.........................................................................
.........................................................................
.........................................................................
.........................................................................
.........................................................................
4
DEDICATÓRIA:
AGRADECIMENTOS:
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................10
REFERÊNCIAS...........................................................................................299
APÊNDICE...................................................................................................314
-Quadro 1- Demonstrativo de artigos, teses e dissertações sobre pesquisa e
Serviço Social...........................................................................................315
-Quadro 2- Sistematização dos depoimentos dos sujeitos participantes da
pesquisa.....................................................................................................325
9
INTRODUÇÃO
“A rigor, cada viajante abre seu caminho, não só
quando desbrava o desconhecido, mas inclusive
quando redesenha o conhecido.”
(IANNI, 2000)
1
Fundamentado em: GATTI, Bernadete Angelina. A construção da pesquisa em educação no Brasil.
Brasília: Plano Editora,2002 ( Série Pesquisa em Educação, v. 1)
12
2
Outras experiências profissionais foram relevantes, como: Supervisão de Estágio; coordenação e
participação no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Infância e Adolescência ( 2001 – 2002); coordenação
e docência na Capacitação de Conselheiros Municipais de Assistência Social (2000); docente nos Cursos de
Capacitação de Coselheiros Municipais da Criança e Adolescente (2000 – 2002); participação no Projeto de
Extensão intitulado “Serviço Extensionista de Cooperação Técnica, Apoio e Fortalecimento das Organizações
não Governamentais de Ponta Grossa (1997 – 1999); realização de pesquisa institucional denominada:
Representações Sociais: possibilidades e limites para o estudo do simbólico no âmbito do Serviço Social
(1999 – 2001).
13
3
Encontra-se no apêndice - quadro 1 - demonstrativo sobre as produções citadas e que tivemos acesso no
período de levantamento de informações para uma primeira aproximação da temática de pesquisa.
15
4
As categorias possibilitam a expressão das relações contraditórias existentes numa dada formação sócio –
histórica da sociedade. São “formas de ser, determinações da existência” e não meros conceitos. As categorias
expressam relações e compreender as relações é o segredo de um processo de investigação. (LUKÁCS,
1979, p.28)
17
5
Devemos esclarecer que identificamos que a literatura que trata da pesquisa em Serviço Social privilegia a
discussão desta temática a partir da compreensão de sua especificidade. Reconhecemos a importância desta
abordagem, no entanto, em nossa tese, reafirmamos a necessidade de sustentar nossas reflexões sobre
pesquisa a partir da compreensão da categoria particularidade. A categoria particularidade, em sua
complexidade e riqueza ontológica ( fundado em Lukács), nos possibilita compreender a pesquisa em sua
vinculação orgânica com a prática profissional , que se constrói no movimento histórico da própria profissão e
que se constitui como possibilidade de avanço teórico- prático coerente com o projeto ético – político do
Serviço Social.
18
6
Inicialmente prevíamos participação de Maria Inês Souza Bravo, no entanto, embora tenhamos feito vários
contatos buscando agendar entrevista, não tivemos êxito. Entendemos que, embora em um primeiro momento
a professora tenha se disponibilizado a participar, o excesso de atividades profissionais impediu sua
participação durante o período que planejamos para realização da coleta do material (maio/outubro/2004).
Assim em novembro de 2004 enviamos correspondência agradecendo e explicando a impossibilidade de
aguardarmos por mais tempo.
22
SUJEITO CARACTERIZAÇÃO
(ordem alfabética)
Aldaíza Sposati - Assistente Social
- Pós – Doutora em Serviço Social pela
Universidade de Coimbra - Portugal
- Doutora em Serviço Social pela PUC/SP
- Professora Titular da PUC/SP
- Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas
de Seguridade e Assistência Social – PUC/SP
- Professora Visitante do Instituto Superior de
Serviço Social – ISSP - Portugal
- Vereadora – Município de São Paulo (1997/2000
– 2001/2002)
- Secretária Municipal de Assistência Social –
Prefeitura Municipal de São Paulo – (2002/2004)
Aglair Alencar Setúbal - Assistente Social
- Doutora pela PUC/SP
- Professora Aposentada da Universidade Federal
do Piauí
- Coordenadora do Núcleo de Extensão e Pesquisa
da Pessoa Idosa da Universidade Federal do Piauí
- Coordenadora do Programa - Terceira Idade e
Ação - Universidade Federal do Piauí – 1998-
2003
- Coordenadora até 2003 e Professora do Curso de
Especialização em Gerontologia Social –
Universidade Federal do Piauí
- Coordenadora do Curso de Serviço Social do
Instituto Camilo Filho / Piauí desde 2003
- Coordenadora do Núcleo de Extensão e Pesquisa
da Pessoa Idosa do Instituto Camilo Filho.
7
Org.: a autora, 2004
Fonte: Os dados, aqui considerados como caracterização, foram obtidos em fontes de natureza bibliográfica
e eletrônica, e alguns elementos foram revisados no momento das entrevistas e acrescentados por algumas
das próprias entrevistadas. Esclarecemos que estes dados não esgotam as atividades desenvolvidas pelas
participantes no âmbito da pesquisa e da prática profissional. As fontes são:
-Política de Assistência Social: uma trajetória de avanços e desafios. Subsídios à III Conferência Nacional de
Assistência Social. ABONG/CFESS/CNTSS/CUT, São Paulo, 2001
-FÁVERO, Eunice T. Mães (e pais) em situação de abandono: quando a pobreza é fator condicionante do
rompimento dos vínculos do pátrio poder. Tese de Doutorado. PUC – São Paulo, 2001.
-PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL. http://www.pucrs.br
consultado em 11/02/2004
- Curriculum Vitae - Sistema de Currículos Lattes - www.cnpq.br, consultado em 25 de janeiro de 2005.
23
8
Temos como referência também a obra: FONTINELLI JÚNIOR, Klinger. Pesquisa em Saúde: ética,
bioética e legislação. Goiânia: AB, 2003
9
Sobre a concepção de sujeito coletivo consultamos também: SADER, Eder. Quando novos personagens
entraram em cena. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. Os sujeitos sociais
em questão. Serviço Social e Sociedade, ano XIII, n. 40, São Paulo: Cortez, 1992.
26
“...concepção de sujeito coletivo, no sentido de que aquela pessoa que está sendo
convidada para participar da pesquisa tem uma referência grupal, expressando de
forma típica o conjunto de vivências de seu grupo. O importante, nesse contexto, não
é o número de pessoas que vai prestar a informação, mas o significado que esses
sujeitos têm, em função do que estamos buscando com a pesquisa.” (grifo da
autora)
10
No projeto inicial desta pesquisa pensamos em utilizar como recurso para coleta dos depoimentos a vídeo–
conferência,visto que a Universidade Estadual de Ponta Grossa possui este sistema. No entanto, dificuldades
de ordem operacional, como por exemplo localizar o mesmo sistema para recepção da conferências nas
instituições de origem das participantes da pesquisa, impediu o desenvolvimento das entrevista através desta
tecnologia.
27
11
Afirmação da Professora Maria Lúcia Martinelli em processo de orientação de tese.
12
As normas para apresentação de documentos científicos utilizadas como referência nesta tese seguem as
orientações da ABNT adaptadas pela Universidade Federal do Paraná. Sistema de Bibliotecas, Curitiba: Ed.
da UFPR, 2000.
31
I CAPÍTULO
13
Destacamos, deste contexto, algumas publicações do CBCISS ( Centro Brasileiro de Cooperação e
Intercâmbio de Serviços Sociais), através da Revista Debates Sociais, como artigos de Simone Crapuchet que
tratam da relação pesquisa e Serviço Social, tais como: “ As profissões Sociais – novas perspectivas” ( 1972,
ano VIII, n. 14); “ A pesquisa no Serviço Social e na ação social” (1976, ano XII, n. 23). Identificamos,
também, a publicação de material referente ao I e II Seminários de Mensuração de Dados Sociais ( Temas
Sociais,1978, n. 131, ano XI), realizado em 1977- Rio de Janeiro. As publicações retratam uma perspectiva
clássica de pesquisa, centrada no tratamento estatístico dos dados e apontam para a necessidade da profissão
investir na pós – graduação em Ciências Sociais e Humanas.
Ainda, observamos , na década de 80, o investimento do CELATS ( Centro Latinoamericano de Trabajo
Social) no “ II Curso de Capacitación a Distancia : “La investigacion social” , cujo material foi organizado
por Carlos Urrutia Boloña. Neste documento Boloña discute a pesquisa em sua relação com a prática
profissional, reduzindo a compreensão da pesquisa a instrumentação da prática profissional. Esta perspectiva
desqualifica a relação dinâmica entre a pesquisa e a pratica profissional, capaz de gerar um processo de
produção de conhecimento. Reflexões que aprofundam esta discussão encontramos em BAPTISTA (2001, p.
31 – 48)
14
Parece haver consenso entre os estudiosos da matéria ao reconhecerem que a preocupação com a teorização
no Serviço Social emerge explicitamente na segunda metade dos anos 60. “Data de então – (...) um esforço,
cujos resultados ainda reclamam uma avaliação cuidadosa, para pensar o Serviço Social (como conjunto de
práticas profissionais e como articulação de saberes) recorrendo a parâmetros, balizas e critérios gestados no
seu exterior, seja no âmbito das chamadas Ciências Sociais, seja no da tradição marxista.” (NETTO, 1989,
p.146)
34
15
Contribuições essenciais sobre o Movimento de Reconceituação em Serviço Social podemos encontrar em
IAMAMOTO, M. V. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: ensaios críticos (1992) e em
MARTINELLI, M. L. Serviço Social: identidade e alienação (1993).
16
NETTO em seu livro Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós- 64 (1998),
analisa cada uma destas direções apontando contradições e repercussões no interior da profissão.
17
Não ignoramos que a década de 80 apresenta traços fundamentais ao cenário brasileiro em que se
movimenta o Serviço Social. Destes, podemos destacar: - de um lado caracteriza-se pela chamada “crise
brasileira dos anos 80” , que é expressão de uma crise geral do capitalismo internacional, devido a forma
como o Brasil se insere na ordem capitalista mundial e que no Brasil ganha particularidade. (MOTA, 1995)
MOTA (1995) e RAICHELIS(1998) apresentam como aspectos centrais deste período: crise fiscal do Estado,
baixas taxas de crescimento do PIB, compressão dos salários e conseqüente aumento da concentração de
35
riqueza, agravamento da questão social, deterioração das condições de vida e de trabalho da maioria da
população brasileira; - de outro lado, a década de 80 traz à tona um movimento sócio – político de
redefinição das relações entre Estado/ sociedade civil, através da organização dos movimentos sociais em
diferentes setores que passam a dar visibilidade às demandas populares, dos sindicatos que fortalecem suas
lutas pelos direitos dos trabalhadores e no conjunto destas mobilizações desencadeamento de um processo de
reconstrução das instituições democráticas, culminando com a elaboração da Constituição Federal de 1988,
marco legal da democracia e conquista dos direitos fundamentais do cidadão brasileiro.
18
O contexto sócio – econômico da década de 90 é marcada pela vigência do neoliberalismo no Brasil.
Adotam-se medidas voltadas para “...uma política industrial centrada na abertura comercial, e pelo novo
impulso no processo de privatização, desregulamentação e flexibilização das relações trabalhistas, austeridade
no gasto público, reestruturação das políticas sociais...” (ALVES, 1996, p. 131) Tais medidas caracterizadas
como “ajuste neoliberal” fazem parte de uma estratégia para saída da crise do Estado e do capitalismo
agravada nos anos 80. Avançam, também, neste contexto, as relações de parceria entre Estado e sociedade
civil como mecanismo de enfrentamento da questão social e de viabilização das políticas públicas.
36
NETTO (1996, p.109) afirma que tais avanços “...remetem, direta mas
não exclusivamente, à pesquisa, à produção de conhecimentos e às
alternativas de sua instrumentalização – e, no caso do Serviço Social, isso
38
Este eixo temático é revitalizado nos anos 90, com o redimensionamento das questões
referentes aos direitos sociais, cidadania, democratização e universalização das
políticas públicas. Essas questões estão hoje profundamente tencionadas pelas
estratégias de controle social da nova ordem burguesa. Elas ganham relevância no
vasto campo político – ideológico da formulação e consolidação de uma nova cultura
política posta pelo capital nos marcos das estratégias da “acumulação flexível” em
que as relações entre Estado e sociedade civil constituem locus privilegiado.
Ainda estas autoras colocam que a maior parte dos temas de pesquisa dos
anos 80 e que prosseguem abordadas nos anos 90 referem-se às políticas
públicas na sua interface com o Estado. Exemplo disto é a temática
Seguridade Social, a partir de seu marco histórico que é a Constituição Federal
de 1988. Mais recentemente vem avançando as investigações sobre a
sociedade civil, os processos de gestão e controle das políticas públicas e o
papel dos Conselhos de Direitos. Também ganha ênfase o campo de
preocupação relativo aos usuários do Serviço Social, muito embora na sua
relação com as políticas públicas.
Marcos históricos recentes e relevantes são os 10 anos da Lei Orgânica
de Assistência Social (LOAS - Lei 8742/93), comemorado em 2003 e os 10
anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – LEI 8.069/90), em
2000. Eventos que retratam conquistas no campo dos direitos sociais,
principalmente em relação à proteção social destinadas aos segmentos vítimas
do processo de exclusão social, como famílias, crianças, adolescentes, idosos e
portadores de necessidades especiais.
A Constituição Federal de 1988 introduziu no Brasil o conceito de
Seguridade Social19 e neste contexto a Assistência Social passa a
ser reconhecida como política pública no mesmo patamar da saúde e
previdência social.
19
A Constituição Federal de 1988 em seu Capítulo II, art. 194 define que Seguridade Social “compreende um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.”
40
20
Detalhamentos sobre o SUAS ver na Revista Serviço Social e Sociedade n. 78 de julho de 2004 e na
Versão Oficial da Política Nacional de Assistência Social - 2004, publicadas pela Ed. Cortez.
21
Trabalhos de pesquisa que desenvolvem discussões amplas e de fundo sobre a concepção e gestão da
política pública de Assistência Social, bem como análises das expressões particulares desta política em
realidades estaduais e municipais. No Paraná lembramos a pesquisa intitulada “Descentralização político-
jurídico-administrativa na implementação da LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social: reconstrução de
conceitos ou manutenção de saberes e práticas? Sob a coordenação da Prof. Dra. Odária Battini, criada em
1994 como estratégia adotada no processo de implementação da LOAS no Paraná (1996/1998). Em 1998 foi
criado o Centro Interinstitucional de Pesquisa e Consultoria em Políticas Públicas. Em 2000 a pesquisa
vinculou-se ao Curso de Serviço Social da PUC/Pr, ao Diretório Nacional de Grupos de Pesquisa do CNPQ e
à Fundação Araucária. Atualmente o grupo de pesquisa tem contribuído com o processo de implantação do
Sistema de Informação da Política de Assistência Social e na gestão do SUAS e estebelece articulações com
UFPr, CELEPAR, Secretaria do Estado do Emprego e Promoção Social, Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome. (Informações fornecidas por Jucimeri Isolda Silveira – Presidente do CRESS/11ª
Região em fevereiro de 2005) Destacamos, também, a contribuição de Selma Maria Schons com sua obra: “
Assistência Social entre a ordem e a ‘des-ordem....’ ” de1999, Cortez Editora. Neste contexto desenvolvemos
Dissertação de Mestrado, junto a PUC/SP, sobre “O processo de configuração da Assistência Social no
município de Ponta Grossa – Pr.” (1997)
22
NEPSAS apresenta as seguintes características: “a) como núcleo de pesquisa, reúne docentes e discentes,
mestrandos e doutorandos, e articula-se com diferentes centros de investigação no campo da Seguridade e
Assistência Social; b) como consultoria e intervenção compõe – se de uma equipe de profissionais, de alunos
de Pós – Graduação e pesquisadores, vinculando-se (...) ao Instituto de Estudos Especiais (IEE), Instituto
Pólis e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.” (PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS
GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL, 2002, p. 22)
42
...a questão social se apresenta como um eixo central capaz de articular a gênese das
seqüelas inerentes ao modo de produzir-se e reproduzir-se do capitalismo
contemporâneo, o que envolve as mudanças no mundo do trabalho; suas
manifestações e expressões concretas na realidade social, particularmente a exclusão
social; as estratégias de seu enfrentamento articuladas pelas classes sociais e o papel
do Estado neste processo; e, por fim, os desafios teóricos, políticos e técnico –
operativos postos ao Serviço Social para seu desvelamento e processo de trabalho.
(CARDOSO et al., 1997, p.26)
23
José Paulo Netto no Prefácio do livro “A instrumentalidade do Serviço Social” de Yolanda Guerra (1995)
faz referência ao “acervo teórico no campo do Serviço Social”, construído por importante grupo de
intelectuais e que vem contribuindo para o reconhecimento da profissão.
45
24
Destacamos as ações, discussões e produções dos profissionais do campo sociojurídico, que nos últimos
anos vêm ganhando expressão ao promover o debate sobre as particularidades da prática profissional neste
campo. Como exemplo temos: - a sessão temática “ Serviço Social e Sistema Sociojurídico” , inaugurada no
X CBAS – 2001 e mantido no XI CBAS - 2004; a publicação da Revista Serviço Social e Sociedade – 67
(2001) sobre o Tema Sociojurídico; a realização do Encontro Nacional Sóciojurídico: o Serviço Social e a
garantia de direitos nos sistemas de justiça e penitenciário, realizado em setembro de 2004 – Curitiba/PR; a
apresentação de oficina temática denominada “Serviço Social sociojurídico em novembro de 2003 no II
Congresso Parananense de Assistentes Sociais; as publicações “Perda do Pátrio Poder: aproximações a um
estudo socioeconômico, coordenado por Eunice T. Fávero e publicado pela Veras Editora em 2000 , “ O
estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos: contribuição ao debate no Judiciário, penitenciário e na
previdência social” organizado pelo CFESS e publicado em conjunto com a Cortez Editora em 2003 e “O
Serviço Social sociojurídico”, publicação do CRESS – 7 Região/Rio de Janeiro na Revista Em Foco, em maio
de 2004.
46
25
“A economia capitalista mundial, conhecida como neoliberalismo, constitui-se como aquilo que alguns
chamam ‘acumulação flexível do capital’, isto é, o fim do modelo industrial fordista e do modelo político –
econômico keynesiano. Ao modelo fordista, a economia responde com a terceirização, a desregulação, o
predomínio de capital financeiro, a dispersão e fragmentação da produção e a centralização/velocidade da
47
informação e a velocidade das mudanças tecnológicas. Ao modelo keynesiano do Estado de Bem – Estar, a
política neoliberal responde com a idéia de Estado mínimo, a desregulação do mercado, a competitividade e a
privatização da esfera pública.” (CHAUÍ, 2001, p. 129 – 130)
48
26
IAMAMOTO, M. O Serviço Social na Contemporaneidade (1998); MARTINELLI, M. L. O ensino teórico
– prático do Serviço Social: demandas e alternativas (1994);SETUBAL, Aglair A. Pesquisa em Serviço
Social: utopia e realidade (1995); Cadernos ABESS 3, 4,5, 6, 7 e 8 (1989 – 1998); Revista Temporalis 2 e 8
(2000 - 2004).
50
28
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã (1989); Marx, Karl. Contribuição à crítica da
economia política (1983), O Capital (1988) e Manuscritos econômicos filosóficos e outros textos escolhidos
(1991); PINTO, Àlvaro Vieira. Ciência e existência: problemas filosóficos (1979); VÁZQUEZ, Adolfo
Sánches. Filosofia da Praxis (1977); KOSIK, Karel. Dialética do Concreto (1976); LEFEBVRE, Henri.
Lógica Formal/Lógica Dialética (1991) e Sociologia de Marx (1968); IANNI, Octávio. Dialética e
Capitalismo (1985) e Dialética e Ciências Sociais (1984); FERNANDES, Florestan. A Sociologia numa era
de revolução social (1976)
54
Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião e por tudo o
que se queira. Mas eles próprios começam a se distinguir dos animais logo que
começam a produzir seus meios de existência, e esse passo à frente é a própria
conseqüência de sua organização corporal. Ao produzirem seus meios de existência,
os homens produzem imediatamente sua própria vida material. (MARX e ENGELS,
1989, p. 13)
...A essência humana da natureza não existe senão para o homem social, pois apenas
assim existe para ele como vínculo com o homem, como modo de existência sua para
o outro e modo de existência do outro para ele, como elemento vital da efetividade
humana; só assim existe como fundamento de seu próprio modo de existência
humano. Só então se converte para ele seu modo de existência natural em seu modo
de existência humano, e a natureza torna-se para ele o homem. A sociedade é, pois, a
plena unidade essencial do homem com a natureza, a verdadeira ressurreição da
natureza, o naturalismo acabado do homem e o humanismo acabado da natureza.
...É a ação que delineia, circunscreve e determina a essência dos homens. É na e pela
prática que as coisas humanas efetivamente acontecem, que a história se faz.
...A prática tipicamente humana, que delineia seu modo de ser, não é a prática
mecânica, transitiva; ao contrário, é uma prática intencionalizada, marcada desde suas
origens pela simbolização. É que, instaurando-se como prolongamento das forças
energéticas instintivas, a subjetividade se constitui como um novo equipamento,
próprio da nova espécie, transformando-se num instrumento de ação dos homens.
meios e instrumentos, também, cada vez mais complexos. Podemos dizer que
a construção do conhecimento refere-se ao processo de busca de satisfação de
uma destas necessidades e que é uma das expressões e objetivações mais
complexas da prática social humana.
...O homem é um ser de necessidades, e exatamente por isso produz para satisfazê-
las. (...) No homem, essa relação é mediata, já que só satisfaz a necessidade na
medida em que, esta já perdeu seu caráter físico, imediato. Para que o homem
satisfaça propriamente suas necessidades, ele tem que libertar-se delas superando –as,
ou seja, fazendo com que percam seu caráter meramente natural, instintivo, e se
tornem especificamente humanas. Isso quer dizer que a necessidade propriamente
humana tem que ser inventada ou criada. O homem, portanto, não é apenas um ser de
necessidades, mas sim um ser que inventa ou cria suas próprias necessidades.
(VÁZQUEZ, 1977, p.141 – 142)
“...Praxis, em grego antigo, significa ação para levar a cabo algo, mas
uma ação que tem seu fim em si mesma e que não cria ou produz um objeto
alheio ao agente ou a sua atividade. ...”(VAZQUEZ, 1977, p.4)
Na filosofia grega antiga é Aristóteles que busca dar sentido rigoroso à
praxis como atividade do ser humano. Considerava a praxis como uma das
três atividades básicas do homem, além da “theoria e da poiésis”. Estas
atividades se distinguem pela sua finalidade, ou seja, para o conhecimento
teórico a finalidade é a verdade; para o conhecimento da poiésis a finalidade é
a produção de alguma coisa e para o conhecimento prático, a finalidade é a
ação. O conhecimento prático ainda se dividia em econômico, ético e político.
(BOTTOMORE,1993)
No entanto é em Marx que a concepção de praxis torna-se central, não
separando a teoria da ação. Praxis é uma categoria filosófica que na
perspectiva marxista expressa a articulação entre a ação e o conhecimento,
constituindo-se de um processo da transformação de ação, do conhecimento e
do próprio sujeito.
A expressão práxis refere-se, em geral, a ação, atividade, e, no sentido que lhe atribui
Marx, à atividade livre, universal, criativa e auto – criativa, por meio da qual o
homem cria (faz, produz), e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico e
a si mesmo; atividade específica ao homem, que o torna basicamente diferente de
todos os outros seres. Nesse sentido, o homem pode ser considerado como um ser da
práxis, entendida a expressão como o conceito central do marxismo, e este como a
“filosofia” (ou melhor, o “pensamento”) da “práxis”. ... (BOTTOMORE, 1993, p.
292)
Nesse sentido, podemos dizer que a atividade prática é real, objetiva ou material (....)
Marx ressalta o caráter real, objetivo, da praxis na medida em que transforma o
mundo exterior que é independente de sua consciência e de sua existência. O objeto
da atividade prática é a natureza, a sociedade ou os homens reais. A finalidade dessa
atividade é a transformação real, objetiva, do mundo natural ou social para satisfazer
68
A teoria em si – nesse como em qualquer outro caso – não transforma o mundo. Pode
contribuir para sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em
primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais,
efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática transformadora se
insere um trabalho de educação das consciências, de organização dos meios materiais
e planos concretos de ação; tudo isso como passagem indispensável para desenvolver
ações reais, efetivas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que
materializa, através de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente,
70
operário e por ser científicas suas formulações teóricas têm uma essência
revolucionária.
Nesta perspectiva a teoria representa a reprodução ideal do mundo
concreto. Que só tem sentido se acompanha a processualidade do real e se
não cristaliza conceitos e categorias ali presentes.
O fato de que a prática determine a teoria não apenas com sua fonte – prática que
amplia com suas exigências o horizonte de problemas e soluções da teoria -, como
também como finalidade – como antecipação ideal de uma prática que ainda não
existe -, demonstra, por sua vez, que as relações entre teoria e prática não podem ser
encaradas de maneira simplista ou mecânica, isto é, como se toda teoria se baseasse
75
de modo direto e imediato na prática. (...) Mas não nos esqueçamos de que estamos
falando nesse momento das relações entre teoria e praxis no transcurso de um
processo histórico – social que tem seu lado teórico e seu lado prático. Na verdade, a
história da teoria (do saber humano em seu conjunto) e da praxis (das atividades
práticas do homem) são abstrações de uma só e verdadeira história: a história
humana. (...) A atividade prática que hoje é fonte da teoria exige, a seu turno, uma
prática que ainda não existe e, desse modo, a teoria ( projeto de uma prática
inexistente) determina a prática real e efetiva. ... (VÁZQUEZ, 1977, p. 233)
a) que não se trata de uma relação direta e imediata, já que uma teoria pode
surgir – e isso é bastante freqüente na história da ciência – para satisfazer direta e
imediatamente exigências teóricas, isto é, para resolver dificuldades ou contradições
de outra teoria;
b) que, portanto, só em última instância e como parte de um processo histórico
– social – não através de segmentos isolados e rigidamente paralelos a outros
segmentos da prática -, a teoria corresponde a necessidades práticas e tem sua fonte
na prática. (VÁZQUEZ, 1977, p. 233 - 234)
A prática mantém sua primazia com relação à teoria, sem que tal primazia dissolva a
teoria na prática nem a prática na teoria. Por manterem uma e outra relações de
unidade, e não de identidade, a teoria pode gozar de certa autonomia em relação às
necessidades práticas, mas de uma autonomia relativa, porquanto, como vimos
insistindo, o papel determinante corresponde à prática como fundamento, critério de
verdade e finalidade da teoria. (VÁZQUEZ, 1977, p.238)
pelo homem. “...Ser radical é atacar o problema pela raiz. E a raiz, para o
homem, é o próprio homem.”
Temos que a praxis é condição humana que se objetiva através do
trabalho. Estas reflexões nos levam a pensar a produção de conhecimento
através da pesquisa como uma das modalidades da praxis humana, em que a
relação de unidade teoria/prática pode efetivamente ser trabalhada,
dependendo da perspectiva filosófica e visão de mundo que orienta o
pesquisador e profissional em sua concepção de pesquisa.
A praxis é sempre movida por uma visão de homem – mundo e isto
implica em ter presente no processo de produção de conhecimento um
conjunto de valores, de intenções, de idéias, e de sentimentos que referem -
se ao posicionamento que o sujeito possui em relação à direção social de suas
ações. Nenhum sujeito é isento de valores, suas posições são determinadas
pela sua condição de classe, pela ideologia e pela consciência que possui
destes aspectos29.
“Uma visão de mundo é precisamente esse conjunto de aspirações, de
sentimentos e de idéias que reúne os membros de um grupo (mais
freqüentemente, de uma classe social) e os opõem aos outros grupos.”
(GOLDMANN, 1979, p. 20)
LÖWY ( 1986, p.74 – 75) explica que, na perspectiva de Goldmann, a
visão de mundo30 é condicionada pela inserção das classes sociais no processo
29
“...A Ideologia, forma específica do imaginário social moderno, é a maneira necessária pela qual os agentes
sociais representam para si mesmos o aparecer social, econômico e político, de tal sorte que essa aparência
(que não devemos simplesmente tomar como sinônimo de ilusão ou falsidade), por ser o modo imediato e
abstrato de manifestação do processo histórico, é o ocultamento ou a dissimulação do real.
Fundamentalmente, a ideologia é um corpo sistemático de representações e de normas que nos ‘ensinam’ a
conhecer e a agir. ...”( CHAUÍ, 1989, p. 3)
30
GOLDMANN em sua obra Dialética em Cultura (1979, p. 17) deixa claro a importância de nos determos
na concepção de visão de mundo: “ O que é uma visão de mundo ? Já o escrevemos anteriormente: não é um
dado empírico imediato, mas, ao contrário, um instrumento conceitual de trabalho, indispensável para
compreender as expressões imediatas do pensamento dos indivíduos. Sua importância e sua realidade se
manifestam mesmo no plano empírico, desde que a ultrapasse o pensamento de um só escritor. ...”
78
Deste modo é a partir da classe social, da consciência possível de classe, que vai se
desenvolver a visão de mundo de uma classe, e essa visão de mundo vai se
manifestar em seu comportamento social. Isto é importante porque a visão de mundo
não é só um fenômeno espiritual, é algo que se manifesta tanto na prática, no
comportamento econômico, social, político, real da classe, quanto ao nível conceitual,
através de doutrinas, teorias filosóficas, ou no terreno da imaginação, através de obras
culturais, literárias, artísticas e outras. (LÖWY, 1986, p. 75)
No sentido que lhe é dado por Marx, ação pela qual (ou estado no qual) um indivíduo,
um grupo, uma instituição se tornam (ou permanecem) alheios, estranhos, enfim,
alienados aos resultados ou produtos de sua atividade (e à atividade ela mesma), e/ou
à natureza na qual vivem, e/ou a outros seres humanos, e – além de, e através de, -
também a si mesmos (às suas possibilidades humanas constituídas historicamente).
Assim concebida, a alienação é sempre alienação de si próprio ou auto – alienação,
isto é, alienação do homem ( ou de seu ser próprio) em relação a si mesmo (às suas
possibilidades humanas, através dele próprio (pela sua própria atividade)
(BOTTOMORE, 1993, p.5)
Para KOSIK (1976) cada fenômeno deve ser entendido como um todo
parcial e histórico, pertencente a uma totalidade complexa. Ao mesmo tempo
em que é particular, devido à sua especificidade, só tem sentido se sua
essência for buscada a partir da totalidade em que se insere.
É na perspectiva da totalidade que a produção de conhecimento pode ser
entendida, como expressão particular do trabalho humano que se processa e se
objetiva através da pesquisa. Neste contexto, a pesquisa ganha significado
ontológico, ou seja, existencial e laborativo, pois faz parte da natureza humana
se perguntar pelo desconhecido e através das possibilidades de respostas
atender as necessidades do homem em suas dimensões individual e coletiva,
produzindo e reproduzindo sua própria existência, não de forma mecânica,
mas de forma complexa, processual, contraditória e histórica.
PINTO (1979, p. 235) situa a pesquisa científica como expressão do
trabalho humano e em sentido epistemológico busca definir que “...todo
trabalho é por definição científico, no duplo sentido de que : a) em qualquer
de seus tipos, graus ou modos, é ele o único gerador da ciência; b) de que se
não fosse científico não seria produtivo e útil, pois não se efetuaria de acordo
com as leis objetivas que regem a transformação das coisas. ...”
Esta forma de trabalho tem um caráter histórico, pois agrega na sua
essência os avanços do conhecimento, cultura e o domínio cada vez mais
complexo dos instrumentos que viabilizam o trabalho humano. É histórico,
também porque o pesquisador incorpora-se ao movimento sócio-cultural da
sociedade, reconstruindo o conjunto dos conhecimentos e idéias que a
humanidade produziu de forma a promover o desenvolvimento social, político
e cultural da sociedade e a transformar os meios necessários à reprodução da
existência humana.
86
A produção científica não constitui um fim absoluto, mas relativo, no sentido em que
faz parte do fim geral que a sociedade se propõe. A ciência participa por essência
desta ambigüidade dialética: por um lado, enquanto setor particular do trabalho geral
da comunidade, só pode ser promovida com a melhoria do trabalho comum, mas, por
outro lado, é ela própria um dos instrumentos mais poderosos para levar a cabo essa
melhoria. (...) Cabe ao cientista a avaliação do alcance de suas idéias e programas,
examinando-os com espírito crítico pelo ângulo da contribuição que tragam ao
progresso geral da comunidade e à transformação das condições da existência das
massas. ...(PINTO, 1979, p.335)
aparece como relações entre coisas. ...” O trabalho alienado desumaniza, retira
do homem a sua natureza social e a sua condição de sujeito.
...Em tais condições o papel existencial que o trabalho por natureza possui, de ser o
princípio da criação de si do homem, está impedido de cumprir-se, porque o
indivíduo tem de aceitá-lo passivamente por toda a vida, vindo de uma força exterior
que o manieta e contra a qual, não tem possibilidades de reagir. Em vez de contribuir
para formar o ser do homem, este se torna destruído no seu ser, isto é, na sua
liberdade (de que decorreria o poder de fazer-se a si mesmo), para se tornar o ser
produzido pelo trabalho que lhe é imposto. Neste caso, o trabalho inverte o papel a
que está destinado. Em vez de ser para o homem, este é que é para o trabalho. O
atributo converte-se em substância, o instrumento em origem absoluta. Tal é a
essência da escravidão, da servitude, da alienação do trabalho. (PINTO, 1979, p. 344)
...A pesquisa científica é e sempre foi social, porque possui esse atributo não por
acidente, por circunstâncias de época, mas por essência, por natureza, e portanto já o
manifestava, embora por aspectos diferentes dos atuais, mesmo quando se exercia em
forma de trabalho ou de meditação solitária de um sábio, que se consagrava a indagar
o segredo das propriedades dos corpos e a descobrir as leis que ligavam os fenômenos
então conhecidos...
A pesquisa é social porque o pesquisador, isolado ou em grupo, a empreende em
razão de uma exigência, sem dúvida sentida subjetivamente, mas de origem e
justificação objetivas, ou seja procedente de uma necessidade social. Deve distinguir-
se entre o lado subjetivo, aquele que aparece à consciência do pesquisador com
caráter de motivação imediata, e o lado objetivo, que, embora quase sempre não
sendo claramente apreendido, estabelece de fato a razão última que explica a
dedicação do sábio ao trabalho, à especialidade a que se consagra, e mesmo o tipo de
problema particular que lhe desperta a atenção. ...(PINTO, 1979, p.480)
89
sua produção vem a ser um dos traços que revertem sobre a personalidade do criador
para criá-lo como tal, fazendo dele aquele que criou esses produtos, que terão essa
destinação.(...)
...Abrangendo o conceito de produção tanto os bens materiais de consumo quanto as
idéias, torna-se necessário que, neste último caso, o estudioso ou pesquisador esteja
consciente do destino que terão as criações do seu pensamento. O uso que delas vem
a ser feito, e que em grande parte não está ao seu alcance controlar, representa uma
característica do seu ser, mesmo que a recuse ou disso não tenha conhecimento.
Nessa característica consiste a responsabilidade histórica e existencial da produção
(...) Sua criação específica no terreno do saber não pertence apenas à história das
idéias ou da ciência; pertence igualmente à história da humanidade, porque,
realizando-se no campo da cultura, se projeta na evolução de todo processo histórico.
O homem de ciência ingressa na história por dupla dimensão: enquanto criador de
determinado conteúdo de saber, que se incorpora à ciência de que a sociedade dispõe,
e como responsável pelas conseqüências humanas que essa criação, especialmente no
campo das idéias, venha a ter. ...(PINTO, 1979, p. 350 – 351)
....A ética da pesquisa científica identifica-se com a ética geral, de base existencial e de
suporte histórico social, que não podemos desenvolver neste ensaio, mas nos permitimos
resumir num único preceito, o da formação pelo pesquisador da autêntica consciência de
si, em virtude da qual adquire a noção da sua realidade existencial. Essa consciência
implica o saber do porquê age da maneira em que age, não apenas em função de uma
tabela subjetiva de valores, mas sobretudo em função da situação objetiva onde vive,
como homem obrigado a vencer constantemente a contradição da ignorância, que
também se pode chamar, indiferentemente, a contradição do conhecimento. (PINTO,
1979, p. 512)
...Assim o objeto se relaciona com a consciência por uma multiplicidade de vias. Não
se trata de admitir que a objetividade se componha desses múltiplos aspectos,
derivados todos da atitude tomada pela consciência, como quer o idealismo
fenomenológico, mas o que se deve aceitar é a existência de uma ação recíproca, uma
correlação dialética, segundo a qual, se por um lado a consciência, pela sua “visada”
configura o objeto em “tal coisa”, e escolhe no conjunto das suas propriedades certos
dados concretos, aqueles que irão representar para ela nessa linha de percepção, por
outro lado, o objeto, pelo fato de ser globalmente, o termo de uma “preocupação” da
consciência, atua sobre esta e se torna um dos seus elementos constitutivos.(...)
Ao contrário, a consciência se dirige ao objeto e o constitui com determinado sentido
pela maneira segundo a qual o apreende, ou melhor, pelo modo em que dele retira
certos dados. Mas ao mesmo tempo esse contato com o real tem efeito reversível, isto
é, a consciência passa a ser determinada pelo objeto a que se dirige. ...
(PINTO, 1979, p.498 - 499)
II CAPÍTULO
“ Hoje, mais do que nunca, os homens precisam
esclarecer teoricamente sua prática social, e regular
conscientemente suas ações como sujeitos da
história. E para que essas ações se revistam de um
caráter criador, é necessário, também hoje mais do
que nunca, uma elevada consciência das
possibilidades objetivas e subjetivas do homem como
ser prático, ou seja, uma autêntica consciência da
praxis.” (VÁZQUEZ – 1977)
... A união que a particularidade realiza entre uma determinada singularidade e uma
determinada universalidade, mediante uma série de determinações mediadoras
resgatadas na tensão dos polos, constantemente em ato, expressa as contradições,
fazendo existir uma autêntica e verdadeira aproximação à compreensão adequada da
realidade.
O particular, entretanto, não se configura como um simples elo de ligação entre o
universal e o singular. Possui um caráter posicional, apresentando-se com relação ao
singular como universalidade relativa e ao universal, como singularidade relativa.
Mesmo assim, essa relatividade posicional deve ser concebida como um processo que
engendra uma base crítica que se obtém no movimento permanente de “...descoberta
das reais mediações para cima e para baixo na relação dialética do universal e
particular.” É na particularidade que devemos ver, tanto um princípio de movimento
do conhecimento, quanto uma etapa, um momento do caminho dialético.32
32
Citação entre aspas utilizada por BATTINI (1991) refere-se a LUKÁCS, G. Introdução a uma estética
marxista. Tradução Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder, 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1978.
104
33
Epígrafe: ... Título ou frase que serve de tema a um assunto; mote.(...) Sentença ou divisa posta no
frontispício de livro, capítulo, princípio de discurso,conto, composição poética, etc. (FERREIRA, 1988, p.
256)
106
“E acho que eu fui bastante estimulada, talvez seja uma curiosidade minha, a
ter esta noção da totalidade das coisas. Eu não sei, talvez um traço de
personalidade, eu não sei desenvolver um pensamento se eu não consigo
compreender o título, certo? Quero dizer, o conceito subjacente. Então eu
tenho sempre essa necessidade de compreender a totalidade de alguma coisa,
seja até a totalidade do aparecer ou até mesmo ir desdobrando o objeto em
múltiplas faces pra poder compreendê-lo um pouco melhor. Então eu gosto
muito da pesquisa, eu gosto muito do mergulho na realidade, eu não sou uma
teórica, eu não tenho um raciocínio dedutivista. Eu trabalho muito mais do real
pra cima e eu acho que isso são partes do compromisso de pesquisa.” (Aldaíza
Sposati)
Este processo deve-se dar com uma direção teórico – crítica que busca
compreender a realidade em suas manifestações múltiplas. No âmbito
profissional o Assistente Social hegemonicamente tem uma orientação crítica
para mergulhar na realidade, buscando compreendê-la a partir de uma
perspectiva de totalidade. A atitude investigativa tem que ser estimulada desde
a formação na graduação e compõe, ao longo do processo de inserção do
profissional na realidade, um dos pilares para construção e investigação dos
objetos de atenção do Serviço Social.
Do ponto de vista teórico – metodológico, sob o abrigo da teoria social crítica, torna-
se fundamental imprimir a atitude investigativa no trabalho profissional cotidiano,
como um dos significativos espaços geradores de condições transformadoras. A
dimensão investigativa na prática dos sujeitos cria suporte para o conhecimento, que
também produz condições para a capacidade de expressão e objetivações humanas.
Essa dimensão é entendida como produto real e objetivo, pois considera o ato de
conhecer, exercido sobre a matéria mediatizada ou imediata, destinado a criar novo
objeto para nova ação, visando a transformação do real. O exercício permanente da
pesquisa, impulsionado pela atitude investigativa, como expressão do inconformismo,
da crítica reiterada à realidade, do questionamento rico e vivo sobre os fatos, cria
possibilidades de novas explicações permitindo ir além do limite dado. (BATTINI,
2003, p. 17)
“...Sou daquelas que defende que precisamos sempre pesquisar tendo em vistas
as determinações macro-sociais do real com o aporte da teoria crítica,
seguindo a velha lição marxiana de que “o concreto é síntese das múltiplas
determinações do real” . Contudo é fundamental – e aí é que reside o desafio –
é necessário a apropriação de outras categorias mediadoras para podermos
trabalhar as particularidades e singularidades presentes na realidade. Me
explico com um exemplo: trabalhar com programas de trabalho e renda, por
exemplo, é uma requisição objetiva para o serviço social. Subjacente a esta
atividade concreta está o desemprego e as possibilidades da economia
brasileira. Claro que o desemprego e o crescimento da economia são questões
que invocam determinações macro-sociais, mas para construir um programa,
outras questões que informam sobre a particularidade brasileira e as
singularidades regionais, locais, etc., necessitam ser apropriadas.”(Ana
Elizabete Mota)
...a teoria social de Marx informa a pesquisa na perspectiva prático - crítica. Esse
movimento do pensar/agir coloca em discussão o compromisso da pesquisa que é o de
pôr em crise o universo de certezas, instigando a sociedade a repensar,
ontologicamente, acontecimentos e teorias na busca de novas civilidades. É essa a via
através da qual entendemos a pesquisa como importante ferramenta para a
reconstrução das relações sociais. (BATTINI, 2003, p. 11)
por um sujeito que é político e coletivo. Assim, o método tem caráter histórico
– pois contextualiza as relações sociais numa dada estrutura social e
econômica de produção – e caráter universal, na medida em que determina a
natureza das relações humanas e o processo em que se reproduzem material e
espiritualmente.
Trata-se de um processo em que as mediações ganham relevância para
apreender, no movimento de constituição da realidade social, os elementos
que dão complexidade e expressão concreta aos objetos de investigação. “ A
categoria de mediação tanto possui a dimensão ontológica quanto reflexiva. É
ontológica porque está presente em qualquer realidade independente do
conhecimento do sujeito; é reflexiva porque a razão, para ultrapassar o plano
da imediaticidade (aparência) em busca da essência, necessita construir
intelectualmente mediações para reconstruir o próprio movimento do objeto.”
(PONTES, 2000, p. 41)
“...Eu fiz uma caminhada para fora...Eu me formei e fui pra dentro da saúde
pública e depois eu fiz uma caminhada da saúde pública pra dentro, pra o
Serviço Social... Eu acho que isso foi super importante pra mim, sabe essa
caminhada. Eu até brincava dizendo que eu botei meu sapatinho de chumbo e
voltei.(...)
Quando eu voltei fazer o mestrado, quando eu vim trabalhar aqui, na verdade
eu vim carregada de uma experiência concreta.” (Jussara Maria Rosa Mendes)
113
“Eu acho assim, que quando o exercício profissional não incorpora a dimensão
investigativa como um elemento interno ao processo de trabalho a tendência é
se ter uma prática reiterativa, pouco criativa e de não realizar aquilo que o
Marx chamou de praxis, que é a ação pensada. O grande desafio para o
exercício profissional é não se deixar subsumir na rotina institucional, exercer
aquela autonomia relativa profissional que nós temos e assegurar o espaço da
reflexão e da investigação, que é o que pode permitir a formulação de novas
115
“...eu acho assim que uma das coisas que a gente tem que reconhecer até pra
poder mudar é que a gente está aprendendo a fazer pesquisa. Isso eu tenho
claro. Eu estou aprendendo a pesquisar. E a gente tem que ter até essa
humildade teórica pra (...) não achar que o nosso saber é o mais correto. É um
saber e ele vai se tornar ou mais ou menos relevante se (...) souber apreender a
realidade. Então a gente está aprendendo, agora (...) tem que melhorar
muito....” (Lúcia Cortes da Costa)
34
Identificamos que IAMAMOTO (1998, em especial nas páginas 94-97) faz crítica à compreensão da prática
profissional no âmbito da praxis. Reconhece que essa compreensão possibilitou ao Serviço Social superar
uma visão focalista de prática profissional e inseri-lo no âmbito das relações sociais, no entanto registra que o
termo prática profissional restringe a mesma à compreensão do fazer cotidiano profissional , ou seja à
compreensão das atividades que são desempenhadas pelo profissional e aponta para a transição do foco da
prática para o foco do exercício profissional, ou seja “... focar o trabalho profissional como partícipe de
processos de trabalho que se organizam conforme as exigências econômicas e sociopolíticas do processo de
acumulação, moldando-se em função das condições e relações sociais específicas em que se realiza, as quais
não são idênticas em todos contextos em que se desenvolve o trabalho do assistente social.” Assim considera
que o que regularmente se chama de prática profissional “... corresponde a um dos elementos constitutivos do
processo de trabalho que é o próprio trabalho....” Esta crítica, entretanto, não é conclusiva quanto a relação
entre exercício e prática profissional. Assim nossa compreensão é de que a prática profissional é uma
dimensão da práxis e objetivação do que se chama de exercício profissional.
120
35
Um dos marcos referente às mudanças de análise do exercício profissional , inserindo-o no contexto dos
processos e relações de trabalho é a construção das diretrizes curriculares que engendraram o processo de
reformulação curricular, orientado pela ABEPSS desde 1996. No entanto esta questão não é tranqüila no
Serviço Social, apresentando polêmicas e posições diferenciadas conforme podemos verificar nos artigos da
Revista Temporalis, número 02, publicação da ABEPSS em 2000.
121
36
YAZBEK (1999, p.96) traz sobre este aspecto importante esclarecimento: “ Na atual conjuntura de
precarização e subalternização do trabalho à ordem do mercado, de erosão das bases da ação social do Estado
e de desmontagem dos direitos sociais, civis e econômicos, a questão social, matéria prima da intervenção
profissional dos assistentes sociais, assume novas configurações e expressões entre as quais destacamos a
insegurança e vulnerabilidade do trabalho e a penalização dos trabalhadores, o desemprego, o achatamento
salarial, o aumento da exploração do trabalho feminino, a desregulamentação geral dos mercados. E outras
tantas questões com as quais os assistentes sociais convivem cotidianamente são: questões de saúde pública,
de violência, da droga, do trabalho da criança e do adolescente, da moradia na rua ou da casa precária e
insalubre, da alimentação insuficiente, da ignorância, da fadiga, do envelhecimento sem recursos, etc.
Situações que representam para os que as vivem, experiências de desqualificação e de exclusão social ( e que
expressam também o quanto a sociedade pode tolerar e banalizar a pobreza sem fazer nada para minimizá-la
ou erradicá-la).”
122
(...) Daí quando eu entrei na Casa do Menor a dinâmica, a rotina institucional era
muito pesada.(...) E num primeiro momento você começa naquele atendimento
individual, até pra ver o que aquelas pessoas querem. E a primeira questão que
me chamou a atenção é que a maioria das pessoas que estavam ali eram mães de
adolescentes que iam na Casa do Menor procurar trabalho pros adolescentes.
Isto foi em 89 antes do ECA e a Casa do Menor tinha pra essa população uma
representação de que era uma intermediação de mão de obra, tipo a Guarda
Mirim. E isto me chamava muito a atenção porque não tinha emprego pra essa
população. E a situação, e por mais que eu olhasse as famílias e você pode até
pensar que as famílias ficam explorando o trabalho das crianças, mas era uma
necessidade concreta e também tinha o entendimento que era melhor o menino
trabalhar do que ficar na rua. Então a primeira questão que me chamou pra
pesquisa foi pensar: mas que lugar tem pra este povo nesta sociedade?” (Lúcia
Cortes da Costa)
individuais.
várias facetas deste lugar social ocupado pelo povo, principalmente quando
problematizada em sua expressão mais singular.
Pensar a pobreza exige abordar aspectos múltiplos (objetivos e
subjetivos): econômicos, sociais, culturais, históricos, políticos e suas
expressões nas condições de vida de um povo, em um determinado contexto
sócio – histórico. E para nós da área social requer apreender como o próprio
povo pensa e vive concretamente a pobreza. Portanto a pesquisa não se
direciona apenas para a compreensão de um objeto específico em um
contexto recortado da realidade, mais do que isso, está preocupada em
responder objetivamente à complexidade dos problemas sociais que afetam
sujeitos concretos.
As expressões da questão social se dão em diferentes instâncias da
prática profissional, como, por exemplo, no campo da política de saúde – um
dos tradicionais espaços de intervenção profissional.
“Pois é, a minha história de pesquisa ... no Serviço Social ... tem uma interface
muito grande com o meu trabalho na área de Saúde Pública... Meu primeiro
trabalho foi em uma unidade sanitária, ... e de imediato .... era uma área que eu
não tinha grande familiaridade, então eu comecei a buscar conhecer o que era
isso, o que essa área de fato me exigia, exigia do trabalho do Assistente Social
e foi um período de muita (...) A saúde pública é um terreno muito fértil (...)
Bom ali,... eu tive a minha, acho que o primeiro exercício de
interdisciplinaridade com aquela equipe e já com um objeto se desenhando que
era exatamente como que se dava a prestação da assistência na área de saúde
nos postos avançados.” (...) (Jussara Maria Rosa Mendes)
37
Segundo CANESQUI (1997, p.11) “ A emergência da presença das ciências sociais na pesquisa social em
saúde, na formação de profissionais dos campo biomédico, sanitário e na Saúde Coletiva, não é nova no
Brasil. Sua institucionalização deu-se, em nossa sociedade, principalmente a partir da década de 70. Sofreu,
dentre outros fatores, os efeitos da intervenção estatal, através das políticas de reformulação e expansão do
ensino – médico, da construção de sistema de pós – graduação e de ciência e tecnologia pertinentes à Saúde
Coletiva e das modificações da organização da assistência médica e da Saúde Pública engendradas pela
intervenção do Estado. Além disso, a expressão dos distintos movimentos reformadores (medicina integral,
preventivismo e medicina comunitária) e posteriormente do próprio movimento sanitário favoreceu a
valorização da incorporação das ciências sociais à Medicina e à Saúde Coletiva, como também não devem
ser minimizadas as distintas influências internacionais que, em diferentes momentos históricos, portaram
redefinições dos saberes e práticas médicos ou sanitários, envolvendo a estreita interlocução com as ciências
sociais.”
38
Necropsia Verbal: “...Essa técnica consiste em se efetuarem visitas domiciliares e entrevistas orientadas
por um questionário padrão, estruturado a partir das informações constantes nas Dos. Ela tem por finalidade a
validação dessas informações junto aos familiares ou amigos que tenham acompanhado a vítima , permitindo
confirmar-se ou refazer-se o diagnóstico da causa da morte, bem como acrescentarem-se outras informações
pertinentes.” (MENDES: 1999, p.164) - (Esclarecendo: “DOs” são Declarações de Óbitos)
131
...A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre
o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um
vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O
conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria
explicativa; o sujeito – observador é parte integrante do processo de conhecimento e
interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado
inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam
em suas ações. (CHIZZOTTI, 1991, p. 79)
... se define como um relato de um narrador sobre sua existência através do tempo,
tentando reconstituir os acontecimentos que vivenciou e transmitir a experiência que
adquiriu. Narrativa linear e individual dos acontecimentos que ele considera
significativos, através dela se delineiam as relações com os membros de seu grupo,
de sua profissão, de sua camada social, de sua sociedade global, que cabe ao
pesquisador desvendar. Desta forma o interesse deste último está em captar algo que
ultrapassa o caráter individual do que é transmitido e que se insere nas coletividades a
que o narrador pertence. ...(QUEIROZ, 1987, p.275)
39
Discussões sobre as polêmicas teóricas acerca do objeto da espistemologia ver em COSTA, Dina C. (org.)
Epidemiologia: teoria e objeto. São Paulo: HUCITEC – ABRASCO, 1994.
133
“Eu desde da minha formação, graduação, interessante que eu fiz uma pesquisa
de campo, eu fiz entrevistas, eu dei tratamento estatístico aos resultados e
uma conclusão no meu trabalho de conclusão de curso é que nós deveríamos ter
maior formação em Sociologia na formação em Serviço Social, porque nós
tínhamos àquele período maior formação em Psicologia e eu, então, termino
reivindicando maior informação sociológica, porque pra interpretação dos
dados da pesquisa eu precisava ter maior conhecimento da sociedade e
relacional, naquele momento em que eu estava estudando. E acho que eu fui
bastante estimulada, talvez seja uma curiosidade minha, a ter esta noção da
totalidade das coisas.” (...) (Aldaíza Sposati)
interface a sua divulgação, sem a qual ele fica inócua. ...” (WANDERLEY,
1998, p. 13 – 14)
Quanto a publicação devemos destacar as dificuldades de se fazê-lo,
devido a pouca tradição na área e aos parcos veículos próprios que poderiam
proporcionar ao Serviço Social este alcance. Normalmente esta possibilidade
está vinculada à pós – graduação e aos meios acadêmicos. Portanto a
socialização de conhecimento na área sempre encontrou nestes canais os
meios e recursos necessários, mas nem sempre suficientes. (discutiremos isso
oportunamente).
“Bom eu estou fazendo todo este preâmbulo para te dizer porque que eu acabei
me voltando para pesquisa e buscando sistematizar o conhecimento. Eu
cheguei num impasse, eu cheguei à conclusão de que não podia ficar somente
naquele espaço do Judiciário, ou eu saía de lá – e na época prestei outros
concursos, passei e depois acabei não assumindo - ou eu ia conhecer melhor
essa realidade de trabalho para buscar dar uma outra direção para o trabalho.
Na ocasião realizei concursos para outras instituições, fiz algumas outras
atividades fora da área, foi um período um pouco difícil, mas acabei concluindo
que para que eu pudesse compreender melhor aquela realidade e buscar uma
outra forma de intervenção eu precisava conhecer melhor aquela realidade - e
não existia praticamente nada sistematizado a respeito do trabalho do
Assistente Social no espaço do Judiciário. Existia alguns textos, às vezes - na
época mimeografados - alguns trabalhos isolados, mas nenhum que avançasse
na sistematização, que tivesse uma visão mais crítica daquela realidade. Eu fiz
uma pesquisa ampla e não localizei realmente nada numa perspectiva crítica, e
mesmo numa visão mais tradicional não existia praticamente nada a respeito
dessa área.” ( Eunice Teresinha Fávero)
A dura realidade social que se apresenta aos nossos olhos inquietos é desafiante , seja
pela sua crescente complexidade, seja pelas amargas contradições que se traduzem,
em síntese, na desigualdade que a desumaniza.. Diante disso, duas grandes veredas
se apresentam aos sujeitos sociais (profissionais ou não): o enfrentamento ou a
indiferença (tão em voga sob a capa da liberdade individual). No caso dos assistentes
sociais esse dilema parece soar mais contundente, pois que não podem pretextar
ignorância, já que a realidade com que cotidianamente trabalham os está
pressionando a tomar um posicionamento. (PONTES, 2000, p.49)
da profissão.40
40
-KAMEYAMA ( 1998, p.33-76) faz importante levantamento sobre as temáticas de pesquisa entre 1975 –
1997. Dentre elas refere-se à política social, lembrando que: “ Embora política social constitua um tema
central da área e tenha sido colocada como campo prioritário de atuação e pesquisa, principalmente a partir de
1978, as primeiras dissertações sobre o tema surgem em 1983, no Programa de Pós – Graduação da UFPB,
que tem como área de concentração ‘Política Social e Fundamentos Teórico – Práticos do Serviço Social’.
Posteriormente foram feitas dissertações sobre o tema na PUC/SP em 1984, na UFPE em 1986, na PUC/RJ
em 1987, na PUC/RS em 1988 e UnB em 1993. Este fato nos mostra que os temas emergentes na área de
Ciências Sociais têm um rebatimento tardio na área de Serviço Social.” A disciplina de Política Social passa
a fazer parte da graduação e pós – graduação nos anos 80.
-Durante o IX ENPESS ( realizado em 2004 – PUC/RS) SILVA (2004) apresentou em mesa coordenada
trabalho referente à distribuição das áreas de concentração e linhas de pesquisa pelos Programas de Pós –
Graduação em Serviço Social no Brasil, observando que Política Social, Políticas Públicas, Avaliação e
Gestão de Políticas Sociais têm 41 indicações, passando a ser esta temática prevalente na produção
acadêmica do Serviço Social.
-Também IAMAMOTO (2005), em palestra sobre “Os caminhos para a pesquisa no Serviço Social”,
apresentou quadro atual da produção acadêmica do Serviço Social, tendo por base o Relatório Anual da
CAPES de 2004 referente ao ano de 2003. Identificou 55 linhas de pesquisa, congregando 581 projetos de
pesquisa. A predominância dos eixos temáticos voltam-se para Políticas Sociais, Estado e Sociedade Civil,
correspondendo a 34,5% das linhas de pesquisa. (Palestra Gravada - Aula Inaugural – Programa de Pós –
Graduação em Serviço Social – PUC/São Paulo – 2005).
141
“Aí, eu não sei como você vê isso, mas, assim, você tem dimensões... eu estou
considerando aqui como pesquisa um processo de investigação, que tem um
componente, uma clara articulação teórica, empírica... e é um processo de longa
duração, longa eu não diria, de média duração. Na verdade um projeto
intelectual de longa duração....
Que não é a investigação, levantamento de dados, ou a dimensão investigativa
que necessariamente existe no trabalho profissional. Então, eu estou falando
aqui de pesquisa como um projeto intelectual de largo prazo. Eu acho até que
tem um certo início na graduação, mas ele se consolida de forma madura no
mestrado e depois no doutorado.“ (...) (Elaine Rossetti Behring)
143
Trabalho autônomo quer dizer que ele é fruto de um esforço do próprio pesquisador.
Autonomia esta que não significa desconhecimento ou desprezo da contribuição
alheia, mas ao contrário, capacidade de um inter – relacionamento enriquecedor,
portanto dialético, com outros pesquisadores, com os resultados de outras pesquisas, e
até mesmo com os fatos.
Este inter – relacionamento é dialético na medida em que ele nega, ao mesmo tempo
em que afirma, a relevância da contribuição alheia. Esta só é válida quando
incrementa a instauração da autonomia de pensamento do pesquisador. É
reconhecendo e assumindo, mas simultaneamente negando e superando o legado do
outro, que o pensamento autônomo se constitui. (SEVERINO, 1996, p. 114)
É você entende que não, que não é que você em si não conseguiu fazer. É que
existe um quadro estrutural, que embora os sujeitos possam fazer coisas, que
embora você tenha um espaço de atuação, mas o quadro estrutural pesa e daí
então que eu fui trabalhar com a particularidade do capitalismo no Brasil. (...)
Então essa foi a primeira experiência de pesquisa e ela nasce dessa
preocupação de entender esse campo de atuação do Serviço Social. O que a
gente faz com essa população. Como que a gente pode tratar. Primeira coisa é
entender porque que essa população vive assim. Então foi isso.” (Lúcia Cortes
da Costa)
41
Sobre Identidade, enquanto categoria de natureza dialética MARTINELLI (1993, p.35) esclarece: “...Como
categoria histórica que é, a identidade se constrói no movimento da história, ao longo da caminhada da
própria classe, que ao produzir sua existência, a sua vida material, produz a história humana. Esta é, portanto,
uma história viva, candente, multidimensional, plena de movimento, pulsando com a própria vida. Seu ritmo
relaciona-se diretamente com o amadurecimento das contradições internas dos diferentes períodos da vida da
sociedade, o que lhe imprime um movimento contraditório e complexo, que se expressa tanto por momentos
de lentidão como por outros de intensa atividade, capazes de determinar uma repentina mudança na direção
do fluxo histórico, de promover a transição de uma época histórica e sua estrutura social para outra.”
147
Então a minha descoberta da pesquisa foi por meio da história oral na sua
faceta de depoimentos e com pesquisa documental e bibliográfica. Eu
reconstrui a fase inicial da implantação do serviço buscando os determinantes
daquela forma de inserção do Serviço Social no Judiciário e a partir daí eu não
consegui parar mais. Nem quero parar e nem me propus a isso.” (Eunice
Teresinha Fávero)
(...) a riqueza inesgotável do depoimento oral em si mesmo, como fonte não apenas
informativa, mas sobretudo, como instrumento de compreensão mais ampla e
globalizante do significado da ação humana; de suas relações com a sociedade
organizada, com as redes de sociabilidade, com o poder e o contrapoder existentes, e
com os processos macroculturais que constituem o ambiente dentro do qual se
movem os atores e os personagens deste grande drama ininterrupto – sempre mal
decifrado – que é a História Humana. (ALBERTI 1989, p. 4 - 8)
(...) “Aí eu fiz uma pesquisa, esse projeto, ele se desenvolve, dessa vez, na
perspectiva de tomar um banho de realidade brasileira, que é o “Brasil em
contra –reforma” que é o livro que a editora... da tese, ali a tese de doutorado
inteira. Eu fui estudar o processo de mudança que o Brasil viveu nos anos 90,
que foi auto – intitulado pelos seus formuladores como uma reforma, que eu vou
caracterizar como uma contra – reforma. E, aí tem toda uma articulação... é
isso, é uma pesquisa teórica empírica, mas ainda assim não é uma pesquisa que
trabalhou com depoimentos de sujeitos, trabalhou principalmente com análise
documental – documentos governamentais, leis, legislação, muitas matérias de
jornal, a imprensa como uma fonte importante do acompanhamento cotidiano da
conjuntura. Então os sujeitos apareciam pelas matérias de jornal.” (Elaine
Rossetti Behring)
nesse segundo momento, que foi o doutorado, eu acho que a idéia é aquilo que
eu falei ontem lá na palestra: “morder a realidade”, no sentido de traçar
estratégias para superação da realidade brasileira, da desigualdade.... Tem um
mirante teórico – metodológico radicalmente crítico, anti – capitalista. A idéia
é fornecer elementos para os sujeitos, inclusive tentar identificar quem são
esses sujeitos na realidade brasileira hoje, nesse período reacionário que a
gente está vivendo, para a superação dessa condição geral de desigualdade,
superação dessa condição geral de desigualdade, superação, etc. Então esse é o
projeto.” (...) ( Elaine Rossetti Behring)
...Na investigação social, porém, essa relação é muito mais crucial. A visão de mundo
do pesquisador e dos atores sociais estão implicadas em todo o processo de
conhecimento, desde a concepção do objeto até o resultado do trabalho. É uma
condição da pesquisa, que uma vez conhecida e assumida pode ter como fruto a
tentativa de objetivação do conhecimento. Isto é, usando-se todo o instrumental
teórico e metodológico que ajuda uma aproximação mais cabal da realidade,
mantém-se a crítica não só sobre as condições de compreensão do objeto como do
próprio pesquisador. Conforme nos adverte Lévy Strauss: “Numa ciência onde o
observador é da mesma natureza que o objeto, o observador é, ele mesmo, uma parte
de sua observação. ...” (MINAYO, 1996, p. 21)
“Daí no Doutorado eu fui trabalhar o reforma do Estado, que era um eixo que
já vinha do mestrado mesmo. Então foi uma continuidade naquele processo de
pesquisa, de entender daí a reforma do Estado que se punha como uma
realidade mais abrangente, mas qual era a particularidade dela aqui no Brasil.
... E nesse sentido a idéia inicial era trabalhar o impacto da reforma do Estado
nas políticas sociais. Mas... delimitar isso é muito complexo. Então como estava
153
“Aí a gente ficou entendendo assim, bom o que a gente faz? Primeiro (...)
descobriu que tem que aprender. Aí (...) foi entendendo a pesquisa como um
recurso pedagógico. Então o Núcleo acabou tendo assim uma função não só de
produzir conhecimento, de publicar, mas de formação.(...)
Isso é pra gente aprender a fazer. Isso eu vi muito dos alunos, que os nossos
alunos ... primeiro uma coisa que eu tenho que registrar, foi através do Núcleo
de pesquisa, quando eu terminei o doutorado que o Curso de Serviço Social da
UEPG teve pela primeira vez um aluno do PIBIC. Porque ninguém tinha ido lá
42
NUPES – Núcleo de Pesquisa em Desigualdade e Exclusão Social no Espaço Local (Universidade Estadual
de Ponta Grossa/Pr).Idealizado em 1999 e viabilizado em 2000 tem por meta “... tornar-se um espaço
permanente de debates, construção coletiva de reflexões e de sistematização teórica, bem como, de coleta e
análise de dados sobre a realidade social.”, particularmente preocupa-se em compreender “...os fenômenos da
exclusão e desigualdade social no espaço local”.( http://www.uepg.br/nupes, consultado em 18/02/2005)
155
pedir aluno do PIBIC. Porque? Porque nós da graduação, nós somos muito auto
– centrados em nós mesmos. A gente nem sabia o que era o PIBIC. ...” (Lúcia
Cortes da Costa)
“A partir daí eu fui dentro da própria instituição já levando alguma coisa que
eu estava conhecendo, foi daí que eu passei a coordenar esse grupo de estudos,
dentro do tribunal, já com a minha experiência de profissional dentro da
instituição e a minha experiência de pesquisadora. Comecei a organizar
156
“Agora eu estou pesquisando... Bom uma das coisas que eu fui trabalhando já
no doutorado, foi a questão do orçamento público e da seguridade social. Então,
nesse momento eu desenvolvo uma pesquisa que chama-se Seguridade Social
Pública, é possível? É uma pergunta à contra – reforma do Estado,
desfinanciamento das políticas sociais. Então eu venho estudando a evolução
do orçamento público, da seguridade mas pegando a seguridade como um todo
no Brasil, nos últimos anos, eu pego quatro anos: 97,99,2001,2004. Inclusive
para fazer uma comparação entre a era Fernando Henrique e o contexto hoje
do governo Lula. A gente pega desde o plano plurianual até a execução
orçamentária, desde a destinação de recursos, a autorização de recursos até a
execução, para tentar fazer uma série histórica que permita vislumbrar a
condição geral da Seguridade do ponto de vista , é claro, dos recursos. Essa
não é a única forma de analisar a eficácia, a eficiência de uma política, mas é
um elemento fundamental até o recurso público, a locação de recurso público e
a gente faz um paralelo disso com a política macro – econômica, o plano real. É
isso que eu estou estudando agora. Quer dizer é outro momento.
A gente está pegando um aspecto mais particular mesmo. E agora, assim, a
pesquisa ela continua sendo uma pesquisa de análise documental, mas dos
documentos: a legislação, os planos, as leis de diretrizes orçamentárias, lei
orçamentária anual, balanço geral da união, relatório do TCU, é isso que a gente
está estudando. Eu até recebi os dados do relatório do TCU sobre a questão
carcerária no Brasil, esses relatórios são muito interessantes, são fontes de
dados super interessante. (...)
Então nós formamos o Grupo de Estudos e Pesquisas de Orçamento Público e
da Seguridade Social. Informalmente o GOPSS.” (Elaine Rossetti Behring)
“Eu acho que o que pode mobilizar para a pesquisa, acho que isso é muito
variado entre os pesquisadores. Você pode ser mobilizado por uma questão
prática mesmo, algo que te chamou a atenção, que despertou seu interesse ,
por um tesão eminentemente intelectual, independente se você quer
transformar o mundo ou não e se isso compõe um projeto intelectual de largo
prazo ou não. Acho que isso varia muito entre os pesquisadores. Como nós do
Serviço Social construímos esse projeto ético – político profissional e o
incremento da pesquisa, inclusive o crescimento da pós – graduação foi
elemento fundamental dessa construção, eu acho que existem muitos
pesquisadores do Serviço Social que têm esse olhar sobre a realidade, essa
perspectiva analítica e política. Mas não acho que isso valha para todos e que
isso seja um projeto de todos. Até porque a categoria é plural, (....) se existe a
hegemonia de uma determinada perspectiva, isso não significa que não existam
outras. Então você tem pesquisas que não têm essa dimensão, essa
preocupação, que querem iluminar em aspecto bem particular da realidade,
singular mesmo. Isso significa que são pesquisas irrelevantes? Não
necessariamente. Podem ser muito importantes, inclusive para compor o
processo global de conhecimento da realidade.” (Elaine Rossetti Behring)
162
“....Acho que elas são importantíssimas. Elas são tão importantes quanto a
pesquisa que eu faço, elas só são diferentes. E tem objetivos, níveis de análise
diferentes, mas elas são muito importantes. Assim, eu acho que a relevância
social, a relevância de uma pesquisa, tem a ver com a sua capacidade de dizer
coisas sobre a realidade, seja o exercício profissional na defensoria pública -
já que nós estamos aqui – seja o orçamento público da União. Eu acho que são
níveis diferentes, são objetos de complexidade diferentes, mas são objetos
importantíssimos.” (Elaine Rossetti Behring)
163
“Eu acho que um traço que é muito, é muito forte é que a gente tem um
respeito muito grande pelos sujeitos entrevistados e a gente tem uma postura
167
“Eu acho que a ABEPSS ajuda muito nisso. Essa, a discussão da categoria
profissional ajuda muito e principalmente a pós - graduação, o eixo Rio/São
Paulo. Porque o eixo Rio/ São Paulo ditou um eixo teórico pro curso, isso aí é
evidente. (...) Mas eu acho que o Brasil tem uma característica, o Brasil tem
esse eixo definido. Claro que não é toda a categoria que comunga, mas o eixo da
produção teórica mostra.” (Lúcia Cortes da Costa)
“Olha eu diria assim, bem aquilo que a gente falava antes, quando tu falavas na
tua tese, eu acho que o Serviço Social dos anos 80 pra cá teve muitos avanços,
teve significativos avanços. Eu acho que esses avanços são, muitos deles foram
altamente impulsionados pelo desenvolvimento da pós – graduação. Eu acho que
a pós – graduação e aí claro , tem o desenvolvimento da pós – graduação, têm as
próprias iniciativas nos órgãos de fomento, que colaboraram, que deram força
para que os pós – graduações se desenvolvessem e os pós – graduações em
Serviço Social. Tanto é que historicamente a gente tinha a PUC de São Paulo,
mais tarde a UFRJ.... Era referência nacional. Quando a gente estava em São
Paulo a gente tinha colega de toda a América Latina, praticamente, tinha colega
de todo o Brasil. Então, digamos assim, com esse impulso da pós – graduação e
com esse impulso na pesquisa eu acho que o Serviço Social andou muito. Acho
que conseguiu romper, ou propor romper com o conservadorismo, então dá uma
virada importante,...” (Jussara Maria Rosa Mendes)
Lúcia Cortes da Costa ainda lembra que este “eixo” não é comungado
pela “categoria” como um todo, pois há correntes teórico – metodológicas
contrárias presentes e que orientam não só a intervenção como a pesquisa no
Serviço Social. No entanto a direção social da profissão, expressão
hegemônica da categoria, defende o pluralismo.
Para COUTINHO (1991, p. 14) no processo de produção de
conhecimento no campo das ciências sociais ou naturais, pluralismo não é
sinônimo de ecletismo ou de relativismo. Implica no debate consistente entre
diferentes correntes teóricas, promovendo a troca de idéias e discussões que
possibilitem afirmar nossas posições de forma a fortalecer os referenciais que
alimentam o conhecimento sobre a realidade, derivando deste processo
intervenções consistentes e críticas. Assim entendemos pluralismo como
“...sinônimo de abertura para o diferente, de respeito pela posição alheia,
considerando que essa posição, ao nos advertir para os nossos erros e limites,
e ao fornecer sugestões, é necessária ao próprio desenvolvimento da nossa
posição e, de modo geral, da ciência.”
171
Muito importante é nos darmos conta que, conforme alerta Jussara Maria
Rosa Mendes, as questões que são objeto de pesquisa, antes são objetos da
intervenção profissional.
172
-Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela
inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;(...)
-Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda
sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes
trabalhadoras; ... (apud BONETTI et.al., 2000, p. 217 – 218)
“...eu acho que também por outro lado nós estamos diante de muitas mudanças,
muitas transformações que exige esse constante olhar do Serviço Social pra
realidade. Esse olhar interventivo, sabe, de estar sempre atento: o que está
acontecendo e o que está mudando nos processos sociais, quais são as outras
questões que entram em jogo hoje no cenário atual. Então assim, ao mesmo
tempo em que é importante essa pesquisa, que é o que tu perguntas, as
pesquisas que buscam identificar, isto que tu trazes, que tratam as
determinações objetivas e subjetivas, isto é de extrema importância, mas eu
também tenho que ter um olhar pra realidade social mais ampla que está aí e
quais são as alterações e no que isto está influenciando. Então, eu ainda acho
que nós temos muito a caminhar aqui, acho que a própria pesquisa qualitativa é
muito nova, muito recente. (...) Então, assim, a própria pesquisa qualitativa é
muito nova e a pesquisa no Serviço Social também é muito nova. Se a gente
173
pegar desses anos pra cá. Mas acho que a gente vem produzindo e a gente vem
de fato trazendo questões importantes pra dentro, pesquisando e
contribuindo pra esse desenvolvimento da área. E aí eu vejo assim, têm
pesquisas importantes do Serviço Social, contribuições, como tu mesmo disses,
hoje, que a gente é referência. Não só os grandes mestres, que a gente
sempre bebeu nessas fontes, mas hoje têm pesquisas nas mais diferentes
áreas. O Serviço Social vem participando na área do judiciário, uma produção
extremamente importante, então eu acho que de fato ela está dando conta das
determinações objetivas. Na área de saúde pública, é uma das áreas onde a
gente pesquisa mais, e tem dado este retorno. O meu trabalho e na área de
saúde e trabalho hoje. Da assistência – toda uma tradição e uma tradição que
agora tem pesquisadores na nossa região, mesmo. A nossa região tem se
destacado em pesquisa na área de assistência, de políticas sociais. Então, não
sei se consegui te responder...”(Jussara Maria Rosa Mendes)
....ninguém pode ter dúvidas de que o período histórico em que estamos situados
marca-se por transformações societárias que afetam diretamente o conjunto da vida
social e incidem fortemente sobre as profissões, suas áreas de intervenção, seus
suportes de conhecimento e de implementação, suas funcionalidades etc. E porque,
por outro lado, tal reflexão é imprescindível para estabelecer, em face dessas
transformações, estratégias sócio - profissionais minimamente adequadas para
responder às problemáticas emergentes. (NETTO, 1996, p. 87 – 88)
“Olha eu acho que temos vários níveis de pesquisa no Serviço Social. Nós
temos pesquisas importantíssimas, pesquisas que são bastante valorizadas. Eu
penso que vêm demonstrando a capacidade dos Assistentes Sociais de
produzirem conhecimentos. Embora muitas delas, numa dimensão mais teórica,
no sentido de estar buscando resgatar e analisar aspectos da nossa prática,
mas a partir de uma análise mais ampla, mais geral e isso é fundamental para
chegarmos em nosso cotidiano, e nós temos outro âmbito que eu acho que é
esse em que as pessoas, ou que já vêm desenvolvendo seu trabalho na academia
ou que estão na intervenção direta, buscam resgatar estas determinações -
que você coloca na sua primeira questão - a partir da vivência mesmo do
trabalho com a população. .... Essas determinações objetivas, que você chama
da existência dos sujeitos, a gente está ainda num momento da pesquisa, até
por causa da fragilidade (que eu apontei antes) metodológica, pela falta de um
conhecimento e de uma experiência maior com pesquisa, o que eu percebo
(posso até estar enganada por não ter uma visão, um conhecimento de tudo o
que está acontecendo em pesquisa hoje no Serviço Social no país todo) até
aonde eu conheço, essas determinações acabam não sendo devidamente
exploradas. Acaba ficando mais no âmbito da descrição. O que já é importante.
Eu não estou negando a descrição, mas a gente percebe que existe ainda uma
dificuldade de conseguir fazer uma interlocução ou uma análise mais
abrangente a respeito dessas questões postas no dia a dia. ...
Eu penso que ainda existe uma fragilidade, embora estamos avançando muito,
mas no que diz respeito a análise das determinações objetivas, temos muito a
avançar. Muitas vezes percebe-se algo não devidamente conectado na análise.
Percebemos uma certa dificuldade nessa análise. O que eu percebo, também,
principalmente quando o pesquisador vem para a academia tentando analisar a
sua intervenção ou aspectos relacionados ao seu cotidiano de trabalho, é que o
fato dele ter uma vinculação com o trabalho direto e com uma determinada
intervenção, às vezes pode limitar. Se por um lado facilita a coleta de
informações, facilita esse conhecimento, por outro lado pode até limitar um
pouco uma análise mais crítica dessa realidade. Eu já pude perceber um pouco
disso em alguns trabalhos.” (Eunice Teresinha Fávero)
176
“Olha, ... é uma pergunta muito ampla. Eu acho até que a gente tem
desenvolvido mais pesquisas sobre essas condições objetivas e talvez nós
precisássemos desenvolver mais pesquisas sobre a constituição do sujeito. A
179
minha preocupação é que acaba ficando uma tensão que tem a ver com as
abordagens teórico – metodológicas e uma dicotomia entre objetividade e
subjetividade que eu acho que não é pertinente. Então, por exemplo, eu que
tenho uma referência na tradição marxista, bom, eu acho que a produção do
valor é impregnada de subjetividade. O capital só consegue extrair valor do
trabalho, se o trabalho está numa posição subjetiva, além de optar
objetivamente subsumido ao capital, ele estiver numa condição subjetiva,
defensiva, de não estar lutando, de não estar brigando, medindo forças com o
capital para ser menos explorado. Então a luta de classes, a organização
política dos trabalhadores está diretamente... é interna à lei do valor, não é um
elemento externo. Não está lá o valor e aqui está a subjetividade, não. Está ali
impregnado de subjetividade. Então, assim, eu acho que durante algum tempo,
até pelas apropriações enviesadas que nós tivemos da tradição marxista, uma
certa interlocução com o estruturalismo, etc, essa coisa foi vista de forma
muito dicotômica. Eu acho que precisa de pesquisas que valorizem o sujeito
sem recair num certo subjetivismo e, pesquisas que valorizem também a
objetividade da vida social como constituição, como elemento que constitui o
sujeito de forma a não recair num objetivismo, num certo economicismo.
Quando a gente consegue encontrar essa adequação eu acho que a tendência é
a gente fazer coisas muito mais profícuas, profundas, interessantes. (...)
É eu acho até que o Serviço Social amadureceu nessas coisas, rompeu com o
estruturalismo, a gente tem um código de ética tão interessante, que bebe do
melhor do marxismo. Eu acho até que a gente avançou nisso, mas essa tensão,
ela ainda é uma tensão presente. E o ambiente desse início de século XX acaba
propiciando, também, uma preponderância do econômico sobre os sujeitos, uma
certa impotência dos sujeitos. Eu acho que o ambiente também favorece a que
essa tensão se reponha, se recoloque no cenário, mas eu acho que a gente
avançou com a contribuição de Gramsci, acho que ajuda...”(Elaine Rossetti
Behring)
1-Há uma dialética entre o ser singular e o ser genérico, um somente se realizando por
intermédio do outro. Esta concepção, retendo a complexidade do processo da
construção do sujeito – objeto, permite afastar qualquer a priori situado no indivíduo,
assim como superar a “ determinação social dos destinos pessoais (...); 2- Nas
relações coisificadas, ocorre a alienação do sujeito, o que pode ser concebido como
ruptura entre o ser singular e o ser genérico.
A rigor, há um movimento permanente de encontro e de desencontro entre o ser
singular e o ser genérico. Esta oscilação própria da dinâmica contraditória existente
entre estas duas objetivações do ser humano constitui em sério indicador de que nem
uma nem outra pertence à natureza do ser social. Isto posto, a base ontológica desta
discussão não pode ser senão relacional.(...) Nesta linha de raciocínio, a história das
pessoas consiste na história de suas relações sociais. A subjetivação, enquanto
movimento inseparável da objetivação, ganha novo estatuto na história biográfica e
na história social. ...
-Há que se dimensionar com muita acuidade as relações entre estrutura e sujeito,
sopesando o peso estrutural (síntese de múltiplas determinações) e as práticas dos
sujeitos (identidade, cotidiano, subjetividade), para evitar os riscos/erros do
economicismo, estatismo, totalização, por um lado, e voluntarismo, basismo,
psicologismo, por outro lado. A análise global é imperativa. (...)
-Os sujeitos individuais, sem olvidar as determinações maiores, merecem análises
mais rigorosas que escrutinem suas história de vida, aspectos da vida familiar,
profissional, política, afetiva, atributos de carisma e liderança, atitudes e
comportamentos. (WANDERLEY, 1992, p. 154 – 155)
43
SIMIONATO (1995, p. 185) faz importante reflexão sobre a teoria gramsciana e sua incidência no Serviço
Social, das quais para este momento destacamos: “No final dos anos 70, quando se observa um relativo
distanciamento do pensamento althusseriano, Gramsci passa a ser um marco teórico significativo nas
elaborações do Serviço Social. O referencial gramsciano é buscado inicialmente como possibilidade para
pensar a atuação do assistente social enquanto intelectual orgânico, marcando o seu compromisso com as
classes subalternas. Este eixo de reflexão, nem sempre inspirado numa leitura correta da obra gramsciana, foi
muitas vezes utilizado para reeditar certas tendências da visão missionária do assistente social em face dos
segmentos pauperizados da população. No entanto, as idéias de Gramsci passaram progressivamente a ser
incorporadas pelo Serviço Social, abrindo novas possibilidades para pensar seus referenciais teóricos e suas
ações interventivas. (...) De uma forma ou de outra, as elaborações teóricas de Gramsci repercutiram
fortemente na produção do Serviço Social em toda a década de 80, extrapolando para os anos 90, seja em
forma de livros derivados de teses acadêmicas, seja na forma de ensaios diversos publicados nas revistas
específicas da profissão.”
182
um novo perfil profissional é construído uma vez que esse passa de mero
consumidor acrítico de conhecimentos produzidos em outras áreas de saber,
para o de construtor, também, de conhecimentos pela via da pesquisa. Não
queremos dizer com isso que todo assistente social, obrigatoriamente, tenha
que ser pesquisador, mas sim que a sua postura profissional deve se afastar,
eliminar do seu agir ações fundamentadas na opinião, no saber cotidiano por
serem desprovidos de conhecimento científico. No agir profissional esse saber
deve ser visto, apenas como aspectos empíricos a serem considerados no
momento da reflexão-ação ou da investigação.
Por não construírem essas mudanças um bloco monolítico é que vemos aliadas a
elas, no interior do Serviço Social, a existência de vertentes teóricas e
posturas metodológicas diferentes, que, dependendo da posição assumida pelo
pesquisador, as “determinações objetivas da existência dos sujeitos” recebem
tratamentos diferenciados.
Em síntese podemos dizer que nossas observações têm nos levado a identificar
uma forte tendência em tratar essas objetivações como decorrentes da
ampliação e aprofundamento das questões sociais e da não eficácia das
políticas públicas.” ( Aglair Alencar Setubal)
... apenas reconhece como ciência a atividade “objetiva”, capaz de traçar as leis que
regem os fenômenos, menosprezando os aspectos chamados “subjetivos”, impossíveis
de serem sintetizados em dados estatísticos. No entanto, o próprio positivismo tenta
trabalhar a “qualidade do social” seja buscando substantivá-lo em variáveis, seja,
através do estrutural – funcionalismo, focalizando os produtos da interação social
como componentes funcionais da realidade, e tratando-os como entidades passíveis de
estudo, independentemente de sua constituição pelos indivíduos. (MINAYO,1996,
p.10 -11)
...é o não – explícito das vivências dos indivíduos que vivem em um meio social
determinado. É o conjunto de vivências, emoções e experiências das pessoas que não
está nos documentos e que tem um conteúdo e um valor inestimável na transmissão,
conservação e difusão dos conhecimentos. Esses conteúdos formam parte do acervo
185
dos grupos sociais e são esses mesmos conteúdos que têm permitido a integração e
identificação do indivíduo no seu meio, no seu contexto, em um determinado período
de tempo. (ROJAS, 1994, p. 61)
“Então, esta questão tem muito a ver com o que nós estávamos agora
discutindo, porque tratar as determinações objetivas da existência supõe uma
dimensão espaço/tempo, isso significa, se eu estou tratando de determinações
objetivas, eu não tenho uma construção generalista, eu vou ter uma construção
histórica, ainda que eu possa ter elementos que persistam e eu acho que nós
estamos, exatamente, caindo nessa questão em que significa que a pesquisa
tem que fazer esta busca da descoberta do que particulariza, do que se
anuncia. E muitas vezes eu percebo e não só eu, muitos, que as pesquisas
terminam quase que sendo ilustrações de um pensamento já por uma derivação
teórica estruturada, não uma busca, mas simplesmente uma ilustração. Eu só
quero dizer assim, antes de começar a pesquisa já se sabia o resultado, que ela
é tão direcionada àquele conteúdo pré – construído que independe de olhar o
real, ele só vai ilustrar. Como as vezes você dizer assim: qual é a gravura que
pode ilustrar esse meu cartaz, esta minha frase? Mas eu já a tenho. Não é
efetivamente a pesquisa como uma construção e busca da particularidade das
relações que constroem aquela realidade. É isso que eu estou chamando muito
mais ilustrativas, certo? Então eu creio que quanto mais no seu atendimento o
Assistente Social, nos seus serviços, ele não enxerga aquilo que eu disse,
esses referenciais maiores, mais ele se perde. Agora o referencial maior, volto
a dizer, não é uma ilustração do pensamento, ele tem que, até pra entender a
particularidade, ele tem que entender a totalidade, construir a
particularidade, mas com a coragem da descoberta do real. Uma das coisas
freqüentes que as vezes a gente ouve dizer de um profissional é que a
realidade atrapalha. Eu ia fazer isso, mas daí aconteceu não sei o que lá... quer
dizer não é a realidade entendida como um desafio com os elementos que a
186
compõem, parece que a realidade precisaria sofrer de uma assepsia, dela ser
liberada de alguns elementos que a compõem , pra daí ela poder ser
trabalhada. Então, vamos dizer assim, o conjunto dos elementos da realidade,
as vezes, é visto mais como algo que dificulta, o que me atrapalha é a realidade,
quer dizer eu tenho a certeza na cabeça, agora a realidade é que me atrapalha.
Então eu acho que tem muitas questões deste tipo.” (Aldaíza Sposati)
“Eu acho que tem a ver, claro, com a questão que você diz de um processo de
baixa investigação, de baixo desenvolvimento da descoberta. Talvez porque
essa atitude de descoberta está um pouco mais adstrita às Ciências
Biológicas ou Matemáticas ou coisas assim, mas talvez porque este conceito, as
vezes, vigente de que essa área é Ciência Aplicada, ela só tem que beber dos
conhecimentos, ela não produz conhecimentos, então ela não tem porque se
indagar. Eu acho que essa atitude, eu acho que o que eu tentei passar na aula
hoje foi muito esse desejo de busca, esse desejo de descoberta. E eu creio
188
Essa trilha é fértil também para viabilizar a apreensão das relações entre indivíduo e
sociedade, a partir das situações vivenciadas pelos sujeitos e que se apresentam aos
profissionais do Serviço Social como desafios. Sua compreensão - seja em nível
particular, seja no nível das suas determinações sociais – é requisito para apreender
tanto a objetividade quanto a subjetividade dos sujeitos, superando as tendências
prescritivas, tutelares, e que não raras vezes atravessam a ação profissional.
(ABESS/CEDEPSS, 1996, p.152)
189
“...a gente tem uma, um respeito muito grande e (...) uma atitude muito ética
com o saber do sujeito. Que não é uma atitude de contemplação do saber. Não
é do tipo ah! o sujeito sabe. Mas é uma atitude de analisar que saber ele sabe
e de respeitar esse saber que ele sabe. E acho aí que tem muita a influência do
Gramsci, daquela idéia de todo homem é um filósofo, ele também tem uma
filosofia, mesmo que ele seja de senso comum, mesmo que seja uma filosofia
que ainda não saiu pra um campo da reflexão teórica.” (Lúcia Cortes da Costa)
Deste depoimento destacamos que atitude ética que orienta a relação com
o sujeito da pesquisa não é de “contemplação”, mas está sustentada em
objetivos que levam a uma análise “crítica” do “saber do outro”.
Retoma Gramsci em uma de suas contribuições ao Serviço Social em
relação à compreensão do senso comum como patamar para o
desenvolvimento de ações conscientes pela classe subalterna e principalmente
pelo reconhecimento “de que todos os homens são ‘filósofos’ ” (GRAMSCI,
190
...O senso comum não pode, para Gramsci, ser excluído da filosofia. Ao contrário, ao
enfatizar que “todos são filósofos”, Gramsci procura mostrar que o senso comum já é
filosofia, mesmo incipiente e fragmentária. É filosofia porque opina sobre o mundo,
formula juízos de valor de caráter geral, os quais, tomados em conjunto, apresentam
uma certa organização intelectual e moral da experiência individual e coletiva. ...
(SIMIONATTO, 1995, p. 82)
Nessa adversidade, a questão é saber como a História irrompe na vida de todo dia e
trava aí o embate a que se propõe, o de realizar no tempo miúdo da vida cotidiana as
conquistas fundamentais do gênero humano, aquilo que liberta o homem das
múltiplas misérias que o fazem pobre de tudo: de condições adequadas de vida, de
tempo para si e para os seus, de liberdade, de imaginação, de prazer no trabalho, de
criatividade, de alegria e de festa, de compreensão ativa de seu lugar na construção
social da realidade. ... (MARTINS, 2000, p. 11 - 12)
“Eu avalio que os sujeitos não têm ainda um protagonismo. A experiência dos
sujeitos não ocupa uma centralidade, ainda, como deveria ocupar nas nossas
pesquisas. Acho que vem ocupando mais, mas ainda não ocupa essa
centralidade. Eu penso que se nós nos dermos conta do conhecimento amplo
que temos, seja pela nossa intervenção direta, seja pela possibilidade de
acesso a espaços de intervenção de outros colegas Assistentes Sociais, nós
temos uma grande possibilidade de colocar o sujeito, a população com a qual
trabalhamos, como protagonista desse processo de pesquisa, no sentido de que
193
...Considero, isto sim, que temos que valorizar mais a nossa prática. Somos
profissionais com uma enorme capacidade operativa. É indispensável, porém, que
saibamos desenvolver também a nossa consciência argumentativa. A construção
coletiva da prática, juntamente com a população usuária, nos ajuda muito nesse
sentido, pois nos leva a confrontar o nosso saber, a balizar nosso discurso e relativizar
o nosso papel, buscando na teoria e no conhecimento pleno do real os elementos
fundantes da prática. (MARTINELLI, 1994, p. 71)
“... Então colocar os sujeitos com os quais a gente trabalha como protagonistas
no processo de pesquisa seria um salto muito grande. A gente poderia avançar
no sentido de construir um conhecimento mais amplo a respeito da realidade
da população excluída.... Excluída, acho que a respeito deste termo exclusão,
temos que tomar um certo cuidado, porque tudo cabe nele, mas é no sentido
de pessoas que estão fora do mercado de trabalho ou que nunca foram
incluídas, que não têm acesso a bens sociais em razão das desigualdades do
país. É você trazer mais concretamente esses dados da realidade, é você, ao
mesmo tempo, valorizar a profissão enquanto uma profissão que produz
conhecimentos e que propõe ações possibilitadoras de alterações nessa
196
realidade. Para isso a gente teria que ter um investimento, talvez, mais
organizado por parte das academias, nessa direção. Sabemos que no mestrado
e doutorado as pesquisas acabam sendo projetos mais individuais. Embora
eles sejam vinculados a uma determinada linha de pesquisa dentro da
Universidade, mas é uma decisão individual pesquisar acerca de determinado
objeto. Isso é feito, vai continuar sendo feito. Mas eu penso que a
Universidade tinha que incentivar mais a produção de conhecimento a partir de
seus Núcleos de Estudos e Pesquisas com grandes linhas de pesquisa. Por
exemplo: porque não fazemos, não desenvolvemos uma grande pesquisa
envolvendo vários pesquisadores até com dissertações de mestrado ou teses
de doutorado num determinado Núcleo de Estudos, a respeito da realidade da
população que é atendida no Judiciário, a respeito da população que é atendida
na Secretaria Municipal de Assistência Social. Você ter linhas, focos mais
amplos dessa pesquisa, com a participação de diversos profissionais.
Aí você consegue dar uma outra dimensão. E aí eu acho que você consegue dar
um protagonismo maior para os sujeitos, que ainda é muito pouco perto do que
a gente teria possibilidade e capacidade de fazer. Mas penso que é um
processo que estamos vivendo. É uma etapa, e eu acho que caminha para isso.
Eu acho que cada vez mais estamos vendo, a partir sobretudo da década de
noventa com o projeto que se colocou para profissão, a busca mesmo de trazer
o conhecimento, a sistematização a respeito da realidade e o protagonismo dos
sujeitos, o protagonismo do Serviço Social que sabemos que ocupa, queira ou
não queira, ocupa ainda uma área subalterna aí no meio de outras profissões na
área de humanas. Eu penso que os nossos passos - de profissão eu digo -
acabam sendo ou mais lentos ou com muito maior dificuldade de mostrar o seu
conhecimento, a sua capacidade e consequentemente valorizar a
profissão.”(Eunice Teresinha Fávero)
“...Eu penso que não. Eu acho que só isso não é suficiente. Nós temos que
recuperar dentro do social, eu estou falando dentro do Serviço Social, mas eu
acho que dentro da área de Humanas em geral, meios de realizar a pesquisa
para fazê-la de uma forma mais ampliada, para ter o seu resultado de uma
forma mais consistente. Por exemplo, é importante conseguirmos articular a
pesquisa quantitativa e a pesquisa qualitativa. Uma não exclui a outra. A
complementação das duas por meio de diversos instrumentos de coleta de
informações pode contribuir para um avanço muito maior em termos de
conhecimento.(...) Os indicadores sócio – econômicos são fundamentais para
nortear a proposição de projetos e de políticas. Têm mais impacto e são
necessários. É claro, existe e até existiu em determinado momento um certo
preconceito com a visão da pesquisa experimental, da pesquisa quantitativa, no
sentido de que tem determinadas questões que o número em si acaba não
dando conta de certas questões, de todas as dimensões da realidade, e não dá,
mas pode complementar. ...
Aí, na qualitativa, eu vou buscar a experiência mais concreta, como eles vêem a
situação de vida, quais as experiências que eles viveram, os significados que
eles atribuem às situações que viveram, ...enfim isso vai ser muito mais
completo, muito mais rico e nós temos possibilidades de fazer. Então eu acho
que a gente não tem que desvalorizar uma ou outra. Em muitas situações eu
vou, necessariamente, ter que trabalhar e vai ser muito mais útil, no sentido
de ser muito mais necessária para determinada ação que eu ou outros sujeitos
irão desenvolver, a informação predominantemente quantitativa; em outra, a
experiência, a vivência dos sujeitos coletadas por meio de depoimentos,
poderá vir muito mais de encontro ao que eu estou buscando propor, buscando
conhecer. Mas se conseguirmos, nessa busca do conhecimento dos sujeitos, do
protagonismo dos sujeitos, reunir a pesquisa quantitativa e a pesquisa
qualitativa eu acho que iremos avançar muito mais, tanto quanto no que se
refere em trazer um conhecimento, como na direção de proposições, de
projetos e de políticas. Eu acho que a pesquisa só tem significado, só tem
importância se, de alguma forma, ela contribuir para alguma alteração, seja na
199
inovadores.
“Primeiro assim, o que eu acho é que precisa de mais atenção a isso, que essa
centralidade não está assegurada, acho que a gente tem muitos pesquisas
sobre instituições, as políticas... Aí eu faço a minha meia culpa , que a minha
pesquisa também não privilegia os sujeitos, como fonte primária de pesquisa.
Então, eu acho que a gente precisa fazer mais pesquisas como aquela da
Carmelita lá nas “Classes Subalternas...”, eu acho que tem pouco e conhecer
mais o universo cultural e as condições de vida da população, os usuários do
serviço que a gente presta, das políticas que a gente conhece. Então, me parece
assim que precisa avançar nesse sentido. Acho que o sujeito não tem tido a
centralidade que poderia ter. Inclusive, assim, porque o sujeito aí não pode ser
visto apenas numa relação onde ele se transforma em objeto, eu acho que ele
tem que ser fonte de dados e ao mesmo tempo tem que viver o retorno,
conhecer o conhecimento que foi produzido a partir do seu próprio depoimento.
Eu não tenho como te dizer, até porque eu não tenho essa visão de como é que
está a pesquisa, não estou nesse momento com uma visão tão ampla de se as
pesquisas estão tendo esse compromisso ético, de retornar e de que a pesquisa
tem uma dimensão de devolução, no sentido inclusive de provocação de uma
nova postura nos próprios sujeitos/objetos da pesquisa, sujeitos sociais e
objetos de pesquisa.” (Elaine Rossetti Behring)
“Se chegou até ele como objeto não significa que já existe um canal
constituído. Eu acho que a gente tem que ser mais criativo. Criativo é gerar
espaços de socialização, chamar as pessoas, reuni-las e apresentar a pesquisa,
submeter a pesquisa ao crivo crítico. Ainda que sejam pessoas supostamente,
até porque nós lidamos... quem são os sujeitos? Nós lidamos com o público alvo
das políticas, bastante precarizado, cheio de necessidades e muitas vezes com
imensa dificuldade de receber uma informação dos doutores e ter um olhar
crítico sobre isso. Mas a gente também não pode subestimar a população e a
sua vivência como mediação para observar o que nós estamos dizendo. Então, o
que eu fico pensando é que o interessante seria a gente não ter uma relação -
eu vou usar essa palavra, mas não é exatamente isso – uma relação meio
oportunista, da população ser a fonte de dados e tratar apenas como fonte de
dados. (...)
De uma forma geral ... Embora nosso Código de Ética seja muito claro em
relação a isso. Ele é claríssimo. Tem que devolver. Está lá... E isso não vale só
203
Se, por outro lado, examinarmos o campo de nossas investigações, também não
encontraremos grandes motivos de júbilo. Estamos comprometidos até o âmago com
o saber das classes dominantes. Se, nas áreas das ciências exatas, esse compromisso
aparece mediado, isto é, o teor das pesquisas está condicionado aos financiamentos,
no caso das ciências humanas o compromisso não possui sequer o álibi da submissão
financeira. A sociedade brasileira, tanto em sua estrutura quanto em sua história, tanto
na política quanto nas idéias, é descrita, narrada, interpretada e periodizada segundo
cortes e visões próprios da classe dominante. Esse aspecto se torna verdadeiramente
dramático naqueles casos em que o “objeto de pesquisa” é a classe dominada. Além
de roubar-lhe a condição de sujeito, as pesquisas tratam sua história, seus anseios,
suas revoltas, seus costumes, suas produções, sua cultura no continuum de uma
história que, além de não ser a dela, muitas vezes é justamente aquela história que o
dominado, implícita ou explicitamente, está recusando. Em outras palavras, os
dominados penetram nas pesquisas universitárias sob as lentes dos conceitos
dominantes, são incluídos numa sociedade que os exclui, numa história que os vence
periodicamente e numa cultura que os diminui sistematicamente. Comparsas
involuntários dos dominantes, os “objetos” de pesquisa não têm hora e vez no recinto
da universidade. Se não pensarmos nesses compromissos que determinam a própria
produção universitária, nossas discussões sobre a democratização se convertem num
voto piedoso e sem porvir.
“Eu acho que ainda tem um problema, que é um problema de outra natureza:
são as condições reais em que se faz pesquisa na Universidade. Então, essa
questão do aligeiramento, isso eu acho que é uma questão muito preocupante,
que eu acho que atinge em cheio a qualidade das pesquisas. Então a pesquisa
como uma coisa de curtíssimo prazo. Como é o caso dos dois anos para o
mestrado, quatro anos para o doutorado, três anos para uma bolsa do CNPQ. É
claro que você tem a possibilidade de renovar, mas ainda assim você tem uma
pressão para uma produtividade que para a área social eu acho extremamente
nefasta. E isso aligeira e tira um pouco da preocupação desses mecanismos
importantes de socialização sobretudo em pesquisas qualitativas que envolvem
depoimento de pessoas, etc. A socialização e esse compromisso ético da
devolução, da discussão com os próprios pesquisados. Então, assim, tem um
problema sério aí que é a própria base... com uma pesquisa muita rápida, a base
da pesquisa às vezes.... O que eu estou querendo dizer pra você é que tem
gente que diz que está fazendo pesquisa, mas não está. (...)
Por causa desse aligeiramento. Então, são levantamentos muito rápidos e o
tratamento mais rápido ainda e isso eu acho que gera muitos problemas, de
qualidade de pesquisa que está se fazendo nessas condições. Porque, eu
205
comecei dizendo assim: que eu acho que a pesquisa ela é um... com esse nome,
digna desse nome, eu acho que ela é uma coisa de pelo menos médio prazo.
Então, eu acho que os mestrados estão se tornando iniciações em pesquisa. (...)
Então, a riqueza você não constrói dentro de um processo como este, nem a
riqueza.... porque assim quanto mais rico for o processo , mais determinações
você vai conseguir extrair da realidade. A realidade lá, Marx, como síntese de
múltiplas determinações. Quanto mais rico for, inclusive o teu acúmulo analítico
mais condições você vai ter de extrair daquela entrevista, daquele dado, mais
elementos, problematizar mais. Então, assim, nas condições em que se está
fazendo pesquisa social hoje na Universidade eu acho que tem um
empobrecimento. (...)” (Elaine Rossetti Behring)
diálogo crítico.
Ao Assistente Social cabe tratar o seu cotidiano como fonte de
conhecimento, que precisa ser sistematizado, “problematizado” para dar conta
das “múltiplas determinações presentes na realidade.” Não podemos esquecer
que neste cotidiano se faz presente o sujeito/usuário dos serviços prestados
pelo Assistente Social, sendo assim pode ser revelador...
“Ela é fundamental até porque, aquela coisa que eu dizia, nós Assistentes
Sociais trabalhamos mais intensamente ou temos mais oportunidade de
trabalhar - nem vou dizer do que outras categorias, podem ter outras que são
a mesma coisa ou similar - com segmentos sociais invisíveis sobre os quais os
conhecimentos que se tem são genéricos e preconceituosos. Certo? Então eu
creio que trazer, dar voz aos sujeitos, tratar objeto como sujeito é uma das
formas democráticas e éticas, inclusive de nós conseguirmos fazer outra
leitura dessa realidade, não só pela vertente mais comum, tecnocrática e tal,
mas talvez você botar luz, trazer outros elementos sobre a realidade. Eu
lembro que uma vez eu fazia uma entrevista com um morador de uma favela,
que ele discutia o modo pelo qual foi feito uma pesquisa para investigar que
tipo de casa eles queriam naquela favela. E ele disse uma coisa: olha pesquisa é
que nem eleição, na hora que ganha o negócio, parece que aquilo já ganhou tudo,
que aquilo é o todo. Mas não é assim a vida. Quando me perguntam, ele me
dizia assim, você quer uma casa? Lógico que eu vou dizer sim eu quero. Só que é
preciso perguntar que casa é essa. Isso está numa das primeiras revistas
Serviço Social e Sociedade. Que casa é essa, certo? Porque se, na verdade, o
modo pelo qual ele é indagado não é capaz de captar essa possibilidade dele
ter opinião, isto fica numa generalidade que não responde ao desejo dele. Ele
diz: claro que eu quero uma casa, mas eu não quero casa pronta. Eu quero uma
casa em que eu partilhe da construção, eu sou pedreiro, eu quero construir as
minhas coisas. Então é muito interessante esta visão que esse cidadão me deu,
isso faz muitos anos...
...E muito interessante porque eu creio que a gente tem chance de trabalhar,
de dar voz, de incluir na academia, de trazer vozes desconhecidas, entendeu?
Eu acho que o modo de trabalhar o sujeito abre novos caminhos, você traz
novas formas de ver. E eu estou trabalhando o conceito de sujeito, que muitos
consideram como objeto. Eu estou trabalhando o sujeito, exatamente, como
aquele que é o co-protagonista do processo de investigação e que você está
discutindo e vai sistematizar.”(Aldaíza Sposati)
realidade do subalterno. É neste sentido, também, que a cultura popular deve ser
pensada como cultura, como conhecimento acumulado, sistematizado, interpretativo e
explicativo, e não como cultura barbarizada, forma decaída da cultura hegemônica,
mera e pobre expressão do particular.
44
Entrevista realizada com o Sr. Júlio José dos Santos, presidente da União de Moradores da Cidade Nova
Parque Novo Mundo, pela Assistente Social Aldaíza de Oliveira Sposati e pelo Arquiteto José Ferreira, em
fevereiro de 1982, intitulada da Favela Funerária à Cidade Parque Novo Mundo, publicada pela revista
Serviço Social e Sociedade, n. 8, ano III, março de 1982, São Paulo: Cortez.
210
...O viver histórico desse homem é importante para nós. Temos que ter presente que
não somos nós, da academia que produzimos mediações. Estas se constroem no
cotidiano, são produtos do viver histórico dos homens, mulheres, jovens e crianças na
construção de sua vida material. Temos que aprender a aprender com as classes
populares, pois elas têm o exercício político cotidiano que freqüentemente nós
negamos, porque operamos com um discurso pronto e negamos ao outro a
possibilidade de construí-lo. ...
“Dão. Quanto a isso dão, não tenho dúvida nenhuma. Não vejo aí que o
Assistente Social, acho que o chamado “ approach” , abordagem , o Assistente
Social, inclusive, tem mais condições que muitos outros profissionais. Quanto a
isso eu não tenho dúvida nenhuma, acho que nós somos treinados pra
aproximação. O problema é o ir além da aproximação. Então eu acho que desse
ponto de vista, dificilmente, o Assistente Social não é bem sucedido na forma
211
45
Buscando nos aproximar das discussões pertinentes a este pilar de nossa tese procuramos conceituar os
termos do enunciado presente no subtítulo deste ítem em discussão. Assim temos: Retorno: “...Voltar (para o
ponto de onde partiu);...fazer voltar; tornar...” ; Alcance: “....Limite dentro do qual se consegue tocar ou
atingir alguma coisa;...”(FERREIRA,1988, p.27 e 569)
214
“Não acredito que haja um “impacto” direto das pesquisas nem nas
organizações nem nas condições de vida dos sujeitos. Acho que (...) se referem
ao conhecimento da realidade e, através de algumas mediações elas podem
incidir sobre as orientações e formulações institucionais voltadas para as
formas e os conteúdo das intervenções que afetam ou modificam as condições
de vida dos sujeitos. A pesquisa não se transforma automaticamente num
instrumento operativo visto ser um processo intelectivo, de reprodução mental
de processos reais, através de aproximações sucessivas à realidade. O produto
destas aproximações se transforma em sistematizações, reveladoras de
conhecimento, informações, reflexões que orientam tanto conteúdos, como
direções e estratégias de ação. No caso serviço social ela é fundamental para
o ensino da profissão, assim como para elaboração da crítica e das proposições.
Em se tratando de uma profissão de intervenção cabe, inclusive, qualificar
quais pesquisas conseguem ter uma relação mediata ou imediata sobre a
atividade profissional. Isso não significa restringir as pesquisas às analises de
situações concretas baseadas em levantamento de dados empíricos. Também
aqui incluo a necessidade de pesquisas teóricas.” (Ana Elizabete Mota)
“Eu acho assim: nós temos produzido muito na área da assistência social, na
área da criança e do adolescente, (...) na área da saúde e essas produções têm
tido impacto. Eu vejo assim a própria capacitação, que a gente faz na área da
criança, do adolescente e da assistência, elas são uma forma de levar um
conhecimento que é elaborado pela academia pra um contato direto com a
216
“Olha, assim, eu vejo que o Serviço Social está produzindo. E isso tem
repercussão na formulação de políticas, na formação de quadros. Eu penso, por
exemplo, no campo da Assistência Social, muitas pesquisas desenvolvidas tanto
na PUC/SP, quanto na UERJ, na UNB, penso lá na pesquisa da Ivonete, que é
uma super pesquisa. São pesquisas que tem impacto na problematização da
implementação de uma determinada política pública concretamente. Por
exemplo, a pesquisa da Maria Inês Bravo,(...), é uma pesquisa que tem um
componente inclusive extensionista, que é de formação de conselheiros, do
campo da sociedade civil, então tem um impacto direto. Essa pesquisa que eu
estou fazendo, por exemplo, a idéia é de subsidiar as organizações do
217
...A nossa tradição nesta área tem sido a de compreender a formação profissional
como um processo que não se reduz aos semestres previstos na grade curricular e,
sim, como um processo permanente que envolve ciclos bem demarcados. Esta leitura
vem conferindo especial significação aos cursos de extensão e pós – graduação, lato e
stricto sensu, assim como à responsabilidade social da universidade para com os
220
“Eu acho que as pesquisas do Serviço Social elas têm condições de ter algum
impacto, exatamente porque nós lidamos com questões extremamente
importantes, graves, que é exatamente nosso objeto de trabalho, nosso dia a
dia, e aí nós poderíamos ir pra um lado discutir o que isso significa? Qual a
localização dos nossos objetos de estudo na nossa realidade brasileira ,
mundial? Trazendo um pouco do cenário o debate da questão social, que os
alunos têm sempre trazido, que a gente sempre traz. O que isso significa? E se
nós lidamos com esse agravamento, com essa agudização dos problemas sociais
hoje, eu acho que é uma responsabilidade nossa dar esse retorno pras
instituições, pras organizações e sem pensar obviamente nas condições de vida,
acho que esse é o objetivo principal. Que isso possa trazer alguma contribuição
importante pras condições de vida dos sujeitos que buscam o Serviço Social,
que buscam a atenção, que buscam o atendimento.
Eu diria: acho que sim, mas tem muito o que caminhar. Acho que temos uma
estrada longa pela frente, sabe. Eu acho que todos os objetos ... se a gente
pegasse agora ali, vamos ali e vamos ver o que eles estão pesquisando, o que
os nossos alunos de Serviço Social aqui pesquisam no Pós – Graduação , um
discute gênero, outro ,sabe, com temáticas, mas quais são os objetos ? Todos
têm relevância ... e eu acho que tem uma contribuição importante sim, na
medida em que 90% dos nossos alunos são docentes de unidades de ensino.
Então quando eles vêm em busca de um doutorado eles estão dando
221
continuidade nas pesquisas que eles já fazem lá. Então vêm aqui se
instrumentalizar , não só se instrumentalizar na pesquisa, mas teoricamente, se
debruçar, fazer todo seu estudo pra retornar na sua realidade lá. E eles
retornam não ficam, continuam trabalhando. Isso tem um impacto na realidade
local, eu não tenho a menor dúvida. Mas eu ainda acho que nós temos que,
como diz a nossa mestra Maria Lúcia, acho que a gente tem que ser mais
criativo pra poder ter um impacto maior. (...)
Talvez o que não tenha, uma coisa que eu sempre acho que seja necessário e
não tem, um marketing maior, sabe. Que a gente possa falar mais do que a
gente faz. A gente trabalha muito, mas divulga pouco o que foi feito.” (Jussara
Maria Rosa Mendes)
“Eu tenho, também, uma outra questão que eu vejo, hoje, um reconhecimento,
uma busca do Serviço Social muito grande e uma busca pelo conhecimento do
Serviço Social. Então tu vês todas as áreas que vêm buscar a pós – graduação
em Serviço Social. Porque? (...)
Uma forma de lidar com o conhecimento, uma forma de tratar o social
diferenciada e que os outros profissionais vêm em busca disso. Então eu vejo
46
Marketing: “...Conjunto de estratégias e ações que provêem o desenvolvimento, o lançamento e a
sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor.(...) Conjunto de estratégias e ações que visam
aumentar a aceitação e fortalecer a imagem de pessoas, idéia, empresa, produto, serviço, etc., pelo público em
geral, ou por determinado segmento desse público. (FERREIRA, 1999, p. 1289)
223
como mais uma... eu não diria que fica nos muros da academia. Eu ouso dizer que
hoje é muito difícil manter um trabalho dentro dos muros da academia. Tem
uma exigência externa muito grande... e exatamente que se dê essa
visibilidade, das agências de fomento. Então se tu tiveres produção, se
tiveres... uma série de condicionantes que acabam exigindo que tu tenhas uma
visibilidade maior. E eu ainda te trago mais um exemplo. Se nós pegarmos hoje ,
todos os programas de pós – graduação no país têm uma revista. Bom, uma
outra questão é como é que se dá a distribuição e a circulação das revistas. É
outro problema. Mas existe hoje uma preocupação com os programas de pós –
graduação, de dar essa visibilidade. No nosso caso a gente fez uma revista
eletrônica. E aí tem uma outra inserção, são outras pessoas que buscam. Então
eu não diria, hoje, que está nos muros da academia. Eu diria que está fora. Até
porque a própria academia está precisando fazer alianças com a sociedade. A
academia está buscando parceiros na sociedade. Então empresas, instituições.
Coisa que o Serviço Social sempre fez. O Serviço Social sempre teve essas
parcerias com as instituições. ...” (Jussara Maria Rosa Mendes)
profissão.
A produção teórica em Serviço social tem essa marca: vinculação orgânica ao fazer
profissional, isto é, define-se a partir e em função da prática profissional. O Serviço
Social como profissão, ou seja, como uma especialização do trabalho coletivo, supõe,
como função primeira, uma intervenção direta na realidade social referenciada em
uma base de explicação dessa realidade e da própria intervenção. Participa, assim, da
produção de conhecimentos que embasam sua intervenção, inserindo-se no processo
mais amplo de desvendamento do social enquanto totalidade. (ABREU E
SIMIONATTO, 1997, p. 133 – 134)
“Eu fui descobrir que o que vale é produção em artigo, em revista indexada, que
tem critérios. Aí eu comecei a me tocar o quanto nós não éramos. (...) Aí eu fui
ver que as outras áreas estavam muito longe e a nossa pontuação na área de
pesquisa é muito baixa. Porque nós trabalhamos muito, mas trabalhamos de
maneira muito equivocada. O nosso trabalho não tem impacto acadêmico.
Porque nós fazemos TCC de 100 páginas, nos matamos de trabalhar com os
alunos e deixamos guardado na prateleira. Isso não é pesquisa segundo os
critérios do CNPQ e da CAPES. Pesquisa boa, é pesquisa publicada. Aí eu
comecei , no Departamento a brigar pra que as pessoas produzissem e
pesquisassem. (...) Então a publicação da revista do Departamento, ela é um
suporte. Mas a idéia é que o aluno publique fora. Publicação conjunta aluno e
professor, porque é isso que as outras áreas fazem. Por isso eles tem uma
pontuação no PIBIC enorme e nós não temos. E nós trabalhamos muito mais que
outras áreas. As nossas orientações de TCC são muito mais sistematizadas.”
(Lúcia Cortes da Costa)
225
“Acho que nós somos menos reconhecidos do que poderíamos ser. A gente, na
cota geral de bolsas, recebe poucas, menos bolsas que as outras áreas. O
Serviço Social ainda é visto com muito preconceito, como área que produz
pouco conhecimento. Então, a gente tem menos bolsas do que deveria ter,
menos bolsa de iniciação científica, menos bolsas de aproveitamento de estudo.
Eu acho que a gente precisava desencadear uma reação mais dura e fazer mais
propaganda de nós mesmos.” (Elaine Rossetti Behring)
“Ainda somos tratados com muita desigualdade. Hoje.... eu vejo assim o número
de bolsas reduzido, isso tudo tem muito a ver com essa história recente do
Serviço Social na área das Ciências mesmo. Acho que é uma coisa bastante
recente. Eu me lembro que a gente dizia que o cientista era só o que fazia as
pesquisas de cunho quantitativo. Cientista era o que trabalhava com as
medicações, laboratórios, experimentos. E hoje, não. Cientistas sociais são
cientistas. Esse lugar de cientistas ainda nós temos que caminhar muito. Por
exemplo e aí eu posso falar tranqüilamente. Existe na CAPES a qualificação
das revistas, das produções – se chama o qualis. Então lá esse qualis é onde o
representante de área vai fazer um levantamento das produções dos
Assistentes Sociais, dos Professores obviamente, dos pós – graduações, na
área do serviço Social. E aí a gente se depara com o que? Hoje, agora, nós
temos duas revistas indexadas do Serviço Social. A KATÁLYSIS, lá de Santa
Catarina e a SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE,....” (Jussara Maria Rosa
Mendes)
Uma valorização cada vez maior do fator de impacto das publicações tem sido dada,
tanto pela comunidade científica como pelas agências de fomento, na análise da
produtividade científica de pesquisadores, grupos temáticos, departamentos,
universidades, etc. Esses dados sinalizam para o fato de que a ciência brasileira está
ingressando definitivamente numa era onde a qualidade das publicações, aferida pelo
fator de impacto, será cada vez mais utilizada como “moeda de troca” na análise de
financiamentos à pesquisa, concessão de bolsas de estudo e outras solicitações do
gênero. Agências de fomento, como o CNPq e Capes, estão valorizando mais estes
indicadores, seguindo uma tendência observada nos EUA e Europa a partir da década
de 80. (BOLETIM, 2001 - http;//www.sbfis.org.br)
47
A Revista katálysis tem como fontes de indexação: EDUBASE - Faculdade de Educação/UNICAMP
(Campinas, SP); OEI – CREDI – Organización de Estados para la Educación, la Ciência y la Cultura –
Espanha; IRESE – Índice de Revistas de Educación superior e Investigación Educativa (UNAM – México);
REDUC – Fundação Carlos Chagas ( São Paulo – SP) – Biblioteca Ana Maria Poppovic.
(http://www.katalysis.ufsc.br/fontes.htm - consultado em 07/03/2005)
227
48
Revista EMANCIPAÇÂO está indexada na base Geodados – www.geodados.uem.br e no QUALIS, em
que é classificada como C nacional.
228
...E a área de conhecimento do Serviço Social, na CAPES, tem cada vez mais galgado
um espaço importante em relação às demais áreas de conhecimento. Atualmente
fazemos parte do comitê técnico científico da CAPES, que é um espaço de 19
pessoas de todo o país. Nós temos um assento nesse conselho. Esse conselho,
inclusive, é responsável pela formulação da política nacional de pós – graduação. É
espaço importantíssimo e o Serviço Social está lá e é importante colocar que esta
inserção do Serviço Social neste Conselho faz parte de uma construção coletiva que
vimos fazendo há muito tempo na CAPES, com os coordenadores de pós e nas
comissões de avaliação no sentido de qualificar o Serviço Social dentro da agência de
fomentos, com critérios de avaliação claros e precisos em relação aos quesitos que são
avaliados. Essas foram construções coletivas feitas com a ABEPSS e os
coordenadores de pós, de 2002 para cá. (...) Nós participamos dessa agenda de
discussão na CAPES: quais são os critérios, de corpo docente, atividades de pesquisa
e publicações relevantes, a qualificação das nossas produções em termos do que é
chamado de qualis, o que é importante para nossa área ser um qualis A, B ou C. Ou
seja, o qualis A é aquela produção que tem diretamente relação com a nossa produção
do Serviço Social, que seja importante para a visibilidade e a circulação da produção
do conhecimento do Serviço Social entre nós e também para as áreas afins. ...
(CARVALHO, 2004, p. 168 – 169)
No entanto estes recursos são recentes para o Serviço Social, que não
possui uma tradição em publicações. Bom esclarecer que não se trata de
competência, apenas de falta de tradição e de acesso aos meios para
publicação, ampliando o impacto destas produções para além de limites
institucionais, locais, regionais, nacionais e disciplinares.
Em relação aos financiamentos Aglair Alencar Setúbal levanta uma
indagação relevante. Vejamos:
“.....Como que tu vais competir em outras áreas, das Ciências Exatas, quando
as produções têm revista, artigos internacionais. Nós temos pouca produção
internacional e nós temos pouca produção em revista indexada, que tenha
circulação, penetração internacional. Estes seriam fatores que contribuem pra
não permitir esse reconhecimento nosso maior. Pra que se tenha pouca bolsa e
ainda assim, às vezes, têm recursos que são disponibilizados para o Serviço
Social e que não são utilizados. Por exemplo pedidos de bolsa sanduíche são
poucas as que chegam na CAPES, no CNPQ, vindos da área do Serviço Social.
(...)
E de fato entrar nesse mundo novo, entre aspas, entrar nesse novo patamar,
exige que tu quase que diariamente estejas na internet, que tu estejas
buscando estes espaços... e isso exige tempo. (...)
E o tempo é o que nos consome. É aquilo que o David Harvey fala, o problema do
homem moderno é a questão do tempo. Eu vejo que de fato tem várias
questões que contribuem, ainda, e que nós temos que andar bastante para que
possa, não reverter, mas melhorar nossa condição como pesquisadores. Tem
uma longa caminhada aí.” (Jussara Maria Rosa Mendes)
“O impacto ainda é muito pequeno, pelo menos no meu ponto de vista. O retorno
ainda é muito menor do que poderia ser. E penso que temos um agravante de
que quando a pesquisa é realizada por profissionais na própria instituição, nem
sempre ela recebe o devido valor por parte dos próprios colegas de profissão
e da própria instituição, sobretudo com as características autoritárias e
hierárquicas que têm os tribunais. Não sei se está dando para compreender.
Eu considero que acaba demorando um pouco mais para que se alcance uma
valorização mais ampla desse trabalho. É mais fácil você conseguir impactar
com uma pesquisa realizada por sujeitos historicamente considerados como
232
“Agora a gente tem feito um trabalho aqui, um processo... o grupo que tem se
dedicado à pesquisa, paralelamente está se dedicando também à organização
política da categoria. Então eu penso que esse processo tem que ser conjunto.
Porque à medida em que você participa da organização política,
necessariamente, você vai ter que discutir a sua condição de trabalho, a sua
intervenção. Necessariamente você vai discutir a necessidade do processo de
conhecimento dessa realidade para qualificar a intervenção. O que eu percebo
é que a pesquisa a respeito da realidade social da população com a qual a gente
trabalha, no âmbito do Judiciário, a partir do pouco que já avançamos aqui em
São Paulo, mas que é um começo, está tendo uma repercussão bastante
significativa. Não digo que diretamente na instituição Judiciário em São Paulo.
Mas percebemos que começou a existir uma busca dessas informações
sistematizadas no âmbito de várias outras organizações sociais do país. A
gente se deu conta de que as primeiras pesquisas que se desenvolveram aqui no
Estado de São Paulo a respeito dessa realidade dos sujeitos começaram a
despertar a atenção de profissionais de outros Estados e não só da área do
Serviço Social. Então, a pesquisa, a partir da realidade dos sujeitos com os
quais a gente trabalha e de toda a realidade que permeia o nosso trabalho,
pode sim causar impacto, pode reverter em alterações na realidade de
trabalho, mas é um processo um pouco lento e inicial. Vai depender de como a
gente conseguir avançar nessa direção...” (Eunice Teresinha Fávero)
“ (...) Isso quando a pesquisa é voltada para isso... Agora, tem um certo ... não
são todas as pesquisas que tem esse tipo de preocupação. Veja bem, eu acho
que hoje a Universidade está rasgada aí pelo pós – modernismo, pelo
individualismo, então tem muita gente fazendo pesquisa apenas para satisfazer
a sua curiosidade intelectual, individual, que não tem preocupação com o
impacto social que a sua pesquisa pode ter. Acho que no Serviço Social isso não
é tanto assim, até pela natureza da nossa profissão, pela sua trajetória
histórica, pela sua perspectiva interventiva, pelo projeto ético – político
profissional. Isso aí dá uma direção geral para a produção do conhecimento,
isto, também, não significa que não exista individualismo, esse pós –
modernismo entre nós. Eu acho que isso é menor, mas nas Ciências Sociais tem
muita pesquisa que é apenas, extremamente pontual. Têm pesquisas que não
lidam bem com essa questão da relação entre objetividade e subjetividade, que
geram distorções importantes na análise da realidade, que privilegiam ... aí há
um super privilégio do sujeito, as representações, como se o sujeito viesse
237
antes da história. Até Freud sabe que a formação da subjetividade tem a ver
com as condições gerais da existência. Então, esse privilégio... aí o estudo das
representações, a representação aparece como realidade, quando na verdade é
importante entender as representações que os sujeitos fazem da sua
realidade. Claro que é. Inclusive para traçar estratégias para lidar com elas. E
saber o quanto eles percebem essa realidade, acho que é elemento para a
formação de política pública, desde que não se confunda a representação da
realidade com a própria realidade. E isso tem acontecido muito. Aí são
pesquisas que acabam apresentando uma interpretação da realidade
equivocada, distorcida em função do que? Das suas referências analíticas.”
(Elaine Rossetti Behring)
49
EVANGELISTA ( 1997, p. 31-32) em sua obra “Crise do Marxismo e irracionalismo pós – moderno”,
qualifica a crise pela qual passa o pensamento contemporâneo como uma “onda irracionalista” , que
“...precisa ser denunciada e combatida, demonstrando-se o seu efetivo significado. ...” e ainda diz que: “
Toda essa crise do pensamento contemporâneo traduz, em grande medida a própria crise da modernidade. O
mundo contemporâneo está dilacerado por uma dupla crise de âmbito global: a crise mundial do capitalismo e
a do ‘socialismo real’. É a confluência dessas crises que produz os impasses e as contradições, e , inclusive, as
perplexidades, que atravessam de ponta a ponta a sociedade contemporânea explicam esse novo surto
irracionalista, que é a sua expressão ideológica. É essa dupla crise que reforça a fetichização do mundo
social, com a entificação generalizada das relações e dos processos sociais, desfazendo, continuamente os
seus nexos e produzindo a aparência do sem – sentido histórico – social. ...”
238
“Eu acho assim: que quando eu fiz a minha dissertação de mestrado, eu analisei
a Revista Serviço Social e Sociedade do número 1 ao (...) último número do ano
de 89, ou seja, toda a década de 80 e, assim, eu acho que foi muito importante
o Serviço Social se abrir para uma interlocução com as Ciências Sociais –
240
2-a durabilidade: a pesquisa não é servil a modismos e seu sentido não termina
quando a moda acadêmica acabar porque não nasceu de uma moda;
3- a obra: a pesquisa não é um fragmento isolado de idéias que não terão seqüência,
mas cria passos para trabalhos seguintes, do próprio pesquisador ou de outros, sejam
seus orientandos, sejam os participantes do mesmo grupo ou setor de pesquisa; há
obra quando há continuidade de preocupações e investigações, quando há retomada
do trabalho de alguém por um outro, e quando se forma uma tradição de pensamento
na área;
4- dar a pensar: a pesquisa faz que novas questões conexas, paralelas ou do mesmo
campo possam ser pensadas, mesmo que não tenham sido trabalhadas pelo próprio
pesquisador; ou que questões existentes, conexas, paralelas ou do mesmo campo
possam ser percebidas de maneira diferente, suscitando um novo trabalho de
pensamento por parte de outros pesquisadores;
5- impacto ou efeito social, político ou econômico: a pesquisa alcança receptores
extra – acadêmicos para os quais o trabalho passa a ser referência de ação (...);
6- autonomia: a pesquisa suscita efeitos para além do que pensara ou previra o
pesquisador, mas o essencial é que tenha nascido, de exigências próprias e internas ao
pesquisador e ao seu campo de atividades, da necessidade intelectual e científica de
pensar sobre um determinado problema, e não por determinação externa ao
pesquisador (...);
7-articulação de duas lógicas diferentes, a lógica acadêmica e a lógica histórica (
social, econômica ,política): ... a qualidade de uma pesquisa se mede pela capacidade
de enfrentar os problemas científicos, humanísticos e filosóficos postos pelas
dificuldades da experiência de seu próprio tempo; quanto mais uma pesquisa é
reflexão, investigação e resposta ao seu tempo, menos perecível e mais significativa
ela é;
8- articulação entre o universal e o particular: a pesquisa excelente é aquela que,
tratando de algo particular, o faz de maneira que seu alcance, seu sentido e seus
efeitos tendam a ser universalizáveis – quanto menos genérica e quanto mais
particular, maior possibilidade de possuir aspectos ou dimensões universais (...).
“Então acho que o impacto, desse ponto de vista, ele vem pra mim na direção,
(...), de duas vertentes: uma vertente que eu chamaria da democratização do
resultado, no sentido de que os usuários possam ter acesso aos resultados,
discuti-los, o que supõem, na verdade, uma tradução dos resultados pra que
eles sejam apossados, incorporados, apropriados por aqueles sujeitos. O que
50
Citaremos alguns exemplos ( com o risco de não nominarmos todos os casos merecedores) de prefácios
escritos por autores de renome nacional e que garantem ao Serviço Social uma legitimidade acadêmica em
função do nível de excelência da pesquisa desenvolvida. Assim temos: Francisco de Oliveira no livro de
Raquel Raichelis “ Esfera Pública e Conselhos de Assistência Social: caminhos da construção democrática” –
São Paulo:Cortez, 1998; Carlos Nelson Coutinho no livro de Ivete Simionato “Gramsci: sua teoria, incidência
no Brasil, influência no Serviço Social” – São Paulo/Florianópolis: Cortez/ Ed. UFSC, 1995; Antônio
Joaquim Severino no livro de Maria Lúcia Martinelli “ Serviço Social: identidade e alienação” – São Paulo:
Cortez, 1993.
243
“É. Mas não é somente um vínculo porque existe, mas é um vínculo com o
desejo, que é mais do que um vínculo do existir. Entendeu? É um vínculo com o
desejo de se indagar sobre aquilo.
Exatamente. Se não o impacto, se você me pergunta do impacto, o impacto não
produz. Então eu estou te dizendo que, claro, o impacto vai depender do
resultado obtido, da linguagem utilizada nesse resultado, mas da capacidade,
da abertura, pra mudança, pra entender a crítica e também para o estímulo
que se cria pra compreender aquele resultado. Eu estou dando várias nuances
aqui, eu acho que não dá pra ser somado com um exemplo só e a intensidade
desses fatores poderá ser diferenciada conforme a situação.“ (Aldaíza
Sposati)
“Vai depender disso mesmo que eu estou dizendo. É a mesma coisa. Entendeu?
Depende de que pesquisa. Eu acho que isso não é uma forma genérica, acho que
não. Acho que não dá pra ser. Primeiro porque as pesquisas não são
disseminadas. É isso que eu digo, acho que seriam saberes. Nós não temos uma
prática de sistematização do conhecimento do ponto de vista, por exemplo,
uma linha de pesquisa que esteja aclarando isso, aquilo outro. Entendeu? Então,
eu acho que o Assistente Social, por todas estas fragilidades, ele tem uma
sede de conhecimento.Ele tem. Mas nessa sede de conhecimento, quase que um
pouco, um tanto conjuntural, no sentido de dizer assim : bom e agora como é
que eu olho isso, como é que eu aceito olhar isso? Do que propriamente uma
nova construção histórica. Talvez eu esteja um pouco deformada nessa minha
afirmação, mas eu diria que esta indagação científica não é tão comum entre
os profissionais...” (Aldaíza Sposati)
pra mudança, pra entender a crítica e também para o estímulo que se cria pra
“... Eu não sei se você chegou a ler o Prefácio que o Chico de Oliveira fez no
meu livro, onde ele faz um grande elogio, não para mim, mas para a categoria. É
um presente para a categoria. Eu acho que isso vir de um cara como o Chico
de Oliveira é muito significativo. O pessoal do CFESS até botou a fala dele na
agenda. Então , assim, que foi, um imenso reconhecimento da relevância social,
do papel combativo que essa categoria tem no processo de democratização da
sociedade brasileira. Eu acho isso significativo.” (Elaine Rossetti Behring)
sociais. “Saber pra poder mudar o que se faz”. Trata-se de uma pesquisa que
ao repensar a prática profissional do Serviço Social amplia as reflexões para a
totalidade das “práticas sociais”, principalmente considerando que as políticas
sociais são campos “interdisciplinares” em que as intervenções têm uma
natureza social.
Mais do que isto as políticas sociais são campos em que o confronto
entre Estado e sociedade civil ganham uma expressão contraditória e
mobilizam ações de profissionais e de movimentos organizados da sociedade.
Neste contexto o projeto ético – político profissional define o “eixo” do
processo de intervenção e de investigação no seio da profissão, ou seja,
intervenção e investigação tem uma orientação fundada na defesa da
democracia e dos direitos sociais, civis e políticos do cidadão. Assim a prática
profissional, orientada por uma ética democrática, é “um campo fecundo” para
a pesquisa em Serviço Social.
“A particularidade ... primeiro que uma das coisas que eu observo e constato
com os nossos doutorandos e mestrandos é a própria inquietação... Ele tem um
pouco de inconformismo e esse inconformismo ele acaba mobilizando na hora
em que vai definir o trabalho. Esse inconformismo com as dificuldades, com
os problemas, com as questões todas postas na realidade hoje faz com que seja
o meu ponta pé inicial. E depois elas estão diretamente relacionadas com os
processos sociais todos que estão aí, processos sociais, com as articulações
políticas, econômicas, culturais, sociais. Na verdade a particularidade dela é
estar nessa trama toda, é buscar nessa trama de relações aquilo que é o que
me inquieta. Aquilo que inquieta o doutorando, que inquieta o pesquisador e que
pode estar trazendo uma contribuição importante pra conhecer melhor essa
realidade e pra mudar essa realidade. O horizonte é esse, é me debruçar pra
conhecer, pra poder influenciar os rumos ... Não sei se isso é pensar grande,
talvez?....” (Jussara Maria Rosa Mendes)
251
conhecimento.
peculiaridades para sua pesquisa? ; - não será através da relação dinâmica que
254
amplo e por profissionais que não tenham essa possibilidade de acesso podem
não dar conta de perceber estas particularidades do cotidiano dos sujeitos,
dos seus sentimentos, das suas vivências, das suas experiências, da sua cultura.
Nós temos essa possibilidade desse contato pelo nosso acesso privilegiado a
essa população. O privilégio do acesso é uma particularidade que pode
contribuir para que a gente construa pesquisas de grande envergadura, de
grande amplitude na direção de contribuições com alterações na realidade.
Quando eu falo alterações na realidade, eu acho que não temos que só pensar
nas grandes transformações societárias pelas quais a gente tem que lutar, mas
também em questões mais localizadas: se a gente puder transformar aquela
intervenção do Assistente Social ou de grupos de profissionais, ou executar um
projeto localizado, seja numa prefeitura, seja numa instituição “x”, aquele
projeto poderá ser exemplar para estar subsidiando outros projetos e até
políticas mais amplas. Existem diversas possibilidades aí. É bastante difícil
dizer o que é particular , não sei se você saberia dizer o que é particular. O
acesso privilegiado à informação é que pode fazer com que o conhecimento da
realidade sócio – econômica e até a construção de indicadores a partir desse
nosso conhecimento pode trazer uma particularidade mais específica do
Serviço Social.” (Eunice Teresinha Fávero)
“Então eu penso que o nosso acesso ao conhecimento é muito grande. O que nós
precisamos é ter um investimento mais organizado na sistematização desse
conhecimento e já com vistas a contribuições às políticas sociais, que já
fazemos em algumas áreas, e também a projetos localizados, isso contribuiria
para dar uma visibilidade à profissão, uma valorização da profissão, que penso
ser uma profissão essencial num Estado Democrático de Direito. Você busca
por meio dela garantir possibilidade de acesso a direitos, seja o direito até à
cesta básica que o usuário vai receber no plantão, mas você tem que no seu
trabalho contribuir para que as pessoas percebam que é um direito, não é uma
doação, uma esmola que ele está recebendo, como a projetos mais amplos de
garantia de distribuição de renda, de políticas redistributivas e mesmo
compensatórias. Essa possibilidade do nosso conhecimento, na medida em que
tivermos consciência disso enquanto categoria, eu penso que a gente pode
estar garantindo um visibilidade, um espaço e uma valorização maior da nossa
profissão, do nosso projeto profissional. (...)
O que a gente conseguiu de avanço em termos de contribuição para política de
assistência, da discussão da exclusão, foi um passo grandioso no âmbito das
258
“Acho que eu não sou capaz de dizer. Eu não sou capaz de dizer, eu acho que aí,
na verdade, nós temos muitas modalidades. Nós estamos acabando de fazer
pelo Núcleo de Seguridade Social um levantamento de toda produção na área
de Assistência Social e aí tem de tudo. Nós pegamos todos os arquivos, toda a
produção, da primeira até 2004, são cerca de 200 teses e dissertações. E
estamos terminando este trabalho pelo Núcleo de ver, exatamente este elenco
de produção, desde seu objeto empírico, seu objetivo e eu acho que é muito
difícil a gente dizer esta particularidade. Eu seria tentada a dizer, não como
particularidade, mas como uma característica que são pesquisas mais
qualitativas do que quantitativas. Mas não porque eu acho que no Serviço Social
a particularidade é o qualitativo, eu acho que é muito mais por um não domínio
do quantitativo do que propriamente que a particularidade seja o qualitativo,
deste ponto de vista. Então, eu diria que do ponto de vista do método, é claro
que como nós estamos falando em relações sociais, em relações humanas,
digamos elas são pesquisas relacionais, elas são estudos sobre vínculos, elas
têm inserção históricas, elas não se localizam num laboratório, numa proveta,
elas não trabalham com elementos químicos, elas não trabalham com equações
matemáticas pré – definidas, elas são construções históricas, elas têm valores.
Então, se eu pudesse dizer, eu diria muito mais por este campo, se eu tivesse
262
que dizer numa distinção de outras investigações, mas muito mais pelo caráter
complexo e de uma construção desde o cotidiano, com variáveis que não são,
absolutamente, todas seguras e determinadas como eu poderia ter, digamos,
numa pesquisa química num laboratório. Então, não creio, embora no DNA você
até consiga separar os genes e as moléculas, não sei, se isto um dia, se poderá
dizer o mesmo das relações sociais. Eu não sei se elas são passíveis de uma
redução no processo de compreensão a este grau. Não sei.” (Aldaíza Sposati)
“É, mas, por isso que eu estou te dizendo, este estudo que nós fizemos aqui da
pesquisa no campo da política de Assistência Social tem de tudo, de tudo,
desde o exame de um benefício “x” não sei onde até sei lá, tem de tudo, uma
mudança institucional, a formação dos conselhos, tem de tudo. Então, conseguir
reduzir, a chave heurística, eu vejo difícil, até porque eu acho que a pesquisa,
hoje, no Serviço Social está , ainda, muito amarrada aos cursos de pós -
graduação e às exigências do ensino do Serviço Social de acordo com a
Universidade ou com a faculdade, ou com a Escola em que ele ocorra. Desse
ponto de vista eu não entendo que exista uma disseminação, propriamente, da
pesquisa em Serviço Social fora das relações da academia e dentro das
relações da academia ela vai ficar muito subordinada ao objeto de estudo que o
pesquisador elege pra sua titulação, que em geral sai muito mais de uma
reflexão que lhe é mais próxima, do que uma relação de decodificação de algo
numa compreensão mais genérica. Eu creio que, quando, inclusive, estava
discutindo com algumas pessoas - eu não estive – mas ao comentário de que o
último Congresso lá em Fortaleza discutiu muito pouco do Serviço Social e
muito mais generalidade, talvez você saia de um Congresso dizendo: bem, e
qual é o grande mote que está posto em questão a investigar? Eu até
perguntei a alguns profissionais, mas qual é a palavra de ordem desse
Congresso? Ah! É a questão do direito. Mas essa é uma palavra de ordem um
pouco velha, mas o quê no direito? Ainda é muito genérico. Então, se a
particularidade se põem pelo objeto e pelas formas de abordá-lo, acho que
estas múltiplas expressões as questão, das políticas, sei lá, é muita coisa e
muito dos objetos que o Assistente Social, como pesquisador, vai analisar, são
também, analisados por outros pesquisadores, por outras áreas profissionais e
até nós temos profissionais de outras áreas que vêm fazer o pós no Serviço
Social e desenvolver pesquisas em Serviço Social de objetos que têm a ver,
até, com a sua inter-relação daquela área com o Serviço Social, do que seja um
nascimento unívoco do Serviço Social. E eu diria, diante da complexidade do
social se a gente pode ter um objeto puro no social que seja de uma área
específica. Eu creio que nós estamos com muitas poucas demandas claras,
assertivas de investigação pra orientar a pesquisa em Serviço Social. Eu acho
que nós temos tido muito pouco debate sobre o Serviço Social pra ter uma
agenda de questões a orientar as investigações. Elas estão, extremamente, eu
diria, fragmentadas nos vários interesses.” (Aldaíza Sposati)
51
IAMAMOTO (2005) traz os seguintes dados em relação ao XI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais:
participaram do Congresso 3.180 profissionais. Destes 2.434 são Assistentes Sociais e pesquisadores
docentes; 618 são alunos da graduação e 128 da pós – graduação.; 1500 comunicações foram analisadas e
aprovadas criteriosamente.
265
“É eu acho que um desafio que eu vejo que é assim uma coisa muito clara,
como categoria profissional, a gente diz muito que é a favor da cidadania, dos
direitos sociais. Mas nem sempre se tem uma leitura teórica concreta da
266
realidade social. Discurso ético – político é muito bom, mas tem que ter
conhecimento, você tem que saber qual é o fundamento da desigualdade desse
país, você tem que politizar a discussão da pobreza, politizar a discussão da
assistência. Então eu acho que aí um dos grandes desafios é a profissão ser
capaz de ser reconhecida como produtora de conhecimento (...) Porque o nosso
argumento não é pra ser um argumento chinfrim, fraco. Tem que ser um
argumento teórico. Isso é desafio. Eu acho que a categoria vai ter que ainda
enfrentar isso. Porque a gente entende como, ainda, em algumas pesquisas,
como parte teórica fazer o histórico. Histórico é histórico, não é debate
teórico. Debate teórico é saber quais os conceitos, qual é a teoria de base
dessa análise. Então eu acho que um dos desafios, pra gente se reconhecer,
como produção de conhecimento, é a gente enfrentar um debate teórico. Eu
acho que isso aí vai ter que ter. Formação teórica.
É, eu acho assim, nós trabalhamos num quadro muito duro, muito perverso.
Nós temos uma ética democrática, nós temos um projeto político voltado pra
cidadania. Mas nem sempre a gente entende a natureza dos problemas. Não
entende teoricamente, concretamente. Então isso dá uma fragilidade de
argumento.” (Lúcia Cortes da Costa)
“...A sociologia tem um status acadêmico muito grande. Porque eles produzem
conhecimento. Eles tem um debate teórico forte. Nós já temos isso começado,
já tem um... quer dizer o Serviço Social, hoje, já tem isso. Mas a gente ainda
precisa amadurecer essa questão. Eu acho que ainda é um desafio até pra
gente poder estar se inserindo de fato no debate acadêmico. E aí com
reconhecimento de uma área de conhecimento e de saber. A gente produz
conhecimento. Mas é um desafio isso. E aí a formação acadêmica é fundamental
e os professores têm que fazer pesquisa. Dar aula faz parte, mas não é tudo.
Você tem que fazer pesquisa. Pesquisa não é opção, é condição da prática
acadêmica. Ou você faz pesquisa e essa pesquisa se volta pros objetos do
Serviço Social ou você não pode ser docente. Não dá. Mesmo que você faça tua
pesquisa via extensão, via.., mas você tem que ter prática investigativa. Porque
senão você só reproduz conhecimento, vai ler livro pra aluno. Isso não é ser
docente. Prática docente tem que ter pesquisa.” (Lúcia Cortes da Costa)
Quanto aos cursos de Serviço Social, ainda a mesma autora levanta que
em abril de 2004, conforme dados do cadastro MEC/INEP, existiam 147
cursos autorizados e em funcionamento, sendo que destes 30 (20,4%) são de
instituições públicas e 117 (79,6%) são de instituições privadas. Destas 147
escolas é preocupante que “... apenas 87 estão filiadas à ABEPSS, conforme
foi sinalizado pela diretoria. Isso assinala para o grande número de cursos que
estão ausentes do debate sobre a formação profissional, organizado,
conduzido e socializado pela ABEPSS. ...” (BOSCHETTI, 2004, p.21)
Temos por tradição que é no espaço da universidade pública que
ensino, pesquisa e extensão tem bases para sua sustentação. O que não
significa ignorar que instituições particulares, não tenham compromisso com
o desenvolvimento de ensino de qualidade articulado à extensão e à pesquisa.
No entanto o desenfreado processo de criação de escolas particulares,
destinado a atender as demandas de mercado, e as dificuldades de controle e
avaliação sistemática dos projetos pedagógicos implantados por estas
271
“Vivemos ainda hoje num ambiente de trabalho - e quem está mais diretamente
na intervenção, eu pelo menos me deparo com muitos profissionais que estão
insatisfeitos - em que os profissionais estão descontentes, e mais numa
posição, ainda, daquele discurso de queixas sem ter claro a necessidade de
estar desvendando a realidade para poder alterar a forma de trabalho. Você
sempre coloca no outro, ou na instituição, ou na sua formação, no usuário e até
pelo fato também da gente trabalhar com uma realidade social bastante
bárbara, às vezes e isso acaba tendo um peso muito grande no nosso dia a dia,
até no nosso emocional. Então acaba, por vezes, acontecendo uma reprodução
desse discurso que chamamos de "discurso queixoso", mas que muitas vezes
fica por aí, não produz um avanço. Muito pelo contrário, muitas vezes
desmobiliza. Ou desmobiliza, ou induz a uma intervenção que se baseia mais no
senso comum e até muitas vezes permeada de preconceitos.” (Eunice
Teresinha Fávero)
“Mas eu penso que, por outro lado, eu estou percebendo que – eu falo de uma
realidade mais limitada aqui em São Paulo, não tenho a visão do país todo –, eu
274
percebo aqui que existe um número cada vez maior de profissionais que estão
na intervenção e que estão buscando a pesquisa, a sistematização de
conhecimentos a partir de questões postas no cotidiano de trabalho. A partir
de impasses, a partir da descoberta da falta de sistematizações dentro da
nossa área de formação a respeito daquela realidade ou de áreas afins. (...) Eu
tenho percebido esse processo. Mas eu acho que ao mesmo tempo que isso é
uma sinalização bastante positiva, por outro lado isso é novo ainda, até porque
é muito recente a pesquisa no Serviço Social e a pesquisa por parte de
profissionais que estão diretamente na intervenção é mais recente ainda. O que
se percebe é que pelo fato das pessoas estarem durante muito tempo
voltadas para intervenção, mas buscam a academia no sentido de aprofundar
conhecimentos, sistematizar conhecimentos, se percebe uma certa fragilidade
metodológica no tratamento das informações. O que eu acho que acaba, não
prejudicando, mas acaba limitando um pouco esse conhecimento que poderia
avançar muito mais. Mas eu penso que é um processo. Eu acho que a gente tem
etapas num processo e a tendência talvez seja de que conseguiremos avançar.
(...) Porque isso não é devidamente trabalhado na nossa formação. Pode estar
sendo mais recentemente por algumas unidades de ensino, mas isso não é geral.
Eu acho que grande parte das unidades de ensino não descobriu e não valoriza
a pesquisa como um componente essencial do processo de trabalho, ou então
transmite uma visão de que a pesquisa é algo amplo, grande, só acontecendo
dentro da academia e não a pesquisa enquanto processo que pode ser
incorporado no cotidiano de trabalho. Claro que com as limitações que isso
pode colocar, mas é essencial.” (Eunice Teresinha Fávero)
“...Eu penso que temos alguns desafios, que é esse investimento na pesquisa
como parte fundamental da intervenção – fundamental no sentido mesmo de
fundamentar a intervenção - , a possibilidade de criação e de acesso à
formação, seja em aperfeiçoamento, seja em especialização, a essa formação
continuada. Bom a pós – graduação, não só em nível de mestrado e de
doutorado, e acho que mesmo em mestrado e doutorado, precisaria ter um
investimento maior na formação de pesquisadores. Porque a ênfase foi durante
muito tempo a formação mais de docentes, do que de pesquisadores. Não sei se
eu estou falando besteira. Mas de repente é um pouco isso, você faz mestrado
e doutorado para poder lecionar ou continuar dando aula na Universidade ou
ter possibilidades de ingressar numa Universidade. Obviamente na
Universidade você poderá trabalhar com pesquisa, mas não necessariamente,
principalmente nas particulares que proliferam aí e que, geralmente, não se
preocupam com investimento em pesquisa, com raras exceções. Não é o caso da
PUC-SP, que tem um diferencial, mas grande parte das particulares não tem
essa preocupação. Então eu penso que esse espaço da academia tinha que ter
uma ênfase maior na formação de pesquisadores. Eu sei que é intrínseco ao
processo de um mestrado e do doutorado a formação em pesquisa, mas muitas
vezes o profissional sai mais direcionado para a docência do que para a
pesquisa. Eu considero que são desafios, não que isso não esteja acontecendo.
Estão acontecendo algumas experiências, mas isto precisaria ser absorvido e
ser encampado pela ABEPSS, por diversos órgãos, pelo Conselho Federal, no
sentido de estar enfatizando mais a importância... Então a pesquisa, a formação
continuada e o retorno disso, é fazer com que efetivamente a realidade
social dos sujeitos venha à tona por meio das nossas pesquisas e que isso
contribua para a formulação de projetos, de políticas públicas, é fazer com
que esse conhecimento através da formulação de projetos ou de outras formas
as mais diversas retorne qualitativamente para a intervenção, e investir na
formação e na capacitação. E a pesquisa ser realmente incorporada como
essencial à intervenção. Posso estar querendo muito. Mas acho que nós temos
que descobrir que não podemos trabalhar sem fazer pesquisa, e desvincular
essa visão de pesquisa como algo externo ao trabalho, como algo específico da
academia; tem que ser algo inerente ao trabalho. Está posto no nosso projeto
profissional, mas nós temos que concretizar, que operacionalizar isso. Penso
277
“E isso passa pelos campos de estágio, pelo TCC, como você já lembrou, e pelo
conjunto das disciplinas da graduação. Eu valorizo bastante a nossa profissão,
sabe, eu acho que temos um potencial e uma possibilidade de construção de
conhecimento muito grande e que, de maneira geral, nem sempre temos essa
consciência. Isso tinha que ser incorporado no cotidiano mesmo dos
profissionais que estão na intervenção, e que são a grande maioria, que estão
no dia-a-dia lidando diretamente, seja fazendo estudo social de determinada
situação, seja lidando com medidas sócio – educativas, trabalhando com
crianças, com adolescentes, com famílias, com populações. Você está
cotidianamente em contato com dados essenciais que poderiam ser
propulsores, poderiam alavancar – na medida em que fossem sistematizados ,
poderiam contribuir para alterações da realidade. Acho que isso tem que ser
descoberto. Tenho que descobrir que, de repente, a minha pesquisa por
pequena, pequena no sentido de ser mais localizada no meu espaço de trabalho,
vai contribuir para uma qualificação daquele trabalho.”(Eunice Teresinha
Fávero)
“Eu acho que esse momento é importantíssimo. Eu lamento que eu não tenha
vivido essa provocação desde a graduação. Assim, eu vejo lá na UERJ a
formação dos nossos alunos, a gente tem muitos alunos envolvidos com
pesquisa. E a qualidade desses alunos é indiscutível, eles rapidamente se
inserem no mercado de trabalho. E onde estão trabalhando são inquietos,
porque quando você planta o espírito da pesquisa no coração, porque é isso,
para gente fazer coisas interessantes a gente tem que estar apaixonado, isso é
o Gramsci que falou com muita propriedade. Quando você planta aquela
curiosidade, aquela inquietude, porque a pesquisa é uma inquietação, ela pode
ser uma inquietação pela questão “x”ou “y” que te mobiliza, mas ela é uma
inquietação. Quando a gente bota a turma para fazer pesquisa e cria esse
espírito inquieto, isso é muito importante, para que ele seja um inquieto, um
profissional inquieto e aí consiga, inclusive, resistir à rotina institucional que é
muito massacrante e realizar bons projetos de trabalho. Eu vejo, assim, com
otimismo o que está acontecendo nas Universidades Públicas, mesmo com todos
os limites que são muitos: não tem bolsas suficientes para todos os alunos, nem
todo mundo consegue se inserir em pesquisas, tem os limites materiais, na
universidade pública está sufocada, materialmente sufocada. Agora, nesse
âmbito, está acontecendo uma formação de um profissional inquieto, inclusive,
ele está em contato com as diferenças, com as divergências da própria visão
de profissão. (...) (Elaine Rossetti Behring)
Nesta perspectiva
... O caráter interventivo da profissão deve estar presente em todo o currículo, isto é,
todos os conteúdos do currículo devem ser a base para formar um profissional que vai
intervir na realidade. Assim, os conteúdos de todas as disciplinas devem ter a
preocupação de mostrar a vinculação entre teoria, realidade e as possibilidades de
intervenção profissional em diferentes contextos e momentos históricos. Há uma
intenção, com esse princípio, tanto de articulação entre estágio, disciplinas,
preparação para o TCC e a vida profissional, quanto de articulação entre graduação e
pós – graduação naqueles cursos que possuem estes dois níveis de formação.
(BOSCHETTI, 2004, p. 29 - 30)
“... Aí a tendência não é formar profissionais inquietos. O que o MEC fez com
as nossas diretrizes? Tirou a dimensão ética para botar informática. Se a
ABEPSS não tem a força institucional e política de legitimidade que tem, as
diretrizes estavam perdidas, porque em 2001 o MEC foi lá acabou com as
matérias e com toda a direção social e ética que estava presente nas
diretrizes. Quando uma escolinha dessas está sendo criada vai lá e procura o
documento do MEC vai criar o curso à sua imagem e semelhança daquilo que
está lá, esvaziado de conteúdo e de direção sócio – política e dimensão ético –
política.” (Elaine Rossetti Berhing)
280
A partir das (e por causa das) tendências que vêm orientando a política nacional de
educação superior, no momento de aprovação das diretrizes curriculares pelo
Conselho Nacional de Educação (CNE), em 2001, estas foram esvaziadas da
concepção original de formação crítica presente nas diretrizes curriculares aprovadas
pela ABEPSS e pelas unidades de ensino em 1996.
Os pareceres e a resolução do CNE aprovando o currículo do Serviço Social, emitidos
em 2001 e 2002, após anos de análise ( a ABEPSS encaminhou as diretrizes
curriculares ao MEC no início de 1997), reduziram drasticamente o projeto
pedagógico que constava nas diretrizes curriculares da própria ABEPSS. Não
devemos entender essa redução drástica como mera simplificação e mera formatação
padrão de todos os currículos. Considero que, por trás dessa simplificação, está um
projeto de formação conflitante com a proposta de formação do Serviço Social,
construído coletivamente pelas entidades a partir da ação da ABEPSS. ...
(BOSCHETTI, 2004, p. 22 – 23)
realidade geradora das questões sociais e indica caminhos para a solução dos
problemas.” (Aglair Alencar Setubal)
fazendo e errando até fazer direito. É porque os outros também fazem assim.
Então eu acho que é isso, a gente tem que saber que está aprendendo.” (Lúcia
Cortes da Costa)
“Eu acredito que, claro, nem todos os profissionais estão na academia ou dando
aula ou sendo pesquisadores. Existiu um dado momento na categoria
profissional que uma das formas que se entendia que era resolver, era você
ser planejador. Uma segunda onda foi você ser pesquisador. Tanto que nós
tivemos um momento de muita fluência, de criação, de um boom, de institutos
de pesquisas e coisas do gênero, de encontros de pesquisa. Até de uma
derivação da idéia de que uma boa prática exigia um bom diagnóstico e que um
bom diagnóstico exigia um conhecimento da realidade. Claro que é uma
construção correta essa que foi disseminada. Todavia, eu acho que esta
questão que eu dizia desse boom, esse estímulo contínuo do conhecimento da
283
realidade não está presente, em geral, na dinâmica das várias instituições que
absorvem a prática do profissional. Nos parece que muitas vezes o
profissional fica em ações pontuais, na porta de entrada de alguns serviços e
onde ele, na verdade, apesar de estar na porta de entrada, não chega a fazer
as inter-relações, os vínculos, não sei. Eu acho que quando você diz que
desafios isto traz à profissão considerando a complexidade sócio – histórica
da realidade geradora do objeto de atenção profissional, isto é, se eu for
entender como o objeto de atenção profissional as manifestações da questão
social, as manifestações, além de múltiplas, são históricas e elas também são
espaciais e elas têm expressões conjunturais. Então, eu penso que, exatamente,
o desafio é decodificar essa complexidade, não na sua simplificação, mas na
sua compreensão, de entender porque vínculos passam, ainda que as
manifestações sejam múltiplas, existem raízes fundantes dessas
manifestações, como existem rupturas. Eu acho que o que eu tenho tentado
dizer é isso aqui, eu acho que não dá pra gente pensar que todas as coisas
sofrem um determinismo e que as vezes quando a gente fala em manifestação
da questão social todos então... então o denominador da equação é questão
social, logo se é questão social tudo chega a isso, é de um simplismo muito
grande que não apanha essa complexidade.....
...... o principal o desafio da pesquisa é dar conta da realidade, é produzir
conhecimento sobre a realidade, mas numa pauta ético – política, essa coisa
toda, entendeu? “(Aldaíza Sposati)
(...) A gente não tem uma tradição de estudos mais organizados no nosso meio
profissional. Estudos mais organizados no sentido de grupos localizados,
espalhados em diversos espaços que possam acompanhar. Acho que o espaço
que a gente tem hoje e que poderia facilitar a divulgação do conhecimento são
os Conselhos, nós não temos outros. Nós não temos uma sindicalização da
categoria, nem por ramo de atividade que é o que hoje se coloca no meio
profissional e nem por categoria. Nós temos muito pouco em termos de
organização político-sindical na nossa categoria. A nossa organização se dá por
meio dos Conselhos e no caso da academia por meio da ABEPSS e outras
organizações. Eu acho que ainda que tenham ocorrido muitos avanços, é ainda
muito frágil essa organização, no que poderia ser um espaço de divulgação.
286
Então eu penso que os Conselhos teriam que investir mais nesse processo de
divulgação de conhecimento. Seria uma possibilidade de acesso mais próximo
dos profissionais. Porque a academia, enquanto um espaço de produção de
conhecimento no Mestrado e Doutorado, acaba ficando distante mesmo da
grande parte dos profissionais. E às vezes acaba até sendo construída uma
imagem de que a academia está aqui, a intervenção está lá e uma coisa não tem
relação com a outra, que infelizmente a gente ouve. Como se a produção de
conhecimento não fosse fundamental para o exercício profissional. Agora não
sei, temos que pensar em mecanismos para fazer as produções chegarem aos
profissionais. O que percebemos é um distanciamento muito grande de grande
parte dos profissionais que estão na intervenção do que está sendo produzido.
A gente vê hoje o que? Se tem acesso à Revista, por exemplo, Serviço Social
e Sociedade, que acho que é um canal que chega aos profissionais. Mas penso
que é o único, hoje, que tem uma abrangência maior. Por vezes nem quem está
mais próximo da academia não tem conhecimento do que está sendo produzido
nos outros cantos do país, devida à imensidão deste país, que dirá o profissional
que está mais distante. Então, dar este salto para que a produção tenha um
retorno efetivo para o profissional que está na intervenção e,
consequentemente, para os sujeitos com os quais os profissionais trabalham é
um desafio que temos que buscar superar. Eu penso que a organização política é
fundamental. No nosso caso específico do Tribunal, com a nossa organização
em Associação, temos conseguido criar um espaço de divulgação da produção de
conhecimento. E isso tem sido feito através de Jornal, através de site,
através de e-mail e, mais recentemente, através de alguns encontros regionais
que estamos começando a organizar. São formas que a gente tem que criar. Eu
acho que o Conselho Regional ... o Rio tem uma experiência bastante
interessante nesse sentido: além da criação de grupos de estudos de
determinadas áreas - que existem aqui em São Paulo também, não sei como é no
Paraná -, ele investe no que chama de mini – cursos. Então ele realiza
periodicamente cursos rápidos, em várias regiões do Estado, em que aglutina
os profissionais e, a partir daí, se tem uma discussão mais teórica e
relacionada a temas específicos da intervenção. Esse conhecimento pode não
chegar, ainda, como deveria chegar. Mas eu acho que nós temos que buscar
mais canais para isso. (Eunice Teresinha Fávero)
“Bom, o CFESS não faz até como tarefa precípua, ele não tem esse debate
sobre a pesquisa. Onde eu acho que o CFESS interfere, nessa discussão é,
primeiro, na defesa das diretrizes curriculares aonde a pesquisa é o eixo
fundamental e a dimensão investigativa, ela não é uma matéria, ela é uma
dimensão que atravessa o currículo inteiro. E o CFESS, inclusive, participou
como assesssor da construção das diretrizes. Eu participava não como
Professora da UERJ. Eu participei da construção das diretrizes como
assessora do CFESS. Então eu acho que essa é uma dimensão. Uma outra, onde
comparece a questão da pesquisa, foi o curso de capacitação à distância, que
tem inclusive um módulo, que é o último, que é sobre a pesquisa, projeto de
pesquisa, projeto de intervenção. Então, eu acho que aí a gente traduziu num
288
“...Eu acho que o desafio, não sei se é simplificar, mas o desafio é que cada
vez mais nós estejamos inteirados, informados sobre a realidade social, sobre
o que está acontecendo e tendo competência sim, habilidades, mas também
buscando no dia a dia informados sobre o que está acontecendo. Aquilo que,
acho que foi Hegel que falou que é questão do lugar dos jornais na vida do
homem moderno. Então informado de tudo que é jeito. Informado não só
debruçado nas questões, nos referenciais teóricos nossos, dando conta da
interdisciplinariedade, da transdisciplinariedade da área, mas também
informado dos fatos sociais. Porque os fatos sociais são geradores,
exatamente eles são geradores do objeto de nossa atenção. Então o que que
adianta, eu posso estar debruçada, mas se eu desconheço a realidade como que
eu vou poder aplicar... Aí acaba ficando aquele distanciamento que o pessoal
fala, que tu te distancias, a distância da realidade das bases teóricas porque
eu não consigo fazer essa sistematização, essa aproximação.” (Jussara Maria
Rosa Mendes)
Decifrar esses novos tempos e neles re-situar o Serviço Social, com olhos voltados
para o futuro, é o desafio maior do Assistente Social. Desafio para a sobrevivência da
categoria profissional e para sua qualificação acadêmica, ética, política e técnica,
reafirmando a importância e a necessidade social da profissão, em uma conjuntura
marcada pelas seguintes: desmonte das políticas sociais públicas, em nome da
idolatria do mercado e da esfera privada; desrespeito aos direitos humanos e sociais;
precarização das condições de vida e trabalho da grande maioria da população; e uma
ampla regressão das conquistas sociais, agravando a questão social em suas múltiplas
facetas e dimensões. (A COORDENAÇÃO E AS CONSULTORAS, Apresentação,
1999)
“Eu acho que os desafios são imensos. Eu acho que são desafios coletivos e
individuais. Os coletivos e por isso eu falava da importância das organizações,
do protagonismo. Tem questões que só podem ser desenvolvidas, que a gente
possa realmente mudar esse cenário dentro das organizações. Com apoio das
organizações. E aí eu acho a própria questão da nossa participação efetiva
292
hoje nos órgãos de fomento. (...) E aí toda uma briga nossa. Só que no Conselho
Técnico - Científico da CAPES, que é o conselho superior, o Assistente Social
não tinha assento. O Assistente Social não participava. Bom se conseguiu
colocar um Assistente Social lá, que é o nosso representante de área, hoje é a
Denise Bomtempo (...). Então eu acho que a gente precisa é de fato, quando tu
dizes que desafios, considerando a complexidade sócio – histórica , eu acho que
cada vez mais e usando a nossa mestre, temos que ser criativos e saber
identificar o espaço que nós trabalhamos e nesse espaço que mediações são
necessárias pra que a gente possa de fato dar toda a atenção... que volte para
a formação profissional e que nos dê esse lugar de destaque, que eu acho, hoje,
que o Serviço Social tem condições. Eu vejo assim, hoje também, não só mais ...
nós sempre trabalhamos com nossos grandes mestres, a gente tem aí toda uma
respeitabilidade , mas a gente vê hoje vários outros profissionais, outros
Assistentes Sociais também nessa luta e produzindo. Basta ver a produção da
área e o ingresso de outros doutores, outros docentes com uma produção
importante aqui. E aí tem a Ana Vasconcelos, a Inês Bravo, a Elaine Behring –
sujeitos da pesquisa. A gente vê a Regina Mioto, a Divanir, a Lúcia que estão lá
contigo. Eu acho que tem vários outros despontando. Vários outros
despontando nesse Brasil afora. No Rio de Janeiro, São Paulo que sempre foi o
eixo, mas agora tu vês que tem em outros locais. Aqui a gente tem a Berenice
Couto, a Beatriz .... tem várias pessoas que... o desafio é saber estabelecer as
mediações não necessárias, mas as mediações pra que se possa de fato
influenciar nesse processo todo, se possa de fato romper com esse aparente e
contribuir.” (Jussara Maria Rosa Mendes) 52
O depoimento de Jussara Maria Rosa Mendes afirma que “os desafios são
coletivos e individuais.”
52
Esclarecemos que Denise Bomtempo Birche de Carvalho, no período em que realizamos as entrevistas com
os sujeitos participantes desta tese, era representante da área de conhecimento do Serviço Social na CAPES e
membro do Comitê Técnico – Científico. Atualmente quem ocupa esta posição é a Profa. Dra. Maria
Carmelita Yazbek.
293
...que inclui não apenas os profissionais de campo, mas que deve ser pensada como o
conjunto dos intervenientes que dão efetividade à profissão. É através de sua
organização (organização que envolve os profissionais em atividade, as instituições
que os formam, os pesquisadores, docentes e estudantes da área, seus organismos
corporativos e sindicais etc.) que uma categoria elabora o seu projeto profissional. Se
pensamos no Serviço Social brasileiro, a organização da categoria compreende o
sistema CFESS/CRESS, a ABEPSS, a ENESSO, os sindicatos e demais associações
dos assistentes sociais. (NETTO, 1999, p.95)
-53A ABEPSS: A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social foi fundada em 10 de
outubro de 1946 sob denominação Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social. Em dezembro de
1998 o estatuto sofreu reformulações, passando a designar-se ABEPSS. Com sede atual em Recife, é uma
entidade covil de natureza científica, de âmbito nacional, sem fins lucrativos, constituída pelas Unidades de
Ensino de Serviço Social, por sócios institucionais colaboradores e por sócios individuais.
(www.abepss.org.br, consultado em 01/04/2005)
-O conjunto CFESS/CRESS:O Conselho Federal de Serviço Social- CFESS e os Conselhos Regionais de
Serviço Social – CRESS, regulamentados pela Lei 8.662 de 07 de junho de 1993, constituem uma entidade de
personalidade jurídica de direito privado, com poder delegado pela União, e forma federativa, com o objetivo
básico de fiscalizar , disciplinar e defender o exercício da profissão de Assistente Social, conforme os
princípios e normas estabelecidas pelo Encontro Nacional CFESS/CRESS, e na forma prevista pela Lei 9649
no DOU de 28/05/98. (ESTATUTO DO CONJUNTO CFESS/CRESS, http://www.cfess.org.br/Estatuto,
consultado em 01/04/2005)
-A ENESSO: A Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social – ENESSO, é a entidade máxima de
representação dos estudantes de Serviço Social do país, eleita anualmente no Encontro Nacional dos
294
“Os individuais dizem respeito aos pesquisadores , aos assistentes sociais como
um todo. De fato, como que eu posso ser esse profissional que atenda essa
direção social da profissão, como é que eu posso no meu cotidiano de trabalho
ter ações que aceitem esse desafio. Como é que eu posso romper , de novo te
trazendo exemplo, como é que eu posso romper quando na instituição, o dia a
dia da instituição ela é de busca da mais valia. O dia a dia, cada vez aumenta
mais as suas tarefas, elas se ampliam, esse prolongamento cada vez maior – o
Marx já falava - e nesse prolongamento como que eu faço pra poder não me
tornar apenas um reprodutor das idéias da instituição, mas ser um crítico e
saber olhar o que está nesse... que o Kosik fala nesses claros e escuros do
cotidiano, do meu trabalho. Como que eu posso romper quando, a história do
exemplo, quando eu estou lá dentro do presídio e exigem que eu diga se o
preso é bom ou mau. E aí eu dizendo só marcando na folhinha bom ou mau e
isso vá fazer parte de um laudo que vai dar liberdade ou não aquele presidiário.
Então que eu não permita essa simplificação das ações profissionais. É pra além
de simplificação essa ruptura com o fazer profissional, essa negação do fazer
profissional. Eu quero o Assistente Social mas ele vai botar isso ou aquilo.
Então como que eu vou romper com isso. Eu acho que o desafio individual é
imenso e o desafio coletivo muito grande, muito, muito grande que é isso, vai
nos exigir participar, vai nos exigir ter essa clareza toda desse contexto todo
e o que de fato vem se construindo nessa malha, nesse tecido social o que se
constrói e que exige ações das associações, então. Exige ações coletivas e
outras que exige do profissional. É de muita responsabilidade.” (Jussara Maria
Rosa Mendes)
REFERÊNCIAS
ESTATUTO DA ENESSO.
http://www.enessomess.hpg.ig.com.br//estatuto.html, consultado em
01/04/05.
APÊNDICE:
QUADRO 1- DEMONSTRATIVO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS,
TESES E DISSERTAÇÕES SOBRE PESQUISA E
SERVIÇO SOCIAL
2- Metodologia do
- Recupera a práxis na concepção gramsciana
Serviço Social – a práxis
e seu rebatimento no Serviço Social.
como base conceitual – Compreende “... o Serviço Social como parte
Marina Maciel e Franci da totalidade da práxis, expressando
Gomes Cardoso – p. 162 especificidades, determinadas pelas
condições concretas que viabilizam esta
profissão na sociedade em diferentes
momentos históricos.”(p. 169) Discute a
concepção de metodologia como o conjunto
de relações estabelecidas entre o sujeito e o
objeto de conhecimento e de intervenção.
Assim reconhece a necessária articulação
entre o processo de intervenção e o processo
de investigação, embora reconheça suas
particularidades.
ABESS – 5 - 1-A controvérsia -Configura a polêmica sobre os paradigmas
1992 paradigmática nas que orientam a construção do conhecimento
Ciências Sociais – José nas Ciências Sociais. Esta polêmica passa
Paulo Netto – p. 07 por duas vias: questionamento do paradigma
positivista, que defende como pertinente; e
questionamento quanto a perspectiva
marxista e sua “vocação” totalizadora, que
considera ambíguo, pois “abre caminho para
o neo-irracionalismo”. Propõe o caminho de
Lukács – “que apanha na arquitetura
marxiana uma ontologia do ser social – fiel à
herança de Marx. (p.15)
Sposati dos usuários aos resultados de forma que os mesmos sejam apossados,
incorporados, apropriados pelos sujeitos – democratização da
linguagem.
-Há um gap entre o nível acadêmico do conhecimento e o nível que
permite a apreensão pelos sujeitos.
-O modo como é trabalhado esse conhecimento faz diferença em
relação ao seu impacto junto aos sujeitos.
2) Impacto institucional: também depende da democratização da
linguagem, mas sobretudo depende do grau de suportabilidade da
crítica. Nem toda instituição suporta a crítica ou a enxerga como
alavanca da construção. –O impacto institucional depende da sutileza da
apresentação dos resultados.
O outro aspecto, importante, é em relação ao nível de envolvimento dos
sujeitos em relação à pesquisa e seus resultados: “...creio que nós não
podemos esquecer que o processo da problematização também tem que
ser democratizado, porque se eu, na verdade, não divido este estímulo
de saber o quê de quê, porque as pessoas também se põem essa
interrogação, aquela descoberta se não tiver uma factualidade muito
grande, não vai bater o significado. Quer dizer eu tenho que construir
um significado pra que isso possa bater e possa fazer um sentido pras
pessoas.”
- O vínculo entre os sujeitos e a pesquisa e seus resultados deve estar
sustentado no “desejo de se indagar sobre aquilo.” Se não há o vínculo
com a problemática da pesquisa não há impacto.
- “O impacto vai depender do resultado obtido, da linguagem utilizada
nesse resultado, mas da capacidade, da abertura pra mudança, pra
entender a crítica e também para o estímulo que se cria pra
compreender aquele resultado...” São nuances de um mesmo processo.
Não dá pra reduzir a um único aspecto.
-Em relação aos profissionais: depende do conjunto dos aspectos já
citados. No entanto, em relação aos profissionais há fragilidades, como:
não há uma linha de pesquisa que esteja aclarando aspectos centrais da
profissão; o profissional tem sede de conhecimento de caráter
conjuntural, ou seja ligado a demandas emergenciais; ; a pesquisa em
Serviço Social tem outro estatuto acadêmico, se volta para a
redistribuição social, tem valores, ética comprometidos com o social.
Questões/ 5- Que desafios isto traz à profissão considerando a complexidade
Sujeitos sócio – histórica da realidade geradora do objeto de atenção
profissional?
1- Lúcia Cortes -Leitura crítica da realidade social/compreensão dos fundamentos das
da Costa desigualdades sociais articulada ao projeto ético – político.
-A profissão ser reconhecida como produtora de conhecimento.
-“Debate teórico forte”: formação fundada nos clássicos.
2- Jussara Maria -Desafios são coletivos e individuais.
Rosa Mendes -Desafios coletivos: organização da categoria e ocupação de diferentes
espaços que envolva financiamento, produção e circulação do
conhecimento. Estabelecer as mediações necessárias para romper com
obstáculos à produção do conhecimento na área. Fortalecimento do
334
2- Jussara Maria “...Eu fiz uma caminhada para fora...Eu me formei e fui pra dentro da
Rosa Mendes saúde pública e depois eu fiz uma caminhada da saúde pública pra
dentro, pra o Serviço Social... Eu acho que isso foi super importante pra
mim, sabe essa caminhada. Eu até brincava dizendo que eu botei meu
sapatinho de chumbo e voltei...Quando eu voltei fazer o mestrado,
quando eu vim trabalhar aqui, na verdade eu vim carregada de uma
experiência concreta...”
3- Ana Elizabete -“...Sou daquelas que defende que precisamos sempre pesquisar tendo
Mota em vistas as determinações macro-sociais do real com o aporte da teoria
crítica, seguindo a velha lição marxiana de que “o concreto é síntese
das múltiplas determinações do real” . Contudo é fundamental – e aí é
que reside o desafio – é necessário a apropriação de outras categorias
mediadoras para podermos trabalhar as particularidades e
singularidades presentes na realidade. Me explico com um exemplo:
trabalhar com programas de trabalho e renda, por exemplo, é uma
requisição objetiva para o serviço social. Subjacente a esta atividade
concreta está o desemprego e as possibilidades da economia brasileira.
Claro que o desemprego e o crescimento da economia são questões que
invocam determinações macro-sociais, mas para construir um
programa, outras questões que informam sobre a particularidade
brasileira e as singularidades regionais, locais, etc. necessitam ser
apropriadas.”
4-Eunice -“Eu não consigo falar muito separadamente da organização política,
Teresinha da intervenção e da pesquisa, porque pra mim isto está muito
Fávero imbricado. Faz parte da minha pessoa, da minha forma de ser e de agir.
Não consigo ver uma sem a relação direta com a outra.”
5-Elaine Eu acho assim, que quando o exercício profissional não incorpora a
Rossetti Behring dimensão investigativa como um elemento interno ao processo de
trabalho a tendência é se ter uma prática reiterativa, pouco criativa e de
não realizar aquilo que o Marx chamou de praxis, que é a ação pensada.
O grande desafio para o exercício profissional é não se deixar subsumir
na rotina institucional, exercer aquela autonomia relativa profissional
que nós temos e assegurar o espaço da reflexão e da investigação, que é
o que pode permitir a formulação de novas estratégias no projeto de
trabalho e no processo mesmo do trabalho, e na forma como o trabalho
acontece. Então, eu acho que isso, talvez, seja o maior desafio....
traduzir o projeto ético – político profissional no trabalho é o grande
desafio.”
6-Aglair -“O Serviço Social como uma área de conhecimento histórico tem se
Alencar Setubal reconstruído permanentemente à medida que, ao intervir numa dada
realidade, tem procurado contribuir com o seu processo de
transformação social. Essa relação entre o Serviço Social e a realidade
faz com que ele também se transforme.”
7-Aldaíza -“ E acho que eu fui bastante estimulada, talvez seja uma curiosidade
Sposati minha, a ter esta noção da totalidade das coisas. Eu não sei, talvez um
traço de personalidade, eu não sei desenvolver um pensamento se eu
não consigo compreender o título, certo? Quero dizer, o conceito
338