANGOLA É O NOVO IMPORTADOR NACIONAL DA VW
A Drive Angola é o novo im-
portador oficial da VW Pas-
sageiros, reforçando, assim, a
sua oferta e portfólio do
construtor alemão no merca-
do angolano.
Para reforçar esta aposta da
Drive Angola no mercado na-
cional, a empresa apresentou
o novo VW Polo Sedan Highli-
ne, com motor de 1.600 de ci-
lindrada e 105 cv.
De perfil, as linhas dinâmicas
do Santa Fe percorrem este SUV
desde dos faróis dianteiros até às
luzes traseiras, destacando-se as
jantes de 19 polegadas.
Com 4,77 metros de compri-
mento (mais sete centímetros
que o modelo anterior), e uma
distância entre eixos de 2,76 me-
tros, este “crescimento” traduz-
-se num habitáculo de maiores
dimensões e, assim, mais espaço
disponível para os passageiros.
Para mover este Santa Fe, a
Hyundai equipou este novo mo-
delo com três motorizações
(duas a gasolina e uma a diesel).
No campo das propostas a gaso-
lina, o Santa Fe terá motores de
quatro cilindros de 2.0 e 2.4 li-
tros. No primeiro caso, trata-se
Uma das
novidades
deste novo
Santa Fe
é que deixa cair
a denominação
Sport
Ao nível do equipamento,
este novo Polo Sedan Highli-
ne vem equipado com airbags
dianteiros e laterais, ISOFIX
para assentos infantis e fecha-
duras à prova de crianças nas
portas traseiras, Programa
Electrónico de Estabilidade
(ESP) e sistema de ABS com
Distribuição Electrónica da
Força de Travagem (EBD), en-
tre outros.
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 35
HYUNDAI SANTA FE 2.0T
FICHA TÉCNICA
MOTOR: Theta II 2.0 T-GDI
Twin-turbo
CILINDRADA: 1.998 cc
POTÊNCIA COMBINADA:235 cv
às 6.000 rpm
FOTOS | CEDIDAS PELA MARCA
260 Nm às 1.450-3.500 rpm
BINÁRIO:
TRANSMISSÃO:Automática de 8 vel.
ACELERAÇÃO (0 A 100 KM): N.D.
VELOCIDADE MÁXIMA (KM/H): N.D.
cia tridimensional que propor-
ciona uma sensação de abertura
e melhora a luz natural.
O condutor verá, igualmente,
melhorias ao nível do sistema
audio/visual/navegação que
adopta uma posição mais incli-
nada, de forma a reduzir o bri-
lho. As janelas do Santa Fe tam-
bém possuem um novo de-
signer e as pegas das portas fo-
ram movidas para a frente para
que os passageiros tenham
de um motor turbo que debitará mais espaço para os braços, en-
232 cv, enquanto o motor de 2.0 quanto as bolsas das portas di-
litros terá 185 cv. Já a motoriza- minuíram de dimensão para
ção diesel será um 2.2 litros maior espaço para as pernas.
CRDI turbo-diesel com 200 cv, Na consola central, os supor-
sendo que todos os motores te- tes para os copos foram reposi-
rão acoplados caixas automáti- cionados para facilidade de uso.
cas de oito velocidades. Além disso, a altura e o compri-
mento do apoio de braços cen-
Mais e melhor conforto tral também foram aumentados.
O designer interior do Santa Fe A chegada do novo Santa Fe às
combinará qualidade com um estradas ainda está no segredo
layout horizontal e espaçoso, dos deuses, embora se saiba que
além de contar com uma visibili- os Estados Unidos da América
dade aprimorada. O painel de deverão ser o primeiro mercado
instrumentos tem uma aparên- a recebê-lo no Verão de 2018.
36 EXPANSÃO | 9 de Março 2018

OPINIÃO
CARTAS DO LEITOR NOME DO TEMA DO COLUNISTA

Quer opinar, criticar, elogiar ou simplesmente desabafar

sobre um tema da actualidade económica nacional
ou internacional? Escreva ao Director do Expansão para:
redaccao@expansao.co.ao ou Avenida Lénine, n.º 72,
3.º andar — Edifício Domo Business Center, Ingombota,
Luanda, indicando nome, profissão e local de residência.
Por questões de espaço, o Expansão reserva-se o direito
de resumir as cartas seleccionadas para publicação.
José Severino
Presidente da AIA

Porque os angolanos “Até que enfim, havia muito

insistem em aplicar teatro disfarçado de política
fundos lá fora?
“Porque a taxas são fixas e a
moeda estável? Porque a in-
de desenvolvimento”.
Hitchica William
Facebook
Sobre a proposta de Lei
flação não come o juro ou até
mesmo o capital? Porque não Editorial: “Doutores
do Investimento Privado
há instabilidade política com da mulha russa”
reflexo económico? Porque “Em pleno acordo. Essa é a Três anos depois das sucessivas
nem os dirigentes acreditam leitura correcta, mas é bom reclamações da Associação
no seu próprio país? Porque deixar claro que em parte é Industrial de Angola (AIA), eis
todo o investimento que se porque a educação tornou-se que temos agora um projecto
faça ou se fez nos últimos 40 um negócio muito rentável de Lei que corresponde às
anos não teve garantia para em Angola”. nossas expectativas: elimina
aqueles que realmente inves- Romeo Neto o garrote sobre o investimento
tiram e continuam todos os Facebook externo em infraestruturas
dias??? E por aí vamos...” e Turismo (matou a
Nuno Marques “Dá nisso, quando há profes- eventualidade de tráfico
Facebook sores a ostentarem os títulos de influências e de coacção
de Doutores e que bem se- com a obrigatoriedade do sócio
Estrangeiros não quer um artigo conseguem angolano deter no mínimo
precisam de sócios escrever...” de 35% do capital e a integrar
angolanos com nova lei Isaac Sabalo também os Transportes);
“Passo brusco, uma supresa. Facebook simplifica, pois não condiciona
Espero que seja possivel o investimento à avaliação
atrair investimento sério e de terceiros dos estudos de
consciente. Senão de nada viabilidade técnico-económica
valerá para mudar o mapa (às vezes malandreca, pois
económico angolano. Será o projecto e o risco são de quem
que extinguem também a bu- investe); que pela simplificação
rocracia...” reduz tempos de análise
Higino Octavi e de decisão (favorece
Facebook a redução do aparelho
de Estado); e que repõe as três
zonas (inaceitavelmente
reduzidas para duas na lei
ainda em vigor).
O EXPANSÃO ERROU Em defesa da transparência,
a futura lei pode e deve ser
muito mais simplificada a
Na última edição, na página 31, escrevemos que o BNA leiloou evitar quaisquer hipóteses de
a 2 de Março 672,7 milhões de euros quando os valores se “negociozinhos” pelo princípio
referem às vendas de divisas durante todo o mês de Fevereiro. de se ter de negociar as

As vendas dos dois primeiros meses de 2018 cifraram-se
em 1,5 mil milhões de euros e não 2 mil milhões de euros.
DIRECTOR
Carlos Rosado
de Carvalho
carlos.rosado@expansao.co.ao
CHEFE DE REDACÇÃO
Joaquim José Reis
joaquim.reis@expansao.co.ao
CHEFE DE REDACÇÃO-
-ADJUNTA
Isabel Costa Bordalo
isabel.bordalo@expansao.co.ao
REDACÇÃO
Alexandre Lourenço
alexandre.lourenco@expansao.co.ao
Hermenegildo Tchipilica
hermenegildo.tchipilica@
expansao.co.ao
Martins Chambassuco
martins.chambassuco@
expansao.co.ao
Maurício Vieira Dias
jose.mauricio@expansao.co.ao
Quingila Hebo
quingila.hebo@expansao.co.ao
Telma Van-Dúnem
telma.vandunem@expansao.co.ao
Lueji Lara
(SECRETÁRIA DE REDACÇÃO)
lueji.lara@expansao.co.ao
CONTACTO REDACÇÃO
Telef.: (+244) 938 945 970
redaccao@expansao.co.ao
COLUNISTAS
Alves da Rocha,
Eva Santos, José Alberto
Rodrigues, Maria Luísa
Abrantes, Mário Beirolas
e Norberto Carlos
ARQUIVO | EXPANSÃO
percentagens dos benefícios
a conceder em política fiscal e,
também, com variáveis de anos
- o que macula profundamente
o projecto que se quer
transparente, pois pode,
em primeiro lugar, permitir crime de “lavagem de dinheiro”
subjectivismos e ambiguidades Em defesa ou de “dumping”.
(mais para uns que para outros) A Lei terá de ser mais
e depois a poder colocar da transparência, pragmática em matéria de
DESIGN GRÁFICO DISTRIBUIÇÃO
Pedro Morais
(COORDENAÇÃO)
Vaspe, SA investidores em desigualdade a futura lei pode e prazos de concessão dos vistos
Andreia Maia DEP. COMERCIAL
Carla Leal
de concorrência e também… deve ser muito mais de entrada e de trabalho, um
Ngombo José Manuel
carla.leal@vaspe.co.ao a fazer perder tempo! Algo imbróglio que deve ser banido!
FOTOGRAFIA
Quintiliano dos Santos CONTACTOS inaceitável! Esperemos, simplificada a evitar Fica a perplexidade sobre como
(COORDENAÇÃO),
César Magalhães
+244 937 581 904
+244 921 303 903 sinceramente, que tal não quaisquer hipóteses ter uma politica de distribuição
e Lídia Onde assinaturas@vaspe.co.ao
MOTORISTA
aconteça para não termos de “negociozinhos” de transferência prioritária
Anselmo Moreira
NOVA VAGA, SA
de andar a combater isto por de dividendos e, também,
António N’Gola Logila
MORADA mais uns anos, sendo a nossa ingenuidade na Lei sobre
PROJECTO GRÁFICO
Jorge Ribeiro
Avenida Lénine, nº 72,
3º Andar, Edifício Domo,
proposta que se faça e se fixe, o recurso a financiamento
Ingombotas, Luanda
Angola
desde já, pela mediana dos bancário nacional (vara essa
PROPRIEDADE
CONTACTOS indicadores ali apontados! muito usada para fazer
INVERSÃO, SA
Telef.: (+244) 222 332 819
Seria um passo extraordinário! tutelas no acompanhamento aumentar os lucros e os
REGISTO NOVA VAGA PUBLISHING
Importante também não da execução dos projectos logo dividendos no exterior) e tal
MCS-520/B2009
DIRECTOR-EXECUTIVO deixar que haja negociação após a primeira fase. Seja o da a ter regras muito claras
TIRAGEM
15.000 exemplares
Victor Jorge de benefícios fiscais declaração prévia, a comunicar e com prazos bem definidos
IMPRESSÃO
MORADA
Av. Elias Garcia, nº 137, 7ºC,
extraordinários sem despacho também aos governos e só depois de um ano
Damer Gráficas, SA 1050-099 Lisboa, Portugal de autorização do Titular provinciais, mas sem do arranque, no caso
CONTACTOS
DEPARTAMENTO (+351) 215 801 682 do Poder Executivo, sobre interferências, salvo em do investimento externo. A não
COMERCIAL
geral@novavaga.pt
proposta do titular da tutela, questões laborais e de ser assim o investidor a ter de
Alide Hussen
alide.hussen@novavaga.co.ao
ASSINATURAS
Semestral: €87,50
ou em quem se delegar tal capacitação; ambientais e no admitir um sócio nacional.
+244 941 114 883 (1 EDIÇÃO DE OFERTA) prerrogativa e depois acabar ferir do interesse de terceiros, O legislador deve lembrar-se
CONTACTO COMERCIAL Anual: €168,00
comercial@novavaga.co.ao (4 EDIÇÕES DE OFERTA) por ter a sua própria quando plasmadas em decisão que a Catumbela já é um
IMPRESSÃO autorização. de Tribunal angolano município, pois de outra
E DISTRIBUIÇÃO
VASP A lei deve definir alguns dos de 1.ª instância e severas forma “os jacarés da mesma
prazos e também o âmbito das penalizações por denúncia de ficarão ofendidos”.

As transformações estruturais
em causa no País têm um custo
financeiro elevado, provavel-
mente acima da capacidade de fi-
nanciamento existente e projec-
tável no médio prazo. Para não se
falar dos ajustamentos em al-
guns dos subsistemas superes-
trututais, como as mentalidades,
as instituições e as atitudes.
Não se sabe em quanto o pro-
cesso de diversificação da econo-
mia nacional foi prejudicado pelo
controlo da taxa de inflação pela
via da âncora cambial. Do ponto
de vista das experiências exitosas
de diversificação, a desvaloriza-
ção cambial é uma medida pre-
sente nas estratégias e políticas
nacionais, não apenas nos países
ricos em petróleo e outros recur-
sos naturais irrenováveis, como
naqueles em que a dependência
externa se concentra na exporta-
ção de matérias-primas e bens ali-
mentares. A diversificação é tam-
bém um processo de gestão e pro-
vocação de expectativas, que le-
vem os investidores privados,
dentro das condições e factores
anteriormente apontados, a apli-
carem as suas e as alheias poupan-
ças em actividades de elevado po-
tencial de competição externa. A
acomodação dos empresários na-
cionais aos modelos proteccio-
nistas, cuja implementação eles
próprios solicitam aos seus gover-
nos e a falsa-ideia-clara de que a
diversificação é apenas interna,
para substituir simplesmente o
que é importado, tem adiado estes
processos em muitas economias
emergentes e em desenvolvimen-
to, ricas ou não em petróleo e ou-
tros produtos de base.
Com as informações que vão
chegando, os estudos que vão sen-
do elaborados e as previsões que
se vão efectuando (em horizontes
de largo prazo, umas com mais e
outras com menos credibilidade e
confiança), o ciclo do petróleo
está na verdade a chegar ao fim.
Não apenas enquanto fonte de fi-
nanciamento da actividade eco-
nómica de alguns países e finan-
ceira dos seus Estados e Gover-
nos, mas igualmente como uma
componente da produção nacio-
nal. O ciclo do petróleo – prova-
velmente a melhor designação
será “ciclo do petróleo caro” – está
a ser afectado pelo preço desta
commodity e também pelos ex-
traordinários ganhos de eficiên-
cia que se vão acumulando, ano
após ano, desde 1971/1973, depois
da dramática subida do preço mé-
dio em praticamente 100%.
LABORATÓRIO ECONÓMICO
O que pode estar em causa no processo
de transformações estruturais
Quando pode
custar o processo
de diversificação
da economia
apenas em custos
de investimento?
A diversificação tem uma con-
tabilidade que se pode resumir na
pergunta: qual o seu preço e de
que modo pode ser financiada? A
resposta à primeira parte da
questão exige a disponibilidade
de dados estatísticos e a conside-
ração de uma estrutura do PIB
correspondente a uma malha
produtiva desconcentrada. Para
a segunda, terei de recorrer à
Teoria Económica e às equações
caracterizadoras de um mercado
de capital em economia aberta.
É consabido que a economia
angolana depende, directa e indi-
rectamente, das receitas de ex-
portação do petróleo (produto de
base, sujeito às imponderabilida-
des que mais atrás assinalei e que
podem travar, em certas circuns-
tâncias e contextos, o crescimen-
to económico, tornando-o mais
lento e menos inclusivo), sendo,
portanto, aconselhável, não ape-
nas reduzir o seu peso relativo no
Produto Interno Bruto por subs-
tituição de outras mercadorias,
como agregar valor interno.
Alves da Rocha
Economista
Quanto pode custar o processo
de diversificação da economia,
apenas em custos de investimen-
to, directos, indirectos e induzi-
dos? Tomando-se um horizonte
temporal de cerca de 20 anos
(2035) – justificado pela sua
complexidade, tributária de
transformações profundas em
todos os sectores, nas mentalida-
des e posturas (por exemplo, ter-
-se o trabalho, a iniciativa e a ino-
vação como valores culturais su-
premos e não a preguiça, o absen-
tismo, o amiguismo e o tráfico de
influências) – e determinados va-
lores para alguns indicadores de
eficiência (por exemplo o coefi-
ciente capital-produto), chega-se
a uma estimativa do esforço de
investimento médio anual de
USD 55042,4 milhões!!!!!!!!
Como financiar este montante
de investimento? O mercado de
capital em economia aberta é a
modalidade mais adequada e a
poupança é a única forma de o fa-
zer. Quando o mercado de capital
está em equilíbrio o investimento
iguala a soma da poupança priva-
da (Sp), poupança pública (Sg) e
as entradas líquidas de capital
(ENC). Recorrendo à equação de
equilíbrio deste mercado em eco-
nomia aberta, chega-se à conclu-
são de que a economia e as suas
necessidades de investimento fi-
nanciam-se com os saldos da ba-
lança de pagamentos e as entra-
das líquidas de capitais externos.
A sua positividade depende da efi-
ciência geral da economia e da
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 37
dominante na estrutura das ex-
portações) e das entradas líqui-
das de capitais externos (normal-
mente exigentes em garantias,
accountability, compliance, com-
bate à corrupção, transparência e
inserção do sistema financeiro
angolano no sistema financeiro
internacional).
Mas ainda se pode descortinar
uma outra modalidade de finan-
ciamento do investimento médio
anual de 55.042 milhões USD: a
eficiência das aplicações de capi-
tal. Havendo mais eficiência, a sua
taxa de retorno aumenta conside-
ravelmente, equivalendo a uma
reconfiguração dos valores dos
coeficientes capital-produto, re-
duzindo-os (com os mesmos in-
vestimentos conseguem-se os
QUINTILIANO DOS SANTOS
mesmos crescimentos nos valo-
res agregados). Procedendo desta
forma e admitindo progressos
consideráveis na qualificação dos
diferentes tipos de capital (huma-
no, social, empresarial, institu-
cional e material (investimentos
produtividade geral dos factores em obras públicas), o esforço
no sentido de Solow, no primeiro anual médio de investimento po-
caso, e de um ambiente de negó- deria baixar para cerca de 40 mil
cios atractivo para os investimen- milhões de USD. Ainda assim,
tos estrangeiros, no segundo. considerável, hercúleo mesmo.
O Relatório de Fundamentação Da aprendizagem que tenho
do OGE 2018 (1) tem várias referên- retirado da leitura de muitos tex-
cias sobre a capacidade de finan- tos sobre este tema sobrou o se-
ciamento do País, que passo a citar: guinte: há uma boa e uma má di-
■ “A capacidade de financia- versificação. A boa é a que se cen-
mento da economia nacional as- tra num modelo de competitivi-
cendia a 6,52% do PIB em 2013. dade de altos salários e elevada
Com a queda do preço do petró- produtividade. É o modelo que
leo, em meados de 2014, a capaci- funciona em contextos de econo-
dade de financiamento da econo- mias abertas e de globalização
mia declinou, passando a econo- crescente das forças produtivas
mia a apresentar necessidades de nacionais. A má diversificação é
financiamento eterno em níveis alicerçada em salários baixos,
de 2,96% do PIB, agravando-se produtividades incompetitivas e
para 10,7% do PIB em 2015.” num mercado doméstico fecha-
■ “As recentes estimativas sobre do e protector de interesses das
a evolução das necessidades de fi- elites económicas e políticas. A
nanciamento externo da econo- melhoria da competitividade de-
mia nacional, medidas pelos sal- pende, evidentemente, da exis-
dos conjuntos das contas corrente tência de ambientes de negócios
e de capital, assinalam uma ligeira bem estruturados, transparen-
melhoria em 2016, tendo-se esta- tes e que convidem ao investi-
belecido em cerca de 3% do PIB”. mento privado. Esta é uma res-
■ “O exercício de programação ponsabilidade do Governo, do
económica feito para 2017, sob o Estado e dos seus serviços de
cenário de um preço médio do apoio ao funcionamento da eco-
barril do Brent em torno de USD nomia. Mas depende, igualmen-
48,4, leva a estimar um défice da te, dos privados, mormente pela
balança de pagamentos em torno libertação da sua mentalidade de
de 1,46 mil milhões USD e um ní- assistidos pelas instituições pú-
vel de reservas internacionais lí- blicas de quem, afinal, depen-
quidas de 19 mil milhões USD”. dem para traçar o essencial das
suas estratégias empresariais. E
Ou seja, o financiamento da di- não deveria ser assim.
versificação está dependente da (1) Ministério das Finanças,
capacidade de exportar mais e 3 de Dezembro de 2017
melhor (o petróleo vai continuar Alves da Rocha escreve quinzenalmente
38 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
OPINIÃO
A transparência, integridade,
veracidade e suficiência da in-
formação económica e finan-
ceira são pilares fundamentais
e incontornáveis para o regu-
lar funcionamento do mercado
de valores mobiliários. A quali-
dade da informação gera credi-
bilidade e influencia positiva-
mente a actuação dos agentes
económicos, com particular
destaque para os investidores,
que tomam as suas decisões
com base em dados credíveis e
na expectativa de determina-
dos resultados.
É neste quadro que a audito-
ria externa exerce um papel
crucial, na medida em que
transmite a necessária con-
fiança aos agentes económi-
cos, sobre a qualidade da infor-
mação financeira que são cha-
mados a certificar e, assim, in-
fluenciar as suas decisões de
investimento.
Os escândalos contabilísticos
e financeiros abalaram a con-
fiança nos mercados a nível
mundial, bem como no modelo
de governação de determinadas
empresas. Os reguladores fo-
ram chamados a reforçar a regu-
lação e supervisão, com objecti-
vo de aumentar a transparência
da informação financeira, como
também garantir a qualidade e
credibilidade da mesma.
No contexto nacional, são
conhecidas as deficiências que
uma parte considerável do te-
cido empresarial angolano
apresenta quanto a fiabilidade
da informação financeira. Tal
facto traz aos reguladores
enormes desafios na sua actua-
ção e eleva a responsabilidade
dos próprios auditores, que
têm a função (pública) de
questionar a informação dis-
ponibilizada.
Nos termos da legislação e
regulamentação em vigor, toda
informação financeira contida
nos documentos de prestação
de contas, individuais ou con-
solidadas, em estudo de viabi-
lidade e em prospectos de dis-
tribuição ou de admissão à ne-
gociação de valores mobiliá-
rios, submetidos à Comissão
do Mercado de Capitais (CMC)
ou sujeitos à divulgação, no
âmbito de pedido de admissão
à negociação em mercado re-
gulamentado, deve ser objecto
de parecer elaborado por audi-
tor externo registado na CMC.
Ficam, igualmente, sujeitas
ao referido parecer as infor-
A importância da auditoria externa
nos mercados regulamentados
Os auditores, terão
o desafio de garantir
informação isenta
e confiável aos
diversos utilizadores
dessa informação
mações financeiras contidas
nos documentos de prestação
de contas, individuais ou con-
solidadas dos agentes de inter-
mediação, das sociedades ges-
toras de organismos de inves-
timento colectivo, bem como
de quaisquer outras entidades
cuja auditoria seja exigida por
lei ou regulamento da CMC.
Assim determinou o legisla-
dor no artigo 8.º do Código de
Valores Mobiliários e artigo 2.º
do Regulamento n.º 2/2015 que
estabelece os requisitos de re-
gisto e as regras a observar pe-
las empresas de auditoria lega-
lizadas e estabelecidas em An-
gola, chamadas a auditar as re-
feridas informações no âmbito
dos mercados regulamentados.
Dado o impacto que o serviço
prestado pelos auditores ex-
ternos tem sobre as decisões
de investimento e o mercado
em geral, a actuação dos audi-
tores externos no mercado de
valores mobiliários está sujei-
CONVIDADO
Ana Regina Silva
Jurista
ta a uma supervisão adminis-
trativa. Esta supervisão efecti-
va-se pelo registo prévio dos
referidos auditores, tendo o le-
gislador confiado à CMC a
competência para o efeito.
À CMC compete, igualmen-
te, e após consulta a Ordem dos
Contabilistas e Peritos Conta-
bilistas de Angola (“OCPCA”) a
regulamentação do conteúdo,
organização e apresentação da
informação económica, finan-
ceira e estatística utilizada em
documentos de prestação de
contas, bem como das respec-
tivas regras de auditoria, har-
monizadas de acordo com os
padrões internacionais.
Esta solução prima pelo ali-
nhamento às boas práticas in-
ternacionais, e pelo particular
respeito aos princípios e reco-
mendações da Organização In-
ternacional dos Supervisores
dos Mercados de Capitais
(IOSCO), referentes a supervi-
são dos auditores.
Apenas podem registar-se
como auditores externos e le-
galmente exercer esta activi-
dade, as sociedades de peritos
contabilistas habilitadas legal-
mente em Angola, cuja inscri-
ção na OCPCA não se encontre
suspensa e que sejam dotadas
dos meios humanos, materiais
e financeiros necessários para
assegurar a sua idoneidade, in-
dependência e competência
técnica.
LÍDIA ONDE
Actuação dos auditores
Determina o legislador que os
auditores externos registados
na CMC devem cumprir, no de-
sempenho das suas funções,
com as normas aprovadas ou
reconhecidas que regulam o
exercício da sua actividade,
quer quanto as normas técni-
cas de revisão de contas e audi-
toria, quer quanto as normas
relativas à idoneidade, inde-
pendência e controlo interno
previstas na lei e demais regu-
lamentação aplicável.
Neste particular, o quesito
independência é fundamental
para garantir a confiança no
trabalho de auditoria, tendo o
legislador identificado um
conjunto de situações referen-
tes a incompatibilidades e im-
pedimentos que podem por em
causa a independência dos au-
ditores (artigo 11.º Regula-
mento n.º 2/1, artigo 434.º da
Lei das Sociedades Comer-
ciais). Nestes casos não podem
ser contratados, para realiza-
ção de auditoria externa, os au-
ditores registados na CMC.
Por outro lado, fica vedado
ao auditor externo a prestação
simultânea de serviços de au-
ditoria e de consultoria que
possam traduzir-se numa per-
da da objectividade e indepen-
dência, nomeadamente na
prestação de serviços de asses-
soria à restruturação, avalia-
ção de empresas, assessoria
fiscal e serviços de contabili-
dade às entidades auditadas.
Importa também realçar as
recomendações constantes do
Guia Anotado de Boas Práticas
e Governação Corporativa
(“GABPGC”), quanto a actua-
ção dos auditores externos,
bem como dos órgãos de gestão
das empresas auditadas. Se-
gundo o GABPGC a auditoria
externa deve ser feita por audi-
tores independentes, compe-
tentes e qualificados, segundo
os mais exigentes padrões, sem
prejuízo da existência de me-
canismos de auditoria interna.
O órgão de administração a
responsabilidade de assegurar
que assim aconteça.
Uma das medidas para acau-
telar a existência de ameaças à
independência dos auditores
decorrentes da prestação de
serviços adicionais é a publica-
ção de informação sobre o
modo como estes serviços são
avaliados e os montantes en-
volvidos. Outras informações
devem ser também prestadas e
prendem-se com a estrutura
de governação dos auditores
externos, o sistema interno de
controlo de qualidade dos au-
ditores externos, as receitas
anuais provenientes de servi-
ços de auditoria, entre outras.
A análise do tema não pode-
ria ser mais oportuna. Com a
implementação do mercado
regulamentado de bolsa, as
empresas (sector público e pri-
vado) passaram a ter disponí-
vel uma fonte de financiamen-
to adicional, devendo cumprir
os mais elevados requisitos de
exigência.
Não será de estranhar as
eventuais dificuldades na veri-
ficação da regularidade dos li-
vros, registos contabilísticos, a
exactidão do balanço e de-
monstração de resultados das
empresas que queiram estar
listadas em bolsa.
Os reguladores, deverão ter
uma actuação firme e exigente
na definição das regras relati-
vas ao conteúdo e qualidade
das demonstrações financei-
ras. Os auditores, terão o desa-
fio de garantir uma informa-
ção isenta e confiável aos di-
versos utilizadores dessa in-
formação. As empresas deve-
rão implementar ou reforçar
as melhores práticas de gover-
no corporativo e os respecti-
vos mecanismos de reporte fi-
nanceiro.

O que impulsiona a igualdade entre homens e mulheres
nos países em desenvolvimento?
No dia 8 de Março, será mundial-
mente celebrado o Dia Interna-
cional da Mulher, uma oportuni-
dade anual para reafirmar a
igualdade entre homens e mu-
lheres. A observância deste ano
chega num momento importante
para os direitos das mulheres, na
medida em que movimentos
mundiais como o#MeToo e o
#TimesUp estão recentrar a
atenção nas práticas discrimina-
tórias que as mulheres enfren-
tam na vida social e profissional.
Contudo, enquanto as mulhe-
res no mundo desenvolvido estão
a travar grandes batalhas contra
os preconceitos de género, as mu-
lheres e as raparigas dos países
em desenvolvimento permane-
cem centradas em pequenas vitó-
rias. No Dia Internacional da Mu-
lher que agora assinalamos, não
devemos esquecer que nas comu-
nidades mais pobres do mundo, a
pobreza, a fome, a violência do-
méstica e a discriminação conti-
nuam a ser obstáculos endémicos
para a paridade entre os géneros.
Realizei trabalho de investiga-
ção sobre questões de géneros e
de desenvolvimento no hemisfé-
rio Sul durante 15 anos. O meu
trabalho, que incluiu milhares de
entrevistas a mulheres, desde a
Índia até Burquina Faso, concen-
trou-se numa pergunta: Como
poderá a comunidade interna-
cional melhorar o bem-estar das
mulheres mais pobres do mun-
do? A resposta, ao que parece, é
ajudá-las a fazer o que já estão a
fazer a título individual.
Uma das formas mais eficazes
de capacitar as mulheres em
qualquer parte, mas especial-
mente no mundo em desenvolvi-
mento, é através da promoção da
independência financeira. Em
muitos domínios, tal significa
apoiar “grupos de poupança in-
formais”, redes de mulheres que
partilham a mesma opinião e que
pagam a sua contribuição para a
criação de um conjunto de recur-
sos partilhados. Este dinheiro
pode então ser canalizado para fi-
geral@isaf.co.ao
tel (+244) 227 281 005 / 006
AV. COMANDANTE LOY, EDIFÍCIO A
ACADEMIA BAI, MORRO BENTO, ANGOLA
Directora de pesquisa da fundação Grameen*
As mulheres das
comunidades pobres
devem confiar
umas nas outras,
mas também
precisam ter acesso
ao governo
nanciar qualquer número de
itens, tais como despesas de pe-
queno porte, taxas escolares, ou
os custos dos cuidados de saúde.
Os grupos de poupança comu-
nitários — que atingem os mi-
lhões na Ásia e na África — mu-
dam vidas diariamente. Certa
vez, conheci uma mulher no
Burkina Faso, cujo filho deve a
sua vida aos recursos financeiros
de uma rede de poupança. Certa
noite em que a criança estava
muito debilitada, com diarreia, a
mãe chamou um táxi para levá-la
para a clínica mais próxima. Con-
FORMAÇÃO
O PA
ARA
EXECUT
TIVO
OS
Bobbi Gray
tudo, tal como as ambulâncias, os
táxis têm de ser pagos adiantada-
mente, e a mulher não tinha di-
nheiro. Felizmente, um vizinho
que pertencia a um grupo de pou-
pança para a saúde foi capaz de
contribuir e de pagar a corrida de
táxi. É muito provável que aquele
acesso imediato ao dinheiro te-
nha salvado a vida do rapaz.
A maioria dos empréstimos
por parte de grupos de poupança
também são igualmente de pe-
quena monta. No Benim, por
exemplo, o valor médio de cada
empréstimo num grupo é de ape-
nas nove dólares. No entanto,
num país onde o rendimento mé-
dio anual é inferior a 800 dólares,
valores reduzidos podem fazer
uma grande diferença.
Infelizmente, muitos grupos de
poupança, sendo tão importantes,
não são efectivamente considera-
dos; a maioria funciona de forma
isolada em relação aos serviços
oficiais, o que enfraquece a sua efi-
cácia. As mulheres das comunida-
des pobres devem confiar umas
nas outras, mas também precisam
PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO
DE RECURSOS HUMANOS
E BENEFÍCIOS SOCIAIS A 03DESETEMBRO
22 MARÇO
9 de Março 2018 | EXPANSÃO 39
lhávamos consideravam sentir-
-se independentes nas suas casas;
muitas temiam os seus maridos.
Actualmente, estes sentimen-
tos estão a mudar lentamente. Ao
servir como ponte entre os gru-
pos de poupança informal e os
bancos, centros de saúde, escolas
e serviços de extensão agrícola,
estamos a ajudar as mulheres a
tomar decisões mais acertadas
sobre a utilização dos alimentos,
as práticas alimentares e o de-
sembolso. O nosso objectivo é re-
duzir as taxas de pobreza, refor-
çando as competências de gestão
de activos, o que permitiria às
mulheres terem maior voz nas
suas comunidades. As “sessões
de diálogo entre os géneros” que
QUINTILIANO DOS SANTOS
acolhemos também estão a forta-
lecer os laços familiares.
Em cada uma das minhas visitas
ao terreno, senti-me surpreso pela
forma como estes esforços afec-
tam a vida das mulheres. Em uma
viagem recente, conheci Rasmata,
de ter acesso ao governo e às agên- uma jovem mãe, que me disse que,
cias internacionais, caso contrário graças à rede de segurança do seu
não conseguirão escapar à fome e grupo de poupança, foi conseguin-
à pobreza. É por isso que a minha do sustentar a sua família, apesar
organização, a Grameen Founda- de o marido ter emigrado, de o pai
tion, está a utilizar tecnologia digi- ter falecido recentemente e da
tal e telemóveis para interligar os persistente seca que se fazia sen-
grupos de poupança com outros tir. Ela estava a diversificar os seus
prestadores de serviços. rendimentos, gerir as suas finan-
Um dos nossos maiores projec- ças, e tinha inclusivamente adop-
tos está situado no Burquina Faso, tado técnicas de agricultura inteli-
um país extremamente pobre da gentes do ponto de vista climático.
África Ocidental, onde se estima A melhor parte foi o facto de ela se
que 55% da população não tem se- descrever a si própria como uma
gurança alimentar, pelo menos, “mulher trabalhadora, respeitá-
uma parte do ano. Desde 1993, vel, rigorosa e ambiciosa”.
trabalhámos com mais de 73.000 São adjectivos que as mulheres
mulheres em cerca de 3.300 gru- de todo o mundo, independente-
pos de poupança, trazendo os ser- mente da sua situação financeira
viços directamente para as mu- ou nível de instrução, merecem
lheres que deles necessitam. A atribuir a si mesmas. Por conse-
média das nossas participantes guinte, esta semana, quando o
situa-se nos 40 anos de idade, mundo celebrar o incrível pro-
analfabetas, com um rendimento gresso realizado pelas mulheres
de apenas sete dólares por sema- no longo percurso rumo à parida-
na pela venda de produtos culti- de, vou lembrar mulheres como
vados como o sésamo e o amen- Rasmata, que tanto concretiza-
doim. Quando começámos o pro- ram, embora tendo tão pouco.
grama, apenas cerca de metade * Organização sem fins lucrativos dedicada
das mulheres com quem traba- a acabar com a pobreza e a fome
PUB
40 EXPANSÃO | 9 de Março 2018
09.03.18
Prémio
Maboque
de melhor
Órgão de
Comunicação
Social de
Angola 2013
NA URBANIZAÇÃO BOA VIDA EM LUANDA
Polícia das bolsas suspende
vendas de quartos de hotel
A Comissão do Mercado de Ca-
pitais (CMC) ordenou a “sus-
pensão imediata da venda ao
público” dos produtos que
e stão a ser comercializados
pela empresa Urbanização Boa
Vida, S.A..
A decisão da CMC tem por
base o facto de a empresa estar a
vender produtos imobiliários de
registo obrigatório na Comissão
do Mercado de Capitais, sem es-
tar registada naquele órgão do
sistema financeiro responsável
pela regulação, supervisão, fis-
calização e promoção do merca-
do de capitais e das actividades
que envolvem todos os agentes
que nele intervenham, directa
ou indirectamente.
A ordem de suspensão aos
produtos que estão a ser comer-
cializados pela Boa Vida, S.A. re-
fere-se concretamente aos “con-
tratos de investimento em frac-
ções imobiliárias autónomas,
destinadas exclusivamente à ex-
SE A TUA MOTA É A TUA VIDA, FAZ O SEGURO
ENSA MOTOCICLOS. A PARTIR DE 5.500 KZ
*Esta Campanha vai decorrer entre 13 de Outubro e 31 de Dezembro de 2017. O Sorteio será
realizado dia 16 de Fevereiro de 2018. Sabe mais em www.ensa.co.ao
DÊ-NOS
NOTÍCIAS
DIAMANTES
Receitas fiscais
sobem 5% para 14,7
mil milhões Kz | P. 22
ploração hoteleira, oferecendo
como retorno para o investidor,
além de um direito de participa-
ção no investimento, uma remu-
neração periódica resultante da
referida exploração”.
“Tais “contratos relativos ao
investimento em bens corpó-
reos” encontram cobertura legal
nos termos do n.º 3 do artigo 1.º
Investidores não
eram alertados para
os riscos que correm
do CódVM, estando a competên-
cia para a sua regulação e supervi-
são legalmente confiada à CMC”,
justifica o documento que ordena
a suspensão, emitido pelo Conse-
lho de Administração da Comis-
são do Mercado de Capitais.
Em causa, apurou o Expansão,
está a venda de quartos de um
TANTO POR TÃO POUCO KUMBU!
O Expansão quer saber notícias da(s) sua(s) empresas, do(s) seu(s) negócio(s),
do(s) seu(s) trabalho(s) e do(s) seu(s) eventos.
Informe para redaccao@expansao.co.ao ou para (+244) 938 945 970
MERCADO CAMBIAL
Saiba que bancos
compraram divisas
esta semana | P. 24
hotel cinco estrelas com 120 sui-
tes previsto para a Urbanização
Boa Vida situada na Via Expres-
sa Benfica Cacuaco. Os compra-
dores não se tornam proprietá-
rios dos quartos, ficando apenas
com o direito a um rendimento
resultante da sua exploração
sem que sejam alertados para o
risco do investimento.
O levantamento da suspen-
são está condicionada ao Regis-
to da actividade e respectivos
produtos junto da CMA, bem
como ao cumprimento de ou-
tros pressupostos legais que vi-
sam fundamentalmente a pro-
tecção do investidor.
A Urbanização Boa Vida é um
projecto habitacional, de lazer e
negócios iniciado em 2006 e
com previsão de conclusão inte-
gral em 2020. Segundo os pro-
motores, o projecto envolve um
investimento de cerca de 500
milhões USD.
Isabel Costa Bordalo
OFERTA
15%
PAGAMENTO EM
4 PRESTAÇÕES
DIZ A INVESTIGAÇÃO
UTIP falhou
due diligence no caso
do fundo tailandês | P. 07
EDITORIAL
Carlos Rosado
de Carvalho
Director
Ventos do comércio livre
sopram em África
Enquanto as principais potências mundiais afiam as facas
do proteccionismo, na sequência da intenção de Donald
Trump, presidente dos Estados Unidos da América, de taxar
as importações de aço e alumínio, em África sopram ventos
favoráveis ao comércio livre.
Os ministros do Comércio da União Africana, entre os quais
o angolano Joffre Van-Duném, estão reunidos em Kigali,
Ruanda, para ultimar o acordo constitutivo da Zona de Comér-
cio Livre Africana que deverá ser assinado pelos Chefes de Es-
tado e de Governo na Cimeira Extraordinária da organização
prevista para o próximo dia 21 também na capital ruandesa.
O comércio de bens e serviços com outros países proporciona
aos consumidores domésticos uma maior variedade de bens e
serviços, com melhor qualidade e a um preço mais baixo.
A eficiência económica também melhora, já que a concor-
rência obriga as empresas a produzir a custo mais baixo, redu-
zindo o desperdício de recursos escassos.
Contudo, da mesma forma que não há almoços grátis, o
comércio livre também tem custos.
Enquanto as principais potências
mundiais afiam as facas do
proteccionismo, a União Africana
última o acordo constitutivo da Zona
de Comércio Livre Africana
Com a redução ou eliminação das barreiras ao comércio, os in-
vestimentos tendem a ser canalizados para as regiões mais desen-
volvidas, potenciando o agravamento das assimetrias regionais.
As experiências de integração revelam que os benefícios do
comércio livre superam largamente os custos.
Infelizmente, África não tem tirado partido dos benefícios
do comércio livre. Os países africanos fazem pouco comércio
internacional e o pouco que fazem é, sobretudo, com terceiros
países e não entre si.
Nos anos 60, África pesava à volta de 6% no comércio mun-
dial de bens, mais de quatro vezes o peso da China que se que-
dava pelos 1,3%. Em 2014, o share africano tinha regredido
para pouco menos de 3%, mais de quatro vezes menos do que
os mais de 12% que a China detinha no mesmo ano.
O aumento do peso de África no comércio internacional
deve começar pelo próprio Continente.
De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio
pouco mais 10% das exportações totais dos países africanos
têm como destino outro país africano. A título de compara-
ção, na Europa, as trocas intra-europeias valem entre 70% e
80% das exportações totais do Continente, cujo peso nas ex-
portações mundiais ronda os 42,4%.
Como diz o ditado africano: Se quiseres chegar rápido vai
sozinho, se quiseres chegar longe vai acompanhado.
PUB
DESCONTO
NO SEGURO
DANOS PRÓPRIOS
SORTEIO
2 MOTAS*
1 YAMAHA YB E
1 MOTA 3 RODAS